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Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia

CONTECC’ 2015
Centro de Eventos do Ceará - Fortaleza - CE
15 a 18 de setembro de 2015

CONCENTRAÇÃO DE BETALAÍNAS NA CASCA DA PITAYA VERMELHA

FRANCISLAINE SUELIA DOS SANTOS1*, ROSSANA MARIA FEITOSA DE FIGUEIRÊDO 2,


ALEXANDRE JOSÉ DE MELO QUEIROZ2, VANESSA MARIA DOS SANTOS SANTIAGO4
1
Graduanda em Engenharia Agrícola, UFCG, Campina Grande-PB. Fone: (83) 98730-4872,
suelia_santos@hotmail.com
2
Dr. Professor Engenharia Agrícola, UFCG, Campina Grande–PB. Fone: (83) 2101-1547,
rossana@deag.ufcg.edu.br, alex@deag.ufcg.edu.br
3
Mestre em Engenharia Agrícola, UFCG, Campina Grande-PB. Fone: (83) 2101-1547,
vsantiagosan@hotmail.com

Apresentado no
Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia – CONTECC’ 2015
15 a 18 de setembro de 2015 – Fortaleza – CE, Brasil.

RESUMO: As betalaínas são pigmentos naturais presentes em algumas classes de plantas, frutas e
flores. Sua aplicação ainda é restrita devido à escassez de fontes de extração. A casca da pitaya, além
de apresentar altas concentrações de betalaínas, tem a vantagem de ser isenta de algumas substâncias,
presentes na beterraba, que proporcionam sabor residual desagradável. Além disso, a extração pode ser
feita na casca, que atualmente é considerada um resíduo para as agroindústrias. Portanto este trabalho
teve como objetivo quantificar o teor de betalaínas (betacianinas e betaxantina) das cascas de pitaya
vermelha in natura e secas em diferentes temperaturas. O conteúdo de betalaínas presentes na casca da
pitaya foi determinado através das leituras das amostras realizadas em espectrofotômetro a 480 e 534
nm e a avaliação do nível de pigmentação por meio da análise de cor das cascas secas. Os resultados
mostraram que a casca da pitaya apresentou altos níveis de betalaínas (betacianinas e betaxantinas),
apresentando resultados mais significativos nas cascas secas a temperatura de 50 °C. Observou-se que
a temperatura de secagem influenciou na degradação dos pigmentos apresentando aumento da
luminosidade (L*) e da intensidade de amarelo (+b) e diminuição da intensidade de vermelho (+a).
PALAVRAS-CHAVE: Hylocereus undatus, pigmentos, betacianinas.

BETALAINS CONCENTRATION IN THE RED PITAYA SHELL

SUMMARY: The betalains are natural pigments present in some classes of plants, fruits and flowers.
Its application is still restricted due to limited extraction sources. The bark of the pitaya, besides
presenting high concentrations of betalains, has the advantage of being free of certain substances
present in the beets, which provide unpleasant aftertaste. Moreover, the extraction can be done in the
shell, which is currently regarded as waste for the processing industry. Therefore this study aimed to
quantify the betalains content (betacyanins and betaxanthin) the shells of red pitaya fresh and dried at
different temperatures. Content betalains in the bark of pitaya was determined by the readings of the
samples taken in spectrophotometer at 480 and 534 nm and the evaluation of the pigmentation level by
color analysis of the dried bark. The results showed that the dragon fruit peel showed high levels of
betalaines (betacyanins and betaxantinas), with more significant results on the dried peel temperature
of 50 °C. It was observed that the drying temperature influence on the degradation of the pigment
having increased brightness (L *) and the yellowness (+ b) and reduction of redness (+ a).
KEYWORDS: Hylocereus undatus, pigments, betacyanins

INTRODUÇÃO
As betalaínas são pigmentos naturais presentes em algumas classes de plantas, frutas e flores.
Caracterizam-se por ser uma classe de pigmentos que proporcionam cores atrativas e estáveis diante
das condições de processamento da indústria de alimentos. As betalaínas receberam menor atenção
científica do que as outras classes de pigmentos devido à sua ocorrência restrita. Entretanto, esse
pigmento tem despertado a atenção de pesquisadores, consumidores e da indústria em razão do seu
poder tintorial, coloração atrativa, estabilidade e atividade antioxidante (Butera et al., 2002).
As betalaínas são pigmentos nitrogenados de 13 famílias dentro do reino das plantas, também
acumulados em alguns membros dos basidiomicetos. São constituídas por dois subgrupos, as
betacianinas vermelho-violeta e as betaxantinas amarelo-alaranjadas (Steglich, 1990). Existem poucas
fontes comestíveis conhecidas de betalaínas, as beterrabas amarela e vermelha (Beta vulgaris L. ssp.
vulgaris), acelga colorida (Beta vulgaris L. ssp. cicla), grãos ou folhas de amaranto (Amaranthus sp.) e
frutos dos cactos (Hylocereus), as betaxantinas são produtos da condensação do ácido betalâmico e
aminoácidos ou aminas (Vaillant et al., 2005).
A pitaya é uma fruta rústica, pertencente à família Cactácea, sendo conhecida mundialmente
como Dragon Fruit ou Fruta-do-Dragão. Sua polpa é rica em fibras com excelente qualidade digestiva
e de baixo teor calórico. Os frutos das pitayas apresentam características diversificadas de acordo com
a espécie, dentre as quais pode ser citada a Hylocereus undatus (Haw.) Britton e Rose, frutos com
casca vermelha e polpa branca (Lima et al., 2013). A casca da pitaya pode ser utilizada para o
aproveitamento das betacianinas e de pectina. Estudos realizados por Bakar et al. (2013) mostraram
que a pitaya vermelha (Hylocereus polyrhizus) seca em secador por aspersão, tem alta retenção de
betacianinas e a presença das betalaínas foi detectada tanto na polpa quanto na casca da pitaya.
A produção de corante natural a partir da casca da pitaya pode ser uma grande alternativa para
as indústrias de alimentos, em razão de que além de reduzir o impacto ambiental provocado pelo atual
descarte da casca, as betalaínas presentes na casca da pitaya podem ser facilmente extraídas por meio
aquoso (Jamilah, 2011), o que torna este processo economicamente e tecnologicamente viável. Por
isso, a casca da pitaya pode ser não apenas uma rica e variada fonte de corantes, mas também
significar possibilidade de renda.
As betalaínas extraídas da pitaya, ao contrário da beterraba vermelha, podem ser utilizadas em
alimentos sem impacto de sabor negativo como aquele derivado dos extratos de beterraba. As
betalaínas nas frutas dos cactos abrangem um amplo espectro de cor do amarelo-alaranjado (Opuntia)
ao vermelho–violeta (Hylocereus) (Stintzing et al. 2003). Uma vantagem adicional dos frutos dos
cactos são suas mínimas necessidades de solo e água, sendo considerado como culturas alternativas
para a economia agrícola das regiões áridas e semiáridas (Castellar, 2006).
Desta forma, o presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de se quantificar o teor de
betalaínas (betacianinas e betaxantina) das cascas de pitaya vermelha in natura e secas em diferentes
temperaturas.

MATERIAL E MÉTODOS
A matéria-prima utilizada foi pitaya vermelha de polpa branca (Hylocereus undatus (Haw)
Briton e Rose) cultivada na região de Limoeiro – CE. As pitayas maduras foram selecionadas
manualmente, submetidas à lavagem e cortes diagonais onde foi separado a polpa das cascas; as cascas
foram colocadas em sacos de polietileno de baixa densidade e armazenadas em freezer a -22 °C até a
utilização nos experimentos.
O conteúdo de betacianinas e betaxantina, em triplicata, das cascas de pitaya in natura e secas
foi determinado por meio da metodologia de LIM et al. (2011) adaptada com as leituras das amostras
em espectrofotômetro a 480 e 534 nm.
As cascas de pitaya, cortadas com tamanho padronizado de 6 x 2 cm, foram secas em estufa
com circulação forçada de ar nas temperaturas de 50, 60 e 70 °C e velocidade de ar de 1,0 m s-1. Após
a secagem as cascas foram trituradas em multiprocessador e analisadas.
Foram feitas as análises da cor das amostras em pó, utilizando-se o espectrofotômetro portátil
Hunter Lab Mini Scan XE Plus, obtendo-se valores de L* (luminosidade), +a (intensidade de
vermelho) e b+ (intensidade de amarelo). Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e
as médias comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade, utilizando-se o programa Assistat.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela 1 tem-se a quantificação das betacianinas presentes nas cascas da pitaya vermelha
in natura e secas a 50, 60 e 70 °C. O valor encontrado para a casca in natura foi superior ao valor
encontrado por Tang & Norziah (2007) para a pitaya da espécie Hylocereus polyrhizus que foi de 6,7
mg. 100 g-1 na casca in natura. Quanto às betacianinas presentes nas cascas secas verifica-se que com
o aumento da temperatura de secagem houve redução significativa das betacianinas, de acordo com o
teste de Tukey. O maior teor foi encontrado na amostra seca na temperatura de 50 °C (130,67 mg. 100
g-1), sendo superior ao da in natura em razão do menor teor de umidade o qual proporciona a
concentração deste pigmento. Verifica-se que a temperatura influenciou na degradação do pigmento da
casca. Mello et al. (2015) encontraram valor inferior de betacianinas na casca seca de pitaya vermelha
(Hylocereus undatus) que foi de 101,04 mg. 100 g-1 de amostra seca.

Tabela 1. Valores médios das betacianinas (mg. 100 g-1) das cascas de pitaya vermelha (Hylocereus
undatus) in natura e secas nas temperaturas de 50, 60 e 70 °C
Cascas Betacianinas (mg. 100 g-1)
In natura 94,64 b
Secas a 50 °C 130,67 a
Secas a 60 °C 71,89 c
Secas a 70 °C 50,92 d
DMS = 0,03; MG = 90,84 mg. 100 g-1; CV = 0,15%;
DMS: Desvio mínimo significativo; MG: Média geral; CV: Coeficiente de variação.
Obs: Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Na Tabela 2 tem-se os resultados dos valores médios da betaxantina nas cascas da pitaya
vermelha in natura e secas nas diferentes temperaturas. O teor de betaxantina na casca in natura foi
superior ao encontrado por Vitti (2003) na beterraba (Early wonder) de 35 mg 100 g-1 massa fresca.
Observa-se que como as betacianinas as betaxantinas também sofreram redução com o aumento da
temperatura de secagem. Verifica-se que os teores de betaxantinas nas amostras secas foram
superiores aos das betacianinas.

Tabela 2. Valores médios das betaxantinas (mg. 100 g-1) das cascas de pitaya vermelha (Hylocereus
undatus) in natura e secas nas temperaturas de 50, 60 e 70 °C
Cascas Betaxantina (mg. 100 g-1)
In natura 91,66 d
Secas a 50 °C 160,17 a
Secas a 60 °C 131,75 b
Secas a 70 °C 103,73 c
DMS = 0,50; MG = 121,83 mg. 100 g-1; CV = 0,16%.
DMS: Desvio mínimo significativo; MG: Média geral; CV: Coeficiente de variação.
Obs: Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Na Tabela 3 são apresentados os valores médios dos parâmetros da cor das cascas da pitaya
vermelha secas a 50, 60 e 70 °C. Observa-se que com o aumento da temperatura, houve o aumento da
luminosidade (L*) e da intensidade de amarelo (+b), indicando que a amostra tornou-se mais clara
esse comportamento representa que com o aumento do aquecimento, a cor rosa escuro tendendo ao
vermelho-violeta característica das betacianinas foi degradada para tons de amarelo, caraterísticos das
betaxantinas.
Comportamento semelhante foi observado por Quek et al. (2007) ao estudarem a influência da
temperatura do ar de secagem, em secador por aspersão para a polpa de melancia, havendo aumento da
intensidade de amarelo com o aumento de temperatura de secagem. Os valores de luminosidade das
cascas foram próximas aos relatados por Stintzing et al. (2003) que variaram de 47,3 a 58,7. Em
relação à intensidade de vermelho, verifica-se que com o aumento da temperatura houve redução
desses valores. Esse comportamento representa que com o aumento da temperatura de secagem houve
a degradação dos pigmentos principalmente das betacianinas.
Tabela 3. Valores médios dos parâmetros de cor das cascas de pitaya vermelha secas.
Luminosidade Intensidade de vermelho Intensidade de amarelo
Temperatura (°C)
(L*) (+a) (+b)
50 48,76 c 16,80 a 17,80 c
60 56,81 b 11,74 b 27,17 b
70 59,29 a 11,27 c 28,99 a
(L*): DMS = 0,12; MG = 54,95 CV = 0,15% . (+a): DMS = 0,06; MG = 13,27; CV = 0,32%
(+b): DMS = 0,24; MG = 24,65; CV = 0,65%. DMS: Desvio mínimo significativo; MG: Média Geral; CV:
Coeficiente de variação. Obs: Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de
Tukey, a 5% de probabilidade.

CONCLUSÕES
A casca da pitaya vermelha apresenta grande quantidade de betalaínas (betacianinas e
betaxantinas) que podem ser usadas como corante natural. A temperatura de secagem exerceu
influência sobre os teores das betalaínas, com os teores diminuindo com o aumento da temperatura.

REFERÊNCIAS
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