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Apostila

CÁLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL II

Fernanda Pereira, Luiz Felipe Nobili, Renan Lima, Samuel Wainer

INSTITUTO TECNOLÓGICO DE AERONÁUTICA

Departamento de Matemática
Sumário

1 Conceitos iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.1 Os espaços R2 e R3 1
1.1.1 Vetores e norma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.1.2 Breves noções de topologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

1.2 Funções vetoriais e curvas 7


1.2.1 Funções vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.2.2 Limite, continuidade e curvas parametrizadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.2.3 Derivada e integral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.2.4 Comprimento de curva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

1.3 Funções de várias variáveis a valores reais 16


1.3.1 Definição, domínio, imagem, gráfico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.3.2 Conjuntos de nível . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.3.3 Quádricas e cilíndros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

1.4 Limite e continuidade 27


1.4.1 Limites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
1.4.2 Continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

2 Derivadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.1 Derivadas parciais 35

2.2 Diferenciabilidade 41

2.3 Regra da Cadeia 49

2.4 Vetor gradiente 53

2.5 Derivada direcional 59

2.6 Função implícita 65

2.7 Fórmula de Taylor para duas variáveis 71

2.8 Máximos e mínimos 76


2.9 Máximos e mínimos em compactos 84
2.10 Multiplicadores de Lagrange 86

3 Integrais múltiplas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
3.1 Integral dupla 96
3.1.1 O conceito de integral dupla . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
3.1.2 Propriedades da integral e Teorema de Fubini . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99

3.2 Mudança de variáveis na integral dupla 107


3.2.1 Caso geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
3.2.2 Mudança linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
3.2.3 Mudança polar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
3.2.4 Outros exemplos de mudanças de variáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117

3.3 Massa, centro de massa, momento de inércia 119


3.4 Integral tripla 122
3.4.1 Definição e propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122

3.5 Mudança de variáveis na integral tripla 129


3.5.1 Caso geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
3.5.2 Coordenadas cilíndricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130
3.5.3 Coordenadas esféricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134

3.6 Massa, centro de massa e momento de inércia de um sólido 139

Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142

Indíce remissivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144


Capítulo 1

Conceitos iniciais

O objetivo principal desse curso é estudar funções de R2 e R3 em R. Serão abordados os con-


ceitos de limite/continuidade, diferenciabilidade e integração. Grande parte dos resultados que serão
apresentados podem ser facilmente generalizados para funções de Rn em R, n ≥ 2. Algumas vezes,
apresentaremos definições e resultados na forma geral Rn , para não ter que escrever os casos n = 2 e
n = 3 repetidamente. No entanto, os exemplos e exercícios se restringirão aos dois casos de interesse.

1.1 Os espaços R2 e R3
Nesta seção, apresentaremos alguns elementos importantes dos espaços R2 e R3 que serão usados
durante o curso.

1.1.1 Vetores e norma


Os elementos de R2 são pares ordenados (x, y) e os de R3 triplas ordenadas (x, y, z), com x, y, z ∈ R.
Para representar um elemento de Rn em geral, utilizamos uma n-upla de números reais (x1 , . . . , xn ).
Fixamos o sistema ortogonal de coordenadas cartesianas habitual:

R2 - origem O, eixos coordenados x e y;


R3 - origem O, eixos coordenados x, y e z.
−→
Em R2 , identificamos o par (x, y) com o vetor ⃗u = OP, onde P é o ponto com coordenadas (x, y).

Figura 1.1: Vetor em R2


2 Capítulo 1. Conceitos iniciais
−→
Em R3 , identificamos a tripla (x, y, z) com o vetor ⃗u = OP, onde P é o ponto com coordenadas (x, y, z).

Figura 1.2: Vetor em R3

Utilizaremos em R2 (e analogamente estende-se a R3 ) as seguintes operações:

soma de vetores (x1 , y1 ) + (x2 , y2 ) = (x1 + x2 , y1 + y2 ), (xi , yi ) ∈ R2 ;


multiplicação por escalar λ (x, y) = (λ x, λ y), (x, y) ∈ R2 , λ ∈ R.

Com essas duas operações, R2 é um espaço vetorial (tais objetos serão estudados no curso de Álgebra
Linear). Também utilizaremos:

produto escalar (x1 , y1 ) · (x2 , y2 ) = x1 · x2 + y1 · y2 ∈ R, (xi , yi ) ∈ R2 .

Além disso, somente no espaço R3 , temos

⃗i ⃗j ⃗k
produto vetorial (x1 , y1 , z1 ) × (x2 , y2 , z2 ) = x1 y1 z1 = (y1 z2 − y2 z1 , x2 z1 − x1 z2 , x1 y2 − x2 y1 ).
x2 y2 z2

Definição 1.1.1 A norma do vetor ⃗u = (x, y) ∈ R2 é o número (não negativo)


p
∥(x, y)∥ = x2 + y2 .

São válidas as seguintes propriedades:

(i) ∥λ⃗u∥ = |λ | · ∥⃗u∥ para todos ⃗u ∈ R2 , λ ∈ R;


(ii) ∥⃗u +⃗v∥ ≤ ∥⃗u∥ + ∥⃗v∥ para todos ⃗u,⃗v ∈ R2 ;
(iii) |⃗u ·⃗v| ≤ ∥⃗u∥ · ∥⃗v∥ para todos ⃗u,⃗v ∈ R2 (Desigualdade de Schwarz).

A norma será usada para “medir distância” em R2 : dados dois vetores ⃗u = (x1 , y1 ) e ⃗v = (x2 , y2 ), a
distância entre eles será
q
∥⃗u −⃗v∥ = (x1 − x2 )2 + (y1 − y2 )2 .
1.1 Os espaços R2 e R3 3

A norma irá substituir o papel do módulo em R, que aparece, por exemplo, no estudo de limites.
Analogamente, consideramos a norma em R3 :
p
∥(x, y, z)∥ = x2 + y2 + z3 ,

e também são válidas em R3 as propriedades (i), (ii) e (iii) enunciadas anteriormente para norma em
R2 .

1.1.2 Breves noções de topologia


No estudo de funções reais de uma variável (Cálculo I), os intervalos, abertos e fechados, têm
papéis importantes nos enunciados dos teoremas. Suas generalizações em R2 e R3 serão as chamadas
bolas, que também podem ser abertas ou fechadas. Nesta subseção, abordaremos rapidamente esse e
alguns outros conceitos envolvendo a topologia do Rn . Recomendamos a nossa videoaula Noções de
Topologia no Plano e também Noções de Topologia no Espaço.

Definição 1.1.2 Sejam (a, b) ∈ R2 e r ∈ R, r > 0. A bola aberta (em R2 ) de centro (a, b) e raio r é
o conjunto

Br (a, b) = {(x, y) ∈ R2 : ∥(x, y) − (a, b)∥ < r}.

Analogamente, define-se a bola aberta em R3 de centro (a, b, c) ∈ R3 e raio r > 0.


■ Exemplo 1.1.3 A bola aberta B 3 (2, 3) é o conjunto dos (x, y) ∈ R2 tais que
2

3 9
q
(x − 2)2 + (y − 3)2 < ⇔ (x − 2)2 + (y − 3)2 <
2 4
3
é o “interior” da circunferência de raio e centro (2, 3).
2

Figura 1.3: Bola aberta B 3 (2, 3)


2

■ Exemplo 1.1.4 A bola aberta B2 (0, 0, 0) é o conjunto dos (x, y, z) ∈ R3 tais que
p
x2 + y2 + z2 < 2 ⇔ x2 + y2 + z2 < 4

é o “interior” da esfera de raio 2 e centro (0, 0, 0).


4 Capítulo 1. Conceitos iniciais

Figura 1.4: Bola aberta B2 (0, 0, 0)

Definição 1.1.5 Seja A ⊆ Rn um subconjunto não vazio. Um ponto p ∈ A é chamado de ponto


interior se existe r > 0 tal que Br (p) ⊆ A.
Denota-se por A◦ ou int(A) o conjunto de todos os pontos interiores de A.

Veja, por exemplo, na figura em R2 :

Definição 1.1.6 Seja A ⊆ Rn um subconjunto não vazio. Dizemos que A é aberto se todo ponto de
A é ponto interior, ou seja, se A = A◦ .

Figura 1.5: Conjunto aberto

Convenção. O conjunto vazio e o próprio Rn são abertos em Rn .

■ Exemplo 1.1.7 Toda bola aberta em Rn é um conjunto aberto.


Faremos a demonstração para n = 2. Sejam (a, b) ∈ R2 e r > 0. Mostraremos que a bola aberta Br (a, b)
1.1 Os espaços R2 e R3 5

é um conjunto aberto. Seja (x0 , y0 ) ∈ Br (a, b). Então,


r − r1
r1 := ∥(x0 , y0 ) − (a, b)∥ < r ⇒ r2 := > 0.
2

Mostremos que Br2 (x0 , y0 ) ⊆ Br (a, b), donde seguirá que (x0 , y0 ) é ponto interior em Br (a, b). Seja
(x, y) ∈ Br2 (x0 , y0 ). Então,

∥(x, y) − (a, b)∥ = ∥(x, y) − (x0 , y0 ) + (x0 , y0 ) − (a, b)∥


≤ ∥(x, y) − (x0 , y0 )∥ + ∥(x0 , y0 ) − (a, b)∥
< r2 + r1
r − r1
= + r1
2
< r − r1 + r1 = r.

■ Exemplo 1.1.8 O conjunto A = {(x, y, z) ∈ R3 : 0 < x < 2, 0 < y ≤ 4, 0 < z < 2} não é aberto.

O ponto p = (1, 4, 1) ∈ A não é ponto interior, pois qualquer que seja r > 0, Br (p) ̸⊆ A. Tem-se
A◦ = {(x, y, z) ∈ R3 : 0 < x < 2, 0 < y < 4, 0 < z < 2} (verifique).

6 Capítulo 1. Conceitos iniciais

Definição 1.1.9 Seja A ⊆ Rn . Um ponto p ∈ Rn (que pode ou não pertencer a A) é chamado de


ponto de fronteira de A se, para todo r > 0,

Br (p) ∩ A ̸= 0/ e Br (p) ∩ (Rn \ A) ̸= 0.


/

Denota-se por ∂ A o conjunto de todos os pontos de fronteira de A.

■ Exemplo 1.1.10 O ponto p = (1, 4, 1) no Exemplo 1.1.8 é um ponto da fronteira de A, pois qualquer

bola aberta centrada em p contém pontos de A e pontos que não estão em A.


Nesse exemplo, ∂ A é formado pelas faces do paralelepípedo que envolve o conjunto A, ou seja,

∂ A = {(0, y, z) : 0 < y ≤ 4, 0 < z < 2} ∪ {(2, y, z) : 0 < y ≤ 4, 0 < z < 2} ∪


{(x, 0, z) : 0 < x < 2, 0 < z < 2} ∪ {(x, 4, z) : 0 < x < 2, 0 < z < 2} ∪
{(x, y, 0) : 0 < x < 2, 0 < y ≤ 4} ∪ {(x, y, 2) : 0 < x < 2, 0 < y ≤ 4}.

■ Exemplo 1.1.11 Dados r > 0 e p ∈ Rn , a fronteira da bola aberta Br (p) é o conjunto

∂ Br (p) = {u ∈ Rn : ∥u − p∥ = r}.

Se n = 2, ∂ Br (p) é a circunferência de raio r centrada em p. Se n = 3, ∂ Br (p) é a esfera (só a casca)


de raio r centrada em p. ■

Definição 1.1.12 Um conjunto A ⊆ Rn é dito ser fechado se Rn \ A é aberto.

Exercício 1.1 Sejam A, B ⊆ Rn . Verifique as seguintes afirmações.

(i) A é fechado se, e somente se, ∂ A ⊆ A.

(ii) A é aberto se, e somente se, ∂ A ∩ A = 0.


/

(iii) Se A e B são abertos, então A ∩ B e A ∪ B são abertos.

(iv) Se A e B são fechados, então A ∩ B e A ∪ B são fechados.

Observação 1.1.13 Um conjunto A ⊆ Rn pode não ser aberto nem fechado, como é o caso do
Exemplo 1.1.8.

Definição 1.1.14 Seja A ⊆ Rn . O fecho do conjunto A, denotado por A é o menor conjunto fechado
contendo A, ou equivalentemente, A = A ∪ ∂ A.

Observe que o fecho de um conjunto é sempre um conjunto fechado.


■ Exemplo 1.1.15 Dados r > 0 e p ∈ Rn , o fecho da bola aberta Br (p) é a chamada bola fechada de
centro p e raio r:

Br (p) = {u ∈ Rn : ∥u − p∥ ≤ r}.


1.2 Funções vetoriais e curvas 7

■ Exemplo 1.1.16 O conjunto A = {(0, 1), (3, 5)} ⊆ R2 é fechado. Mais geralmente, qualquer conjunto
finito é fechado. ■

■ Exemplo 1.1.17 Em Rn , os subconjuntos 0/ e Rn são abertos e fechados ao mesmo tempo, e são os


únicos subconjuntos de Rn com essa propriedade. ■

Definição 1.1.18 Seja A ⊆ Rn . Um ponto p ∈ Rn (que pode ou não pertencer a A) é chamado de


ponto de acumulação de A se, para todo r > 0,

(Br (p) \ {p}) ∩ A ̸= 0.


/

Denota-se por A′ o conjunto de todos os pontos de acumulação de A.

Numa linguagem mais informal: p é ponto de acumulação de A se A tem pontos distintos de p tão
próximos de p quanto se queira.

Exercício 1.2 Mostre que A′ ⊆ A.

Em muitos conjuntos “razoáveis” tem-se A′ = A, como é o caso, por exemplo, se A é uma bola aberta.
Mas isso não é sempre verdade! Por exemplo, se A é um conjunto finito, então A′ = 0/ e A = A.
Definição 1.1.19 Um conjunto A ⊆ Rn é dito ser limitado se existe uma bola aberta (ou fechada)
que o contém. De forma equivalente, A é limitado se existe M > 0 tal que ∥x∥ < M para todo x ∈ A.

1.2 Funções vetoriais e curvas


Nesta seção, estudaremos alguns conceitos relacionados as funções vetoriais e curvas parametriza-
das, como limites, continuidade, derivada e integral. Tais funções não serão o foco dessa disciplina, no
entanto utilizaremos algumas ferramentas relacionadas a elas, por isso apresentamos algumas definições
e resultados.

1.2.1 Funções vetoriais


Definição 1.2.1 Sejam I ⊆ R um intervalo e n ∈ N. Uma função f : I → Rn é chamada de função
vetorial. Sua imagem, Im f é chamada de trajetória ou traço de f .

Quando se trata de funções vetoriais, muitas vezes é mais interessante, do ponto de vista geométrico,
conhecer a trajetória de f do que o seu gráfico.
Dada f : I ⊆ R → Rn , para cada t ∈ I associa-se o vetor f (t) = ( f1 (t), . . . , fn (t)) ∈ Rn . Ou seja,
na definição da função vetorial f estão envolvidas n funções reais fi : I → R, i = 1, . . . , n, chamadas
de funções componentes de f . Muitas definições e propriedades envolvendo funções vetoriais serão
simplesmente extensões de conceitos vistos no Cálculo I para funções reais, aplicados a todas as
funções componentes.
Quando n = 2 ou n = 3, é mais comum denotar f (t) = (x(t), y(t)) ou f (t) = (x(t), y(t), z(t)). Outra
maneira de descrever a função vetorial f é por meio das suas equações paramétricas:
x = x(t), y = y(t), z = z(t), t ∈ I,
onde x, y, z são variáveis que dependem de um mesmo parâmetro t. Muitas vezes, interpretaremos Im f
como a descrição da trajetória de uma partícula, em função do tempo t. Recomendamos a videoaula
Curvas Parametrizadas no plano.
8 Capítulo 1. Conceitos iniciais

■ Exemplo 1.2.2 Seja f (t) = (cost, sent), t ∈ [0, 2π]. Nesse caso,

x(t) = cost e y(t) = sent.

A Im f é exatamente a circunferência de raio 1 centrada na origem.

Figura 1.6: Trajetória de f

Já o gráfico de f é o conjunto G f = {(t, x(t), y(t)) : 0 ≤ t ≤ 2π}, cujo esboço é apresentado a seguir.

Figura 1.7: Gráfico de f

Observe que, projetando o gráfico de f no plano yz, obtém-se exatamente Im f . ■

■ Exemplo 1.2.3 Seja f (t) = (t 2 + 4t,t − 1). Vamos identificar e fazer um esboço do traço de f .
Temos,

x = t 2 + 4t e y = t − 1.

Nesse caso, é simples “isolar” t na segunda equação. Então podemos substituir t em função de y na
primeira equação e assim eliminar o parâmetro t, restando uma equação nas variáveis x e y. Desse
modo,

x = (y + 1)2 + 4(y + 1) = y2 + 6y + 5.
1.2 Funções vetoriais e curvas 9

Como t assume todos os valores reais (quando não for explicitado o domínio consideramos o maior
possível), y = t − 1 também assume todos os valores reais. Assim, a equação cartesiana x = y2 + 6y + 5
representa uma parábola com vértice (−4, −3) e eixo de simetria y = −3. Portanto, seu traço é o
seguinte:

Figura 1.8: Traço de f

1.2.2 Limite, continuidade e curvas parametrizadas

Para entendermos formalmente o início desta seção, recomendamos a videoaula Definição formal
de Limites de funções da reta para o plano.

Definição 1.2.4 Sejam f : I → Rn , t0 ∈ I ou extremidade de I e L ∈ Rn . Dizemos que f (t) tende a


L quando t tende a t0 , e escrevemos

lim f (t) = L,
t→t0

se, dado ε > 0, existe δ > 0 tal que para todo t ∈ I com

0 < |t − t0 | < δ tem-se ∥ f (t) − L∥ < ε. (1.1)

Observe que (1.1) é equivalente a

t ∈ (t0 − δ ,t0 + δ ) \ {t0 } ⇒ f (t) ∈ Bε (L).


10 Capítulo 1. Conceitos iniciais

Exercício 1.3 Prove as seguintes afirmações.

(i) lim f (t) = L ⇔ lim ∥ f (t) − L∥ = 0.


t→t0 t→t0

(ii) Se f (t) = ( f1 (t), . . . , fn (t)) e L = (L1 , . . . , Ln ), então

lim f (t) = L ⇔ lim fi (t) = Li para todo i = 1, . . . , n.


t→t0 t→t0

Observação 1.2.5 Os limites lim fi (t) = Li do exercício anterior são limites de funções reais.
t→t 0

Segue do Exercício 1.3(ii) que


 
lim f (t) = lim f1 (t), . . . , lim fn (t) = (L1 , . . . , Ln ), (1.2)
t→t0 t→t0 t→t0

caso os limites existam.


sent ⃗
■ Exemplo 1.2.6 Seja f (t) = (1 + t 3 )⃗i + (te−t ) ⃗j +
k. Então,
t
     
3 ⃗ −t ⃗ sent ⃗ ⃗ ⃗
lim f (t) = lim(1 + t ) i + lim(te ) j + lim k = i + k = (1, 0, 1).
t→0 t→0 t→0 t→0 t

Definição 1.2.7 Sejam f : I → Rn e t0 ∈ I. Dizemos que f é contínua em t0 se

lim f (t) = f (t0 ).


t→t0

Dizemos simplesmente que f é contínua se f o for em todo ponto de I.

Observação 1.2.8 Segue de (1.2) que f é contínua em t0 se, e somente se, fi é contínua em t0 para
todo i = 1, . . . , n.
1.2 Funções vetoriais e curvas 11

Definição 1.2.9 Uma curva parametrizada em Rn é a imagem de uma função vetorial γ : I → Rn


contínua. A equação

γ(t) = ( f1 (t), . . . , fn (t)), t ∈ I,

é chamada de parametrização de γ, t é chamado de parâmetro e, as equações

x1 = f1 (t), . . . , xn = fn (t), t ∈ I,

são chamadas de equações paramétricas de γ.

■ Exemplo 1.2.10 Esboce a trajetória da curva plana γ de equações paramétricas

x = 2 cost, y = sent.

Solução. Temos,

x x2
= cost e y = sent ⇒ + y2 = 1,
2 4

que é a equação cartesiana de uma elipse.

Figura 1.9: Trajetória de γ

Outra parametrização da mesma curva é α(t) = (2 cos(2t), sen (2t)). Com a primeira parametrização,
é necessário um intervalo de comprimento 2π para completar todo o traçado da curva, enquanto para α
é necessário metade do intervalo. Assim, na segunda parametrização a partícula se move duas vezes
mais rápido que na primeira. ■

Para mais exemplos interessantes, sugerimos a videoaula Curvas Parametrizadas no Plano - Coor-
denada Polar. Para trabalharmos em dimensão 3, sugerimos a videoaula Curvas parametrizadas em R3

■ Exemplo 1.2.11 Seja r a reta em R3 que passa pelo ponto P0 = (x0 , y0 , z0 ) e é paralela ao vetor
−→ −−→
⃗v = (v1 , v2 , v3 ) ̸= 0. Se P = (x, y, z) ∈ r, então OP = OP0 + t⃗v, t ∈ R.
12 Capítulo 1. Conceitos iniciais

Assim, γ(t) = (x0 + tv1 , y0 + tv2 , z0 + tv3 ), t ∈ R, é uma parametrização para r.


Analogamente, dados P0 = (x0 , y0 ) ∈ R2 e ⃗v = (v1 , v2 ) ̸= 0, a curva parametrizada por
γ(t) = (x0 + tv1 , y0 + tv2 ), t ∈ R, descreve uma reta em R2 . Supondo que r não é vertical, podemos es-
crever a equação cartesiana y = ax+b de r. Daí, obtemos outra parametrização para r: α(t) = (t, at +b),
t ∈ R. ■

1.2.3 Derivada e integral


Recomendamos a nossa videoaula Vetor tangente à Curva - Derivação.
Definição 1.2.12 Sejam f : I → Rn e t0 ∈ I. A derivada de f em t0 é definida por

f (t) − f (t0 )
f ′ (t) = lim
t→t0 t − t0
desde que o limite exista. Nesse caso, dizemos que o f é derivável em t0 . Se f é derivável em todo
ponto do seu domínio, dizemos apenas que f é derivável. Dizemos também que f é de classe C1
em I se f é derivável em I e f ′ é contínua em I.

Observação 1.2.13 Segue de (1.2) que f é derivável em t0 se, e somente se, todas as componentes
de f são deriváveis em t0 .

■ Exemplo 1.2.14 Seja f (t) = (sent, ln(1 + t 2 ), (t 3 + 2)4 ). Determine f ′ (0).


Solução. Temos,
 
′ ′ 2 ′ 3 4 ′ 2t 2 3 3
f (t) = ((sent) , (ln(1 + t )) , ((t + 2t + 1) ) ) = cost, , 12t (t + 2) .
1 + t2

Logo, f ′ (0) = (1, 0, 0). ■

Vejamos, geometricamente, do que se trata a derivada da função vetorial f em t0 . Observe que, para
f (t) − f (t0 )
todo t ∈ I \ {t0 }, o vetor é paralelo, ou seja, tem a mesma direção, do vetor f (t) − f (t0 ).
t − t0
1.2 Funções vetoriais e curvas 13

No entanto, quando t tende a t0 , f (t) − f (t0 ) tende a um vetor com direção “tangente” a curva definida
por f (t). Segue daí a próxima definição.

Definição 1.2.15 Seja f : I → Rn derivável em t0 ∈ I, com f ′ (t0 ) ̸= 0. Então, o vetor f ′ (t0 ) é


chamado de vetor tangente f à trajetória de f em t0 .
A reta

r(t) = f (t0 ) + t f ′ (t0 ), t ∈ R,

é chamada de reta tangente à trajetória de f em t0 .

Observação 1.2.16 Quando f (t) descreve o vetor posição de uma partícula que se move ao longo
uma curva, e f (t) é duas vezes derivável, costuma-se definir:

(i) f ′ (t) vetor velocidade da partícula;

(ii) ∥ f ′ (t)∥ módulo da velocidade ou velocidade escalar da partícula;

(iii) f ′′ (t) vetor aceleração da partícula.

As operações envolvendo funções vetoriais basicamente são as operações de vetores realizadas


ponto a ponto do domínio. Vamos listá-las aqui, e, em seguida, as regras de derivação relacionadas.
Definição 1.2.17 — Operações com funções vetoriais. Sejam f , g : I → Rn duas funções
vetoriais com f (t) = ( f1 (t), . . . , fn (t)), g(t) = (g1 (t), . . . , gn (t)), α : I → R uma função real e k ∈ R
uma constante. Define-se as seguintes operações.

Soma f + g : I → Rn dada por ( f + g)(t) = f (t) + g(t) = ( f1 (t) + g1 (t), . . . , fn (t) + gn (t)).

Produto por uma constante k f : I → Rn dada por (k f )(t) = k f (t) = (k f1 (t), . . . , k fn (t)).

Produto por função escalar α f : I → Rn dada por (α f )(t) = α(t) f (t) = (α(t) f1 (t), . . . , α(t) fn (t)).

Produto escalar f · g : I → R dada por ( f · g)(t) = f (t) · g(t) = f1 (t)g1 (t) + · · · + fn (t)gn (t).

Produto vetorial Se n = 3, define-se f × g : I → R3 por ( f × g)(t) = f (t) × g(t).

Proposição 1.2.18 Sejam f , g : I → Rn duas funções vetoriais deriváveis, α : I → R uma função


real derivável e k ∈ R. Então, também são deriváveis f + g, k f , α · f , f · g, e valem:
14 Capítulo 1. Conceitos iniciais

(i) ( f + g)′ = f ′ + g′ ;

(ii) (k f )′ = k f ′ ;

(iii) (α · f )′ = α ′ · f + α · f ′ ;

(iv) ( f · g)′ = f ′ · g + f · g′ .
Além disso, se n = 3, f × g também é derivável, e:
(v) ( f × g)′ = f ′ × g + f × g′ .

A demonstração da proposição anterior são deixadas como exercício. Para o item (iv), a videoaula
Derivada do Produto Interno de duas Funções pode ajudar.

Proposição 1.2.19 — Regra da Cadeia. Sejam f : I → Rn uma função vetorial derivável e


α : J → I uma função real derivável, com I, J ⊆ R intervalos. Então, f ◦ α é derivável e

( f (α(t)))′ = f ′ (α(t)) · α ′ (t).

A demonstração desta proposição é deixada como exercício.


Falaremos, rapidamente, a definição de integração de funções vetoriais. Para maior detalhamento
de sua motivação, sugerimos a videoaula Integração de Funções Vetoriais.

Definição 1.2.20 Seja f : [a, b] → Rn , f (t) = ( f1 (t), . . . , fn (t)). Dizemos que f é integrável em
[a, b] se cada fi o é, i = 1, . . . , n. Neste caso,
Z b Z b Z b 
f (t) dt = f1 (t) dt, . . . , fn (t) dt .
a a a

Também pode-se definir os conceitos de primitiva e integral indefinida para funções vetoriais, generali-
zando tais conceitos apresentados no Cálculo I para funções reais.

1.2.4 Comprimento de curva

Dada uma curva γ : [a, b] → Rn , uma pergunta natural que surge é: qual é seu comprimento?
Se pensarmos em γ(t) como a descrição da trajetória de uma partícula em função do tempo t, sua
velocidade seria v(t) = ∥γ ′ (t)∥, e o comprimento L da curva seria a distância percorrida pela partícula,
logo

Z b
L= ∥γ ′ (t)∥ dt.
a

Vamos agora dar uma ideia mais formal da construção dessa fórmula. Considere γ = (γ1 , . . . , γn ) de
classe C1 . Dada uma partição de [a, b] :

a = t0 < t1 < · · · < tm = b,

considere os pontos P0 = γ(t0 ), P1 = γ(t1 ), . . . , Pm = γ(tm ) em γ.


1.2 Funções vetoriais e curvas 15

O comprimento da poligonal de vértices P0 , P1 , . . . , Pm é


m m q
∑ ∥Pj − Pj−1 ∥ = ∑ (γ1 (t j ) − γ1 (t j−1 ))2 + · · · + (γn (t j ) − γn (t j−1 ))2 . (1.3)
j=1 j=1

Intuitivamente, é fácil aceitar que, quando ∆t j = t j − t j−1 tende a zero, o comprimento da poligonal
tende ao comprimento da curva. Pelo Teorema do Valor Médio, aplicado a cada γi : [t j−1 ,t j ] → R,
temos que existem c̄i j ∈ (t j−1 ,t j ) tal que

γi (t j ) − γi (t j−1 ) = γi′ (c̄i j )∆t j . (1.4)

Substituindo (1.4) em (1.3), temos


m m q
∑ j j−1 ∑ (γ1′ (c̄1 j ))2 + · · · + (γn′ (c̄n j ))2 ∆t j .
∥P − P ∥ = (1.5)
j=1 j=1

Como γ ′ é contínua, temos g(t) = ∥γ ′ (t)∥ contínua, portanto integrável. A equação (1.5) é uma soma
de Riemman de g(t). Tomando o limite das somas de Riemann de g para max ∆ti → 0, temos
m m q Z b
′ 2 ′ 2
L = lim ∑ ∥Pj − Pj−1 ∥ = lim ∑ (γ1 (c̄1 j )) + · · · + (γn (c̄n j )) ∆t j = ∥γ ′ (t)∥ dt.
max ∆ti →0 j=1 max ∆ti →0 j=1 a

Com isso, temos a seguinte definição.

Definição 1.2.21 Seja γ : [a, b] → Rn derivável, com γ ′ contínua. Então, o comprimento da curva
γ é dado por
Z b
L= ∥γ ′ (t)∥ dt.
a

■ Exemplo 1.2.22 Determine o comprimento da circunferência, no plano, de raio r.


Solução. Considere a parametrização γ(r) = (r cost, r sent), 0 ≤ t ≤ 2π, da circunferência de raio r
centrada na origem. Temos que γ ′ (t) = (−r sent, r cost) é contínua em [0, 2π]. Além disso, ∥γ ′ (t)∥ = r
para todo t ∈ [0, 2π]. Logo,
Z 2π Z 2π
L= ∥γ ′ (t)∥ dt = r dt = 2πr.
0 0

Para a definição de comprimento ser boa, é natural esperar que ela não dependa da parametrização
escolhida para a curva. Pense, por exemplo, o que aconteceria se tivéssemos escolhido a parametrização
α(t) = (r cos(2πt), r sen (2πt)), 0 ≤ t ≤ 1, para a circunferência do exemplo anterior.
16 Capítulo 1. Conceitos iniciais

Definição 1.2.23 Sejam α : [a, b] → Rn e β : [c, d] → Rn duas parametrizações de classe C1 de


uma curva C. Dizemos que α e β são equivalentes se, existe h : [a, b] → [c, d] bijetora de classe C1
(logo estritamente crescente ou decrescente), tal que

α(t) = β (h(t)) para todo t ∈ [a, b].

Pensando em α e β como a descrição do movimento de partículas sobre a curva C, a função h da


definição anterior relaciona as velocidades de tais movimentos, pois α ′ (t) = h′ (t)β ′ (h(t)) (Regra da
Cadeia). Se h é crescente (h′ (t) > 0), então os vetores posição α(t) e β (t) se movem no mesmo sentido.
Se h é decrescente (h′ (t) < 0), então os vetores posição α(t) e β (t) se movem em sentidos opostos.
Por fim, pode-se provar que o comprimento da curva C independe das parametrizações equivalentes
escolhidas.
No caso anteriormente mencionado, das parametrizações γ(r) = (r cost, r sent), 0 ≤ t ≤ 2π, e,
α(t) = (r cos(2πt), r sen (2πt)), 0 ≤ t ≤ 1, da circunferência de raio r centrada na origem, deixamos
como exercício a verificação de que elas são equivalentes.

1.3 Funções de várias variáveis a valores reais

Muitas relações que aparecem na física, economia e outras aplicações envolvem duas, três ou mais
variáveis. Nesta seção, iniciaremos o estudo de tais funções. Como já mencionado anteriormente,
nosso foco serão as funções de 2 ou 3 variáveis. No entanto, muitas vezes apresentaremos as definições
e resultados na forma geral Rn , para não ter que escrever os casos n = 2 e n = 3 repetidamente. Os
exemplos, por sua vez, se restringirão aos dois casos de interesse.

1.3.1 Definição, domínio, imagem, gráfico

Recomendamos, inicialmente, a videoaula Funções de Duas Variáveis.

Definição 1.3.1 Uma função real f de n variáveis é uma regra que associa a cada ponto (x1 , · · · , xn )
de um conjunto D ⊂ Rn um único valor real z = f (x1 , · · · , xn ). O conjunto D = Dom f é o domínio
de f e a imagem de f é o conjunto Im f = { f (x1 , · · · , xn ) ∈ R : (x1 , · · · , xn ) ∈ D}.

Também costuma-se escrever

f : D ⊂ Rn → R
.
(x1 , · · · , xn ) 7→ z = f (x1 , · · · , xn )

Dizemos que x1 , x2 , · · · , xn são as variáveis independentes e z é a variável dependente. Quando n = 2


ou n = 3, é mais comum denotar z = f (x, y) e w = f (x, y, z), respectivamente.
1.3 Funções de várias variáveis a valores reais 17

Figura 1.10: Diagrama para z = f (x, y)

Como de costume, se a função é dada por uma fórmula e seu domínio não é especificado, fica entendido
que o seu domínio é o conjunto de todos os pontos para os quais a fórmula resulta em um número real
bem definido.
1
■ Exemplo 1.3.2 Seja f (x, y) = . Essa função está bem definida para (x, y) ∈ R2 tais que x − y ̸= 0,
x−y
isto é, x ̸= y. Assim, o domínio de f é o conjunto Dom f = {(x, y) ∈ R2 : x ̸= y}, que corresponde ao
plano R2 excluindo-se a reta y = x.

Figura 1.11: Domínio de f

p
■ Exemplo 1.3.3 Considere g(x, y) = 9 − x2 − y2 .. Nesse exemplo, devemos ter

9 − x2 − y2 ≥ 0 ⇔ x2 + y2 ≤ 9.

Assim, o domínio de g é o conjunto Dom g = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y2 ≤ 9}, que corresponde a um disco


circular de raio 3 com centro na origem.
18 Capítulo 1. Conceitos iniciais

Figura 1.12: Domínio de g

Para determinar a imagem de g, note que 0 ≤ 9 − x2 − y2 ≤ 9, sendo possívelpescrever qualquer


valor k ∈ [0, 9] na forma k = 9 − x2 − y2 com (x, y) ∈ Dom , g. Portanto 0 ≤ z = 9 − x2 − y2 ≤ 3 e
Im g = [0, 3]. ■

Para funções com mais variáveis, sugerimos, inicialmente, a videoaula Introdução Funções de três
variáveis e também Espaço Rn e funções de Várias variáveis.
2x + 3y + 4z
■ Exemplo 1.3.4 Seja h(x, y, z) = 2 . Neste exemplo, devemos ter x2 + y2 + z2 ̸= 0, o que é
x + y2 + z2
satisfeito para todo (x, y, z) ̸= (0, 0, 0). Assim, Dom h = R3 \{(0, 0, 0)}. ■

■ Exemplo 1.3.5 — Função polinomial. É uma função p : Rn → R da forma


m
p(x1 , · · · , xn ) = ∑ ai1 ,··· ,in x1i1 · · · xnin , (1.6)
i1 ,··· ,in =0

onde m ∈ N e ai1 ,··· ,in ∈ R. Portanto, as funções polinomiais são aquelas que envolvem somas e produtos
das variáveis x1 , · · · , xn e números reais. Por exemplo,
p(x, y, z) = y2 − 3xyz2 − x2 + x2 yz − 1 (1.7)
é uma função polinomial.
O domínio das funções polinomiais é Rn . Em (1.6), cada parcela ai1 ,··· ,in x1i1 · · · xnin é chamada de
monômio. O maior valor dentre as somas i1 + · · · + in dos expoentes de cada monômio é chamado de
grau da função polinomial. No exemplo (1.7), o grau da função polinomial é 4. ■

■ Exemplo 1.3.6 — Função racional. É uma função da forma


p(x1 , · · · , xn )
f (x1 , · · · , xn ) = ,
q(x1 , · · · , xn )
onde p(x1 , · · · , xn ) e q(x1 , · · · , xn ) são funções polinomiais. O domínio de de f é o conjunto
{(x1 , . . . , xn ) ∈ Rn : q(x1 , · · · , xn ) ̸= 0}. ■

■ Exemplo 1.3.7 — Função Linear. É uma função f : Rn → R da forma


f (x1 , · · · xn ) = a1 x1 + · · · + an xn ,
onde ai ∈ R, i = 1, · · · , n. Note que esse é um caso particular de função polinomial, mas o destacamos
aqui devido sua importância. O domínio é todo Rn e a imagem pode assumir apenas duas formas: {0},
se a1 = a2 = · · · = an = 0, ou R, caso contrário. ■
1.3 Funções de várias variáveis a valores reais 19

Definição 1.3.8 Seja f : D ⊂ Rn → R uma função. O gráfico de f , denotado por G f é o seguinte


subconjunto de Rn+1 :

G f = {(x1 , · · · , xn , f (x1 , · · · , xn )) ∈ Rn+1 : (x1 , · · · , xn ) ∈ D}.

No caso n = 2, o gráfico de f é um subconjunto de R3 . A projeção do gráfico de f no plano xy nos dá


o domínio de f . Sugerimos, portanto, a videoaula Gráfico de Funções de duas variáveis.

Figura 1.13: Gráfico de função de 2 variáveis

■ Exemplo 1.3.9 — Função constante. Fixe c ∈ R e considere f (x, y) = c. O domínio de f é R2 e


seu gráfico é o conjunto G f = {(x, y, c) : (x, y) ∈ R2 }, que corresponde ao plano z = c em R3 , paralelo
ao plano xy e passando pelo ponto (0, 0, c).

Figura 1.14: Gráfico de f (x, y) = c

p
■ Exemplo 1.3.10 Seja g(x, y) = 9 − x 2 − y2 .
Vimos no Exemplo 1.3.3 que Dom g = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y2 ≤p 9} e Im g = [0, 3]. Um ponto (x, y, z)
pertence ao gráfico de g se, e somente se, (x, y) ∈ Dom g e z = 9 − x2 − y2 . Essa última condição é
equivalente a z ≥ 0 e x2 + y2 + z2 = 9. Portanto, Gg = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y2 + z2 = 9 e z ≥ 0} é a
calota superior da esfera de raio 3 centrada na origem.
20 Capítulo 1. Conceitos iniciais

Figura 1.15: Gráfico de g

Esboçar o gráfico de uma função de várias variáveis em geral não é tarefa fácil. Além disso, o
gráfico de uma função de três variáveis é um subconjunto de R4 , e portanto não pode ser esboçado.
Veremos, a seguir, a ferramenta “conjuntos de nível” que auxiliará a entender graficamente uma função
“economizando” uma dimensão.

1.3.2 Conjuntos de nível


Definição 1.3.11 Seja f : D ⊂ Rn → R uma função. O conjunto de nível de f com valor c ∈ R é
dado por {(x1 , · · · , xn ) ∈ D : f (x1 , · · · , xn ) = c}.
Para os casos particulares n = 2 e n = 3, estes conjuntos são denominamos curvas de nível e
superfícies de nível, respectivamente.

No caso n = 2, a curva de nível de f com valor c corresponde a intersecção do gráfico de f com o


plano z = c. Para entendermos geometricamente o conceito de curva de nível, sugerimos a videoaula
Introdução a Curvas de nível. Sugerimos também a videoaula Curva de nível e Esboço de gráfico para
entendermos com as curvas de nível auxilia no esboço de alguns gráficos de funções de duas variáveis.

Observação 1.3.12 (i) Se c ∈


/ Im f , então o conjunto de nível de f com valor c é vazio.

(ii) Conjuntos de nível são subconjuntos do domínio da função.

(iii) Dois conjuntos de nível correspondentes a níveis diferentes não se intersectam (por quê?).

■ Exemplo 1.3.13 Considere f (x, y) = x2 + y2 .

• A curva de nível c = 0 é o conjunto solução da equação x2 + y2 = 0, isto é, apenas o ponto (0, 0).


• Para c > 0, a solução de x2 + y2 = c é uma circunferência de centro na origem e raio c.

• Para c < 0, não há solução para a equação x2 + y2 = c, e portanto o conjunto de nível é vazio.
1.3 Funções de várias variáveis a valores reais 21

Figura 1.16: Curvas de nível e gráfico de f

Para um exemplo mais complicado, sugerimos a videoaula Esboço da Sela de Cavalo.


p
■ Exemplo 1.3.14 Seja f (x, y, z) = x2 + y2 + z2 . p
Para c < 0, o conjunto de nível é vazio, e, para c = 0, a equação x2 + y2 + z2 = 0 nos dá apenas o
ponto (0, 0, 0) como
psolução.
Para c > 0, temos x2 + y2 + z2 = c, logo x2 + y2 + z2 = c2 . Neste caso, a superfície de nível é uma
esfera centrada no origem e raio c.

Figura 1.17: Superfícies de nível de f

Mesmo sem poder esboçar o gráfico de f , conseguimos ter algumas informações do comportamento
de f a partir de suas superfícies de nível. Por exemplo, se permanecemos em uma esfera de raio
c, a função se mantém constante. Se nos movemos de uma esfera à outra, os valores de f mudam:
aumentam se nos afastamos da origem e diminuem se nos aproximamos da origem. ■

Para mais exemplos de superfície de nível, sugerimos a videoaula


22 Capítulo 1. Conceitos iniciais

2xy2
■ Exemplo 1.3.15 Considere f (x, y) = 2 , (x, y) ̸= (0, 0).
x + y4
Para c = 0, temos
2xy2
= 0 ⇔ x = 0 ou y = 0.
x 2 + y4
Portanto, a curva de nível em c = 0 é a união dos eixos coordenados, excluindo-se a origem (que não
pertence ao domínio).
Para c ̸= 0, temos
2xy2
= c ⇔ 2xy2 = cx2 + cy4 , y ̸= 0 ⇔ cx2 − 2xy2 + cy4 = 0.
x 2 + y4
Resolvendo esta equação na variável x, temos
p √
2y2 ± 4y4 − 4c2 y4 1 ± 1 − c2 2
x= = y , −1 ≤ c ≤ 1, c ̸= 0.
2c c
Logo, para c ∈ [−1, 0) ∪ (0, 1], as curvas de nível de f são parábolas. Além disso, observamos que
Im f = [−1, 1], já que esses são os valores de c para os quais f (x, y) = c tem solução. A seguir
apresentamos o esboço das curvas de nível de f .

Figura 1.18: Curvas de nível de f

Podemos observar:
• f atinge seu valor máximo (1) nos pontos da parábola x = y2 , excluindo-se (0, 0);
• f atinge seu valor mínimo (−1) nos pontos da parábola x = −y2 , excluindo-se (0, 0);

1 − 1 − c2 2
• para c > 0, a medida que c se aproxima de zero, a parábola x = y vai “abrindo” e
√ c
1 + 1 − c2 2
tende a reta y = 0. Já a parábola x = y vai “fechando” e se aproxima da reta x = 0.
c

1.3 Funções de várias variáveis a valores reais 23

1.3.3 Quádricas e cilíndros


A seguir faremos uma breve revisão de uma classe especial de superfícies, as chamadas quádricas,
que serão exemplos recorrentes no estudo de funções de várias variáveis. Por definição, uma quádrica
é uma superfície obtida como superfície de nível de uma função polinomial de três variáveis f (x, y, z)
de grau 2. Para esboçar o gráfico dessas superfícies, é útil determinar a interseção destas superfícies
com planos paralelos aos planos coordenados, chamados cortes. Os cortes, por sua vez, serão equações
polinomiais de grau menor ou igual a 2 em duas variáveis, ou seja, cônicas.
■ Exemplo 1.3.16 Esboce a quádrica de equação

y2 z2
x2 + + = 1.
9 4
A interseção da quádrica com um plano da forma z = k é:

y2 k2
x2 + = 1−
9 4
k2 k2
que é a equação de uma elipse se 1 − > 0, ou seja, −2 < k < 2. Se 1 − = 0, o que equivale a
4 4
2 y2 k2
k = ±2, o conjunto solução da equação x + = 0 é só um ponto. Se 1 − < 0, temos o conjunto
9 4
vazio como solução, ou seja, a quádrica não intercepta os planos z = k se k < −2 ou k > 2.
Analogamente, verifica-se que a interseção com os planos da forma y = l e x = m são elipses se
−3 < l < 3 ou −1 < m < 1, um ponto se l = ±3 ou m = ±1, e são conjuntos vazios caso contrário.
Essa quádrica é um elipsóide, pois seus cortes são elipses.

y2 z2
Figura 1.19: Elipsóide x2 + + =1
9 4

■ Exemplo 1.3.17 Esboce a quádrica de equação

z = y2 − x 2

A interseção da quádrica com os planos da forma x = k é:

z = y2 − k 2

que são parábolas com a concavidade para cima. A interseção da quádrica com os planos da forma
y = l é:

z = −x2 + k2
24 Capítulo 1. Conceitos iniciais

que são parábolas com a concavidade para baixo. Por fim, a interseção da quádrica com os planos da
forma z = m é:
x 2 − y2 = m
que são hipérboles se m ̸= 0 e um par de retas concorrentes se m = 0.

Figura 1.20: Cortes em x = k , y = l e z = m

A seguir ilustramos os cortes colocados nos planos corretos em R3 .

Figura 1.21: Cortes em x = k , y = l e z = m , nos planos em R3

Essa quádrica é um parabolóide hiperbólico, também conhecida como sela.

Figura 1.22: Parabolóide hiperbólico z = y2 − x2


1.3 Funções de várias variáveis a valores reais 25

A tabela a seguir contém todas as quádricas não degeneradas, uma equação reduzida que as
representa, e também um resumo sobre os seus cortes. A partir dela, usando as ideias dos exemplos
anteriores, ficará mais simples de identificar as quádricas que aparecerão ao longo dos exemplos do
curso.

Para mais exemplos, sugerimos as videoaulas

• Introdução a superfícies quádricas - Falamos um pouco das equações da forma quadráticas de


funções de 3 variáveis. Nesta aula específica, fizemos o esboço de vários cilindros.

• Superfícies quádricas - Esferas e elipsoides - Aula de revisão de Geometria analítica.

• Superfícies de Revolução e Coordenadas Cilíndricas - Esta aula tem um apelo geométrico


importantíssimo e pode ser usado para ajudar a esboçar vários gráficos de funções além de ajudar
o aluno a ter visão geométrica de vários gráficos de superfície.

• Hiperboloide de uma folha e Hiperboloide de duas folhas - Esta aula pode ser vista como
continuação do nosso vídeo que trata de coordenadas cilíndricas, mas especializado na equação
ax2 + by2 + cy2 = 1, em que ao menos um dos coeficientes é negativo.

• Superfícies de nível - Basicamente é uma aula parecida com as de curvas de nível, mas para
esboçar a superfície em vários exemplos, é necessário ter em mente as superfícies quádricas.
26 Capítulo 1. Conceitos iniciais

Definição 1.3.18 Uma superfície é um cilindro se ela é a união de retas paralelas, chamadas
geratrizes, que passam por uma determinada curva plana.

■ Exemplo 1.3.19 Esboce a superfície em R3 de equação z = x2 .


Como y não aparece na equação dada, para todo y = k, tem-se z = x2 . Em outras palavras, a interseção
da superfície com os planos y = k é sempre a parábola z = x2 . Portanto, a superfície é um cilindro
parabólico, com retas geratrizes paralelas ao eixo y.

■ Exemplo 1.3.20 Esboce a superfície em R3 de equação z = sen y.


Agora é a variável x que não aparece na equação dada, assim, a interseção da superfície com os planos
x = k é sempre a curva plana z = sen y. Portanto, a superfície é um cilindro, com retas geratrizes
paralelas ao eixo x.
1.4 Limite e continuidade 27

Observação 1.3.21 Nos dois exemplos de cilindros apresentados, uma das variáveis não aparecia
na equação da superfície. Em geral, se falta uma das três variáveis, então a superfície é um cilindro
com diretrizes paralelas ao eixo correspondente a variável faltante. No entanto, podem também
haver cilindros descritos por equações envolvendo todas as variáveis, mas esses nem sempre são
fáceis de se identificar.

1.4 Limite e continuidade

Nesta seção, abordaremos os conceitos de limite e continuidade para funções reais de várias
variáveis. A ideias e muitas das propriedades são análogas às das funções de uma variável, porém,
o acréscimo de variáveis leva a uma complexidade maior e algumas diferenças. Recomendamos a
videoaula Introdução a Limites de Funções de duas variáveis e também Introdução a Limites de Funções
de 3 variáveis.

1.4.1 Limites
Definição 1.4.1 Sejam f : D ⊂ Rn → R, b um ponto de acumulação de D e L ∈ R. Dizemos que o
limite de f quando x tende a b é L, e denotamos

lim f (x) = L,
x→b

se, dado ε > 0, existe δ > 0 tal que, para todo x ∈ D com

0 < ∥x − b∥ < δ tem-se | f (x) − L| < ε. (1.8)

Para ajudar no entendimento do conceito, sugerimos a videoaula Definição formal de Limites de


Funções de duas variáveis e também Definição de Limite para funções de n variáveis.
Observe que (1.8) é equivalente a

x ∈ Bδ \ {b} ⇒ f (x) ∈ ]L − ε, L + ε[.


28 Capítulo 1. Conceitos iniciais

Para n = 2, será mais comum escrevermos

lim f (x, y) = L.
(x,y)→(x0 ,y0 )

Observação 1.4.2 Daqui em diante, ao dizer que f tem limite para x → b fica subentendido que b
é um ponto de acumulação do domínio de f .

■ Exemplo 1.4.3 Seja f (x, y) = x. Dado (x0 , y0 ) ∈ R2 , tem-se lim f (x, y) = x0 .


(x,y)→(x0 ,y0 )

De fato, seja ε > 0 qualquer. Para todo (x, y) ∈ R2 , temos

|x − x0 | ≤ ∥(x, y) − (x0 , y0 )∥ (verifique).

Logo, tomando δ = ε, temos

0 < ∥(x, y) − (x0 , y0 )∥ < δ ⇒ | f (x, y) − x0 | = |x − x0 | ≤ ∥(x, y) − (x0 , y0 )∥ < δ = ε.

Portanto, lim f (x, y) = x0 = f (x0 , y0 ). ■


(x,y)→(x0 ,y0 )

Resumiremos, na proposição a seguir, as propriedades básicas de limites. Tais propriedades também


são válidas para funções de n variáveis, com n ≥ 3.

Proposição 1.4.4 (i) Se existe o limite, ele é único.

(ii) Se lim f (x, y) = L1 e lim g(x, y) = L2 , então:


(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )

(a) lim ( f (x, y) + g(x, y)) = L1 + L2 ;


(x,y)→(x0 ,y0 )

(b) lim ( f (x, y) · g(x, y)) = L1 · L2 ;


(x,y)→(x0 ,y0 )

(c) se L2 ̸= 0, lim f (x, y)/g(x, y) = L1 /L2 .


(x,y)→(x0 ,y0 )

(iii) Teorema do Confronto. Se f (x, y) ≤ g(x, y) ≤ h(x, y) para todo ponto (x, y) em alguma bola
aberta centrada em (x0 , y0 ), e lim f (x, y) = lim h(x, y) = L, então
(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )
lim g(x, y) = L.
(x,y)→(x0 ,y0 )
1.4 Limite e continuidade 29

(iv) Se lim f (x, y) = 0 e g(x, y) é uma função limitada em uma bola centrada em (x0 , y0 ),
(x,y)→(x0 ,y0 )
então lim f (x, y) · g(x, y) = 0.
(x,y)→(x0 ,y0 )

(v) lim f (x, y) = L ⇔ lim f (x0 + h, y0 + k) = L.


(x,y)→(x0 ,y0 ) (h,k)→(0,0)

(vi) lim f (x, y) = L ⇔ lim ( f (x, y) − L) = 0.


(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )

(vii) lim f (x, y) = L ⇒ lim | f (x, y)| = |L|.


(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )

(viii) lim f (x, y) = 0 ⇔ lim | f (x, y)| = 0.


(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )

A demonstração é análoga ao caso de funções de uma variável e, caso o leitor se interesse pelas
demonstrações, recomendamos as videoaulas:

• Demonstração da Unicidade de Limites.


• Demonstração das Propriedades Básicas de Limites.
• Demonstração do Teorema do Confronto.

5y3
 
2
■ Exemplo 1.4.5 Determine lim 3x y − .
(x,y)→(−3,2) x+y
Vimos no Exemplo 1.4.3 que lim x = x0 . Analogamente, verifica-se que lim y = y0 .
(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )
Agora, podemos calcular o limite dado utilizando as propriedades do item (ii) da Proposição 1.4.4:
5y3 5 · 23
 
2
lim 3x y − = 3 · (−3)2 · 2 − = 94.
(x,y)→(−3,2) x+y −3 + 2

A seguir, veremos um método muito útil para se mostrar a não existência de um limite.
Note que, no caso de funções de uma variável, quando se estuda o limite lim f (x), x pode se apro-
x→x0
ximar de x0 pela esquerda ou pela direita, mas existe apenas uma direção na qual a variável x pode
percorrer até o ponto x0 (uma reta). Já no caso de funções de várias variáveis, por exemplo ao analisar
lim f (x, y), podemos escolher dentre uma infinidades de caminhos para (x, y) se aproximar de
(x,y)→(x0 ,y0 )
(x0 , y0 ).
30 Capítulo 1. Conceitos iniciais

É natural pensar que, para o limite existir, ele não pode depender das direções ou caminhos (curvas)
pelos quais (x, y) se aproximam de (x0 , y0 ). É exatamente isso que nos diz o próximo resultado, que
também pode ser estendido para funções de 3 ou mais variáveis.

Proposição 1.4.6 Suponha lim f (x, y) = L ∈ R. Seja γ : I ⊂ R → R2 uma curva contínua


(x,y)→(x0 ,y0 )
no ponto t0 ∈ I, tal que γ(t0 ) = (x0 , y0 ), γ(t) ̸= (x0 , y0 ) para t ̸= t0 , e Im γ está contida em Dom f
exceto possivelmente por γ(t0 ) = (x0 , y0 ). Então, lim f (γ(t)) = L.
t→t0

Demonstração. A demonstração se encontra na nossa videoaula Demonstração da Continuidade por


caminhos, mas reproduziremos sua demonstração aqui.
Pela definição de limite, dado ε > 0, existe δ1 > 0 tal que

0 < ∥(x, y) − (x0 , y0 )∥ < δ1 ⇒ | f (x, y) − L| < ε. (1.9)

Usando a continuidade de γ em t0 , para δ1 > 0 acima, existe δ > 0 tal que

|t − t0 | < δ ⇒ ∥γ(t) − γ(t0 )∥ < δ1 .

Como γ(t0 ) = (x0 , y0 ) e γ(t) ̸= (x0 , y0 ) se t ̸= t0 , podemos escrever

0 < |t − t0 | < δ ⇒ 0 < ∥γ(t) − γ(t0 )∥ < δ1 . (1.10)

De (1.9) e (1.10), segue que:

0 < |t − t0 | < δ ⇒ | f (γ(t)) − L| < ε.

Ou seja, lim f (γ(t)) = L. ■


t→t0

Como consequência da Proposição 1.4.6, podemos concluir que não existe lim f (x, y), se
(x,y)→(x0 ,y0 )
ocorrer uma das seguintes situações:

• existe uma curva γ(t) em Dom f , com γ(t0 ) = (x0 , y0 ), γ(t) ̸= (x0 , y0 ) se t ̸= t0 , e tal que
lim f (γ(t)) não existe;
t→t0

• existem curvas γ1 (t) e γ2 (t) em Dom f , com γ1 (t0 ) = γ2 (t0 ) = (x0 , y0 ), γ1 (t) ̸= (x0 , y0 ) e γ2 (t) ̸=
(x0 , y0 ) se t ̸= t0 , e tais que lim f (γ1 (t)) = L1 , lim f (γ2 (t)) = L2 , com L1 ̸= L2 .
t→t0 t→t0

2xy
■ Exemplo 1.4.7 Discuta a existência do limite: lim .
(x,y)→(0,0) x2 + y2

Solução. Considere as curvas γ1 (t) = (t,t) e γ2 (t) = (t, 0). Note que γ1 (0) = γ2 (0) = (0, 0). No
entanto, temos

2·0·t 2·t ·t
lim f (γ1 (t)) = lim =0 e lim f (γ2 (t)) = lim = 1.
t→0 t→0 02 + t 2 t→0 t→0 t 2 + t 2

Como os valores são distintos, o limite dado não existe.


1.4 Limite e continuidade 31

Para mais exemplos, sugerimos a videoaula Continuidade por Caminhos, Mostrando que o Limite
não existe.
No exemplo anterior, as curvas escolhidas são retas. No próximo exemplo, veremos um caso em
que o limite coincide quando compomos a função com qualquer caminho retilíneo, porém o limite
da função não existe. Isto mostra que, às vezes, a escolha da curva para aproximação pode ser bem
peculiar. Tal exemplo foi também feito na videoaula Um limite que não existe via caminho diferente da
reta.
2xy2
■ Exemplo 1.4.8 Discuta a existência do limite: lim .
(x,y)→(0,0) x2 + y4

Solução. Considere as retas (passando pela origem) γk (t) = (t, kt), com k ∈ R. Temos γk (0) = (0, 0).
Agora,
2t · t 2 · k2 2tk2
lim f (γk (t)) = lim = lim = 0.
t→0 t→0 t 2 + k4t 4 t→0 1 + k4t 2

Tentemos, agora, calcular o limite ao longo da parábola γ(t) = (t 2 ,t):


2t 2 · t 2
lim f (γ(t)) = lim = lim 1 = 1.
t→0 t→0 t 4 + t 4 t→0

Observe que γ é a parábola x = y2 e que f é constante ao longo dessa curva (veja as curvas de nível de
f no Exemplo 1.3.15).
Portanto, concluímos que o limite dado não existe. ■

Para o próximo exemplo, sugerimos a videoaula Teorema de Confronto e do Anulamento.


x3
■ Exemplo 1.4.9 Determine lim .
(x,y)→(0,0) x2 + y2

Solução. Não é difícil verificar que a composição da função com qualquer reta (t, kt), ou curvas da
forma (t,t k ) ou (t k ,t), nos leva a um limite igual a zero. De fato, o mesmo vale qualquer que seja a
curva escolhida (apesar de não ser possível verificar diretamente, pois existem infinitas possibilidades).
Isso nos dá um indicativo de que o limite da função existe e é igual a zero. Para mostrar isso, usaremos
o item (iv) da Proposição 1.4.4. Temos, para todo (x, y) ∈ R2 \ {(0, 0)},
x2
0 ≤ x 2 ≤ x 2 + y2 ⇒ 0 ≤ ≤ 1.
x 2 + y2
32 Capítulo 1. Conceitos iniciais

x2 x3
Portanto, a função é limitada. Como lim x = 0, segue que lim = 0. ■
x 2 + y2 (x,y)→(0,0) (x,y)→(0,0) x2 + y2

x3
■ Exemplo 1.4.10 Determine lim .
(x,y)→(0,0) x2 + y

Solução. Tal como no exemplo anterior, a composição da função com qualquer reta (t, kt), ou curvas
x2
da forma (t,t k ) ou (t k ,t), nos leva a um limite igual a zero. Porém, nesse caso f (x, y) = 2 não é
x +y
limitada, e o limite em questão não existe. Para verificar essa afirmação, vamos procurar alguma curva
que faça a composição não tender a zero.
t3
Tentemos uma curva da forma γ(t) = (t, α(t) − t 2 ), com α(t) ̸= 0, de modo que f (γ(t)) = .
α(t)
Queremos que a curva γ convirja para (0, 0), o que, pela primeira coordenada de γ, deve acontecer
quando t → 0. Assim, devemos ter lim(α(t) − t 2 ) = 0. Além disso, queremos que lim f (γ(t)) =
t→0 t→0
t3
lim ̸= 0. Uma possível escolha é α(t) = t 3 .
t→0 α(t)

t3
Portanto, tomando γ(t) = (t,t 3 − t 2 ), vale γ(0) = (0, 0) e lim f (γ(t)) = lim = 1 ̸= 0.
t→0 t→0 t 3
Uma outra maneira de procurar curvas para se analisar o limite, é através das curvas de nível da função.
Neste exemplo, as curvas de nível de f de nível c, para c ̸= 0, são dadas por
x3 x3 − cx2
= c ⇔ y = .
x2 + y c
 3
t − ct 2

Ou seja, para cada c ̸= 0, f assume valor constante igual a c nos pontos da curva γc (t) = t, .
c
Observe que cada γc (t) é contínua, γc (0) = (0, 0) e γc (t) ̸= (0, 0) para todo t ̸= 0. Portanto,
lim f (γc (t)) = c e conseguimos curvas passando pela origem tais que o limite de f assume valo-
t→0
res não nulos nessas curvas. ■

Para mais um exemplo utilizando as curvas de níveis, sugerimos a videoaula Usando curvas de
níveis para mostrar que o limite não existe. Para mais exemplos de cálculo de limites, sugerimos a
videoaula Vários exemplos para cálculo de limites.
Para exemplos com funções de 3 variáveis, sugerimos a videoaula Teorema do Confronto e do
anulamento para funções de 3 variáveis e também a videoaula Continuidade por caminho de funções de
3 variáveis.

Proposição 1.4.11 Sejam f : D ⊂ R2 → R e g : R → R contínua no ponto a ∈ R. Se


lim f (x, y) = a, então lim g( f (x, y)) = g(a).
(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )

A demonstração se encontra na nossa videoaula Demonstração da Continuidade da Composta.


sen(xy)
■ Exemplo 1.4.12 Determine lim .
(x,y)→(0,0) xy
sen(t)
Solução. Pela Proposição 1.4.11, tomando g(t) = se t ̸= 0 e g(0) = 1, juntamente com o fato de
t
sen(xy)
que lim xy = 0, concluímos que lim = 1. ■
(x,y)→(0,0) (x,y)→(0,0) xy
1.4 Limite e continuidade 33
ey − ex
■ Exemplo 1.4.13 Determine lim .
(x,y)→(0,0) y − x

Solução. Neste exemplo, vamos fazer uso do Teorema do Valor Médio (visto no Cálculo I). Podemos
escrever ey − ex = eθ (y − x), onde θ = θ (x, y) é um valor entre y e x. Assim, lim θ (x, y) = 0.
(x,y)→(0,0)
Aplicando a Proposição 1.4.11 com g(t) = et , temos

ey − ex
lim = lim eθ (x,y) = e0 = 1.
(x,y)→(0,0) y − x (x,y)→(0,0)

1.4.2 Continuidade
Definição 1.4.14 Sejam f : D ⊂ R2 → R e (x0 , y0 ) ∈ D. Dizemos que f é contínua em (x0 , y0 ) se
lim f (x, y) = f (x0 , y0 ). Se f é contínua em todos os pontos de seu domínio, dizemos que f é
(x,y)→(x0 ,y0 )
uma função contínua.

Analogamente, define-se função de 3 ou mais variáveis contínua e todos os resultados desta seção
também serão válidos. Sugerimos a videoaula Introdução à Continuidade.
■ Exemplo 1.4.15 As funções (projeções) f (x, y) = x e g(x, y) = y são contínuas, pois já vimos que

lim x = x0 e lim y = y0 .
(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )

Proposição 1.4.16 Sejam f : D ⊂ R2 → R e g : D ⊂ R2 → R funções contínuas em (x0 , y0 ) ∈ D.


As seguintes funções também são contínuas em (x0 , y0 ).

(i) ( f + g)(x, y) = f (x, y) + g(x, y).

(ii) ( f − g)(x, y) = f (x, y) − g(x, y).

(iii) ( f .g)(x, y) = f (x, y).g(x, y).

(iv) ( f /g)(x, y) = f (x, y)/g(x, y), desde que g(x0 , y0 ) ̸= 0.

Segue da Proposição 1.4.16 e do Exemplo 1.4.15 que funções polinomiais e racionais são contínuas.

 2xy2
se (x, y) ̸= (0, 0)
■ Exemplo 1.4.17 Seja f (x, y) = x 2 + y4 .
0 se (x, y) = (0, 0)

2xy2
Vimos no Exemplo 1.4.8 que não existe lim . Portanto, f não é contínua em (0, 0). No
(x,y)→(0,0) x2 + y4
2xy2
entanto, para todo (x, y) ∈ R2 \ {(0, 0)}, f (x, y) = 2 é uma função racional, logo f é contínua em
x + y4
R2 \ {(0, 0)}. ■


x3
se (x, y) ̸= (0, 0)

■ Exemplo 1.4.18 Seja f (x, y) = x 2 + y2 .
0 se (x, y) = (0, 0)

34 Capítulo 1. Conceitos iniciais

x3
Temos lim = 0 = f (0, 0) (ver Exemplo 1.4.9). Logo, f é contínua em (0, 0). Como f é
(x,y)→(0,0) x2 + y2
contínua em todos os demais pontos de R2 , podemos dizer que f é uma função contínua. ■

Proposição 1.4.19 Sejam f : D ⊂ R2 → R e g : A ⊂ R → R tais que Im f ⊂ A, f é contínua em


(x0 , y0 ) e g é contínua em f (x0 , y0 ). Então, a composta g ◦ f é contínua em (x0 , y0 ).

■ Exemplo 1.4.20 São contínuas as funções log(x2 + y2 ), sen(xy), ex+y , tan(x/y). ■

Como consequência direta da Proposição 1.4.6, temos o seguinte resultado.

Proposição 1.4.21 Sejam f : D ⊂ R2 → R e γ : I → R2 , com Im γ ⊂ D. Se γ é contínua no ponto


t0 ∈ I e f é contínua em γ(t0 ), então a composta f ◦ γ é contínua em t0 .

Como consequência da Proposição 1.4.21, para mostrarmos que uma função é descontínua em um
ponto, basta mostrarmos que a função é descontínua ao longo de um caminho específico passando por
este ponto.

 sen(x2 + xy + y2 )
se (x, y) ̸= (0, 0)
■ Exemplo 1.4.22 Determine se a função f (x, y) = x 2 + y2 é contí-
0 se(x, y) = (0, 0)

nua.
Solução. Considere γ(t) = (t, 0). Temos,

sen(t 2 )
lim f (γ(t)) = lim = 1 ̸= 0 = f (0, 0).
t→0 t→0 t2
Portanto, a função não é contínua no ponto (0, 0). ■
Capítulo 2

Derivadas

2.1 Derivadas parciais

Seja f : A ⊂ R2 → R. Fixado um valor y0 , considere a função x → f (x, y0 ). Sendo esta uma função
de uma variável, faz sentido perguntarmos qual sua derivada em um ponto x0 . Esta derivada é denotada
∂f
por (x0 , y0 ) e chamada derivada parcial de f em relação a x no ponto (x0 , y0 ). Ela representa a
∂x
taxa de variação de f na direção do eixo x. De forma análoga, podemos definir a derivada parcial com
respeito a y. Recomendamos a videoaula Introdução a Derivadas Parciais.

Definição 2.1.1 Sejam z = f (x, y) uma função real de duas variáveis e (x0 , y0 ) ∈ Dom f . A derivada
parcial de f em relação a x no ponto (x0 , y0 ) é dada por

∂f f (x0 + h, y0 ) − f (x0 , y0 )
(x0 , y0 ) = lim .
∂x h→0 h
Analogamente, a derivada parcial de f em relação a y no ponto (x0 , y0 ) é dada por

∂f f (x0 , y0 + k) − f (x0 , y0 )
(x0 , y0 ) = lim .
∂y k→0 k
∂f
Se A é o subconjunto de Dom f formado pelos pontos (x0 , y0 ) tais que (x0 , y0 ) existe, pode-se
∂x
definir a função derivada parcial de f em relação a x:

∂f
:A → R
∂x
∂f f (x + h, y) − f (x, y)
(x, y) 7→ (x, y) = lim .
∂x h→0 h

∂z
Outras notações usuais para a função derivada parcial em relação x são , fx ou zx . Analogamente,
∂x
define-se a função derivada parcial em relação à outra variável.

Observação 2.1.2 A regra prática para se calcular a derivada parcial em relação a uma determinada
variável é considerar todas as demais variáveis como constantes e derivar a função tal qual uma
função de uma única variável.

∂f ∂f
■ Exemplo 2.1.3 Seja z = f (x, y) = (x2 + y2 ) cos(xy). Calcule (1, π) e (1, π).
∂x ∂y
36 Capítulo 2. Derivadas

Solução. Seguindo a regra prática da Observação 2.1.2, obtemos


∂f ∂f
(x, y) = 2x cos(xy)−yx2 sen(xy)−y3 sen(xy) e (x, y) = −x3 sen(xy)+2y cos(xy)−xy2 sen(xy).
∂x ∂y
No ponto (1, π), as derivadas parciais resultam em
∂f ∂f
(1, π) = −2 e (1, π) = −2π.
∂x ∂y

∂f ∂f
■ Exemplo 2.1.4 Determine as funções e , onde
∂x ∂y
 3
 x − y2
se (x, y) ̸= (0, 0)
f (x, y) = x2 + y2 .
0 se (x, y) = (0, 0)

∂f x 3 − y2
Solução. Vamos determinar primeiramente . Para (x, y) ̸= (0, 0), basta derivar a expressão 2 ,
∂x x + y2
considerando y constante. Assim,
∂f x4 + 3x2 y2 + 2xy2
(x, y) = para todo (x, y) ̸= (0, 0).
∂x (x2 + y2 )2
Para avaliar essa derivada parcial no ponto (0, 0), note que ela corresponde à derivada da função
g(x) = f (x, 0) no ponto x = 0. Temos,

x se x ̸= 0
f (x, 0) = ,
0 se x = 0
∂f ∂f
isto é, f (x, 0) = x, para todo x ∈ R. Portanto, (0, 0) = 1. Outra maneira, seria calcular (0, 0)
∂x ∂x
pela definição:
∂f f (h, 0) − f (0, 0) h
(0, 0) = lim = lim = lim 1 = 1.
∂x h→0 h h→0 h h→0

∂f ∂f
Vejamos agora . Tal como no caso anterior, para (x, y) ̸= (0, 0), derivamos considerando x
∂y ∂x
constante. Assim,
∂f 2x2 y(1 + x)
(x, y) = − 2 para todo (x, y) ̸= (0, 0).
∂y (x + y2 )2
Em (0, 0), a derivada parcial com respeito a y corresponde à derivada da função h(y) = f (0, y) no ponto
y = 0. Temos,

−1 se y ̸= 0
f (0, y) = .
0 se y = 0
∂f
Como h(y) não é contínua no zero, não existe h′ (y), e portanto (0, 0) também não existe. Se
∂y
usássemos diretamente a definição:
∂f f (0, k) − f (0, 0) 1
(0, 0) = lim = lim − ,
∂y k→0 k k→0 k

que não existe. ■

Para mais um exemplo em que é necessário utilizar a definição de derivadas parciais para calculá-la,
sugerimos a videoaula Calculando a Derivada Parcial na Definição.
2.1 Derivadas parciais 37

Interpretação geométrica
∂f
Ao calcular (x0 , y0 ), mantemos y = y0 fixado. Geometricamente, isso é o mesmo que inter-
∂x
sectar o gráfico de f (que é uma superfície em R3 ) com o plano y = y0 , obtendo assim a curva
γ(x) = (x, y0 , f (x, y0 )).

∂f
O número (x0 , y0 ) é o coeficiente angular da reta T1 tangente a γ em x = x0 . Ou seja, se α é o ângulo
∂x
∂f ∂f
indicado na figura anterior, (x0 , y0 ) = tg α. Analogamente, (x0 , y0 ) é o coeficiente angular da
∂x ∂y
reta T2 tangente a curva obtida pela interseção do gráfico de f com o plano x = x0 . De acordo com
∂f
a figura anterior, (x0 , y0 ) = tg β . Sugerimos a videoaula Interpretação geométrica das Derivadas
∂x
Parciais.

Observação 2.1.5 Existência das derivadas parciais não implica em continuidade.

Veja o exemplo a seguir.


( xy
se (x, y) ̸= (0, 0)
■ Exemplo 2.1.6 Seja f (x, y) = x2 + y2 . Temos,
0 se(x, y) = (0, 0)

∂f f (h, 0) − f (0, 0) 0
(0, 0) = lim = lim = lim 0 = 0,
∂x h→0 h h→0 h h→0

e,

∂f f (0, k) − f (0, 0) 0
(0, 0) = lim = lim = lim 0 = 0.
∂y k→0 k k→0 k k→0

Portanto, existem as derivadas parciais da função f . Mostremos, agora, que f não é contínua em (0, 0).
38 Capítulo 2. Derivadas

Considere γ(t) = (t,t), que é uma reta passando pela origem. A composta

 1 se t ̸= 0

f (γ(t)) = f (t,t) = 2
0 se t = 0

não é contínua em t0 = 0. Como γ é contínua em t0 = 0 e γ(0) = (0, 0), segue da Proposição 1.4.21
que f não é contínua em (0, 0). ■

Pode-se estender o conceito de derivada parcial para funções de 3 ou mais variáveis, conforme
feito na nossa videoaula Definição de Derivadas Parciais de Funções de 3 variáveis. Apresentaremos, a
seguir, a definição geral.
Definição 2.1.7 Seja f : D ⊆ Rn → R. A derivada parcial de f em relação a j-ésima variável no
ponto x ∈ D é dada por

∂f f (x + h e j ) − f (x)
(x) = lim ,
∂xj h→0 h

onde e j ∈ Rn é o vetor que tem a j-coordenada igual a 1 e as demais iguais a zero. Outra maneira
de escrever, denotando x = (x1 , . . . , xn ), é

∂f f (x1 , . . . , x j + h, . . . , xn ) − f (x1 , . . . , xn )
(x1 , . . . , xn ) = lim .
∂xj h→0 h

Na prática, para se calcular as derivadas parciais de funções de 3 ou mais variáveis, também se


aplica a Observação 2.1.2.
■ Exemplo 2.1.8 Seja f (x, y, z) = sen(xy2 ) ln z. Temos,

∂f ∂f ∂f sen(xy2 )
(x, y, z) = y2 cos(xy2 ) ln z, (x, y, z) = 2xy cos(xy2 ) ln z, (x, y, z) = .
∂x ∂y ∂z z

Derivadas parciais de ordem superior


∂f ∂f
Vimos anteriormente como obter as funções derivadas parciais e para uma dada função
∂x ∂y
z = f (x, y). Sendo essas últimas funções de um subconjunto de R2 em R, elas próprias possuem, suas
derivadas parciais, chamadas derivadas parciais de 2ª ordem da função f , e são denotadas por
∂2 f ∂2 f ∂2 f ∂2 f
       
∂ ∂f ∂ ∂f ∂ ∂f ∂ ∂f
= , = , = e =
∂ x2 ∂x ∂x ∂ y2 ∂y ∂y ∂x∂y ∂x ∂y ∂y∂x ∂y ∂x
∂2 f ∂2 f
As derivadas e são conhecidas como derivadas mistas de f .
∂x∂y ∂y∂x
De forma análoga, pode-se definir as derivadas de ordem 3, 4, 5, etc., cujas notações seguem o
mesmo padrão estabelecido anteriormente.
∂3 f ∂ ∂2 f ∂3 f
 2 
∂3 f
   2 
∂ ∂ f ∂ ∂ f
3
= 2
, = , 2
= , etc..
∂x ∂x ∂x ∂x∂y∂x ∂x ∂y∂x ∂y ∂x ∂y ∂y∂x
Também, pode-se estender o conceito de derivadas parciais de ordem superior para funções de 3 ou
mais variáveis.
2.1 Derivadas parciais 39

Observação 2.1.9 Para uma função de duas varáveis, a quantidade de derivadas parciais de ordem
k é 2k . Mais geralmente, uma função de n variáveis admite nk derivadas parciais de ordem k.

■ Exemplo 2.1.10 Obtenha as derivadas parciais de 2ª ordem da função f (x, y) = xy − ex cos y.


Solução. Primeiramente, calculamos as derivadas parciais de primeira ordem de f :

∂f ∂f
(x, y) = y − ex cos y e (x, y) = x + ex sen y.
∂x ∂y

∂f ∂f
Em seguida, calculamos as derivadas parciais de primeira ordem de e :
∂x ∂y

∂2 f
 
∂ ∂f ∂
2
(x, y) = (x, y) = [y − ex cos y] = −ex cos y;
∂x ∂x ∂x ∂x

∂2 f
 
∂ ∂f ∂
(x, y) = (x, y) = [y − ex cos y] = 1 + ex sen y;
∂y∂x ∂x ∂y ∂x
∂2 f
 
∂ ∂f ∂
(x, y) = (x, y) = [x + ex sen y] = 1 + ex sen y;
∂x∂y ∂x ∂y ∂x
∂2 f
 
∂ ∂f ∂
2
(x, y) = (x, y) = [x + ex sen y] = ex cos y.
∂y ∂y ∂y ∂x

Observação 2.1.11 No exemplo 2.1.10, as derivadas mistas são idênticas. Isto não é mera
coincidência! Veremos logo adiante, com o Teorema de Schwarz, que sob certas condições, as
derivadas mistas sempre coincidem. Em outras palavras, estas derivadas não dependem da ordem de
derivação. No entanto, em um contexto geral, não podemos garantir esta igualdade, como é mostrado
no exemplo a seguir.

■ Exemplo 2.1.12 Obtenha as derivadas parciais de 2ª ordem da função f : R2 → R dada por



 xy(x2 − y2 )
se (x, y) ̸= (0, 0)
f (x, y) = x 2 + y2 .
0 se (x, y) = (0, 0)

Solução: Para calcularmos as derivadas parciais em (0, 0), note que f (x, 0) = 0 para todo x ∈ R e
f (0, y) = 0 para todo y ∈ R. Portanto,

∂f f (t, 0) − f (0, 0) ∂f f (0,t) − f (0, 0)


(0, 0) = lim =0 e (0, 0) = lim =0
∂x t→0 t ∂y t→0 t

Para (x, y) ̸= (0, 0), temos

∂f y(x4 − y4 + 4x2 y2 ) ∂f x(x4 − y4 − 4x2 y2 )


(x, y) = e (x, y) = .
∂x (x2 + y2 )2 ∂y (x2 + y2 )2

Logo,
 
∂f x se x ̸= 0 ∂f −y se x ̸= 0
(x, 0) = e (0, y) =
∂y 0 se x = 0 ∂x 0 se y = 0
40 Capítulo 2. Derivadas

∂f ∂f
Ou seja, (x, 0) = x, para todo x ∈ R, e (0, y) = −y, para todo y ∈ R. Daí,
∂y ∂y

∂f ∂f ∂f ∂f
(t, 0) − (0, 0) (0,t) − (0, 0)
∂2 f ∂y ∂y ∂2 f
(0, 0) = lim =1 e (0, 0) = lim ∂ x ∂x = −1.
∂x∂y t→0 t ∂y∂x t→0 t

∂2 f ∂2 f
Portanto, (0, 0) ̸= (0, 0). ■
∂x∂y ∂y∂x

Definição 2.1.13 Seja f : D ⊂ R2 → R, D aberto. Dizemos que f é de classe Cn se f admite todas


as derivadas parciais de ordem n em D, sendo todas elas funções contínuas. Se f é de classe Cn para
todo n ∈ N, dizemos que f é de classe C∞ .

Sugerimos as videoaulas:

• Introdução a funções de Classe C1 .

• Exemplo para determinar onde a função é de Classe C1 .

• Exemplo 2 de função de Classe C1 .

Teorema 2.1.14 — Schwarz. Seja f : D ⊂ R2 → R, D aberto. Se f é de classe C2 , então

∂2 f ∂2 f
(x, y) = (x, y)
∂x∂y ∂y∂x

para todo (x, y) ∈ D.

A demonstração deste resultado pode ser encontrado na nossa videoaula Teorema de Schwarz. Na
verdade, é válida uma versão um pouco mais geral do Teorema de Schwarz, que acaba sendo mais
utilizada na prática, onde não é preciso calcular as duas derivadas mistas para verificar que a função é
∂f ∂f ∂2 f
de classe C2 . Se tivermos que , e existem e são contínuas num ponto (x0 , y0 ) ∈ D, então
∂x ∂y ∂x∂y
∂2 f ∂2 f ∂2 f
também existe (x0 , y0 ) e vale (x0 , y0 ) = (x0 , y0 ). A demonstração dessa versão pode
∂y∂x ∂y∂x ∂x∂y
ser encontrada em [Bar].
Para entendermos o porquê não é óbvio o Teorema de Schwarz, sugerimos a videoaula Funções de
Classe C2 e o Teorema de Schwarz. Além disso, para mais um exemplo de função que as derivadas
mistas não são iguais, sugerimos a videoaula Exemplo que as derivadas mistas não são iguais.

O Teorema de Schwarz também é válido em contextos mais gerais, como descrito a seguir.

 ∂2 f
• Se f : D ⊂ Rn → R, com D aberto, é de classe C2 isto é, as derivadas parciais existem
 ∂ xi ∂ x j
e são contínuas em D, para todo i, j = 1, · · · , n , então para todo (x1 , · · · , xn ) ∈ D, vale

∂2 f ∂2 f
(x1 , · · · , xn ) = (x1 , · · · , xn ).
∂ xi ∂ x j ∂ x j ∂ xi
2.2 Diferenciabilidade 41

• Podemos aplicá-lo a derivadas mistas de ordem superior. Por exemplo, se f é de classe C3 , temos

∂3 f
 2   2 
∂ ∂ f ∂ ∂ f ∂3 f
= = = .
∂ x2 ∂ y ∂ x ∂ x ∂ y ∂x ∂y∂x ∂x∂y∂x

∂f
Como é de classe C2 , temos ainda
∂x
∂3 f ∂2 ∂2 ∂3 f
   
∂f ∂f
= = = .
∂x∂y∂x ∂x∂y ∂x ∂y∂x ∂x ∂ y ∂ x2

2.2 Diferenciabilidade
Sugerimos a videoaula Conceito de Diferenciabilidade para entendermos bem a motivação do
conceito de diferenciabilidade.
Lembremos a noção de diferenciabilidade para funções de uma variável. Uma função f : D ⊂ R → R
f (x0 + h) − f (x0 )
se diz diferenciável em um ponto x0 ∈ D se existe o limite lim . Chamando o resultado
h→0 h
deste limite de m, podemos escrever

f (x0 + h) − f (x0 ) − mh f (x0 + h) − f (x0 ) − mh


lim = 0 ⇔ lim = 0.
h→0 h h→0 |h|

A ideia por trás desta expressão é que a função f (x0 + h), que avalia f no entorno do ponto x0 , pode ser
“bem aproximada” pela função afim r(h) = mh + f (x0 ). A boa aproximação significa que o erro que se
comete (a diferença entre essas duas funções) se torna cada vez mais desprezível quando comparado
ao valor de h, a medida que esse se aproxima de zero. Geometricamente, o gráfico dessa função afim
é uma reta (chamada de reta tangente) que passa pelo ponto (x0 , f (x0 )) e que “se confunde” com o
gráfico de f nas proximidades desse ponto.

Vejamos como podemos generalizar essa ideia para o caso de uma função de duas variáveis
f : D ⊂ R2 → R. Dado um ponto (x0 , y0 ) ∈ D, queremos aproximar a função f (x0 + h, y0 + k), que
avalia f no entorno de (x0 , y0 ), por uma função afim. Em dimensão 2, tal função tem a forma
T (h, k) = ah + bk + f (x0 , y0 ). A distância do ponto (x0 + h, y0 + k) ao ponto (x0 , y0 ) é ∥(h, k)∥ =

h2 + k2 . Queremos que o erro cometido nessa aproximação se torne desprezível quando comparado
com essa distância. Geometricamente, o gráfico dessa função afim é um plano em R3 (chamado plano
42 Capítulo 2. Derivadas

tangente) que passa pelo ponto (x0 , y0 , f (x0 , y0 )) e “se confunde” com o gráfico de f nas proximidades
desse ponto.

Definição 2.2.1 Seja f : D ⊂ R2 → R, D aberto. Dizemos que f é diferenciável no ponto (x0 , y0 ) ∈


D se existem a, b ∈ R tais que

f (x0 + h, y0 + k) − f (x0 , y0 ) − ah − bk
lim = 0. (2.1)
(h,k)→(0,0) ∥(h, k)∥

Dizemos que f é uma função diferenciável se f é diferenciável em todos os pontos de seu domínio.

Observação 2.2.2 Usando (v) da Proposição 1.4.4, é comum escrevermos o limite (2.3) na forma

f (x, y) − f (x0 , y0 ) − a(x − x0 ) − b(y − y0 )


lim = 0.
(x,y)→(x0 ,y0 ) ∥(x, y) − (x0 , y0 )∥

Para funções de mais variáveis perdemos muito do apelo geométrico, mas ainda podemos falar de
aproximações por funções afins. Por exemplo, para uma função f de 3 variáveis, a diferenciabilidade
em um ponto (x0 , y0 , z0 ) está condicionada a existência de a, b e c reais tais que

f (x0 + h, y0 + k, z0 + s) − f (x0 , y0 .z0 ) − ah − bk − cs


lim = 0.
(h,k,s)→(0,0,0) ∥(h, k, s)∥

Sugerimos a videoaula Definição de Diferenciabilidade para funções de 3 variáveis.

Observação 2.2.3 Se E(x, y) = f (x, y) − f (x0 , y0 ) − a(x − x0 ) − b(y − y0 ) é a função erro, tem-se

E(x, y)
f diferenciável em (x0 , y0 ) se, e somente se, lim = 0. (2.2)
(x,y)→(x0 ,y0 ) ∥(x, y) − (x0 , y0 )∥

Isto é, o erro cometido na aproximação de f pela função afim T (x, y) = f (x0 , y0 ) + a(x − x0 ) + b(y −
y0 ) tende a zero “mais rápido” que a distância de (x, y) para (x0 , y0 ).
2.2 Diferenciabilidade 43

Outra maneira de descrever a função erro é

E(h, k) = f (x0 + h, y0 + k) − f (x0 , y0 ) − ah − bk,

E(h, k)
e assim (2.2) fica equivalente a lim = 0.
(h,k)→(0,0) ∥(h, k)∥

Teorema 2.2.4 Se f é diferenciável em um ponto (x0 , y0 ), então f é contínua nesse ponto.

A demonstração deste resultado se encontra na videoaula Diferenciabilidade e Continuidade. Escreve-


remos a demonstração aqui no texto.

Demonstração. Vamos mostrar que lim f (x0 + h, y0 + k) = f (x0 , y0 ).


(h,k)→(0,0)

Como f é diferenciável em (x0 , y0 ), temos

f (x0 + h, y0 + k) − f (x0 , y0 ) − ah − bk
lim = 0.
(h,k)→(0,0) ∥(h, k)∥

para algum par de valores a, b reais. Multiplicando esse limite por


p
lim ∥(h, k)∥ = lim h2 + k2 = 0,
(h,k)→(0,0) (h,k)→(0,0)

obtemos

lim ( f (x0 + h, y0 + k) − f (x0 , y0 ) − ah − bk) = 0


(h,k)→(0,0)

(ver (ii) da Proposição 1.4.4). Como lim ( f (x0 , y0 ) − ah − bk) = f (x0 , y0 ), a soma desses dois
(h,k)→(0,0)
últimos limites resulta em

lim f (x0 + h, y0 + k) = f (x0 , y0 ).


(h,k)→(0,0)

Teorema 2.2.5 Seja f : D ⊂ R2 → R, D aberto. Se f é diferenciável em (x0 , y0 ) ∈ D, então existem


∂f ∂f
as derivadas parciais (x0 , y0 ) e (x0 , y0 ).
∂x ∂y

Demonstração. Como f é diferenciável em (x0 , y0 ), temos

f (x0 + k, y0 + k) − f (x0 , y0 ) − ah − bk
lim = 0,
(h,k)→(0,0) ∥(h, k)∥

para algum par de valores a, b reais. Então, aplicando a Proposição 1.4.6 para γ1 (t) = (t, 0), temos
 
f (x0 + t, y0 ) − f (x0 , y0 ) − at) f (x0 + t, y0 ) − f (x0 , y0 )
lim = 0 ⇔ lim − a = 0.
t→0 t t→0 t

Por (vi) da Proposição 1.4.4, segue que

f (x0 + t, y0 ) − f (x0 , y0 ) ∂ f
a = lim = (x0 , y0 ).
t→0 t ∂x
44 Capítulo 2. Derivadas

De forma análoga, escolhendo γ2 (t) = (0,t) e aplicando a Proposição 1.4.6, obtemos


 
f (x0 , y0 + t) − f (x0 , y0 ) − bt f (x0 , y0 + t) − f (x0 , y0 )
lim = 0 ⇔ lim − b = 0,
t→0 t t→0 t
donde segue que
f (x0 , y0 + t) − f (x0 , y0 ) ∂ f
b = lim = (x0 , y0 ).
t→0 t ∂y

Observação 2.2.6 Segue da demonstração do Teorema 2.2.5 que, se f é diferenciável em (x0 , y0 ),


∂f ∂f
então a = (x0 , y0 ) e b = (x0 , y0 ) são os únicos valores reais que atendem a Definição 2.2.1.
∂x ∂y

Pela Observação 2.2.6, para provarmos que f é diferenciável em (x0 , y0 ), devemos calcular
∂f ∂f
(x0 , y0 ) e (x0 , y0 ) (que devem existir) e então verificar que
∂x ∂y
∂f ∂f
f (x0 + h, y0 + k) − f (x0 , y0 ) − (x0 , y0 ) h − (x0 , y0 ) k
∂x ∂y
lim = 0. (2.3)
(h,k)→(0,0) ∥(h, k)∥

■ Exemplo 2.2.7 Mostre que f (x, y) = x2 + y2 é diferenciável em todo R2 .


∂f ∂f
Solução. Temos (x, y) = 2x e (x, y) = 2y. Então, para todo (x, y) ∈ R2 ,
∂x ∂y

E(h, k) = f (x + h, y + k) − f (x, y) − 2xh − 2yk


= (x + h)2 + (y + k)2 − x2 − y2 − 2xh − 2yk
= h2 + k2 .

Logo,

E(h, k) h2 + k 2 p
lim = lim √ = lim h2 + k2 = 0.
(h,k)→(0,0) ∥(h, k)∥ (h,k)→(0,0) h2 + k2 (h,k)→(0,0)

Para mais exemplos, sugerimos a videoaula Exercício 1 de Diferenciabilidade na definição na


definição, a videoaula Exercício 2 de Diferenciabilidade na Definição e também Exercício 3 de
Diferenciabilidade na Definição.

x3
se (x, y) ̸= (0, 0)

■ Exemplo 2.2.8 Verifique se a função f (x, y) = x 2 + y2 é diferenciável em
0 se (x, y) = (0, 0)

(0, 0).
Solução. Primeiramente, calculemos as derivadas parciais de f em (0, 0) (se uma delas não existir, a
função não é diferenciável).
∂f f (h, 0) − f (0, 0) h ∂f f (0, k) − f (0, 0) 0
(0, 0) = lim = lim = 1 e (0, 0) = lim = lim = 0.
∂x h→0 h h→0 h ∂y k→0 k k→0 k
2.2 Diferenciabilidade 45

Então,
∂f ∂f h3 hk2
E(h, k) = f (0 + h, 0 + k) − f (0, 0) − (0, 0)h − (0, 0)k = 2 − x = − .
∂x ∂y h + k2 h2 + k 2
E(h, k) hk2
Portanto, =− 2 = G(h, k). Compondo G com a curva γ(t) = (t,t), temos
∥(h, k)∥ (h + k2 )3/2
t
G(γ(t)) = − √ , cujo limite quando t tende a zero não existe. Assim, concluímos que f não
2 2|t|
é diferenciável em (0, 0). ■

x2
Observe que, no exemplo anterior, a função é contínua em (0, 0). De fato, lim x=0 e
(x,y)→(0,0) x 2 + y2
é limitada. Logo, por (vi) da Proposição 1.4.4, segue que
x3
lim = 0 = f (0, 0).
(x,y)→(0,0) x2 + y2

Além disso, as derivadas parciais f existem no ponto (0, 0). Portanto, o exemplo acima mostra que,
mesmo sob estas condições (continuidade e existência das derivadas parciais), não podemos garantir a
diferenciabilidade da função no ponto. No entanto, o resultado a seguir nos mostra que se exigirmos
um pouco mais (continuidade das derivadas parciais), a diferenciabilidade da função é assegurada.

∂f ∂f
Teorema 2.2.9 Sejam f : D ⊂ R2 → R, D aberto, e (x0 , y0 ) ∈ D. Se e existem em D e são
∂x ∂y
contínuas em (x0 , y0 ), então f é diferenciável em (x0 , y0 ).

A demonstração pode ser encontrada na videoaula Demonstração que toda função de Classe C1 é
Diferenciável. A demonstração por escrito desse teorema será apresentada no final desta seção.

Corolário 2.2.10 Sejam f : D ⊂ R2 → R, D aberto. Se f é de classe C1 , então f é diferenciável.



x 2 y2
se (x, y) ̸= (0, 0)

■ Exemplo 2.2.11 Discuta a diferenciabilidade de f (x, y) = x 2 + y2 no ponto
0 se(x, y) = (0, 0)

(0, 0).

∂f 2xy4 ∂f 2x4 y
Solução. Para (x, y) ̸= (0, 0), temos (x, y) = 2 e (x, y) = . No ponto (0, 0),
∂x (x + y2 )2 ∂y (x2 + y2 )2
temos
∂f f (t, 0) − f (0, 0) 0 ∂f f (0,t) − f (0, 0) 0
(0, 0) = lim = lim 2 = 0 e (0, 0) = lim = lim 2 = 0.
∂x t→0 t t→0 t ∂y t→0 t t→0 t

y4
Como lim 2x = 0 e é limitada, segue que
(x,y)→(0,0) (x2 + y2 )2

∂f 2xy4
lim (x, y) = lim = 0.
(x,y)→(0,0) ∂ x (x,y)→(0,0) (x2 + y2 )2

∂f ∂f
Portanto, é contínua em (0, 0). Um argumento análogo mostra a continuidade de em (0, 0).
∂x ∂y
Assim, pelo Teorema 2.2.9, podemos concluir que f é diferenciável em (0, 0). ■
46 Capítulo 2. Derivadas

Observação 2.2.12 A recíproca do Teorema 2.2.9 não é verdadeira, como mostra o exemplo a
seguir.
  
1
(x2 + y2 )sen se(x, y) ̸= (0, 0)

■ Exemplo 2.2.13 Verifique que a função f (x, y) = x 2 + y2 é
0 se (x, y) = (0, 0)

∂f ∂f
diferenciável em (0, 0), mas e não são contínuas em (0, 0).
∂x ∂y
Solução. Para (x, y) ̸= (0, 0), temos
   
∂f 1 2x 1
(x, y) = 2x sen 2 − cos ,
∂x x + y2 x 2 + y2 x 2 + y2
e,
   
∂f 1 2y 1
(x, y) = 2y sen 2 − 2 cos 2 .
∂y x + y2 x + y2 x + y2

No ponto (0, 0), temos


 
∂f f (t, 0) − f (0, 0) 1
(0, 0) = lim = lim t 2 sen 2 = 0
∂x t→0 t t→0 t
e,
 
∂f f (0,t) − f (0, 0) 2 1
(0, 0) = lim = lim t sen 2 = 0.
∂x t→0 t t→0 t

Escolhendo a curva γ(t) = (t,t), temos


    
∂f 1 1 1
lim (γ(t)) = lim 2t sen 2
− cos
t→0 ∂ x t→0 2t t 2t 2

∂f ∂f
que não existe. Portanto, é descontínua em (0, 0). Um cálculo análogo mostra que é descontínua
∂x ∂y
em (0, 0).
Por fim, vamos verificar que f é diferenciável em (0, 0).
 
∂f ∂f 2 2 1
f (h, k) − f (0, 0) − (0, 0) h − (0, 0) k (h + k ) sen 2  
∂x ∂y h + k2 p
2 2
1
= √ = h + k sen 2 .
∥(h, k)∥ h2 + k 2 h + k2
p
Como a função seno é limitada e lim h2 + k2 = 0, segue que
(h,k)→(0,0)

∂f ∂f
f (h, k) − f (0, 0) − (0, 0) h − (0, 0) k
∂x ∂y
lim = 0.
(h,k)→(0,0) ∥(h, k)∥

Para um outro exemplo, sugerimos a videoaula Exemplo de função diferenciável que não é de
classe C1
2.2 Diferenciabilidade 47

Plano tangente e reta Normal


Se f é diferenciável em (x0 , y0 ), segue das Observações 2.2.2 e 2.2.6 que

∂f ∂f
f (x, y) − f (x0 , y0 ) − (x0 , y0 )(x − x0 ) − (x0 , y0 )(y − y0 )
∂x ∂y
lim = 0.
(x,y)→(x0 ,y0 ) ∥(x, y) − (x0 , y0 )∥

∂f ∂f
Logo, se T (x, y) = f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 )(x − x0 ) + (x0 , y0 )(y − y0 ), tem-se que f (x, y) se aproxima
∂x ∂y
de T (x, y) “mais rápido” que (x, y) se aproxima de (x0 , y0 ). A equação

∂f ∂f
z = T (x, y) = f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 )(x − x0 ) + (x0 , y0 )(y − y0 ) (2.4)
∂x ∂y
 
∂f ∂f
define um plano em R3 , que passa pelo ponto (x0 , y0 , f (x0 , y0 )) e tem N = (x0 , y0 ), (x0 , y0 ), −1
∂x ∂y
como um vetor normal. Portanto, a seguinte definição é natural.

Definição 2.2.14 Seja f diferenciável em (x0 , y0 ). O plano de equação (2.4) é chamado de plano
tangente ao gráfico de f no ponto (x0 , y0 , f (x0 , y0 )).

Usando produto escalar, podemos denotar a equação (2.4) por


 
∂f ∂f
(x0 , y0 ), (x0 , y0 ), −1 · ((x, y, z) − (x0 , y0 , f (x0 , y0 ))) = 0.
∂x ∂y

 f diferenciável em (x0 , y0). A reta que passa por (x0 , y0 , f (x0 , y0 )) e é


Definição 2.2.15 Seja
∂f ∂f
paralela ao vetor N = (x0 , y0 ), (x0 , y0 ), −1 é chamada de reta normal ao gráfico de f no
∂x ∂y
ponto (x0 , y0 , f (x0 , y0 )). Sua equação é dada por
 
∂f ∂f
(x, y, z) = (x0 , y0 , f (x0 , y0 )) + λ (x0 , y0 ), (x0 , y0 ), −1 , λ ∈ R.
∂x ∂y
48 Capítulo 2. Derivadas

■ Exemplo 2.2.16 Seja f (x, y) = x2 + y2 . Determine as equações do plano tangente e reta normal ao
gráfico de f no ponto (1, 2, f (1, 2)).
Solução. A equação do plano tangente é

∂f ∂f
z = f (1, 2) + (1, 2)(x − 1) + (1, 2)(y − 2) = 5 + 2(x − 1) + 4(y − 2).
∂x ∂y

A equação da reta normal é


 
∂f ∂f
(x, y, z) = (1, 2, f (1, 2)) + λ (1, 2), (1, 2), −1 , λ ∈R
∂x ∂y
= (1, 2, 5) + λ (2, 4, −1) , λ ∈ R.

Para mais dois exemplos, sugerimos a videoaula Exercícios com o plano tangente.
Para um resumo dos conceitos vistos nestas seções, sugerimos as videoaulas

• Revisão de Lógica e o Diagrama de Implicações - Esta aula é uma revisão de lógica da parte de
implica e contrapositiva, em que faz um resumo dos resultados técnicos que confunde bastante
os alunos.

• O Diagrama de Implicações - Parte 2 - A segunda parte da aula do Diagrama de Implicações, em


que fazemos mais alguns exemplos para entendermos a lógica deste diagrama.

Observação 2.2.17 Se uma função f não é diferenciável em (x0 , y0 ), mas admite derivadas parciais
∂f ∂f
(x0 , y0 ) e (x0 , y0 ), então existe o plano de equação (2.4), mas ele não será plano tangente ao
∂x ∂y
gráfico de f em (x0 , y0 , f (x0 , y0 )). Mais adiante, veremos que o plano tangente contém todas as retas
tangentes ao gráfico de f no ponto em questão.

Finalizamos essa seção com a demonstração a seguir, cuja leitura é opcional.

Demonstração do Teorema 2.2.9. Sendo D um conjunto aberto, existe r > 0 tal que B = Br (x0 , y0 ) ⊂ D.
Sejam h e k são tais que (x0 + k, y0 + k) ∈ B. Temos,

f (x0 + h, y0 + k) − f (x0 , y0 ) = f (x0 + h, y0 + k) − f (x0 , y0 + k) + f (x0 , y0 + k) − f (x0 , y0 ) . (2.5)


| {z } | {z }
(I) (II)

Aplicando o Teorema do Valor Médio à função g(x) = f (x, y0 + k), que é derivável no intervalo fechado
entre x0 e x0 + h, temos

∂f
g(x0 + h) − g(x0 ) = g′ (x) h = (x, y0 + k) h
∂x

para algum x entre x0 e x0 + h. Essa derivada corresponde à parcela (I) em (2.5). De forma análoga,
∂f
podemos escrever (II) como (x0 , y) k, para algum y entre y0 e y0 + k.
∂y
2.3 Regra da Cadeia 49

Para concluir a diferenciabilidade de f em (x0 , y0 ), devemos verificar o limite (2.3). Pelo observado
anteriormente, temos
∂f ∂f
f (x0 + h, y0 + k) − f (x0 , y0 ) − (x0 , y0 )h − (x0 , y0 )k =
∂x ∂y
   
∂f ∂f ∂f ∂f
= (x, y0 + k) − (x0 , y0 ) · h + (x0 , y) − (x0 , y0 ) · k.
∂x ∂x ∂y ∂y

Dividindo por ∥(h, k)∥ = h2 + k2 , essa expressão resulta em
   
∂f ∂f h ∂f ∂f k
(x, y0 + k) − (x0 , y0 ) · √ + (x0 , y) − (x0 , y0 ) · √ .
∂x ∂x h2 + k2 ∂y ∂y h2 + k 2
| {z } | {z }
(III) (IV)

∂f ∂f
Como e são contínuas em (x0 , y0 ), as expressões (III) e (IV) tendem a zero quando (h, k) tende
∂x ∂y
h k
a (0, 0). Além disso, √ e√ são limitadas. Assim, concluímos que
h2 + k 2 h2 + k2
∂f ∂f
f (x0 + h, y0 + k) − f (x0 , y0 ) − (x0 , y0 )h − (x0 , y0 )k
∂x ∂y
lim = 0.
(h,k)→(0,0) ∥(h, k)∥

2.3 Regra da Cadeia


Vocês já ouviram falar da Regra da Cadeia em outros contextos, como no cálculo de uma variável,
ou aqui mesmo, envolvendo curvas (Proposição 1.2.19). Para as funções de mais de uma variável, a
Regra da Cadeia tem muitas versões, cada uma delas fornecendo uma regra de derivação de uma função
composta. A versão a seguir lida com o caso onde z = f (x, y) e cada uma das variáveis x e y é, por sua
vez, uma função de uma variável t, ou, dizendo de outra maneira, estudamos a composição de f com a
curva γ(t) = (x(t), y(t)).
50 Capítulo 2. Derivadas

Teorema 2.3.1 — Regra da Cadeia. Seja f : D ⊂ R2 → R, D aberto, e γ(t) = (x(t), y(t)) definida
em um intervalo I de R e tal que γ(I) ⊂ D. Se γ é derivável em t0 ∈ I e f é diferenciável em
(x0 , y0 ) = γ(t0 ), então a função z(t) = f (γ(t)), definida em I, é derivável em t0 . Além disso, vale

dz ∂f dx ∂f dy
(t0 ) = (x(t0 ), y(t0 )) · (t0 ) + (x(t0 ), y(t0 )) · (t0 ).
dt ∂x dt ∂y dt

A demonstração se encontra na videoaula Demonstração da Regra da Cadeia. A demonstração por


escrite desse teorema será apresentada no final desta seção.
É comum omitirmos os pontos onde estamos aplicando as funções e escrevermos apenas
dz ∂ f dx ∂ f dy
= · + ·
dt ∂ x dt ∂ y dt
de forma a não poluir demasiadamente a expressão.
dz
A derivada pode ser interpretada como a taxa de variação de z(x, y), quando o ponto (x, y) se
dt
move ao longo da curva com equações paramétricas x = x(t) e y = y(t). Sugerimos as videoaulas
Regra da Cadeia para funções de duas variáveis e também
O Teorema 2.3.1 também é válido para funções de 3 ou mais variáveis. No caso de funções de 3
variáveis, digamos w = f (x, y, z), x = x(t), y = y(t) e z = z(t), a regra da cadeia fica
dw ∂ f dx ∂ f dy ∂ f dz
= · + · + · .
dt ∂ x dt ∂ y dt ∂ z dt

■ Exemplo 2.3.2 Sejam f (x, y) = x3 y2 , x(t) = e−t e y(t) = t sent. Determine a derivada da função
z(t) = f (x(t), y(t)).
Solução. As derivadas parciais de f são
∂f ∂f
(x, y) = 3x2 y2 e (x, y) = 2x3 y.
∂x ∂y
Temos, também,
dx dy
(t) = −e−t e (t) = sent + t cos t.
dt dt
Pela Regra da Cadeia,

dz
(t) = 3(e−t )2 (t sent)2 (−e−t ) + 2(e−t )3 (t sent)(sent + t cos t)
dt
= −3e−3t t 2 sen2t + 2e−3t t sent(sent + t cos t).

Uma outra forma de chegar nesse resultado é obter diretamente a expressão da composta e depois
derivá-la:

z(t) = f (e−t ,t sent) = (e−t )3 (t sent)2 = e−3t t 2 sen2t.

Derivando z(t), obtém-se


dz
(t) = −3e−3t t 2 sen2t + 2e−3t t sent(sent + t cos t).
dt

2.3 Regra da Cadeia 51
2
■ Exemplo 2.3.3 Seja F(t) = f (et , sent), onde f (x, y) é uma função diferenciável em R2 . Calcule
∂f
F ′ (0) sabendo que (1, 0) = 5.
∂y
Solução. Pela Regra da Cadeia, temos

∂ f t2 2 ∂ f t2
F ′ (t) = (e , sent) · (2tet ) + (e , sent) · cost.
∂x ∂y

No ponto t = 0,

∂f ∂f ∂f
F ′ (0) = (1, 0) · 0 + (1, 0) · 1 = (1, 0) = 5.
∂x ∂y ∂y

■ Exemplo 2.3.4 Seja f (x, y) diferenciável tal que f (3t + 1, 3t − 1) = 4 para todo t ∈ R. Mostre que

∂f ∂f
(3t + 1, 3t − 1) = − (3t + 1, 3t − 1).
∂x ∂y

Solução. Sejam x(t) = 3t + 1 e y(t) = 3t − 1. Aplicando a Regra da Cadeia à composição z(t) =


f (x(t), y(t)), temos

dz ∂f d ∂f d
(t) = (3t + 1, 3t − 1) · (3t + 1) + (3t + 1, 3t − 1) · (3t − 1)
dt ∂x dt ∂y dt
∂f ∂f
= (3t + 1, 3t − 1) · 3 + (3t + 1, 3t − 1) · 3.
∂x ∂y

dz
Por outro lado, z(t) = f (3t + 1, 3t − 1) = 4 para todo t ∈ R, logo (t) = 0. Portanto,
dt

∂f ∂f ∂f ∂f
0= (3t + 1, 3t − 1) · 3 + (3t + 1, 3t − 1) · 3 ⇒ (3t + 1, 3t − 1) = − (3t + 1, 3t − 1).
∂x ∂y ∂x ∂y

A seguir, apresentamos outra versão da Regra da Cadeia, envolvendo agora uma função f (x, y),
onde cada uma das variáveis x e y é uma função de outras duas variáveis u e v.

Proposição 2.3.5 Sejam A e B abertos de R2 , f (x, y) diferenciável em A, g(u, v) e h(u, v) diferenciá-


veis em B tais que (g(u, v), h(u, v)) ∈ A para todo (u, v) ∈ B. Considere a função
F(u, v) = f (g(u, v), h(u, v)) para todo (u, v) ∈ B. Então:

∂F ∂ f ∂g ∂ f ∂h
(i) = · + · ;
∂u ∂x ∂u ∂y ∂u
∂F ∂ f ∂g ∂ f ∂h
(ii) = · + · ;
∂v ∂x ∂v ∂y ∂v

∂f ∂f
onde e são calculados no ponto (g(u, v), h(u, v)).
∂x ∂y
52 Capítulo 2. Derivadas

∂F
Demonstração. Para calcularmos , consideramos v constante. Assim, podemos aplicar a Teorema
∂u
2.3.1 (Regra da Cadeia) à função z(u) = f (G(u), H(u)), onde G(u) = g(u, v) e H(u) = h(u, v). Com
isso, obtemos
∂F dz ∂f dG ∂f dH
(u, v) = (u) = (x, y) · (u) + (x, y) · (u).
∂u du ∂x du ∂y du

dG ∂g dH ∂h
Note que (u) = (u, v) e (u) = (u, v), donde segue
du ∂u du ∂u
∂F ∂ f dg ∂ f dh
= · + · .
∂u ∂ x du ∂ y du
Isto conclui a demonstração do item (i). Um procedimento análogo nos dá o resultado em (ii),
considerando a variável u constante. ■

■ Exemplo 2.3.6 Seja F(u, v) = f (x(u, v), y(u, v)), onde f (x, y) = ex sen y, x(u, v) = uv2 e y(u, v) =
u3 v. Determine a derivada parcial de F com respeito à variável u.
Solução. Calculando as derivadas parciais de f , e de x e y em relação a u, temos

∂f ∂f ∂x ∂y
(x, y) = ex sen y, (x, y) = ex cos y, (u, v) = v2 , (x, y) = 3u2 v.
∂x ∂y ∂u ∂u

∂F ∂ f ∂x ∂ f ∂y
Pela Proposição 2.3.5, temos = · + · . Portanto,
∂u ∂x ∂u ∂y ∂u

∂F 2 2
(u, v) = euv sen(u3 v) v2 + euv cos(u3 v) 3u2 v.
∂u

∂ 2z
■ Exemplo 2.3.7 Seja z = f (x, y) de classe C2 e x = u2 + v2 e y = 2uv. Determine .
∂ u2
Solução. Aplicando a Proposição 2.3.5, temos

∂z ∂z ∂x ∂z ∂y ∂z ∂z
= · + · = · 2u + · 2v.
∂u ∂x ∂u ∂y ∂u ∂x ∂y
Aplicando novamente a Proposição 2.3.5, temos

∂ 2z
           
∂z ∂z ∂z ∂x ∂z ∂z ∂y ∂z ∂z ∂x ∂z ∂z ∂y
= 2 + 2u · + · + 2v · + ·
∂ u2 ∂x ∂x ∂x ∂u ∂y ∂x ∂u ∂x ∂y ∂u ∂y ∂y ∂u
 2 2
  2 2

∂z ∂ z ∂ z ∂ z ∂ z
= 2 + 2u 2
· 2u + · 2v + 2v · 2u + 2 · 2v
∂x ∂x ∂y∂x ∂x∂y ∂y
∂z 2
∂ z 2
∂ z 2
∂ z
= 2 + 4u2 2 + 8uv + 4v2 2 ,
∂x ∂x ∂y∂x ∂y

onde na última igualdade foi utilizado o Teorema de Schwarz. ■

Para mais exemplos, sugerimos as videoaulas Exercício 1 com a regra da Cadeia e também Exercício
2 com regra da cadeia - Encontrando a segunda derivada.
Encerramos essa seção com a demonstração da Regra da Cadeia.
2.4 Vetor gradiente 53

Demonstração do Teorema 2.3.1. Sendo f diferenciável em (x0 , y0 ), existem as derivadas parciais


∂f ∂f
(x0 , y0 ) e (x0 , y0 ), e a função erro
∂x ∂y
∂f ∂f
E(x, y) = f (x, y) − f (x0 , y0 ) − (x0 , y0 )(x − x0 ) − (x0 , y0 )(y − y0 )
∂x ∂y
E(x, y)
é tal que lim = 0. Logo, a função
(x,y)→(x0 ,y0 ) ∥(x, y) − (x0 , y0 )∥

E(x, y)
se (x, y) ̸= (x0 , y0 )

g(x, y) = ∥(x, y) − (x0 , y0 )∥
0 se (x, y) = (x0 , y0 )

é contínua em (x0 , y0 ). Compondo E com γ, temos


∂f ∂f
E(γ(t)) = f (γ(t)) − f (γ(t0 )) − (γ(t0 ))(x(t) − x(t0 )) − (γ(t0 )))(y(t) − y(t0 )).
∂x ∂y
Daí,
f (γ(t)) − f (γ(t0 )) ∂ f x(t) − x(t0 ) ∂ f y(t) − y(t0 ) ∥γ(t) − γ(t0 )∥
= (γ(t0 )) − (γ(t0 ))) + g(γ(t)) (2.6)
t − t0 ∂x t − t0 ∂y t − t0 t − t0
Note que, como γ é contínua em t0 e g é contínua em (x0 , y0 ) = γ(t0 ), a composta g ◦ γ é contínua em
t0 . Isto é, lim g(γ(t)) = g(γ(t0 )) = g(x0 , y0 ) = 0. Além disso,
t→t0

γ(t) − γ(t0 ) ∥γ(t) − γ(t0 )∥ γ(t) − γ(t0 ) ∥t − t0 ∥


lim = ∥γ ′ (t0 )∥ e = · ,
t→t0 t − t0 t − t0 t − t0 t − t0
∥t − t0 ∥
onde é limitada (pois é igual a 1 ou −1). Portanto,
t − t0
   
∥γ(t) − γ(t0 )∥ ∥t − t0 ∥ γ(t) − γ(t0 )
lim g(γ(t)) · = lim g(γ(t)) · · lim = 0 · ∥γ ′ (t0 )∥ = 0.
t→t0 t − t0 t→t0 t − t0 t→t0 t − t0
Assim, tomando o limite quando t tende a t0 em (2.6), temos
dz f (γ(t)) − f (γ(t0 )) ∂ f dx ∂f dy
(t0 ) = lim = (γ(t0 )) · (t0 ) − (γ(t0 )) · (t0 ).
dt t→t0 t − t0 ∂x dt ∂y dt

2.4 Vetor gradiente


Definição 2.4.1 Seja f uma função real de n variáveis (x1 , · · · , xn ), que possui derivadas parciais
de primeira ordem no ponto p ∈ Dom f . O vetor
 
∂f ∂f ∂f ∂f
∇ f (p) = (p), . . . , (p) = (p) · e1 + · · · + (p) · en
∂ x1 ∂ xn ∂ x1 ∂ xn

é chamado vetor gradiente de f em no ponto p.

Uma outra notação para o vetor gradiente, frequentemente usada na literatura, é grad f . Sugerimos a
videoaula Vetor Gradiente.
54 Capítulo 2. Derivadas
 
2 2 ∂f ∂f
■ Exemplo 2.4.2 Seja f (x, y) = x + y . Então, ∇ f (x, y) = (x, y), (x, y) = (2x, 2y). ■
∂x ∂y
Vejamos como expressar algumas definições e resultados das seções anteriores usando o vetor
gradiente.
Diferenciabilidade. Seja f (x, y) diferenciável em (x0 , y0 ). Então,

E(x, y)
lim = 0,
(x,y)→(x0 ,y0 ) ∥(x, y) − (x0 , y0 )∥

onde

∂f ∂f
E(x, y) = f (x, y) − f (x0 , y0 ) − (x0 , y0 )(x − x0 ) − (x0 , y0 )(y − y0 )
∂x ∂y
= f (x, y) − f (x0 , y0 ) − ∇ f (x0 , y0 ) · (x − x0 , y − y0 ).

Mais geralmente, f (x) = f (x1 , . . . , xn ) é diferenciável em x0 = (x10 , . . . , xn0 ) se

E(x)
lim = 0, onde E(x) = f (x) − f (x0 ) − ∇ f (x0 ) · (x − x0 ).
x→x0 ∥x − x0 ∥

Regra da Cadeia. Sejam z = f (x, y), γ(t) = (x(t), y(t)) e z(t) = f (γ(t)). Então,

dz ∂f dx ∂f dy
(t) = (x(t), y(t)) · (t) + (x(t), y(t)) · (t) = ∇ f (γ(t)) · γ ′ (t).
dt ∂x dt ∂y dt

A mesma expressão vale no caso de n ≥ 3 variáveis.


Plano Tangente. Seja f (x, y) diferenciável no ponto (x0 , y0 ). A equação do plano tangente no ponto
(x0 , y0 , f (x0 , y0 )) é dada por

∂f ∂f
z = f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 )(x − x0 ) + (x0 , y0 )(y − y0 ) = f (x0 , y0 ) + ∇ f (x0 , y0 ) · (x − x0 , y − y0 ).
∂x ∂y

Sugerimos a videoaula A regra da Cadeia para funções de 3 variáveis.

Interpretação geométrica - funções de 2 variáveis

Seja f (x, y) de classe C1 no aberto D ⊂ R2 e γ(t) derivável no intervalo aberto I, com γ(I) ⊂ D.
Considere um ponto (x0 , y0 ) na curva de nível f (x, y) = c tal que ∇ f (x0 , y0 ) ̸= 0. Suponha que γ está
contida nesta mesma curva de nível (isto é, f (γ(t)) = c) e passa por (x0 , y0 ) em t0 . Vamos mostrar que

∇ f (x0 , y0 ) é perpendicular a γ em (x0 , y0 ).

De fato, temos f (γ(t)) = c para todo t ∈ I. Derivando esta igualdade, aplicando a Regra da Cadeia,
temos

∇ f (γ(t)) · γ ′ (t) = 0 (para todo t ∈ I) ⇒ ∇ f (γ(t0 )) · γ ′ (t0 ) = 0.

Concluímos, portanto, que ∇ f (γ(t0 )) é perpendicular a γ em γ(t0 ) = (x0 , y0 ).


2.4 Vetor gradiente 55

Daí, se γ é uma curva derivável passando por (x0 , y0 ) e contida na curva de nível f (x, y) = c, dizemos
que ∇ f (x0 , y0 ) é um vetor normal à curva de nível f (x, y) = c em (x0 , y0 ). A reta que passa por (x0 , y0 )
e é perpendicular a ∇ f (x0 , y0 ) é a reta tangente à curva de nível f (x, y) = c em (x0 , y0 ). A equação
dessa reta é dada por

∂f ∂f
∇ f (x0 , y0 ) · (x − x0 , y − y0 ) = 0 ⇔ (x0 , y0 ) · (x − x0 ) + (x0 , y0 ) · (y − y0 ) = 0.
∂x ∂y

Sugerimos a videoaula Vetor Gradiente e as Curvas de Nível - Parte teórica.


■ Exemplo 2.4.3 Seja f (x, y) = x3 y3 − xy. Suponha que γ(t) está contida na curva de nível f (x, y) = 6
e γ(t0 ) = (1, 2), com γ ′ (t0 ) ̸= 0. Determine a reta tangente à γ em (1, 2).
Solução. Temos f (1, 2) = 6 e f (γ(t)) = 6. A reta tangente à γ em γ(t0 ) = (1, 2) coincide com a reta
tangente à curva de nível f (x, y) = 6 em (1, 2). Logo, a equação desta reta é

∇ f (1, 2) · (x − 1, y − 2) = 0.

Calculando o gradiente de f , temos


 
∂f ∂f
∇ f (x, y) = (x, y), (x, y) = (3x2 y3 − y, 3x3 y2 − x) ⇒ ∇ f (1, 2) = (22, 11).
∂x ∂y

Portanto, a equação procurada é

(22, 11) · (x − 1, y − 2) = 0 ⇔ 22(x − 1) + 11(y − 2) = 0 ⇔ y = −2x + 4.

Uma outra maneira de se chegar a equação da reta tangente é usarmos o fato de (−11, 22) ser
perpendicular a (22, 11) = ∇ f (22, 11). Logo, (−11, 22) é paralelo a γ ′ (t0 ). Assim, a equação pode ser
escrita, em sua forma paramétrica, por

(x, y) = (1, 2) + λ (−11, 22), λ ∈ R.

Para mais exemplo, sugerimos a videoaula Exercícios com Vetor Gradiente - Encontrar a equação
da reta tangente e da reta normal.
56 Capítulo 2. Derivadas

Interpretação geométrica - funções de 3 variáveis


Seja f (x, y, z) de classe C1 no aberto D ⊂ R3 . Considere um ponto (x0 , y0 , z0 ) na superfície de
nível f (x, y, z) = c tal que ∇ f (x0 , y0 , z0 ) ̸= 0. Vamos mostrar que ∇ f (x0 , y0 , z0 ) é perpendicular, em
(x0 , y0 , z0 ), a toda curva γ derivável contida na superfície de nível f (x, y, z) = c e passando por (x0 , y0 , z0 ).
Seja γ : I → R3 tal curva, com γ(t0 ) = (x0 , y0 , z0 ). Então, f (γ(t)) = c para todo t ∈ I. Derivando esta
igualdade, obtemos

∇ f (γ(t)) · γ ′ (t) = 0 para todo t ∈ I ⇒ ∇ f (γ(t0 )) · γ ′ (t0 ) = 0,

ou seja ∇ f (x0 , y0 , z0 ) é perpendicular a γ ′ (t0 ) = (x0 , y0 , z0 ).

Dizemos, nesse caso, que ∇ f (x0 , y0 , z0 ) é normal à superfície de nível f (x, y, z) = c no ponto (x0 , y0 , z0 ).
Sugerimos a videoaula Vetor Gradiente e as Superfícis de Nível.

Definição 2.4.4 Sejam f (x, y, z) de classe C1 no aberto D ⊂ R3 e (x0 , y0 , z0 ) um ponto na superfície


de nível f (x, y, z) = c tal que ∇ f (x0 , y0 , z0 ) ̸= 0. O plano perpendicular a ∇ f (x0 , y0 , z0 ) que passa
por (x0 , y0 , z0 ) é chamado de plano tangente à superfície de nível f (x, y, z) = c em (x0 , y0 , z0 ).

Esse plano tem equação

∇ f (x0 , y0 , z0 ) · (x − x0 , y − y0 , z − z0 ) = 0,

ou equivalentemente,
∂f ∂f ∂f
(x0 , y0 , z0 ) · (x − x0 ) + (x0 , y0 , z0 ) · (y − y0 ) + (x0 , y0 , z0 ) · (z − z0 ) = 0.
∂x ∂y ∂z

Definição 2.4.5 Nas mesmas condições da Definição 2.4.4, a reta de equação

(x, y, z) = (x0 , y0 , z0 ) + λ · ∇ f (x0 , y0 , z0 ), λ ∈ R,

é chamada de reta normal à superfície f (x, y, z) = c em (x0 , y0 , z0 ).

x2 z2
■ Exemplo 2.4.6 Determine as equações do plano tangente e reta normal ao elipsoide + y2 + = 3
4 9
no ponto (−2, 1, −3).
2.4 Vetor gradiente 57

x2 z2
Solução. Esse elipsoide é a superfície de nível (em c = 3) da função F(x, y, z) = + y2 + . Temos,
4 9
   
x 2z 2
∇F(x, y, z) = , 2y, ⇒ ∇F(−2, 1, −3) = −1, 2, − .
2 9 3

O plano tangente é dado por


2
∇F(−2, 1, −3) · (x + 2, y − 1, z + 3) = 0 ⇒ −(x + 2) + 2(y − 1) − (z + 3) = 0.
3
A reta normal é dada por
 
2
(x, y, z) = (−2, 1, −3) + λ −1, 2, − , λ ∈ R.
3

Observação 2.4.7 As Definições 2.4.4 e 2.4.5 estendem as definições de plano tangente e reta
normal dadas na Seção 2.2 para o caso particular em que a superfície é o gráfico de uma função de
duas variáveis.

De fato, seja f (x, y) de classe C1 . O plano tangente ao gráfico de f no ponto (x0 , y0 , f (x0 , y0 )) é dado
por

∂f ∂f
z = f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 )(x − x0 ) + (x0 , y0 )(y − y0 ) (2.7)
∂x ∂y
e a reta normal ao gráfico de f é dada por
 
∂f ∂f
(x, y, z) = (x0 , y0 , f (x0 , y0 )) + λ (x0 , y0 ), (x0 , y0 ), −1 , λ ∈ R. (2.8)
∂x ∂y

Considere F(x, y, z) = f (x, y)−z. Note que, o gráfico de f é a superfície de nível F(x, y, z) = 0, contendo
todos os pontos da forma (x, y, f (x, y)). Logo, o ponto (x0 , y0 , f (x0 , y0 )) pertence a essa superfície de
nível. Observe que
 
∂f ∂f
∇F(x0 , y0 , z0 ) = (x0 , y0 ), (x0 , y0 ), −1 .
∂x ∂y

Daí, aplicando as Definições 2.4.4 e 2.4.5, verifica-se que o plano tangente e a reta normal à F(x, y, z) = 0
em (x0 , y0 , z0 ) (lembrando que z0 = f (x0 , y0 )) são dados, respectivamente, por (2.7) e (2.8).
p
■ Exemplo 2.4.8 Considere a função f (x, y) = 8 − 3x2 − y2 . Determine a equação do plano tangente
ao gráfico de f no ponto (1, 1, f (1, 1)).
Solução.
1º modo - A equação do plano tangente é dada por

∂f ∂f
z = f (1, 1) + (1, 1)(x − 1) + (1, 1)(y − 1).
∂x ∂y

Temos f (1, 1) = 2, e as derivadas parciais de f são

∂f −6x ∂f 3
(x, y) = p ⇒ (1, 1) = − ,
∂x 2 8 − 3x2 − y2 ∂x 2
58 Capítulo 2. Derivadas

e,
∂f −2y ∂f 1
(x, y) = p ⇒ (1, 1) = − .
∂y 2
2 8 − 3x − y 2 ∂y 2

Portanto, a equação procurada é


3 1
z = 2 − (x − 1) − (y − 1).
2 2
p
2º modo - Considere a função F(x, y, z) = 8 − 3x2 − y2 − z. A superfície de nível F(x, y, z) = 0 é
dada pela equação

G(x, y, z) = 3x2 + y2 + z2 − 8 = 0.

Note que o ponto (1, 1, f (1, 1)) = (1, 1, 2) está nessa superfície. Assim, a equação do plano tangente
em (1, 1, 2) é

∇G(1, 1, 2) · (x − 1, y − 1, z − 2) = 0.

Temos,

∇G(x, y, z) = (6x, 2y, 2z) ⇒ ∇G(1, 1, 2) = (6, 2, 4).

Logo, a equação desejada é

(6, 2, 4) · (x − 1, y − 1, z − 2) = 0 ⇒ 6(x − 1) + 2(y − 1) + 4(z − 2) = 0.

Podemos usar o vetor gradiente para lidar com curvas que estão na interseção de duas superfícies.
Sejam F(x, y, z) e G(x, y, z) duas funções de classe C1 num aberto D ⊆ R3 e (x0 , y0 , z0 ) ∈ D tal que
∇F(x0 , y0 , z0 ) × ∇G(x0 , y0 , z0 ) ̸= ⃗0. Se γ(t) é uma curva derivável com imagem contida na interseção
das superfícies F(x, y, z) = 0 e G(x, y, z) = 0, então o vetor γ ′ (t0 ) ̸=⃗0, tangente a γ em γ(t0 ) = (x0 , y0 , z0 ),
é paralelo ao produto vetorial ∇F(x0 , y0 , z0 ) × ∇G(x0 , y0 , z0 ), pois γ ′ (t0 ) é ortogonal a ∇F(x0 , y0 , z0 ) e
a ∇G(x0 , y0 , z0 ).
■ Exemplo 2.4.9 Seja γ(t) uma curva cuja imagem γ(I) está contida na interseção das superfícies
x2 + 2y2 + z = 4 e x2 + y + z = 3. Suponha que γ(t0 ) = (1, 1, 1) e γ ′ (t0 ) ̸= ⃗0. Determine a reta tangente
a γ no ponto γ(t0 ).
Solução. Considere as funções F(x, y, z) = x2 + 2y2 + z e G(x, y, z) = x2 + y + z. Como a imagem de γ
está contida nas superfícies de nível F(x, y, z) = 4 e G(x, y, z) = 3, temos F(γ(t)) = 4 e G(γ(t)) = 3
para todo t ∈ I. Logo,

∇F(γ(t0 )) · γ ′ (t0 ) = 0 e ∇G(γ(t0 )) · γ ′ (t0 ) = 0.

Isto é, γ ′ (t0 ) é ortogonal aos vetores ∇F(γ(t0 )) e ∇G(γ(t0 )). Portanto, γ ′ (t0 ) é paralelo a ∇F(x0 , y0 , z0 )×
∇G(x0 , y0 , z0 ). Temos,

∇F(x, y, z) = (2x, 4y, 1) ⇒ ∇F(1, 1, 1) = (2, 4, 1),

e,

∇G(x, y, z) = (2x, 1, 1) ⇒ ∇G(1, 1, 1) = (2, 1, 1).


2.5 Derivada direcional 59

Então,

⃗i ⃗j ⃗k
∇F(1, 1, 1) × ∇G(1, 1, 1) = 2 4 1 = 3⃗i − 6⃗k = (3, 0, −6).
2 1 1

Portanto, a equação da reta tangente à γ no ponto γ(t0 ) = (1, 1, 1) é dada por

(x, y, z) = (1, 1, 1) + λ (3, 0, −6), λ ∈ R.

Para mais um exemplo deste estilo, sugerimos a videoaula Exercício para encontrar a reta tangente
obtida pela Interseção de Duas Superfícies.

2.5 Derivada direcional

Nesta seção, apresentaremos o conceito de derivada direcional, que é uma generalização de derivada
parcial. Com isso, poderemos analisar a taxa de variação de uma função em qualquer direção, e não
apenas nas direções dos eixos coordenados. Sugerimos a videoaula Derivadas Direcionais - Funções de
Duas Variáveis
Sejam f (x, y) uma função real, p = (x0 , y0 ) ∈ Dom f e u = (a, b) um vetor unitário em R2 . Para
fazer sentido analisar a taxa de variação de f na direção do vetor u, é necessário que exista r > 0 tal que

(x, y) = (x0 , y0 ) + t(a, b) = p + tu ∈ Dom f , para todo |t| < r.

Observe que a equação (x, y) = p + tu, t ∈ R, corresponde a reta que passa pelo p e tem a direção do
vetor u.
Definição 2.5.1 A derivada direcional de f no ponto p = (x0 , y0 ) na direção do vetor unitário
u = (a, b) é definida por

∂f f (x0 + at, y0 + bt) − f (x0 , y0 ) f (p + tu) − f (p)


(p) = lim = lim .
∂u t→0 t t→0 t
∂f
A derivada direcional (p) é a taxa de variação de f no ponto p na direção do vetor u.
∂u

A razão para considerarmos o vetor u unitário na definição anterior, é para que a expressão da
∂f
derivada direcional (p) não dependa da norma de u, e sim, apenas da sua direção.
∂u

Observação 2.5.2 Se u = (1, 0) na Definição 2.5.1, então

∂f f (x0 + 1 · t, y0 + 0 · t) − f (x0 , y0 ) ∂ f
(p) = lim = (p).
∂u t→0 t ∂x
∂f ∂f
Também, se u = (0, 1), (p) = (p). Portanto, a derivada direcional é uma generalização de
∂u ∂y
derivadas parciais.
60 Capítulo 2. Derivadas

Interpretação geométrica

Considere a curva γ(t) = (x0 + at, y0 + bt, f (x0 + at, y0 + bt)) contida no gráfico de f . Observe que
∂f
a derivada da função g(t) = f (x0 + at, y0 + bt) no ponto t = 0 é exatamente (x0 , y0 ). Logo,
∂u

   
∂f ∂f
γ ′ (0) = a, b, (x0 , y0 ) = (a, b, 0) + 0, 0, (x0 , y0 ) .
∂u ∂u

∂f
Como (a, b) é unitário, vemos que (x0 , y0 ) é exatamente o coeficiente angular da reta tangente a
∂u
curva γ em (x0 , y0 , f (x0 , y0 )).

Observe que γ é obtida pela interseção do gráfico de f com o plano vertical paralelo a u.
■ Exemplo√2.5.3 Determine a taxa de variação de f (x, y) = x2 + y2 no ponto p = (1, 2) na direção do
vetor v = ( 3, −1).
√ !
v 3 1
Solução. Observamos que v não é unitário, portanto consideramos u = = ,− . A taxa de
∥v∥ 2 2
2.5 Derivada direcional 61

variação pedida é dada por


√ !
3 1
f 1+ t, 2 − t − f (1, 2)
∂f 2 2
(p) = lim
∂u t→0 t
√ !2 
1 2

3
1+ t + 2− t −1−4
2 2
= lim
t→0 t 


3 1
= lim 3+ t −2+ t
t→0 4 4

= 3 − 2.

Observação 2.5.4 A existência das derivadas direcionais não garante nada a respeito da continui-
dade da função. Veja o exemplo a seguir.

2xy2
se (x, y) ̸= (0, 0)

■ Exemplo 2.5.5 Seja f (x, y) = x 2 + y4 .
0 se (x, y) = (0, 0)

Dado u = (a, b) unitário, temos


2tab2
 2b2

∂f f (0 + at, 0 + bt) − f (0, 0) 2ab2
a 2 + t 2 b 4 se a ̸= 0
(0, 0) = lim = lim = lim 2 2 4 = a .
∂u t→0 t t→0 t t→0 a + t b
0 se a = 0

∂f
Portanto, (0, 0) existe em todas as direções. No entanto, vimos no Exemplo 1.4.8 que não existe
∂u
2xy2
lim , logo f não é contínua em (0, 0). ■
(x,y)→(0,0) x + y4
2

Para mais um exemplo, sugerimos a videoaula Calculando a Derivada Direcional na definição.

Teorema 2.5.6 Sejam f : D ⊂ R2 → R, D aberto, (x0 , y0 ) ∈ D e u ∈ R2 um vetor unitário. Se f é


∂f
diferenciável em (x0 , y0 ), então (x0 , y0 ) existe e
∂u
∂f
(x0 , y0 ) = ∇ f (x0 , y0 ) · u. (2.9)
∂u

Demonstração. Suponha u = (a, b). Defina g(t) = f (x0 + at, y0 + bt) = f (γ(t)), onde
γ(t) = (x0 + at, y0 + bt). Observe que γ(0) = (x0 , y0 ) e γ é derivável. Como f é diferenciável em
(x0 , y0 ), segue da Regra da Cadeia que
∂f ∂f
g′ (0) = (x0 , y0 ) · a + (x0 , y0 ) · b = ∇ f (x0 , y0 ) · u.
∂x ∂y
Por outro lado,
g(t) − g(0) f (x0 + at, y0 + bt) − f (x0 , y0 ) ∂ f
g′ (0) = lim = lim = (x0 , y0 ),
t→0 t t→0 t ∂u
62 Capítulo 2. Derivadas

o que conclui a demonstração. ■

∂f
Observação 2.5.7 Se (x0 , y0 ) existe mas f não é diferenciável em (x0 , y0 ), a relação (2.9) pode
∂u
não ser verdadeira, como mostra o exemplo a seguir.

x3
se (x, y) ̸= (0, 0)

■ Exemplo 2.5.8 Seja f (x, y) = x 2 + y2 .
0 se (x, y) = (0, 0)

Vimos no Exemplo 2.2.8 que f não é diferenciável em (0, 0). Dado u = (a, b) unitário, temos
∂f f (0 + at, 0 + bt) − f (0, 0) a3 a3
(0, 0) = lim = lim 2 = = a3 (pois a2 + b2 = 1).
∂u t→0 t t→0 a + b2 a2 + b2
∂f
Portanto, (0, 0) existe em todas as direções. No entanto,
∂u
∇ f (0, 0) · u = (1, 0) · (a, b) = a.
√ √ !
2 2
Tomando, por exemplo, u = , , temos
2 2
√ √ !3
2 2 ∂f
∇ f (0, 0) · u = ̸= = (0, 0).
2 2 ∂u

 
1 1
■ Exemplo 2.5.9 Sejam f (x, y) = x2 + y2 , u = (a, b) ̸= √ ,√
um vetor unitário e k > 2 um
2 2  
t t
número real. Suponha que s,t > 0 são tais que P1 = (1 + sa, 1 + sb) e P2 = 1 + √ , 1 + √
2 2
pertencem a curva de nível f (x, y) = k. Compare as taxas de variação de f no ponto P0 = (1, 1) nas
−−→ −−→
direções de P0 P1 e P0 P2 .

Solução. Observe que a curva de nível c > 0 de f é uma circunferência centrada na origem de raio c.
Como f (1, 1) = 2, temos que (1, 1) pertence a curva de nível c = 2.

Observe que P1 pertence


 a reta de equação (1, 1) + s(a, b) e P2 pertence a reta de equação
1 1 −−→ −−→
(1, 1) + t √ , √ . Pela geometria, temos que ∥P0 P1 ∥ > ∥P0 P2 ∥. Além disso,
2 2
 
−−→ −−→ t t −−→ −−→
P0 P1 = (sa, sb) e P0 P2 = √ , √ ⇒ ∥P0 P1 ∥ = s e ∥P0 P2 ∥ = t,
2 2
2.5 Derivada direcional 63

donde segue que s > t. Como f (P1 ) = f (P2 ) = k, temos


 
t t
f 1 + √ , 1 + √ − f (1, 1)
f (1 + sa, 1 + sb) − f (1, 1) 2 2
< ,
s t
−−→
donde espera-se que a derivada direcional na direção de P0 P1 seja menor que a derivada direcional na
−−→ 1 1 −−→
direção de P0 P2 em P0 . De fato, considere v = √ , √ o versor de P0 P2 e observe que u é o versor
2 2
−−→
de P0 P1 . Assim,

 
∂f 1 1 2 2
(1, 1) = ∇ f (1, 1) · v = (2, 2) · √ , √ = √ + √ = 2 2,
∂v 2 2 2 2
e,
∂f √
(1, 1) = ∇ f (1, 1) · u = (2, 2) · u = ∥(2, 2)∥ · ∥u∥ · cos θ = 2 2 cos θ ,
∂u

onde θ é o ângulo entre u e ∇ f (1, 1) = (2, 2) = 2 2 v. Como 0 < θ < 2π (pois u ̸= v por hipótese),
segue que cos θ < 1. Portanto,
∂f √ √ ∂f
(1, 1) = 2 2 cos θ < 2 2 = (1, 1).
∂u ∂v

O próximo resultado generaliza a ideia do exemplo anterior.

Teorema 2.5.10 Sejam f : D ⊂ R2 → R, D aberto e (x0 , y0 ) ∈ D. Suponha que f é diferenciável


∂f
em (x0 , y0 ) e ∇ f (x0 , y0 ) ̸= (0, 0). Então, o valor máximo de (x0 , y0 ) ocorre quando u é o versor
! ∂u
∇ f (x0 , y0 ) ∂f
de ∇ f (x0 , y0 ) isto é, u = e, o valor máximo de (x0 , y0 ) é igual a ∥∇ f (x0 , y0 )∥.
∥∇ f (x0 , y0 )∥ ∂u

Demonstração. Como f é diferenciável em (x0 , y0 ), temos


∂f
(x0 , y0 ) = ∇ f (x0 , y0 ) · u = ∥∇ f (x0 , y0 )∥ · ∥u∥ · cos θ = ∥∇ f (x0 , y0 )∥ cos θ , (2.10)
∂u
∂f
onde θ é o ângulo entre ∇ f (x0 , y0 ) e u. Como cos θ é máximo quando θ = 0, temos que (x0 , y0 ) é
∂u
máximo quando o ângulo entre ∇ f (x0 , y0 ) e u for zero, ou seja, se u é o versor de ∇ f (x0 , y0 ). De (2.10)
∂f
segue que o valor máximo de (x0 , y0 ) é ∥∇ f (x0 , y0 )∥. ■
∂u

Observação 2.5.11 (i) Se f é diferenciável em (x0 , y0 ) e ∇ f (x0 , y0 ) = (0, 0), então


∂f
(x0 , y0 ) = 0 para todo vetor unitário u.
∂u
∂f
(ii) Como (x0 , y0 ) é a taxa de variação de f em (x0 , y0 ) na direção de u, o Teorema 2.5.10
∂u
diz que, estando em (x0 , y0 ), a direção e sentido que se deve tomar para que f cresça mais
rapidamente é a do vetor ∇ f (x0 , y0 ).
64 Capítulo 2. Derivadas

(iii) Analogamente ao Teorema 2.5.10, demonstra-se que a taxa mínima de crescimento ocorre na
direção de ∇ f (x0 , y0 ) e sentido contrário, isto é, quando u = −∇ f (x0 , y0 ).

Sugerimos a videoaula Vetor Gradiente e a Taxa de Variação - Funções de Duas Variáveis.


100xy
■ Exemplo 2.5.12 Se T (x, y) = 2 é a temperatura, em graus Celsius, sobre uma lâmina
x + 4y2 + 4
metálica, com x e y medidos em cm, determine a direção de crescimento máximo de T a partir do ponto
(1, 1) e a taxa máxima de crescimento de T nesse ponto.
Solução. Temos que T é uma função racional, portanto de classe C1 e logo diferenciável. Assim, pelo
Teorema 2.5.10, no ponto (1, 1) a função T cresce mais rapidamente na direção de ∇T (1, 1) e a taxa
máxima de crescimento é ∥∇T (1, 1)∥. Calculemos as derivadas parciais de T :
∂T 100y(x2 + 4y2 + 4) − 100xy(2x) 400y3 + 400y − 100x2 y
(x, y) = = ;
∂x (x2 + 4y2 + 4)2 (x2 + 4y2 + 4)2
∂T 100x(x2 + 4y2 + 4) − 100xy(8y) 100x3 + 400x − 400xy2
(x, y) = = .
∂y (x2 + 4y2 + 4)2 (x2 + 4y2 + 4)2
Logo,

100 500 2
∇T (1, 1) = (7, 1) e ∥∇T (1, 1)∥ =
81 81
são a direção de crescimento máximo e taxa máxima de crescimento, respectivamente. ■

Para mais um exercício deste estilo, sugerimos a videoaula Exercício com Vetor Gradiente e a Taxa
de Variação.
■ Exemplo 2.5.13 Suponha que T (x, y) = 4x2 + y2 representa uma distribuição de temperatura no
plano xy. Determine uma parametrização para a trajetória descrita por um ponto p que se desloca, a
partir de (1, 1), sempre na direção e sentido de máximo crescimento da temperatura.
Solução. Temos que procurar funções x(t) e y(t) tais que a curva γ(t) = (x(t), y(t)) satisfaça as
condições
γ(0) = (1, 1) e γ ′ (t) = ∇T (γ(t)) para todo t.
2.6 Função implícita 65

Temos ∇T (x, y) = (8x, 2y), logo

γ ′ (t) = ∇T (γ(t)) ⇔ (x′ (t), y′ (t)) = (8x(t), 2y(t)). (2.11)

Não é difícil verificar que γ(t) = (e8t , e2t ), t ≥ 0, satisfaz a condição (2.11) junto com a condição
γ(0) = (1, 1).
Vamos apresentar uma outra maneira de resolver o problema. Suponha que a trajetória descrita por
p é o gráfico de uma função y = f (x), onde f (1) = 1. O coeficiente angular da reta tangente ao gráfico
dy
de f em (x, y) é = f ′ (x). Como ∇T (x, y) = (8x, 2y) deve ser tangente ao gráfico de f em (x, y) e a
dx
2y y
inclinação da reta com direção de ∇T (x, y) = (8x, 2y) é = , temos
8x 4x
dy y
= . (2.12)
dx 4x
Separando as variáveis e integrando, temos
1
ln y = ln x + c, c constante. (2.13)
4
Para que f (1) = 1, devemos ter c = 0. Logo,
1 √
ln y = ln x ⇒ y = 4 x. (2.14)
4

Portanto, γ(t) = (t, 4 t), t ≥ 1, é outra parametrização para a trajetória de p. ■

Pode-se estender o conceito de derivada direcional para funções de 3 ou mais variáveis. Apresenta-
remos, a seguir, a definição geral.
Definição 2.5.14 Sejam f : D ⊆ Rn → R, p ∈ D e u um vetor unitário em Rn tal que, existe r > 0
com x = p + tu ∈ D para todo |t| < r. A derivada direcional de f no ponto p na direção de u é dada
por

∂f f (p + tu) − f (p)
(p) = lim .
∂u t→0 t

Observação 2.5.15 Todos os resultados dessa seção podem ser facilmente estendidos para funções
de 3 ou mais variáveis.

2.6 Função implícita


Muitas vezes, quando tratamos com curvas no plano xy, estudamos funções da forma y = f (x),
onde y é expresso diretamente através de alguma fórmula algébrica envolvendo as funções elementares
em termos de x. No entanto, existem vários problemas em que y aparece definida implicitamente como
uma função de x por meio de uma equação

f (x, y) = 0

em que nem sempre é possível “isolar” y em função de x, ou existe mais uma maneira de fazer esse
isolamento, dependendo da vizinhança em que se está interessado.
Sugerimos a videoaula Teorema da Função Implícita I - Parte teórica.
66 Capítulo 2. Derivadas

Definição 2.6.1 Sejam D ⊂ R2 aberto e f : D → R uma função. Dizemos que y = g(x) é definida
implicitamente pela equação f (x, y) = 0 se, existe um intervalo aberto I tal que,

f (x, g(x)) = 0 para todo x ∈ I.

Em outras palavras, o conjunto f −1 (0) = {(x, y) ∈ D : f (x, y) = 0}, restrito aos pontos com x ∈ I,
coincide com o gráfico de g.

■ Exemplo 2.6.2 Seja f (x, y) = x2 + y2 + 1. A equação f (x, y) = 0 não define y implicitamente como
função de x. De fato, se y = y(x), teríamos que ter

f (x, y(x)) = 0 ⇒ x2 + y(x)2 + 1 = 0 ⇒ y2 (x) = −x2 − 1,

o que é impossível, já que y2 (x) > 0 e −x2 − 1 < 0 para todo x ∈ R. ■

■ Exemplo 2.6.3 Seja f (x, y) = x2 + y2 − 4. A equação f (x, y) = 0 define implicitamente duas funções:

(i) y = g1 (x) = 4 − x2 , para x ∈ ] − 2, 2[ e y > 0;

(ii) y = g2 (x) = − 4 − x2 , para x ∈ ] − 2, 2[ e y < 0.

A curva de nível f −1 (0) coincide com o gráfico de g1 em uma vizinhança de x = 0, se considerarmos o


domínio D1 = {(x, y) ∈ R2 : y > 0} para f . Da mesma forma, f −1 (0) coincide com o gráfico de g2 em
uma vizinhança de x = 0, se considerarmos o domínio D2 = {(x, y) ∈ R2 : y < 0} para f . ■

Estamos interessados em saber quando uma função definida implicitamente é derivável, mesmo
sem poder expressar y = g(x) diretamente. Isso é o ponto principal do teorema a seguir.

Teorema 2.6.4 — Teorema da Função Implícita (TFI). Sejam f (x, y) de classe Ck , k ≥ 1, em


∂f
um aberto D ∈ R2 e (x0 , y0 ) ∈ D, com f (x0 , y0 ) = 0. Se (x0 , y0 ) ̸= 0, então existem intervalos
∂y
abertos I e J, com x0 ∈ I e y0 ∈ J, tais que, para cada x ∈ I, existe único g(x) ∈ J com f (x, g(x)) = 0.
Além disso, g : I → J é de classe Ck e

∂f
(x, g(x))
g′ (x) = − ∂ x .
∂f
(x, g(x))
∂y

Supondo a existência da função implícita g derivável, a expressão de g′ (x) pode ser obtida pela
Regra da Cadeia. De fato, derivando a identidade f (x, g(x)) = 0 em relação a x, temos
∂f
∂f ∂f (x, g(x))
(x, g(x)) · 1 + (x, g(x)) · g (x) = 0 ⇒ g (x) = − ∂ x
′ ′
.
∂x ∂y ∂f
(x, g(x))
∂y

∂f ∂f
Observação 2.6.5 (i) Se a hipótese (x0 , y0 ) ̸= 0 for substituída por (x0 , y0 ) ̸= 0, então
∂y ∂x
vale uma versão análoga ao TFI: existem intervalos I e J, com x0 ∈ I e y0 ∈ J, tais que, para
cada y ∈ J, existe h(y) ∈ I com f (h(y), y) = 0. Além disso, a função h : J → I é de classe Ck
2.6 Função implícita 67

com
∂f
(h(y), y)
′ ∂y
h (y) = − .
∂f
(h(y), y)
∂x

(ii) Se ∇ f (x0 , y0 ) ̸= (0, 0), então o TFI garante a existência e unicidade de uma função y = f (x)
ou x = h(y) (dependendo de qual derivada parcial é não nula) cujo gráfico coincide com a
curva de nível f (x, y) = 0 num retângulo aberto I × J contendo (x0 , y0 ).

Note que, no Exemplo 2.6.2, o conjunto para o qual f (x, y) = 0 é vazio, e portanto não está nas
∂f
condições do Teorema da Função Implícita. No Exemplo 2.6.3, temos f (0, 2) = 0, com (0, 2) =
∂y
2 · 2 = 4 ̸= 0. Portanto, existem intervalos abertos I e J, com 0 ∈ I e 2 ∈ J, tais que, para cada x ∈ I,
existe único y = g(x) ∈ J com f (x, g(x)) = 0. Além disso,

∂f
(x, g(x)) 2x x
g′ (x) = − ∂ x =− =− .
∂f 2g(x) g(x)
(x, g(x))
∂y

Como f (x, g(x)) = 0, temos x2 +g2 (x)−4 = 0, e portanto g(x) = ±√ 4 − x2 . Se queremos que g(0) = 2,
para o gráfico passar pelo ponto (0, 2), devemos escolher g(x) = 4 − x2 . Com isso, obtemos
x
g′ (x) = − √ .
4 − x2

Nesse exemplo conseguimos descrever y explicitamente por g(x) = 4 − x2 , de forma que poderíamos
obter a derivada de g derivando diretamente essa expressão. No entanto, nem sempre conseguiremos
expressar a função g de forma explícita. Ainda assim, é possível expressarmos g′ , em função de g e x,
usando o Teorema da Função Implícita.
■ Exemplo 2.6.6 Seja f (x, y) = ex−y + x2 − y − 1. Mostre que a equação f (x, y) = 0 define impli-
citamente uma curva plana derivável que passa pela origem. Descreva o vetor tangente à curva em
(0, 0).
∂f
Solução. Temos (x, y) = −ex−y − 1 ̸= 0 para todo (x, y) ∈ R2 e f (0, 0) = 0. Pelo Teorema da
∂y
Função Implícita, existem intervalos abertos I e J, com 0 ∈ I e 0 ∈ J, e uma única g : I → J tal que
f (x, g(x)) = 0 para todo x ∈ I. Portanto, a curva γ(x) = (x, g(x)) é tal que f (γ(x)) = 0 e γ(0) = (0, 0).
Além disso,
∂f
(x, y) ex−y + 2x ex−g(x) + 2x
g (x) = − ∂ x

= − x−y = x−g(x) .
∂f −e − 1 e +1
(x, y)
∂y
Como γ(0) = (0, g(0)) = (0, 0), temos que g(0) = 0. Logo, o vetor tangente à curva em (0, 0) é dado
por
 0−0   
′ ′ e +0 1
γ (0) = (1, g (0)) = 1, 0−0 = 1, .
e +1 2

68 Capítulo 2. Derivadas

■ Exemplo 2.6.7 Seja f (x, y) = 2x2 −2x4 −2y2 . A equação f (x, y) = 0 é equivalente a y2 = 2x2 (1−x2 ),
que é a equação da cúspide γ(t) = (sent, sen 2t), t ∈ [0, 2π].

Pela figura, vemos que numa vizinhança de (0, 0) a equação dada não define implicitamente y em
função de x, nem x em função de y. Observe que
∂f ∂f
(0, 0) = 0 e (0, 0) = 0,
∂x ∂y
e portanto as condições do Teorema da Função Implícita não são satisfeitas para (x0 , y0 ) = (0, 0).
√ !
π  2
Numa vizinhança do ponto γ = , 1 , temos y = g(x) definido implicitamente, e numa
4 2
π 
vizinhança do ponto γ = (1, 0), temos x = h(y) definido implicitamente (verifique). ■
2
Para mais um exemplo, sugerimos a videoaula Teorema da Função Implícita I - Exercício.
O próximo teorema é uma generalização do TFI e trata de superfícies z = g(x, y) definidas implici-
tamente por uma equação nas variáveis x, y, z.

Teorema 2.6.8 — Teorema da Função Implícita II. Sejam f (x, y, x) de classe Ck , k ≥ 1, num
∂f
aberto D ⊂ R3 e (x0 , y0 , z0 ) ∈ D tal que f (x0 , y0 , z0 ) = 0. Se (x0 , y0 , z0 ) ̸= 0, então existe uma
∂z
2
bola aberta B em R , centrada em (x0 , y0 ), e um intervalo aberto J, com z0 ∈ J, tal que, para cada
(x, y) ∈ B, existe único g(x, y) ∈ J com f (x, y, g(x, y)) = 0. A função z = g(x, y) definida em B é de
classe Ck e vale

∂f ∂f
(x, y, g(x, y)) (x, y, g(x, y))
∂g ∂g ∂y
(x, y) = − ∂ x e (x, y) = − .
∂x ∂f ∂y ∂f
(x, y, g(x, y)) (x, y, g(x, y))
∂z ∂z

∂f
Geometricamente, (x0 , y0 , z0 ) ̸= 0 significa que ∇ f (x0 , y0 , z0 ) (que é perpendicular a superfície
∂z
f (x, y, z) = 0 em (x0 , y0 , z0 )) não é paralelo ao plano xy.
Supondo que exista g(x, y) diferenciável com f (x, y, g(x, y)) = 0, podemos obter suas derivadas
parciais derivando a identidade e aplicando a Proposição 2.3.5:
∂f
∂f ∂ ∂f ∂ ∂f ∂z ∂z (x, y, z)
(x, y, z) · [x] + (x, y, z) · [y] + (x, y, z) · ⇒ = − ∂x .
∂x x } ∂y
|∂ {z x } ∂z
|∂ {z ∂x ∂x ∂f
(x, y, z)
=1 =0 ∂z
∂z
De forma análoga, obtém-se .
∂y
Sugerimos a videoaula Teorema da Função Implícita II.
2.6 Função implícita 69

∂f ∂f
Observação 2.6.9 Se trocarmos a condição (x0 , y0 , z0 ) ̸= 0 por (x0 , y0 , z0 ) ̸= 0, então ob-
∂z ∂y
temos y = g(x, z) definido implicitamente em função das variáveis x e z. Da mesma forma, com
∂f
(x0 , y0 , z0 ) ̸= 0, obtemos x = g(y, z) definido implicitamente em função das variáveis y e z.
∂x

■ Exemplo 2.6.10 Verifique que a equação x3 + 3y2 + 8xz2 − 3z3 y = 9 define z implicitamente como
∂z ∂z
função de x e y em uma vizinhança de (1, 0, 1) e calcule (1, 0) e (1, 0).
∂x ∂y
Solução. Seja f (x, y, z) = x3 + 3y2 + 8xz2 − 3z3 y − 9. Temos,
∂f ∂f ∂f
f (1, 0, 1) = 0, (x, y, z) = 3x2 + 8z2 , (x, y, z) = 6y − 3z3 e (x, y, z) = 16xz − 9z2 y.
∂x ∂y ∂z
∂f
Note que essas derivadas são contínuas e (1, 0, 1) = 16 ̸= 0. Pelo Teorema da Função Implícita II,
∂z
segue que a equação dada define z implicitamente como função de x e y em uma vizinhança de (1, 0, 1)
e
∂f ∂f
(1, 0, 1) (1, 0, 1)
∂z 11 ∂z ∂y 3
(1, 0) = − ∂ x =− e (1, 0) = − = .
∂x ∂f 16 ∂y ∂f 16
(1, 0, 1) (1, 0, 1)
∂z ∂z

Por fim, apresentaremos uma versão do TFI que trata de curvas em R3 definidas implicitamente
pela interseção de duas superfícies f (x, y, z) = 0 e g(x, y, z) = 0. Antes de apresentá-lo, precisaremos
da definição a seguir.

Definição 2.6.11 Sejam f (x, y, z) e g(x, y, z) funções diferenciáveis num aberto em R3 . Define-se o
determinante jacobiano de f e g em relação a y e z por

∂f ∂f
∂ ( f , g) ∂y ∂z
= (calculados em (x, y, z)).
∂ (y, z) ∂g ∂g
∂y ∂z

∂ ( f , g) ∂ ( f , g)
De modo análogo, define-se e .
∂ (x, y) ∂ (x, z)

Teorema 2.6.12 — Teorema da Função Implícita III. Sejam f (x, y, x) e g(x, y, z) de classe
Ck , k ≥ 1, num aberto D ⊂ R3 e (x0 , y0 , z0 ) ∈ D tal que f (x0 , y0 , z0 ) = 0 = g(x0 , y0 , z0 ). Se
∂ ( f , g)
̸= 0 no ponto (x0 , y0 , z0 ), então existe um intervalo aberto I, com x0 ∈ I, e um único par
∂ (y, z)
de funções y = y(x) e z = z(x) de classe Ck em I tais que y(x0 ) = y0 , z(x0 ) = z0 , e, para cada x ∈ I,
f (x, y(x), z(x)) = 0 = g(x, y(x), z(x)). Além disso,

∂ ( f , g) ∂ ( f , g)
dy ∂ (x, z) dz ∂ (y, x)
=− e =− (calculados em (x, y(x), z(x))).
dx ∂ ( f , g) dx ∂ ( f , g)
∂ (y, z) ∂ (y, z)
70 Capítulo 2. Derivadas

Em outras palavras, a interseção das superfícies f (x, y, x) = 0 e g(x, y, z) = 0 define implicitamente


uma única curva derivável γ(x) = (x, y(x), z(x)), x ∈ I, numa vizinhança de (x0 , y0 , z0 ).

Como nos casos anteriores, supondo que exista um par de funções y = y(x) e z = z(x) de classe
C1 em I tais que f (γ(x)) = 0 = g(γ(x)), onde γ(x) = (x, y(x), z(x)), x ∈ I, podemos obter as derivadas
dy dz
e derivando as identidades f (x, y, x) = 0 e g(x, y, z) = 0 em relação a x, e, aplicando a Regra de
dx dx
dy dz
Cramer para resolver o sistema linear resultante nas incógnitas e (verifique).
dx dx
Sugerimos as videoaulas Teorema da Função Implícita III - Parte Teórica e também Teorema da
Função Implícita III - Exercício.
■ Exemplo 2.6.13 Verifique que as superfícies

x 2 + y2 + z2 − 1 = 0 e x+y−1 = 0
 
1 1 1
se interceptam ao longo de uma curva γ derivável que passa por p = , ,√ e encontre o vetor
2 2 2
tangente a γ em p.
Solução. Sejam f (x, y, z) = x2 + y2 + z2 − 1 e g(x, y, z) = x + y − 1. Primeiramente, observe que
f (p) = g(p) = 0. Além disso, f e g são funções de classe C1 e
∂f ∂f 2
(p) (p) 1 √
∂ ( f , g) ∂y ∂z 2
(p) = = 2 = − √ ̸= 0.
∂ (y, z) ∂g ∂g 2
(p) (p) 1 0
∂y ∂z
1
Pelo Teorema da Função Implícita III, existe um intervalo aberto I com ∈ I e um único par
  2 
1 1 1 1
de funções y = y(x) e z = z(x) de classe C1 em I tais que y = , z = √ , e, para
2 2 2 2
cada x ∈ I, f (x, y(x), z(x)) = 0 = g(x,y(x), z(x)). Em outras palavras, a curva γ : I → R 3 dada por

1 1
γ(x) = (x, y(x), z(x)) é de classe C , γ =p e
2

x2 + y(x)2 + z(x)2 − 1 = 0
e x + y(x) − 1 = 0 para todo x ∈ I. (2.15)
      
1 1 1
O vetor tangente a γ em p é γ ′ = 1, y′ , z′ . Derivando (2.15) em relação a x,
2 2 2
obtemos

2x + 2 y(x) y′ (x) + 2 z(x) z′ (x) − 1 = 0


e 1 + y′ (x) = 0 para todo x ∈ I. (2.16)
   
1 ′ 1 ′ 1
Substituindo x = em (2.16), encontra-se y = −1 e z = 0.
2 2 2
 
1
Portanto, γ ′ = (1, −1, 0). ■
2
Finalizamos a seção indicando algumas provas em videoaulas.

• Demonstração do Teorema da Função Implícita I - Parte 1 - Supondo construída a função y = y(x)


e demonstrada a sua continuidade, demonstramos que y(x) é diferenciável (parte técnica) e
também de classe Ck . A parte técnica é razoavelmente complicada, mas o aluno pode achar
interessante a argumentação.
2.7 Fórmula de Taylor para duas variáveis 71

• Demonstração do Teorema da Função Implícita I - Parte 2 - Demonstração mais avançada em


que construímos a vizinhança V e a função y = y(x) e também a sua continuidade.
• Demonstração do Teorema da Função Implícita II - Essencialmente, é a mesma demonstração do
Teorema da Função Implícita I. A demonstração é bem avançada.
• Demonstração do Teorema da Função Implícita III - Esta demonstração não é tão avançada se
tivermos em mãos as versões anteriores do Teorema da Função Implícita.
• Demonstração que Vetor Gradiente é perpendicular à curva de nível.
• Demonstração que Vetor Gradiente é perpendicular às Superfícies de Nível.

2.7 Fórmula de Taylor para duas variáveis


Funções polinomiais são simples de se trabalhar do ponto de vista computacional, pois envolvem
apenas somas e produtos. A fórmula de Taylor nos dá uma ferramenta para aproximações polinomiais.
Apresentaremos, nesta seção, a fórmula de Taylor para funções de duas variáveis.
Antes, relembraremos rapidamente essa fórmula para uma função de uma variável f : I → R,
definida num intervalo I ⊂ R. Se f é derivável até a ordem n + 1, para cada par x, x0 em I, existe x̄
entre x0 e x, tal que
f (n+1) (x̄)
f (x) = Pn (x) + (x − x0 )n+1 ,
(n + 1)!
onde
f ′′ (x0 ) f (n) (x0 ) n
f ( j) (x0 )
Pn (x) = f (x0 ) + f ′ (x0 )(x − x0 ) + (x − x0 )2 + · · · + (x − x0 )n = ∑ (x − x0 ) j .
2 n! j=0 j!

O polinômio Pn (x) é chamado polinômio de Taylor de f de ordem n em torno de x0 e a função


f (n+1) (x̄)
Rn (x) = (x − x0 )n+1 é chamada resto de Lagrange.
(n + 1)!
Iniciaremos, para funções de duas variáveis, com o caso envolvendo o polinômio de Taylor de
ordem 1, apresentado a seguir.

Teorema 2.7.1 Sejam f (x, y) de classe C2 no aberto A ⊂ R2 , (x0 , y0 ) ∈ A e (h, k) ̸= (0, 0) tal que
o segmento de extremidades (x0 , y0 ) e (x0 + h, y0 + k) está contido em A. Então,

∂f ∂f
f (x0 + h, y0 + k) = f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 )h + (x0 , y0 )k + E(h, k), (2.17)
∂x ∂y
onde
1 ∂2 f ∂2 f ∂2 f
 
2 2
E(h, k) = (x̄, ȳ)h + 2 (x̄, ȳ)hk + 2 (x̄, ȳ)k ,
2 ∂ x2 ∂x∂y ∂y

para algum (x̄, ȳ) interior ao segmento de extremidades (x0 , y0 ) e (x0 + h, y0 + k).

Demonstração. Considere a função g : [0, 1] → R dada por g(t) = f (x0 + ht, y0 + kt). Pela fórmula de
Taylor de para funções de uma variável, temos
g′′ (t¯)
g(1) = g(0) + g′ (0)(1 − 0) + (1 − 0)2 , para algum t¯ ∈ ]0, 1[ . (2.18)
2
72 Capítulo 2. Derivadas

Pela Regra da Cadeia,

∂f dx ∂ f dy
g′ (t) = (x, y) + (x, y) ,
∂x dt ∂ y dt

onde x = x0 + ht e y = y0 + kt. Derivando mais uma vez, temos

∂2 f ∂2 f
 2
∂2 f
  
′′ ∂ f
g (t) = (x, y) h + (x, y) k h + (x, y) h + 2 (x, y) k k
∂ x2 ∂x∂y ∂x∂y ∂y
2
∂ f 2
∂ f 2
∂ f
= 2
(x, y)h2 + 2 (x, y)hk + 2 (x, y)k2 .
∂x ∂x∂y ∂y

Aplicando no ponto t¯ e escrevendo x̄ = x0 + ht¯ e ȳ = y0 + kt¯, temos

∂2 f ∂2 f ∂2 f
g′′ (t¯) = 2
(x, y)h2 + 2 (x, y)hk + 2 (x, y)k2 .
∂x ∂x∂y ∂y

Note ainda que

∂f ∂f
g′ (0) = (x0 , y0 )h + (x0 , y0 )k.
∂x ∂y

Assim, substituindo as expressões obtidas para g′ (0) e g′′ (t¯) em (2.18), obtemos o resultado enunciado.

Fazendo x = x0 + h e y = y0 + k em (2.17), obtemos

f (x, y) = P1 (x, y) + E1 (x, y),

onde
∂f ∂f
P1 (x, y) = f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 )(x − x0 ) + (x0 , y0 )(y − y0 )
∂x ∂y

1 ∂2 f ∂2 f ∂2 f
 
2 2
E1 (x, y) = (x̄, ȳ)(x − x0 ) + 2 (x̄, y)(x − x0 )(y − y0 ) + 2 (x̄, y)(y − y0 ) ,
2 ∂ x2 ∂x∂y ∂y

para algum (x̄, ȳ) no segmento de extremidades (x0 , y0 ) e (x, y). O polinômio P1 (x, y) é chamado
polinômio de Taylor de ordem 1 de f (x, y) em torno de (x0 , y0 ) e E1 (x, y) é o erro que se comete na
aproximação de f (x, y) por P1 (x, y), também conhecido como resto de Lagrange.

Observação 2.7.2 A equação z = P1 (x, y) é exatamente a equação do plano tangente ao gráfico de


f em (x0 , y0 , f (x0 , y0 )). Assim, E1 (x, y) fornece uma expressão para o erro cometido na aproximação
de f (x, y) pela função afim T (x, y) = P1 (x, y). Além disso, como mencionado na Observação 2.2.3,
esse erro tende a zero “mais rápido” que a distância de (x, y) a (x0 , y0 ).

■ Exemplo 2.7.3 Seja f (x, y) = ln(x + y).


 
1 1
(i) Determine o polinômio de Taylor de ordem 1 de f em torno do ponto , .
2 2
2.7 Fórmula de Taylor para duas variáveis 73

(ii) Mostre que, para qualquer (x, y) com x + y > 1, vale


1
| ln(x + y) − (x + y − 1)| < (x + y − 1)2 .
2
Solução. Temos f 12 , 21 = ln 21 + 21 = ln(1) = 0. Além disso,
 
   
∂f ∂f 1 ∂f 1 1 ∂f 1 1
(x, y) = (x, y) = ⇒ , = , = 1.
∂x ∂y x+y ∂x 2 2 ∂y 2 2
Logo,
       
1 1 ∂f 1 1 1 ∂f 1 1 1
P1 (x, y) = f , + , x− + , y−
2 2 ∂x 2 2 2 ∂y 2 2 2
   
1 1
= x− + y− = x + y − 1.
2 2
Isso conclui o item (i). Para o item (ii), calculemos as derivadas de segunda ordem:
∂2 f ∂2 f ∂2 f 1
2
(x, y) = (x, y) = 2
(x, y) = − .
∂x ∂x∂y ∂y (x + y)2
 
1 1
Segue do Teorema 2.7.1 que existe (x̄, ȳ) no segmento de extremidades (x, y) e , tal que
2 2
ln(x + y) = x + y − 1 + E1 (x, y),
onde
"  #
1 2 1 2
     
1 1 1 1 1 1
E1 (x, y) = − x− −2 x− y− − y− .
2 (x̄ + ȳ)2 2 (x̄ + ȳ)2 2 2 (x̄ + ȳ)2 2
Note que x + y > 1 implica em x + y > 1.

Portanto,
1
− < 1.
(x̄ + ȳ)2
Assim,
1 2 1 2
      
1 1 1 1
| ln(x+y)−(x+y−1)| = |E1 (x, y)| < x− +2 x− y− + y− = (x+y−1)2 ,
2 2 2 2 2 2
para todo (x, y) com x + y > 1. ■

Apresentamos agora o caso geral da Fórmula de Taylor para funções de duas variáveis.
74 Capítulo 2. Derivadas

Teorema 2.7.4 — Fórmula de Taylor com resto de Lagrange. Sejam f (x, y) de classe Cn+1
no aberto A ⊂ R2 , (x0 , y0 ) ∈ A e (h, k) ̸= (0, 0) tal que o segmento de extremidades (x0 , y0 ) e
(x0 + h, x0 + k) esteja contido em A. Então,
"   #
n
1 r r ∂r f
f (x0 + h, y0 + k) = f (x0 , y0 ) + ∑
r! ∑ p ∂ xr−p ∂ y p (x0 , y0 )hr−p k p + E(h, k),
r=1 p=0

onde
n+1 
∂ n+1 f

1 n+1
E(h, k) = ∑ (x̄, ȳ)hn+1−p k p
(n + 1)! p=0 p ∂ xn+1−p ∂ y p

para algum (x̄, ȳ) no interior do segmento de extremidades (x0 , y0 ) e (x0 + h, y0 + k).

O polinômio, em duas variáveis,


"   #
n
1 r r ∂r f r−p p
Pn (x, y) = f (x0 , y0 ) + ∑ ∑ (x , y )(x − x0 ) (y − y0 )
r−p ∂ y p 0 0
r=1 r! p=0 p ∂ x

é chamado polinômio de Taylor de ordem n de f em torno do ponto (x0 , y0 ). Em particular, para n = 2


temos

∂f ∂f
P2 (x, y) = f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 )(x − x0 ) + (x0 , y0 )(y − y0 ) +
∂x ∂y
1 ∂2 f ∂2 f ∂2 f
 
2 2
+ (x, y)(x − x0 ) + 2 (x0 , y0 )(x − x0 )(y − y0 ) + 2 (x0 , y0 )(y − y0 ) .
2 ∂ x2 ∂x∂y ∂y

■ Exemplo 2.7.5 Determine o polinômio de Taylor de ordem 2 de f (x, y) = x sen y em torno de (0, 0).
Solução. Comecemos obtendo as derivadas parciais de f :

∂f ∂f
(x, y) = sen y e (x, y) = x cos y.
∂x ∂y

As derivadas de segunda ordem são

∂2 f ∂2 f ∂2 f ∂2 f
(x, y) = 0, (x, y) = (x, y) = cos y e (x, y) = −x sen y.
∂ x2 ∂y∂x ∂x∂y ∂ y2

Aplicando no ponto (0, 0), temos

∂f ∂f
(0, 0) = 0, (0, 0) = 0,
∂x ∂y

∂2 f ∂2 f ∂2 f ∂2 f
(0, 0) = 0, (0, 0) = (0, 0) = 1 e (0, 0) = 0.
∂ x2 ∂y∂x ∂x∂y ∂ y2
Substituindo estes valores na definição de P2 (x, y), obtemos

P2 (x, y) = xy.


2.7 Fórmula de Taylor para duas variáveis 75

Para finalizar esta seção, apresentaremos, a título de curiosidade, a demonstração do caso geral da
Fórmula de Taylor.

Demonstração do Teorema 2.7.4. Defina g : [0, 1] → R por g(t) = f (x0 + ht, y0 + kt). Vamos provar
por indução que
r  
(r) r ∂r f
g (t) = ∑ r−p ∂ y p
(x, y) hr−p k p , para todo r ≥ 1,
p=0 p ∂ x

onde x = x0 + ht e y = t0 + kt. De fato, pela Regra da Cadeia, temos

∂f ∂f
g′ (t) = (x, y) h + (x, y) k,
∂x ∂x
o que mostra o caso r = 1. Suponha que a expressão seja válida para um determinado r ∈ N. Mostremos
que vale também para r + 1. Temos,
!
r  
(r+1) d (r) d r ∂r f r−p p
g (t) = g (t) = ∑ p ∂ xr−p ∂ y p (x, y) h k
dt dt p=0
r  
∂r f ∂r f
    
r ∂ ∂
= ∑ r−p ∂ y p
(x, y) h + r−p ∂ y p
(x, y) k hr−p k p
p=0 p ∂ x ∂ x ∂ y ∂ x
r   
∂r f ∂r f
   
r r+1−p p r−p p+1
= ∑ (x, y) h k + (x, y) h k
p=0 p ∂ xr+1−p ∂ y p ∂ xr−p ∂ y p+1
r   r  
∂r f ∂r f
 
r r+1−p p r
= ∑ r+1−p ∂ y p
(x, y) h k +∑ r−p ∂ y p+1
(x, y) hr−p k p+1
p=0 p ∂ x p=0 p ∂ x
| {z }
(∗)

Note que
r r+1 
∂r f ∂r f
    
r r
∑ p ∂ xr−p ∂ y p+1 (x, y) h k = ∑ p − 1 ∂ xr+1−p ∂ y p (x, y) hr+1−p k p
r−p p+1
p=0 p=1
| {z }
(∗∗)
     
r r r+1
Além disso, vale que + = . Assim, separando a primeira parcela de (∗) e a
p p−1 p
última parcela de (∗∗), podemos agrupar os dois somatórios, resultando
r 
∂r f ∂r f ∂r f
 
(r+1) r+1 r+1 r+1
g (t) = (x, y) h + r+1 (x, y) k + ∑ (x, y) hr+1−p k p
∂ xr+1 ∂y p=1 p ∂ x r+1−p ∂ y p

r+1
∂r f
   
r+1
= ∑ r+1−p ∂ y p
(x, y) hr+1−p k p .
p=0 p ∂ x

Isso conclui a indução. Para obtermos a fórmula de Taylor enunciada, basta substituirmos a expressão
correspondente a g(r) em cada parcela da fórmula de Taylor com resto de Lagrange de g:
n
1 (r) g(n+1) (t¯)
g(t) = g(0) + ∑ g (0) + .
r=1 n! (n + 1)!


76 Capítulo 2. Derivadas

Indicaremos algumas videoaulas para ajudar o estudante a entender os conceitos do polinômio de


Taylor e também para estender a notação, de forma natural, para as 3 variáveis.

• Motivação da Fórmula do Polinômio de Taylor - Aula introdutória do assunto para explicar como
a fórmula binomial aparece, naturalmente, na expressão da fórmula de Taylor para funções de
várias variáveis.
• Polinômio de Taylor de Funções de duas Variáveis - Esta aula, explicamos detalhadamente em
como se aplica a fórmula do Polinômio de Taylor.
• Polinômio de Taylor de Funções de três Variáveis - a videoaula é bem parecida com a anterior.
Note como a notação utilizada facilita para a generalização.
  
2 2
  A B x
• A Matriz Hessiana - A fórmula [Ax + 2Bxy +Cy ] = x y vista no curso
B C y
de Geometria analítica pode ser aplicada para polinômios de Taylor de ordem 2 e a matriz que
surge é chamada Matriz Hessiana, que depende, naturalmente, das derivadas de ordem 2 da
função f . Esta matriz será importante para classificarmos pontos críticos.

2.8 Máximos e mínimos


Nesta seção introduziremos os conceitos de máximos e mínimos de funções de várias variáveis e
veremos como as derivadas podem auxiliar na busca por tais pontos, e também a obter mais informações
sobre o comportamento da função.

Definição 2.8.1 Sejam f : D ⊂ R2 → R uma função, A ⊂ D e (x0 , y0 ) ∈ A. Dizemos que (x0 , y0 ) é


um ponto de máximo de f em A se

f (x, y) ≤ f (x0 , y0 ) para todo (x, y) ∈ A.

Neste caso f (x0 , y0 ) é chamado valor máximo de f em A.


Se (x0 , y0 ) é um ponto de máximo em D (isto é, em todo domínio de f ), dizemos que esse é um
ponto de máximo global (ou absoluto) de f . Um ponto (x0 , y0 ) é chamado de ponto de máximo local
(ou relativo) de f se existe uma bola aberta B ⊂ D centrada em (x0 , y0 ) tal que

f (x, y) ≤ f (x0 , y0 ) para todo (x, y) ∈ B.

Analogamente, define-se ponto de mínimo e f em A ⊂ D, ponto de mínimo global (ou absoluto) de


f e ponto de mínimo local (ou relativo) de f . Os pontos de máximo e mínimo de f são chamados
pontos extremos ou extremantes de f .
2.8 Máximos e mínimos 77

Teorema 2.8.2 Sejam f : D → R e (x0 , y0 ) um extremante de f no interior de D. Se existem as


∂f ∂f
derivadas parciais (x0 , y0 ) e (x0 , y0 ), então elas são nulas (ou seja, ∇ f (x0 , y0 ) = (0, 0)).
∂x ∂x

Demonstração. Suponha que (x0 , y0 ) é um ponto de máximo local no interior D. Então, existe uma
bola B ⊂ D centrada em (x0 , y0 ) tal que
f (x, y) ≤ f (x0 , y0 ) para todo (x, y) ∈ B.
Assim, calculando a derivada parcial usando os limites laterais, temos
∂f f (x0 + t, y0 ) − f (x0 , y0 )
(x0 , y0 ) = lim+ ≤ 0;
∂x t→0 t
∂f f (x0 + t, y0 ) − f (x0 , y0 )
(x0 , y0 ) = lim− ≥ 0.
∂x t→0 t
∂f ∂f
Portanto, (x0 , y0 ) = 0. Um argumento análogo mostra que (x0 , y0 ) = 0. ■
∂x ∂y

Sugerimos as videoaulas Introdução a pontos Críticos e também Definição de Máximos e Mínimos


locais e a demonstração que são pontos críticos.

Observação 2.8.3 Segue do Teorema 2.8.2 que se f : D → R é diferenciável em (x0 , y0 ), e


este ponto é um extremante de f no interior de D, então o plano tangente ao gráfico de f em
(x0 , y0 , f (x0 , y0 )) é paralelo ao plano xy.

Observação 2.8.4 A recíproca do Teorema 2.8.2 não é verdadeira em geral. Por exemplo,
f (x, y) = y2 − x2 satisfaz ∇ f (0, 0) = (0, 0), mas (0, 0) não é um extremante de f (veja o Exem-
plo 2.8.10).

Definição 2.8.5 Um ponto (x0 , y0 ) no interior do domínio de f é chamado de ponto crítico de


f se ∇ f (x0 , y0 ) não existe ou ∇ f (x0 , y0 ) = (0, 0). Se (x0 , y0 ) é um ponto crítico de f mas não é
extremante, então dizemos que esse é um ponto de sela.

Observação 2.8.6 Os pontos no domínio da função que não são pontos interiores são pontos
de fronteira. O Teorema 2.8.2 não se aplica a pontos de fronteira, que devem ser analisados
separadamente.

■ Exemplo 2.8.7 Seja f (x, y) = x2 + 3x definida em D = {(x, y) ∈ R2 : x ≥ 0 e y ≥ 0}.


Note que (0, 0) é um ponto de mínimo em D, pois f (x, y) ≥ 0 para todo (x, y) ∈ A e f (0, 0) = 0. No
∂f
entanto, (0, 0) = 3 ̸= 0 (observe que (0, 0) não é ponto interior de D). ■
∂x

■ Exemplo 2.8.8 Seja f (x, y) = 1 − x2 − y2 , definida em R2 .


A função f é diferenciável e ∇ f (x, y) = (−2x, −2y). Temos,
∇ f (x, y) = (0, 0) ⇔ (x, y) = (0, 0).
Assim, o único ponto crítico de f , e portanto o único candidato a extremante, é o ponto (0, 0). Note que
f (0, 0) = 1 e f (x, y) = 1 − x2 − y2 ≤ 0 para todo (x, y) ∈ R2 .
78 Capítulo 2. Derivadas

Portanto, (0, 0) é um ponto de máximo global de f .

p
■ Exemplo 2.8.9 Seja f (x, y) = x2 + y2 definida em R2 .
Para (x, y) ̸= (0, 0), temos
∂f x ∂f y
(x, y) = p e (x, y) = p .
∂x x 2 + y2 ∂y x 2 + y2
Portanto, ∇ f (x, y) ̸= (0, 0) para todo (x, y) ̸= (0, 0). Deixamos como exercício a verificação de que não
∂f ∂f
existem (0, 0) e (0, 0). Assim, (0, 0) é o único ponto crítico de f . Note que
∂x ∂y
f (0, 0) = 0 e f (x, y) ≥ 0 para todo (x, y) ∈ R2 .
Portanto, (0, 0) é um mínimo global de f .

■ Exemplo 2.8.10 Seja f (x, y) = y2 − x2 , definida em R2 .


Então, ∇ f (x, y) = (−2x, 2y) para todo (x, y) ∈ R2 . Temos,
∇ f (x, y) = (0, 0) ⇔ (x, y) = (0, 0).
2.8 Máximos e mínimos 79

Assim, o único ponto crítico de f é o ponto (0, 0). No entanto, (0, 0) não é extremante de f . De fato,
f (0, 0) = 0 e, para qualquer bola B centrada em (0, 0), podemos tomar pontos da forma (ε, 0) e (0, ε)
em B com

f (ε, 0) = −ε 2 < 0 < ε 2 = f (0, ε).

No estudo de funções de uma variável, fizemos uso dos sinais das derivadas da função para verificar
a natureza de um ponto crítico. Mais precisamente, para uma função g : I → R definida no intervalo
aberto I, temos

• se g′ (x0 ) = 0 e g′′ (x0 ) > 0, então x0 é um ponto de mínimo local.

• se g′ (x0 ) = 0 e g′′ (x0 ) < 0, então x0 é um ponto de máximo local.

Ou mais, geralmente, se

g(k) (x0 ) = 0 para todo k ∈ {1, · · · , n − 1} e g(n) (x0 ) ̸= 0,

então,

• se n é ímpar, x0 é ponto de sela;

• se n é par e g(n) (x0 ) > 0, x0 é ponto de mínimo local;

• se n é par e g(n) (x0 ) < 0, x0 é ponto de máximo local.

No caso de funções de duas (ou mais) variáveis, o estudo correspondente se dá por meio do chamado
hessiano de f , que será definido a seguir.

Definição 2.8.11 Seja f (x, y) de classe C2 . O hessiano de f é definido pelo determinante

∂2 f ∂2 f
(x, y) (x, y)
∂ x2 ∂y∂x
H(x, y) = .
∂2 f ∂2 f
(x, y) (x, y)
∂x∂y ∂ y2
80 Capítulo 2. Derivadas

Observação 2.8.12 A matriz a qual se calcula o hessiano é chamada matriz hessiana (ou simples-
mente hessiana) de f .

Teorema 2.8.13 Seja f : D ⊂ R2 de classe C2 e x0 um ponto crítico de f no interior de D.

∂2 f
(i) Se H(x0 , y0 ) > 0 e (x0 , y0 ) > 0, então (x0 , y0 ) é um ponto de mínimo local.
∂ x2
∂2 f
(ii) Se H(x0 , y0 ) > 0 e (x0 , y0 ) < 0, então (x0 , y0 ) é um ponto de máximo local.
∂ x2
(iii) Se H(x0 , y0 ) < 0, então (x0 , y0 ) é um ponto de sela.

Observação 2.8.14 Se H(x0 , y0 ) = 0, nada se pode concluir. Pode ocorrer que (x0 , y0 ) seja ponto
de máximo local, mínimo local ou ponto de sela.

Na linguagem de álgebra linear, o item (i) do Teorema 2.8.13 equivale a dizer que a matriz hessiana
de f em (x0 , y0 ) é positiva definida (todos os seus autovalores são positivos), no item (ii) é negativa
definida (todos os autovalores são negativos) e no item (iii) a matriz hessiana é indefinida (possui
autovalores positivos e negativos).
No final desta seção, apresentaremos uma ideia da demonstração do Teorema 2.8.13.
■ Exemplo 2.8.15 Encontre e classifique os pontos críticos de f (x, y) = x4 + y4 − 2(x − y)2 .
Solução. A função f é de classe C2 em todo R2 . O gradiente de f é dado por
∇ f (x, y) = (4(x3 − x + y), 4(y3 + x − y)).
Os pontos críticos de f são dados por
4(x3 − x + y) = 0

⇒ x3 = −y3 ⇒ x = −y.
4(y3 + x − y) = 0
Logo,

y3 − 2y = 0 ⇔ y(y2 − 2) = 0 ⇔ y = 0 ou y = ± 2.
Assim, os pontos críticos de f são:
√ √ √ √
P1 = (0, 0), P2 = ( 2, − 2) e P3 = (− 2, 2).
Vamos calcular o hessiano em cada ponto crítico. Temos,
12x2 − 4 4
H(x, y) = 2 = (12x2 − 4)(12y2 − 4) − 16.
4 12y − 4
Logo,
∂2 f ∂2 f
H(P1 ) = 0, H(P2 ) = H(P3 ) = 386 > 0 2
e(P2 ) = 2 (P3 ) = 20 > 0.
∂x ∂x
Pelo Teorema 2.8.13, P2 e P3 são pontos de mínimo local.
No ponto P1 , temos f (P1 ) = 0. Aproximando P1 pela reta y = x, temos f (x, x) = 2x4 > 0. Fazendo a
aproximação pela reta y = 0, temos f (x, 0) = x2 (x2 − 2) < 0, para x2 < 2. Portanto, f assume valores
positivos e negativos em qualquer vizinhança de P1 . Daí concluímos que P1 é um ponto de sela. ■
2.8 Máximos e mínimos 81

Para entendermos melhor o enunciado do Teorema 2.8.13, sugerimos a videoaula Classificação


de pontos críticos não degenerados em dimensão 2. Para mais exemplos de classificação de pontos
críticos, sugerimos a videoaula Exemplo de Classificação de pontos Críticos.
■ Exemplo 2.8.16 Uma caixa retangular, sem tampa, deve ser feita com 12 m2 de papelão. Determine
as dimensões da caixa de modo que o volume seja máximo.
Solução. Sejam x, y e z o comprimento, a largura e a altura da caixa (em metros), respectivamente,
como mostrado na figura a seguir.

O volume da caixa é V = xyz. Podemos expressar V como função só de x e y usando o fato de que a
área dos quatro lados e do fundo da caixa é

12 − xy
2xz + 2yz + xy = 12 ⇒ z = .
2x + 2y

Portanto, devemos encontrar (x, y) que maximiza

12 − xy 12xy − x2 y2
V (x, y) = xy = ,
2x + 2y 2x + 2y

com x, y > 0 (pois são medidas, e não queremos caixa sem volume). Calculemos as derivadas parciais:

∂V y2 (12 − 2xy − x2 ) ∂V x2 (12 − 2xy − y2 )


(x, y) = e (x, y) = .
∂x 2(x + y2 ) ∂y 2(x + y)2

Procurando pelos pontos críticos:

12 − 2xy − x2 = 0

⇒ x2 = −y2 ⇒ x = y.
12 − 2xy − y2 = 0

Logo,

12 − 2 · 2
12 − 3x2 = 0 ⇒ x=2 e y=x=2 ⇒ z= = 1.
2·2+2·2
Portanto, P = (2, 2) é o único ponto crítico de V no domínio de nosso interesse. Aplicando o Teorema
2.8.13, verifica-se que P é um ponto de máximo local de V . Além disso, para x = y = 2 e z = 1 ocorre
V = 2 · 2 · 1 = 4. Deixamos como exercício a verificação de que, para 0 ≤ xy ≤ 12 (com x, y ≥ 0),
tem-se V (x, y) ≤ 4. Portanto, o volume máximo da caixa é 4. ■

Caso de 3 ou mais variáveis


Seja f (x1 , · · · , xn ) uma função real de n variáveis. De modo análogo o que foi feito para funções de
duas variáveis, define-se ponto de máximo e mínimo (local ou global), ponto crítico, ponto de sela e,
82 Capítulo 2. Derivadas

prova-se que, se P = (a1 , · · · , an ) é um extremante no interior do domínio de f tal que e ∇ f (P) existe,
então ∇ f (P) = 0.
Suponha que f é de classe C2 . O hessiano de f no ponto X = (x1 , · · · , xn ) é definido por

∂2 f ∂2 f ∂2 f
(X) (X) · · · (X)
∂ x12 ∂ x1 ∂ x2 ∂ x1 ∂ xn
H(X) = .. .. .
. .
∂2 f ∂2 f ∂2 f
(X) (X) · · · (X)
∂ xn ∂ x1 ∂ xn ∂ x2 ∂ xn2

Considere as funções auxiliares

∂2 f ∂2 f ∂2 f
(X) (X) · · · (X)
∂ x12 ∂ x1 ∂ x2 ∂ x1 ∂ xi
Hi (X) = .. .. ,
. .
∂2 f ∂2 f ∂2 f
(X) (X) · · · (X)
∂ xi ∂ x1 ∂ xi ∂ x2 ∂ xi2

para todo i ∈ {1, · · · , n} (note que Hn (X) = H(X)).


Apresentamos a seguir a extensão do Teorema 2.8.13.

Teorema 2.8.17 Suponha P é um ponto interior do domínio de f tal que ∇ f (P) = ⃗0 e Hi (P) ̸= 0
para todo i ∈ {1, · · · , n}.

(i) Se H1 (P) > 0, H2 (P) > 0, . . . , Hn (P) > 0, então P é um ponto de mínimo local.

(ii) Se Hi (P) < 0 para todo i ímpar, e Hi (P) > 0 para todo i par, então P é ponto de máximo
local.

(iii) Caso contrário (não ocorre (i) nem (ii)), então P é ponto de sela.

Novamente, na linguagem de álgebra linear, o item (i) do teorema anterior equivale a dizer que a
matriz hessiana de f em P é positiva definida, no item (ii) é negativa definida e no item (iii) a matriz
hessiana é indefinida. Sugerimos a videoaula Critério de Sylvester para Classificação de Pontos Críticos
em 3 variáveis

Ideia da demonstração do Teorema 2.8.13. Utilizaremos o seguinte lema, cuja demonstração será dei-
xada como exercício (dica: faça um completamento de quadrados).

Lema. Sejam a, b, c ∈ R e Q(x, y) = ax2 + 2bxy + cy2 .

(i) Se a > 0 e ac − b2 > 0, então Q(x, y) > 0 para todo (x, y) ̸= (0, 0).

(ii) Se ac − b2 < 0, então existem (x1 , y1 ) e (x2 , y2 ) tais que Q(x1 , y1 ) > 0 e Q(x2 , y2 ) < 0.

Começaremos pelo item (iii). Fixemos uma direção ⃗v = (h, k). Considere

g(t) = f (x0 + ht, y0 + kt).


2.8 Máximos e mínimos 83

Derivando, pela Regra da Cadeia, tem-se

∂f ∂f
g′ (t) = (x0 + ht, y0 + kt) h + (x0 + ht, y0 + kt) h e g′ (0) = 0
∂x ∂x
 ∂f ∂f 
lembre que (x0 , y0 ) = (x0 , y0 ) = 0 . Derivando novamente, e aplicando em t = 0, obtém-se
∂x ∂y

∂2 f ∂2 f ∂2 f
g′′ (0) = (x0 , y 0 ) h2
+ 2 (x 0 , y 0 ) h k + (x0 , y0 ) k2 .
∂ x2 ∂x∂y ∂ y2

∂2 f ∂2 f ∂2 f
Olhando para Q(h, k) = ah2 + 2bhk + ck2 com a = (x 0 , y0 ), b = (x0 , y 0 ) e c = (x0 , y0 ),
∂ x2 ∂x∂y ∂ y2
temos ac − b2 < 0 (pois o hessiano é negativo), logo, pelo item (ii) do lema anterior, existem (h1 , k1 ) e
(h2 , k2 ) tais que Q(h1 , k1 ) > 0 e Q(h2 , k2 ) < 0. Assim, tomando as direções⃗v1 = (h1 , k1 ) e⃗v2 = (h2 , k2 ),
segue que

∂2 f ∂2 f ∂2 f
g′′1 (0) = (x0 , y 0 ) h2
1 + 2 (x 0 , y 0 ) h 1 k 1 + (x0 , y0 ) k12 > 0
∂ x2 ∂x∂y ∂ y2
e

∂2 f ∂2 f ∂2 f
g′′2 (0) = (x0 , y 0 ) h2
2 + 2 (x 0 , y 0 ) h 2 k 2 + (x0 , y0 ) k22 < 0.
∂ x2 ∂x∂y ∂ y2

Portanto, t = 0 é ponto de mínimo local de g1 (t) = f (x0 + h1t, y0 + k1t) e de máximo local de
g2 (t) = f (x0 + h2t, y0 + k2t), o que mostra que (x0 , y0 ) não extremante local de f e conclui a prova
desse item.
∂2 f
Faremos agora o item (i). Pela hipótese H(x0 , y0 ) > 0 e (x0 , y0 ) > 0, e, pela continuidade das
∂ x2
∂2 f
funções H(x, y) e (x, y), existe uma bola aberta B ⊆ D centrada em (x0 , y0 ) tal que
∂ x2

∂2 f
H(x, y) > 0 e (x, y) > 0 para todo (x, y) ∈ B.
∂ x2
Pela Fórmula de Taylor com resto de Lagrange (com n = 1), para todo (h, k) ̸= (0, 0) tal que
(x0 + h, y0 + k) ∈ B, existe (x̄, ȳ) interno ao segmento de extremidades (x0 , y0 ) e (x0 + h, y0 + k) satisfa-
zendo

1 ∂2 f ∂2 f ∂2 f
 
2 2
f (x0 + h, y0 + k) − f (x0 , y0 ) = (x̄, ȳ)h + 2 (x̄, ȳ)hk + 2 (x̄, ȳ)k .
2 ∂ x2 ∂x∂y ∂y

∂2 f
Como (x̄, ȳ) ∈ B, temos H(x̄, ȳ) > 0 e (x̄, ȳ) > 0. Por fim, segue do lema anterior que
∂ x2
f (x0 + h, y0 + k) − f (x0 , y0 ) > 0, ou seja,

f (x, y) − f (x0 , y0 ) > 0 ⇔ f (x, y) > f (x0 , y0 ) para todo (x, y) ∈ B \ {(x0 , y0 )},

provando assim que (x0 , y0 ) é um ponto de mínimo local de f . O item (ii) segue demonstrando-se que
(x0 , y0 ) é ponto de mínimo local de g(x, y) = − f (x, y). ■

Para demonstrações mais precisas, sugerimos as seguintes videoaulas:


84 Capítulo 2. Derivadas

• A classificação de ponto críticos não-degenerados depende apenas da parte quadrática - Uma


demonstração técnica de que o ponto é mínimo local se e somente se a matriz Hessiana é positiva
definida. Para a demonstração deste resultado, é necessário do Teorema de Weierstrass.

• Demonstração da Classificação de pontos críticos não-degenerados em dimensão 2 - Esta aula


faz uma pequena explicação sobre os pontos de sela e um breve resumo da aula anterior. Depois
disso, olhamos a parte quadrática e fazemos a demonstração dela completando quadrado.

• Demonstração do Critério de Sylvester para Funções de 3 variáveis - Demonstramos o Critério


de Sylvester utilizando apenas completamento de quadrados.

2.9 Máximos e mínimos em compactos

Vimos na seção anterior alguns critérios que nos ajudam a determinar os extremantes que estão
no interior do domínio da função. No entanto, muitas vezes estaremos interessados em determinar
extremantes da função em conjuntos fechados e limitados ou com uma ou mais restrições dadas, por
exemplo, na forma g(x, y) = 0. Nesta seção, trabalharemos com problemas dessa natureza.

Definição 2.9.1 Dizemos que um conjunto A ⊂ Rn é compacto se A é simultaneamente fechado e


limitado.

Teorema 2.9.2 — de Weierstrass. Se f (x, y) é contínua no conjunto compacto A, então existem


(x1 , y1 ) e (x2 , y2 ) em A tais que

f (x1 , y1 ) ≤ f (x, y) ≤ f (x2 , y2 ) para todo (x, y) ∈ A.

Sugerimos a videoaula Teorema de Weierstrass de funções de duas variáveis para reconhecimento


de conjuntos compactos.
O Teorema de Weierstrass garante que toda função contínua num compacto possui máximo e
mínimo. Para determinar tais pontos, admitindo que f possui derivadas parciais nos pontos interiores
de A, procuramos os extremantes no interior de A com o estudo dos pontos críticos. Em seguida,
determinamos os pontos de máximo e mínimo na fronteira de A. Por fim, comparamos os valores de
f nos pontos de máximo e mínimo do interior e da fronteira de A, para concluir quais são os valores
máximo e mínimo de f em todo o conjunto A.

Observação 2.9.3 O Teorema de Weierstrass também é válido para funções de 3 ou mais variáveis.

■ Exemplo 2.9.4 Determine os extremantes de f (x, y) = xy em A = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y2 ≤ 1}.


Solução. Como f é contínua no conjunto compacto A, pelo Teorema de Weierstrass, f admite máximo
e mínimo em A.
Vejamos, primeiramente, quem são os pontos críticos de f no interior de A, que é o conjunto

A◦ = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y2 < 1}.

Temos ∇ f (x, y) = (y, x), logo (0, 0) é o único ponto crítico de f . Note que (0, 0) não é ponto de máximo
nem mínimo de f (verifique). Portanto, os extremantes de f deverão estar na fronteira de A, que é o
conjunto

∂ A = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y2 = 1} = {(cost, sent) ∈ R2 : 0 ≤ t ≤ 2π}.


2.9 Máximos e mínimos em compactos 85

A função f avaliada em ∂ A é dada por

1
f (cost, sent) = sen (2t), 0 ≤ t ≤ 2π.
2
1 π 5π
A função g(t) = sen(2t) atinge seu máximo em t = e t= , o que corresponde aos pontos
√ √ ! 2 √ √ ! 4 4
2 2 2 2
, e − ,− em ∂ A. Esses são, portanto, os pontos de máximo de f em ∂ A.
2 2 2 2
1 3π 7π
A função sen(2t) atinge seu mínimo em t = e t= , o que corresponde aos pontos
√ √2 ! √ √ ! 4 4
2 2 2 2
− , e ,− em ∂ A. Esses são, portanto, os pontos de mínimo de f em ∂ A.
2 2 2 2
A figura a seguir, na qual estão desenhadas algumas curvas de nível de f , fornece uma visão geométrica
do problema.

■ Exemplo 2.9.5 Encontre o máximo e o mínimo da função f (x, y) = (x − 2)2 y + y2 − y no conjunto


A = {(x, y) ∈ R2 : x ≥ 0, y ≥ 0 e x + y ≤ 4}.

Solução. Como f é contínua no conjunto compacto A, f admite máximo e mínimo em A. Vejamos


quem são os pontos críticos de f no interior de A:

A◦ = {(x, y) ∈ R2 : x > 0, y > 0 e x + y < 4}.


86 Capítulo 2. Derivadas

Precisamos encontrar os pontos (x, y) tais que ∇ f (x, y) = 0. Para isso, resolvemos os sistema de
equações


∂f

 (x, y) = 2y(x − 2) = 0
∂x

.
∂f 2
(x, y) = (x − 2) + 2y − 1 = 0



∂y

Da equação 2y(x − 2) = 0, segue que y = 0 ou x = 2. Note que os pontos com y = 0 não estão em A◦ .
1
Assim, nos resta apenas a possibilidade x = 2. Substituindo x = 2, na segunda equação, obtemos y = .
    2
1 ◦ 1 1
Portanto, 2, é o único ponto crítico de f em A , com f 2, =− .
2 2 4
Vejamos, agora, o comportamento da função na fronteira de A.
Para y = 0 e 0 ≤ x ≤ 4, a função f se anula.
Para x = 0 e 0 ≤ y ≤ 4, considere a função g(y) = f (0, y) = 3y + y2 . Esta função é estritamente
crescente para y no intervalo [0, 4]. Assim, nesse segmento, f varia entre 0 = g(0) = f (0, 0) e
28 = g(4) = f (0, 4).
Para x + y = 4 e 0 ≤ y ≤ 4, considere a função h(y) = f (4 − y, y) = y3 − 3y2 + 3y = (y − 1)3 + 1.
A derivada h′ (y) = 3(y − 1)2 é sempre positiva (exceto em y = 1, onde se anula). Portanto, h também
é uma função crescente em 0 ≤ y ≤ 4. Assim, nesse segmento f varia entre 0 = h(0) = f (0, 0) e
28 = h(0) = f (0, 4).
Tendo avaliado todas as possibilidades no interior e na fronteira do conjunto
 A e comparando-se os

1 1
valores obtidos, conclui-se que f atinge seu valor mínimo − no ponto 2, e seu valor máximo
4 2
28 no ponto (0, 4). ■

Para mais exemplos, sugerimos as videoaulas Exemplo 1 com o Teorema de Weierstrass, Exemplo
2 com o Teorema de Weierstrass e também Exemplo 3 com o Teorema de Weierstass.
Para uma explicação do Teorema de Weierstrass para dimensão 3, sugerimos as videoaulas Teorema
de Weierstrass em Dimensão 3 - Reconhecendo conjuntos compactos e também Teorema de Weierstrass
em Dimensão 3 - Parametrizando a curva
Para quem tiver interessado na demonstração do Teorema de Weierstass, recomendamos a videoaula
Demonstração do Teorema de Weierstrass em duas variáveis. Deixamos claro que, com o pequena
adaptação na argumentação dada no vídeo, é possível mostrar o Teorema de Weierstrass para funções
de várias variáveis.

2.10 Multiplicadores de Lagrange

Para uma boa introdução desta seção, sugerimos a videoaula Introdução a Multiplicadores de
Lagrange em Dimensão 2.
Sejam f (x, y) e g(x, y) duas funções diferenciáveis, sendo g de classe C1 . Suponha que queremos
determinar os extremantes de f restrita ao conjunto de pontos que satisfaz g(x, y) = 0 (isto é, em uma
curva de nível da função g). Vamos imaginar a situação esboçada na figura a seguir, que representa as
curvas de nível da função z = f (x, y). Suponha que z cresce no sentido indicado na figura.
2.10 Multiplicadores de Lagrange 87

Para maximizar f restrita ao conjunto B = {(x, y) ∈ R2 : g(x, y) = 0}, é preciso determinar o maior
valor de c tal que a curva de nível f (x, y) = c intercepte g(x, y) = 0. É natural esperar que isso ocorra em
(x0 , y0 ) ∈ B quando a curva de nível de f que passa por (x0 , y0 ) é tangente a curva dada pela restrição
g(x, y) = 0 no ponto (x0 , y0 ), ou seja, quando ∇ f (x0 , y0 ) e ∇g(x0 , y0 ) são paralelos, ou equivalentemente,
existe λ ∈ R tal que ∇ f (x0 , y0 ) = λ ∇g(x0 , y0 ).

Portanto, geometricamente concluímos que uma condição necessária para que um ponto (x, y) ∈ B seja
extremante de f restrita a B é que ele satisfaça

g(x, y) = 0 e ∇ f (x, y) = λ ∇g(x, y) para algum λ ∈ R. (2.19)

O processo de se determinar possíveis candidatos a extremantes partindo-se destas condições é chamado


método dos multiplicadores de Lagrange. Os valores de λ para os quais as condições em (2.19) são
satisfeitas são chamados multiplicadores de Lagrange.
A discussão geométrica anterior está sintetizada no enunciado próximo teorema, para o qual
daremos uma demonstração formal em seguida.

Teorema 2.10.1 Sejam f e g funções diferenciáveis no aberto A ⊂ R2 , sendo g de classe C1 .


Suponha que ∇g(x, y) ̸= (0, 0) para todo (x, y) no conjunto B = {(x, y) ∈ R2 : g(x, y) = 0}. Uma
condição necessária para que (x0 , y0 ) ∈ B seja extremante local de f restrita a B é que exista λ0 ∈ R
tal que

∇ f (x0 , y0 ) = λ0 ∇g(x0 , y0 ).

A demonstração se encontra na videoaula Demonstração de Multiplicadores de Lagrange em Dimensão


2. Faremos esta demonstração também no texto.
88 Capítulo 2. Derivadas

Demonstração. Suponha que (x0 , y0 ) ∈ B é um ponto de máximo local de f restrita a B. Então existe
uma bola aberta V de centro (x0 , y0 ) tal que

f (x, y) ≤ f (x0 , y0 ) para todo (x, y) ∈ V ∩ B.

Seja γ uma curva diferenciável definida em um aberto I ⊂ R tal que γ(t0 ) = (x0 , y0 ) para algum t0 ∈ I,
γ ′ (t0 ) ̸= ⃗0 e g(γ(t)) = 0 para todo t ∈ I (a existência de tal curva é garantida pelo Teorema da Funções
Implícita). Sendo γ contínua, existe δ > 0 tal que

γ(t) ∈ V ∩ B para todo t ∈ ]t0 − δ ,t0 + δ [ .

Daí, segue que

f (γ(t)) ≤ f (γ(t0 )) para todo t ∈ ]t0 − δ ,t0 + δ [ .

Assim, t0 é um ponto de máximo da função real F(t) = f (γ(t)) no interior de I, e portanto F ′ (t0 ) = 0.
Pela regra da cadeia, temos

∇ f (γ(t0 )) · γ ′ (t0 ) = 0.

Por outro lado, a Regra da Cadeia aplicada a g(γ(t)) = 0 resulta em

∇g(γ(t0 )) · γ ′ (t0 ) = 0.

Logo, ambos ∇g(γ(t0 )) = ∇g(x0 , y0 ) e ∇ f (γ(t0 )) = ∇ f (x0 , y0 ) pertencem ao complemento ortogonal


de γ ′ (t0 ), que é um espaço unidimensional. Sendo ∇g(x, y) ̸= (0, 0), concluímos então que existe
λ0 ∈ R tal que

∇ f (x0 , y0 ) = λ0 ∇g(x0 , y0 ).

■ Exemplo 2.10.2 Encontre a menor distância entre a origem e um ponto da hipérbole

x2 + 8xy + 7y2 − 255 = 0.

Solução. A distância de um ponto (x, y) à origem é dada por


p
d(x, y) = x2 + y2 .

Queremos encontrar o mínimo desta função com a restrição g(x, y) = 0, onde

g(x, y) = x2 + 8xy + 7y2 − 255.

Note que o ponto de mínimo para a função d é igual ao ponto de mínimo para f (x, y) = x2 + y2 . Além
disso, as funções f e g são de classe C1 em R2 e

∇g(x, y) = (2x + 8y, 8x + 14y)

se anula apenas no ponto (0, 0), e este não satisfaz g(x, y) = 0. Pelo Teorema 2.10.1, os possíveis
candidatos a mínimo de f na hipérbole devem satisfazer

∇ f (x, y) = λ ∇g(x, y) para algum λ ∈ R.


2.10 Multiplicadores de Lagrange 89

Isto é, devemos ter

(2x, 2y) = λ (2x + 8y, 8x + 14y).

Esta igualdade nos dá o sistema


 
2x = λ (2x + 8y) (1 + λ )x + 4λ y = 0
⇒ .
2y = λ (8x + 14y) 4λ x + (1 + 7λ )y = 0

Se esse sistema linear homogêneo possui apenas uma solução, ela deve ser x = 0 e y = 0, a qual não
satisfaz g(x, y) = 0. Logo, o determinante dos coeficientes do sistema deve ser nulo. Ou seja,

1+λ 4λ
0= = (1 + λ )(1 + 7λ ) − 16λ 2 = 1 + 8λ − 9λ 2 .
4λ 1 + 7λ

1
Daí, devemos ter λ = 1 ou λ = − . No entanto, para λ = 1, o sistema resultante não admite solução
9
1
real. Para λ = − , a solução do sistema é y = 2x.
9
Para satisfazer a condição g(x, y) = 0, substituímos
√ y = 2x na√equação x2 + 8xy + 7y2 − 255 = 0, o que
resulta em 45x2 − 255 = 0.√Daí,√obtemos x√ = 5√ ou x = − 5. Como
√ y√ = 2x, os possíveis
√ candidatos

a ponto de mínimo são ( 5, 2 5) e (− 5, −2 5). Temos, f ( 5, 2 5) = f (− 5, −2 5) = 25,
donde segue que a distância mínima procurada é 5. ■

Observação 2.10.3 Se ∇g(x0 , y0 ) = 0, então o ponto (x0 , y0 ) pode ser um extremante de f restrita
a g(x, y) = 0 sem satisfazer necessariamente a condição ∇ f (x0 , y0 ) = λ0 ∇g(x0 , y0 ), como veremos
no exemplo a seguir.

■ Exemplo 2.10.4 Encontre o ponto da curva C de equação (1 − x)3 + y2 = 0 mais próximo da origem.
Solução. Queremos encontrar o ponto de mínimo de f (x, y) = x2 + y2 restrito à g(x, y) = (1 − x)3 + y2 =
0. Note que ∇g(x, y) = (−3(1 − x)2 , 2y) se anula apenas no ponto (1, 0), que pertence à curva C.
Supondo (x, y) ̸= (1, 0), a condição ∇ f (x, y) = λ ∇g(x, y) nos dá o sistema

2x = −3λ (1 − x)2

.
2y = 2λ y

Da segunda equação, temos y = 0 ou λ = 1. Se y = 0, então g(x, y) = 0 implica

(1 − x)3 + 02 = 0 ⇒ x = 1.

No entanto, x = 1 não satisfaz a primeira equação do sistema. Se λ = −1, a primeira equação resulta
em 2x = −3(1 − x)2 , que não admite solução real. Portanto o sistema não possui solução.
Veremos que o ponto (1, 0) é solução do problema. De fato, se (x, y) ∈ C, então

(1 − x)3 = −y2 ≤ 0.

Logo, se (x, y) ∈ C, temos x ≥ 1. Assim, f (x, y) = x2 + y2 ≥ 1 para todo (x, y) ∈ C. Como f (1, 0) = 1,
o ponto (1, 0) é o ponto de mínimo de f em C.
90 Capítulo 2. Derivadas

Para mais exemplos, recomendamos as videoaulas Multiplicadores de Lagrange - Exemplo 1 e


também Multiplicadores de Lagrange - Exemplo 2.
O Teorema 2.10.1 admite versões para funções de mais variáveis. A seguir, enunciamos o resultado
para funções de 3 variáveis.

Teorema 2.10.5 Sejam f e g funções diferenciáveis no aberto A ⊂ R3 , sendo g de classe C1 .


Suponha que ∇g(x, y, z) ̸= (0, 0, 0) para todo (x, y, z) no conjunto B = {(x, y, z) ∈ R3 : g(x, y, z) = 0}.
Uma condição necessária para que (x0 , y0 , z0 ) ∈ B seja extremante local de f restrita a B é que exista
λ0 ∈ R tal que

∇ f (x0 , y0 , z0 ) = λ0 ∇g(x0 , y0 , z0 ).

■ Exemplo 2.10.6 De todos os paralelepípedos retangulares cuja soma das arestas é constante e igual a

a > 0, qual é o que tem volume máximo?


Solução. Denotando por x, y, z as medidas das três arestas partindo de um mesmo vértice, o volume
é dado pela função V (x, y, z) = xyz. Seja g(x, y, z) = x + y + z. Do enunciado, temos g(x, y, z) = a.
Fazendo ∇V (x, y, z) = λ ∇g(x, y, z), obtemos o sistema

 yz = λ
xz = λ .
xy = λ

Lembre que x, y e z são medidas estritamente positivas. Assim, igualando as duas primeiras equações,
obtemos x = y. Igualando as duas últimas, obtemos y = z. Portanto, x = y = z.
a
Como x + y + z = a, concluímos que x = y = z = .
3
 a a a  a3
O volume máximo é dado por V , , = . ■
3 3 3 27
Para maior aprofundamento do assunto, sugerimos as videoaulas:

• Multiplicadores de Lagrange em Dimensão 3 - Introdução a Multiplicadores de Lagrange de 3


variáveis e uma única restrição.
• Refazendo um exemplo de otimização com Multiplicadores de Lagrange - Esta aula refazemos o
exemplo de encontrar 3 números positivos cuja soma é 15 e a multiplicação seja máxima, mas
agora utilizando multiplicadores de Lagrange.
2.10 Multiplicadores de Lagrange 91

• Multiplicadores de Lagrange - Exemplo 3 - Fazemos um exemplo de Multiplicadores de Lagrange


em dimensão 3. Repare que é interessante observar as simetrias do problema para simplificarmos
as contas.

• Demonstração de Multiplicadores de Lagrange em Dimensão 3 e uma restrição.

Teorema 2.10.7 Sejam f , g e h funções diferenciáveis em um aberto A ⊂ R3 , com g e h de classe


C1 . Seja B = {(x, y, z) ∈ R3 : g(x, y, z) = 0 e h(x, y, z) = 0}. Suponha que ∇g(x, y, z) × ∇h(x, y, z)
não se anula em B. Então, uma condição necessária para que (x0 , y0 , z0 ) seja um extremante de f
restrita a B é que existam λ1 e λ2 tais que

∇ f (x0 , y0 , z0 ) = λ1 ∇g(x0 , y0 , z0 ) + λ2 ∇h(x0 , y0 , z0 ). (2.20)

A demonstração se encontra na videoaula Demonstração de Multiplicadores de Lagrange em


Dimensão e duas restrições. Faremos a demonstração no texto também.

Demonstração. Suponha que (x0 , y0 , z0 ) é um ponto de máximo de f restrita a B. Podemos supor que
∇ f (x0 , y0 , z0 ) ̸= ⃗0 (caso contrário, λ1 = λ2 = 0 nos dá a propriedade enunciada). Como A é aberto,
podemos tomar V ⊂ A uma bola aberta de centro (x0 , y0 , z0 ) tal que

f (x, y, z) ≤ f (x0 , y0 , z0 ) para todo (x, y, z) ∈ B ∩V.

Considere uma curva diferenciável γ : I → R2 definida no intervalo aberto I ⊂ R e t0 ∈ I tal que γ(t0 ) =
(x0 , y0 , z0 ), γ ′ (t0 ) ̸= ⃗0 e γ(t) ∈ B para todo t ∈ I (a existência de tal curva é garantida pelo Teorema das
Função Implícita III). Da continuidade de γ, existe δ > 0 tal que, para todo t ∈ ]t0 − δ ,t0 + δ [ , temos

γ(t) ∈ B ∩V ⇒ f (γ(t)) ≤ f (γ(t0 )).

Assim, t0 é um ponto de máximo local para a função F(t) = f (γ(t)). Portanto,

F ′ (t0 ) = 0 ⇒ ∇ f (γ(t0 )) · γ ′ (t0 ) = 0.

Por outro lado, como γ(t) ∈ B para todo t ∈ I, temos g(γ(t)) = 0 e h(γ(t)) = 0. Derivando estas
igualdades, temos

∇g(γ(t0 )) · γ ′ (t0 ) = 0 e ∇h(γ(t0 )) · γ ′ (t0 ) = 0.

Como ∇g(x, y, z) × ∇h(x, y, z) ̸= ⃗0, temos, em particular, que ∇g(x, y, z) e ∇h(x, y, z) são não nulos.
Portanto, ∇ f (γ(t0 )), ∇g(γ(t0 )) e ∇h(γ(t0 )) são três vetores não nulos pertencentes ao complemento
92 Capítulo 2. Derivadas

ortogonal de γ ′ (t0 ) em R3 (que é um espaço bidimensional). Logo, esses três vetores são linearmente
dependentes. Então, existem λ1 e λ2 tais que

∇ f (x0 , y0 , z0 ) = λ1 ∇g(x0 , y0 , z0 ) + λ2 ∇h(x0 , y0 , z0 ).

Observação 2.10.8 Um fato conhecido da Álgebra Linear é que, 3 vetores em R3 são linearmente
dependentes se, e somente se, a matriz 3x3 cujas linhas são as coordenadas desses 3 vetores é singular.
Agora, a condição (2.20) é equivalente a dizer que os três vetores ∇ f (x0 , y0 , z0 ), ∇g(x0 , y0 , z0 ) e
∇h(x0 , y0 , z0 ) são linearmente dependentes (lembre que ∇g(x, y, z) × ∇h(x, y, z) ̸= ⃗0). Portanto, uma
maneira alternativa de procurar os candidatos a extremantes de f em B, sem precisar considerar λ1 e
λ2 , é procurar pelos pontos (x, y, z) que anulam o determinante da matriz cujas linhas são ∇ f (x, y, z),
∇g(x, y, z) e ∇h(x, y, z).

■ Exemplo 2.10.9 Determine os pontos mais afastados da origem cujas coordenadas estão sujeitas às
restrições x2 + 4y2 + z2 = 4 e x + y + z = 1.
Solução. Sejam h(x, y, z) = x2 + y2 + z2 − 4 e g(x, y, z) = x + y + z − 1. Queremos encontrar os pontos
de máximo de f (x, y, z) = x2 + y2 + z2 sujeita às restrições h(x, y, z) = 0 e g(x, y, z) = 0.
Seja B = {(x, y, z) ∈ R3 : h(x, y, z) = 0 e g(x, y, z) = 0}. Temos,

⃗i ⃗j ⃗k
∇g(x, y, z) × ∇h(x, y, z) = 1 1 1 ̸= ⃗0 em B (verifique).
2x 8y 2z

Os candidatos a extremantes de f restrita a B são os pontos (x, y, z) em B que satisfazem, para algum
par λ1 e λ2 ,

∇ f (x, y, z) = λ1 ∇g(x, y, z) + λ2 ∇h(x, y, z).

Isso nos dá o sistema


 
 2x = λ1 + 2λ2 x  λ1 = 2x − 2λ2 x
2y = λ1 + 8λ2 y ⇒ λ1 = 2y − 8λ2 y .
2z = λ1 + 2λ2 z λ1 = 2z − 2λ2 z
 

Daí, segue que

2x(1 − λ2 ) = 2y(1 − 4λ2 ) = 2z(1 − λ2 ). (2.21)

Supondo λ2 ̸= 1, temos x = z. Logo, as condições g(x, y, z) = 0 e h(x, y, z) = 0 ficam

2x + y − 1 = 0 e 2x2 + 4y2 − 4 = 0.

Substituindo y = 1 − 2x na segunda equação, temos

8
2x2 + 4(1 − 2x)2 − 4 = 0 ⇔ 9x2 − 8x = 0 ⇔ x = 0 ou x = .
9
 
8 7 8
Isso nos dá os candidatos (0, 1, 0) e ,− , .
9 9 9
2.10 Multiplicadores de Lagrange 93

Se λ2 = 1, substituindo esse valor em (2.21), temos

2y(1 − 4) = 0 ⇒ y = 0.

Nesse caso, as condições g(x, y, z) = 0 e h(x, y, z) = 0 ficam

x+z−1 = 0 e x 2 + z2 − 4 = 0

substituindo z = 1 − x na segunda equação, temos



2 2 2 1± 7
x + (1 − x) − 4 = 0 ⇔ 2x − 2x − 3 = 0 ⇔ x = .
2
√ √ ! √ √ !
1+ 7 1− 7 1− 7 1+ 7
Com isso, temos mais dois candidatos, , 0, e , 0, .
2 2 2 2
Como f é contínua no compacto B, basta compararmos os valores de f em todos os candidatos
encontrados. Temos,
  √ √ ! √ √ !
8 7 8 171 1− 7 1+ 7 1+ 7 1− 7
f (0, 1, 0) = 1, f ,− , = , f , 0, =f , 0, = 4.
9 9 9 81 2 2 2 2

√ √ ! √ √ !
1+ 7 1− 7 1− 7 1+ 7
Portanto, concluímos que , 0, e , 0, são os pontos em B mais
2 2 2 2
afastados da origem, ao passo que (0, 1, 0) é o ponto em B mais próximo da origem.
Alternativamente, se fosse usada a ideia da Observação 2.10.8, teríamos que os candidatos a
extremantes de f restrita a B são os pontos (x, y, z) em B que satisfazem

2x 2y 2z
1 1 1 = 4(xz + 4yz + xy − xz − 4xy − yz) = 0.
2x 8y 2z

Isso, junto com as condições em B, nos dá o sistema



 xz + 4yz + xy − xz − 4xy − yz = 0
x2 + 4y2 + z2 = 4
x+y+z = 1

cujas soluções são os mesmos 4 vetores encontrados anteriormente. Vale a pena avaliar em cada
exemplo qual dos dois sistemas fica mais simples de se resolver. ■

Dependendo do conjunto compacto, pode ser necessário, para o mesmo problema, utilizar duas
versões de multiplicadores de Lagrange. Veja o exemplo a seguir.
■ Exemplo 2.10.10 Determine, caso existam, os pontos de máximo e mínimo da função f (x, y, z) =

x2 − 2y2 − 2z2 no conjunto B = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y2 + (z − 1)2 ≤ 5 e x + z = 2}.


Solução. Observe que o conjunto B é fechado, pois é a interseção de dois conjuntos fechados (a esfera
preenchida e o plano), e também é limitado, portanto é compacto. Como a função f é contínua, pelo
Teorema de Weierstrass, f admite máximo e mínimo em B.
94 Capítulo 2. Derivadas

Sejam g(x, y, z) = x2 + y2 + (z − 1)2 − 5 e h(x, y, z) = x + z − 2. Temos ∇ f (x, y, z) = (2x, −4y, −4z).


Procuremos, primeiramente, os candidatos a máximo e mínimo de f no plano x + z = 2. Observe que
∇h(x, y, z) = (1, 0, 1) ̸= (0, 0, 0), então, pelo Teorema 2.10.5, os candidatos são as soluções do sistema


 2x = λ
−4y = 0

.

 −4z = λ
x+z = 2

Da segunda equação, temos que y = 0, e da última, z = 2 − x. Assim,


2x = λ = −4z = −4(2 − x) ⇒ x=4 ⇒ z = 2 − 4 = −2.
Assim, obtemos o candidato (4, 0, −2). Como 42 + 0 + (−2 − 1)2 = 25 > 5, temos que (4, 0, −2) ∈
/ B,
e portanto já descartamos esse ponto.
Procuremos agora os candidatos a extremantes de f sobre a curva γ dada pela interseção da casca da es-
fera x2 +y2 +(z−1)2 = 5 com o plano x+z = 2. Neste caso, estamos com duas restrições g(x, y, z) = 0 e
h(x, y, z) = 0 (Teorema 2.10.7). Temos ∇g(x, y, z) × ∇h(x, y, z) ̸= (0, 0, 0) em γ (verifique). Logo, os can-
didatos a extremantes de f em γ são os pontos (x, y, z) em γ tais que {∇ f (x, y, z), ∇g(x, y, z), ∇h(x, y, z)}
é L.D., ou seja (Observação 2.10.8),
2x −4y −4z
2x 2y 2z − 2 = 4(3xy + 2y) = 0.
1 0 1
Assim, ficamos com o sistema

 3xy + 2y = 0
x + y + (z − 1)2 = 5
2 2

x+z = 2

   
2 4 8 2 4 8
cujas soluções são (−1, 0, 3), (2, 0, 0), − , , e − ,− , . Avaliando em f , temos
3 3 3 3 3 3
   
2 4 8 2 4 8 52
f (−1, 0, 3) = −17, f (2, 0, 0) = 4, f − , , = f − ,− , = − ≈ −17, 3.
3 3 3 3 3 3 3
 
2 4 8
Portanto, (2, 0, 0) é o ponto de máximo de f em B e − , ± , são os pontos de mínimo de f em
3 3 3
B. ■

Para mais um exemplo dessa natureza, veja a videoaula Exemplo de Problema de Otimização.
Capítulo 3

Integrais múltiplas

Neste capítulo, estenderemos o conceito de integral definida de função de uma variável, vista no
Cálculo I, para funções de duas (integral dupla) e três (integral tripla) variáveis. As integrais duplas
e triplas possuem diversas aplicações, dentre elas os cálculos de áreas e volumes, centro de massa,
momento de inércia e probabilidades.
Antes de apresentarmos os novos conceitos, relembraremos rapidamente a definição de integral
definida (integral de Riemann) para uma função de uma variável f : [a, b] → R. Dada uma partição
P : a = x0 < x1 < x2 < · · · < xn = b e ci ∈ [xi−1 , xi ] arbitrário, i = 1, . . . , n, o número
n
∑ f (ci )∆xi = f (c1 )∆x1 + f (c2 )∆x2 + · · · + f (cn )∆xn
i=1

é a soma de Riemann de f relativa à partição P e aos números ci ’s. Observe que f (ci )∆xi é a área do
retângulo com base ∆xi = xi − xi−1 e altura f (ci ), e portanto, quanto menores os ∆xi , melhor a soma de
Riemann ∑ni=1 f (ci )∆xi aproxima da área da região delimitada pelo gráfico de f , eixo x e retas x = a e
x = b.

A integral de f em [a, b], quando existe, é dada por


Z b n
f (x) dx = lim ∑ f (ci )∆xi .
a max ∆xi →0 i=1

Esse último limite, que é o limite das somas de Riemann de f , existe e é igual a L se, dado ε > 0,
n
existe δ > 0 (que só depende de ε mas não da escolha dos ci ’s) tal que ∑ f (ci )∆xi − L < ε para
i=1
toda partição P de [a, b] com max ∆xi < δ .
96 Capítulo 3. Integrais múltiplas

3.1 Integral dupla


3.1.1 O conceito de integral dupla
Definição 3.1.1 Seja R um retângulo R = {(x, y) ∈ R2 : a ≤ x ≤ b, c ≤ y ≤ d} no plano R2 . Uma
partição de R é um conjunto P = {(xi , yi ) : i = 1, · · · , n; j = 1, · · · , m}, onde P1 : a = x0 < x1 <
· · · < xn é uma partição de [a, b] e P2 : c = y0 < y1 < · · · < yn é uma partição de [c, d].

Sugerimos a videoaula Soma de Riemann em Integral Dupla.


Note que P determina mn sub-retângulos Ri j = {(x, y) ∈ R2 : xi−1 ≤ x ≤ xi ; y j−1 ≤ y ≤ y j } em R.
Sejam B ⊂ R2 um conjunto limitado e f : B → R uma função. Então, existe um retângulo
R = {(x, y) ∈ R2 : a ≤ x ≤ b, c ≤ y ≤ d} tal que B ⊂ R.

Para cada par (i, j), considere xi j = (ri j , si j ) um ponto arbitrário em Ri j .

Definição 3.1.2 A soma de Riemann de f , relativa à partição P e pontos xi j ’s é definida por


n m
∑ ∑ f (xi j )∆xi ∆y j , (3.1)
i=1 j=1

onde ∆xi = xi − xi−1 , ∆y j = x j − x j−1 e f (xi j ) é substituído por zero se xi j ∈


/ B.

Se f (xi j ) > 0, então f (xi j )∆xi ∆y j é o volume do paralelepípedo de altura f (xi j ) e base Ri j . Então,
a soma de Riemann (3.1) é a soma dos volumes dos paralelepípedos definidos por f (xi j ) e Ri j .

Quanto menores as áreas de Ri j , melhor é aproximação da soma de Riemann para o volume do conjunto
A = {(x, y, z) ∈ R3 : (x, y) ∈ B, 0 ≤ z ≤ f (x, y)}. Definiremos adiante tal volume com o “limite” das
3.1 Integral dupla 97

somas de Riemann quando todas as áreas dos Ri j tendem a zero.

Definição 3.1.3 Seja ∆ = max{∆xi , ∆y j : i = 1, · · · , n ; j = 1, · · · , m}. Dizemos que a soma de


Riemann (3.1) tende a um número L quando ∆ tende à zero, e escrevemos
n m
lim ∑ ∑ f (xi j )∆xi ∆y j = L,
∆→0 i=1 j=1
(3.2)

se dado ε > 0, existe δ > 0, que só depende de ε mas não da escolha dos pos pontos xi j ’s, tal que

n m
∑ ∑ f (xi j )∆xi ∆y j − L <ε para toda partição P com ∆ < δ .
i=1 j=1

Observação 3.1.4 Se existe L satisfazendo (3.2), então ele é único.

Definição 3.1.5 Dizemos que f é integrável (segundo Riemann) em B, se existe o limite (3.2).
Nesse caso, escrevemos
ZZ n m
f (x, y) dx dy = lim ∑ ∑ f (xi j )∆xi ∆y j .
B ∆→0 i=1 j=1

Definição 3.1.6 A área de um conjunto B ⊂ R2 é definida como o resultado da integral (caso


exista)
ZZ
Área de B = dx dy.
B

Note que essa integral corresponde ao limite (3.2), tomando f como a função característica de B, isto é,
f (x) = 1 se x ∈ B, e f (x) = 0 se x ∈
/ B.

Definição 3.1.7 Seja f (x, y) integrável em B com f (x, y) ≥ 0 em B. Considere o conjunto


A = {(x, y, z) ∈ R3 : (x, y) ∈ B, 0 ≤ z ≤ f (x, y)}. O volume de A é definido por
ZZ
Volume de A = f (x, y) dx dy.
B
98 Capítulo 3. Integrais múltiplas

Calcular uma integral usando a definição é, em geral, uma tarefa muito complicada! Faremos dois
exemplos de casos simples a seguir, mas depois veremos propriedades e técnicas que facilitarão o
cálculo de integrais.
■ Exemplo 3.1.8 Seja f (x, y) = k, onde k ∈ R é constante, definida no retângulo R = {(x, y) ∈ R2 :
a ≤ x ≤ b, c ≤ y ≤ d}. Se P é uma partição de R, sua soma de Riemann é dada por
n m n m n m
∑ ∑ f (xi j )∆xi ∆y j = ∑ ∑ k ∆xi ∆y j = k ∑ ∑ ∆xi ∆y j = k (b − a)(d − c).
i=1 j=1 i=1 j=1 i=1 j=1

Logo,
n m
lim lim k(b − a)(d − c) = k(b − a)(d − c).
∑ ∑ f (xi j )∆xi ∆y j = ∆→0
∆→0 i=1 j=1

Portanto,
ZZ
f (x, y) dx dy = k(b − a)(d − c),
R

que é exatamente o volume do paralelepípedo de base retangular de lados (b − a) e (d − c) e altura |k|


(visualize o gráfico de f ). ■

■ Exemplo 3.1.9 Seja f (x, y) = x, definida no retângulo R = {(x, y) ∈ R2 : a ≤ x ≤ b, c ≤ y ≤ d}.


Dada uma partição P de R, como o limite das somas de Riemann não depende da escolha dos pontos
xi j , considere xi j = (xi , y j ) ∈ Ri j . Assim,
! !
n m n m n m n
∑∑ f (xi j )∆xi ∆y j = ∑ ∑ xi ∆xi ∆y j = ∑ xi ∆xi · ∑ ∆y j = (d − c) ∑ xi ∆xi .
i=1 j=1 i=1 j=1 i=1 j=1 i=1

Tomando o limite para ∆ → 0, temos


n m n
b2 − a2
Z b  
lim ∑ ∑ f (xi j )∆xi ∆y j = (d − c) ∆→0
∆→0 i=1 j=1
lim ∑ xi ∆xi = (d − c)
a
x dx = (d − c)
2
.
i=1

A seguir apresentamos uma condição suficiente para garantirmos que uma função de duas variáveis
seja integrável. Lembramos que uma função é limitada se sua imagem é um conjunto limitado.

Teorema 3.1.10 Sejam B ⊂ R2 um conjunto limitado e f : B → R contínua e limitada. Se a fronteira


de B estiver contida em uma união finita de curvas γi : Ji ⊂ R → R2 de classe C1 , sendo cada Ji um
intervalo fechado, então f é integrável em B.

Observação 3.1.11 No Teorema 3.1.10, se trocarmos “ f contínua em B” por “ f é contínua em B,


exceto num subconjunto contido na união (finita ou enumerável) de curvas de classe C1 ”, então o
resultado continua válido.

■ Exemplo 3.1.12 Seja f (x, y) = x + y e B = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y2 ≤ 1}. Então, ∂ B = {(x, y) ∈


R2 : x2 + y2 = 1} = γ(I), onde I = [0, 2π] e γ(t) = (cost, sent) para todo i ∈ I. Como f é contínua e
limitada em B, segue que f é integrável em B. ■
3.1 Integral dupla 99

■ Exemplo 3.1.13 Seja f uma função contínua em B = {(x, y) ∈ R2 : x2 ≤ y ≤ 1 + x2 , −1 ≤ x ≤ 1}.


A fronteira de B é dada por ∂ B = γ1 (I1 ) ∪ γ2 (I2 ) ∪ γ3 (I3 ) ∪ γ4 (I4 ), onde

γ1 (t) = (−1,t), com t ∈ I1 = [1, 2]; γ2 (t) = (t, 1 + t 2 ), com t ∈ I2 = [−1, 1];

γ3 (t) = (1,t), com t ∈ I3 = [1, 2]; γ4 (t) = (t,t 2 ), com t ∈ I4 = [−1, 1].

Portanto, f é integrável em B. ■

■ Exemplo 3.1.14 Sejam B = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y2 ≤ 1} e f : B → R dada por



1 se y ≥ 0
f (x, y) = .
−1 se y < 0

Já vimos que a fronteira de B é uma curva de classe C1 . A função f é limitada em B, pois −1 ≤


f (x, y) ≤ 1. Além disso, f é descontínua apenas nos pontos da forma (x, 0), com −1 ≤ x ≤ 1, que estão
contidos no traço de uma curva C1 (um segmento de reta). Assim, podemos concluir que f é integrável
em B. ■

3.1.2 Propriedades da integral e Teorema de Fubini


Sejam f e g funções integráveis em B ⊂ R2 e k ∈ R constante.

(i) ( f + g) e k f são integráveis e


ZZ ZZ ZZ
• ( f (x, y) + g(x, y)) dx dy = f (x, y) dx dy + g(x, y) dx dy.
B B B
ZZ ZZ
• k f (x, y) dx dy = k f (x, y) dx dy.
B B
ZZ
(ii) Se f (x, y) ≥ 0 para todo (x, y) ∈ B, então f (x, y) dx dy ≥ 0.
B

(iii) Se B está contida em uma união finita (ou enumerável) de curvas C1 em R2 , então
ZZ
f (x, y) dx dy = 0.
B

(iv) Se o conjunto {(x, y) ∈ B : f (x, y) ̸= g(x, y)} está contido em uma união finita (ou enumerável)
de curvas C1 em R2 , então
ZZ ZZ
f (x, y) dx dy = g(x, y) dx dy.
B B
100 Capítulo 3. Integrais múltiplas

(v) Se f é integrável em B1 e B ∩ B1 está contido em uma união finita (ou enumerável) de curvas C1
em R2 , então
ZZ ZZ ZZ
f (x, y) dx dy = f (x, y) dx dy + f (x, y) dx dy.
B∪B1 B B1

No cálculo de uma variável era difícil, em geral, calcular integral de uma função usando a definição,
mas havia o Teorema Fundamental do Cálculo, que fornecia um método prático para se calcular
integrais. O cálculo de integrais duplas através da definição é ainda mais complicado! Para a felicidade
de todos, também temos um resultado, o Teorema de Fubini, que fornece um método prático para o
cálculo de integrais duplas. Esse resultado basicamente reduz o trabalho ao cálculo de duas integrais
unidimensionais (integrais iteradas). Sugerimos a videoaula Teorema de Fubini em região retangulares.

Teorema 3.1.15 — Teorema de Fubini no retângulo. Seja f (x, y) integrável no retângulo


Z b
R = {(x, y) ∈ R2 : a ≤ x ≤ b, c ≤ y ≤ d}. Suponha que f (x, y) dx exista para todo y ∈ [c, d]
Z d a

fixado, e que f (x, y) dy exista para todo x ∈ [a, b] fixado. Então,


c
ZZ Z b Z d  Z d Z b 
f (x, y) dx dy = f (x, y) dy dx = f (x, y) dx dy.
R a c c a

Z b
Quando fixamos y ∈ [c, d] e calculamos f (x, y) dx, estamos encarando y como uma constante
a
e integrando apenas em função de x. O resultado dessa integral aparecerá em função de y apenas.
Considerando, para cada y ∈ [c, d],
Z b
α(y) = f (x, y) dx,
a
temos assim definida uma função α : [c, d] → R. Se f (x, y) ≥ 0 em R, para cada y ∈ [c, d], α(y) é a
área da seção plana obtida pela interseção do sólido A = {(x, y, z) ∈ R3 : (x, y) ∈ R, 0 ≤ z ≤ f (x, y)}
com o plano paralelo ao plano xz passando pelo ponto (0, y, 0).

Assim, mais uma vez percebemos que a integral dupla


ZZ Z d Z b  Z d
f (x, y) dx dy = f (x, y) dx dy = α(y) dy
R c a c
3.1 Integral dupla 101

é o volume de A (integral da área α(y)).


Z b Z d 
Uma interpretação análoga pode ser feita para a outra integral iterada f (x, y) dy dx.
a c
Na prática, muitas vezes não escreveremos os colchetes:
ZZ Z bZ d Z dZ b
f (x, y) dx dy = f (x, y) dy dx = f (x, y) dx dy.
R a c c a

Observação 3.1.16 Se f (x, y) é contínua, então as hipóteses do Teorema de Fubini são satisfeitas.
O Teorema de Fubini continua válido se f for contínua em R, exceto num conjunto contido numa
união finita (ou enumerável) de curvas C1 em R2 .
ZZ
■ Exemplo 3.1.17 Calcule (x − 3y2 )dx dy, onde R = {(x, y) ∈ R2 : 0 ≤ x ≤ 2, 1 ≤ y ≤ 2}.
R
Solução. Como f (x, y) = x − 3y2 é contínua, pelo Teorema de Fubini, a integral pode ser escrita como
Z 2Z 2 Z 2 Z 2  2 x=2
2 3 y=2
 x
(x − 3y ) dy dx = xy − y y=1 dx = (x − 7) dx = − 7x = −12.
0 1 0 0 2 x=0

De maneira alternativa, podemos trocar a ordem de integração


Z 2Z 2 Z 2 2 x=2 Z 2
2 x 2
y=2
(2 − 6y2 ) dy = 2y − 2y3 y=1 = −12.

(x − 3y ) dx dy = − 3y x dy =
1 0 1 2 x=0 1

A escolha da ordem de integração pode facilitar bastante o cálculo, ou, às vezes, ser a única maneira
possível para conseguirmos calcular a integral dupla. Veja o exemplos a seguir, e mais adiante, o
Exemplo 3.1.22.
ZZ
■ Exemplo 3.1.18 Calcule y sen(xy) dx dy, onde R = [1, 2] × [0, π].
R
Solução. Pelo Teorema de Fubini,
Z πZ 2 Z π x=2
cos(xy)
y sen(xy) dx dy = −y dy
0 1 0 y x=1
Z π
= (− cos(2y) + cos y) dy
0
 y=π
1
= − sen(2y) + sen y
2 y=0
= 0.

De forma alternativa, temos


Z 2Z π
y sen(xy) dy dx.
1 0
Z π
Para calcular y sen(xy) dy, usaremos integração por partes:
0

cos(xy) y=π
  
cos(xy) π cos(πx) sen(πx)
Z π Z π
y sen(xy) dy = y − − − dy = − + .
0 x y=0 0 x x x2
102 Capítulo 3. Integrais múltiplas

Agora,
Z  
sen(πx) sen(πx) sen(πx) sen(πx)
Z Z
π π
− cos(πx) dx = − − dx ⇒ − cos(πx) + =− .
x x x2 x x2 x
Logo,
Z 2Z π  x=2
sen(πx) sen(2π)
y sen(xy) dy dx = − =− + sen π = 0.
1 0 x x=1 2

Observação 3.1.19 Se f (x, y) = g(x) · h(y) em R = [a, b] × [c, d], então


ZZ Z d Z b  Z d Z b  Z b  Z d 
f (x, y) dx dy = g(x)h(y) dx dy = h(y) g(x) dx dy = g(x) dx h(y) dy .
R c a c a a c

Integrando em regiões mais gerais


Veremos agora como utilizar o Teorema de Fubini para o cálculo de integrais duplas em regiões
mais gerais que retângulos, delimitadas por gráficos de funções reais de uma variável. Dividiremos a
análise em 2 casos.
Tipo I. Região descrita na forma

D = {(x, y) ∈ R2 : a ≤ x ≤ b e ϕ1 (x) ≤ y ≤ ϕ2 (x)},


onde ϕ1 e ϕ2 são funções contínuas em [a, b], com ϕ1 (x) ≤ ϕ2 (x) para todo x ∈ [a, b].

Suponha f (x, y) contínua em D e seja R = [a, b] × [c, d] um retângulo que contenha D. Defina F(x, y)
em R por

f (x, y) se (x, y) ∈ D
F(x, y) = .
0 se (x, y) ∈ R\D
O conjunto dos possíveis pontos de descontinuidades de F está contido na fronteira de D, que é uma
união finita de curvas C1 em R2 . Portanto, F é integrável, e vale
ZZ ZZ Z bZ d
f (x, y) dy dx = F(x, y) dy dx = F(x, y) dy dx.
D R a c

Agora,
Z d Z ϕ1 (x) Z ϕ2 (x) Z d Z ϕ2 (x)
F(x, y) dy = F(x, y) dy + F(x, y) dy + F(x, y) dy = f (x, y) dy.
c c | {z } ϕ1 (x) ϕ2 (x) | {z } ϕ1 (x)
=0 =0

Portanto,
3.1 Integral dupla 103

ZZ Z b Z ϕ2 (x)
f (x, y) dx dy = f (x, y) dy dx.
D a ϕ1 (x)

Sugerimos a videoaula Integral de Fubini em região do tipo I.


Tipo II. Região descrita na forma

D = {(x, y) ∈ R2 : c ≤ y ≤ d e ψ1 (y) ≤ x ≤ ψ2 (y)},

onde ψ1 e ψ2 são funções contínuas em [c, d], com ψ1 (y) ≤ ψ2 (y) para todo y ∈ [c, d].

De forma análoga ao caso anterior, se f (x, y) é contínua em D, mostra-se que


ZZ Z d Z ψ2 (y)
f (x, y) dx dy = f (x, y) dx dy.
D c ψ1 (y)

Sugerimos a videoaula Teorema de Fubini em região tipo II. Ao calcular uma integral dupla, é muito
importante sempre fazer um esboço da região de integração antes de descrever as integrais iteradas.
Para descrever uma região de tipo I, pense em “pintar a região com retas verticais” (que ocorrem quando
x é fixado como constante) e para descrever uma região de tipo II, pense em “pintar a região com retas
horizontais” (que ocorrem quando y é fixado como constante).
ZZ
■ Exemplo 3.1.20 Calcule (x + 2y) dx dy, onde D é a região limitada pelas parábolas y = 2x2 e
D
y = 1 + x2 .
Solução. Os pontos de interseção entre as parábolas são obtidos resolvendo 2x2 = 1 + x2 , com soluções
x = 1 e x = −1. Assim, o conjunto D pode ser descrito por

D = {(x, y) ∈ R2 : −1 ≤ x ≤ 1, 2x2 ≤ y ≤ 1 + x2 }.
104 Capítulo 3. Integrais múltiplas

Essa é uma região do tipo I. Temos,


ZZ Z 1 Z 1+x2
(x + 2y) dy dx = (x + 2y) dy dx
D −1 2x2
Z 1 y=1+x2
= xy + y2 y=2x2
dx
−1
Z 1
= (−3x4 − x3 + 2x2 + x + 1) dx
−1
1
3x5 x4 2x3 x2

= − − + + +x
5 4 3 2 −1
32
= .
15

ZZ
■ Exemplo 3.1.21 Calcule xy dx dy, onde B é a região limitada pela reta y = x − 1 e a parábola
B
y2 = 2x + 6.
Solução. Os pontos de interseção são dados por (x − 1)2 = 2x + 6, com soluções x = 5 e x = −1. Para
x = 5, temos y = 5 − 1 = 4, e para x = −1, temos y = −1 − 1 = −2. Assim, o conjunto B pode ser
descrito por
y2
 
2
B = (x, y) ∈ R : −2 ≤ y ≤ 4, −3 ≤ x ≤ y+1 .
2

Essa é uma região do tipo II. Temos,


ZZ Z 4 Z y+1
xy dx dy = y2
xy dx dy
B −2 2 −3
Z 4  2 x=y+1
x y
= dy
−2 2 x= y2 −3
2
Z  5
1 4

y 3 2
= − + 4y + 2y − 8y dy
2 −2 4
 6 4
1 y 4 2y3 2
= − +y + − 4y
2 24 3 −2
= 36.

Uma maneira alternativa de calcularmos essa integral é dividirmos a região B em duas regiões de tipo I.
Seja B = B1 ∪ B2 , onde
√ √
B1 = {(x, y) ∈ R2 : −3 ≤ x ≤ −1, − 2x + 6 ≤ y ≤ 2x + 6},
3.1 Integral dupla 105

e,

B2 = {(x, y) ∈ R2 : −1 ≤ x ≤ 5, x − 1 ≤ y ≤ 2x + 6}.

Assim,
ZZ ZZ ZZ
xy dx dy = xy dx dy + xy dx dy
B B1 B2
Z −1 Z √ Z 5 Z √2x+6
2x+6
= √ xy dx dy + xy dx dy
−3 − 2x+6 −1 x−1
(x − 1)2
Z 1   Z 5  
2x + 6 2x + 6 2x + 6
= x −x dx + x −x = 36.
−3 2 2 −1 2 2

Para mais exemplos, sugerimos a videoaula Exemplos mais Complicados do Teorema de Fubini e
também a videoaula Exemplo de Cálculo de Volume.
ZZ
sen y2 dx dy, onde B = {(x, y) ∈ R2 : 0 ≤ x ≤ 1, x ≤ y ≤ 1}.

■ Exemplo 3.1.22 Calcule
B
Z 1Z 1
sen y2 dy dx diretamente, precisaríamos calcular a integral

Solução. Se tentássemos calcular
0 x
de sen y2 , que não tem primitiva elementar. Sendo assim, devemos inverter a ordem de integração.


Temos,
ZZ Z 1Z y Z 1 x=y Z 1
sen y2 dx dy = sen y2 dx dy = x sen y2 x=0 dy = y sen y2 dy.
  
B 0 0 0 0
106 Capítulo 3. Integrais múltiplas

Fazendo a substituição u = y2 , temos


Z 1
1 1 1 1
Z
y sen y2 dy = sen u du = [− cos u]10 = [− cos 1 + 1].

0 2 0 2 2

"
Z 3 Z 4x−x2
#
■ Exemplo 3.1.23 Inverta a ordem de integração em f (x, y) dy dx.
0 x

Solução. Para cada x fixado em [0, 3], y varia de x até 4x − x2 . Os pontos de interseção são dados por
4x − x2 = x, cujas soluções são x = 0 ou x = 3.

Assim, a região de integração é o conjunto


B = {(x, y) ∈ R2 : 0 ≤ x ≤ 3, x ≤ y ≤ 4x − x2 }.
Para inverter a ordem de integração, precisamos reescrever as equações das curvas limites com x em
função de y:

2 2 4 ± 16 − 4y p
y = 4x − x ⇐⇒ x − 4x + y = 0 ⇐⇒ x = = 2 ± 4 − y.
2

Logo,
Z 4 Z 2+√4−y
"
Z 3 Z 4x−x2
# Z 3 Z y  
f (x, y) dy dx = √ f (x, y) dx dy + √ f (x, y) dx dy.
0 x 0 2− 4−y 3 2− 4−y
3.2 Mudança de variáveis na integral dupla 107

Para mais dois exemplos, sugerimos a videoaula Invertendo a ordem de integração.


Para aprofundamento, sugerimos as videoaulas:

• Demonstração do Teorema de Schwarz utilizando o Teorema de Fubini - Acredito que o título


seja auto-explicativo.

Z b
• A regra de Leibniz para integral própria - Seja H(x) = f (x, y)dy, em que f é uma função de
a
classe C1 . Utilizamos o Teorema de Fubini para calcular H ′ (x). Consegue encontrar a fórmula
Z x
para a derivada de H(x) = f (x, y)dy?
a

• Demonstração do Teorema de Fubini para regiões retangulares - Esta aula demonstra o Teorema
de Fubini para regiões retangulares em que a função de integração não é necessariamente
contínua.

• Demonstração do Teorema de Fubini para Regiões do tipo II - Explicamos qual é a definição


adequada da integração dupla em regiões gerais e, com a definição adequada, e com o Teorema
de Fubini em regiões retangulares demonstrada de forma geral na aula anterior, nos permite
demonstrar com alguma facilidade o Teorema de Fubini para regiões do tipo II.

3.2 Mudança de variáveis na integral dupla

3.2.1 Caso geral

Sugerimos a videoaula Introdução a Mudança de variáveis em integral dupla.


No estudo de integrais de funções Zde uma variável,
Z foi visto como aplicar a mudança de variável
x = ϕ(u) para se calcular a primitiva f (x) dx = f (ϕ(u))ϕ ′ (u) du, onde era pedido que ϕ fosse
inversível, derivável e com derivada não nula, e f contínua. Também, era possível aplicar a mudança
de variável (ou substituição) para se calcular integral definida

Z b Z d
f (x) dx = f (ϕ(u))ϕ ′ (u) du, (3.3)
a c

com ϕ : [c, d] → [a, b] derivável com derivada contínua e ϕ(c) = a e ϕ(d) = b. Essa mudança leva o
intervalo [c, d] em outro intervalo [a, b], e era aplicada com o intuito de simplificar o integrando.
ZZ
Usaremos a mudança de variáveis na integral dupla para facilitar o cálculo de f (x, y) dx dy com
D
objetivo de simplificar a expressão do integrando f ou a descrição da região D. Uma “mudança de
variáveis” ϕ : R → D será uma função ϕ(u, v) = (x(u, v), y(u, v)) que transforma a região R do plano
uv na região D do plano xy.
108 Capítulo 3. Integrais múltiplas

Essa mudança, sob certas condições, nos dará uma fórmula análoga a (3.3):
ZZ ZZ
f (x, y) dx dy = f (x(u, v), y(u, v)) · Dϕ du dv.
D R

Teorema 3.2.1 Sejam U ⊆ R2 um conjunto aberto e ϕ : U → R2 uma função injetora definida por

ϕ(u, v) = (x(u, v), y(u, v)),

com x(u, v) e y(u, v) duas funções de classe C1 em U. Seja R ⊆ U um conjunto fechado e limitado
∂ (x, y)
tal que o determinante jacobiano não se anula em nenhum ponto de R. Se f é integrável em
∂ (u, v)
ϕ(R), então

∂ (x, y)
ZZ ZZ
f (x, y) dx dy = f (x(u, v), y(u, v)) · du dv. (3.4)
ϕ(R) R ∂ (u, v)

Para uma motivação da naturalidade deste teorema de mudança de variável, sugerimos a videoaula
Como Euler deduziu a fórmula do Jacobiano. Para uma demonstração informal, sugerimos a videoaula
Demonstração informal da mudança de variáveis em integral dupla.

∂ (x, y)
Observação 3.2.2 A fórmula (3.4) também é válida se ϕ não é injetora ou = 0 apenas em
∂ (u, v)
um subconjunto de R contido numa união finita de curvas C1 em R2 .

Observação 3.2.3 Se ϕ(u, v) é de classe C1 e injetora, o determinante jacobiano da sua inversa


∂ (u, v) 1
ψ(x, y) satisfaz = . Isso é uma consequência da Regra da Cadeia para funções de
∂ (x, y) ∂ (x, y)
∂ (u, v)
várias variáveis a valores em Rn , que não será vista nesse curso. No entanto, esse resultado pode
facilitar o cálculo de algumas integrais (veja Exemplo 3.2.11).

Apresentamos a seguir, dois casos particulares bastante usados de mudanças de variáveis na integral
dupla.
3.2 Mudança de variáveis na integral dupla 109

3.2.2 Mudança linear


A mudança linear é definida pela transformação

x = au + bv
,
y = cu + dv
onde a, b, c, d são constantes tais que ad − bc ̸= 0. Nesse caso,
∂ (x, y) a b
= = ad − bc.
∂ (u, v) c d
 
dx − by ay − cx
Observe que ϕ(u, v) = (x, y) é inversível e, sua inversa ψ(x, y) = , , é tal que
ad − bc ad − bc
∂ (u, v) 1 1
= = .
∂ (x, y) ad − bc ∂ (x, y)
∂ (u, v)
ZZ
■ Exemplo 3.2.4 Calcule e(y−x)/(x+y) dx dy, onde D é a região triangular limitada pela reta x +y = 2
D
e pelos eixos coordenados.
Solução. Considere a mudança

u = y−x
,
v = x+y
cujo determinante jacobiano é
∂ (u, v) −1 1 ∂ (x, y) 1
= = −2 ̸= 0 ⇒ =− .
∂ (x, y) 1 1 ∂ (u, v) 2
Portanto, pelo Teorema 3.2.1,
1 eu/v
ZZ ZZ ZZ
(y−x)/(x+y) u/v
e dx dy = e · − du dv = du dv.
D R 2 R 2

Para descrever a região R, observe que u + v = 2y e v − u = 2x, logo as retas x = 0 e y = 0 são levadas,
no plano uv, às retas v = u e v = −u, respectivamente. A reta x + y = 2 é levada à reta v = 2. Daí, a
nova região de integração é esboçada na figura a seguir.
110 Capítulo 3. Integrais múltiplas

Assim,
Z 2Z v Z 2
1 1 1
ZZ ZZ
e(y−x)/(x+y) dx dy = eu/v du dv = eu/v du dv = [v eu/v ]u=v
u=−v dv =
D 2 R 2 0 −v 2 0
 v=2
1 2 e − e−1 v2
Z
−1
= v(e − e ) dv = = e − e−1 .
2 0 2 2 v=0

Para mais exemplos, sugerimos a videoaula Exemplo 1 com mudança de Variáveis Linear e também
Exemplo 2 com Mudança de variáveis linear.
Um exemplo de cálculo de área com integral dupla, sugerimos a videoaula Cálculo de área com
integral dupla e, para cálculo de área, utilizando mudança de coordenadas linear, sugerimos a videoaula
Calculando a área da elipse com integral dupla e sem contas.
Para uma demonstração formal específica desta mudança de variável, sugerimos a videoaula
Demonstração da mudança de variáveis para o caso Linear.

3.2.3 Mudança polar


Um ponto P do plano com coordenadas retangulares (x, y) tem coordenadas polares (r, θ ), onde r
é a distância do ponto P a origem e θ é o ângulo formado pelo semieixo positivo Ox e o segmento de
reta que liga a origem O ao ponto P.

As coordenas retangulares e polares do ponto P estão relacionadas por



x = r cos θ
, (3.5)
y = r sen θ

onde r ≥ 0 e θ varia num intervalo da forma [θ0 , θ0 + 2π), com θ0 constante. A função ϕ(r, θ ) = (x, y)
definida por (3.5) é injetora quando nos restringimos ao conjunto {(r, θ ) ∈ R2 : r > 0, θ0 ≤ θ < θ0 +2π}.
Segue de (3.5) que

x 2 + y2 = r 2 .

Assim, é bem mais simples descrever em coordenadas polares funções cujos argumentos envolvam
x2 + y2 , ou regiões delimitadas por circunferências x2 + y2 = a2 . As equações r = a (a > 0 constante) e
θ = b (b constante), no plano xy, correspondem a circunferência de raio a centrada na origem e a uma
semirreta com início na origem, respectivamente. O determinante jacobiano dessa mudança é
∂ (x, y) cos θ −r sen θ
= = r.
∂ (r, θ ) sen θ r cos θ
3.2 Mudança de variáveis na integral dupla 111

Nesse caso, a fórmula (3.4) diz que


ZZ ZZ
f (x, y) dx dy = r f (r cos θ , r sen θ ) dr dθ . (3.6)
ϕ(R) R

Sugerimos a videoaula Introdução a Coordenadas Polar com Integral Dupla para introdução do
assunto e os primeiros exemplos.
ZZ
■ Exemplo 3.2.5 Calcule (3x + 4y2 ) dx dy, onde D é a região do semiplano superior limitada pelas
D
circunferências x2 + y2 = 1 e x2 + y2 = 4.
Solução. A região D pode ser descrita por

D = {(x, y) ∈ R2 : y ≥ 0 e 1 ≤ x2 + y2 ≤ 4}.

Figura 3.1: Região D

Percebendo que a região D é bem mais simples de ser descrita em coordenadas polares, faremos a
mudança (3.5). A região R no plano r θ correspondente a D é o “retângulo polar”

R = {(r, θ ) ∈ R2 : 1 ≤ r ≤ 2 e 0 ≤ θ ≤ π}.

Obtivemos R analisando na Figura 3.1 quais são as condições sobre r e θ para que o conjunto dos
pontos (r, θ ) descreva a região dada. Portanto, segue de (3.6),
ZZ ZZ
(3x + 4y2 ) dx dy = r(3r cos θ + 4r2 sen2 θ ) dr dθ
D R
Z πZ 2
= (3r2 cos θ + 4r3 sen2 θ ) dr dθ
0 1
Z π r=2
3 4 2
= r cos θ + r sen θ dθ
0 r=1
Z π
2
= (7 cos θ + 15 sen θ ) dθ
0
Z π 
15
= 7 cos θ + (1 − cos(2θ )) dθ
0 2
 π
15 θ 15 15π
= 7 senθ + − sen(2θ ) = .
2 4 0 2


112 Capítulo 3. Integrais múltiplas
ZZ p
■ Exemplo 3.2.6 Calcule x2 + y2 dx dy, onde D é o triângulo de vértices (0, 0), (1, 0) e (1, 1).
D
Solução. Vamos aplicar a mudança de variáveis para coordenas polares, pois elimina a raiz e simplifica
o integrando. Para isso, precisamos descrever a região R, correspondente a D, no plano r θ .

h x π=i1, em coordenadas polares, é r cos θ = 1, ou seja, r = sec θ . Deste modo, para


A equação da reta
cada θ fixo em 0, , r deve variar de 0 a sec θ . Isso descreve uma região de tipo I no plano r θ .
4
Portanto,

ZZ p ZZ √
x2 + y2 dx dy = r r2 dr dθ
D R
Z π/4 Z sec θ
= r2 dr dθ
0 0
1 π/4
Z
= sec3 θ dθ
3 0
 π/4
1
= sec θ tg θ + ln(sec θ + tg θ )
6 0
1 √ √ 
= 2 + ln(1 + 2) .
3

ZZ p
■ Exemplo 3.2.7 Calcule y x2 + 3y2 dx dy, onde D = {(x, y) ∈ R2 : x2 ≤ y ≤ x}.
D
Solução. D é a região da figura a seguir.
3.2 Mudança de variáveis na integral dupla 113

Para eliminar a raiz quadrada do integrando, vamos fazer a mudança


(

x = r cos θ x = r cos θ
√ ⇔ r
3y = r sen θ y = √ sen θ
3
cujo determinante jacobiano é

cos θ −r sen θ
∂ (x, y) r
= sen θ r =√ .
∂ (r, θ ) √ √ cos θ 3
3 3

Observe que x2 + 3y2 = r2 . Portanto,


 √
r r 1
ZZ p ZZ ZZ
2 2
y x + 3y dx dy = √ √ sen θ 2
r dr dθ = r3 sen θ dr dθ .
D R 3 3 3 R

Para descrever R, precisamos da equação das curvas y = x e y = x2 nas novas coordenadas. A reta y = x
π
corresponde a θ = , e, y = x2 fica
3
r sen θ
√ sen θ = r2 cos2 θ ⇒ r = √ .
3 3 cos2 θ
 
π sen θ
Logo, R = (r, θ ) : 0 ≤ θ ≤ , 0 ≤ r ≤ √ . Portanto,
3 3 cos2 θ

1
ZZ p ZZ
y x2 + 3y2 dx dy = r3 sen θ dr dθ
D 3 R
√ 2
1 π/3 (sen θ )/( 3 cos θ ) 3
Z Z
= r sen θ dr dθ
3 0 0
 4 r=(sen θ )/(√3 cos2 θ )
1 π/3 r
Z
= sen θ dθ
3 0 4 r=0
1 π/3 sen5 θ
Z
= dθ
12 0 9 cos8 θ
1
Z π/3
= sec3 θ tg5 θ dθ .
108 0

Reescrevendo sec3 θ tg5 θ = (sec2 θ − 1)2 sec2 θ sec θ tg θ e fazendo a substituição u = sec θ ,
du = sec θ tg θ dθ , obtemos
2
u7 2u5 u3
Z 2 
848
Z π/3
3 5 2 2 2
sec θ tg θ dθ = (u − 1) u du = − + = .
0 1 7 5 3 1 105
Portanto,
1 848 212
ZZ p
y x2 + 3y2 dx dy = · = .
D 108 105 2835

Para mais exemplos, sugerimos as videoaulas Integral Dupla com Coordenada Polar - Exemplo 1 e
também Integral Dupla com Coordenada Polar - 4 Exemplos de montagem de integral.
114 Capítulo 3. Integrais múltiplas

■ Exemplo 3.2.8 Determine a área da região delimitada por um laço da rosácea dada por r = cos(2θ )
em coordenadas polares.
Solução. A região é dada na figura a seguir

ZZ
Se D é a região no plano xy (descrita em coordenadas cartesianas), então a área é dada por dx dy.
D
Sabemos descrever a região R em coordenadas polares:

n π π o
R = (r, θ ) : − ≤ θ ≤ , 0 ≤ r ≤ cos(2θ ) .
4 4

Então, usando a mudança para coordenadas polares, temos que a área pedida é

ZZ ZZ Z π/4 Z cos(2θ )
dx dy = r dr dθ = r dr dθ
D R −π/4 0
Z π/4  2 r=cos(2θ )
r 1
Z π/4
= dθ = cos2 (2θ ) dθ
−π/4 2 r=0 2 −π/4

sen (4θ ) π/4


 
1 π/4 1
Z
π
= (1 + cos(4θ )) dθ = θ+ = .
4 −π/4 4 4 −π/4 8

Para a rosácea com 6 pétalas r = cos(3θ ), sugerimos a videoaula Calculando a área de uma pétala
da rosácea.
■ Exemplo 3.2.9 Determine o volume do sólido situado acima do plano xy e delimitado pelas superfí-
cies z = x2 + y2 e x2 + y2 = 2x.
Solução. A equação z = x2 + y2 corresponde a um parabolóide e x2 + y2 = 2x ⇔ (x − 1)2 + y2 = 1
corresponde a um cilindro cuja base, no plano xy, é a circunferência de raio 1 centrada em (1, 0).
O sólido em questão está abaixo do do parabolóide (gráfico de f (x, y) = x2 + y2 ), dentro do cilindro
e acima do disco D = {(x, y) ∈ R2 : (x − 1)2 + y2 = 1}.
3.2 Mudança de variáveis na integral dupla 115

Portanto, o volume procurado é

ZZ
V= (x2 + y2 ) dx dy.
D

Fazendo a mudança para coordenadas polares,nx2 + y2 = r2 , a circunferência x2 + y2 =


o 2x corresponde
π π
a r = 2 cos θ e a região D corresponde a R = (r, θ ) : − ≤ θ ≤ , 0 ≤ r ≤ 2 cos θ . Logo,
2 2

ZZ Z π/2 Z 2 cos θ
2
V = r · r dr dθ = r3 dr dθ
R −π/2 0
Z π/2  4 r=2 cos θ
r
Z π/2
= dθ = 4 cos4 θ dθ
−π/2 4 r=0 −π/2

1 + cos(2θ ) 2
Z π/2 Z π/2  
= 8 cos4 θ dθ = 8 dθ
0 0 2
Z π/2  
1 cos(4θ )
= 2 1 + 2 cos(2θ ) + + dθ
0 2 2
sen(4θ ) π/2
 
3θ 3π
= 2 + sen(2θ ) + = .
2 8 0 2

Para mais exemplos, sugerimos as videoaulas Dois Exemplos de cálculo de volume com Coordenada
polar e também a videoaula Integral Dupla com Coordenada polar deslocado - Exemplo.
Z ∞
2
■ Exemplo 3.2.10 Apresentaremos, nesse exemplo, uma maneira de calcular a integral e−x dx,
−∞
que é muito usada em estatística, usando integral dupla. Este exemplo também foi feita na videoaula
Calculando uma integral imprópria com integral dupla.
Solução. Considere, para r > 0,

Z r Z r
−x2 2
I(r) = e dx = e−y dy.
−r −r
116 Capítulo 3. Integrais múltiplas

Figura 3.2: I(r) é a área da região hachurada

Temos,
Z r Z r Z rZ r Z rZ r
−x2 −y2 −x2 −y2 2 −y2
[I(r)] =2
e dx · e dy = e e dx dy = e−x dx dy.
−r −r −r −r −r −r

Sejam D1 e D2 os discos inscrito e circunscrito,


√ respectivamente, ao quadrado [−r, r] × [−r, r]. Note
que o raio de D1 é r e o raio de D2 é 2r.

Assim,
ZZ ZZ
2 −y2 2 −y2
e−x dx dy ≤ [I(r)]2 ≤ e−x dx dy.
D1 D2

Fazendo a mudança para coordenadas polares, temos


ZZ Z 2π Z r
−x2 −y2 2 2
e dx dy = re−r dr dθ = π(1 − e−r ).
D1 0 0

Analogamente,
ZZ
2 −y2 2
e−x dx dy = π(1 − e−2r ).
D2
3.2 Mudança de variáveis na integral dupla 117

Portanto,
q q
2 2
π(1 − e−r ) ≤ [I(r)]2 ≤ π(1 − e−2r ) ⇔
2 2
π(1 − e−r ) ≤ I(r) ≤ π(1 − e−2r ).

Como,
q
2
√ q
2
lim π(1 − e−r ) = π = lim π(1 − e−2r ),
r→∞ r→∞

segue do Teorema do Confronto que


Z r
2 √
lim I(r) = lim e−x dx = π.
r→∞ r→∞ −r

Portanto,
Z ∞
2 √
e−x dx = π.
−∞

Para o leitor interessado, a demonstração da mudança de variáveis para coordenada polar se encontra
na videoaula Demonstração da Mudança de Variáveis para Coordenada Polar.

3.2.4 Outros exemplos de mudanças de variáveis


ZZ
■ Exemplo 3.2.11 Calcule (y + 2x2 )(y − x2 ) dx dy, onde D é a região, no primeiro quadrante,
D
limitada por xy = 1, xy = 2, y = x2 , y = x2 − 1.
Solução. A figura a seguir apresenta um esboço da região D.

Faremos a seguinte mudança



u = xy
v = y − x2
Dessa forma, temos


 xy = 1 ⇔ u=1
xy = 2 ⇔ u=2


 y = x2 ⇔ v=0
y = x2 − 1 ⇔ v = −1

118 Capítulo 3. Integrais múltiplas

O determinando jacobiano da mudança é

∂ (u, v) y x ∂ (x, y) 1
= = y + 2x2 ⇒ = (para y ̸= −2x2 ).
∂ (x, y) −2x 1 ∂ (u, v) y + 2x2
Daí,
∂ (x, y)
(y + 2x2 )(y − x2 ) = v.
∂ (u, v)
Logo,
ZZ ZZ
2 2
(y + 2x )(y − x ) dx dy = v du dv,
D R

onde R = {(u, v) : 1 ≤ u ≤ 2, −1 ≤ v ≤ 0}. Ou seja,


Z 0Z 2
1
ZZ
(y + 2x2 )(y − x2 ) dx dy = v du dv = − .
D −1 1 2

ZZ
3 +y3 )/(xy)
■ Exemplo 3.2.12 Calcule e(x dx dy, onde D = {(x, y) ∈ R2 : y2 − 2x ≤ 0 e x2 − 2y ≤ 0}.
D
Solução. A figura a seguir apresenta um esboço da região D.

Faremos a seguinte mudança

x = u2 v


y = uv2

Observe que

y2 − 2x ≤ 0 ⇔ u2 (v4 − 2v) ≤ 0 ⇔ v4 − 2v ≤ 0 (ou u = 0) ⇔ 0 ≤ v ≤
3
2 (ou u = 0).

Analogamente,

x2 − 2y ≤ 0 ⇔ 0 ≤ u ≤
3
2 (ou v = 0).

O determinando jacobiano da mudança é

∂ (x, y) 2uv u2
= = 3u2 v2 .
∂ (u, v) v2 2uv
3.3 Massa, centro de massa, momento de inércia 119

x 3 + y3
Como = u3 + v3 , segue que
xy
ZZ ZZ
(x3 +y3 )/(xy) 3 +v3
e dx dy = 3u2 v2 eu du dv,
D R

3

onde R = {(u, v) : 0 ≤ u ≤ 2; 0 ≤ v ≤ 3 2}. Ou seja,

ZZ 3 Z √
Z √2 3
2
(x3 +y3 )/(xy) 3 3
e dx dy = 3u2 v2 eu ev du dv
D 0 0
Z √
3
2 h 3 iu= √3 2
2 v3
= v e eu dv
0 u=0
Z √
3
2 3 1 2
= (e2 − 1) v2 ev dv = (e − 1)2 .
0 3

Sugerimos a videoaula Exemplo com Mudança de variáveis - Caso geral para mais um exemplo.

3.3 Massa, centro de massa, momento de inércia


Sugerimos a videoaula Massa e Centro de Massa para introdução do assunto.
Seja δ (x, y) uma função contínua e positiva que representa densidade de massa de uma lâmina
que ocupa uma região D do plano. Dividindo D em sub-retângulos Ri j pequenos, a massa de Ri j é
aproximadamente δ (xi∗j , y∗i j )∆A, onde (xi∗j , y∗i j ) é um ponto de Ri j e ∆A é a área de Ri j .

Se somarmos essas quantidades para todos os sub-retângulos, ficamos com uma soma de Riemann
da função δ (x, y). Assim, ao tomarmos o limite quando as áreas dos sub-retângulos tendem a zero,
obtemos que a massa da lâmina é dada por
ZZ
M= δ (x, y) dx dy.
D

Dizemos que a lâmina é homogênea se δ (x, y) = k constante. Nesse caso, a massa será igual ao produto
de k pela área de D.
O momento de massa de uma partícula em relação a um eixo é o produto da sua massa pela distância
(perpendicular) ao eixo. Usando a mesma ideia anterior, o momento de massa em relação ao eixo x do
120 Capítulo 3. Integrais múltiplas

sub-retângulo Ri j é aproximadamente (δ (xi∗j , y∗i j )∆A)y∗i j . Portanto, o momento de massa em relação ao


eixo x da lâmina inteira é dado por
ZZ
Mx = y δ (x, y) dx dy.
D

Analogamente, o momento de massa em relação ao eixo y é dado por


ZZ
My = x δ (x, y) dx dy.
D

O centro de massa da lâmina é definido por (x̄, ȳ), onde


ZZ ZZ
My x δ (x, y) dx dy Mx y δ (x, y) dx dy
x̄ = = ZZD e ȳ = = D
ZZ .
M δ (x, y) dx dy M δ (x, y) dx dy
D D

Fisicamente, o centro de massa é o “ponto de equilíbrio” da lâmina.

■ Exemplo 3.3.1 Determine a massa e o centro de massa de uma lâmina triangular, com vértices
(0, 0), (1, 0), (0, 2), e função densidade δ (x, y) = 1 + 3x + y.
Solução. Observe que o triângulo é a região D do plano delimitada pelos eixos x e y e pela reta
y = 2 − 2x. A massa da lâmina é dada por
ZZ Z 1 Z 2−2x
M = δ (x, y) dx dy = (1 + 3x + y) dy dx
D 0 0
y=2−2x
y2
Z 1 Z 1
8
= y + 3xy + dx = 4 (1 − x2 ) dx = .
0 2 x=0 0 3

O centro de massa é o ponto (x̄, ȳ), onde

1 3 1 2−2x
ZZ Z Z
x̄ = x δ (x, y) dx dy = (x + 3x2 + xy) dy dx
M D 8 0 0
y=2−2x
3 1 xy2 3 1
Z 
3
Z
2
= xy + 3x y + dx = (x − x3 ) dx = ,
8 0 2 x=0 2 0 8

e,

1 3 1 2−2x
ZZ Z Z
ȳ = y δ (x, y) dx dy = (y + 3xy + y2 ) dy dx
M D 8 0 0
Z 1 2 2 3
y=2−2x
1 1 9x2 5x4
Z  
3 y 3xy y 11
= + + dx = 7x − − x3 + dx = .
8 0 2 2 3 x=0 4 0 2 4 6
3.3 Massa, centro de massa, momento de inércia 121
 
3 11
Portanto, o centro de massa é o ponto , .
8 6

O momento de inércia de uma partícula de massa m em relação a um eixo é definido por md 2 , onde
d é a distância da partícula ao eixo. Estendendo esse conceito para a lâmina com densidade de massa
δ (x, y) que ocupa uma região D do plano: dividimos essa região em sub-retângulos Ri j e aproximamos
o momento de inércia, em relação ao eixo x, em cada sub-retângulo (δ (xi∗j , y∗i j )∆A)(y∗i j )2 . Em seguida,
somamos esses valores para todos os sub-retângulos e tomamos o limite quando as áreas tendem a zero.
Daí, o momento de inércia, em relação ao eixo x, da lâmina é dado por
ZZ
Ix = y2 δ (x, y) dx dy.
D

Analogamente, o momento de inércia, em relação ao eixo y, da lâmina é dado por


ZZ
Iy = x2 δ (x, y) dx dy.
D

É de interesse, ainda, considerar o momento de inércia em relação a origem, ou momento polar de


inércia, que é dado por
ZZ
I0 = Ix + Iy = (x2 + y2 ) δ (x, y) dx dy.
D

■ Exemplo 3.3.2 Uma placa fina cobre a região do plano delimitada por y = ex , x = 1, y = 0 e x = 0.
A densidade da placa é dada por δ (x, y) = xy. Determine os momentos de inércia da placa em relação
aos eixos coordenados e a origem.
Solução. Temos
Z 1 Z ex
1
ZZ
Ix = y2 δ (x, y) dx dy = xy3 dy dx = (3e4 + 1),
D 0 0 64
Z 1 Z ex
1 2
ZZ
Iy = x2 δ (x, y) dx dy = x3 y dy dx = (e + 3),
D 0 0 16
e,
1
I0 = Ix + Iy = (3e4 + 4e2 + 13).
16

122 Capítulo 3. Integrais múltiplas

Para mais exemplos de aplicação a física, sugerimos as videoaulas:

• O Campo elétrico - Deduzimos a fórmula do campo elétrico em uma região planar geral. Note
que para calcular o vetor do campo elétrico é necessário montar 3 integrais duplas.

• Exemplo de cálculo do Campo elétrico com integral dupla - Fazemos o exemplo básico do
cálculo com as fórmulas encontradas no vídeo anterior.

3.4 Integral tripla

3.4.1 Definição e propriedades


Definiremos integrais triplas de funções de 3 variáveis, de modo análogo ao que foi feito para
integral dupla, utilizando somas de Riemann. Recomendamos a videoaula Soma de Riemmann para
integrais triplas.

Definição 3.4.1 Seja R = [a, b] × [c, d] × [p, q] um paralelepípedo em R3 . Uma partição de


R é um conjunto P = {(xi , yi , zi ) : i = 1, · · · , n; j = 1, · · · , m; k = 1, · · · , r}, onde P1 : a = x0 <
x1 < · · · < xn é uma partição de [a, b], P2 : c = y0 < y1 < · · · < yn é uma partição de [c, d] e
P3 : p =0 < z1 < · · · < zr = q é uma partição de [p, q].

Note que P determina mnr subparalelepípedos Ri jk = [xi−1 , xi ]×[y j−1 , y j ]×[zk−1 , zk ], onde i ∈ {1, · · · , n},
j ∈ {1, · · · , m} e k ∈ {1, · · · , r}.
Sejam B ⊂ R3 um conjunto limitado e f : B → R uma função. Então, existe um paralelepípedo R tal
que B ⊂ R. Para cada par (i, j, k), considere xi jk um ponto arbitrário em Ri jk .

Definição 3.4.2 A soma de Riemann de f , relativa à partição P e pontos xi jk ’s é definida por


n m r
∑ ∑ ∑ f (xi jk )∆xi ∆y j ∆zk ,
i=1 j=1 k=1

onde ∆xi = xi − xi−1 , ∆y j = x j − x j−1 , ∆zk = zk − zk−1 e f (xi jk ) é substituído por zero se xi jl ∈
/ B.

Analogamente ao caso de duas variáveis, define-se o limite das somas de Riemann quando
∆ = maxi, j,k {∆xi , ∆y j , ∆zk } tende a zero.

Definição 3.4.3 Dizemos que f é integrável em B se existe o limite


n m r
lim
∆→0
∑ ∑ ∑ f (xi jk )∆xi ∆y j ∆zk .
i=1 j=1 k=1

Neste caso, a integral tripla de f em B é denotada por


ZZZ n m r
∑ ∑ ∑ f (xi jk )∆xi ∆y j ∆zk .
f (x, y, z) dx dy dz = lim
B ∆→0 i=1 j=1 k=1

No caso de integrais duplas, vimos que se f (x, y) ≥ 0 e integrável em B, então a integral dupla de f
em B é o volume do sólido A = {(x, y, z) ∈ R3 : (x, y) ∈ B, 0 ≤ z ≤ f (x, y)}. Para integrais triplas, essa
interpretação não é conveniente, pois o gráfico de f é um subconjunto de R4 , o qual não é possível
visualizar. No entanto, se f (x, y, z) = 1 em B ⊆ R3 , o volume de B, se existir, é dado por
3.4 Integral tripla 123
ZZ
Volume de B = dx dy dz.
B

Os conjuntos que não afetam a integral tripla, são os “conjuntos sem volume”. Para não entrar em
detalhes formais, iremos nos referir à conjuntos que estão contidos numa união finita de gráficos de
funções reais contínuas de duas variáveis, isto é, funções da forma x = x(y, z), y = y(x, z), z = z(x, y).
De agora em diante, vamos nos referir a este tipo de conjunto pela abreviação UG2V.

Teorema 3.4.4 Sejam B ⊂ R3 um conjunto limitado e f : B → R uma função contínua e limitada.


Se a fronteira de B estiver contida numa UG2V, então f é integrável em B.

Para integrais triplas valem propriedades análogas àquelas listadas para integrais duplas na Seção
3.1.2. Enunciaremos aqui apenas a nova versão do Teorema de Fubini, que também se encontra na
nossa videoaula Teorema de Fubini em paralelepípedos.

Teorema 3.4.5 — Teorema de Fubini. Se f (x, y, z) é contínua em R = [a, b] × [c, d] × [p, q], então

ZZZ Z qZ dZ b Z qZ bZ d
f (x, y, z) dx dy dz = f (x, y, z) dx dy dz = f (x, y, z) dy dx dz
B p c a p a c
Z dZ qZ b Z dZ bZ q
= f (x, y, z) dx dz dy = f (x, y, z) dz dx dy
c p a c a p
Z bZ qZ d Z bZ dZ q
= f (x, y, z) dy dz dx = f (x, y, z) dz dy dx.
a p c a c p

Observação 3.4.6 A validade dos dois teoremas anteriores se mantêm ao trocarmos “ f contínua”
por “ f contínua exceto num subconjunto contido numa UG2V”.
ZZZ
■ Exemplo 3.4.7 Calcule exy zy dx dy dz, onde R = [0, 1] × [0, 1] × [0, 1].
R
Solução. Pelo Teorema de Fubini,

Z 1 Z 1 Z 1  Z 1 Z 1  xy x=1
e
ZZZ
xy xy
e zy dx dy dz = e zy dx dy dz = zy dy dz
B 0 0 0 0 0 y x=0
Z 1 Z 1  Z 1
= (zey − z) dy dz = [zey − zy]y=1
y=0 dz
0 0 0
Z 1  2
z=1
z e
= z(e − 2) dz = (e − 2) = − 1.
0 2 z=0 2

Integrando em regiões mais gerais

Tal como visto para integrais duplas, o cálculo de integrais triplas em regiões mais gerais pode ser
efetuado quando conseguimos descrever a região de modo que ela esteja contida entre os gráficos de
duas funções contínuas, mas agora de duas das variáveis. Nesses casos, conseguiremos basicamente
reduzir o cálculo da integral tripla ao cálculo de uma integral simples, e em seguida, de uma integral
dupla.
124 Capítulo 3. Integrais múltiplas

Tipo I. Região descrita na forma

B = {(x, y, z) ∈ R3 : (x, y) ∈ D e g(x, y) ≤ z ≤ h(x, y)},

onde D é um conjunto fechado e limitado em R2 (projeção de B no plano xy), e g, h são funções


contínuas tais que g(x, y) ≤ h(x, y) para todo (x, y) ∈ D.

Suponha f (x, y, z) uma função contínua em B. Um procedimento análogo àquele feito para integrais
duplas nos permite concluir que
ZZZ ZZ Z h(x,y) 
f (x, y, z) dx dy dz = f (x, y, z) dz dx dy.
B D g(x,y)

Como é de se esperar, podemos trocar os papeis das variáveis x, y, z nas linhas anteriores, obtendo
expressões análogas para as correspondentes regiões de integração.

Tipo II. Região descrita na forma

B = {(x, y, z) ∈ R3 : (x, z) ∈ D e g(x, z) ≤ y ≤ h(x, z)},

onde D é um conjunto fechado e limitado em R2 (projeção de B no plano xz), e g, h são funções


contínuas tais que g(x, z) ≤ h(x, z) para todo (x, z) ∈ D. Então,
ZZZ ZZ Z h(x,z) 
f (x, y, z) dx dy dz = f (x, y, z) dy dx dz.
B D g(x,z)

Tipo III. Região descrita na forma

B = {(x, y, z) ∈ R3 : (y, z) ∈ D e g(y, z) ≤ x ≤ h(y, z)},

onde D é um conjunto fechado e limitado em R2 (projeção de B no plano yz), e g, h são funções


contínuas tais que g(y, z) ≤ h(y, z) para todo (y, z) ∈ D. Então,
3.4 Integral tripla 125

ZZZ ZZ Z h(y,z) 
f (x, y, z) dx dy dz = f (x, y, z) dx dy dz.
B D g(y,z)

ZZZ
■ Exemplo 3.4.8 Calcule x dx dy dz, onde
B

B = {(x, y, z) ∈ R3 : 0 ≤ x ≤ 1, 0 ≤ y ≤ x e 0 ≤ z ≤ x + y}.

Solução. Podemos descrever o conjunto B como uma região de tipo I:

B = {(x, y, z) ∈ R3 : (x, z) ∈ D e 0 ≤ z ≤ x + y},

onde D é o triângulo, no plano xy, {(x, y) ∈ R2 : 0 ≤ x ≤ 1 e 0 ≤ y ≤ x}. Daí,


ZZZ ZZ Z x+y  ZZ
x dx dy dz = x dz dx dy =
x(x + y) dx dy
B D 0 D
y=x
xy2
Z 1Z x Z 1
2 2
= (x + xy) dy dx = x y+ dx
0 0 0 2 y=0
Z 1 3
3x 3
= dx = .
0 2 8

■ Exemplo 3.4.9 Calcule o volume do sólido B limitado pelas superfícies z + x2 = 9, y + z = 4, y = 0


e y = 4.
Solução. O sólido B está mostrado na figura a seguir

Podemos descrever o conjunto B da forma

B = (x, y, z) ∈ R3 : (x, y) ∈ D, 4 − y ≤ z ≤ 9 − x2 ,


onde D é a projeção de B no plano xy. Para determinar o conjunto D, precisamos encontrar a interseção
das superfícies z = 4 − y e z = 9 − x2 . Igualando essas equações, obtemos x2 = y + 5, que quando
projetada no plano xy, descreve uma parábola.
126 Capítulo 3. Integrais múltiplas

Logo,

n p p o
D = (x, y) ∈ R2 : − y + 5 ≤ x ≤ y + 5, 0 ≤ y ≤ 4 .

Portanto,

"Z #
ZZZ ZZ 9−x2
Volume de B = dx dy dz = dz dx dy
B D 4−y
Z 4 Z √y+5 3Z 4x=√y+5
x
= √ (5 − x2 + y) dx dy = 5x − + xy √
dy
0 − y+5 0 3 x=− y+5
Z 4 
2
= 10(y + 5)1/2 − (y + 5)3/2 + 2y(y + 5)1/2 dy
0 3
 y=4
20 4 4 20
= (y + 5)3/2 − (y + 5)5/2 + (y + 5)5/2 − (y + 5)3/2
3 15 5 3 y=0
y=4


8 8
= (y + 5)5/2 = (243 + 25 5).
15 y=0 15

Para mais exemplos, sugerimos as videoaulas Teorema de Fubini - Região geral e também Teorema
de Fubini - Dois Exemplos.
Para introdução do cálculo de volume com integrais triplas, sugerimos a videoaula Cálculo de
Volume com Integrais Triplas.
■ Exemplo 3.4.10 Calcule o volume do sólido B = {(x, y, z) ∈ R3 : x ≤ z ≤ 1 − y2 , x ≥ 0 e y ≥ 0}.
Solução. Seja D a projeção de B no plano xy. Então,

"Z #
ZZZ ZZ 1−y2 ZZ
Volume de B = dx dy dz = dz dx dy = (1 − y2 − x) dx dy.
B D x D

Para determinar o conjunto D, precisamos encontrar a interseção das superfícies z = x e z = 1 − y2 .


Igualando essas equações, obtemos x = 1 − y2 .
3.4 Integral tripla 127

Assim, D = {(x, y) ∈ R2 : x ≤ 1 − y2 , x ≥ 0 e y ≥ 0} = {(x, y) ∈ R2 : 0 ≤ y ≤ 1, 0 ≤ x ≤ 1 − y2 }.


Portanto,

Z 1 Z 1−y2 x=1−y2
x2
Z 1
2 2
Volume de B = (1 − y − x) dx dy = x − xy − dy
0 0 0 2 x=0
1
Z 1 4
= (1 − 2y2 + y4 ) dy = .
2 0 15

ZZZ p
■ Exemplo 3.4.11 Calcule x2 + z2 dx dy dz, onde B é a região limitada pelo parabolóide
B
y = x2 + z2 e pelo plano y = 4.
Solução. O sólido B está mostrado na figura a seguir

Se descrevermos B como uma região de tipo I, precisamos considerar sua projeção D1 no plano xy, que
é a região apresentada na figura a seguir
128 Capítulo 3. Integrais múltiplas

p
De y = x2 + z2 , obtemos z = ± y − x2 . Assim, a descrição de B como uma região de tipo I ficaria
n p p o
B = (x, y, z) ∈ R3 : (x, y) ∈ D1 , − y − x2 ≤ z ≤ y − x2 ,

onde D1 = {(x, y) ∈ R2 : −2 ≤ x ≤ 2, x2 ≤ y ≤ 4}, e a integral pedida ficaria

Z 2 Z 4 Z √y−x2 p
√ x2 + z2 dz dy dx,
−2 x2 − y−x2

que é trabalhosa de se calcular. Para simplificar, vamos descrever B como uma região de tipo III. Para
isso, consideramos D a projeção de B no plano xz, que é o disco x2 + z2 ≤ 4, mostrado na figura a seguir

Assim,

B = (x, y, z) ∈ R3 : (x, z) ∈ D, x2 + z2 ≤ y ≤ 4 ,


onde D = {(x, z) ∈ R2 : x2 + z2 ≤ 4}. Portanto,


ZZZ p ZZ Z 4 p  ZZ p
x2 + z2 dx dy dz = 2 2
x + z dy dx dz = (4 − x2 − z2 ) x2 + z2 dx dz.
B D x2 +z2 D

Agora, fazemos a mudança para coordenadas polares no plano xz:



x = r cos θ
.
z = r sen θ
3.5 Mudança de variáveis na integral tripla 129

Daí,
ZZ p Z 2π Z 2 Z 2π Z 2
(4 − x2 − z2 ) x2 + z2 dx dz = (4 − r2 ) r r dr dθ = dθ (4r2 − r4 ) dr
D 0 0 0 0
 3 r=2
4r r5 128π
= 2π − = .
3 5 r=0 15

3.5 Mudança de variáveis na integral tripla


3.5.1 Caso geral
Veremos, a seguir, como estender a fórmula de mudança de variáveis de integral dupla para integral
tripla. Uma boa introdução é a videoaula Mudança de Variáveis em Integrais Triplas.
Seja φ : U ⊂ R3 → R3 dada por

ϕ(u, v, w) = (x(u, v, w), y(u, v, w), z(u, v, w)),

onde x, y, z são funções de classe C1 em U. O determinante Jacobiano de ϕ é definido por


∂x ∂x ∂x
∂u ∂v ∂w
∂ (x, y, z) ∂y ∂y ∂y
= .
∂ (u, v, w) ∂u ∂v ∂w
∂z ∂z ∂z
∂u ∂v ∂w

∂ (x, y, z)
Se ϕ é injetora em um subconjunto fechado e limitado Q ⊂ U e ̸= 0 em Q, então, se f for
∂ (u, v, w)
integrável em ϕ(Q), vale

∂ (x, y, z)
ZZZ ZZZ
f (x, y, z) dx dy dz = f (ϕ(u, v, w)) du dv dw. (3.7)
ϕ(Q) Q ∂ (u, v, w)

∂ (x, y, z)
Observação 3.5.1 A fórmula (3.7) continua válida se ϕ não é injetora ou = 0 num
∂ (u, v, w)
∂ (x, y, z) ∂ (x, y, z) 1
subconjunto contido numa UG2V. Também vale que, se ̸= 0, então = .
∂ (u, v, w) ∂ (u, v, w) ∂ (u, v, w)
∂ (x, y, z)

■ Exemplo 3.5.2 Calcule o volume do paralelepípedo B definido por


π
1 ≤ x + 2y + z ≤ 2, 0 ≤ x+y−z ≤ e 0 ≤ z ≤ 1.
4

Solução. Façamos u = x + y − z, v = x + 2y + z e w = z. Então,

1 1 −1
∂ (u, v, w) −1
 
∂ (u, v, w) ∂ (x, y, z)
= 1 2 1 =1 ⇒ = = 1.
∂ (x, y, z) ∂ (u, v, w) ∂ (x, y, z)
0 0 1
130 Capítulo 3. Integrais múltiplas

Logo,
ZZZ ZZZ
Volume de B = dx dy dz = 1 dw dv du,
B D

π
onde D é o paralelepípedo: 0 ≤ u ≤ , 1 ≤ v ≤ 2, 0 ≤ w ≤ 1. Portanto,
4
Z π Z 2Z 1 Z π Z 2 Z π
4 4 4 π
Volume de B = dw dv du = dv du = dw = .
0 1 0 0 1 0 4

3.5.2 Coordenadas cilíndricas


Seja P um ponto com coordenadas retangulares (x, y, z). Suas coordenadas cilíndricas são dadas
por (r, θ , z), onde (r, θ ) são as coordenadas polares da projeção de P no plano xy. Ou seja,

 x = r cos θ
y = r sen θ , (3.8)
z=z

onde r ≥ 0, θ varia num intervalo da forma [θ0 , θ0 + 2π), com θ0 constante, e z ∈ R.

No espaço xyz:

• a equação r = a constante corresponde a um cilindro de raio a e eixo z como eixo central;

• a equação θ = θ0 constante corresponde a um semiplano vertical;

• a equação z = c constante corresponde a um plano horizontal na altura c.

O determinante jacobiano dessa mudança é

cos θ −r sen θ 0
∂ (x, y, z)
= sen θ r cos θ 0 = r.
∂ (r, θ , z)
0 0 1

Recomendamos que assistam a nossa videoaula Introdução às Coordenadas Cilíndricas.


3.5 Mudança de variáveis na integral tripla 131
ZZZ p
■ Exemplo 3.5.3 Calcule z dx dy dz, onde B é o sólido limitado pelas superfícies z = 8 − x 2 − y2
B
e 2z = x2 + y2 .
Solução. Podemos descrever o conjunto B da forma

x 2 + y2
 p 
3 2 2
B = (x, y, z) ∈ R : (x, y) ∈ D, ≤ z ≤ 8−x −y ,
2
onde D é a projeção de B no plano xy. Para determinar D, devemos encontrar a interseção entre as
superfícies.

p
Substituindo x2 + y2 = 2z na equação z = 8 − x2 − y2 , obtemos z2 + 2z − 8 = 0, cujas soluções são
z = −4 (não convém) e z = 2. Portanto, as superfícies se intersectam ao longo da circunferência
x2 + y2 = 4 no plano z = 2. Logo,

D = (x, y) ∈ R2 : x2 + y2 ≤ 4 .


Fazendo a mudança de coordenadas cilíndricas (3.8), o conjunto D corresponde à imagem de


K = {(r, θ ) : 0 ≤ r ≤ 2, 0 ≤ θ ≤ 2π}, e, o conjunto B corresponde à imagem de
r2 p
Q = (r, θ , z) : (r, θ ) ∈ K, ≤ z ≤ 8 − r2 . Portanto,
2
"Z √ #
ZZZ ZZZ ZZ 8−r2
z dx dy dz = z r dr dθ dz = z r dz dr dθ
B Q K r2 /2
r=2
r4 r4 r6
Z 2 Z 2π   
r 2 2 28π
= 8−r − dθ dr = π 4r − − = .
0 0 2 4 4 24 r=0 3

■ Exemplo 3.5.4 Calcule o volume do sólido B definido pelas inequações

x2 + y2 − 2x ≤ 0, 0 ≤ z ≤ x + y, x≥0 e y ≥ 0.

Solução. Temos x2 + y2 − 2x = 0 ⇔ (x − 1)2 + y2 ≤ 1. Podemos descrever o conjunto B como

B = {(x, y, z) ∈ R3 : (x, y) ∈ D, 0 ≤ z ≤ x + y},


132 Capítulo 3. Integrais múltiplas

onde D = {(x, y) ∈ R2 : (x−1)2 +y2 ≤ 1, x ≥ 0 e y ≥ 0}. Faremos a seguinte mudança de coordenadas



 x − 1 = r cos θ
y = r sen θ .
z=z

Daí, o conjunto D corresponde à imagem de K = {(r, θ ) : 0 ≤ r ≤ 1, 0 ≤ θ ≤ π}, e o conjunto B


corresponde à imagem de Q = {(r, θ , z) : (r, θ ) ∈ K, 0 ≤ z ≤ 1 + r cos θ + r sen θ }. Além disso, temos
∂ (x, y, z)
= r (verifique). Portanto,
∂ (r, θ , z)
ZZZ ZZZ ZZ Z 1+r cos θ +r sen θ 
Volume de B = dx dy dz = r dr dθ dz = r dz dr dθ
B Q K 0
Z πZ 1 
π 1

1 1
Z
r + r2 cos θ + r2 sen θ dr dθ =

= + sen θ + cos θ dθ
0 0 0 2 3 3
π 2
= + .
2 3

Note que a mudança de coordenadas que usamos não é exatamente a cilíndrica (fizemos uma translação
no eixo x). Este artifício é muito útil algumas vezes, facilitando o cálculo de algumas integrais.
Alternativamente, vamos calcular o volume pedido usando as coordenas cilíndricas “usuais”.
Considere a mudança cilíndrica (3.8).o Nesse caso, o conjunto D corresponde à imagem de
n π
K = (r, θ ) : 0 ≤ r ≤ 2 cos θ , 0 ≤ θ ≤ , e, o conjunto B corresponde à imagem de
2
Q = {(r, θ , z) : (r, θ ) ∈ K, 0 ≤ z ≤ r cos θ + r sen θ }. Portanto,
ZZZ Z π/2 Z 2 cos θ Z r cos θ +r sen θ
Volume de B = r dr dθ dz = r dz dr dθ
Q 0 0 0
Z π/2 Z 2 cos θ
= (r2 cos θ + r2 sen θ ) dr dθ
0 0
8 π/2
Z
cos4 θ + cos3 θ sen θ dθ

=
3 0
π 2
= + (confira).
2 3

ZZZ p
■ Exemplo 3.5.5 Calcule x2 + y2 + z2 dx dy dz, onde B é a esfera x2 + y2 + z2 ≤ 1.
B
3.5 Mudança de variáveis na integral tripla 133

Solução. Usando coordenadas cilíndricas, a integral dada se escreve como


ZZZ p
r r2 + z2 dr dθ dz.
Q

Note que é mais conveniente integrar primeiro em relação a variável r (do que em z). Então, vamos
descrever Q da forma

Q = {(r, θ , z) : (θ , z) ∈ K, g(θ , z) ≤ r ≤ h(θ , z)}.

Para isso, temos que descrever como r varia para cada θ e z fixados como constantes. Fixar z = c
constante é o mesmo que olhar para a interseção da esfera x2 + y2 + z2 ≤ 1 com o plano z = c, que é o
disco x2 + y2 ≤ 1 − c2 , ou, em coordenadas cilíndricas, r2 ≤ 1 − c2 .


Assim, para cada θ e z fixados, r varia de 0 à 1 − z2 . Observe que, para cobrir toda a esfera
x2 + y2 + z2 ≤ 1, precisamos 0 ≤ θ ≤ 2π e −1 ≤ z ≤ 1. Portanto,
ZZZ p Z 2π Z 1 Z √1−z2 p
x2 + y2 + z2 dx dy dz = r r2 + z2 dr dz dθ . (3.9)
B 0 −1 0

Fazendo a substituição u = r2 + z2 , temos

1 √ u3/2 (r2 + z2 )3/2


Z p Z
r2 + z2 r dr = u du = = .
2 3 3
Assim, a integral (3.9) fica
" #r=√1−z2
(r2 + z2 )3/2 |z|3
Z 2π Z 1 Z 2π Z 1  
1
dz dθ = − dz dθ . (3.10)
0 −1 3 0 −1 3 3
r=0

|z|3
Z 1 Z 1 3
1 z
Note que dz = 2
dz = . Assim,
−1 3 0 3 6
1 |z|3
Z 1   h z iz=1 1 2 1 1
− dz = − = − = .
−1 3 3 3 z=−1 6 3 6 2
Portanto, a integral (3.10) resulta em
Z 2π
1
dθ = π.
0 2

134 Capítulo 3. Integrais múltiplas

Para mais exemplos, sugerimos as videoaulas Exemplos com Coordenadas Cilíndricas - Parte 1 e
também Exemplo com Coordenadas Cilíndricas - Parte 2.
Para a dedução das fórmulas de volume do sólido de revolução, tanto pelo método dos discos como
o método das cascas, estudadas no curso de cálculo integral de uma variável e utilizando coordenadas
cilíndricas, sugerimos a videoaula Volume de Sólidos de Revolução com Integrais Triplas.

3.5.3 Coordenadas esféricas


Seja P um ponto com coordenadas cartesianas (x, y, z). Suas coordenadas esféricas são dadas por
(ρ, θ , ϕ), onde
−→
• ρ é o comprimento do vetor OP;
−−→
• θ é o ângulo entre o semieixo positivo Ox e o vetor OP1 = (x, y, 0);
−→
• ϕ é o ângulo entre OP e o semieixo positivo Oz.

A mudança de coordenadas cartesianas para coordenadas esféricas é dada pelas equações



 x = ρ sen ϕ cos θ
y = ρ sen ϕ sen θ , (3.11)
z = ρ cos ϕ

onde ρ ≥ 0, 0 ≤ ϕ ≤ π e θ varia num intervalo da forma [θ0 , θ0 + 2π), com θ0 constante.


3.5 Mudança de variáveis na integral tripla 135

No espaço xyz:

• a equação ρ = a constante corresponde a uma esfera de raio a centrada na origem;

• a equação θ = θ0 constante corresponde a um semiplano vertical;

• a equação ϕ = c constante corresponde a um cone circular com eixo central coincidente com o
eixo z.

Segue de (3.11) que

x 2 + y2 + z2 = ρ 2 .

Assim, é bem mais simples descrever em coordenadas esféricas funções cujos argumentos envolvam
x2 + y2 + z2 , ou regiões delimitadas por esferas x2 + y2 + z2 = a2 . Também, como veremos nos
exemplos,
p as coordenadas esféricas simplificam bastante as descrições de regiões delimitadas por cones
z = a(x2 + y2 ), a > 0.
O determinante jacobiano dessa mudança é dado por

sen ϕ cos θ −ρ sen ϕ sen θ ρ cos ϕ cos θ


∂ (x, y, z) ∂ (x, y, z)
= sen ϕ sen θ ρ sen ϕ cos θ ρ cos ϕ cos θ = −ρ 2 sen ϕ ⇒ = ρ 2 sen ϕ,
∂ (ρ, θ , ϕ) ∂ (ρ, θ , ϕ)
cos ϕ 0 −ρ senϕ

pois sen ϕ ≥ 0 para 0 ≤ ϕ ≤ π.


Sugerimos a videoaula Introdução a Coordenadas Esféricas.
ZZZ p
■ Exemplo 3.5.6 Calcule x2 + y2 + z2 dx dy dz, onde B é a esfera x2 + y2 + z2 ≤ 1, usando
B
coordenadas esféricas.
Solução. Usando a mudança de coordenadas esféricas (3.11), temos que x2 + y2 + z2 = ρ 2 e B
corresponde ao conjunto:

{(ρ, θ , ϕ) : 0 ≤ ρ ≤ 1, 0 ≤ θ ≤ 2π e 0 ≤ ϕ ≤ π}.

Logo,
ZZZ p Z π Z 2π Z 1 p
x2 + y2 + z2 dx dy dz = ρ 2 · ρ 2 sen ϕ dρ dθ dϕ
B 0 0 0
Z π Z 2π  4 ρ=1
ρ
= sen ϕ dθ dϕ
0 0 4 ρ=0
Z π Z 2π
sen ϕ
Z π
π
= dθ dϕ = sen ϕ dϕ
0 0 4 0 2
πh iϕ=π
= − cos ϕ = π.
2 ϕ=0

ZZZ
2 +y2 +z2 )3/2
■ Exemplo 3.5.7 Calcule e(xdx dy dz, onde B é o sólido, no primeiro octante de R3 ,
B r
2 2 2
p
2 2
x 2 + y2
limitado pela esfera x + y + z = 16 e os cones z = 3(x + y ) e z = .
3
136 Capítulo 3. Integrais múltiplas

Solução. Faremos a mudança para coordenadas esféricas. Assim, x2 + y2 = ρ 2 sen2 ϕ. Como z =


ρ 2 cos ϕ, temos
1
q
z = 3(x2 + y2 ) ⇒ z2 = 3(x2 + y2 ) ⇒ ρ 2 cos2 ϕ = 3ρ 2 sen2 ϕ ⇒ tg2 ϕ = .
3
π
De z ≥ 0, segue que cos ϕ ≥ 0, ou seja, 0 ≤ ϕ ≤ . Logo,
2

1 3 π
tg ϕ = √ = ⇒ ϕ= .
3 3 6
r
x 2 + y2 π
De forma análoga, para z = , obtemos ϕ = .
3 3

Portanto, em coordenadas esféricas, o conjunto B é a imagem de


n π π πo
Q = (ρ, θ , ϕ) ∈ R3 : 0 ≤ ρ ≤ 4; 0 ≤ θ ≤ ; ≤ ϕ ≤ .
2 6 3
Logo,
ZZZ ZZZ
(x2 +y2 +z2 )3/2 3
e dx dy dz = ρ 2 eρ sen ϕ dρ dθ dϕ
B Q
Z 4 Z π/3 Z π/2
3
= ρ 2 eρ sen ϕ dθ dϕ dρ
0 π/6 0
Z 4 Z π/3 h iθ =π/2
3
= ρ 2 eρ sen ϕ θ dϕ dρ
0 π/6 θ =0
π 4 2 ρ3 h
Z iϕ=π/3
= ρ e − cos ϕ dρ
2 0 ϕ=π/6
√ Z 4
π( 3 − 1) 3
= ρ 2 eρ dρ.
4 0

Fazendo a substituição u = ρ 3 , temos du = 3ρ 2 dρ e

e64 − 1
Z 4 Z 64
3 1
ρ 2 eρ dρ = eu du = .
0 3 0 3
3.5 Mudança de variáveis na integral tripla 137

Portanto,
√ √
π( 3 − 1) e64 − 1 π( 3 − 1)(e64 − 1)
ZZZ
(x2 +y2 +z2 )3/2
e dx dy dz = · = .
B 4 3 12

ZZZ p
■ Exemplo 3.5.8 Calcule x2 + y2 + z2 dx dy dz, onde B é o sólido limitado superiormente pela
B
1 2 1
 
p
esfera x 2 + y2 + z− = e inferiormente pelo cone z = x2 + y2 .
2 4
p
Solução. Faremos a mudança para coordenadas esféricas (3.11). Com isso, o cone z = x2 + y2
corresponde a

z2 = x2 + y2 ⇔ ρ 2 cos2 ϕ = ρ 2 sen2 ϕ ⇔ tg2 ϕ = 1.


π
Como z > 0, temos que tg ϕ = 1, logo ϕ = . Já a esfera:
4

1 2 1
 
2 2
x +y + z − = ⇔ x2 +y2 +z2 −z = 0 ⇔ ρ 2 −ρ cos ϕ = 0 ⇔ ρ(ρ −cos ϕ) = 0 ⇒ ρ = cos ϕ.
2 4

Assim, em coordenadas esféricas, o conjunto B é a imagem de


n πo
Q = (ρ, θ , ϕ) : 0 ≤ ρ ≤ cos ϕ, 0 ≤ θ ≤ 2π e 0 ≤ ϕ ≤ .
4

Portanto,
ZZZ p ZZZ Z 2π Z π/4 Z cos ϕ
2
x2 + y2 + z2 dx dy dz = ρ · ρ sen ϕ dρ dϕ dθ = ρ 3 sen ϕdρ dϕ dθ
B Q 0 0 0
Z 2π Z π/4  4 ρ=cos ϕ
ρ
= sen ϕ dϕ dθ
0 0 4 ρ=0
Z 2π Z π/4
1
= cos4 ϕ sen ϕ dϕ dθ .
4 0 0
138 Capítulo 3. Integrais múltiplas

Fazendo a substituição u = cos ϕ, temos du = − sen ϕ dϕ , donde segue que


√ √ ! √ !
u= 2/2
u5
Z 2π Z π/4 Z 2π 
1 1 2π 1 2 π 2
cos4 ϕ sen ϕ dϕ dθ = − dθ = · 1− = 1− .
4 0 0 4 0 5 u=1 4 5 8 10 8

ZZZ
■ Exemplo 3.5.9 Calcule z dx dy dz, onde B é o conjunto
B

(x − 1)2 (y − 1)2
 
3 2
B = (x, y, z) ∈ R : + + (z − 1) ≤ 1 .
4 9

Solução. Primeiramente, façamos uma mudança de coordenadas para deslocar o centro do elipsoide
para a origem:
 
 u1 = x − 1  x = u1 + 1
v1 = y − 1 ⇔ y = v1 + 1 .
w1 = z − 1 z = w1 + 1
 

1 0 0
∂ (x, y, z)
O determinante jacobiano dessa mudança é dado por = 0 1 0 = 1. Logo,
∂ (u1 , v1 , w1 )
0 0 1
ZZZ ZZZ
z dx dy dz = (w1 + 1) du1 dv1 dw1 ,
B Q

u21 v21
 
3 2
onde Q = (u1 , v1 , w1 ) ∈ R : + + w1 ≤ 1 .
4 9
Agora, façamos uma nova mudança de coordenadas para transformar Q em uma esfera:
 u1
 u=
2
 
 u1 = 2u



v1 ⇔ v1 = 3v .
v=


 3 
w1 = w

w = w1

2 0 0
∂ (u1 , v1 , w1 )
Temos, = 0 3 0 = 6. Logo,
∂ (u, v, w)
0 0 1
ZZZ ZZZ
(w1 + 1) du1 dv1 dw1 = 6(w + 1) du dv dw,
Q K

onde K é a esfera u2 + v2 + w2 ≤ 1. Fazendo agora a mudança para coordenadas esféricas



 u = ρ sen ϕ cos θ
v = ρ sen ϕ sen θ ,
w = ρ cos ϕ

3.6 Massa, centro de massa e momento de inércia de um sólido 139

temos
ZZZ Z π Z 2π Z 1
6(w + 1) du dv dw = 6(ρ cos ϕ + 1)ρ 2 sen ϕ dρ dθ dϕ
K 0 0 0
Z π Z 2π  4 ρ=1
ρ ρ3
= 6 cos ϕ sen ϕ + sen ϕ dθ dϕ
0 0 4 3 ρ=0
Z π Z 2π  
sen (2ϕ) sen ϕ
= 6 + dθ dϕ
0 0 8 3
Z π 
sen (2ϕ) sen ϕ
= 12π + dϕ
0 8 3
cos(2ϕ) cos ϕ ϕ=π
 
= 12π − − = 8π.
16 3 ϕ=0

Outra maneira de resolver, seria sintetizar todas as mudanças de coordenadas efetuadas anterior-
mente em uma única mudança:
 x−1

 = ρ sen ϕ cos θ
 2


y−1
= ρ sen ϕ senθ ,
3




z − 1 = ρ cos ϕ

∂ (x, y, z)
que transforma o elipsoide B na esfera de raio 1 centrada na origem, com = 6ρ 2 sen ϕ.
∂ (ρ, θ , ϕ)
Conferindo:
(x − 1)2 (y − 1)2
+ + (z − 1)2 ≤ 1 ⇔ ρ 2 sen2 ϕ cos2 θ + ρ 2 sen2 ϕ sen2 θ + ρ 2 cos2 ϕ = 1 ⇔ ρ = 1.
4 9
Isso nos leva (novamente) à igualdade
ZZZ Z π Z 2π Z 1
z dx dy dz = 6(ρ cos ϕ + 1)ρ 2 sen ϕ dρ dθ dϕ.
B 0 0 0

Para mais exemplos, sugerimos as videoaulas:

• Exemplo com Coordenadas Esféricas - Parte 1.

• Exemplo com Coordenadas Esféricas - Parte 2.

• Exemplo com Coordenadas Esféricas - Parte 3.

3.6 Massa, centro de massa e momento de inércia de um sólido


Os conceitos introduzidos na Seção 3.3 podem ser naturalmente estendidos para objetos sólidos em
R3 . Nesta seção, apresentamos estes conceitos, cuja motivação física é idêntica à anterior.
Seja B ⊂ R3 fechado e limitado. Considere δ (x, y, z) a função densidade volumétrica de B. A massa
de B é dada por
140 Capítulo 3. Integrais múltiplas
ZZZ
M= δ (x, y, z) dx dy dz.
B

Dizemos que B é homogêneo se δ (x, y, z) = k constante. Nesse caso, a massa de B é o produto de k


pelo volume de B.
Os momentos de momentos de massa do sólido, em relação aos planos coordenados, são dados por

ZZZ ZZZ ZZZ


Myz = x δ (x, y, z) dx dy dz, Mxz = y δ (x, y, z) dx dy dz, Mxy = z δ (x, y, z) dx dy dz.
B B B

O centro de massa do sólido é definido por (x̄, ȳ, z̄), onde


ZZZ ZZZ ZZZ
x δ (x, y, z) dx dy dz y δ (x, y, z) dx dy dz z δ (x, y, z) dx dy dz
x̄ = ZZZB , ȳ = ZZZB , z̄ = ZZB .
δ (x, y, z) dx dy dz δ (x, y, z) dx dy dz δ (x, y, z) dx dy dz
B B B

O momento de inércia de B em relação a um eixo fixo é definido por


ZZZ
I= r2 δ (x, y, z) dx dy dz,
B

onde r = r(x, y, z) é a distância do ponto (x, y, z) ao eixo. A seguir, descrevemos os casos particulares
mais utilizados.
O momento de inércia, em relação ao eixo x, do sólido B é dado por
ZZZ
Ix = (y2 + z2 ) δ (x, y, z) dx dy dz.
B

O momento de inércia, em relação ao eixo y, do sólido B é dado por


ZZZ
Iy = (x2 + z2 ) δ (x, y, z) dx dy dz.
B

O momento de inércia, em relação ao eixo z, do sólido B é dado por


ZZZ
Iz = (x2 + y2 ) δ (x, y, z) dx dy dz.
B

Por fim, também é de interesse considerar o momento de inércia em relação a origem, ou momento
polar de inércia, que é dado por
ZZZ
I0 = (x2 + y2 + z2 ) δ (x, y, y) dx dy dz.
B

■Exemplo 3.6.1 Calcule o momento de inércia, em relação aos eixos coordenados, de uma esfera
maciça homogênea B de massa M, centrada na origem e de raio R.
Solução. Por simetria, temos Ix = Iy = Iz . Portanto, basta calcularmos apenas um deles. Temos,

M 3M
δ (x, y, z) = = .
Volume de B 4πR3
3.6 Massa, centro de massa e momento de inércia de um sólido 141

Assim,
3M
ZZZ
Iz = (x2 + y2 ) dx dy dz.
4πR3 B

Vamos usar coordenadas esféricas para calcular essa última integral. Nesse caso, temos x2 + y2 =
ρ 2 sen2 ϕ , e
ZZZ Z π Z R Z 2π
2 2
(x + y ) dx dy dz = (ρ 2 sen2 ϕ)ρ 2 sen ϕ dθ dρ dϕ
B 0 0 0
Z πZ R Z π 5 ρ=R
4 3 ρ 3
= 2π ρ sen ϕ dρ dϕ = 2π sen ϕ dϕ
0 0 0 5 ρ=0
2πR5
Z π
= sen3 ϕ dϕ.
5 0

cos3 ϕ
Z
Usando que sen3 ϕ dϕ = − cos ϕ + c (verifique), temos
3
 3 ϕ=π
cos ϕ 4
Z π
sen3 ϕ dϕ = − cos ϕ = .
0 3 ϕ=0 3

Logo,

4 2πR5 8πR5
ZZZ
(x2 + y2 ) dx dy dz = · = .
B 3 5 15
Portanto,

3M 8πR5 2R2 M
Ix = Iy = Iz = · = .
4πR3 15 5

Referências Bibliográficas

[Bar] R. Bartle, Elementos de análise real. Rio de Janeiro: Campus, 1983.

[Gui2] H. Guidorizzi, Um curso de cálculo. Vol. 2, 5ed., Rio de Janeiro: LTC, 2011.

[Gui3] H. Guidorizzi, Um curso de cálculo. Vol. 3, 5ed., Rio de Janeiro: LTC, 2002.

[Dio] D. Pinto, Cálculo Diferencial e Integral de Funções de Várias Variáveis. 3.ed., Rio de Janeiro:
UFRJ, 2009.

[Sim] F. Simmons, Cálculo com Geometria Analítica. Vol. 2, São Paulo: Pearson, 1988.

[Ste] J. Stewart, Cálculo. Vol.2, 6ed., São Paulo: Cengage Learning, 2010.

[Tho] G. Thomas, Cálculo. Vol. 2, 12.ed., São Paulo: Pearson, 2013.


Índice Remissivo

Área de região plana, 97 de classe C∞ , 40


de classe Cn , 40
Bola diferenciável, 42
aberta, 3 implícita, 66
fechada, 6 polinomial, 18
racional, 18
Centro de massa, 120, 140
real de várias variáveis, 16
Cilindro, 26
Função vetorial, 7
Comprimento
contínua, 10
de curva, 15
de classe C1 , 12
Conjunto
derivável, 12
aberto, 4
integrável, 14
compacto, 84
Funções componentes, 7
fechado, 6
limitado, 7 Gráfico, 19
Conjunto de nível, 20
Coordenadas Hessiano, 79
cilíndricas, 130 Integral
esféricas, 134 dupla, 97
polares, 110 iterada, 100
Cortes, 23 tripla, 122
Curva de nível, 20
Curva parametrizada, 11 Limite
das somas de Riemann, 97
Derivada de função vetorial, 9
de função vetorial, 12 de função de várias variávies, 27
direcional, 59
Massa, 119, 140
mista, 38
Matriz hessiana, 80
parcial, 35, 38
Momento de inércia
de ordem superior, 38
em relação a origem, 121, 140
Desigualdade de Schwarz, 2
em relação a um eixo, 140
Determinante jacobiano, 69, 129
em relação ao eixo x, 121, 140
Equações paramétricas, 11 em relação ao eixo y, 121, 140
Extremante de função, 76 em relação ao eixo z, 140
Momento de massa
Fórmula de Taylor com resto de Lagrange, 74 em relação a um plano coordenado, 140
Fecho, 6 em relação ao eixo x, 120
Função em relação ao eixo y, 120
contínua, 33 Multiplicadores de Lagrange, 87
Norma de um vetor, 2 Reta normal
à superfície, 56
Parametrizações equivalentes, 16 ao gráfico, 47
Partição Reta tangente
de um paralelepípedo, 122 à curva, 13
de um retângulo, 96
Plano tangente Soma de Riemann, 96, 122
à superfície, 56 Superfície de nível, 20
ao gráfico, 47
Polinômio de Taylor Taxa de variação, 59
de ordem 1, 72 Teorema
de ordem n, 74 da Função Implícita, 66
Ponto da Função Implícita II, 68
crítico, 77 da Função Implícita III, 69
de acumulação, 7 de Fubini, 100, 123
de fronteira, 6 de Schwarz, 40
de máximo, 76 de Weierstrass, 84
de mínimo, 76 do Confronto, 28
de sela, 77
Variável
extremo, 76
dependente, 16
interior, 4
independente, 16
Quádrica, 23 Vetor
gradiente, 53
Regra da Cadeia, 50 tangente à curva, 13
para função vetorial, 14 Volume, 97, 122

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