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Anotações de Limites da Democracia, de Marcos Nobre

A eleição de Bolsonaro não se explica pela linha causal clássica de Julho de 2013, crise,
impeachment e prisão de Lula, mas foi resultado da recusa da política oficial de se
reformar, da falta de meios de canalização da energia popular para caminhos que não
fossem a resposta institucional viável (Lava Jato) e da incapacidade da direita
tradicional de reformar a institucionalização (p. 20)

Em todo o mundo, a resistência do sistema político à reformulação que se prenuncia


como necessária desde 2011 tem se pautado pela estratégia nós vs. fascismo, como se
não houvesse alternativa (e a alternativa, na verdade, é a verdadeira arma contra a
extrema direita) (p. 34)

Nessa tática, o sistema político se apresenta como fundido ao Estado, e, assim, faz com
que a rejeição da população mine a legitimidade da ação estatal (p. 35)

Partido cartel (Katz e Mair): dividem recursos e fixam regras que limitam a competição
e eliminam concorrentes; o pemedebismo como cartel agravou a dificuldade em formar
quadros de oposição fora da coalizão (no presidencialismo de coalizão, a oposição é
sempre interna). Desse modo, sem uma oposição externa real, situação e oposição são
vistos como "sistema"; a polarização passa a se dar entre sistema e antissistema (pp. 69-
70)

Bernard Manin: o "governo representativo" é um gênero maleável criado no século


XVIII e que vem passando por vários estágios - da "democracia dos partidos", passou à
"democracia do público" na década de 60, com a substituição de lealdade a um partido
pela lealdade a uma figura, um líder. A democracia de público seria o estágio atual (e
em crise), mas sua derrocada não seria a derrocada da democracia, apenas de uma de
suas formas

Paolo Gerbaudo: os partidos digitais (que não se confundem com plataformas digitais,
de cunho institucionalizante/ado) são por excelência partidos de outsiders; sua
disseminação está relacionada à crise de 2008 e às dificuldades que segmentos sociais
(millennials, principalmente) passaram a sofrer em razão do encolimento do bem-estar
(p. 116)
. Hiperlíder: figura destinatária da "transmissão de confiança" do eleitor, concentra
poderes em função da desconfiança face a intermediários (estrutura partidária,
oligarquias etc)

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