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A Efígie da República

Efígie, segundo Aurélio, significa a representação plástica da imagem de uma pessoa real ou
simbólica (especialmente em vulto ou relevo); representação da figura convencional de uma
personagem real ou fictícia, divindade etc; imagem, figura, retrato (de pessoa).
A Efígie da República originou-se de uma oposição à figura do rei, monarca, homem, representante
e símbolo do Estado, caracterizando a liberdade, a pátria; e dominou a simbologia francesa do pós-
revolução, 1792. A inspiração veio de Roma, onde a mulher já era o símbolo da liberdade. O
primeiro selo da República francesa trazia uma figura de mulher em pé, vestida à romana,
segurando uma lança na mão direita, de cuja ponta pendia um barrete frígio. Na mão esquerda,
havia um feixe de armas e um leme, que fechava a simbologia. Segundo estudos:

1. O barrete simbolizava os libertos de Roma;


2. O feixe de armas, a unidade ou a fraternidade;
3. O leme, o governo;
4. A lança, a presença do povo no regime

Por volta de 1848, na França, durante a Segunda República, foi realizado um concurso onde grande
maioria dos pintores e escultores escolheram basicamente a figura feminina como elemento para
representar a República. De acordo com alguns historiadores, foi a partir deste concurso que
começaram as primeiras diferenças nos elementos representativos da república, pois esta aparecia
sentada ou de pé, maternal ou combativa, de cabelos penteados de revoltos, seios cobertos ou nus,
com diferentes acompanhamentos atribuídos a sua pessoa. Só havia uma unanimidade: a figura
feminina.
Na terceira República francesa, a figura da mulher se popularizou, surgindo Marianne (nome
popular de mulher), não mais o ideal grego, mas a mulher-povo. A popularização da mulher-
República provocou uma oposição governamental, que passou a incentivar o uso da imagem da
mulher-santa, idealizada, num culto a Virgem-Maria. Uma verdadeira batalha ideológica.
"Ave, Marianne, cheia de força, o povo é contigo, bendito é o fruto do teu ventre, a República... "
dizia a Lettre a Marianne, de Felix Pyat.
Neste período, vários monumentos foram erguidos e deixaram claro a falta de unidade na
representação da efígie republicana; apenas a mulher se mantinha constante.
No Brasil, apesar da herdeira de nossa monarquia ter sido uma mulher: Princesa Izabel, nossos
republicanos também fizeram uso da imagem feminina. Os primeiros a se utilizarem da imagem da
mulher-República foram os caricaturistas. Antes da proclamação, baseavam-se em modelos
clássicos e escolheram Atena como "musa", que embora protetora da paz, aparecia com intenção
guerreira.
Os pintores, exceto os positivistas, ignoravam o símbolo feminino para a representação do novo
regime. O único quadro que vale a pena ser comentado pertence a Manuel Lopes Rodrigues, chama-
se Alegoria da República (1896) e foi feito em Roma, por encomenda do Governo. Nele, a mulher
veste túnica, manto e sandálias clássicas. Também são clássicos os símbolos, como: as palmas, os
ramos de café (aparecem no lugar dos louros), a espada, e a cabeça de Meduza do Medalhão
(Atena); e a mulher aparece sentada para dar a impressão de tranqüilidade, força e segurança.
Na escultura, foram produzidos alguns bustos de mulher, sempre com barrete frígio e com
expressões que variavam do cívico ao sensual, passando pelo belicoso (algumas delas se encontram
hoje no Museu da República).
Os artistas positivistas, que acreditavam nos valores da humanidade, da pátria e da família, nesta
ordem, tinham a República (a pátria) em segundo plano, e usaram a mulher não como República,
mas representando a humanidade. A virgem-mãe capaz de se reproduzir sem interferência externa.
COMTE, filósofo positivista, chegou a criar um tipo feminino perfeito para esta representação: uma
mulher de trinta-anos sustentando o filho nos braços, e queria que o rosto de Clotilde de Vaux, sua
mulher, fosse usado como modelo!

A Décio Villares e Eduardo Sá devemos algumas obras onde a figura da mulher, apesar de sempre
presente, sofria modificações em seu significado. Às vezes ela é a humanidade, às vezes a pátria e
até a República. Eles não se prendiam aos clássicos e chegaram a usar Clotilde de Vaux, musa do
movimento, como modelo. Suas mulheres muitas vezes transpareciam exuberância física e não se
adaptavam a imagem da mulher brasileira, o que é um fato decepcionante, já que os positivistas
davam às raças negra, índia e ao proletariado muita importância.
Na época da proclamação, representações traziam as mulheres cariocas, "modernas", sensuais, belas
e frágeis, como modelos; dando à alegoria um sentido contraditório e até invertido.
Apesar dos pintores positivistas terem levado a sério a tentativa de utilizar a figura feminina como
alegoria, copiando o esforço francês de vender o novo regime por meio da imagem feminina, este
redundou em fracasso. Segundo José Murillo de Carvalho, a República brasileira não produziu
estética própria, nem procurou redefinir o uso do que já existia. A imagem da República passou,
rapidamente, a ser utilizada, pelos próprios caricaturistas que a "importaram", para ridicularizar o
regime. A virgem ou a mulher heróica transformou-se em mulher da vida, prostituta. "Esta não é a
República dos meus sonhos", diziam os caricaturistas. "de mãe, ela tornou-se ama-de-leite, vaca
leiteira, que tem que alimentar políticos e funcionários que vivem dela e não para ela", disse Vasco
Lima. O exemplo mais escandaloso de desmoralização veio de um ministro de Campos Sales, em
1900, que foi acusado de mandar reproduzir nas notas do Tesouro, como símbolo da República,
uma das meretrizes mais famosas da capital, transformando nossa República em rés pública (mulher
pública).

Trabalho de pesquisa:
Cláudia Lopes Tolentino - Gravadora Talho-Doce

Bibliografia de Referência:

- Biblioteca Nacional, acervo:


1 - História e Ideologia
Geraldo M. Coelho
II - 36,6,41 BN

2 - Apostolado Positivista e a República


Antônio Paim
VI - 388, 7, 17 BN

3 - Regimento e tópicos básicos do temário geral do Congresso Nacional de História da


Propaganda, Proclamação e Consolidação da república no Brasil
III - 37, 7, 20 n.2 BN

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