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Aproveitamento de resíduos
agroindustriais de origem vegetal
para alimentação humana
10.37885/210504550
RESUMO
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Ciência e Tecnologia de Alimentos: pesquisa e práticas contemporâneas
INTRODUÇÃO
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Ciência e Tecnologia de Alimentos: pesquisa e práticas contemporâneas
álcool. A pectina é classificada como um aditivo alimentar tendo ampla utilização na indústria
por apresentar excelentes propriedades geleificantes e espessantes.
O objetivo deste trabalho é apresentar e discutir as causas das perdas, alguns tipos
de resíduos agroindustriais de origem vegetal e formas de aproveitamento durante toda a
cadeia produtiva.
DESENVOLVIMENTO
A ideia de aproveitamento integral dos alimentos vegetais, como no caso das folhas e
talos das hortaliças, que são partes não convencionais, pode ser de forma direta e in natu-
ra em tortas salgadas e sopas, sem necessitar de processamentos adicionais. Sendo que
estes alimentos poderão atuar no organismo humano protegendo-o e prevenindo-o contra
doenças devido à ingestão de nutrientes benéficos.
Na elaboração de novos produtos, o aproveitamento integral de frutas e hortaliças é uma
alternativa tecnológica limpa, que está ao alcance de todos, podendo ser aplicada desde o
ambiente residencial até o industrial. A utilização do alimento, de forma sustentável, reduz a
produção de lixo orgânico, prolonga a vida útil do alimento, promove a segurança alimentar,
beneficia a renda familiar e incentiva o consumo desse grupo de produtos alimentícios.
Inúmeros subprodutos agroindustriais vêm se tornando alvo de estudos, principalmente
devido à presença de nutrientes importantes à saúde humana em sua composição, como
por exemplo, proteínas, carboidratos e compostos com ação antioxidante. Além disso, tais
resíduos caracterizam-se como elementos de baixo custo, podendo assim, gerar produtos
com preço acessível, por não elevarem significativamente os custos de produção, e diver-
sificando a sua apresentação, atraindo e estimulando o consumo.
Nesse sentido, planejar a utilização dos alimentos de forma integral é um movimento que
tem ganhado força no âmbito industrial, aproveitando as partes dos alimentos consideradas
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não comestíveis como matéria-prima para novas preparações. A medida é ecologicamente
correta e sustentável contra o desperdício de alimentos no país, podendo agregar benefícios
nutricionais e ambientais, estimulando ainda o crescimento econômico, a partir do menor
custo na compra de alimentos, a diversificação dos hábitos alimentares e a possibilidade de
criação de novos postos de emprego.
Vários produtos comumente consumidos como doces, geleias e conservas são de-
senvolvidos a partir do processamento de frutas e hortaliças, onde muitas indústrias já
utilizam os resíduos gerados na própria formulação, havendo um aproveitamento quase
na totalidade da matéria-prima, com geração mínima de descarte. Na produção de abacaxi
em calda as aparas e os centros são utilizados para a elaboração da calda; as geleias de
frutas normalmente são produzidas com as cascas, devido ao maior teor de pectina nessa
fração; e as conservas ácidas também são comercializadas com hortaliças em pedaços
para aproveitamento dos cortes dos produtos principais, palmito e azeitonas são alguns
exemplos. Logo, o aproveitamento dos subprodutos da agroindústria de alimentos diminui
os custos da produção, aumenta o aproveitamento total do alimento e reduz o impacto que
esses subprodutos poderiam causar ao serem descartados no ambiente.
Estudos visando a aplicação desses resíduos são de grande importância, haja vista que
tem potencial econômico e podem contribuir para minimizar o seu impacto ambiental. A ela-
boração de farinhas a partir de resíduos de vegetais corresponde a uma alternativa viável
de aproveitamento, uma vez que estas podem ser utilizadas como ingredientes no preparo
dos mais diversos produtos, tais como: biscoitos, bolos, pães, massas, doces, dentre outros,
transferindo os seus nutrientes e enriquecendo os alimentos produzidos.
Recentemente alguns estudos começaram a explorar as substâncias bioativas das
farinhas, principalmente compostos antioxidantes, como os polifenóis, uma vez que estes
são capazes de prevenir ou reduzir os danos do estresse oxidativo, como envelhecimento
precoce e desenvolvimento de diversas doenças. No entanto, o principal objetivo ao utilizar
as farinhas de resíduos de vegetais é o aumento do teor de fibras alimentares nos produtos,
além dos benefícios oriundos dos outros nutrientes.
Fibras alimentares
Fonte: www.todamateria.com.br/parede-celular
As fibras alimentares são classificadas de acordo com sua solubilidade em água po-
dendo ser do tipo solúvel ou insolúvel. As fibras solúveis quando entram em contato com a
água formam um retículo e a mistura torna-se geleificada, a exemplo desta classe de fibras
têm-se as pectinas, gomas, mucilagens e algumas hemiceluloses. Já as fibras insolúveis se
caracterizam pela baixa retenção de água formando misturas de baixa viscosidade, celulose,
algumas hemiceluloses e lignina são constituintes desta fração.
Fibras alimentares solúveis e insolúveis apresentam várias características fisiológicas:
Diante da importância para a saúde humana que as fibras alimentares têm demonstra-
do, a incorporação em produtos alimentícios vem crescendo constantemente e os produtos
ricos em fibras ganham maior destaque no desenvolvimento de produtos funcionais. A su-
plementação com fibras alimentares pode resultar em alimentos que promovam boa forma,
com poucas calorias, pois atuam como agentes de volume não calóricos para substituição
parcial de farinha, gordura ou açúcar.
As fibras alimentares apresentam funções tecnológicas importantes no processamento
de alimentos. Quando comparadas as duas classes de fibras, a fração solúvel é mais bem
requerida, devido à alta capacidade de formar géis e/ou agir como emulsificante e não apre-
sentar sabor desagradável, sendo melhor na incorporação das formulações de alimentos
e bebidas. Assim, as farinhas elaboradas com cascas de maracujá e poncã poderiam ser
utilizadas e obter aprovação no consumo.
Alimentos processados como: produtos panificáveis, lácteos, cárneos, geleias e sopas
podem ser beneficiados com a inserção de fibras alimentares, pois terão alterações desejá-
veis nas propriedades de textura, evitando a sinérese e estabilizando emulsões em produtos
com alto teor de gordura e consequentemente, aumentando a vida útil desses alimentos.
Isso é possível porque as fibras alimentares têm alta capacidade de retenção de água e/
ou óleo, de formar e estabilizar emulsões e géis e aumentar a viscosidade, resultando em
alterações benéficas de textura.
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Extração de pectina dos subprodutos cítricos
Os subprodutos gerados das frutas cítricas são as principais fontes utilizadas para a
obtenção de pectina industrial, podendo ser extraída dos bagaços de laranja, limão, lima e
toranja. Mas devido à grande quantidade de laranja processada, para obtenção de suco e
polpa, esta é a principal fonte comercialmente utilizada, cuja linha de produção já está bem
estabelecida na indústria alimentícia.
O processo de produção da pectina é constituído geralmente de três etapas: a extração
do material da planta, a purificação do extrato líquido e a separação da pectina da solução.
Este processo origina a pectina ATM (Alto Teor de Metoxilação) e quando se deseja a
pectina BTM (Baixo Teor de Metoxilação), deve ser realizada a quarta etapa: desesterifica-
ção da pectina ATM.
A extração da pectina por métodos químicos envolve diversas etapas que influenciam
na hidrólise, extração e solubilização das macromoléculas do tecido vegetal. As condições
típicas de extração variam de acordo com a maturidade da fruta e os parâmetros de contro-
le: temperatura (60 a 100 ºC), pH (entre 1,5 a 3), tipo de ácido (sulfúrico, fosfórico, nítrico,
clorídrico, etc.) e tempo de extração (30 minutos a 6 horas).
Após a extração, a solução acidificada segue para a filtração ou centrifugação que visa
remover os resíduos presentes da casca. É adicionado então álcool (isopropanol, metanol ou
etanol) no extrato clarificado, pois devido a insolubilidade da pectina com o álcool, a tendência
é separar-se, e então a pectina é recuperada por filtração. A pectina ainda úmida é enviada
para o processo de secagem com ar quente (50 ºC), obtendo-se um teor de umidade de
6-10%, e moagem para obtenção da pectina ATM, ou para o processo de desesterificação
em suspensão de álcool, para a pectina BTM.
A especificação comercial da pectina recomenda que haja uma granulometria mínima
de 90% em 0,25 mm e a coloração varie de bege a castanho amarelado para pectinas pre-
cipitadas com álcool. Assim, a etapa final do processo de produção é a mistura e padroni-
zação, que se torna fundamental para garantir uma pectina de alta qualidade, mas devido
as matérias-primas variarem muito em relação as suas propriedades, a pectina também
pode variar. Para a padronização normalmente pectinas de diferentes lotes são mistura-
das e diluídas em açúcar ou dextrose para a caracterização de um grau de geleificação
padrão. O produto final deve ser embalado e armazenado em área refrigerada para evitar
uma possível degradação. As principais características de qualidades são o grau de pureza,
grau de esterificação e capacidade geleificante (Quadro 6).
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Quadro 6. Características de qualidade da pectina cítrica comercial.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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