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ATO I

Equação química. No Fórum Trabalhista da cidade de São Paulo,


a advogada MAIARA SILVA, 25, negra, caminha enquanto ouve
“Rainha da Favela” de Ludmila por um headphone rosa. Ela passa
por entre estagiários apressados com carrinhos de processos,
óculos sendo ajustados no rosto, saias sendo esticadas para
baixo, e, por fim, entra pela porta da sala de audiência, onde
três pessoas a esperam: a Juíza, o Advogado do restaurante
Duque Thales - ROGER, 36, branco - e a Autora do processo,
cliente de Maiara. Com um sorriso no rosto e uma pasta na mão,
Maiara cumprimenta a todos e se senta ao lado da cliente. O
caso é uma ação de reconhecimento de vínculo -- a autora é
cozinheira do restaurante e alega jornada exaustiva. Quando
Maiara fala, ela encanta a todos com sua desenvoltura, mesmo
sendo recém-formada. A juíza elogia a petição, e Maiara conta
que fez oitenta e seis versões do mesmo texto. O seu
perfeccionismo patológico fica nítido, mas ainda assim atrai
Roger. Na saída do Fórum, Roger convida Maiara a se juntar a
ele no setor jurídico do restaurante Duque Thales, e oferece
um alto salário. Maiara recusa, pois não defende patronato,
mas Roger argumenta que ela será advogada-conselheira, atuando
de forma preventiva em defesa dos direitos dos funcionários e
evitando novas batalhas judiciais. Ele lhe entrega um cartão
para caso ela mude de ideia e decida trabalhar com ele.

A poucos metros dali, na cozinha do Duque Tales, o chef


HENDRIGO, 23, negro, prepara um bolo. Escolhe um recipiente de
vidro para comportar a torta e corta uma fatia para si. A
cozinha é uma bagunça, mas ele não se importa. O bolo está
perfeito e ele se delicia com cada pedaço.

Na recepção do restaurante, o estagiário BRUNO, 18, avisa à


recepcionista INGRID, 27, branca, que Maiara Souza, a
cozinheira, pegou covid-19 e adiou o primeiro dia de trabalho

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para a semana seguinte, mas que a Maiara Silva, a advogada,
talvez apareça. Como Ingrid está distraída fofocando no
telefone, ela não assimila muito bem a informação e responde:
“Tá, já entendi, uma das duas não vem”.

Meet cute. Maiara entra no Duque Tales e se dirige ao balcão


de atendimento. Ela se apresenta pelo primeiro nome, e Ingrid
a parabeniza pelo seu primeiro dia de trabalho. Ingrid
tem certeza de que ela é a Maiara cozinheira e não a Maiara
advogada. Por essa razão, não confirma a identidade; apenas
pede que Maiara aguarde, pois sua colega está a caminho para
recebê-la. Chega REBECA, 36, branca, e pede para Maiara
acompanhá-la até a cozinha. Rebeca mostra as panelas, o local
onde são guardados os pratos, estabelece a forma de divisão
dos talheres e explica as peculiaridades do fogão. Maiara
coloca a sua pasta em cima da mesa e ironiza que está tão à
vontade na cozinha que, a qualquer hora, vai fazer um prato de
espaguete para a recepcionista. Rebeca acha essa uma ótima
ideia e antes de se retirar, entrega a ela o avental de
cozinheira. Se a vingança é um prato que se come frio, dessa
vez está fervendo. Maiara vai ao banheiro, coloca o avental e
volta para a cozinha. Pega a panela, esquenta a água e
encharca o espaguete com a pimenta. Ela oferece o prato à
Ingrid, mas ao ouvir de Ingrid tão doces agradecimentos junto
de um discurso carente e depressivo, sente-se comovida e
desiste da vingança. Tira o avental e, prestes a ir embora,
volta à cozinha para buscar sua pasta. Ao chegar na cozinha,
ela se depara com Hendrigo manejando uma panela em chamas.
Maiara se assusta com o fogo e usa um pano de prato para apagá-
lo. O pano pega fogo, mas Hendrigo consegue resolver o caos.
Com os ânimos calmos, ele explica que não há nada de errado com
a panela de peixe, que isso se chama... fritar. Ele se
apresenta como chef, pergunta se Maiara é a cozinheira ou a
advogada nova, mas antes que ela responda qualquer coisa,
Rebeca entra na cozinha e anuncia que todos se preparem, pois
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dali a uma semana o restaurante receberá uma cliente ilustre:
Ludmilla. Com essa notícia, Maiara vê a chance de cozinhar
para a sua ídola e decide permanecer na cozinha até o dia do
jantar de Ludmila.

Logo chegam outros dois cozinheiros que já trabalhavam no


restaurante: RAFAELA, 28, branca, e GEFERSON, 43, indígena.
Hendrigo apresenta a Maiara o restante da equipe, todos
trabalham pouco, mal e cometem toda hora os mesmos erros, mas
são tratados com carinho e empatia do chefe.

Maiara pede a Hendrigo que a ensine a cozinhar o prato que ele


pretende fazer para Ludmilla, pois não quer errar nesse evento
magnífico. Hendrigo explica que falarão sobre isso no dia
seguinte, pois já passa do horário e ele precisa ir com a
esposa grávida a uma consulta pré-natal. Maiara fica
desapontada por ele estar casado e prestes a ter um filho.

Hendrigo e a esposa VANESSA, 27, estão no consultório de


obstetrícia para um exame de ultrassom. Enquanto Vanessa é
examinada, os três conversam sobre as expectativas para o
parto. A obstetra, uma mulher que aparenta ter 15 anos de
idade, pergunta sobre o nome do bebê, e Vanessa, ao contrário
de Hendrigo, responde que escolheu para ele o mesmo nome de
seu pai: RODOLFO, 52. Entra Rodolfo, perguntando o estado de
saúde do Rodolfinho. Vanessa se alegra ao ver o pai, e
conversam de modo a excluir Hendrigo dos assuntos.

Complicação sexy. Na cozinha do Duque Talles, Maiara e


Hendrigo discutem. O motivo: Ele é muito complacente com os
erros de todos a sua volta, inclusive de cozinheiros e que
desse jeito não conseguirão fazer uma comida perfeita para
Ludmilla. Por outro lado, Hendrigo julga Maiara como uma
perfeccionista neurótica. Ela se defende, protesta que
precisa ser perfeita e duas vezes melhor em tudo por ser
mulher e negra.

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ATO II

Gancho. Triste pela briga com Maiara, Hendrigo chega em casa


mais cedo e flagra Vanessa na cama com o seu “pai” Rodolfo. A
esposa admite que Rodolfo não é seu pai e sim seu amante de
longa data e que Rodolfinho, ainda na barriga, é, obviamente,
filho de Rodolfo. Arrasado, Hendrigo busca consolo em Maiara,
eles se falam por telefone e marcam de se encontrarem numa
praça. Fora do ambiente de trabalho, comendo churros e
algodão-doce, sentem-se próximos. Lá, Hendrigo desabafa que
sempre se esforçou para que o relacionamento com Vanessa desse
certo, mas mesmo assim deu tudo errado. Maiara se compadece e
se surpreende com sua sensibilidade e devoção ao amor -
Hendrigo é de fato um bom partido. Além disso, embora
temerosa, revela o seu segredo: ela é advogada e não
cozinheira. Hendrigo a perdoa por essa omissão, sente-se grato
por ela ter dito a verdade. O primeiro beijo do casal
acontece. Ficam emocionalmente revigorados e se comprometem
novamente com o objetivo comum: a noite de Ludmila no Duque
Thales.

Começam a namorar e passam a ser vistos como um casal pelos


colegas da cozinha. Eles estão visivelmente apaixonados, mas
por ego, não dizem eu te amo um ao outro, nem mesmo quando
fazem sexo e acordam juntos numa manhã de domingo. Na ocasião,
comentam sobre relacionamentos passados e planos profissionais
para o futuro.

À distância, Hendrigo vê a ex-esposa e Rodolfo andando de mãos


dadas, mas ele não se importa, porque está radiante com seu
novo relacionamento.

Giro. Faltam apenas dois dias para o jantar de Ludmila. Todos


os cozinheiros já chegaram para mais um dia de trabalho,
exceto Hendrigo. Quando ele chega, está abatido e com
olheiras. Maiara pergunta o que aconteceu, ele mente que

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apenas está com um pouco de fome, pois dormiu demais e não
conseguiu tomar café. Rafaela pergunta para Hendrigo se o
restaurante já pagou os salários atrasados, e com essa
pergunta Maiara descobre que todos os funcionários estão há
três meses sem receber o salário. Ela fica brava, sente-se
traída por Hendrigo esconder esse problema dela, que além de
advogada trabalhista, é a sua namorada. No encontro na praça
ele teve a chance de contar esse fato e mesmo assim não
contou. Ele tenta explicar seus motivos, mas Maiara não quer
ouví-lo. Para ela, essa é a prova de que estava a todo tempo
com razão: Hendrigo é tão tolerante com os erros alheios que o
patrão se aproveitou desse aspecto de sua personalidade para
explorar toda a sua equipe. Maiara deixa a cozinha e se dirige
ao setor jurídico para confrontar Roger, que está na sala
conversando com Maiara Souza, 28, branca, a verdadeira
cozinheira. Roger se mostra surpreso em ver Maiara Silva, pois
não sabia que ela havia aceitado trabalhar no Duque Talles.
Então o mal-entendido é desfeito: Maiara descobre que a Maiara
cozinheira é branca e adiou seu primeiro dia de trabalho por
causa de covid-19.

ATO III

Instante sombrio. Separados, Maiara e Hendrigo sofrem com a


distância. Ambos tentam retornar à rotina e ao mesmo estado
emocional de quando eram namorados, mas não conseguem. Em
casa, Maiara está exausta frente às pilhas de processos
judiciais, enquanto Hendrigo revê as fotos que tiraram
juntos.

Alegre derrota. Retornamos ao Fórum Trabalhista de São Paulo.


Na sala de audiência, Maiara se mostra tranquila e não mais se
espanta com os erros alheios. O perfeccionismo deu lugar à
empatia. Na sala, há apenas Maiara e a juíza. Trata-se de uma
audiência da ação trabalhista coletiva dos funcionários contra
o dono de Duque Thales, em razão do atraso de salário. A juíza
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pede para que todos tenham paciência, pois o dono do
restaurante está a caminho. Chega Hendrigo. A juíza comenta
que agora com a presença do dono do restaurante a audiência já
pode começar. Maiara está confusa. Hendrigo pede a palavra e
revela que Ludmila ficou sabendo de toda a história e comprou
o restaurante para dá-lo de presente de casamento ao casal.
Ele declara seu amor, faz o pedido de casamento e assegura que
Duque Thales será agora duas vezes melhor, porque: 1) nenhum
funcionário será explorado e 2) nenhuma pessoa será confundida
com outra por causa da cor. Ele pede desculpas por ter
escondido de Maiara a falta de salários, mas o fez por medo de
nunca mais vê-la depois que revelasse a situação. Emocionado,
sugere que, à noite, cozinhem o belo jantar que Ludmila
merece. Por fim, há o show de Ludmila no palco do restaurante
que agora se chama HEMA, com todos os cozinheiros bem-
vestidos, com famílias, crianças, e o casal em plena
felicidade.

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