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3 3 PRECIPITAÇÃO

PRECIPITAÇÃO é o nome que se atribui a toda forma de umidade que, proveniente


da atmosfera, deposita-se sobre a superfície da Terra. Ocorre na forma de chuva, granizo, neve,
neblina, orvalho e geada. A formação das precipitações está ligada à ascensão das massas de ar
que promove o seu resfriamento, podendo fazer com que atinja o seu ponto de saturação,
condensando-se, na forma de minúsculas gotas que permanecem em suspensão, como nuvens
ou nevoeiros. Para que a precipitação ocorra é necessária a coalescência de gotículas através de
algum agente aglutinador, que pode ser a turbulência, a vibração promovida pelas descargas
elétricas, etc. Pode acontecer que as gotas em queda encontrem camadas da atmosfera de
baixíssimas temperaturas, congelando-se e juntando-se a outras gotículas congeladas ou não,
formando pedras de gelo de tamanhos diversos e alcançando a superfície da Terra em forma de
granizo. A neve resulta do crescimento de cristais de gelo nas camadas frias em torno de
núcleos tais como particulados, sal, etc., que coalescem para formar flocos suficientemente
pesados para vencer a gravidade e precipitar. A neblina acontece quando, nas noites claras, as
temperaturas próximas à superfície do terreno baixam rapidamente, promovendo a condensação
e formação de gotículas. Quando tais gotículas se encontram com as superfícies de obstáculos
tais como folhas das árvores, telhados, etc., depositam-se sobre elas na forma de orvalho.
Quando as temperaturas nas camadas de ar próximas à superfície do terreno atingem valores
abaixo do ponto de congelamento, há deposição de gotículas da neblina em forma de geada.
Na engenharia, geralmente refere-se a precipitação como sinônimo de chuva pelo fato
de que outras formas ou representam uma parcela pouco significativa o ciclo hidrológico ou são
incomuns em algumas regiões, como é o caso da neve no Brasil. O presente capítulo trata,
portanto, da precipitação na forma de chuva.
3.1 UMIDADE ATMOSFÉRICA

A atmosfera terrestre é uma camada gasosa que se mantém envolvendo a Terra graças à
ação do campo gravitacional, sendo o ar atmosférico uma mistura de gases constituída de ar
seco acrescido de vapor d’água (variável no espaço e no tempo, dentro da faixa de 0 a 1%), de
composição aproximadamente constante [nitrogênio (78,08%) e oxigênio (20,95%)]. Ela é
subdividida em regiões distintas. A troposfera é a sua camada mais próxima da superfície que,
de espessura até 16 km a partir do Equador e até 8 km a partir dos polos, é o principal meio de
transporte de massa (água, partículas sólidas, poluentes, etc.), uma vez que contém 80% da
massa total da atmosfera, energia térmica recebida pelo sol e quantidade de movimento
(movimento das massa de ar). Acima dessa camada está a estratosfera, que abriga a camada de
ozônio que protege a Terra da infiltração dos perigosos raios ultravioleta. Tem como limite
inferior a tropopausa e superior a estratopausa. Acima da estratosfera está a alta atmosfera,
importante por conter elementos especiais e camadas ionizadas, ser responsável pelas reações
fotoquímicas e atuar como meio de comunicação via satélite.
Face à distribuição apresentada, pode-se concluir que a baixa atmosfera, em especial a
troposfera, é de maior interesse como fonte de umidade, elemento básico para a formação das
precipitações.

3.2 TIPOS DE PRECIPITAÇÃO

Diversos tipos de precipitação podem ocorrer, do acordo com o fator responsável pela
ascensão da massa de ar que lhes deu origem. São eles:

a) Frontais: associadas com o movimento de massas de ar de regiões de alta


pressão para regiões de baixa pressão. Ocorrem ao longo da linha de
descontinuidade que separa duas massas de ar de características diferentes e
caracterizam-se como chuvas de intensidade baixa a moderada, de longa
duração e que abrangem grandes áreas.

b) Orográficas: resultam da ascensão mecânica de correntes horizontais de ar


úmido sobre barreiras naturais impostas pelo relevo, tais como montanhas.
Possuem as mesmas características das chuvas frontais.

c) Convectivas: típicas das regiões tropicais. O aquecimento desigual da superfície


terrestre provoca o aquecimento de camadas de ar com densidades diferentes, o
que gera uma estratificação térmica da atmosfera em equilíbrio instável. Se esse
equilíbrio por qualquer motivo, vier a ser quebrado, provoca uma ascensão
brusca e violenta do ar menos denso, capaz de atingir grandes altitudes, com
formação de nuvens tipo cumulus. Essas precipitações são de grande
intensidade e pequena duração, caracterizadas por fenômenos elétricos e fortes
rajadas de ventos, abrangendo pequenas áreas. Exemplos: Belém do Pará e
chuvas de verão

Do ponto de vista de engenharia, os dois principais tipos são importantes em


projetos de grandes bacias (obras hidrelétricas, navegação e controle de cheias) enquanto o
último tipo interessa às obras em pequenas bacias, como dimensionamento de bueiros e
galerias de águas pluviais.

3.3 MEDIDA DAS PRECIPITAÇÕES

Exprime-se a quantidade de chuva pela altura de água precipitada e acumulada sobre


uma superfície plana e impermeável. Ela é avaliada por meio de medidas executadas em postos
previamente escolhidos, ditos pluviométricos, utilizando-se de aparelho chamado pluviômetro
ou pluviógrafo, conforme sejam simples receptáculos (provetas) de água precipitada em
intervalos de tempo conhecidos ou registrem essas alturas ao longo do tempo.

Pluviômetro Pluviógrafo

Provetas : A = 500 cm2 (Fuess) DAEE


A = 400 cm2 D.N.A.E.E.
Tipo Pasella Área = 200 cm2

3.3.1 Determinação da Altura de Chuva

A determinação da altura de chuva , hch,a partir das alturas da proveta graduada, hprov é feita
considerando-se as áreas do bocal coletor em forma de funil, Abocal, e da proveta, Aprov, de
acordo com:
hch Aprov A prov
= → hch = h prov
h prov Abocal Abocal
3.3.2 Grandezas características

Altura pluviométrica

É a altura de água precipitada, h, em mm.Trata-se, portanto, de uma medida pontual


representativa da água precipitada por unidade de área horizontal.

Intensidade da precipitação

É a relação entre a altura pluviométrica e a duração da precipitação, expressa em geral em


mm/h ou mm/min ou l/s*ha.

Duração

Período de tempo contado desde o início até o fim da precipitação.

Chuva Duração Intensidade


Orográfica Média Média
Frontal Longa Baixa – Moderada
Convectiva Curta Alta

3.4 PRECIPITAÇÃO MÉDIA SOBRE UMA BACIA

A altura média de precipitação em uma área específica é necessária em muitos de


problemas hidrológicos, notadamente na determinação do balanço hídrico de uma bacia
hidrográfica, cujo estudo pode ser feito com base em um temporal isolado, com totais de uma
estação do ano, ou ainda com base em totais anuais.
Existem três métodos para essa determinação: o método aritmético, o método de
Thiessen e o método das isoietas.

Método Aritmético

Esse método é o mais simples: consiste em determinar-se a média aritmética entre as


alturas de chuvas medidas na área. Este método só apresenta uma boa estimativa se os
aparelhos forem distribuídos uniformemente e a área for plana ou de relevo suave.
1 n
h= ⋅ Σ i =1 Pi
n
sendo: h - altura média de precipitação (mm)
Pi - a lâmina de precipitação do posto i (mm)
n - número de posto considerados

Método de Thiessen

Esse método, que pode ser utilizado mesmo para uma distribuição não uniforme dos
aparelhos. Consiste em atribuir um peso aos totais precipitados observados em cada
aparelho, possibilitando que a área de influência de cada qual seja considerada na avaliação
da média.
Essas áreas de influência (pesos) são determinadas através de mapas da bacia com os
postos, unido-se os postos adjacentes por linhas retas e, em seguida, traçando-se as
mediatrizes destas retas, formando polígonos, cujos lados constituem os limites das áreas
de influência de cada estação.
A precipitação média é calculada pela média ponderada entre a precipitação Pi de cada
estação e o peso a ela atribuído Ai que é a área de influência de Pi.

ΣPi Ai
h= , sendo h a precipitação média sobre a bacia e ΣAi a área total da bacia, A.
ΣAi

Método das Isoietas

De acordo com o método das isoietas, em vez de pontos isolados de precipitação


determinados pelos aparelhos de medida, utilizam-se curvas de igual precipitação, cujo
traçado é simples e semelhante ao das curvas de nível, onde a altura da chuva substitui a
cota do terreno.
A precipitação média sobre uma área é calculada ponderando-se a precipitação média entre
isoietas sucessivas (normalmente fazendo a média dos valores de duas isoietas) pela área
entre as isoietas, totalizando-se esses produtos e dividindo-se pela área total da bacia.

 h + hi + 1 
Σ i  Ai
h=  2 
A
3.5 VERIFICAÇÃO DA HOMOGENEIDADE DOS DADOS

A análise de dupla massa é o método utilizado para se verificar a homogeneidade dos


dados, que pode ser comprometida caso ocorram anormalidades na estação pluviométrica, tais
como mudança de local, das condições do aparelho, etc.
Esse método consiste em construir uma dupla acumulativa, na qual são relacionados os
totais anuais de todos os pontos da região, considerada homogênea, sob o ponto de vista
meteorológico.
Procedimento:
1) Calcula-se a média aritmética dos totais precipitados em cada ano em todos os
pontos e acumula-se essa média.
2) Grafam-se os valores acumulados da média dos pontos contra os totais acumulados
de cada um deles (observar os pontos no gráfico da Figura)

Se os valores do posto a consistir são proporcionais aos observados na base de


comparação, os pontos devem alinhar-se segundo uma reta de declividade única. Entretanto, a
presença de erros sistemáticos, a mudança nas condições de observação ou a existência de uma
causa física real, como alterações climáticas decorrentes de ações antrópicas, podem promover a
mudança de declividade da reta original. É importante que as observações sejam corrigidas para
uma mesma base de observações, para que os dados possam ser considerados homogêneos ou
consistentes.
A escolha da maneira como os dados devem ser corrigidos, ou seja, os mais antigos para
a condição atual ou os mais atuais para a condição antiga, depende as razões que promoveram a
mudança de tendência (declividade). Assim, se os erros puderem ser atribuídos ao período mais
recente, a correção deve ser efetuada para conservar a tendência antiga.
Os valores inconsistentes devem ser corrigidos de acordo com (Tucci, 1993) :

Ma
Pc = P + .∆P0
M0

sendo: Pc - a precipitação acumulada ajustada à tendência desejada


P - valor da ordenada correspondente à interseção das retas das duas tendências
Ma – o coeficiente angular da tendência desejada
M0 – o coeficiente angular da tendência a corrigir
∆P0 = P0 − P , sendo P0 o valor acumulado a ser corrigido
45

40
Pobs
Pc-atual
35
Pc-antiga

Prec. Acumulada em X
30

25

20

15

10

0
0 5 10 15 20 25 30
Prec. acumulada- Média das estações da região

3.6 PREENCHIMENTO DE FALHAS

Muitas estações pluviométricas apresentam falhas em seus registros devido a problemas


operacionais (observador ou aparelho). Entretanto, como há necessidade de se trabalhar com
séries contínuas, essas falhas devem ser preenchidas. Um método bastante utilizado para se
fazer esta estimativa tem como base em pelo menos dez anos de registros pluviométricos de
pelo menos três estações localizadas o mais próximo possível da estação que apresenta falha nos
dados de precipitação.
Seja uma estação x, que apresenta falhas, cuja média Mx das precipitações é conhecida,
em determinado período de anos. Em geral adota-se o procedimento dado a seguir:
1o) Supõe-se que a precipitação na estação x seja proporcional as precipitações nas estações
vizinhas A, B e C num mesmo período, que serão representadas por Pa, Pb, Pc.
2o) Supõe-se que o coeficiente de proporcionalidade seja relação entre a média Mx e as
médias Ma, Mb e Mc, no mesmo intervalo de anos.
3o) Adota-se como valor Px a média ponderada entre os três valores calculados a partir de
A, B e C.

1 M x M M 
Px =  Pa + x Pb + x Pc 
3 Ma Mb Mc 
Exemplo: Deseja-se preencher a falta de dados ocorridos no mês de janeiro no ano de 1963
no posto E5-46 localizado no município de Buri-SP, pertencente a rede de postos do
DAEE. Para tanto dispõe-se dos dados (totais mensais dos meses de janeiro) dos postos E5-
51, E5-52 e E5-47, todos vizinhos ao ponto em questão, no período de 1958-1968.

PX(mm) PA(mm) PB(mm) PC (mm)


Ano POSTO E5-46 POSTO E5-47 POSTO E5-52 POSTO E5-51
1958 117,4 157,3 249,6 224,8
1959 125,3 241,6 374,6 265,1
1960 131,8 250,9 267,6 261,2
1961 159,4 55,6 121,8 57,0
1962 52,4 158,9 85,4 95,4
1963 Falta 344,0 276,6 231,4
1964 64,2 39,3 81,8 21,3
1965 174,0 253,3 285,4 290,6
1966 137,8 64,7 150,2 201,2
1967 168,3 126,1 170,3 123,2
1968 255,5 249,5 339,3 285,1
Totais 1386.1 1941,2 2402,6 2060,3

1386,1
Mx = = 138,6 mm → Px = ?
10
1941,2
MA = = 176,5 mm → Pa = 344,0 mm
11
2402,6
Mb = = 218,4 mm → Pb = 276,6 mm
11
2060,3
MC = = 187,3 mm → Pc = 231,4 mm
11

1 M x M M 
Px =  Pa + x Pb + x Pc  = 205,6 mm
3 Ma Mb Mc 

Px = 205,6 mm, total estimado para o mês de janeiro de 1965.

Obs.: O dado real para esse mês, pelo boletim foi de 215,3mm.
Primeira Lista de Exercícios de Hidrologia e Recursos Hídricos-SHS-403

1. O seguinte gráfico representa uma parte do registro de precipitação em dada estação, onde, à
medida que a água cai no recipiente coletor, a pena da caneta do pluviógrafo registra a altura
relativa ao peso da água do recipiente. Sabendo-se que o no eixo do tempo corresponde à 0 hora
do dia 10 de agosto de 1971, pergunta-se:
a. qual foi a intensidade média da precipitação entre 6 e 12 horas do dia 10 de agosto?
b. qual a precipitação total no dia 10?
c. e no dia 11?
d. determine a maior intensidade de 30 e 60 minutos.
.

6.25
precipitação (mm)

3.75

2.5

1.25

0
0 4 8 12 16 20 24 28 32 36 40 44 48 52 56
horas

2. Uma estação pluviométrica X ficou inoperante durante parte de um mês, durante o qual
ocorreu uma tormenta. Os totais da tormenta em 3 estações adjacentes A, B e C foram de 105
mm, 87,5 mm e 120 mm. As quantidades de precipitação anual normal para as estações X, A, B
e C são de 962,5 mm, 1002,5 mm, 920 mm e 1180 mm, respectivamente. Estime a precipitação
da tormenta na estação X.

3. A precipitação anual para a estação X e a precipitação anual média para 10 estações vizinhas
são mostradas na tabela:
a. Determine a consistência dos registros para a estação X.
b. Em que ano ocorreu uma mudança no regime da estação X
PRECIPITAÇÃO(cm)
ANO MÉDIA DAS
ESTAÇÃO X 10
ESTAÇÕES
1945 29,9 28,9
1946 24,6 25,9
1947 39,1 35,3
1948 31,7 33
1949 29,2 33,3
1950 27,7 23,4
1951 35,3 27,7
1952 35,8 33,5
1953 26,4 25,4
1954 20,1 22,4
1955 33,8 24,4
1956 41,4 25,9
1957 32,8 40,4
1958 35,3 27,7
1959 37,3 25,8
1960 35,6 38,9
1961 28,8 25,9
1962 35,1 29,9
1963 25,4 23,4
1964 26,7 25,9
1965 42,4 35,6
4. A região do King River em Piedra, Califórnia, é mostrada no desenho. As medidas de
precipitações anuais em várias estações são dadas na tabela abaixo. Conhecendo a distribuição
das isoietas sobre a área, determine a altura uniforme equivalente de precipitação sobre a área
através dos métodos: média aritmética, Thiessen e isoietas.

ESTAÇÃO PRECIPITAÇÃ
O
(mm)
A 220,2
B 452,4
C 463,6
D 448,8
E 552,2
F 602,2
G 633,7
H 870,7
I 743,9
J 843,0
K 902,5
L 950,2
M 382,3
Gabarito da Lista 1

1.
a. 1,25 mm/10h=0,125 mm/h
b. 2,5 mm
c. 4 mm
d. 2,5/6=0,42 mm/h

2. 96,7 mm

3.
graficamente:

5,3481 − 4,4426
XP = = 20,39
1,1074 − 1,063
P = 1,1074 X P − 5,3481 = 17,24

y = 1,1074x - 5,3481
650,00 2
R = 0,9986
x ac.1
x ac.2
Linear (x ac.2) 450,00
Linear (x ac.1)
y = 1,063x - 4,4426
R2 = 0,9987
250,00
x ac.

50,00

-300,00 -200,00 -100,00 0,00 100,00 200,00 300,00 400,00 500,00 600,00

-150,00

-350,00
média ac.
P M0 Ma
P= 17,24 1,11 1,06
Média ac. x ac.1 x ac.2 c corr. série x corrigida
28,90 29,90 29,90
54,80 54,50 24,60
90,10 93,60 39,10
123,10 125,30 31,70
156,40 154,50 29,20
179,80 182,20 27,70
207,50 217,50 35,30
241,00 253,30 35,80
266,40 279,70 26,40
288,80 299,80 20,10
313,20 333,60 33,80

339,10 375,00 360,66 27,06


379,50 407,80 392,14 31,48
407,20 443,10 426,03 33,88
433,00 480,40 461,83 35,80
471,90 516,00 496,00 34,17
497,80 544,80 523,65 27,65
527,70 579,90 557,34 33,69
551,10 605,30 581,72 24,38
577,00 632,00 607,35 25,63
612,60 674,40 648,05 40,70

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