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Deslocado esquecido na posse dos eleitos

Eu sou Cabo Delgado

1
Abilho Mohomede Ekibal
Lagrimas do inocente

A guerra é um estado de loucura coletiva, mas nos seus


resultados sobre o indivíduo, difere da bebedeira:

A bebedeira dissolve-o, a guerra torna-o anormalmente


lúcido, por uma abolição das inibições morais.

O soldado é um possesso: funciona nele, e através dele,


uma personalidade diferente, sem lei nem moral.

O soldado é um possesso, ou um intoxicado, ou uma


daquelas drogas que dão uma clareza fictícia ao espírito,
uma lucidez que não deve haver perante a profusão da
realidade. (Fria)

Cabo Delgado

Eu sou, Cabo Delgado

Eu sou, Moçambique

Eu sou, o dono de gás natural de Palma

Eu sou Cabo Delgado

2
Eu sou, o dono de rubis de Montepuez

Eu sou, o dono de grafite de Balama

Se a consciência infeliz dos que sabem de a razão da


minha desgraça não pesa

A consciência infeliz dos que estão a me destruir fica,


mas livre.

Não mate, meus filhos

Não queime, as casas dos meus filhos

Não recrutem, meus netos

Levem, a riqueza se necessário

Deixem, a minha Terra em paz

Deixem, meus filhos em paz

Deixem, meus netos em paz.

Eu sou Cabo Delgado

3
Choro de deslocado

Minha filha de 10 anos não sabe ler, porque a escola dela


foi incendiada, eu que sou pai não tenho tempo de lhe
ensinar a ler só tenho tempo de pensar o melhor
esconderijo.

Eles dizem cabo delgado é Moçambique só porque na


garagem deles tem 8 resultados de luxo,

que conseguirão em cabo delgado, os 2 filhos deles, um


de 7 ano e o outro de 9 anos, sabem ler e já falam a
língua internacional, eu e aminha filha estamos
sufocados,

Eles estão no sofá bem-trajados, a minha Bicicleta já


não tem pneu e nem sei como carregar a minha filha e
minha esposa gravida

Eles não sabem onde vendem pneu de carros dele


porque tem o indicado pela manutenção.

Sou Macomia do primeiro tiro da guerra do colono

Eu sou Cabo Delgado

4
Meu irmão chama-se Mocímboa da praia do primeiro
tiro do terrorismo.

Meu Irmão Palma, Nangade,

Meu tio Quissanga, Muidumbi, Meluco, chiúre

Todos nos queremos ir na casa da avó Pemba, mas avó


já não tem espaço e nem comida.

Avó pemba o que vamos fazer?

Queria visitar tio Montepuez e trabalhar com ele com


(Rubi),

Avó eu já tinha feito as malas para ir no meu irmão


Balama ir trabalhar com a Grafite,

Avó Pemba estou no Primo Silva Macua a espera de


escolta para ir trabalhar com irmão Palma,

Primo Menguelewa e Awasse estão em lágrimas de


Sangue e não tem como chegar no irmão Palma para
trabalhar com Gás natural.

Eu sou Cabo Delgado

5
Tio Nampula não tem como passar no sobrinho Chiúre
porque tem medo da emboscada,

Tio Niassa não tem como fazer chegar o feijão e a batata


na casa do sobrinho Ibo, porque tem medo da
emboscada.

Avó produzimos, mas não comemos

Avó alguém está a comer o que produzimos,

Avó a barriga do vizinho cresceu

Avó quero viver de autoemprego, mas não tenho como


iniciar

O meu negócio

Ontem na montanha, hoje na floresta e amanhã no mar

Sem tempo de trabalhar com o autoemprego.

Eu sou Cabo Delgado

6
Grito de deslocado

Ruído longínquo e próximo não sei porquê

De terrorismo Moçambique... Ruído dos inocentes...

Que vai morrer por estar na terra cobiçado...

Em que a bondade deu a morte rendez-vous

Negra amorfa inocente em sangue,

Pela terra, onde cresceu e onde limpou

Que sol de sangue no azul pálido do horizonte

Tropel vários de raças de cara de inocentes que não são

Mais profundamente do que a realidade dos seus planos,

Mais realmente do que homem contra homem e nação


contra nação...

Pensamento de horror contra cabo Delgado...

Ó Homem de mãos atadas e levado entre a nuca

Eu sou Cabo Delgado

7
Para ao pé e a faca afiada pelo pescoço

Olhos vermelhos, lagrimas em baldes

O medo de perder o futuro em segundo com a faca

a dor na alma.

Um pobre em guerra, por engano

Um pobre em guerra por preguiça

Um pobre em guerra por falta de oportunidade

A alma intranquila... Ó silêncios que as pontes

Sob as fortalezas antiquissimamente…

Marcha triunfal, onde a um tempo e não a um tempo,

Onde numa simultaneidade por transparências uns de


outros,

Eu sou Cabo Delgado

8
Os guerreiros de todos os tempos são donos de
Moçambique, os soldados de todo pais, não entendem a
razão do terrorismo

As couraças de todo Cabo Delgado, mas ninguém os a


valoriza

As armas brancas de todas as forjas,

As hostes com medo da arma branca pousar no pescoço

Invasão da minha cidade

Ninguém sabe da proveniência dos invasores, de rostos


cobertos

É um enigma p'ra a história.

Distritos em chamas

Distritos abandonadas

Distritos sem esperança do calor dos habitantes

Eu sou Cabo Delgado

9
“Morreram N, homens.” Ele era chefe das famílias....

O acontecimento mais macabro

Jovens enganados...

Jovens recrutados

Jovens desesperados

Com a sua realidade de gente que vive realmente,

Com a sua estratégia realmente aplicada a exércitos reais


compostos de gente real

E as suas consequências, não coisas contadas em livros

Mas frias verdades, de estragos realmente humanos,


mortes de quem morreu, na verdade,
E o sol também real sobre a terra também real

Campos de cultivo sem sacha

Sem a produção estável.

Eu sou Cabo Delgado

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Dói-me a alma e não compreendo...

Custa-me a acreditar no que existe...

Pálido e perturbado, não me mexo e sofro


Me custa acreditar que já não tenho casa

Já não tenho origem, o meu filho de 7 anos foi recrutado

Deslocado sem esperança

Quando a invasão ardia na Cidade

E as mulheres gritavam,
Os 10 jogadores de basquete jogavam
O seu jogo contínuo.

À sombra de salão fitavam


E, ao lado de cada um, esperando os seus
Momentos mais folgados,
Quando havia movido a bola, e agora
Esperava o adversário,

Eu sou Cabo Delgado

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Ardiam casas, saqueadas eram
As arcas e as paredes,
Violadas, as mulheres eram postas
Contra os muros caídos,

Trespassadas de lanças, as crianças

Eram sangue nas ruas...

Mas onde estava atropa perto da cidade,

E longe do seu ruído, a espera da ordem do chefe

O chefe sem tempo de dar ordem porque esta


concentrado com jogo de bilhar

Os jogadores jogavam

O jogo do basquete.

Eu sou Cabo Delgado

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Um filho deslocado sem tempo de estudar

Flores que nunca murcham


O momento antes de terrorismo.

As flores que nunca murcham estavam a gozar o


intervalo maior

Os Professores em conversa da demora do salário

O diretor chateado com o gestor da escola

Os encarregados de edução das flores em seus campos


de cultivo

A tropa em seu descanso.

Terroristas no meio da vila, disparos sem parar

Professores em fuga, diretor e seu gestor com medo de


sair no Gabinete

Flores que nunca murcham perdidas, e em choros

Os encarregados das flores sem pista das suas flores,

Eu sou Cabo Delgado

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Mulheres gravidas na sala de parto abandonada,

Enfermeiros em fuga, e doentes morrendo por falta de


medicação

Terroristas em festa, as lojas na posse deles, as farmácias


abertas

A Tropa fugitiva, a farda no saco plástico, armas


enterradas

O povo sem explicação,

Os chefes tranquilos e avitos

Tudo o que é sério pouco nos importa,

O grave pouco pese,

O natural impulso dos instintos

Que ceda ao inútil gozo (Sob a sombra tranquila do


arvoredo.

A memória de um povo abandonado numa mata

Eu sou Cabo Delgado

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E uma partida ganha

A um jogador melhor.

A glória pesa como um fardo rico,

A fama como a febre,

O amor cansa, porque é a sério e busca,

A ciência nunca encontra, os que estão em guerra

E a vida passa e dói porque o conhece...

Prende a alma toda, mas, perdido, pouco

Pesa, pois não é nada.

Mesmo que terroristas levem a nossa cidade, a origem a


incomodara

seja apenas sonho

E não haja parceiro,

Imitemos os persas desta história,

Eu sou Cabo Delgado

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Sou cidadão que quer a paz

Sou cidadão que perdeu documento na guerra

Sou cidadão sem braço

As lagrima Caim em todos momentos

Cabo Delgado esperando a hora da paz

Os chefes esperando a hora de almoço.

Deus eu sou Cabo Delgado faça eles terem piedade de


mim.

Março 2024

Eu sou Cabo Delgado

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