Você está na página 1de 7

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/242162923

Avaliação da qualidade de tomate seco em conserva

Article · October 2007


DOI: 10.1590/S1415-43662007000500012

CITATIONS READS

24 153

3 authors, including:

Gisele Anne Camargo


Instituto de Tecnologia de Alimentos
16 PUBLICATIONS 140 CITATIONS

SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Development of products and processes for the use of by-products of coffee processing: green and defective bean technological potential for foods and cosmetics. View
project

All content following this page was uploaded by Gisele Anne Camargo on 20 June 2014.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


Revista Brasileira de
Engenharia Agrícola e Ambiental
v.11, n.5, p.521–526, 2007
Campina Grande, PB, UAEAg/UFCG – http://www.agriambi.com.br
Protocolo 001.06 – 23/01/2006 • Aprovado em 04/05/2007

Avaliação da qualidade de tomate seco em conserva

Gisele A. Camargo1, Niurka Haj-Isa2 & Marlene R. de Queiroz3

RESUMO
O tomate seco em conserva é alvo de crescente aceitação no mercado brasileiro; sua utilização é comum em aperitivos
e na culinária como ingrediente de molhos e pizzas. Avaliou-se, neste trabalho o efeito dos seguintes fatores na qualida-
de do tomate seco: variedade de tomate (Rio Grande e Débora Plus), geometria de corte (pedaços de ½ e ¼ com rela-
ção ao eixo maior do fruto), presença ou ausência de sementes e teor de umidade final (25 e 35%), mediante análises
instrumentais de cor e textura e testes sensoriais afetivos. Os resultados mostraram que a variedade Rio Grande apresen-
tou melhor mastigabilidade e dureza, porém maior suscetibilidade ao escurecimento após o processo de secagem. De
forma geral, a preferência dos consumidores foi por tomates secos com 35% de umidade final, enquanto a melhor qua-
lidade final foi obtida a partir do tratamento com a variedade Rio Grande e umidade final de 35%.

Palavras-chave: variedades, análise sensorial, parâmetros de qualidade

Evaluation of quality of dried tomato

ABSTRACT
Preserved dried tomato has been gaining increasing acceptance in the Brazilian market, its use being common in appetizers
and also in the cooking, as an ingredient of sauces and pizzas. The effect of the following factors on the quality of dried
tomato was evaluated: variety of tomato (Rio Grande and Débora Plus), geometry of pieces (½ and ¼ to the fruit major
axis), presence or absence of seeds and final moisture content (25 and 35%) by means of instrumental texture, and color
analysis and sensorial affective tests. The results showed that the variety Rio Grande presented better physical parameters
but was more susceptible to darkness. Generally, the consumers preferred dried tomatoes at 35% moisture content. The
best final quality of dried tomato was obtained from the treatment performed with Rio Grande variety and 35% final
moisture content.

Key words: variety, sensorial analysis, quality parameters

1 Doutora em Tecnologia de Alimentos, Pesquisadora Científica, FRUTHOTEC/ITAL, Av. Brasil, 2880, CP 139, CEP 13070-170, Campinas, SP. Fone: (19) 3743-1840,
Fax (19) 3242-3104. E-mail: camargo@ital.sp.gov.br
2 Doutora em Tecnologia de Alimentos, FESB/FAM/FAJ/CEUNSP, CP 183, CEP 12929-200, Bragança Paulista. Fone: (11) 4035-7800. E-mail: niurka_hajisa@hotmail.com
3 FEAGRI/UNICAMP, CP 6011, Barão Geraldo, CEP 13083-875, Campinas. E-mail: marlene@agr.unicamp.br
522 Gisele A. Camargo et al.

INTRODUÇÃO processo de avaliação da sua qualidade em qualquer fase do


processo produtivo, mas os mais avançados programas de
Entre as hortaliças mundialmente cultivadas para consu- computação, a adequação de métodos estatísticos e as técni-
mo in natura e, sobretudo, industrializado, o tomate se so- cas gráficas têm sido incapazes de substituir a integração das
bressai, razão porque é considerado de produção e utiliza- percepções humanas ao consumir um produto in natura ou
ção universal. Segundo dados do Agrianual (2006), a área processado.
plantada com tomate no Brasil é superior a 58 mil hectares Nas atuais condições, com mercados multinacionais e mais
com produção anual em torno de 3,5 milhões de toneladas. competitivos, o sucesso de um produto depende não só dos
Este fruto climatérico é altamente perecível e as técnicas de aspectos de eficiência do processo e viabilidade econômica,
conservação na pós-colheita podem contribuir para minimi- mas, também, da satisfação ao sabor e expectativas do con-
zar suas perdas e lhe agregar valor. sumidor; portanto, considerar esses fatores é essencial no
A secagem de produtos com elevado teor de umidade ini- processo de desenvolvimento, otimização e melhoria da qua-
cial apresenta diversas vantagens tais como: inibição da ação lidade dos produtos e, para tanto, a análise sensorial se cons-
de microrganismos, manutenção de constituintes minerais, titui em importante ferramenta.
redução de custos de transporte, manuseio e estocagem, tor- A diversidade de métodos sensoriais divididos em dois
nando-se uma alternativa para a solução dos problemas de grandes grupos (analíticos e afetivos), mostra um universo
perda, descarte e poluição; além disso, no caso particular do de possibilidades que se abrem para a avaliação de produtos
tomate a secagem promove, entre outras, alteração do sabor em dissímeis áreas, incluindo a agroindústria.
e textura do fruto, conferindo-lhe paladar exótico, muito O objetivo no presente trabalho foi avaliar a qualidade do
apreciado pelos consumidores. tomate seco, abordada sob o enfoque das ferramentas de
O tomate seco foi introduzido no mercado brasileiro por análises instrumentais e sensoriais.
imigrantes de países como Espanha e Itália e de algumas
recentes produções domésticas nacionais. Em termos de pes-
quisa, vem-se observando nos últimos anos, interesse cres- MATERIAL E MÉTODOS
cente pela qualidade deste produto. Estudos são desenvolvi-
dos visando à investigação dos parâmetros de secagem e Matéria-prima
aplicação de novas tecnologias que minimizem os danos Tomates (Lycopersicon esculentum Mill) das variedades
causados pelo calor à cor, textura, ao sabor e perda de nutri- Débora Plus (de mesa) e Rio Grande (industrial), foram ad-
entes (Totobesola-Brabier et al., 2002; Veja et al., 2001; quiridos junto ao CEASA/Campinas e ao CEAGESP/São
Camargo, 2003; Camargo et al., 2004; 2005). Paulo, locais esses com maior disponibilidade. De acordo
Olorunda et al. (1990) estudaram a secagem de tomate em com a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentos
pedaços em secador com fluxo concorrente e contracorrente (ABIA, 1985), a matéria-prima apresentava características
e avaliaram o efeito da temperatura de secagem (60, 70 e de frutos sadios, com coloração avermelhada, uniformes, sem
80 °C) sob velocidade do ar de 1,75 m s-1, constatando que pedúnculo, fisiologicamente desenvolvidos, limpos, com tex-
a taxa de secagem aumentou com a elevação da temperatura tura de polpa firme e avermelhada, livres de danos mecâni-
e a remoção de umidade foi maior no fluxo concorrente po- cos, fisiológicos, pragas e doenças.
rém nada comentaram em relação aos efeitos dos parâme-
tros do processo na qualidade do produto final. Preparo das amostras
Romero et al. (1997) alertam para que a secagem do to- No Laboratório, os frutos, acondicionados em caixas tipo
mate seja realizada a temperaturas inferiores a 65 °C, vi- “k”, foram mantidos a temperatura ambiente (25 ± 1 °C) até
sando à preservação da cor e sabor característicos, ainda que apresentassem cor adequada para a secagem, definida
que exija maior tempo de processo. Camargo & Queiroz pela cor “vermelha” ou “molho”, seguindo o padrão de co-
(1999) também observaram os efeitos negativos da tempe- res da carta de comercialização do Programa Horti & Fruti
ratura de 80 °C na secagem de tomate, comparativamente para padronização de produtos hortigranjeiros do Estado de
à temperatura de 60 °C, ressaltando, como primeira causa, São Paulo (CEAGESP, 1998).
a queima superficial do produto. Os principais componen- Alcançada a cor desejada, realizou-se a sanitização dos
tes da cor no tomate são o licopeno e o beta-caroteno frutos com água clorada (0,5% de cloro ativo) para eliminar
(Gould, 1991). a contaminação por microrganismos (Moura et al., 1998);
A variedade do tomate, o estádio de amadurecimento e as posteriormente, os tomates foram selecionados por tamanho,
reações químicas, estão intimamente ligados à firmeza e para uniformização prévia ao processo de secagem, com base
qualidade do produto após a secagem. Camargo (2000) re- no calibre médio para formato redondo dos frutos da varie-
portou resultados de sólidos totais, acidez e sólidos solúveis dade de mesa Débora Plus, cujo diâmetro varia de 65 a
para três variedades de tomate de mesa e duas de tomate 70 mm (CEAGESP, 1998). Seguindo a mesma norma para
industrial (inclusive as variedades Rio Grande e Débora a variedade industrial Rio Grande, o diâmetro transversal cor-
Plus), comprovando que a porcentagem de sólidos no toma- respondeu ao tamanho médio do formato oblongo, o qual se
te varia em função da variedade. encontra no intervalo de 50 a 60 mm; a medida dos diâme-
Além de permitirem a criação de padrões de identidade tros foi feita com um paquímetro digital com escala de 0 a
para cada alimento, as medidas instrumentais auxiliam no 150 mm e precisão de 0,01 mm.

R. Bras. Eng. Agríc. Ambiental, v.11, n.5, p.521–526, 2007.


Avaliação da qualidade de tomate seco em conserva 523

Considerando-se o tomate seco imerso em azeite comu- com ângulo de observação constante de 10°. Realizaram-se
mente encontrado no mercado, os frutos foram cortados em três repetições por tratamento.
pedaços correspondentes à metade e um quarto do tomate A textura das amostras em função das propriedades du-
segundo o eixo maior. O corte foi realizado manualmente, reza, mastigabilidade, adesividade e gomosidade, foi men-
com faca afiada; por sua vez, a retirada da semente das surada em texturômetro Stable Micro Systems, modelo
amostras assim tratadas, foi feita manualmente, com auxí- TA-XT2i, equipado com “probe” cilíndrico, diâmetro 1 cm,
lio de uma faca e uma colher, procurando-se não afetar a ao qual se aplicou uma força de compressão constante e uni-
polpa do fruto; por fim, a secagem foi conduzida em seca- direcional, com distância de compressão de 2,0 mm e inter-
dor convectivo com controle de temperatura (60 °C) e ve- valo de tempo de 0,5 s entre duas compressões como simu-
locidade do ar (0,55 m s-1), distribuindo-se os pedaços em lação de duas mastigadas; as medidas foram tomadas no
bandejas com fundo de tela (1 x 1 cm). ponto central de cada pedaço de tomate seco (½ e ¼ confor-
Após atingirem o teor de umidade desejado (25 ou 35%) me tratamento); três repetições para cada tratamento e um
as amostras, resfriadas a temperatura ambiente, foram em- único pedaço em cada repetição.
baladas em sacos de polietileno fechados, com capacidade de Os resultados de cor e textura foram submetidos à análi-
200 g e mantidas em geladeira, até o preparo final com vis- se de variância (ANOVA), Teste de Tukey e análise de su-
tas à realização dos testes instrumentais e afetivos. perfície de resposta, utilizando-se o software Statistica® 6.0.
O preparo final compreendeu a imersão das amostras
em azeite de oliva e sal, na proporção de 50 g de tomate Avaliação sensorial
seco por 100 mL de azeite e 3% de sal com relação ao peso O delineamento experimental aplicado neste trabalho ge-
das amostras; foram mantidas nesta condição durante 48 h rou grande número de tratamentos (Tabela 1), exigindo que
e, posteriormente, submetidas às avaliações físicas e sen- a análise fosse conduzida em duas etapas.
soriais. Inicialmente, buscou-se identificar se a aparência geral
do produto final poderia ser determinante na preferência
Tratamentos realizados do consumidor, para tanto se aplicou um teste afetivo con-
O planejamento experimental baseou-se em delineamen- siderando-se os atributos cor, tamanho, textura visual e apa-
to fatorial 24 visando avaliar os efeitos dos seguintes parâ- rência geral.
metros na qualidade do produto final: variedade (Rio Gran- Uma equipe de 35 provadores não treinados e consumi-
de e Debora Plus), geometria de corte (pedaços de ½ e ¼ dores do produto avaliou as amostras através de escala he-
com relação ao eixo maior do fruto), presença ou ausência dônica mista estruturada de 5 pontos (1 = desgostei muito,
de sementes e teor de umidade final (25 e 35%), resultando 5 = gostei muito); essas amostras foram apresentadas mo-
em 16 tratamentos experimentais (Tabela 1). nadicamente, seguindo-se delineamento de blocos completos
casualizados e os dados obtidos foram submetidos a ANO-
VA com fator duplo (amostra e provador) para verificar di-
Tabela 1. Tratamentos realizados para avaliação da qualidade do
ferença entre os tratamentos e ao teste de Tukey (5%) para
tomate seco
comparação de médias.
Pre se nça de U midade final Os resultados desta etapa permitiram a seleção dos qua-
Tratame nto s Varie dade Co rte
se me nte (%)
tro melhores tratamentos, conforme critério baseado nas
1 DP(1) 1/2 Sim 25
maiores notas atribuídas à aparência geral. Submeteram-se
2 DP 1/2 Sim 35
3 DP 1/2 Não 25
os tratamentos selecionados aos testes de aceitação e inten-
4 DP 1/2 Não 35 ção de compra (Tabela 2), realizados por uma equipe cons-
5 DP 1/4 Sim 25 tituída de 37 consumidores não treinados, por apreciadores
6 DP 1/4 Sim 35 de tomate seco temperado em óleo; as amostras foram avali-
7 DP 1/4 Não 25 adas monadicamente.
8 DP 1/4 Não 35 Os resultados do teste de aceitação foram avaliados me-
9 RG(2) 1/2 Sim 25 diante análise de variância e teste de comparação de médias
10 RG 1/2 Sim 35 (Tukey 5%), utilizando-se o software Statistica® 6.0.
11 RG 1/2 Não 25 Ambos os testes sensoriais foram realizados em cabinas
12 RG 1/2 Não 35 individuais climatizadas a temperatura aproximada de
13 RG 1/4 Sim 25 22 °C e as amostras dispostas em pratos brancos, sob luz
14 RG 1/4 Sim 35 fluorescente.
15 RG 1/4 Não 25
16 RG 1/4 Não 35
(1) Débora Plus, (2) Rio Grande
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Avaliações físicas
A variável dependente cor do produto final foi determi- Medida instrumental de cor
nada em espectrofotômetro Color Quest II – Hunter Lab. O Dentre os componentes da cor, apenas a luminosidade (L)
sistema de leitura utilizado foi CIELAB iluminante D-65, apresentou diferença significativa (p = 0,0279) e somente em

R. Bras. Eng. Agríc. Ambiental, v.11, n.5, p.521–526, 2007.


524 Gisele A. Camargo et al.

Tabela 2. Ficha utilizada no teste de aceitação e intenção de compra de


Presença
tomate seco temperado
Nome: _________________________ Data:

Semente
1. Por favor, PROVE a amostra e indique, utilizando a escala abaixo, o
quanto você dela gostou ou desgostou: -0,998
9 gostei extremamente -0,878
8 gostei muito -0,758
-0,638
7 gostei moderadamente -0,518
6 gostei ligeiramente -0,397
-0,277
5 não gostei/nem desgostei -0,157
4 desgostei ligeiramente -0,037 Ausência
0,083
3 desgostei moderadamente above Rio Grande
2 desgostei muito Variedade Debora Plus
1 desgostei extremamente
2. Descreva, por favor, o de que você mais gostou e de que menos Figura 1. Superfície de resposta obtida na avaliação da mastigabilidade das
gostou na amostra, EM TERMOS GLOBAIS. amostras de tomate seco
Mais gostei:
Menos gostei:
3. Finalmente, indique, utilizando a escala abaixo, qual sua atitude se
você encontrasse esta amostra à venda. A presença de sementes exerceu efeito significativo na
9 certamente compraria mastigabilidade somente nos tomates da variedade Débora
8 Plus, a qual apresentou valores menores deste atributo nos
7 provavelmente compraria
6
tratamentos que continham sementes, o que pode ser enten-
5 talvez comprasse/talvez não comprasse dido como maior dificuldade no processo de mastigação (Fi-
4 gura 1).
3 provavelmente não compraria A inobservância do efeito da presença de sementes so-
2 bre a mastigabilidade na variedade Rio Grande (Figura 1)
1 certamente não compraria
Comentários: ____________________________ pode ser atribuída à pequena quantidade de sementes nes-
ta variedade.
Os resultados estimados da incidência das variáveis in-
relação à variedade do tomate, sem que os fatores geometria dependentes e suas interações sobre a variável resposta du-
de corte, presença de sementes e teor de umidade final inci- reza, também indicam o efeito da variedade neste atributo
dissem sobre este parâmetro; a variedade Rio Grande apre- do tomate seco, isto é, mudanças na variedade do tomate in
sentou menores valores (média de L = 7,5) o que pode ser natura produziram variações importantes nos valores de du-
interpretado como suscetibilidade maior ao escurecimento reza do tomate seco em conserva (Figura 2).
desta variedade, quando submetida ao processo de secagem,
comparativamente à variedade Débora Plus.
umidade (4) 0,67

Medida instrumental de textura sementes (3) - 1,29


A variável resposta mastigabilidade apresentou diferença
significativa para os fatores variedade (p = 0,0288) e semente 1x2 - 1,60
(p = 0,0461), conforme se observa na Tabela 3. Ressalta-se
que para o tomate seco a melhor mastigabilidade (valor 2x3 - 1,95
maior) encontrada foi da variedade Rio Grande (Figura 1).
3x4 2,05
Tabela 3. Análise de variância para propriedade mastigabilidade das
- 2,66
amostras de tomate seco 1x3

Mastigabilidade 1x4 - 4,61


Variáve is inde pe nde nte s
F p*
Variedade (1) 9,2277 0,0288 corte (2) 4,80
Cor te (2) 2,2082 0,1974
Semente (3) 6,9534 0,0461 2x4 13,58
Umidade (4) 2,0631 0,2104
1X2 1,0035 0,3625 variedade (1) 23,90
1X3 5,3320 0,0690
1X4 1,9023 0,2263 -5 0 5 10 15 20 25 30
2X3 3,2297 0,1322 Efeito estimado (valor absoluto)
2X4 0,4377 0,5375
3X4 3,5816 0,1170 Figura 2. Efeito das variáveis respostas e suas interações sobre a dureza
*Valores de p < 0,05, indicam efeito estatisticamente significativo das variáveis avaliadas
das amostras de tomate seco.

R. Bras. Eng. Agríc. Ambiental, v.11, n.5, p.521–526, 2007.


Avaliação da qualidade de tomate seco em conserva 525

A variedade Débora Plus apresentou maior dureza, signi- diferindo das outras amostras (p < 0,05) significando que os
ficativamente diferente da variedade Rio Grande (Figura 3). provadores gostaram mais das amostras com maior teor de
umidade final, provavelmente, por serem mais macias, cons-
tatação esta confirmada com a opinião dos juízes, quando
perguntados sobre o que mais gostaram/desgostaram nas
35%
amostras. Aproximadamente 50% dos provadores criticaram
o tratamento com 25% de umidade e apontaram a “textura
dura” como a característica de que menos gostaram.
Umidade

30,560
33,773 Tabela 5. Resultados do teste afetivo de aceitação e intenção de compra
36,986
40,199 avaliados com escala hedônica de 9 pontos
43,412
46,625 Inte nção de
49,838 Tratame nto Ace itação *
53,050 Co mpra*
56,263 25% Variedade Debora Plus, cor te ao meio, sem
59,476 1 6,6 a 5,5 b
semente, umidade final de 35%
above Rio Grande Debora Plus
Variedade Var ied ad e Deb o r a Plu s, co r te em q u atr o
2 5,3 b 4,3 b
par tes, sem semente, umidade final de 25%
Figura 3. Superfície de resposta obtida na avaliação da dureza de tomate seco Variedade Rio Grande, cor te ao meio, com
3 6,4 a 5,9 a
semente, umidade final de 35%
Var ied ad e Rio Gr an d e, co r te em q u atr o
4 6,3 a 5,2 b
par tes, sem semente, umidade final de 35%
Avaliação sensorial da aparência *Médias seguidas de letras iguais na ver tical não diferem entre si pelo teste de Tukey (5%)
Os resultados do teste afetivo de aparência sensorial per-
mitiram a seleção de quatro tratamentos (Tabela 4), com base
nas maiores médias de “aparência geral”. Acrescenta-se ainda Nota-se, ainda, que a presença de sementes na varieda-
que os quatro tratamentos selecionados não diferiram esta- de Rio Grande não alterou a nota média da aceitação dos
tisticamente entre si (p < 0,05) em relação aos demais atri- julgadores, cujo resultado indica que a pequena quantida-
butos avaliados. de de sementes nesta variedade impede a percepção do efei-
to pelo consumidor ou que a presença de sementes não é
Tabela 4. Descrição dos tratamentos selecionados no teste sensorial de considerada fator importante na aceitação das amostras; na
aparência avaliados em escala hedônica de 5 pontos análise da medida instrumental de mastigabilidade da va-
riedade Rio Grande também não se observou efeito da pre-
N o tas po r atributo s
sença de sementes.
Tratame nto Aparência Textura
Cor Tamanho Nas amostras que receberam as médias mais altas de acei-
geral visual
Variedade Debora Plus, cor te ao meio, tação, a característica “sabor geral” foi a mais apreciada e
1 3,3 3,9 3,5 3,3
sem semente, umidade final de 35% mencionada com maior freqüência para os tratamentos da
Var ied ad e Deb o r a Plu s, co r te em variedade Rio Grande.
2 q u atr o p ar tes, sem semen te, 3,6 4,0 3,3 3,3
umidade final de 25% Os resultados indicados na Figura 4 sugerem que os trata-
Variedade Rio Grande, cor te ao meio, mentos 1 e 3 seriam os produtos mais comprados os quais têm,
3 3,7 3,9 3,9 3,5
com semente, umidade final de 35% em comum, a geometria de corte e a umidade final de 35%.
Va r i e d a d e R i o Gr a n d e , co r t e e m Embora os tratamentos 1 e 3 tenham a mesma aceitação
4 q u atr o p ar tes, sem semen te, 3,5 3,8 3,2 3,7
umidade final de 35%
rejeição dúvida compra

As amostras dos demais tratamentos foram rejeitadas visto


que apresentaram, em algum dos atributos, notas iguais, in- 4
Tratamentos

feriores ou muito próximas ao limite de aceitação (3,0), con-


forme a escala de avaliação utilizada. 3

Testes de aceitação e intenção de compra 2


Nenhum dos tratamentos selecionados apresentou nota
média abaixo de 5,0 (limite inferior de aceitação), conforme
1
a escala hedônica de 9 pontos utilizada nos testes de aceita-
ção e intenção de compra (Tabela 5), o que permite afirmar
-50 -25 0 25 50 75 100
que os produtos apresentam características sensorialmente
adequadas para comercialização; no entanto, houve diferen- Freqüência (%)
ças estatisticamente significativa (p < 0,05) entre os trata- Figura 4. Freqüência das notas obtidas no teste de intenção de compra de
mentos, em ambos os testes. tomate seco sob diferentes tratamentos. Rejeição (soma das notas 1 a 4);
O tratamento 2 apresentou a menor média na aceitação, dúvida (nota 5); aceitação (soma das notas 6 a 9)

R. Bras. Eng. Agríc. Ambiental, v.11, n.5, p.521–526, 2007.


526 Gisele A. Camargo et al.

por parte dos consumidores, de acordo com os resultados da ABIA – Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação. Co-
ANOVA e Tukey, o tomate seco da variedade Rio Grande, missão Nacional da Legislação de Alimentos: Consolidação das
corte ao meio, com semente e umidade final de 35% (Tabe- normas e padrões de alimentos. Resolução 12/78 (12/7 Frutas
la 5) diferiu estatisticamente (p < 0,05) dos demais tratamen- secas ou dessecadas). São Paulo. v.1/A, p.7.5(78), 1985.
tos, obtendo a maior média de intenção de compra. Camargo, G. A. Secagem de tomate (Lycopersicon esculentum Mill)
para conserva: Estudo de parâmetros com base na qualidade fi-
Cruzamento de dados instrumentais e sensoriais nal. Campinas: UNICAMP, 2000. 74p. Dissertação Mestrado
A correlação entre as variáveis que mostraram comporta- Camargo, G. A. Processo produtivo de tomate seco: novas tecno-
mento estatisticamente significativo (p < 0,05) revela que logias – Manual Técnico. Tomate na UNICAMP. http://
tanto a aceitação quanto a intenção de compra serão maio- www.agr.unicamp.br. 10 Ago. 2003.
res quanto menor for a dureza e maior a mastigabilidade, Camargo, G. A. Novas tecnologias e pré-tratamentos: tomate seco
esta última incidindo mais na aceitação que na compra do embalado a vácuo. Campinas: UNICAMP, 2005. 162p. Tese
produto (Tabela 6). Doutorado
Camargo, G. A.; Moretti, R. H.; Ledo, C. A. S . Quality of dried
Tabela 6. Correlação (r) entre dados instrumentais e sensoriais avaliados tomato pre-treated by osmotic dehydration, antioxidant appli-
em tomate seco temperado cation and addition of tomato concentrate. In: International
Drying Symposium, 14, 2004, São Paulo. Proceedings... Cam-
Intenção de Luminosidade
Parâme tro s
compra (L)
Dureza Mastigabilidade pinas: UNICAMP, 2004. p.2207.
Aceitação 0,9081 0,198 -0,92 0,7175 Camargo, G. A.; Queiroz, M. R. Curvas experimentais de secagem de
Intenção de compra -0,17 -0,98 0,4827 tomate, variedade Debora Plus, em duas temperaturas e pré-trata-
mento com sal e açúcar. In: Congresso Brasileiro de Engenharia
Agrícola, 28, 1999, Pelotas. Anais... Pelotas: SBEA, 1999. 3p.
CONCLUSÕES CEAGESP – Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São
Paulo. Programa Horti & Fruti Padrão – Classificação do tomate.
1. A cor do tomate seco não foi influenciada pela geome- Câmara Setorial de Hortaliças do Estado de São Paulo. 1998.
tria de corte, teor de umidade, presença ou ausência de se- http://www.cati.sp.gov.br/novacati/index.php. 12 Abr. 2005.
mentes, sendo que o valor de L o foi pela variedade. Gould, W. A. Composition of tomatoes. In: Gould, W. A. (ed.).
2. A variedade Rio Grande apresentou melhor mastigabi- Tomato production, processing and quality evaluation. Connec-
lidade e dureza, também maior suscetibilidade ao escureci- titut: AVI Publishing Co., 1991. cap.2, p.344-358.
mento após o processo de secagem. Moura, M. A.; Zanin, S. R.; Finger, F. L. Amadurecimento de to-
3. A preferência dos consumidores foi por tomates secos mate com pulverização de diferentes doses de Ethephon asso-
com 35% de umidade final. ciado com espalhante adesivo. Revista Brasileira de Armaze-
4. A melhor qualidade final do tomate seco foi obtida no namento, Viçosa, v.23, p.11-14, 1998.
tratamento realizado com a variedade Rio Grande e umida- Olorunda, A.; Aworh, C.; Onuoha, C. M. Upgrading quality of dri-
de final de 35%. ed tomato: effects of drying methods, conditions and pre-drying
5. A mastigabilidade apresentou efeito direto na aceita- treatments. Journal of Science of Food and Agriculture, Nova
ção do consumidor. York, v.52, p.447-454, 1990.
Romero, L. M.; Miguel, M. H.; Spogis, N.; Kieckbusch, T. G. Ci-
nética de secagem de tomates em fatias pré-tratadas: Resulta-
AGRADECIMENTO dos preliminares. In: Congresso Brasileiro de Sistemas Parti-
culados, 25, 1997, São Carlos. Anais... São Carlos: SBEQ,
À FAPESP, pela concessão de bolsa de mestrado e reser- 1997. p.627.
va técnica. Totobesola-Barbier, M.; Marouzé, C.; Giroux, F. A Triz – based
creativity tool for food processing equipment design. The
TRIZ Journal Article Archives, Out, 2002. http://www.triz-
LITERATURA CITADA journal.com/archives. 3 Ago. 2006.
Veja, M.; Góngora, N.; Barbosa, C. Advances in dehydration of
Agrianual 2005. Anuário da Agricultura Brasileira. São Paulo: foods. Journal of Food Engineering, Amsterdam, v.49, p.271-
FNP Consultoria e Comércio, 2006. 532p. 289, 2001.

R. Bras. Eng. Agríc. Ambiental, v.11, n.5, p.521–526, 2007.

View publication stats

Você também pode gostar