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Ao longo dos anos, a forma como cada gênero era representado variava de

acordo com os costumes e as regras de etiqueta de cada época e cultura.


Os retratos eram comumente pintados por mulheres, tendo em vista que não
era esperado delas habilidades como imaginação e a capacidade de criar coisas
novas, e que o retrato era um tipo de pintura que poderia ser realizada em
casa.
Dessa forma, era comum que as mulheres fossem consideradas superiores no
ato de copiar do que de criar algo.
Apesar disso, muitos homens artistas também eram responsáveis por
realizarem retratos, e, assim como em todas as outras coisas, era esperado que
a forma de retratar de uma artista mulher e de um artista homem fossem
diferentes.
Além disso, também era possível diferenciar a forma como um artista
homem retratava uma mulher, e a forma como uma artista mulher retratava
a si mesma. Como pode ser observado no retrato e no autorretrato na tela
Por um lado, vemos o retrato da jornalista Sylvia Von Harden, produzido pelo
artista masculino Otto Dix
O artista ressalta sua feminilidade a partir de unhas feitas e batom forte, ao
mesmo tempo que retrata seu cabelo curto, braços longos e nariz pontudo,
mostrando a tendência de um novo tipo de mulher: uma mulher
independente e preocupada mais com seu psicológico do que com os ideais de
beleza da época.
Já a artista LOTTE LASERSTEIN retrata a si mesma pintando, com um jaleco que
poderia ser considerado de uso masculino na época, com cabelos curtos e
desarrumados, enquanto olha fixamente para o observador. A artista
demonstra concentração e objetividade na pintura. Para domesticar a pintura
e humanizar sua figura, ela adiciona um gato em seu colo.

A forma como a mulher é representada no retrato varia em cada época, sendo


as vezes retratada como uma alegoria a mitologia ou a literatura, como
também se tornando um objeto de representação da beleza ideal ou do
cotidiano doméstico.
Alguns defendem que tais representações apenas reafirmaram a hierarquia
do sexo masculino sobre o feminino, impedindo que as mulheres fossem
vistas como qualquer outra coisa que não fossem objetos puros e inocentes,
impedindo que essas assumissem papéis importantes na política e num
mundo dominado por homens.
Outros já defendem que a representação da mulher como deusas ou
personagens da literatura permitiu que essas fossem vistas em papéis fora do
contexto doméstico.
As tendências em retratar a inocência, a beleza e a pureza feminina tiveram
início nos séculos 15 e 16, na Itália.
A ideia era retratar apenas as qualidades estéticas femininas, sem que seu
caráter ou personalidade fosse visível. Para isso, as mulheres passaram a ser
representadas de perfil, de forma que seu contorno ficasse visível, mas sua
expressão, não.
O foco ficava dessa forma, na firmeza do queixo, no contorno fino do nariz,
na postura elegante, na boca delicada e na formosura do corpo.
Vale ressaltar que muitos homens também eram retratados pelo perfil,
porém a intenção era remeter às moedas e medalhas comemorativas,
afirmando o poder político e social dos mesmos.
É possível observar tais características no retrato realizado por Domenico
Ghirlandaio no século 15, que retrata a jovem Giovani destacando sua
fisionomia
Já no século 16, a representação do ideal de beleza feminino fica evidente.
Nessa época, já não era mais importante saber o nome da mulher retratada,
a beleza tornava-se o único ponto importante na pintura. Muitos desses
retratos eram preenchidos com erotismo, sendo considerados muitas vezes
como retratos de prostitutas da época.
NESSA ÉPOCA CRIARAM GALERIAS E EXPOSIÇÕES INTEIRAS PARA RETRATAR OS
IDEAIS DE BELEZA FEMININA DA ÉPOCA
No século 18, tornou-se comum retratar as mulheres da época como deusas
mitológicas ou personagens famosas da literatura.
Nesse retrato vemos a Senhorita Hale sendo retratada como uma deusa grega.
Ao mesmo tempo que permitia enxergá-las em papéis diferentes do
doméstico, também as erotizavam absurdamente.
No século 19, as alegorias e a teatralidade persistiram, porém, as mulheres
passaram a ser retratadas também como figuras heroicas da literatura e da
história.
Nesse retrato vemos Siddal, uma modelo de pintura e artista que era amante
de Rosseti, sendo retratada como a beata beatriz, personagem de um poema,
no momento de sua morte. Siddal é retratada com uma beleza angelical e um
corpo fino.
Em contraponto, o autorretrato produzido pela artista mostra que, na
verdade, ela era uma mulher ansiosa, melancólica e exausta.
Já no autorretrato da artista Artemisa, a mesma se retrata pintando,
enquanto utiliza roupas da época que demonstram sua feminilidade, também
afirma seu total foco e comprometimento com o exercício de pintar.
Tal foco pode ser visto pelos cabelos bagunçados, como se nada mais a
preocupasse além da pintura.
MULHERES ARTISTAS DURANTE OS SÉCULOS
Caterina van Hemessen (1528 – 1587), pintora da renascença flamenga, e
filha de um pintor já estabelecido, a quem geralmente se atribui a distinção de
ter criado o primeiro autorretrato
Responsável pela criação de retratos femininos e pela pintura de imagens
religiosas
É possível notar que a artista se autorretrata com roupas recatadas que trazem
um espectro de pureza à sua imagem
Sofonisba Anguissola (1532-1625), artista que veio de uma família nobre cujo
pai incentivou seu estudo em artes pois acreditava que isso fazia parte dos
estudos máximos de uma dama da alta nobreza.
Também criou uma série de autorretratos e de representações da Virgem
Maria.
Anguissola busca representar em seus autorretratos sua castidade, humildade
e sua devoção religiosa. Utilizando roupas simples, ela demonstra obediência e
pureza. Se identificando, muitas vezes, como virgem.

Lavinia Fontana (1552-1614), filha do artista Prospero Fontana


Conhecida como a primeira artista profissional feminina porque a sua carreira
se consolidou nas artes.
É conhecida especialmente por seus retratos, e mais tarde, pelos quadros de
altar que pintou no Vaticano, pintando também nus femininos e masculinos.

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