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31/08/2023, 13:19 Os sorteios e a necessidade de autorização prévia

NO AR: Migalhas nº 5.677

MIGALHAS DE PESO
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Os sorteios e a necessidade de autorização


prévia
Nathália de Assis Siqueira e Rafael Sasse Lobato

Uma avaliação jurídica sobre o regramento aplicado às as promoções comerciais.


quinta-feira, 17 de dezembro de 2020
Atualizado às 08:37

(Imagem: Arte Migalhas)

Hoje em dia é muito comum a realização de sorteios, com a entrega de prêmios,


principalmente por meio das redes sociais, como forma de atrair o público para
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determinada página ou programa.


Todavia, há que se verificar a regulamentação das promoções comerciais, para que se
possa constatar se há ou não necessidade de autorização pelo Poder Público.
A principal norma sobre promoção comercial é a lei 5.768, de 20 de dezembro de 1971,
que estabeleceu o marco legal sobre a distribuição gratuita de prêmios.
De acordo com o art. 1º da lei 5.768/71, "a distribuição gratuita de prêmios a título de
propaganda quando efetuada mediante sorteio, vale-brinde, concurso ou operação
assemelhada, dependerá de prévia autorização do Ministério da Fazenda, nos têrmos
desta lei e de seu regulamento".
Por outro lado, de acordo com o art. 3º da referida norma, independe de autorização: (I)
"a distribuição gratuita de prêmios mediante sorteio realizado diretamente por pessoa
jurídica de direito público, nos limites de sua jurisdição, como meio auxiliar de
fiscalização ou arrecadação de tributos de sua competência" e (II) "a distribuição
gratuita de prêmios em razão do resultado de concurso exclusivamente cultural
artístico, desportivo ou recreativo, não subordinado a qualquer modalidade de álea
ou pagamento pelos concorrentes, nem vinculação dêstes ou dos contemplados à
aquisição ou uso de qualquer bem, direito ou serviço".
A lei 5.768/71 foi regulamentada pelo decreto 70.951, de 9 de agosto de 1972 e
posteriormente alterada pela lei 14.027, de 20 de julho de 2020, que estabeleceu regras
acerca das promoções comerciais realizadas por concessionárias ou permissionárias
de serviço de radiodifusão ou por organizações da sociedade civil.
Em 2013, a partir da portaria 422/13 do Ministério da Fazenda (atual Ministério da
Economia), foram descritas as hipóteses cuja verificação afasta o caráter
exclusivamente artístico, cultural, desportivo ou recreativo de concursos destinados à
distribuição gratuita de prêmios a que se referem a lei 5.768/71 e o decreto 70.951/72.
Por fim, a lei 13.756, de 12 de dezembro de 2018 dispôs sobre a competência da
autorização e fiscalização na distribuição gratuita de prêmios regidas pela lei 5.768/71.
Em suma, temos duas situações mais relevantes: os sorteios propriamente ditos, e os
concursos culturais com entrega gratuita de prêmios, sendo essa a principal
circunstância para se verificar a necessidade (ou não) de prévia autorização
governamental.
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1. Modalidades que necessitam de autorização prévia
Dispõe o art. 1º da lei 5.768/71 que "a distribuição gratuita de prêmios a título de
propaganda quando efetuada mediante sorteio, vale-brinde, concurso ou operação
assemelhada, dependerá de prévia autorização do Ministério da Fazenda [...]".

Dessa forma, esclarece a Secretaria Especial da Fazenda - Ministério da Economia1 que


a distribuição gratuita de prêmios ou promoção comercial são estratégias que visam
"alavancar a venda de produtos ou serviços, e/ou a promoção de marcas ou imagens,
dentre outros".

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Ainda consoante esclarecimentos da Secretaria Especial da Fazenda, a promoção


comercial pode ser realizada por:
Sorteio: "a distribuição gratuita de prêmios, na qual são distribuídos elementos
sorteáveis (cupons), numerados em séries, que tem os contemplados definidos
com base nos resultados da extração da Loteria Federal ou com a combinação
de números desses resultados";
Vale-brinde: distribuição gratuita de prêmios em que os vales são inseridos nos
produtos de fabricação da empresa, ou ainda, quando nos produtos há
elementos caracterizadores de vale-brinde, que quando identificados, podem ser
trocados por prêmios nos postos de troca; e
Concursos: Modalidade de promoção comercial realizada por meio de "concurso
de previsões, cálculos, testes de inteligência, seleção de predicados ou
competição de qualquer natureza".
Assim, nos termos do art. 1º da lei 5.768/71, quaisquer modalidades inseridas nas
hipóteses elencadas acima, para ocorrerem, devem ser previamente autorizadas.
Em outras palavras, qualquer sorteio, vale-brinde ou concurso de promoção comercial
(com distribuição de prêmios) devem ser previamente autorizados.
2. Modalidades dispensadas de autorização prévia
Por outro lado, conforme o art. 3º da lei 5.768/71, não se aplica o disposto no artigo 1º
da mesma lei, e por conseguinte, é dispensada a autorização, apenas na: I - distribuição
gratuita de prêmios mediante sorteio realizado diretamente por pessoa jurídica de direito
público, nos limites de sua jurisdição, como meio auxiliar de fiscalização ou
arrecadação de tributos de sua competência; e II - distribuição gratuita de prêmios em
razão do resultado de concurso exclusivamente cultural artístico, desportivo ou
recreativo, não subordinado a qualquer modalidade de álea ou pagamento pelos
concorrentes, nem vinculação dêstes ou dos contemplados à aquisição ou uso de
qualquer bem, direito ou serviço. - g.n.
Logo, no que se refere ao meio privado, dispensa-se a autorização prévia apenas nos
concursos exclusivamente culturais, artísticos, desportivos ou recreativos, que não
envolvam qualquer modalidade de álea/sorte ou pagamento pelos concorrentes, nem
vinculação destes ou dos contemplados, à aquisição ou uso de qualquer bem, direito
ou serviço.
Adicionalmente, o art. 2º da portaria 422/13, estabelece que não se caracteriza como
exclusivamente artístico, cultural, desportivo ou recreativo, o concurso em que haja
pelo menos um, dos seguintes elementos:
1. Divulgação do concurso (com ressalva da mera identificação da promotora do
concurso). O disposto se aplica igualmente à propaganda de produtos e serviços
de terceiros;
2. Promoção da imagem da empresa na participação do concurso, a partir da
exigência de inserção da "marca, nome, produto, serviço, atividade ou outro

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elemento de identificação da empresa promotora, ou de terceiros no material a ser


produzido pelo participante ou na mecânica do concurso"
3. Presença de alguma modalidade de álea ou pagamento pelos concorrentes em
quaisquer etapas do concurso;
4. Vinculação à aquisição ou uso de algum bem, direito ou serviço;
5. Exposição a produtos, serviços ou marcas da empresa ou de terceiros, em
qualquer meio;
6. Adivinhação;
7. Divulgação em embalagens de produtos;
8. Necessidade de cadastro, resposta a pesquisas e/ou anuência de recebimento
de material publicitário;
9. Premiação que envolve produto ou serviço da empresa;
10. Realizado em redes sociais, sendo limitada a sua divulgação apenas em referido
meio;
11. Realizado em meio televisivo, mediante participação onerosa;
12. Vinculação a eventos e datas comemorativas, tais quais, Dia das Mães, Natal,
aniversário de Estado, e demais hipóteses similares;
13. Realizado através de ligações telefônicas ou SMS, promovido por operadora de
telefonia móvel;
14. Dependente à adimplência de produtos ou serviços ofertados pela empresa ou
terceiros; e
15. Exclusivas para clientes da promotora ou de terceiros.
Nesse sentido é art. 3º da portaria 422/13 ao dispor que, uma vez que se configure uma
ou mais das situações previstas no art. 2º, o concurso é descaracterizado como
exclusivamente artístico, cultural, desportivo ou recreativo, e consequentemente, a sua
realização deve ser previamente autorizada.
Ou seja, havendo pelo menos um dos itens acima, em especial a presença de algum
elemento de álea (sorte) ou a promoção da imagem da empresa, há a necessidade de
autorização prévia.
Referida determinação é adotada pacificamente pela jurisprudência, valendo citar (I)
Apelação 0016287-19.2004.4.01.3400, do TRF 1, rel. des. federal Selene Maria de
Almeida; (II) Apelação Cível 0007203-58.2011.4.02.5101, do TRF 2, rel. des. federal Aluisio
Mendes e (III) Apelação 0015686-31.2009.4.03.6100, do TRF 3, rel. des. federal Nery da
Costa Júnior.
Dessa forma, conclui-se que há necessidade de autorização prévia para a realização
de ações promocionais quando, por exemplo, mesmo em se tratando de concurso
cultural ou artístico, haja a vinculação à marca ou produto da empresa.
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De outro lado, os concursos exclusivamente culturais, artísticos, desportivos ou


recreativos não precisam de autorização, salvo se, como visto, apresentarem algumas
das hipóteses do art. 2º da portaria 422/13.
3. Do responsável pela autorização
Com a promulgação da lei 13.756/18, as autorizações e a fiscalização das atividades
referentes à distribuição gratuita de prêmios são de competência da Secretaria de
Avaliação, Planejamento, Energia e Loteria - SECAP, vinculada ao Ministério da
Economia.

Conforme orientação da Secretaria Especial da Fazenda2, a Coordenação-Geral de


Regulação Promoção Comercial - COGPC/SECAP/ME é a área responsável pela
análise dos processos da SECAP, devendo ser encaminhada a solicitação de
autorização ao Sistema de Controle de Promoção Comercial (SCPC), através de seu
sítio eletrônico3.
Portanto, os órgãos responsáveis pela concessão da autorização para a realização da
distribuição de prêmios gratuitas são:

Esquema 2 - Estrutura organizacional dos responsáveis pela emissão de


autorizações
4. Penalidades previstas na lei 5.768/71
Conforme o art. 12, da lei 5.768/71, aqueles que realizarem as distribuições gratuitas de
prêmios previstas pelo art. 1º sem a devida autorização, são passíveis a penalidades.
São elas: (I) multa de até cem por cento da soma dos valores dos bens prometidos
como prêmios; e (II) proibição de realizar tais promoções comerciais por até dois anos.
Portanto, recomenda-se atenção às determinações legais para fins de verificação da
necessidade de autorização prévia para a distribuição gratuita de prêmios, haja vista o
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risco de pagamento de multa e eventual proibição na realização de ações


promocionais.
5. Conclusão
Diante do exposto, podemos concluir que a distribuição gratuita de prêmios a título de
propaganda quando efetuada mediante sorteio, vale-brinde, concurso ou operação
assemelhada, dependerá, obrigatoriamente, de prévia autorização da SECAP.
Da mesma forma, os sorteios culturais ou artísticos em que haja vinculação à marca ou
produto da empresa também exigem autorização prévia, sob pena das sanções do art.
12 da lei 5.768/71 (multa e proibição de realizar promoções comerciais por até dois
anos).
Nesse sentido, para que a autorização da SECAP seja dispensável, a ação promocional
deve ser feita através de concursos exclusivamente culturais, artísticos, desportivos ou
recreativos, cuja mecânica não envolva alguma das hipóteses dispostas no art. 2º da
portaria 422/13, por exemplo, sem qualquer elemento de sorte e sem vinculação direta
da marca ou produto, sendo possível apenas a mera identificação da promotora do
concurso, sem caráter promocional.
______
1 Secretaria Especial da Fazenda, Ministério da Economia. Promoções comerciais - Perguntas frequentes.
Disponível clicando aqui. Acesso em 20 de ago. 2020.

2 Secretaria Especial da Fazenda, Ministério da Economia. Promoções comerciais - Perguntas frequentes.


Disponível clicando aqui. Acesso em 20 de ago. 2020.

3 Secretaria de Acompanhamento Fiscal, Energia e Loteria - SEFEL. Sistema de Controle de Promoção


Comercial - SCPC. Disponível clicando aqui . Acesso em 20 de ago. de 2020.

Nathália de Assis Siqueira


Administradora de empresas e colaboradora do Petrarca
Advogados.

Petrarca Advogados

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Rafael Sasse Lobato


Advogado colaborador do escritório Petrarca Advogados.

Petrarca Advogados

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