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PANAS-N 1

Análise da Estrutura Factorial de uma Medida de Auto-Avaliação da Afectividade Negativa


e Positiva para Crianças e Adolescentes

Marina Carvalho1, Américo Baptista1, & João Gouveia1

Resumo: Com o objectivo de analisar a estrutura factorial de uma medida de auto-


avaliação da afectividade positiva e negativa em crianças e adolescentes, foi
estudada uma amostra de 866 jovens, 394 do sexo masculino e 472 do sexo
feminino, com uma média de idades de 13.35 anos (DP = 2.36). Os resultados da
análise factorial exploratória replicaram a estrutura original, explicando cerca de
36% da variância total. A análise da consistência interna da estrutura bidimensional
obtida evidenciou valores  de Cronbach iguais a .83 e .76 para a afectividade
negativa e positiva, respectivamente. O estudo das diferenças entre sexos e faixas
etárias evidenciou que as raparigas e os adolescentes relataram valores médios mais
elevados de afectividade negativa. As análises factoriais confirmatórias para testar
um modelo correlacionado e hierárquico evidenciaram índices de ajustamento
adequados (RMSEA entre .05 e .06; GFI superiores a .90), independentemente do
sexo e da faixa etária.

O interesse científico no estudo das perturbações da internalidade na infância e


adolescência tem aumentado consideravelmente nas últimas décadas, bem como a atenção
prestada à estrutura das emoções e às suas relações com os sintomas psicopatológicos. Ao
longo do tempo, muitos dos critérios para diagnóstico em adultos têm sido utilizados para
identificar a ansiedade e a depressão em crianças e adolescentes, tendo sido desenvolvidas
diversas investigações com o objectivo de compreender o significado e as diferenças entre os
seus componentes (Chorpita, Yim, Moffitt, Umemoto, & Francis, 2000; Joiner, Catanzaro, &
Laurent, 1996; Lee, & Rebok, 2002; Maubach, 2000; Ollendick & Yule, 1990; Spence, 1997;
Spence, 1998).
No entanto, apesar da importância das classificações nosológicas actualmente em uso,
(DSM-IV-TR; American Psychiatric Association, 2000; ICD-10; World Health Organization,
1996), o suporte empírico acerca da estrutura destas perturbações (ou dimensões) é fraco, em
particular devido às associações entre as medidas de ansiedade e depressão, mas também pela
especificidade dos constructos em questão, nomeadamente no que se refere à sua idade de
início, duração e características associadas (Boyd, & Gullone, 1997; Brady, & Kendall, 1992;
Cole, Peeke, Martin, Truglio, & Seroczynski, 1998; Joiner, Schmidt, & Schmidt, 1996;
Muris, Merckelbach, Ollendick, King, & Bogie, 2002).
Estudos efectuados com populações adultas suportaram a capacidade discriminativa dos
diferentes componentes das emoções negativas, indicando a utilidade de uma abordagem
afectiva para classificar formas específicas de psicopatologia (Burns & Eidelson, 1998;
Joiner, Steer, Back, Schmidt, Rudd, & Catanzaro, 1999). Clark e Watson (1991) propuseram

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Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Lisboa
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uma estrutura tridimensional para explicar a relação entre os sintomas de ansiedade e


depressão. De acordo com este modelo, existe um factor de mal-estar geral, Afectividade
Negativa, que caracteriza tanto a ansiedade como a depressão, um factor que foi descrito
como sendo específico da ansiedade, Sobre-Activação Autonómica, e um factor específico da
depressão, Baixa Afectividade Positiva.
Em estudos efectuados com populações clínicas, Barlow, Chorpita e Turovsky (1996)
propuseram um modelo semelhante que sugere a discriminação entre três emoções negativas,
Depressão, Ansiedade e Medo. Segundo este modelo, a ansiedade é conceptualizada de modo
diferente da activação autonómica. Deste modo, a afectividade negativa é uma manifestação
da ansiedade enquanto que a activação autonómica é uma manifestação do medo. Em ambos
os modelos, os sintomas de depressão podem envolver uma combinação do factor relativo ao
mal-estar geral, afectividade negativa ou ansiedade, e especificidades únicas da depressão,
baixa afectividade positiva ou distimia.
Apesar das suas diferenças, ambos os modelos sugerem a existência de três factores
distintos que descrevem os sintomas das emoções negativas: (a) um factor refere-se aos
sintomas de activação autonómica e medo/pânico, (b) um segundo factor corresponde a
sentimentos de tensão, apreensão, preocupações e mal estar geral e (c) um terceiro factor
corresponde a anedonia, baixo afecto positivo e desesperança, ou seja, uma estrutura
tridimensional que compreende as emoções negativas Ansiedade Somática, Ansiedade
Cognitiva e Depressão.
De acordo com Lonigan, et al. (1994), a ansiedade e a depressão em jovens apresentam
características comuns que podem, também, ser agrupadas num constructo de primeira
ordem, o afecto negativo, operacionalizado segundo o modelo de Watson e Clark (1984).
Este constructo corresponde à conceptualização de Achenbach e Edelbrock (1978), de acordo
com a qual a afectividade negativa consiste numa predisposição geral para a ansiedade e
depressão, que se podem agrupar nas perturbações da internalidade. Mas, apesar das
evidências sobre a relação entre ansiedade e depressão, a estrutura latente das emoções
negativas na infância e adolescência só recentemente começou a ser conceptualizada com
maior detalhe. Alguns autores concluiram que a estrutura das perturbações de internalidade
consistia em dois factores de ordem superior, afectividade negativa e afectividade positiva
(Brown, Chorpita, & Barlow, 1998; Chorpita, Plummer, & Moffitt, 2000; Laurent, &
Ettelson, 2001; Lonigan, Hooe, David, & Kistner, 1999; Lonigan, Phillips, & Hooe, 2003;
Muris, Schmidt, Merckelbach, & Schouten, 2001; Phillips, Lonigan, Driscoll, & Hooe, 2002),
enquanto que outros sugeriram a existência de um constructo geral ou de um modelo de dois
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factores ou tripartido, variando em função das faixas etárias estudadas (Chorpita, 2002;
Chorpita, Albano, & Barlow, 1998; Chorpita, & Daleiden, 2002; Cole, Truglio, & Peeke,
1997; Joiner, & Lonigan, 2000; Kiernan, Laurent, Joiner, Catanzaro, & MacLachlan, 2001;
Turner, & Barrett, 2003). Comparando os resultados obtidos nos estudos acima mencionados,
fica por esclarecer se as dimensões obtidas são melhor interpretadas de acordo com uma
estrutura hierárquica ou correlacional, bem como, se essa estrutura é independente do sexo e
da idade.
Dadas as inconsistências observadas nos resultados dos estudos existentes sobre a
natureza das perturbações da internalidade na infância e adolescência, e dada a escassez de
medidas de avaliação especificamente desenvolvidas com o objectivo de avaliar a
afectividade positiva e negativa na infância e adolescência, foi objectivo do presente estudo a
análise da estrutura factorial de uma medida de auto-avaliação da afectividade negativa e
positiva para crianças e adolescentes, o Questionário de Afectividade Positiva e Negativa
para Crianças e Adolescentes, desenvolvido em 1997, por Sandin.
Método
Participantes
Participaram neste estudo 866 crianças e adolescentes, 394 do sexo masculino e 472 do
sexo feminino, com idades compreendidas entre os 8 e os 17 anos (M = 13.4; DP = 2.4), que
frequentavam diversos anos de escolaridade do ensino básico e secundário. Não foram obtidas
diferenças estatisticamente significativas entre os sexos em relação a idade e ao ano de
escolaridade (p > .05).
Medidas
Afectividade positiva e negativa. Avaliada pelo Cuestionario PANAS para Niños y
Adolescentes (PANAS-N; Sandin, 1997), uma medida de auto-avaliação da afectividade
positiva e negativa em crianças e adolescentes. O PANAS-N é composto por 20 items, com um
formato de resposta numa escala ordinal de três pontos (1. Nunca, 2. Às vezes, 3. Muitas vezes),
os quais se agrupam em duas dimensões, constituidas por 10 itens cada: afectividade positiva e
afectividade negativa. Esta medida permite obter dois resultados que variam entre 10 e 30,
dados pelo somatório das respostas aos itens relevantes para cada dimensão, variando os
resultados no sentido de um índice mais elevado de afectividade positiva e afectividade
negativa.
Procedimento
Após o consentimento informado assinado pelos progenitores dos jovens que
participaram neste estudo, os jovens que acederam participar neste estudo foram avaliados num
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só momento, em grupo e em contexto de sala de aula, com um protocolo de investigação


composto por uma folha de dados demográficos e o PANAS, que demorou, em média,
aproximadamente 10 minutos a ser respondido.
Resultados
Os dados foram introduzidos numa base de dados, tendo os procedimentos estatísticos
sido efectuados através do Statistical Package for Social Sciences (S.P.S.S.) 12.0 para o
Windows e os testes dos modelos de equações estruturais através do Streams 2.50.3.
Análise factorial exploratória aos itens do PANAS-N
Com o objectivo de analisar a estrutura factorial do PANAS-N, foi efectuada uma análise
factorial exploratória em componentes principais, com rotação varimax, incluindo todos os
itens que compunham a medida.
Através da análise dos componentes principais e com base na regra de Kaiser, na análise
do teste de Scree e na retenção de itens com saturação no factor superior a .40, foi retida uma
solução de dois factores, teoricamente interpretáveis, que explicaram aproximadamente 36%
da variância total.
A tabela 1 revela a saturação dos itens nos respectivos factores. O primeiro factor ficou
composto pelos 10 itens que avaliavam a afectividade negativa, com uma variância explicada
de cerca de 21%, enquanto que o segundo factor ficou composto pelos itens que avaliavam a
afectividade positiva, os quais explicaram cerca de 14% da variância, ver tabela 1.

Afectividade Afectividade
Negativa Positiva
PANAS 20 .71
PANAS 7 .67
PANAS 4 .65
PANAS 18 .64
PANAS 15 .64
PANAS 8 .62
PANAS 11 .61
PANAS 2 .60
PANAS 6 .57
PANAS 13 .44
PANAS 19 .65
PANAS 9 .61
PANAS 12 .61
PANAS 14 .60
PANAS 16 .58
PANAS 5 .58
PANAS 10 .54
PANAS 17 .49
PANAS 1 .48
PANAS 3 .44
Valores próprios 4.27 2.87
Variância explicada 21.36 14.36

Tabela 1: Análise factorial exploratória em componentes principais aos itens do PANAS-N


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Procedimentos para cotação


O resultado de cada uma das dimensões obtidas é dado pelo somatório das respostas
dadas a cada um dos itens que a compõem.
Análise da fidelidade do PANAS-N
A análise da fidelidade das dimensões obtidas evidenciou valores αdeCr
onba
ch
iguais a .83 e .76 para a afectividade negativa e para a afectividade positiva, respectivamente.
Os valores de correlação média entre items obtidos estiveram compreendidos entre .20 e .40,
e os valores da amplitude da correlação entre o item e o total foram superiores a .30,
demonstrando a consistência interna e a homogeneidade dos constructos, ver tabela 2.

 Correlações Amplitude da
de médias correlação item-
Cronbach entre itens total
Afectividade negativa .83 .32 .35 - .62
Afectividade positiva .76 .24 .34 - .50

Tabela 2: Análise da fidelidade das dimensões do PANAS-N.

Intercorrelações entre as dimensões do PANAS-N


A associação entre as duas dimensões obtidas através da análise factorial exploratória
foi estudada através do coeficiente de correlação de Pearson, tendo os resultados obtidos
evidenciado uma correlação negativa mas estatisticamente significativa entre a afectividade
positiva e a afectividade negativa (r = -.17; p = .0005).

Estudo das diferenças entre sexos para a afectividade negativa e positiva


A tabela 3 mostra os valores médios e de desvio-padrão, por sexos, para a
afectividade positiva e a afectividade negativa, bem como os valores do teste t de Student
para amostras independentes. Foi apenas obtida uma diferença estatisticamente significativa
entre os sexos para a afectividad enegativa (t(835) = -3.981; p = .0005), tendo as participantes
do sexos feminino relatado níveis mais elevados de afectividade negativa (M = 17.45; DP =
4.06), comparativamente com os participantes do sexo masculino (M = 16.36; DP = 3.84),
ver tabela 3.

Sexo Masculino Sexo Feminino


(n = 384) (n = 448) t
M DP M DP
Afectividade negativa 16.36 3.84 17.45 4.06 -3.981***
Afectividade positiva 23.63 3.37 23.10 3.45 2.333

Tabela 3: Diferenças entre sexos para a afectividade positiva e negativa.


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Estudo das diferenças entre faixas etárias para a afectividade negativa e positiva
Dada a existência de literatura que aponta para a influência de aspectos cognitivos e
desenvolvimentais relacionados com a idade na auto-avaliação da afectividade negativa
(Chorpita, Albano, & Barlow, 1996; Vasey, Crnic, & Carter, 1994), foram também estudadas
as diferenças entre faixas etárias. A amostra foi dividida em dois grupos, de acordo com a
idade dos participantes: crianças (com com idades compreendidas entre os 8 e os 11 anos; N
= 279) e adolescentes (com idades compreendidas entre os 12 e os 17 anos; N = 588).
A comparação entre os dois grupos evidenciou a existência de diferenças
estatisticamente significativas para a afectividade negativa (t (836) = -2.809; p = .005). Estes
resultados revelaram os adolescentes relataram níveis mais elevados de afectividade negativa
(M = 17.21; DP = 4.02) quando comparados com as crianças (M = 16.38; DP = 3.87), ver
tabela 4.

Crianças Adolescentes
(n = 279) (n = 588) t
M DP M DP
Afectividade negativa 16.38 3.87 17.21 4.02 -2.809**
Afectividade positiva 23.12 3.43 23.45 3.42 -1.234

Tabela 4: Diferenças entre faixas etarias para a afectividade positiva e negativa.

Estatísticas descritivas e valores normativos para a versão portuguesa do PANAS-N


A tabela 5 mostra as estatísticas descritivas e os valores normativos obtidos para a
versão portuguesa do PANAS-N, nas suas diferentes dimensões, e para o total da medida. De
assinalar que os dados obtidos seguem uma distribuição semelhante à distribuição normal
(Kline, 1998), ver tabela 5.

M DP Med Moda Amp Ass Curt Quartis


25 50 75
AN 16.96 3.99 17 16 10-30 .426 -.145 14 17 20
AP 23.35 3.42 23 24 12-30 -.297 -.129 21 23 26

Tabela 5: Estatísticas Descritivas para o ICP.


Med = Mediana; Amp = Amplitude; Ass = Assimetria; Curt = Curtose; AN = Afectividade Negativa; AP =
Afectividade Positiva.

Análise factorial confirmatória

As auto-avaliações na infância podem envolver limitações metodológicas, ocultando as


relações entre variáveis e os constructos latentes aos quais estas se referem, pelo que foram
utilizados métodos de equações estruturais, para controlar os efeitos das medidas. Desta forma,
com o objectivo de analisar empiricamente qual das estruturas factoriais poderia representar
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mais adequadamente a estrutura da afectividade em crianças e adolescentes, foram comparados


2 modelos diferentes, que variaram em função da correlação ou independência entre as
variáveis latentes e da ordenação, hierárquica ou não hierárquica, de modo a identificar um
modelo estrutural viável, a partir do mesmo conjunto de indicadores.
Os índices de ajustamento foram calculados com o objectivo de fornecer informação
sobre a capacidade de cada modelo para explicar os dados. Dado que índices diferentes são,
frequentemente, sensíveis a diferentes influências como, por exemplo, o tamanho da amostra
(Schumacker, & Lomax, 1996), foram utilizados múltiplos índices, de modo a poder mostrar
uma avaliação mais abrangente dos modelos.
A tabela 6 mostra os índíces de bondade do ajustamento para um modelo
correlacionado e para um modelo hierarquico, tendo em conta o total da amostra, todos eles
evidenciando um ajustamento adequado dos dados ao modelo, ver tabela 6.

2
χ /gl RMSEA GFI CFI RMR
Dois factores correlacionados 3.06 .05 .94 .90 .002
Dois factores, um de ordem
superior 3.06 .05 .94 .90 .002

Tabela 6: Indices de bondade do ajustamento para um modelo correlacionado e para um


modelo hierárquico para o total da amostra.
RMSEA = raiz quadrada média do erro de aproximação; GFI = índice de bondade do
ajustamento; CFI = índice de ajustamento comparativo; RMR = Raiz quadrada média residual.

Dada a existência de diferenças entre os sexos e faixas etárias para os constructos em


análise, os mesmos procedimentos foram repetidos, as análises factoriais confirmatórias foram
repetidas, através de amostras separadas. Nestas análises multi-amostrais, os parâmetros do
modelo foram idênticos para as quatro amostras, tendo sido consideradas as covariâncias em
função do sexo e da idade. Os resultados podem ser observados na tabela 7 e sugerem um
ajustamento aceitável de ambos os modelos aos dados, independentemente da amostra
estudada, ver tabela 7.

2
χ/gl RMSEA GFI CFI RMR
Sexo masculino
Dois factores correlacionados 2.23 .06 .91 .86 .02
Dois factores, um de ordem superior 2.23 .06 .91 .86 .02
Sexo feminino
Dois factores correlacionados 2.19 .05 .93 .90 .02
Dois factores, um de ordem superior 2.19 .05 .93 .90 .02
Crianças
Dois factores correlacionados 1.81 .05 .90 .85 .03
Dois factores, um de ordem superior 1.81 .05 .90 .85 .03
Adolescentes
Dois factores correlacionados 2.52 .05 .93 .90 .02
Dois factores, um de ordem superior 2.52 .05 .93 .90 .02
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Tabela 7: Indices de bondade do ajustamento para um modelo correlacionado e para um modelo


hierárquico, por sexos e faixas etárias.
RMSEA = raiz quadrada média do erro de aproximação; GFI = índice de bondade do ajustamento;
CFI = índice de ajustamento comparativo; RMR = Raiz quadrada média residual.

Discussão
O presente estudo tinha como objectivo a análise da estrutura factorial de uma medida
de auto-avaliação da afectividade negativa e positiva para crianças e adolescentes.
A estrutura factorial obtida através da análise factorial exploratória e confirmatória
esteve de acordo com os fundamentos teóricos da mesma. A estrutura bidimensional obtida
confirmou a existência de dois factores com características distintas, que, embora
correlacionados, mostraram ser independentes. A fidelidade evidenciada pelas dimensões
obtidas mostrou ser adequada, com valores de consistência interna e homogeneidade
elevados, de acordo com os parâmetros habitualmente aceites (Nunnaly, 1978).
As comparações entre sexos e idades estiveram também de acordo com a literatura,
segundo a qual as raparigas relataram, de modo consistente, níveis mais elevados de
afectividade negativa, comparativamente com os rapazes (Compas et al, 1997; Dias, &
Gonçalves, 1999; Essau, Conradt, & Petterman, 2000; Gullone & King, 1992; Loureiro,
1999).
O desenvolvimento de medidas de auto-avaliação de dimensões relacionadas com a
afectividade na infância e adolescência representa um passo importante na investigação das
relações entre a sintomatologia ansiosa e depressiva, o qual pode permitir o desenvolvimento
de estratégias de intervenção mais eficazes que considerem as diferenças individuais
relacionadas com as manifestações destes problemas da internalidade.
Estudos futuros deverão procurar recolher dados adicionais relativos à validade destes
instrumentos, bem como confirmar a sua estrutura factorial e estabilidade temporal noutras
populações. Também a utilização de diferentes métodos e diferentes fontes de informação
para avaliação das emoções negativas na infância e adolescência pode permitir minimizar os
erros de medida relacionados com os auto-relatos, possibilitando uma avaliação mais
abrangente das perturbações da internalidade, embora não seja de esperar uma concordância
muito elevada, pelas características das mesmas.
Apesar de consistentes com a literatura, estes resultados evidenciam a necessidade de
replicar este estudo, avaliando a estrutura das emoções negativas em populações clínicas,
com o diagnóstico de perturbação ansiosa ou do humor adequadamente definido, de modo a
testar a sua aplicabilidade às perturbações clínicas da infância e adolescência.
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