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AVASSALA
DORAS
sobre a sua
vida
Marcio Akio
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Marcio Akio
São Paulo, 24 de janeiro de 2021
Dedicado aos meus pais e irmãos, que me deram tudo.
Prólogo
Reuni aqui alguns textos meus muito aplaudidos pelo público em
mídias on e offline. Tratam-se de pensamentos fictícios baseados
na vida real. Não em fatos específicos, não em pessoas específicas,
mas na observação do cotidiano. No geral são conteúdos solares,
cheios de esperança e ingenuidade, mas também há aqueles
carregados de ironias. Como a vida. Você provavelmente vai amar
ou odiar o texto 9 que, por mais que você não ache justo, foi
imensamente compartilhado quando publiquei pela primeira vez,
em 2013.
Outra coisa: não há padrão entre um e outro. Há crônicas fictícias e
contos semi-reais. Revisei tudo mas mantive a forma, e você vai
perceber.
Escrevi isto com muito carinho, com muita raiva, com muito amor,
com muita mágoa, com muito tudo. Enfim, foi de coração.
Espero que goste ;-)
1
Você importa
2
Se
Ela fosse linda, não seria inteligente. Se fosse rica,
não seria dinâmica. Se fosse flexível, não teria atitude.
Se fosse transparente, não teria amigos, se fosse
cerebral, não teria amor, se fosse culta, não seria jovem, se
fosse trabalhadora, não teria tempo, se fosse equilibrada, não
teria vigor.
Se aquela roupa, aquela casa, aquele carro, aquele
perfume, aquele nariz, aquele sorriso, aqueles dentes, aqueles
cabelos, aquela boca, aqueles olhos, aquele talento, aquela
pessoa, aquele amor e aquela vida fossem dela, ela seria, de
uma vez por todas, feliz.
Se todos os “se's” de cada pessoa acontecessem como
cada uma deseja, todo mundo seria diferente.
E cada uma seria ninguém.
3
Antes x Depois
Nathália não abria mão de, uma vez por semana,
procurar no Google fotos de famosos sexagenários,
homens ou mulheres, para analisar o rosto, a cara, o
focinho de cada um. Não que fosse tarada por idosos, o lance
dela sempre foi comparar o jovem com o velho. Colocava
“Harrison Ford”, e aparecia o gatinho e o ancião. Com Robert
Redford e Robert De Niro, a mesmíssima coisa. Descobriu
que a Renata Sorrah tinha sido bonita. E, incrédula, viu a
Meryl Streep mocinha. Linda, aliás. Num espasmo, refletiu
sobre como a beleza resistia ao tempo e, injustamente, a feiúra
se agravava com ele.
- Mas Nathy, que neura é essa?! Esquece isso, hoje é
seu aniversário!
- É estimulante olhar pra essas pessoas, e eu já te
expliquei o porquê…
Em sua filosofia mais íntima, aquelas imagens
representavam um choque de realidade. Pois não importava o
quão inteligente, bela, sábia, grande, influente, carismática,
rica, cheirosa ou famosa fosse uma pessoa, ela sempre
sucumbiria ao tempo, esse inconveniente acusador de
verdades. Se a imagem do rosto do idoso mostrava uma
pessoa toda botocada, plastificada, maquiada, emperequetada,
era óbvio que tratava-se de uma biografia motivada por
valores extrínsecos, ou seja, pelo o que os outros disseram. O
contrário também: se o semblante era de alguém altivo,
mesmo apoiado em seis ou mais décadas de vida, aquele era
notadamente alguém que viveu bem consigo mesmo,
inspirado muito mais por suas verdadeiras paixões, em
detrimento dos haters, invejosos e comezinhos cínicos.
Acostumada a ouvir “você é linda” em todas as suas
variações, Nathália estava cansada.
- Nossa vida tá cheia de ordens camufladas de elogios,
já percebeu Dani?
- Do quê você tá falando?
- Quando alguém fala da sua beleza, por exemplo.
- Não entendi ainda…
- Se for alguém da família dizendo, é um elogio e uma
ordem. Se for outra pessoa, pode ser a expressão de um desejo
e uma ordem. Mas é sempre uma ordem.
- Como assim?
- “Você é bonita.”, “Que linda você está!”…
- Significa “continue assim”, “seja sempre” bonita?
- Exato! Percebeu? Vale pra outras coisas, mas pra
beleza é muito mais massacrante!
- Vale pra inteligência.
- Mas a inteligência dura muito mais tempo! E a ordem
de beleza que essas pessoas nos dão é a da juventude absoluta,
como se fosse possível paralisar o tempo.
- A incrível história de Adaline.
- O curioso caso de Benjamin Button.
- Hahahaha!
- Mulher bonita, além de tudo, não pode ser gente.
Tem que ser boneca.
- Quanto mais bonita, pior.
- Imagina se a gente solta um peidinho em público sem
querer, fazendo barulho?
- É um choque.
- Total… E fazer cocô?
5
Ainda dá tempo de voltar atrás
Ainda há tempo para construir tudo de novo.
Ainda dá para acreditar com força genuína, mesmo que
o ambiente externo seja o de um filme que você já viu cem
vezes.
Ainda há espaço para saciar a sede de quem nunca teve
uma oportunidade verdadeira de beber da coragem.
Ainda dá para ser ridiculamente piegas, sentimental-
idiota por excelência, pois ainda não inventaram o remédio
que cure uma velhice amarga e cheias de recordações do que
poderia ter sido e não foi; o que é óbvio, mas nem por isso
fácil.
Ainda há tempo para reconhecer que a inteligência, a
habilidade, a técnica, destreza, a astúcia, a rapidez, a forma, a
criatividade, o refinamento, o conhecimento e a beleza nunca
foram os protagonistas nas melhores biografias da história,
como jamais serão.
Ainda dá tempo de valorizar o que definitivamente faz
diferença na vida, de mudar o propósito, a atitude, a visão, o
julgamento, a realidade. Ainda há tempo para produzir uma
nova realidade.
E sempre dá tempo para tentar outra vez.
6
Sobre aquela pessoa
7
Pudores matam mais vida que
ímpetos
cê tem talento pra escrever algo que dê pra entender, faz uma
força, vai…
- Tá, e quanto eu te devo pelos palavrões?
- Até que não deve tanto, mas depois te passo a conta.
- Vê lá, quando voltar, se aprova o texto.
- Tá. Beijos.
- Beijos.
8
Até no susto a vida ensina
pro meu camarote gata, com open bar de Blue Label”? Você
tem 18 anos e nem por isso eu fiquei de brincadeira.
- Não mesmo… Desculpa… Mas todo mundo dá
trabalho, porra.
- Sim, mas há vários tipos de trabalho, né? E alguns
são ótimos.
- Quê?
- Gastei cinco horas e meia só cuidando de você,
“salvando” você. Poderia ter investido o mesmo tempo
planejando uma viagem a dois, por exemplo.
- Hum…
- Não estou dizendo que queria viajar com você ou
com qualquer outra mulher, apenas que há “gastos” e
“investimentos”…
- Tô entendendo, fica sussa.
- ”Gastos” são as energias daquelas relações de
insegurança onde ambos ou um tem que ficar cuidado do
outro, ou controlando por ciúmes, por exemplo.
“Investimentos” acontecem quando nos esforçamos pra
10
Você diz PARABÉNS e não sabe
o porquê
- Nós o quê?!
- Por quê a gente não deu certo?
- Porque você é uma chata…
- E você é ausente!
- Não sou! Nunca fui… Cê tá me testando?
- Tô… Ufa… Não fiquei com a mínima raiva agora. O
dia que sentir algo de novo, mesmo raiva, é porque voltei a
gostar de você.
- Também não senti nada, graças a Deus.
- Onde a gente vai mesmo?
- Galleria.
- Eu sei, mas onde? Outback ou Madero?
- Outback.
- Costelinha?
- Eu fecho.
11
Sobre dar conselhos
- Como assim?
- Não falam que você é ingênua?
- Ingênua, inocente, várias coisas… Sou uma tonta
mesmo!
- Não é! Pense!
- Não dá, só sinto vontade de chorar!
- Pode chorar… Faz bem. Chore sempre que quiser
perto de mim.
- Você não sabe como fui humilhada… Ela não têm
noção, fala coisas terríveis pra me inferiorizar, pra me
ridicularizar, e ainda grita pra todo mundo ouvir!
- Que mais?
- Precisa?!
- Não… Só tô querendo que você desabafe pra eu
começar…
- Pode começar então… Tô me sentindo MUITO
mal…
- Olha pra mim Camila. Mas olha firme.
- Hum.
- Primeira coisa: num mundo onde todos podem
confiar um no outro, podem ser o que quiserem, podem
acreditar, podem dizer a verdade… Nesse mundo hipotético
você seria considerada normal?
- Sim… Acho que sim.
- Portanto, neste mundo, onde todos têm segundas
intenções, sistemas de defesas, agressividades e ironias, ser
considerada diferente não seria um elogio?
- Pode ser…
- Claro que é! Você é diferente porque você
PERTENCE A OUTRO PATAMAR, um degrau ACIMA!
- Sou de outro mundo, é isso?!
- Hahaha! Seu bom humor voltando, ótimo… Mas é
isso mesmo.
- Segunda coisa: porque alguém sente vontade de te
colocar pra baixo?
- Por que é sem noção de convivência!
- NÃO! Porque ela se sente inferiorizada por você estar
muito ACIMA!
- Tá…
- Você “agride” as pessoas, mesmo sendo muito legal
(ou até por isso), apenas por existir! E as pessoas te “agridem
de volta” porque isso é um sistema automático de defesa do
ego delas… Acionado pelos seus complexos de
INFERIORIDADE.
- Será?
- Vamos analisar?
- Vamos.
- É sobre sua ex-chefe, né?
- É.
- Aquela que eu conheço?
- Sim…
- Você é mais bonita que ela, o que já é um tapa na
cara suficiente. Como se não bastasse, seu currículo é melhor
que o dela, sua experiência internacional é melhor que a dela,
seu inglês é melhor que o dela, seu network é melhor que o
dela. Das pessoas que eu conheci, todos gostam de você e não
14
Não é pra qualquer pessoa
Chegando ao médico.
- É muito grave doutor?
- Não, mas pode piorar. Você fuma?
- Sim, 3 maços por dia.
- Ok, os remédios são estes. A prescrição está aqui.
- Tudo bem, até quando tenho que tomar isto?
- Quinze dias.
- Tá ok.
- Consegue fumar menos nesses dias?
- Tipo quanto?
- Um maço por dia.
- Vou tentar não fumar nenhum.
- Não faça isso. Conheço gente que ficou louca por
tentar parar de vez. Você vai sentir muita falta e pode voltar a
fumar ainda mais.
- Hum.
- Parar de uma vez não é pra qualquer um, de verdade.
Saindo do consultório ele, puto da vida, para na
calçada. Devagar, pega um cigarro. Acende. Dá uma tragada
gostosa muito lentamente. Fuma com um prazer que jamais
havia sentido antes. Nicotina. A saideira. Ao terminar,
resmunga:
- Filho de uma puta. Agora vou ter que provar que não
sou qualquer um.
… 15 dias depois…
- Você entendeu.
- Posso te contar uma coisa?
- Pode.
- É um coisa que descobri por experiência própria.
- Tá, fala. Mas não foge da pergunta.
- É sobre isso… Mas tá, a resposta é: CLARO QUE
SIM. Só que existem 3 fases quando temos o interesse em
alguém…
- Hum…
- A primeira é a atração inicial, o tesão à primeira
vista… Que acontece quando olhamos pra alguém bonita e a
desejamos, mas ainda não há interesse, apenas desejo…
- A segunda é o interesse real?
- Sim, exato. Que rola quando conversamos com a
pessoa uma vez ou algumas vezes, confirmando ou não a
primeira impressão do “desejo inicial”.
- Claro, às vezes olhamos pra alguém bonito e, quando
conversamos, a pessoa tem mau hálito e já era o desejo.
- Isso… Ou ela é banguela, ou fanha, etc, etc, etc…
- Que mais?
- Você sabe que o desejo inicial pode durar muito
tempo, anos, até que a pessoa envelheça ou engorde, ou
morra, caso você nunca a conheça pessoalmente… Tipo um
ídolo ou herói que você nunca encontrou…
- E o interesse real?
- Calma… Sabemos também quanto tempo dura, em
média, a paixão, que são 18 meses para um casal normal
neuro-quimicamente falando…. Após isso é amor ou
comodismo.
- Sim, concordo. Isso quando você fica com a pessoa.
- Exato… Se não fica é amor platônico, paixão
platônica, que pode durar uma vida.
- Mas o que você descobriu?
- Vamos lá… A fase um é o desejo inicial, a fase dois é
o interesse real e a fase três é a paixão…
- Você descobriu quanto tempo dura a fase 2?!
- Isso!
- Quanto?!
- No máximo 3 meses para uma pessoa desejada com
menos de 28 anos de idade.
- Como assim?
- Se tenho interesse real em uma mulher com menos de
28, e fico com ela apenas uma vez, e depois a vejo somente
após 3 meses, ela mudou tanto que é praticamente outra
pessoa. Quanto mais jovem, maiores e mais rápidas as
mudanças… E geralmente traumáticas…
- Entendi…
- O interesse real, a fase 2, é o interesse na fotografia
da pessoa. Não estamos interessados no filme, apenas na
fotografia daquela vida, que dura até 3 meses. Queremos
aquela versão da pessoa, aquele peso, aquela idade, aquelas
escolhas, aquele humor, aquela índole, aquela pele, aquelas
vestimentas, aquele sorriso, aquela “virgindade de relação”.
Após esse “período fotográfico” tudo muda e é preciso
recomeçar do zero.
- Mas não dá pra recomeçar do zero. Elas já se
conhecem.
- Aí que tá. Não mesmo. Ambas estão diferentes e
ambas criaram preconceitos uma para com a outra. Mas
voltando, se a gente não resolve bem as coisas com a pessoa
dentro dessa janela de 3 meses, fica difícil voltar sem criar
expectativas completamente erradas… E no nosso casso a
gente não resolveu bem…
- Agora entendi a resposta…
- Eu já respondi literalmente.
- Ok…
- Você é muito jovem e quando nos conhecemos você
era muito mais… Mais jovem, mais espontânea, mais
carinhosa… Hoje você está mais calejada, desconfiada, um
pouco arrogante… Não considere isso uma crítica, é a fase da
mulher quando ela descobre, e testa, a sua beleza… Que no
seu caso é evidente.
- É preciso esperar muito… É isso?
- Hoje em dia o período imaturo da vida dura muito
mais tempo… As pessoas demoram pra refletir com
consciência… Mulheres bonitas ainda mais… Me desculpe
por não ser agora…
- Mas eu preciso de você perto de mim, pra me ajudar
a passar essa fase turbulenta… Mano, você não sabe o que eu
passo…
- Mas imagino. E conte comigo. Tome cuidado pra não
pegar nenhuma doença, ok? Nenhuma DST. Cuide da parte
emocional. Faça boas escolhas. Segure a ansiedade.
- Tô triste, ok? Na verdade to meio puta com você.
Mas to sem energia pra discutir. E mais: não é NADA fácil
fazer boas escolhas! Até porquê não existem boas opções
verdadeiras disponíveis!
- Não é verdade. Você não pesquisou direito ou não
selecionou bem a amostra. Mas relaxa. E quanto a mim, um
dia, logo menos, você me esquece. E afinal, se passar alguns
anos e você estiver saudável física e emocionalmente, quem
vai implorar chance pra ficar contigo talvez seja eu.
- Mas e hoje, tá procurando uma acima de 28 então?
- Nem abaixo, nem acima.
Se você gostou deste livro, por gentileza avalie-o na
Amazon.
Espero que goste das minhas outras publicações.
Forte abraço.
Marcio Akio
Sobre o Autor