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Diorama

SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO


COMO DEVEMOS PREPARAR-NOS PARA
A MORTE
SANTO ANFONSO MARIA DE LIGÓRIO

Dispone domui tuae, quia morieris tu et non vives – “Dispõe de tua casa,
porque morrerás e não viverás” (Is 38, 1)

Sumário. A experiência prova que morrem felizmente os que,


no último momento, estão já mortos para o mundo, isto é,
desligados dos bens de que nos deve separar a morte. É, pois,
preciso que desde já aceitemos a privação dos bens, a
separação dos parentes e de todas as coisas da terra,
lembrando-nos que, se não o fizermos voluntariamente
agora, necessariamente teremos de o fazer na morte, mas
com risco da salvação eterna. Quem ainda não escolheu um
estado de vida, tome aquele que houvera querido escolher na
hora da morte.

I. Diz Santo Ambrósio que morrem felizmente os que, no


tempo da sua morte, estão já mortos para o mundo, isto é,
desligados daqueles bens de que forçosamente os deve
separar a morte. Mister, pois, se torna que desde já aceitemos
a privação dos bens, a separação dos parentes e de todas as
coisas da terra. Se não fizermos isto voluntariamente durante
a vida, seremos forçados a fazê-lo na morte, mas então com
extrema dor e com risco da salvação eterna.

A este propósito observa Santo Agostinho que, para morrer


em paz, é vantajosíssimo pormos em ordem durante a vida os
negócios temporais, fazendo desde já a disposição dos bens
que é preciso deixar, a fim de não termos de nos ocupar
então senão da nossa união com Deus. — Naquela hora
convém que só se fale em Deus e no paraíso.
Os últimos momentos da vida são demasiadamente preciosos
para serem desperdiçados em pensamentos terrestres. É na
morte que se acaba a coroa dos escolhidos, porque é então
que se recolhe a maior soma de merecimentos, aceitando os
sofrimentos e a morte com resignação e amor.

Semelhantes sentimentos, porém, não os poderá ter na


morte quem não os tiver excitado durante a vida. Com este
fim, pessoas devotas têm por hábito renovarem todos os
meses a protestação da boa morte com os atos cristãos de fé,
esperança e caridade, com a confissão e comunhão, como se
já estivessem no leito de morte, próximas a saírem deste
mundo. Oh, como esta prática nos ajudará a caminharmos
bem, a nos desprendermos do mundo e morrermos de boa
morte! Beatus ille servus, quem, cum venerit dominus eius,
inveniet sic facientem — “Bem-aventurado aquele servo a
quem seu senhor, quando vier, encontre a fazer isto.”

Quem espera a toda a hora a morte, ainda que esta venha


subitamente, não pode deixar de morrer bem. Ao contrário, o
que se não faz na vida, é dificílimo fazê-lo na morte. — A
grande serva de Deus, irmã Catarina de Santo Alberto, da
ordem de Santa Teresa, estando para morrer, gemia e dizia:
Minhas irmãs, não é o medo da morte que me faz gemer,
porque há vinte e cinco anos que a estou esperando, gemo
por ver tantas pessoas iludidas, que vivem no pecado, e
esperam, para se reconciliarem com Deus à hora da morte,
em que eu com dificuldade posso pronunciar o nome de
Jesus.

Examina-te, meu irmão, e vê se tens o coração apegado a


alguma coisa terrestre: a alguma pessoa, a algum posto, a
alguma casa, a alguma riqueza, a alguma sociedade, a alguns
divertimentos, e lembra-te que não és eterno. Tudo terás de
deixar um dia, e talvez em breve. Porque queres então ficar
agarrado a esses objetos com risco de morreres cheio de
inquietações? Oferece desde já tudo a Deus, estando disposto
a privar-te de tudo, quando Lhe agradar.
Se não tens ainda escolhido o estado de vida, toma o que na
hora da morte quiseras ter escolhido e que te deixará morrer
mais contente. Se já o escolheste, faze agora o que então
quiseras ter feito no teu estado. Faze como se cada dia fosse
o último de tua vida e cada ação a última que praticas: a
última oração, a última confissão, a última comunhão.
Imagina, numa palavra, a cada hora que já estás no leito da
morte, ouvindo a intimação: proficiscere de hoc mundo —
“parte deste mundo”, e por isso repete muitas vezes a
protestação para a boa morte, dizendo:

Ó meu Deus, só poucas horas me restam; nelas vos quero


amar quanto possa na vida presente, para mais Vos amar na
outra. Pouco tenho que Vos oferecer; ofereço-Vos os meus
padecimentos e o sacrifício da minha vida, em união com o
sacrifício que Jesus Cristo Vos ofereceu por mim na cruz.
Senhor, as penas que sofro são poucas e leves em
comparação com as que mereci; tais como são, aceito-as em
testemunho do amor que Vos tenho. Resigno-me a todos os
castigos que me queirais infligir nesta vida e na outra,
contanto que Vos possa amar na eternidade. Castiga-me
tanto quanto Vos aprouver, mas não me priveis do vosso
amor. Sei que não merecia mais amar-Vos, por ter tantas
vezes desprezado o vosso amor; mas Vós não podeis repelir
uma alma arrependida. Pesa-me, ó meu supremo Bem, de
Vos haver ofendido. Amo-vos de todo o coração e em Vós
ponho toda a minha confiança. A vossa morte, ó Redentor
meu, é a minha esperança. Deposito a minha alma em vossas
mãos chagadas.

- Maria, minha querida Mãe, socorrei-me nesse grande


momento. Desde já vos entrego o meu espírito: dizei a vosso
Filho que se apiede de mim. A vós me recomendo, livrai-me
do inferno.

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