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Escola de História da Igreja – Lucas Régis Lancaster

Material de Apoio – Aula 1 – Como e porque estudar história da Igreja

Duas visões equivocadas a respeito da História da Igreja e a opção deste curso

➢ Existem duas visões errôneas ou incompletas do que é a História da Igreja:


o A primeira entende o estudo da História da Igreja como o estudo das suas boas
realizações civilizacionais, mostrando suas contribuições para as ciências, para a arte,
para a organização política e social, etc. Ignora que a missão da Igreja é essencialmente
espiritual e que todo o seu contributo civilizacional é apenas um aspecto acidental de
sua caminhada ao longo da história.
o A segunda entende a História da Igreja meramente como uma resposta necessária às
acusações infundadas, falsas ou distorcidas de seus inimigos, defendendo que se
deve estudá-la para responder às mentiras protestantes, marxistas ou racionalistas.
Apesar de tal defesa apologética ser extremamente necessária, restringir-se a ela reduz
o estudo da História da Igreja a uma atividade negativa e não positiva, esvaziando-se
todo o sentido espiritual de tal estudo.
➢ Este curso propõe uma abordagem completamente diferente: apesar de tratar
abundantemente deste contributo civilizacional e de responder, direta ou indiretamente, às
falsas acusações, segue uma linha distinta – embasada na realidade ontológica da Igreja, ou
seja, no que ela é.

O que é a Igreja?

➢ É necessário considerar quatro aspectos essenciais:


o Jesus Cristo fundou uma Igreja: “Tu és Pedro e sobre esta Pedra edificarei minha
Igreja” (Mt 16,18), disse o Senhor a São Pedro. “Quem vos ouve, a mim ouve” (Lc
10,16), disse posteriormente aos seus apóstolos. Cristo fundou uma Igreja, e a fé e a
história demonstram que esta é a Igreja Uma, Santa, Católica, Apostólica e Romana.
o A Igreja é o Corpo de Cristo: Disse Cristo: “Eu sou a videira e vós os ramos” (Lc
15,5) e diz São Paulo: “Porque, como o corpo é um todo com muitos membros, e todos
os membros do corpo, embora muitos, formam um só corpo, assim também é Cristo.
Em um só Espírito fomos batizados todos nós, para formar um só corpo, judeus ou

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gregos, escravos ou livres; e todos fomos impregnados do mesmo Espírito. Assim, o


corpo não consiste em um só membro, mas em muitos” (1Cor 12).
o A Igreja é a continuação da Encarnação na história: Sendo a Igreja seu Corpo, o
qual ele assumiu ao se fazer homem no ventre da Virgem Maria, a caminhada da Igreja
ao longo do tempo é a continuação da própria
realidade da Encarnação, da vida de Cristo
neste mundo, que não cessou com a Ascensão,
mas que continua na Igreja. Portanto, conhecer
a história da Igreja é conhecer a continuação da
Encarnação, manifestada na vida dos santos,
nas lutas que a Igreja travou contra as forças das
trevas e contra os Impérios da terra e, ainda,
como ela agiu na ordem temporal.
o A Igreja continua além deste mundo: Mas a
Igreja não se restringe à história. Nos ensina a
fé que a Igreja não existe apenas neste mundo
(Igreja Militante), mas continua no Purgatório
(Igreja Padecente) e no Céu (Igreja Triunfante).
As três são uma só Igreja, unidas
indissoluvelmente. É o dogma da Comunhão dos Santos.

Questões do Catecismo Maior de São Pio X abordando o que foi tratado até aqui

142) Que nos ensina o nono artigo do Credo: creio na Santa Igreja Católica; na Comunhão dos Santos?
O nono artigo do Credo ensina-nos que Jesus Cristo fundou sobre a terra uma sociedade visível, a qual se chama Igreja Católica,
e que todas as pessoas que fazem parte desta Igreja estão em comunhão entre si.

146) Onde se encontram os membros da Igreja?


Os membros da Igreja encontram-se parte no Céu, e formam a Igreja triunfante; parte no Purgatório, e formam a Igreja
padecente; parte na terra, e formam a Igreja militante.

147) Estas diversas partes da Igreja constituem uma só Igreja?


Estas diversas partes da Igreja constituem uma só Igreja e um só corpo, porque têm a mesma cabeça que é Jesus Cristo, o mesmo
espírito que as anima e as mantêm, e o mesmo fim que é a felicidade eterna, que uns já estão gozando e que outros esperam.

149) Que é a Igreja Católica?


A Igreja Católica é a sociedade ou reunião de todas as pessoas batizadas que, vivendo na terra, professam a mesma fé e a mesma
lei de Cristo, participam dos mesmos Sacramentos, e obedecem aos legítimos Pastores, principalmente ao Romano Pontífice.

150) Dizei precisamente o que é necessário para alguém ser membro da Igreja.
Para alguém ser membro da Igreja, é necessário estar batizado, crer e professar a doutrina de Jesus Cristo, participar dos mesmos
Sacramentos, reconhecer o Papa e os outros legítimos Pastores da Igreja

154) Como se pode distinguir a Igreja de Jesus Cristo, de tantas sociedades ou seitas, fundadas pelos homens, e que se
dizem cristãs?
Pode-se distinguir a verdadeira Igreja de Jesus Cristo, de tantas sociedades ou seitas fundadas pelos homens e que se dizem
cristãs, por quatro notas características. Ela é Una, Santa, Católica e Apostólica.

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155) Por que dizeis que a Igreja é Una?


Digo que a verdadeira Igreja é Una, porque os seus filhos, de qualquer tempo ou lugar, estão unidos entre si na mesma fé, no
mesmo culto, na mesma lei e na participação dos mesmos Sacramentos, sob o mesmo chefe visível, o Romano Pontífice.

156) Não poderia haver mais de uma Igreja?


Não pode haver mais de uma Igreja, porque, assim como há um só Deus, uma só Fé e um só Batismo, assim também não há
nem pode haver senão uma só Igreja verdadeira.

158) Por que dizeis que a verdadeira Igreja é Santa?


Chamo a verdadeira Igreja de Santa, porque Jesus Cristo, a sua cabeça invisível, é Santo, santos são muitos dos seus membros,
santas são a sua Fé e a sua Lei, santos os seus Sacramentos, e fora dEla não há nem pode haver verdadeira santidade.
159) Por que dizeis que a Igreja é Católica?
Chamo a verdadeira Igreja de Católica, que quer dizer universal, porque abrange os fiéis de todos os tempos, de todos os lugares,
de todas as idades e condições, e todos os homens do mundo são chamados a fazer parte d’Ela.
160) Por que a Igreja se chama também Apostólica?
A verdadeira Igreja chama-se também Apostólica, porque remonta sem interrupção até aos Apóstolos; porque crê e ensina tudo
o que creram e ensinaram os Apóstolos; e porque é guiada e governada pelos legítimos sucessores dos Apóstolos.

161) Por que a verdadeira Igreja se chama também Romana?


A verdadeira Igreja chama-se também Romana, porque os quatro caracteres da unidade, santidade, catolicidade e apostolicidade
se encontram só na Igreja que tem por chefe o Bispo de Roma, sucessor de São Pedro.

168) Pode alguém salvar-se fora da Igreja Católica, Apostólica, Romana?


Não. Fora da Igreja Católica, Apostólica, Romana, ninguém pode salvar-se, como ninguém pôde salvar-se do dilúvio fora da
arca de Noé, que era figura desta Igreja.

170) Mas quem se encontrasse, sem culpa sua, fora da Igreja, poderia salvar-se?
Quem, encontrando-se sem culpa sua - quer dizer, em boa fé - fora da Igreja, tivesse recebido o batismo, ou tivesse desejo, ao
menos implícito, de o receber e além disso procurasse sinceramente a verdade, e cumprisse a vontade de Deus o melhor que
pudesse, ainda que separado do corpo da Igreja, estaria unido à alma d’Ela, e portanto no caminho da salvação.

171) E quem, sendo muito embora membro da Igreja Católica, não pusesse em prática os seus ensinamentos, salvar-se-
ia?
Quem, sendo muito embora membro da Igreja Católica, não pusesse em prática os seus ensinamentos, seria membro morto, e
portanto não se salvaria, porque para a salvação de um adulto requer-se não só o Batismo e a fé, mas também as obras conformes
à fé.

172) Somos obrigados a acreditar todas as verdades que a Igreja ensina?


Sim, somos obrigados a acreditar todas as verdades que a Igreja nos ensina, e Jesus Cristo declarou que quem não crê, já está
condenado.

Para que estudar a História da Igreja?

➢ Podemos apontar quatro razões principais pelas quais deve-se estudar a História da Igreja:
o Para se conhecer a própria história: Quem é batizado e é membro da Igreja faz parte
de uma história que antecede em milênios seu próprio nascimento. Pertence a uma
história que começou há dois mil anos quando o Filho de Deus se fez homem, e que
continua pelos séculos na Igreja. Deve-se encarar a História da Igreja com um sentido
de pertencimento. Se trata de uma atitude sentimental? Não, mas de uma atitude
espiritual.
o Para ler-se a história humana através da história da Igreja: O católico estuda e vê
a história a partir do Calvário. Ele sabe que a história tem um sentido, assim como um

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começo (a Criação e a Queda), um meio (a Encarnação), e um fim (o Juízo Final). Ele


lerá a história como um católico deve lê-la: reconhecendo a ação de Deus ao longo dos
séculos e medindo os povos, civilizações e épocas pelo termômetro com o qual devem
ser medidos: o da santidade.
o Para crescer na própria fé: Escreve Dom Prósper Guéranger em “O sentido católico
da história”, que a história é a maior prova da origem divina da Igreja. O modo como
ela sobreviveu a incontáveis tempestades ao longo dos séculos, conquistando o Império
Romano e sobrevivendo a todas as adversidades e dificuldades que o mundo e o
demônio lhe opuseram, é prova incontestável de que ela é de Deus. Conhecendo a
história da Igreja, portanto, cresce-se na fé.
o Ajuda a descobrir onde está a verdadeira fé da Igreja: Em épocas de crise na Igreja
como a nossa, em que considerável parcela do clero não mais ensina o que a Igreja
sempre ensinou, é necessário recorrer à lição de São Vicente de Lérins para descobrir
onde está a verdadeira fé da Igreja: “quod semper, quod ubique, quod ad ómnibus”
(“somente e tudo quanto foi crido sempre, por todos e em todas as partes”). Para saber
o que foi crido sempre, por todos e em todo lugar, é necessário conhecer a História da
Igreja.

Como estudar a história da Igreja

➢ Deve-se estudar a História da Igreja:


o Considerando que é a Igreja (como exposto acima) – fundada por Cristo, a continuação
de Cristo na história, seu Corpo, e uma comunhão dos santos que ultrapassa essa vida.
o Considerando que a História da Igreja é mais do que responder às acusações dos
inimigos e do que mostrar as grandes coisas que ela fez pela civilização.
o Evitando-se, porém, cair no erro oposto, qual seja, pensar que a Igreja é meramente uma
realidade invisível. Ao contrário, ela é chamada a agir na história.

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