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1.

INTRODUÇÃO

A laranja, uma das frutas mais emblemáticas e versáteis, desempenha um papel


central no cenário agrícola brasileiro. Com uma variedade de mais de 100 tipos, a
laranja destaca-se como umas das frutas mais cultivada, consumida e exportada,
especialmente na forma de suco. O Brasil, líder mundial na produção e exportação
de suco de laranja concentrado e congelado, destaca-se como o principal provedor
global, com mais de 70% de sua produção de laranja destinada a essa finalidade.

São Paulo, graças às suas condições climáticas ideais, pesquisas avançadas,


colheita ao longo do ano e eficiência na mecanização agrícola, sobressai como o
maior produtor de laranjas no país, contendo 78% de toda a produção da fruta na
região de acordo com o censo agropecuário do IBGE de 2018. Outros estados como
Minas Gerais, Paraná, Bahia e Sergipe também contribuem significativamente para
o panorama nacional.

No contexto do agronegócio brasileiro, a laranja não é apenas uma cultura


abundante, mas uma fonte vital de empregos diretos e indiretos, além de um
importante impulsionador do Produto Interno Bruto (PIB). O cultivo de laranja, que
abrange quase 600 mil hectares no país, apresenta uma produtividade média
impressionante, com diferentes métodos de colheita, desde manual até mecanizado.

Contudo, a jornada da laranja desde a colheita até o consumidor final, seja na forma
de suco concentrado ou fruta in natura, apresenta desafios notáveis, especialmente
no que diz respeito à logística e transporte. Neste trabalho, buscamos realizar uma
análise abrangente da cadeia produtiva da laranja no Brasil, com ênfase na fase
pós-colheita, reconhecendo os aspectos cruciais que influenciam a qualidade do
produto e impactam diretamente sua comercialização, tanto no mercado nacional
quanto internacional.

2. METODOLOGIA

O presente trabalho adota a abordagem metodológica de revisão bibliográfica,


fundamentada na análise crítica de materiais já elaborados e disponíveis em meio
eletrônico. A técnica empregada envolveu a consulta de artigos científicos e
documentos relevantes, utilizando como principais fontes o Google Acadêmico e a
pesquisa convencional no Google. As palavras-chave utilizadas na busca foram
"Laranja", "Qualidade", "Brasil" e "Pós-colheita".

Para refinar os resultados, foram aplicados filtros de seleção no mecanismo de


busca, incluindo a ordenação por relevância, a busca por páginas em Português e a
consideração de qualquer tipo de documento. A seleção final compreendeu 11
artigos identificados, os quais foram escolhidos com base em sua pertinência e
contribuição para a compreensão das características da cadeia produtiva da laranja
no contexto brasileiro.

3. REVISÃO DE LITERATURA

3.1 Cadeia produtiva

A cadeia produtiva representa um intricado sistema logístico que se caracteriza por


uma sucessão de etapas interconectadas e mutuamente dependentes, assegurando
a trajetória do insumo desde sua origem até o alcance do consumidor final.
Exemplificando, podemos identificar processos fundamentais nesse sistema, como
a obtenção do insumo, atividades agropecuárias, processos industriais, fases de
armazenagem e distribuição, consumo e, por fim, a relevante etapa de reciclagem.
Essa rede complexa de operações garante a fluidez e eficiência na entrega de
produtos ao mercado, destacando a interdependência de cada segmento ao longo
do ciclo produtivo.

A trajetória da cadeia produtiva da laranja se inicia no momento estratégico do


plantio, preferencialmente no início da estação chuvosa, em solos caracterizados
pela textura areno-argilosa e em climas tropicais amenos. O cuidado com o timing é
crucial para assegurar um desenvolvimento saudável das laranjeiras
(GOMES;SOARES, 2020).

Ao atingirem o ponto ideal de maturação, as laranjas estão prontas para a colheita,


um processo que demanda paciência e observação. O aguardo pela maturidade
plena é essencial antes de proceder à delicada retirada dos frutos das árvores.
Posteriormente, inicia-se a fase de transporte, onde as laranjas são acondicionadas
em caminhões de carga com carroceria aberta. A celeridade nesse estágio é crucial
para preservar a frescura das frutas e garantir que cheguem às indústrias em ótimas
condições. É imperativo respeitar a carga máxima regulamentada pelo Código de
Trânsito, limitada a 14 toneladas (GOMES;SOARES, 2020).

Na etapa subsequente, ocorre a recepção das laranjas na indústria, utilizando-se


elevadores hidráulicos para descarregar os caminhões. Nesse ponto, uma seleção
preliminar é aconselhável, identificando e descartando frutos danificados ou
deteriorados. Na fase de lavagem e limpeza, última antes da comercialização, as
laranjas são submetidas a um processo de imersão em água com cloro para
remover impurezas das cascas, seguido por enxágue com água clorada. Esse
cuidadoso processo visa garantir a qualidade final das laranjas antes de chegarem
ao mercado (GOMES;SOARES, 2020).
No estudo de Neves e Marino (2002) sobre a competitividade das cadeias
integradas no Brasil, com foco especial na citricultura, é apresentado o Sistema
Agroindustrial Citrícola, conforme ilustrado na Figura 1. A análise abrange diversos
segmentos, incluindo os setores de pesquisa, produção de insumos, cultivo de
frutas, processo industrial, acondicionamento, distribuição, culminando na chegada
do produto ao consumidor final. Este enfoque proporciona uma compreensão
abrangente e integrada de toda a cadeia produtiva da citricultura, destacando a
interconexão e a relevância de cada etapa no contexto da competitividade do setor.

Figura 1. Sistema Agroindustrial Citrícola


Fonte: Neves e Marino (2002).

3.2 Controle de qualidade

A gestão da qualidade na indústria citrícola enfrenta desafios significativos ao longo


dos processos logísticos. Diante dessa complexidade, foi implementado o controle
de qualidade como uma ferramenta essencial adotada por várias empresas, visando
melhorias e padronização nos procedimentos. O principal objetivo é preservar a
qualidade dos produtos e evitar danos nos processos, contribuindo para atrair e
satisfazer os clientes (RAMALHO, 2005).

O gerenciamento do controle de qualidade engloba diversas etapas cruciais,


começando pela identificação das necessidades dos clientes, destacando
qualidade, custo e entrega do produto como principais fatores. O estabelecimento
do conceito do produto, o design do produto e do processo, a definição de
padrões-resposta, a fabricação e teste do lote, a verificação da satisfação do cliente
e o estabelecimento da padronização final constituem os passos desse processo
(RAMALHO, 2005).

3.3 Padronização

No contexto da manutenção da qualidade dos produtos, destaca-se a importância


da padronização. Esse método visa unificar requisitos, reduzir custos e consolidar
as variedades. A padronização pode ser realizada por meio de atributos
quantitativos, como comprimento e peso, fundamentais na produção, ou por
atributos qualitativos, que englobam características visuais como aparência, forma,
textura, danos, cor e grau de maturação (RAMALHO, 2005).

A textura emerge como um atributo crucial, diretamente vinculado ao sabor e ao


aroma, frequentemente avaliado por meio de sentidos como olfato, tato e paladar.
Esse contato possibilita uma avaliação subjetiva da qualidade do produto. Além
disso, a análise objetiva utiliza instrumentos precisos, como o penetrômetro, para
mensurar numericamente a firmeza da laranja. Vale ressaltar o uso do ratio,
indicador que equilibra açúcares e ácidos, determinando o sabor da fruta, que pode
ser doce ou levemente ácido, com pH entre 3 e 3,8 (RAMALHO, 2005).

3.4 Resíduos alimentares pós-colheita

O Brasil enfrenta um significativo desperdício de alimentos em todas as fases de


produção, com 54% ocorrendo na etapa inicial de produção devido à manipulação
pós-colheita inadequada, os outros 46% ocorrem nas etapas subsequentes, como
processamento, distribuição e consumo. No Brasil, as perdas significativas ocorrem
principalmente no manuseio e na logística de produção, com 10% na colheita, 30%
no transporte e armazenamento, 50% no comércio e varejo, e cerca de 10% nos
domicílios (RORIZ, 2012).

O desperdício alimentar não apenas resulta em prejuízos econômicos, aumentando


os custos para o consumidor, mas também causa danos ambientais significativos,
considerando o uso de agrotóxicos, água, terra, fertilizantes e desmatamento. O
problema é agravado pela produção animal, que gera uma quantidade considerável
de insumos.

Em São Paulo, maior produtor nacional de laranjas, as perdas estão relacionadas à


infraestrutura inadequada e baixos investimentos em veículos de carga (ANDRADE;
ALMEIDA, 2020). Em todo o processo produtivo, desde o plantio até o consumo,
enormes perdas ocorrem: 10% na fazenda, 50% no manuseio e transporte, 30% na
comercialização e abastecimento, e 10% nos supermercados, restaurantes e
residências (ALIMENTAÇÃO EM FOCO, 2018).

Há um aumento nas pesquisas sobre o aproveitamento de resíduos e subprodutos,


visando reduzir o desperdício de alimentos. Estudos apresentados em congressos
demonstram a eficácia na elaboração de subprodutos, reduzindo o desperdício nas
etapas de processamento e proporcionando economia nos gastos de alimentação,
além de agregar valor nutricional aos novos produtos (CONGRESSO
INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS, 2017).

3.5 Uso de laranja in natura e processada

Segundo Citrus (2020) o consumo da laranja in natura é muito comum no Brasil,


onde a fruta é abundante, porém na maioria dos outros países o que se consome é
o suco de laranja - que pode ser fresco ou industrializado. Na indústria
processadora, o suco também pode ser de dois tipos: suco concentrado congelado
(FCO), cuja água é retirada do suco natural; ou não-concentrado (NFC), suco
pasteurizado sem a retirada de água. Além do suco, existem alguns componentes
da laranja que, não sendo utilizados na produção, são aproveitados pela indústria
como subprodutos, que também podem ser exportados.

Os principais subprodutos do processamento industrial de suco são o “suco extraído


da polpa - suco obtido após a lavagem da polpa, contendo sólidos provenientes da
fruta. Pode ser usado em bebidas à base de frutas ou como fonte de açúcares”
(CITRUS, 2020). Pode ser obtido também a essência que é composta pelos
componentes resultantes do processo de evaporação, separados em uma fase
aquosa e uma oleosa. Ambas as fases são matérias-primas para as indústrias de
bebidas e alimentos e podem ser adicionadas ao suco.

De acordo com a Citrosuco (2020), a casca da laranja tem sido explorada para a
produção de óleo essencial, utilizado em setores alimentícios, farmacêuticos,
cosméticos e perfumaria. Além disso, a pectina, menos comum, encontra aplicação
em geleias, marmeladas e gelatinas. O D-Limoneno, componente principal do óleo
da casca, é utilizado na indústria de plásticos para a fabricação de resinas sintéticas
e adesivos.

O aproveitamento desses subprodutos não apenas reduz o impacto ambiental, mas


também possibilita a obtenção de produtos com alto valor agregado. Assim, a
pesquisa por tecnologias que transformem esses resíduos em produtos torna-se
essencial na sociedade atual. A laranja, com base nas tecnologias disponíveis, pode
ser transformada em uma variedade de produtos inovadores, resultado da aplicação
de princípios da ciência de alimentos e do desenvolvimento de novas técnicas de
beneficiamento. A modernização desse setor oferece às indústrias diversas
alternativas para a criação de uma ampla gama de produtos, refletindo as grandes
inovações na indústria de Frutas e Hortaliças observadas nos últimos anos e
evidenciadas em pesquisas científicas sobre novos produtos provenientes da
laranja.

5. REFERÊNCIAS

RORIZ, Renata Fleury Curado. APROVEITAMENTO DOS RESÍDUOS


ALIMENTÍCIOS OBTIDOS DAS CENTRAIS DE ABASTECIMENTO DO ESTADO
DE GOIAS S/A PARA ALIMENTAÇÃO HUMANA. 2013. 162 f. Dissertação
(Mestrado) - Curso de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Escola de Agronomia e
Engenharia de Alimentos, Universidade Federal de GoiÁs, Goiânia, 2012.
Disponível em:
<https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/71/o/Dissertacao_Renata_Fleury_2012.pdf>.
Acesso em: 01 de dezembro de 2023.

ANDRADE, Vinicius José Simplício de; ALMEIDA, Marcela Midori Yada de.
DESPERDÍCIO DA LARANJA NA CADEIA PRODUTIVA. 2020. 8 f. TCC
(Graduação) - Curso de Engenharia de Alimentos, Faculdade de Tecnologia de
Taquaritinga (Fatec), Taquaritinga- Sp, 2020. Cap. 17. Disponível em:
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ALIMENTAÇÃO EM FOCO (São Paulo). Desperdício de alimentos na colheita.


2018. Disponível em:
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SUBPRODUTOS. Recife Pe: Cointer Pvdagro, 2017. 8 p. Disponível em:
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