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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE - UFCG

CENTRO DE HUMANIDADES - CH / UAHIS


PROF. SEVERINO CABRAL FILHO
DISCIPLINA: ESTUDOS DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA 3
ALUNO (A): ADRIAN MARCELO PEREIRA DA SILVA
RESENHA

LEVITSKY, Steven e ZIBLATT. Daniel. Trump contra as grades de proteção. In: ______.
Como as democracias morrem. Tradução Renato Aguiar. Ed. Zahar, Rio de Janeiro, 2020,
p. 196-225.
A democracia, que hoje é interpretada quase como uma força sobrenatural, é
constantemente atacada ou defendida veementemente por seus críticos e os seus partidários.
No entanto, é difícil entender o alcance dessas ações, uma vez que buscar um ponto central de
poder seria mais prejudicial do que serviria para esclarecer os conflitos políticos e sociais que
afetam o sistema democrático global. Restringindo a sua análise aos “algozes” da democracia,
Levitsky e Ziblatt colocam no centro das atenções a ideia de que a destruição das democracias
começa a partir de suas entranhas.

A obra Como as democracias morrem foi publicada em 2018 e é uma referência para
compreender as dificuldades da democracia mundial, apesar de os seus questionamentos
serem direcionados ao ex-presidente Donald Trump, cujo governo iniciou-se em 2017 e
terminou após sua derrota nas eleições para o democrata Joe Biden em 2020. Os Estados
Unidos e a administração Trump mostraram-se como o resultado de uma combinação
destrutiva: não há apoio político em uma figura que atende apenas aos próprios interesses
individuais.

Assim, aquele que se configura como um outsider político, ou seja, que não possuía
experiência no espectro político e sua ascensão ocorre de maneira intrigante e desafiadora
para os analistas políticos. Donald Trump, a exemplo de outros líderes de nações, reivindicou
a pose autoritária como regente de sua política de governo; os autores como semelhantes o
presidente da Rússia, Vladimir Putin; Tayyip Erdoğan, da Turquia; Hugo Chávez e Nicolás
Maduro, da Venezuela. Acrescentando a esta lista outra figura proeminente, o ex-presidente
do Brasil, Jair Messias Bolsonaro.

O capítulo que será o foco desta análise é intitulado Trump contra as grades de
proteção e versa intimamente sobre os ataques, do então presidente norte-americano, às
prerrogativas democráticas. De ataques e confrontos diretos com o Poder Judiciário, da tática
de censurar ou de expor negativamente os críticos ao governo e de moldar as regras eleitorais
e jurídicas para favorecer os seus interesses. O mal, o algoz da democracia, surgiu sendo
eleito democraticamente; e através dela suas estruturas foram gradualmente consumidas.

Um dos destaques do texto resguardam a poderosa arma que, tanto pode ser negativa
ou positiva, que líderes autoritários como Trump e Bolsonaro, utilizam para manipular a
percepção pública a seu respeito: a mídia. Na era da informação, ter o controle sobre aquilo
que é ou não veiculado é de essencial importância para a vitalidade da carreira política; deste
modo, cercear os críticos e aviltar ao sucesso os veículos amigáveis é estratégia de guerra.
Uma guerra contra os meios de comunicação. E é danoso, do ponto de vista democrático, uma
vez que torna inviável o acesso à cultura do conhecimento à população.

Se, de um lado, a mídia age como fomentadores da crítica às ações fraudulentas ou


corruptas; pode também erigir uma imagem positiva dos líderes autoritários. Vistos como
heróis, portadores da verdade ou até mesmo como gladiadores contra o “marxismo cultural”, a
“ideologia de gênero”, o “comunismo”, entre outros. A disfunção das bases democráticas é a
tônica de governos que se assemelham ao descrito pelos autores em seu texto.

Outrossim, a disfunção destas bases nem sempre é veiculada por instrumentos legais,
mas a partir de costumes menores ou hábitos há muito tempo consolidados. O normal se torna
anormal e o anormal é aceito como a “nova realidade”. Um ato que pode parecer simples, mas
não o é. Dissolver os costumes e os hábitos implicam em um novo rumo do pensamento social
e político; nos casos de governos autoritários, as ideias que ganham força são as que se
atrelam ao conservadorismo, ao neoliberalismo e totalitaristas.

Em suma, o capítulo traz uma breve excursão aos ataques variados e infames de
Trump ao sistema político norte-americano, confrontando aos ideais desde muito
consolidados na cultura política estadunidense e também mundial. O texto, apesar de sucinto,
provoca o leitor a olhar para fora da janela: para o seu próprio país, estado, cidade, bairro. O
autoritarismo está apenas em seus líderes ou figuras proeminentes, mas se insere no cotidiano
a partir da xenofobia, do machismo, da homofobia e da descrença acrítica em relação às
instituições democráticas e ao próprio funcionamento do sistema.

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