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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ

CAMPUS JACAREZINHO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO

MARIA ÂNGELA DE OLIVEIRA PERES

A CONCEPÇÃO FINALÍSTICA DA PÓLIS ARISTOTÉLICA


ESTUDO INTRODUTÓRIO

Jacarezinho - 2018
MARIA ÂNGELA DE OLIVEIRA PERES

A CONCEPÇÃO FINALÍSTICA DA PÓLIS ARISTOTÉLICA


ESTUDO INTRODUTÓRIO

Monografia apresentada ao Centro de Ciências


Humanas e da Educação da Universidade
Estadual do Norte do Paraná como trabalho de
conclusão de curso e requisito parcial à obtenção
do título de licenciatura em Filosofia.

Orientação: Prof. Dr. Alexander Gonçalves

Jacarezinho– 2018
MARIA ÂNGELA DE OLIVEIRA PERES

A CONCEPÇÃO FINALÍSTICA DA PÓLIS ARISTOTÉLICA


ESTUDO INTRODUTÓRIO

Monografia apresentada ao Centro de Ciências


Humanas e da Educação da Universidade
Estadual do Norte do Paraná como trabalho de
conclusão de curso e requisito parcial à obtenção
do título de licenciatura em Filosofia, com nota
final..., conferida pela Banca Examinadora
formada por:

________________________________________
Prof. Dr. Alexander Gonçalves
Campus Jacarezinho

________________________________________
Prof... ...............................................
Campus Jacarezinho

________________________________________
Prof. ...................................................
Campus Jacarezinho

Jacarezinho, ___de _______________de 2019.


Dedico este trabalho a meus maiores inspiradores:

Carlos e Maura: meus pais (in memoriam).

Isadora e Caio:meus filhos.


A meus mestres nesta jornada,

Agradeço por crerem e manterem a luz do caminho.


Não se trata de regressar pura e simplesmente a posições
de um passado irrepetível. Mas antes de re-ler a história
não apenas para compreender melhor o presente através
do passado mas igualmente retirar daí, eventualmente,
inspiração para construir os caminhos do presente.
(MARTINS, 1994, p.178)
RESUMO:
Este trabalho busca contribuir para a reflexão da premissa de que a finalidade do estado
democrático é representar os interesses de seus cidadãos - inferida de estudos que indicam que
a precarização das instituições democráticas se deve a percepção pelos cidadãos de que seus
prepostos políticos não os representam.Objetivando um estudo introdutório para esclarecer os
conceituais originais acerca do tema, se utiliza do método histórico para estudá-lo na
concepção aristotélica da finalidade estatal; e, para compreensão de seus fundamentos, se
estrutura conforme o critério utilizado por Aristóteles na Política para analisar: 1) A
finalidade política-natural da Pólis ,sua evolução a partir das comunidades políticas primitivas
fundamentadas no desejo pessoal de sobrevivência e autossuficiência, até o advento da Pólis,
a comunidade política perfeita, fundamentada no desejo pessoal de eudaimonia (bem-estar);
2) a finalidade política-formal da Pólis, especialmente enquanto: politeuma (corpo de
cidadãos); politeía (corpo de leis); polis eudaimon (bem-estar social); e 3) a finalidade
política-moral da pólis, sintetizada na responsabilidade de prover justiça e educação.O método
qualitativo orientou a seleção e o relato lógico do corpus em análise, constituído de tópicos
das obras Ética a Nicômaco e Política, pertinentes às finalidades selecionadas para estudo, e
comentários selecionados de pesquisa bibliográfica interdisciplinar.
Palavras-chave:Filosofia política; Estado; Finalidade; Aristóteles; Pólis.

ABSTRACT:
This paper seeks to contribute to the reflection of the premise that the purpose of the
democratic State is to represent the interests of its citizens-inferred from studies that
indicate the precariousness of democratic institutions is perceived by the citizens of that
their political representatives do not represent them. Aiming at an introductory study to
clarify the original concept about the theme, using the historical method to study it in
designing Aristotelian State purpose; and, for understanding of their fundamentals, is
structured according to the criteria used by Aristotle in politics to analyze: 1) the
political purpose-Polis, your natural evolution from primitive political communities
based on personal desire of survival and self-reliance, until the advent of Polis, the
perfect political community, based on the personal desire of eudaimonia (well-being); 2)
the formal policy purpose Polis, especially while: politeuma (citizen body); politeía (body
of laws); Polis eudaimon (social welfare); and 3) the political-moral purpose of the Polis,
synthesized in the responsibility of providing justice and education. The qualitative
method has guided the selection and the logical account of the corpus under analysis,
consisting of topics of the Nicomachean Ethics and political works, relevant to the
purposes selected for study, and selected bibliographical search comments
interdisciplinary.
Keywords: Political philosophy; State; Purpose; Aristotle; Polis.
SUMÁRIO

Introdução...............................................................................................................................09
1 - FINALIDADE NATURAL...............................................................................................12
1.1 Anterioridade ...................................................................................................................12
1.1.1 Zoon politikon.................................................................................................................13
1.1..1 O poder da natureza ......................................................................................................14
1.2 Sobrevivência ...................................................................................................................15
1.2.1Família .............................................................................................................................15
1.2.1.1 O poder do pai..............................................................................................................16
1.3 Autossuficiência ...............................................................................................................17
1.3.1 Povoado ..........................................................................................................................17
1.3.1.1 O poder do rei..............................................................................................................18
1.4 Eudaimonia ......................................................................................................................19
1.4.1Pólis .................................................................................................................................19
1.4.1.1O poder da lei................................................................................................................20
2 - FINALIDADE FORMAL.................................................................................................21
2.1 Politeía ..............................................................................................................................23
2.1.1 O melhor regime..............................................................................................................23
2.1.1.1 A cidadania...................................................................................................................24
2.2 Polites ................................................................................................................................24
2.2.1
2.3 Politeuma ..........................................................................................................................21
2.3.1 A pólis são seus cidadãos ...............................................................................................21
2.3.1.1 O bem comum ..............................................................................................................22
3 – FINALIDADE MORAL..................................................................................................25
3.1 Justiça ...............................................................................................................................25
3.1.1 Equidade..........................................................................................................................25
3.1.2 Sabedoria ........................................................................................................................27
3.1.2.1 Dianoética ...................................................................................................................27
3.2 Educação ..........................................................................................................................28
3.2.1 Ethos................................................................................................................................28
3.2.1.1 Hábito ..........................................................................................................................29
3.2.1 Philia................................................................................................................................30
3.2.1.1 Amizade cívica .............................................................................................................30
3.2.2 Mochteria .......................................................................................................................30
Considerações Finais .............................................................................................................30
Bibliografia .............................................................................................................................34
10

Introdução
1 Tema
A questão da finalidade do Estado encontra-se no cerne da reflexão sobre a crise
de legitimidade que fragiliza as instituições democráticas contemporâneas, pois advém da
anomia política causada pela perplexidade dos cidadãos frente ao que Castells (2018,
p.41/1696) denominou de “turbilhão de múltiplas crises”: impactos bio-climáticos, pobreza,
terrorismo, mídia orientada pelas mentiras da pós-verdade, polarização política, guerras, falta
de privacidade e cultura dominada pelo entretenimento hedonista.
Contudo, o principal alerta de Castells é no sentido de que a incapacidade da
sociedade de lidar com essas inúmeras crises decorre de “uma crise ainda mais profunda:
2 Problema
A finalidade do Estado é representar os interesses dos cidadãos?
3 Recorte
A concepção aristotélica da Pólis
4 Objetivos
4.1 Geral
Estudo introdutório sobre finalidade (a razão de ser) do Estado
4.2 Específico
Análise compreensiva de três de seus principais aspectos:
4.2.1 A finalidade natural do Estado
Sua origem (causa) natural
4.2.2 A finalidade política do Estado
Sua finalidade (razão) política
4.2.3 A finalidade moral do Estado
Seu fundamento (responsabilidade) moral.

2 Método
Analítico, fundamentado em comentadores do filósofo. Ou seja, buscar-se-á
compreender o entendimento aristotélico da Pólis a partir da análise de três aspectos três
principais requisitos elencados :
11

1 FINALIDADE NATURAL ................................................................................................12


1.1 Anterioridade ...................................................................................................................12
1.1.1 Zoon politikon.................................................................................................................13
1.1..1 O poder da natureza ......................................................................................................14
1.2 Sobrevivência ...................................................................................................................15
1.2.1Família .............................................................................................................................15
1.2.1.1 O poder do pai .............................................................................................................16
1.3 Autossuficiência ...............................................................................................................17
1.3.1 Povoado ..........................................................................................................................17
1.3.1.1 O poder do rei..............................................................................................................18
1.4 Eudaimonia ......................................................................................................................19
1.4.1Pólis .................................................................................................................................19
1.4.1.1 O poder da lei...............................................................................................................20
12

2 FINALIDADE POLÍTICA ................................................................................................21


2.1 Politeuma ..........................................................................................................................21
2.1.1 Liberdade e isonomia .....................................................................................................21
2.1.1.1 O bem comum ..............................................................................................................22
2.2 Politeía ..............................................................................................................................23
2.2.1 O melhor regime..............................................................................................................23
2.2.1.1 A cidadania...................................................................................................................24
13

3 FINALIDADE MORAL.....................................................................................................25
3.1 Virtude ..............................................................................................................................25
3.1.1 Ética ................................................................................................................................25
3.1.1.1 Justiça ..........................................................................................................................26
3.1.2 Dianoética .......................................................................................................................27
3.1.2.1 Sabedoria .....................................................................................................................27
3.2 Educação ..........................................................................................................................28
3.2.1 Philia ...............................................................................................................................28
3.2.1.1 Amizade cívica .............................................................................................................28
3.2.2 Mochteria ........................................................................................................................29
Considerações Finais .............................................................................................................30
Bibliografia .............................................................................................................................31
14
15

INTRODUÇÃO

Considerações finais:

Destarte, tendo o estudo demonstrado que a práxis da cidadania -participação


política - é essencial à legitimação do Estado, espera-se que o trabalho possa contribuir como
estímulo para estudossobre a amplitude do conceito da práxis da cidadania no Estado
Democrático.

Introdução
16

A decadência política e econômica da Grécia acarretou o depauperamento do


espírito e caráter helênicos, depois de Aristóteles; mas quando uma nova
raça, após um milênio de trevas bárbaras, teve outra vez lazeres e capacidade
para especulações filosóficas, foi o “Organon” dqa lógica traduzido por
Boécio (470-525 E.C.) que se converteu em molde para o
pensamentomedieval, em mãe legítima daquele filosofar escolástico que,
embora tornado estéril pelos dogmas constritores, ensinou e compleliu a
inteligência da jovem Europa a raciocinar e sutilizar idéias, edificou a
terminologia da ciência moderna e assentou as bases da maturidade de
espírito que ia expandir-se e derrocar o próprio sistema e os próprios
métodos que lhe deram origem e fortaleza.

1Tema/Recorte (Estado/Finalidade/Aristóteles/Pólis)

1.1 Tópico frasal (premissa maior)Todo homem é mortal

Inobstante a práxis da cidadania seja central nas reflexões acerca da crise de


fragilidade das instituições democráticas, o que se observa no palco da contemporâneidade é a
sua crescente precarização em razão da perplexidade ética dos indivíduos ante a dubieidade de
sua atuação simultânea como atores e espectadores da derrocadadoutrina do wellfare state
(estado de bem-estar social), onde o Estado, que é a palavra moderna com a qual designamos
a comunidade política, existe para garantir uma maior plenitude de vida a seus cidadãos.

1.2 Argumentos (premissas menores)Pedro é homem

Castells(2018, p.41:1696), esclarece essa crise ao colocar que ”Nossas vidas


titubeiam no turbilhão de múltiplas crises”: impactos bio-climáticos, pobreza, terrorismo,
mídia orientada pelas mentiras da pós-verdade, polarização política, guerras, falta de
privacidade e cultura dominada pelo entretenimento hedonista 1. E, principalmente, nos alerta
que a incapacidade da sociedade de lidar com elas decorre de “uma crise ainda mais profunda:
a ruptura da relação entre governantes e governados”, porque ela “deslegitima a representação
política e, portanto, nos deixa órfãos de um abrigo que nos proteja em nome do interesse
comum”; evidenciando a centralidade da legitimação política na problemática da cidadania.

Nessse sentido, de se salientar que também Moisésem estudo sobre o panorama


nacional, tanto apontou essa crise de representação política quanto, após estabelecer que a
desconfiança dos cidadãos nas instituições públicas se funda na percepção de que seus
prepostos políticos não estão representando seus interesses, concluiu que o mau desempenho
17

das instituições públicas influi negativamente “sobre a disposição dos cidadãos para participar
de processos políticos, como a escolha de governos” (2005; p.).

1.3 Conclusão (síntese)

Assim, de se concluir que a práxis da cidadania se interrelaciona ao desempenho


das instituições públicase, portanto, fonte de concretude/fortalecimento da democracia.

2 Problema

Não obstante, se o exercício da cidadania é essencial para a concretude da


democracia, quais os requisitos para o seu bom exercício?

Qual é a finalidade do Estado? (É finalidade do Estado representar seus


cidadãos?)

a. Encontrar o problema. Compreendidoo contexto em que estamos nos


movimentando, precisamos identificar o problema que pretendemos resolver, pois ele irá
indicar o caminho que nossa argumentação filosófica irá assumir. Nessesentido, e
ncontrar o problema é identificar a interrogação que irá nos levar a desenvolver o raciocínio
filosófico, ou seja, nos permitirá oferecer uma resposta seja a qualquer questão
levantada (não há resposta se não houver pergunta);

b. Observação. Paraidentificar o problema, é importante que observemos o


contexto em que este se desenvolve para darmo-nos conta dos elementos e das
relações que estão em jogo na análise a ser feita. Por e xemplo, umapergunta
epistemológica indica que a resposta passa por resolver alguma questão relacionada à
possibilidade do conhecimento, assim como uma questão prática e xigirá uma discussão no
âmbito das ações humanas; (BARBOSA & COSTA, 2015, p. 25)

3 Hipótese

A boa práxis da ciddania requer que Estado e Cidadão assumam, conjuntamente, a


responsabilidade pela excelência de seu exercício.

A finalidade do Estado é garantir (representar) os interesses de seus cidadãos.

3 Justificativa/Delimitação do tema
18

Afilosofia tem essa capacidade criadora, mas a atitude filosófica precisa,


antes de tudo, ser negativa. Negativano sentido de não se comprometer de antemão
com qualquer pré-conceito ou pré-juízo que se apresente a ele como um todo mundo
sabe que é assim que as coisas são. Énesse se ntido que Deleuze e Guattari falam que
os conceitos são c onstruídos a partir de uma interrogação sobre situação, objetos, fatos e
valores e que, por isso, os filósofos não podem se contentar e aceitar os conceitos que
lhes são dados se m questionamento.

Aatitude filosófica positiva se dá quando admitimos a necessidade de


conhecer mel hor o mundo como fez Sócrates ao afirmar “Sei que nada sei!”, pois
essa atitude desvela que os conceitos não surgem de forma miraculosa, mas da
desconfiança filosófica do que parece dado.Oresultado é admiração e espanto frente ao
mundo quando nos distanciamos do mesmo e, através de nossa habilidade de raciocínio,
percebemo-lo a partir de conceitos.

[...]

O fato é que filosofia não se resume a um incorporar conceitos e relegar a


um segundo plano qualquer outro tipo de atividade intelectual. Na verdade, a filosofia
exige essa condição transdisciplinar ao abarcar questões de biologia, direito, sociologia,
psicologia, economia, etc. Isso demonstra que sua utilidade é crítica em todos os
âmbitos do con hecimento, ou seja, é uma atividade inquietante que nos leva a
questionar e refletir sobre as d iferentes esferas da vida, é um desvelar o que está e ncoberto
pelas convenções e pelos costumes. Em suma, embora construa conceitos no seu
desenvolvimento, a filosofia permite o acesso ao mundo com um ol har c rítico de
quem não se conforma com a explicação rasteira oferecida de diferentes formas
(televisão, revistas, internet.). Ess es canais oferecem uma ampla variedade de
conhecimento sobre o mundo, porém cabe a nós compreendermos com clareza
suficiente o que está por trás de tudo que vemos e ouvimos.

De forma resumida, cabe ao filósofo não a sobreposição às outras ciências,


pois sua função fundamental é trazer uma análise rigorosa em termos conceituais.
Logo, as tradições transmitidas na so ciedade sob difere ntes formas (opiniões, crenças,
modos de agir) devem ser tomadas de modo crítico, o que nos obriga a uma
coerência de pensamento. Nesse sentido, a atitude filosófica tem seu propósito dado a
partir de três questões fundamentais: O que? (buscando o seu significado intrínseco);
19

Como? (quais são as relações ne cessárias para constituir tal ‘coisa’); e Por quê? (o
que justifica ou explica a sua existência). (BARBOSA & COSTA, 2015, p. 21-23)

O presente trabalho, no intuito de contribuir para com a reflexão sobre


a concretude do sistema democrático de governo, busca responder a essas duas questões a
partir de um estudo compreensivo da interrelação do desempenho das instituições
democráticas com o exercício da cidadania.

Não obstante, o conceito de cidadania carrega uma amplitude e complexidade


cujo fundamento pode ser ilustrado pelo seguinte diálogo da obra Alice através do espelho:

“Quando eu uso uma palavra”, disse Humpty Dumpty num tom bastante
desdenhoso, “ela significa exatamente o que eu quero que signifique: nem
mais, nem menos”. “A questão é”, disse Alice, “se pode fazer as palavras
significarem tantas coisas diferentes”. “A questão”, disse Humpty Dumpty, “é
saber quem vai mandar – só isto1”.

Pelo que, conforme nos esclarece Sorj2·,inobstante a cidadania refira-se sempre a


“uma forma particular de pertencer a uma comunidade e de acesso a uma série de direitos”,
ela pode ter significados diversos:

“[...] na tradição grega, o direito de participar ativamente na vida comum da


cidade; no mundo romano, o acesso a certos privilégios jurídicos e políticos;
na Idade Média, o governo autônomo das cidades; na tradição anglo-saxônica,
a igualdade diante da lei que protege a propriedade e a liberdade individual; ou
a soma desses componentes a valores substantivos de justiça social, tais como
apresentados nos ideários da revolução francesa ou russa.” (apud Spagnol,
2013, p. 104).

Característica que na contemporaneidade se verificaainda mais exacerbada em


razão

1
Apud MORETZSOHN, Sylvia, in: A cidadania através do espelho. Revista Sinais Sociais. Rio de Janeiro:
SESC, 2011, p.140. Cf.: ‘When I use a word,’ Humpty Dumpty said in rather a scornful tone, ‘it means just what
I choose it to mean – neither more nor less.’ ‘The question is,’ said Alice, ‘whether you can make words mean so
many different things.’ ‘The question is,’ said Humpty Dumpty, ‘which is to be master – that’s all. CARROL,
Lewis. Alice Através do espelho. Capítulo VI, p. 48/88. Disponível http://pdfreebooks.org/files/through-the-
looking-glass-book.pdf. Acesso em 01.09.2018.
2
SORJ, Bernardo. A nova sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.25).
20

Assim, evidenciada as razões para um recorte no tema, a opção metodológica de


limitar o estudo à concepção aristótelica de cidadania se justifica tanto pelo fato de que o seu
pensamento “desde a sua recepção no Ocidente latino, a partir do século XII [...] se manteve,
na maior parte das vezes, como uma referência obrigatória na reflexão filosófica sobre o
Estado e sobre o direito” (BODÉÜS, 2007, p. 7); quanto por, desde o século XX, estar se
revalorizando, seja pelas novas interpretações de suas obras por parte de Wener Jaeger e
William D. Ross, ou em razão de o seu estudo ser central à compreensão das propostas de
movimentos como o Neotomista, que busca resgatar o valor da objetividade contra o
relativismo, destacando o valor do realismo contrao idealismo e promover o valor do
personalism; e o Comunitarista, que se propõe a criticar o modelo liberal de democracia com
base em uma concepção de comunidade política de inspiração aristotélica.

Contudo, vez que a filosofia prática de Aristóteles se constitui de um sistema onde


a virtude do estado se conjuga à do cidadão para a consecução do supremo bem (eudaimonia),
onde, portanto, o estudo de sua Ètica (Ética a Nicômaco,

metodológicamente necessário um recorte para estudo do tema da cidadania, optou-se por


limitá-lo à concepção aristótelica de sua práxis.

A Grécia Antiga também foi berço da Democracia, ou o governo do povo, no qual pela
primeira vez os cidadãos podiam participar diretamente do espaço político, nas ágoras
(locais de reunião). Vale lembrar que a participação era válida apenas para homens gregos,
com mais de 21 anos de idade.

Principais pensadores da Filosofia Política

• Filosofia Política na Grécia

Um dos primeiros filósofos a pensar e metodizar uma ideia política foi o grego Platão (428-7
– 348-7 a.C). O filósofo teve como principal inspiração, o pensamento e ideias de Sócrates,
seu mestre, condenado à morte por ter um comportamento considerado subversivo para a
época.

Platão acrescentou sua própria contribuição ao pensamento socrático e criou obras como “A
República” e “As Leis”, a partir desses escritos surgiram diversas reflexões sobre questões do
homem e seu convívio em sociedade, o que gerou as primeiras discussões e avaliações
políticas.

Em “A República”, Platão traz propostas e ideias para uma sociedade mais justa e igualitária.
Para ele, cada um deveria exercer atividades as quais possui aptidões especiais, em que
fortes vão para guerra, artesãos trabalham com as mãos e assim por diante. Além disso,
21

a educação deveria ser voltada para que crianças e jovens encontrassem e desenvolvessem
essas habilidades no futuro.
Ainda na Grécia, Aristóteles (384 – 322 a.C.) passou a discordar do pensamento platônico.
Suas ideias iam de encontro a ideia de Platão de que o público deveria se sobressair ao que
é privado. Para Aristóteles, a sociedade sempre iria privilegiar seus bens pessoais. Para o
filósofo, compreender a realidade política da sua época era mais importante do que
idealizar uma sociedade ideal. Essas ideias foram reunidas na obra “Política”, em que ele
ressalta um dos conceitos mais importantes para a sociedade, de que o homem é um
“animal político” e faz parte da sua natureza se organizar politicamente.

• Contratos sociais

A ideia de homem como “animal político” perdurou até o século XVII, quando Thomas
Hobbes (1588 – 1679) levantou a hipótese de que a sociedade se organizava a partir de um
contrato social, em que cada indivíduo prezava pela sua própria conservação dentro do
convívio social, que implicava na perda de um pouco de liberdade. É neste instante, que
homens assinavam um contrato fictício de convívio em sociedade. Se voltassem ao seu
estado completamente livre, de natureza, o convívio em harmonia seria praticamente
impossível. Em sua obra “Leviatã”, Hobbes coloca o Estado como ceifador da liberdade
humana, usando seu poder para garantir a ordem social.
Já John Locke (1632 – 1704) pensava nesse contrato como leis naturais, que impediam os
indivíduos de viverem em guerra constante, antes da formação das sociedades. Para ele, a
formação das sociedades ocorreu apenas pela necessidade da garantia da propriedade
privada. Sua ideia de que o homem é livre e o Estado existe apenas para garantir o direito à
vida e o direito da propriedade ocasionou em um novo fundamento conhecido
como liberalismo político.
Ainda baseado na ideia de um contrato social, estava Jean-Jacques Rosseau (1712 – 17780,
que acreditava no compartilhamento de recursos entre sociedades sem qualquer
necessidade de guerras. Para o filósofo, a propriedade privada era a maior representação
da desigualdade e causadora das mazelas sociais, como pobreza, crime e violência.
Sua solução para melhorar essas sociedades é que os governos seguissem inteiramente os
desejos e anseios da maioria dos cidadãos.
No século XX, a noções de contratos sociais foram retomadas com Rawls (1921 – 2002), que
prezava pelos princípios da justiça escolhidos em função da sociedade. Esses princípios
seriam igualitários e designados pelos próprios indivíduos e que todos deveriam ter
liberdades e oportunidades igualitárias.
https://www.resumoescolar.com.br/filosofia/resumo-da-filosofia-politica/, em 1.11.2018

embora, no entendimento de a partir da primeira metade do século XX, com a

aristotélica, e segundo Kury (1985), para Aristóteles, as ciências práticas “buscam o


conhecimento como um meio para a ação [...]”. E [...] a ‘política’, isto é, a ciência do bem-
estar e da felicidade dos homens como um todo [...] é prática no sentido mais amplo da
22

palavra, pois estuda não somente o que é a felicidade (o assunto da Ética) mas também a
maneira de obtê-la (o assunto da Política); ao mesmo tempo ela é prática no sentido

Ademais, Atualmente, o pensamento aristotélico passa por um período de


renascimento e revalorização. O marco inicial dessa tendência data da primeira metade do
século XX, com a publicação de obras com novas interpretações sobre o estagirita, sobretudo
as de Werner Jaeger e William D. Ross.

4 RECORTE

Para Aristóteles, o homem é zoopolitikon, portanto realiza sua essência


participando da comunidade política.

Para o estagirista, a comunidade política (pólis/ Estado), existe para possibilitar a


vida plena.

5 HIPÓTESE/OBJETIVOS

Não basta morar em num território para pertencer automaticamente àquela


comunidade política.

O presente trabalho se fundamenta no entendimento de que o fortalecimento das


instituições democráticas se dá pelo exercício da boa práxis da cidadania, e objetiva
demonstrar que a boa práxis da cidadaniadepende da assunção pelo Estado e pelo Cidadão da
corresponsabilidade pelo bom exercício da práxis democrática. Assim, buscará esclarecer o
conceito de boa práxis da cidadania por meio de uma análise compreensiva dos três
principais requisitos para o exercício da cidadania democrática. Pelo que, no primeiro capítulo
se analisará o conceito de Estado enquanto território essencial para a práxis da cidadania;
objetivando demonstrar que a sua finalidade e responsabilidade é determinada pelo fato de ser
a família – o cidadão - a sua base generativa. No segundo capítulo, analisaremos a
circunstância de ser a Constituição - por instituidora da sociedade de famílias -, o fato gerador
do Estado e do Cidadão e, portanto, a fonte legitimadora e normativa de seus direitos, deveres
e ações. Por fim, a partir da compreensão dos requisitos objetivos da cidadania, no terceiro
capítulo abordaremos a questão da cidadania a partir da análise de seus requisitos subjetivos,
ou seja: da qualificação e responsabilidade do cidadão pela sua boa práxis.
23

5.1 Geral

Compreendera concepção aristótélica da pólis

5.2 Específicos

De outra parte, Henriques também nos alerta de que na abertura da Política


Aristóteles introduz categorias - natureza, finalidade, felicidade, bem, homem, cidade, ser
vivo – cuja análise requer uma perspectiva global de sua filosofia, segundo a qual "a natureza
de qualquer realidade, seja criatura viva, instrumento ou comunidade deve ser procurada em
um fundamento, apresentado como causa, princípio ou finalidade." (2006, p.15). Pelo que,
nos limites impostos por sua característica introdutória, serão estes elementos que nortearão
tanto a estrutura quanto as análises objeto deste estudo.

6 Metodologia/Estrutura do trabalho

Assim, se buscará apresentar um quadro formativo da pólis através de uma análise


compreensiva do entendimento aristotélico de seus aspectos fundantes, quais sejam:

6.1 Suaorigem;

No primeiro capítulo se estudará a origem da pólis por meio da análise das causas
fundantes apontadas por Aristóteles; bem como das principais características de sua evolução
a partir das comunidades políticas primitivas – que visavam a sobrevivência (casa) e
autossuficiência (povoado) – até a cidade completa (pólis), estágio final da comunidade
política, que visa o bem comum.

6.2 Sua finalidade;

No segundo capítulo, o estudo abarcará a análise dos fundamentos finalísticos que


Aristóteles atribuí à pólis; bem como das principais características de sua evolução a partir
das comunidades políticas primitivas – que visavam a sobrevivência (casa) e autossuficiência
(povoado) – até a cidade completa (pólis), estágio final da comunidade política, que visa o
bem comum.

da pólis, qual seja: a eudaimonia

6.3 Sua responsabilidade (princípios).


24

1 FINALIDADE NATURAL

Aristóteles inicia a Política3conceituando a cidade a partir de um raciocínio


lógico:
Sabemos que toda cidade é uma espécie de associação, e que toda associação se
forma tendo por alvo algum bem; [...] sobretudo a mais importante delas, pois que
visa um bem maior, envolvendo todas as demais: a cidade ou sociedade política.
(2009, Livro I, §1).
Ou seja, que a cidade é uma sociedade política que visa um bem maior.
Entendimento que Henriques nos esclarece ao colocar que para Aristóteles "cada cidade é

3
"A Política, mais que um tratado, é uma coleção de formulações (logói), destinadas a servir de base à
exposição oral. A crítica minuciosa – e em curso – estabeleceu indubitavelmente que os oito livros da Política
não resultaram de um impulso criativo único. [...] Nos trinta anos que decorem entre os primeiros e últimos
livros, o discurso reflete a tensão entre duas orientações, a um tempo divergentes e conciliantes, das
investigações de Aristóteles: as experiências da vida criativa racional, inculcadas pela Academia Platônica, e o
estudo da multiplicidade das manifestações do ser. Em política, tratava-se de confrontar o bem supremo com os
regimes da Cidade-Estado que estava a ser ultrapassada pela monarquia mundial [de Alexandre, o Grande]."
(HENRIQUES, 2006)
25

uma comunidade política (koinonia) estabelecida em ordem a um bem (aghatou) [...] maior
porque abrange comunidades menores e porque possui auto-suficiência que as comunidades
maiores [sic] não alcançam." (2006; p.14-15). Explanação que antecipa parte da análise que o
mestre estagirista, na sequência, passa a realizar dos elementos que compõe a cidade - as
comunidades menores – não apenas para provar que erram os que não fazem "a menor
distinção entre uma grande família política e uma pequena cidade."; mas principalmente para
saber (o objetivo da Política) "em que eles [os elementos da cidade] diferem, e se é possível
reunir êsses conhecimentos esparsos para formar uma arte [política]." (Pol., Livro I, § 2-3).
De outra parte, Henriques também nos alerta de que na abertura da Política
Aristóteles introduz categorias - natureza, finalidade, felicidade, bem, homem, cidade, ser
vivo – cuja análise requer uma perspectiva global de sua filosofia, segundo a qual "a natureza
de qualquer realidade, seja criatura viva, instrumento ou comunidade deve ser procurada em
um fundamento, apresentado como causa, princípio ou finalidade." (2006, p. 15);
circunstância que estabelecemos como fio estruturante para o estudo da concepção aristotélica
da pólis.

1.1 ANTERIORIDADE

1.1.1 Zoon Politikon

Aristóteles, ao falar da origem da cidade, fundamenta-se no que julga no que julga


ser a própria natureza do ser humano, ou seja, no fato deste, em razão do dom do logos 4, ser
um animal político (zoon politikon); pois coloca que

4
Logos (fala, discurso) é a lógica por trás de um argumento. Henry George Liddell, Robert Scott, An
Intermediate Greek-English Lexicon, λόγος, Disponível em 20.08.2018 in. www.perseus.tufts.edu. Cf.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Logos, acessado em 25.10.2018.
26

1.1.1.1 O poder da natureza

1.2 SOBREVIVÊNCIA

1.2.1 Família

1.2.1.1 O poder do pai

1.3 AUTOSSUFICIÊNCIA

1.3.1 Povoado

1.3.1.1 O poder do rei

1.4 EUDAIMONIA

1.4.1 Pólis

1.4.1.1 O poder da lei


27

2 FINALIDADE POLÍTICA

2.1 POLITEUMA

Politeía ou Politeuma era, originalmente, um termo usado na Grécia Antiga para


se referir às muitas cidades-estado (pólis) que possuíam uma assembléia de cidadãos como
parte de seu processo político. (www.wikipedia.or>wiki>Politeia, acessado em 29.10.18)

A insustentabilidade do modelo absolutista resultou na instauração de um novo


modelo de Estado, com novas exigências e que possuía como pressuposto não mais a sujeição
do súdito ao arbítrio ou interesses do monarca, e sim a sujeição do cidadão ao governo das
leis provenientes de uma assembléia da qual participavam (pelos menos indiretamente).
Assim, houve a consolidação das teorias liberais que vieram a informar o novo modelo de
Estado existente.(MORAIS JÚNIOR, 2007, p. 121)

2.1.1 Liberdade e isonomia

A vida ativa da cidade helênica de homens livres é, pois, o modelo definitivo de


existência humana em sociedade. (HENRIQUES, 2006, p. 22)

2.1.1.1 O bem comum

2.2 POLITEÍA

Conforme Comparato:

A politéia, na Grécia clássica, designava primariamente tanto a esfera da vida privada,


quanto avida pública dos cidadãos. Secundariamente, ela era a organização das
diferentes magistraturas no sentido antigo, isto é, dos agentes públicos aos quais o
povo devia obediência. O fundamento dessa organização constitutiva da pólis era a
autoridade da tradição e das leis fundadoras. (s.d., p. 01)

A insustentabilidade do modelo absolutista resultou na instauração de um novo


modelo de Estado, com novas exigências e que possuía como pressuposto não mais a sujeição
do súdito ao arbítrio ou interesses do monarca, e sim a sujeição do cidadão ao governo das
leis provenientes de uma assembléia da qual participavam (pelos menos indiretamente).
Assim, houve a consolidação das teorias liberais que vieram a informar o novo modelo de
Estado existente.
28

A consolidação desse novo modelo e seus pressupostos impunha que o Estado


possuísse uma ordem normativa em função da qual o próprio poder político estaria limitado,
ou seja, exigiu-se que a política fosse o exercício de uma ação normatizada, o que resultou na
elaboração da idéia do Estado de direito. Nesse sentido, Bonavides (2004, p. 41) evidencia
que

Foi assim – da oposição histórica e secular, na Idade Moderna, entre a


liberdade do indivíduo e o absolutismo do monarca – que nasceu a
primeira noção de Estado de Direito, mediante um ciclo de evolução
histórica e decantação conceitual [...] A pugna decide-se no
movimento de 1789, quando o direito natural da burguesia
revolucionária investe no poder o terceiro estado. (MORAIS JÚNIOR,
2007, p. 121))

Essa manifestação do Estado de direito era desenhada sobre uma concepção


eminentemente liberal4Streck e Morais (2001, p. 50) afirmam que: “Pensamos poder situar o liberalismo como uma doutrina que foi-se forjando
nas marchas contra o absolutismo onde se situa o crescimento do individualismo que se formula desde os embates pela liberdade de consciência (religiosa).

Todavia, isso avança nas doutrinas dos direitos e do constitucionalismo, este como garantia(s) contra o poder arbitrário, da mesma forma que contra o exercício

arbitrário do poder legal”.


, que exigia o condicionamento da força do Estado à liberdade docidadão
apoiada no princípio da legalidade e, dessa forma, subordinando as funções do Estado às
decisões de uma assembléia legislativa da qual participavam os cidadãos5 Marinoni (2005) destaca que “O
Estado Liberal de Direito, diante da necessidade de condicionar a força do Estado à liberdade da sociedade, erigiu o princípio da legalidade como fundamento para

a sua imposição. Esse princípio elevou a lei a um ato supremo com a finalidade de eliminar as tradições jurídicas do Absolutismo e do Ancien Regime. A

administração e os juízes, em face desse princípio, ficariam impedidos de invocar qualquer direito ou razão pública que se chocasse com a lei”.
.

A primazia da lei servira para a submissão ao direito do poder político


‘sob um duplo ponto de vista’: (1) os cidadãos têm a garantia de que a
lei só pode ser editada pelo órgão legislativo, isto é, órgão
representativo da vontade geral (cfr. Déclaration de 1789, artigo 6º);
(2) em virtude de sua dignidade – obra dos representantes da Nação –
a lei constitui a fonte de direito hierarquicamente superior (a seguir às
leis constitucionais) e, por isso, todas as medidas adotadas pelo poder
executivo a fim de lhe dar execução deviam estar em conformidade
com ela (princípio da legalidade da administração) (grifo do autor).
(MORAIS JÚNIOR, 2007,P. 121-122)
29

2.2.1 O melhor regime

2.2.1.1 A cidadania

1.2.1.1.1 Liberdade e igualdade

Apesar da idéia de igualdade ser antiga e complexa, somente a partir da


Declaração da Independência dos Estados Unidos, em 1776, ela passou a se expressar como
um ideal político, ou seja, como critério para instituir justiça. (BARBOSA M. C., 2007, p.18-
19). Com a exigência de uma autoridade que respeitasse principalmente a liberdade dos
cidadãos e que impedisse a concessão de privilégios3 , tais como eram concedidos à nobreza,
veio à tona a Revolução Francesa em 1789.(MORAIS JÚNIOR, 2007, p. 121))

A insustentabilidade do modelo absolutista resultou na instauração de um novo


modelo de Estado, com novas exigências e que possuía como pressuposto não mais a sujeição
do súdito ao arbítrio ou interesses do monarca, e sim a sujeição do cidadão ao governo das
leis provenientes de uma assembléia da qual participavam (pelos menos indiretamente).
Assim, houve a consolidação das teorias liberais que vieram a informar o novo modelo de
Estado existente. (IDEM,IBIDEM)

O Estado democrático de direito modifica o conteúdo do princípio da legalidade, se


comparado com aquele que regia o Estado de direito clássico. Neste, a lei estabeleceria a
igualdade por ter como característica a generalidade, pois sendo geral seria regra para todos.
A generalidade das leis e o abstencionismo do Estado, características do Estado liberal de
direito, resultaram em desigualdades materiais, tal como foi dito na caracterização do Estado
social de direito, havendo a necessidade de que as leis realizassem efetivas intervenções a fim
de que fosse alterada a situação concreta da sociedade.(MORAIS JÚNIOR, 2007, p.128)

Peña Freire observa

que A lei, como norma geral e abstrata, pressuporia uma sociedade


homogênea de homens livres e iguais. Só neste contexto era possível a
regulação integral da vida jurídica com umas poucas normas,
preferentemente codificadas, muito gerais e que, também, por sua abstração
se lhes suporia vocação de permanência quando não pretensão de
30

inamovibilidade temporal8 “La ley como norma general y abstracta pressuponia una sociedad homogénea de
hombres libres e iguales. Sólo en este contexto social era posible la regulación integral de la vida jurídica con unas pocas normas
,.
(tradução livre)(MORAIS JÚNIOR, 2007, p.128)

No Estado democrático de direito, a lei deve buscar a alteração de situações


concretas com vistas à igualdade. Assim, a lei veio a ter, sobretudo, a função de concretização
dos valores socialmente estabelecidos nas constituições e, assim sendo, a de implementar
reais modificações. Nesse sentido, Silva (2003, p. 121-122) destaca que

a lei não deve ficar numa esfera puramente normativa, não pode ser apenas
lei de arbitragem, pois precisa influir na realidade social. E se a Constituição
se abre para transformações políticas, econômicas e sociais que a sociedade
brasileira requer, a lei se elevará de importância, na medida em que, sendo
fundamental expressão do direito positivo, caracteriza-se como
desdobramento necessário do conteúdo da Constituição e aí exerce função
transformadora da sociedade, impondo mudanças sociais democráticas,
ainda que possa continuar a desempenhar uma função conservadora,
garantindo a sobrevivência de valores socialmente aceitos.(MORAIS
JÚNIOR, 2007,p.129)

1.2.2.2 O regime democrático

A mudança que ocorrera na concepção do Estado liberal de direito não se


restringiu apenas ao papel a ser desempenhado pelo Estado, que com a agregação do elemento
social passou a realizar algumas prestações, mas também promoveu a busca de ampliação da
participação do povo na coisa pública e, por conseguinte, na reconceitualização do principal
mecanismo de atuação do Estado, ou seja, a lei (STRECK; MORAIS, 2001, p. 92). Esta
passou a possuir a função ideal de transformação da realidade, dada a abertura que a
democracia contemporânea apresenta para a ampliação dos direitos já existentes, bem como
para a criação de novos direitos.(MORAIS JÚNIOR, 2007,p. 127)

O aspecto democrático leva em consideração a abertura do campo social para a


ampliação de direitos. Chauí aponta dois traços próprios que distinguem a democracia de
todas as formas sociais e políticas:

1. A democracia é a única sociedade e o único regime político que


considera o conflito legítimo. Não só trabalha politicamente os
31

conflitos de necessidades e de interesses (disputas entre os partidos


políticos e eleições de governantes pertencentes a partidos opostos),
mas procura instituí-los como direitos e, como tais, exige que sejam
reconhecidos e respeitados. Mais do que isso. Na sociedade
democrática, indivíduos e grupos organizam-se em associações,
movimentos sociais e populares, classes se organizam em sindicatos e
partidos, criando um contra-poder social que, direta ou indiretamente,
limita o poder do Estado; 2. a democracia é a sociedade
verdadeiramente histórica, isto é aberta ao tempo, ao possível, ás
transformações e ao novo. Com efeito, pela criação de novos direitos e
pela existência dos contra-poderes sociais, a sociedade democrática
não está fixada numa forma para sempre determinada, ou seja, não
cessa de trabalhar suas divisões e diferenças internas, de orientar-se
pela possibilidade objetiva (a liberdade) e de alterar-se pela própria
praxis. (CHAUI, 1997, p. 433, grifos do autor). (MORAIS JÚNIOR,
2007,p 127)

Ao se buscar o ideal democrático, a legitimação democrática do poder deu-se pela


implementação do princípio da soberania popular, segundo o qual se permitiria a igual
participação na formação da vontade do Estado. E, por assim ser, isso implicou a busca da
participação do povo na coisa pública, ou seja, a busca da instauração de um processo de
efetiva incorporação de todo o povo no controle das decisões.(MORAIS JÚNIOR, 2007,p.
127)

Dessa forma, tal como José Afonso da Silva (2003, p. 122) descreve, o Estado
democrático de direito funda-se nos seguintes princípios:

(a) princípio da constitucionalidade, que exprime, em primeiro lugar,


que o Estado Democrático de Direito se funda na legitimidade de uma
constituição rígida, emanada da vontade popular, que, dotada de
supremacia, vincule todos os poderes e os atos deles provenientes,
com as garantias de atuação livre de regras da jurisdição
constitucional;

(b) princípio democrático, que, nos termos da Constituição, há de


constituir uma democracia representativa e participativa, pluralista, e
32

que seja a garantia geral de vigência e eficácia dos direitos


fundamentais (art. 1);

(c) sistema de direitos fundamentais, que compreendem os


individuais, coletivos, sociais e culturais (títulos II, VII e VIII);

(d) princípio da justiça social, referido no art. 170, caput, e no art.


193, como princípio da ordem econômica e da ordem social; [...] a
Constituição não prometeu a transição para o socialismo mediante a
realização da democracia econômica, social e cultural e o
aprofundamento da democracia participativa, como o faz a
Constituição portuguesa, mas com certeza ela se abre também,
timidamente, para a realização da democracia social e cultural, sem
avançar significativamente rumo à democracia econômica;

(e) princípio da igualdade (art. 5, caput, e I);

(f) princípio da divisão dos poderes (art. 2) e da independência do juiz


(art. 95);

(g) princípio da legalidade (art. 5, II);

(h) princípio da segurança jurídica (art. 5, XXXVI a LXXIII).


(MORAIS JÚNIOR, 2007, p.128)

No Estado democrático de direito, a lei deve buscar a alteração de situações


concretas com vistas à igualdade. Assim, a lei veio a ter, sobretudo, a função de concretização
dos valores socialmente estabelecidos nas constituições e, assim sendo, a de implementar
reais modificações. Nesse sentido, Silva (2003, p. 121-122) destaca que

a lei não deve ficar numa esfera puramente normativa, não pode ser
apenas lei de arbitragem, pois precisa influir na realidade social. E se a
Constituição se abre para transformações políticas, econômicas e
sociais que a sociedade brasileira requer, a lei se elevará de
importância, na medida em que, sendo fundamental expressão do
direito positivo, caracteriza-se como desdobramento necessário do
conteúdo da Constituição e aí exerce função transformadora da
sociedade, impondo mudanças sociais democráticas, ainda que possa
33

continuar a desempenhar uma função conservadora, garantindo a


sobrevivência de valores socialmente aceitos.

Dentro deste contexto, também se apresenta o Estado constitucional de direito


que, para além do Estado de direito clássico, é caracterizado por possuir três fatores
relevantes:

a) a supremacia da constituição, e, dentro desta, dos direitos fundamentais, sejam


de natureza liberal ou social;

b) a consagração do princípio da legalidade como subsunção efetiva de todos os


poderes públicos ao direito; e

c) a ‘funcionalização’ de todos os poderes do Estado para garantir o desfrute dos


direitos de caráter liberal e a efetividade dos direitos sociais (FREIRE, 1997, p. 37).(MORAIS
JÚNIOR, 2007,p. 129)

2 FINALIDADE

2.1 Sobrevivência

2.1.1 Casa

2.1.1.1 O poder do pai

2.2 Autossuficiência

2.1.2 Povoado

2.1.2.1 O poder do rei

A construção do Estado moderno, a partir de fins da idade média, apresentou-se


primeiramente como um modelo de tipo absolutista, em que a centralização do poder,
elemento caracterizador do Estado moderno, estava presente na figura do monarca (soberano),
a quem cabiam todas as decisões relativas aos assuntos públicos.

Neste período, o Estado, como criador da ordem jurídica, não se submetia a ela: o
poder era exercido segundo os interesses do monarca e as decisões tomadas pelo soberano
deveriam ser acatadas (eram impostas). (MORAIS JÚNIOR, 2007, p. 120)

2.2 Eudaimonia
34

É nessa perspectiva5 que Aristóteles se pergunta a respeito de qual é a melhor


vida, qual o bem supremo da vida, o que é a virtude (arete), como vamos encontrar felicidade
e satisfação na vida. A finalidade (télos) de nossa vida é alcançar a felicidade (eudaimonía).
Para alcançarmos a eudaimonía, precisamos viver racionalmente, e viver racionalmente
significa viver segundo a virtude. A virtude irá depender de um julgamento, por força da reta
norma da sabedoria prática, ou reta razão (prthòs lógos), para repudiar os extremos e alcançar
o meio termo (mesótês).(SILVEIRA, 2000, p.2)

2.2.1 Pólis

A comunidade constituída a partir de vários povoados é a cidade definitiva,


após atingir o ponto de uma auto-suficiência praticamente completa; assim,
ao mesmo tempo que já tem condições para assegurar a vida de seus
membros, ela passa a existir também para lhes proporcionar uma vida
melhor. (ARISTÓTELES, 1988, 1253a, p.15)

A afirmação de que só a autoridade legisladora é competente para determinar a


ordem jurídica que irá assegurar a proteção do indivíduo direcionou o foco da
funçãolimitadora para o Legislativo, o que resultou na sua ‘primazia’ em relação aos demais
órgãos do Estado.

Essa manifestação do Estado jurídico erigiu-se como modelo valendo-se também


do argumento de uma nova autoridade soberana: a idéia do povo (cidadãos) soberano disposto
a defender a sua liberdade inata.(MORAIS JÚNIOR, 2007, p. 121-122)

2.2.1.1 O poder do cidadão

A supremacia constitucional está ligada à idéia de afirmação da normatividade


constitucional e, com isso, da efetiva vinculação dos poderes públicos às normas
constitucionais.(MORAIS JÚNIOR, 2007,p.129)

Na afirmação de que o poder está submetido ao direito e de que a lei geral e


abstrata, como expressão do poder, tem que ter sua origem na vontade geral, encontra-se o

5
A ética aristotélica é social, e a sua política é ética. Elas estão completamente relacionadas, uma vez que na
ética o homem individual é essencialmente membro da sociedade e, na política, a virtude social do Estado é a
medida da virtude de seus cidadãos. A tarefa da ética consiste em estabelecer critérios para uma vida ordenada
dentro de uma sociedade, fundamentando esses critérios a partir dos fatos da vida, a partir da experiência. A ética
e a política possuem uma vinculação com o éthos, e a ética tem a sua particularidade na ação e não somente no
conhecimento, pois a sua finalidade é o próprio agir ético do homem em sociedade. A ética deve estabelecer uma
relação dialética entre a teoria e a prática, porque sua tarefa não é a construção de sistemas conceituais, mas de
esclarecer a ação através da qual o homem busca realizar-se. (SILVEIRA, 2000, p.2)
35

instrumental de garantia que o Estado de direito clássico (liberal) dispensa aos indivíduos
frente ao poder político. (MORAIS JÚNIOR, 2007,p.129)

A lei, dentro nesse aspecto, é a melhor forma de garantia do indivíduo frente ao


poder, pois este não poderá atuar a margem da lei, mas apenas dentro de seus limites; e alei
também é o instrumento mais idôneo para garantir as liberdades individuais, pois é por meio
dela que o povo converte-se na voz que pronuncia o direito. (MORAIS JÚNIOR, 2007,p.129)

Porém, com a implementação deste novo modelo de Estado, o ideal de


universalização do regime democrático restou somente proclamado, sem ser efetivado de fato,
o que se deveu principalmente à restrição do sufrágio censitário, o qual se concentrou nas
mãos de uma classe. Chauí (1997, p. 404) afirma que

Podemos observar, portanto, que a idéia de contrato social, pelo qual


os indivíduos isolados se transformam em multidão e esta se
transforma em corpo político de cidadãos, não previa o direito à
cidadania para todos, mas delimitava o contrato ou pacto a uma classe
social, a dos proprietários privados ou burguesia.(MORAIS JÚNIOR,
2007, p. 123)

Neste contexto, as constituições liberais caracterizavam-se por sua brevidade,


calcada, sobretudo, na preocupação de conservar a esfera inviolável da iniciativa privada
(BONAVIDES, 1997, p. 204).(MORAIS JÚNIOR, 2007, p. 123)

Mais tarde, o referido deslocamento da soberania para as mãos do povo veio a ser
objeto de busca pelo modelo do Estado social de direito, que incorporou também o aspecto
social às constituições.(MORAIS JÚNIOR, 2007, p. 123)

2.2.2 O bem comum

A partir de meados do século XIX, começaram a ocorrer mudanças na concepção


liberal de Estado, redirecionando suas funções e incorporando, além da manutenção da paz e
da segurança, algumas tarefas (prestações públicas) que deveriam ser realizadas. O modelo
liberal viu-se diante das exigências das idéias socialistas que reivindicavam maior igualdade
econômica e social, para além da igualdade perante a lei, manifestada na generalidade das leis
decorrente das idéias liberais. Surgiu assim o Estado social de direito.(MORAIS JÚNIOR,
2007, p. 123)
36

O Estado de direito sofre, então, uma mudança: da concepção eminentemente


individualista de centralidade política passara-se a uma concepção social.(MORAIS JÚNIOR,
2007, p.123)

Nas palavras de Bonavides (1997, p. 190), desloca-se “a idéia política da


polaridade individual para a polaridade social”. As exigências de saúde, educação, moradia e
emprego, informadas pelas idéias socialistas, vieram a consolidar no início do século XX o
que se chamou de Estado do Bem-Estar Social, incumbido de promover a melhoria das
condições de vida da população.(MORAIS JÚNIOR, 2007,p. 124)

No século XIX, o modelo liberal se expandiu e houve várias modificações nas


estruturas econômica, social e política da Europa. Em conseqüência, Bonavides descreve que

pôs-se fim à escravidão, incapacidades religiosas (tolerância),


inaugurou-se a liberdade de imprensa, discurso e associação e a
educação foi estendida; o sufrágio foi se estendendo até a
universalização; constituições escritas foram elaboradas; o governo
representativo consolidou-se como modelo; garantiu-se o livre
comércio e eliminaram-se taxações até então impostas, etc. (STRECK;
MORAIS, 2001, p. 58).(MORAIS JÚNIOR, 2007,P. 124)

Com a delimitação da ação do Estado, segundo o ideal liberal, a um campo


restrito, logo surgiram massas inteiras desatendidas em suas necessidades materiais, o que
levou à reivindicação do direito de igualdade (levantado apenas formalmente pelo ideal
liberal) e à exigência de que o Estado realizasse algumas prestações a fim de estabelecer a
igualdade social. De tal modo que somente com a implementação da igualdade social poderia
ser exercida a liberdade pelo indivíduo7 Marinoni (2005) desta: “A neutralidade ou falta de conteúdo da lei e da jurisdição – ou,
enfim, do próprio Estado legislativo – rapidamente fez perceber que a igualdade social constituía requisito para a efetivação da própria liberdade, ou melhor para o

desenvolvimento da sociedade. Conclui-se, em síntese, que a liberdade somente poderia ser usufruída por aquele que tivesse o mínimo de condições materiais para

ter uma vida digna


”.. (MORAIS JÚNIOR, 200,P. 124)

Segundo Bonavides (2004, p. 60-61),

No liberalismo, o valor liberdade, segundo Vierkandt, cinge-se a


exaltação do indivíduo e de sua personalidade, com a preconizada
ausência e desprezo da coação estatal [...] Leva Vierkandt seu
pensamento as ultimas conseqüências ao afirmar que seria correto o
37

conceito de liberdade do liberalismo se os homens fossem dotados de


igual capacidade. Mas, como a igualdade a que se arrima o liberalismo
é apenas formal, e encobre, na realidade, sob o manto da abstração,
um mundo de desigualdades de fato – econômicas, sociais, políticas e
pessoais -, termina ‘a apregoada liberdade como Bismarck já o notara,
numa real liberdade de oprimir os fracos, restando a estes, afinal de
contas, a liberdade de morrer de fome.(MORAIS JÚNIOR,
2007,P.124)

Neste movimento, a concepção liberal foi incorporada ao Estado e, desde então,


“apresenta-se como uma limitação jurídico-legal negativa, ou seja, como garantia dos
indivíduos-cidadãos frente à eventual atuação do Estado, impeditiva ou constrangedora de sua
atuação cotidiana” (STRECK; MORAIS, 2001, p. 91). (MORAIS JÚNIOR, 2007, p.122)

Ao Estado liberal, caberia a função de garantir a segurança e paz, ou seja, de


assegurar a ordem pública, abstendo-se o máximo possível da intervenção na vida econômica
e social dos indivíduos (CHAUI, 1997, p. 402).(MORAIS JÚNIOR, 2007, p.122)

A implementação do Estado jurídico, calcado nas teorias liberais, viu-se diante da


necessidade de promover um quadro que garantisse o respeito à legalidade e assegurasse os
direitos inatos do homem. A limitação ao poder do Estado caberia, de forma muito expressiva,
à técnica de divisão dos poderes, ou seja, caberia aos órgãos estatais que, tendo suas funções
diferenciadas, limitar-se-iam reciprocamente6 .Bonavides (2004, p. 71-72) destaca que “Antes, porém, que a realidade

contradissesse aquele majestoso sistema de idéias ou pusesse abaixo aquele esboço otimista de organização social, em que a razão humana anunciava, no plano

teórico, a obra de perfectibilidade das instituições, tudo levava a crer no triunfo dos esquemas de técnica constitucional do liberalismo. Um desses esquemas foi o

da divisão dos poderes [...]”.


(MORAIS JÚNIOR, 2007, p. 122)

2.2.2.1 A cidadania

O Estado liberal considerava como cidadãos apenas os homens livres e


independentes, o que correspondia dizer que homens dependentes e não-livres eram os que
não possuíam propriedade privada. Portanto, estavam excluídos do poder político tanto os
trabalhadores quanto as mulheres, que significavam a maioria da população.

Deste modo, desde o século XVIII até os dias atuais, lutas populares reivindicam
a participação política tanto dos trabalhadores quanto das mulheres (CHAUI, 1997, p. 403-
404).
38

A inclusão dos não possuidores de patrimônio (propriedade) como participantes


do processo político-eleitoral criou uma suscetibilidade por parte dos governantes em atender
as reivindicações sociais. Segundo Streck e Morais (2001, p. 59-60),

na medida em que o sufrágio se estendeu a novos setores sociais, os


partidos políticos começaram a surgir, buscando votos de modo a
governar na base do que ofereciam ao eleitorado, tornando os
governos suscetíveis às solicitações populares, o que vai impor uma
mudança de rota no projeto do Estado Mínimo no sentido de
intervenção do poder público estatal em espaços até então próprios da
iniciativa privada. O espaço interventivo da ação estatal se expressa
através de leis de pobreza para manter os desamparados; oficinas
públicas para resolver o desemprego; legislação sobre o trabalho de
menores – jornada de trabalho (10 horas em 1846, na Inglaterra); leis
trabalhistas relativas à segurança do trabalho, propagando-se
movimentos de autodeterminação e independência. (MORAIS
JÚNIOR, 2007, p.. 125)

3 RESPONSABILIDADE

O Estado, portanto, incorpora algumas funções, reveladas em prestações positivas


a serem realizadas com vistas à implementação da igualdade social, de modo que o Estado
social de direito se revela em “um tipo de Estado que tende a criar uma situação de bemestar
geral que garanta o desenvolvimento da pessoa humana” (SILVA, 2003, p. 115)(MORAIS
JÚNIOR, 2007,p.125)

O embate que se formou nas tentativas de conciliação entre o Estado liberal, em


crise, e o Estado social, em ascensão, foi grande. A tentativa de reconciliar as normas
constitucionais eminentemente liberais com a sociedade, a princípio, implicava o sacrifício
das teses individualistas. Tal embate ideológico encontrou conciliação com a introdução de
fórmulas programáticas dentro dos textos constitucionais, criação esta cuja expressão maior
foi a Constituição da República de Weimar.(MORAIS JÚNIOR, 2007,p.125)

Com as normas programáticas, temia-se que a constituição perdesse o seu caráter


jurídico vinculativo, perdendo sua normatividade e transmutando-se em recomendação
39

política. A Constituição de Weimar, com suas incertezas, permitiu, por via programática, a
primeira abertura para os direitos sociais.(MORAIS JÚNIOR, 2007,p.125)

Bonavides afirma que, no constitucionalismo contemporâneo, há o debate para se


afirmar o caráter normativo ou não das normas programáticas, dizendo que é necessário
reconhecer a eficácia vinculante das normas programáticas a fim de que seja reconhecida a
natureza jurídica da constituição, não havendo constituição sem força cogente, e acrescenta
que

atribuindo-se eficácia vinculante à norma programática, pouco


importa que a Constituição esteja ou não repleta de proposições desse
teor, ou seja, de regras relativas a futuros comportamentos estatais. O
cumprimento do cânones constitucionais pela ordem jurídica terá dado
um largo passo à frente. Já não será fácil com respeito à Constituição
tergiversar-lhe a aplicabilidade e eficácia das normas como os juristas
abraçados à tese antinormativa, os quais, alegando programaticidade
de conteúdo, costumam evadir-se ao cumprimento ou observância de
regras e princípios constitucionais. [...] Afigura-se-nos que a
compreensão correta das normas programáticas como normas
jurídicas contribui consideravelmente para reconciliar os dois
conceitos da histórica crise constitucional de dois séculos: o conceito
jurídico e o conceito político de Constituição (BONAVIDES, 1997,
pp. 211-212).(MORAIS JÚNIOR, 2007,p.126)

As lutas populares ampliaram os direitos civis: a participação política, a


fiscalização do Estado por meio de organizações sociais (associações, sindicatos, partidos
políticos), o direito à informação, etc., e com isso criaram os direitos sociais (trabalho, lazer,
saúde, educação etc.) e os direitos das minorias (mulheres, idosos, negros, índios etc.). Por
fim, a expansão do regime democrático assegurou a abertura ao campo social, à criação de
novos direitos e à ampliação dos direitos já existentes.(MORAIS JÚNIOR, 2007,p.126)

A preocupação social incorporada ao Estado não foi suficiente para apresentar


solução ao problema da igualdade, pois esta se funda, desde o conceito clássico (liberal) de
Estado de direito, na generalidade das leis, elemento formal e abstrato que não implica uma
alteração da situação concreta da sociedade com vista à implementação da igualdade.
(MORAIS JÚNIOR, 2007,p. 126)
40

Assim, ganhou destaque a preocupação de fomentar a participação pública, a


participação crescente no processo decisório e na formação dos atos de governo, tendo em
mente a participação igualitária.(MORAIS JÚNIOR, 2007, p.126)

. Incrementa-se, portanto, a preocupação com a caracterização democrática do


Estado, de tal forma que

se desenvolve um novo conceito, na tentativa do conjugar o ideal


democrático ao Estado de Direito, não como uma aposição de
conceitos, mas sob um conteúdo próprio onde estão presentes as
conquistas democráticas, as garantias jurídicolegais e a preocupação
social. Tudo constituindo um novo conjunto onde a preocupação
básica é a transformação do status quo. (STRECK; MORAIS, 2001, p.
92, grifo do autor).(MORAIS JÚNIOR, 2007,p. 126-127)

A mudança que ocorrera na concepção do Estado liberal de direito não se


restringiu apenas ao papel a ser desempenhado pelo Estado, que com a agregação do elemento
social passou a realizar algumas prestações, mas também promoveu a busca de ampliação da
participação do povo na coisa pública e, por conseguinte, na reconceitualização do principal
mecanismo de atuação do Estado, ou seja, a lei (STRECK; MORAIS, 2001, p. 92). Esta
passou a possuir a função ideal de transformação da realidade, dada a abertura que a
democracia contemporânea apresenta para a ampliação dos direitos já existentes, bem como
para a criação de novos direitos.(MORAIS JÚNIOR, 2007,p.127)

3.1 VIRTUDE

De acordo com a interpretação de Aristóteles, a virtude (aretê) é encontrada no


meio termo (mesótês) entre ações opostas, entre o excesso e a deficiência, e é divisível em
virtudes intelectuais e virtudes éticas.(SILVEIRA, 2000, p.1-2)

3.1.1 Ética (excelência moral)

A ética aristotélica é social, e a sua política é ética. Elas estão completamente


relacionadas, uma vez que na ética o homem individual é essencialmente membro da
sociedade e, na política, a virtude social do Estado é a medida da virtude de seus
cidadãos. A tarefa da ética consiste em estabelecer critérios para uma vida ordenada dentro de
uma sociedade, fundamentando esses critérios a partir dos fatos da vida, a partir da
41

experiência. A ética e a política possuem uma vinculação com o éthos, e a ética tem a sua
particularidade na ação e não somente no conhecimento, pois a sua finalidade é o
próprio agir ético do homem em sociedade. A ética deve estabelecer uma relação dialética
entre a teoria e a prática, porque sua tarefa não é a construção de sistemas conceituais, mas de
esclarecer a ação através da qual o homem busca realizar-se.(SILVEIRA, 2000, p.2)

Para o mestre estagirista a ação está relacionada com a verdade prática, que
envolve inteligência (alma racional) e desejo (alma sensitiva), e a verdade prática diz respeito
à razão verdadeira e ao apetite correto, pois o que aquela afirma e o que este busca são as
mesmas coisas: os meios adequados para obter a excelência moral(Ética a Nicômaco, 1130 a
23-27)

3.1.1.1 Justiça

3.1.2 Dianoética (excelência intelectual)

Como foi dito ao final do capítulo 13 do livro I, há, juntamente com a alma
irracional, uma alma racional, a qual, agora, é divida em dois momentos: 1)Faculdade
científica e 2)Faculdade calculadora (1139 a 6 - 14). Os excelentes exercícios (virtudes
intelectuais) de cada uma destas faculdades são uma disposição(1139 a 15 - 17), assim
como era o caso da virtudemoral. Mas, enquanto esta se distingue da virtude intelectual pelo
fato de ser um meio-termo entre extremos, a excelência intelectual tem, por sua vez, como
obra (ergon) a verdade (aletéia) (1139 b 12). A faculdade científica tem por objeto os
princípios invariáveis, objeto da verdade teórica, enquanto a faculdade calculadora tematiza
as coisas passíveis de variação, objeto da verdade prática, (1139 a 26s).(VIEIRA, sd, p.1, §
1)

Aristóteles passa, então, a explicar a verdade prática, pois a verdade teórica é de


significado mais evidente. A verdade prática envolve (mens) e (appetitus) 1Vd. ethica nichomachea, lib .
VI cap. II, 1139, (1), In: Aristotelis. Opera omnia. Graece et latine cum indice nominum et rerum absolutissimo. Paris, Firmin Didot, 1850, volumen secundum, p.

67
, inteligência, pensamento ou razão e apetite ou desejo, relativos às almas racional e
sensitiva, respectivamente: a verdade prática diz respeito à razão verdadeira e ao apetite
correto, pois o que aquela afirma e o que este busca são as mesmas coisas: os meios
adequados para obter a excelência moral (fim) (1130 a 23 – 27). O fim-alcançável-por-
este-meio e o meio-para-este-fim são as mesmas coisas afirmadas pela razão e buscadas pelo
42

[Vd. tb. Aristote. L’Éthique a Nicomaque. (Introdução, tradução e comentário de René A. Gauthier e Jean Y. Jolif). Louvain, Publications
desejo.
Universitaires, 1970, p. 446ss (Tome II, Deuxième Partie; Commentaires, Livres VI-X )].
(VIEIRA, sd, p. 1, § 2)

3.1.2.1 Sabedoria

O discernimento ou a prudência é a excelência no exercício da faculdade


calculadora. O discernimento consiste em deliberar corretamente sobre os meios adequados
para alcançar os fins expressos pelas excelências morais. A excelência moral diz respeito ao
pensamento em sua dimensão calculadora – alma racional - e ao desejo – alma sensitiva. Ela
é, portanto, a combinação de um pensamento verdadeiro com o desejo correto, de tal forma
que ela seja uma disposição habitual da alma na escolha do que é correto em termos do que é
variável . Ora, o discernimento é o pensamento verdadeiro ou correto que nos leva a obter a
excelência moral (1144 b 1 - 30).

A justificação histórica e racional da autoridade do poder, entretanto, agora não


mais embasada na figura da autoridade divina (Estado absolutista), terminou criando uma
imagem irreal do Estado, proclamado integrador, igualitarista e orientado à garantia da vida,
da propriedade e da liberdade dos indivíduos. (MORAIS JÚNIOR, 2007,p. 130)

. Com isso, o direito também foi afastado de qualquer referência substancial ou


material, passando a ser um molde cujo conteúdo irá ser preenchido pelas decisões políticas.
O resultado disso, afirma Peña Freire, acabou por desmantelar o potencial garantista da lei
como limite do poder, de forma que

o absolutismo monárquico avançará à um sistema organizativo onde a


supremacia política e jurídica passa às mãos do Poder Legislativo,
único soberano a ser representante da nação. se o império da lei era
considerada a garantia máxima contra o arbítrio e a injustiça dos
governantes, uma vez assentado o modelo jurídico-político burguês,
assistiremos a um giro na realidade do Estado de direito, que abrirá as
portas a novas expressões absolutas ou totais de poder. Em suma,
superado o poder absoluto do rei, este foi substituído pelos das
assembléias soberanas, e, portanto, ao absolutismo monárquico sucede
uma situação de absolutismo legislativo ou concepção absoluta de lei,
à que resulta finalmente assimilada a própria idéia de direito9 “el absolutismo
monárquico dará paso a un sistema organizativo donde la supremacía política y jurídica pasa a manos del poder legisltivo,
43

único soberano al ser representante de la nación. Si el império de la ley era considerado la garantía máxima contra el

arbítrio y la injusticia de los governantes, una vez assentado el modelo jurídico-político burgués, asistiremos a un giro en

la realidad del Estado de derecho, que abrirá las puertas a nuevas expressiones absolutas ou totales de poder. En

definitiva, superado el poder absoluto del rey, éste fue sustituido por el de las asembleas soberanas, y, por lo tanto, al

absolutismo monárquico sucede una suerte de absolutismo legislativo o concepción obsoluta de la ley a la que queda

finalmente asimilada la propria idea de derecho” (FREIRE, 1997, p. 53).


. (tradução livre)(MORAIS
JÚNIOR, 2007,p. 130)

No Estado de direito liberal, o foco de controle do poder ficou centrado no


Parlamento. Sendo assim, a constituição não representava o principal foco de limitação do
poder, mas sim a assembléia legisladora, que cumpriria a função de frear os eventuais abusos
no exercício do poder. A supremacia da constituição não se traduzia em supremacia de fato.
(MORAIS JÚNIOR, 2007,p 130)

Canotilho (2003, p. 96) afirma que

a limitação do poder pelo direito acabaria, em França, numa situação


paradoxal. A supremacia da constituição foi neutralizada pela
primazia da lei. Daí que um célebre jurista francês [J. Acosta Sanchez]
se tenha referido ao ‘Estado de direito francês’ como um Estado legal
ou Estado de legalidade relativamente eficaz no cumprimento do
princípio da legalidade por parte da administração mas incapaz de
compreender o sentido da supremacia da constituição, à imagem do
paramount law americana, e insensível à força normativa dos direitos
e liberdades ‘declarados’ logo na Déclaracion de 1789. Dir-se-ia que a
bondade do constitucionalismo francês quanto à idéia de sujeição do
poder ao direito radica mais na substância de suas idéias (constituição,
direitos) do que na capacidade de engendrar procedimentos e
processos para lhes dar operatividade prática. Não sem razão, se fala
do constitucionalismo francês como um ‘constitucionalismo sem
Constituição’. (MORAIS JÚNIOR, 2007,p.130-131)

3.2 Educação

3.2.1 Philia
44

As três espécies de amizade em Aristóteles. Nos livros VIII e IX de sua


obra Ética a Nicômaco, Aristóteles discorre, em sua sistematicidade característica,
sobre a natureza da amizade. ... Elas são: 1) a amizade segundo o prazer, 2)
a amizadesegundo a utilidade e 3) a amizade segundo a virtude, ou
a amizade perfeita.19 de set de 2008-

AS TRÊS ESPÉCIES DE AMIZADE EM ARISTÓTELES - PERFEIÇÃO

glauberataide.blogspot.com/2008/09/as-trs-espcies-de-amizade-em-aristteles.html

O termo philia, de onde se origina o conceito de amizade, tem uma complexidade semântica grande e ao
qual não é nosso intento se debruçar aqui. Ora o termo é traduzido por amor, de onde o sentido da palavra
filosofia por vezes entendida como amor à sabedoria, ora o termo é traduzido como amizade, de onde o
sentido da palavra filósofo por vezes entendido como um “amigo da sabedoria”. Foi nesse sentido que
Pitágoras, interpelado se se considerava um sábio, afirmou que não, mas que era um amigo (philos) da
sabedoria (sophia). “A intimidade entre amizade e filosofia é tão profunda que esta inclui o philos, o amigo,
no seu próprio nome e, como muitas vezes acontece em toda proximidade excessiva, arrisca não
conseguir distinguir-se” (AGAMBEN, 2007, p. 1).

Em sua Ética a Nicômaco, Aristóteles dedica dois livros ao estudo da philia, da amizade (livro VIII e IX),
que tem uma importância significativa para a vida humana, seja do ponto de vista existencial, ético (ARÃO,
2011) e, até mesmo, político (FEITOSA, 2013; RICKEN, 2008). Somente a amizade é capaz de
proporcionar ao homem uma relação verdadeira do homem com os outros homens (relação com a ética) e
com a comunidade à qual pertence (relação com a política).

A concepção de amizade está no centro do pensamento ético e político do filósofo grego e possui relação
direta com a virtude e a felicidade. Como virtude, a amizade suscita a benevolência, a reciprocidade e o
querer bem (ARISTÓTELES, 1999, 1155b 31-2,1156a 1-5; ARÃO, 2011). Como ressalta Gianotti (1996, p.
168):

Há, pois, na philía três traços característicos que são plenamente sublinhados na Ética a Nicômaco.
Primeiramente, requer benevolência (eunoia), querer bem o outro e, ao mesmo tempo, querer o bem para
o outro. Em seguida, esse relacionamento deve ser recíproco [...] uma amizade não seria louvável se a
benevolência não fosse recíproca. Finalmente, mesmo se o bem desejado é apenas aparente, ambos os
parceiros devem ter claro este bem querer.

A amizade é uma virtude extremamente necessária à existência humana a tal ponto que o filósofo
estagirita chegou a declarar que “ninguém deseja viver sem amigos, mesmo dispondo de todos os outros
bens” (ARISTÓTELES, 1999, 1155a). A amizade é necessária à vida dos homens e “conduz o homem à
felicidade, a eudaimonia” (BREA, 2009, p. 70).

Os três tipos de amizade para Aristóteles


Em geral, considera-se pelo menos três os tipos de amizade na obra aristotélica: a amizade por
prazer, por interesse e a amizade verdadeira. Todavia, Brea (2009, p. 71) ressalta como o filósofo grego
estava ciente da complexidade do tema e de que não se trata da mesma coisa a “amizade entre o escravo
e o senhor, outra entre dois irmãos, uma, entre um rico e um pobre, outra entre o amante e o amado, outra
45

aquela que ‘mantém as cidades unidas’ e com a qual ‘os legisladores se preocupam mais (...) do que com
a justiça (...)’”.

Mas aquilo que distingue de fato os diferentes tipos de amizade diz respeito a sua
finalidade, ao seu fim. Há amizade que visa o bem e cujos amigos se procuram porque
querem bem uns aos outros e essa é a amizade verdadeira (teleia philia), mas há amizades
cuja finalidade é o interesse e a utilidade, e outras que são o prazer e aquilo que é agradável.
Como pondera Feitosa (2013, p. 121) “Na Ética a Nicômaco Aristóteles define a amizade de
três modos: a primeira é justificada como a mais sublime, porque é o tipo de amizade que visa
somente à bondade por si mesma, ou seja, busca o bem do amigo por amor ao amigo”. E nas
palavras do próprio filósofo grego: “Essa espécie de amizade, pois, é perfeita tanto no que se
refere à duração como a outros respeitos, e nela cada um recebe de cada um a todos os
respeitos o mesmo que dá ou algo de semelhante. E é exatamente isso o que deve acontecer
entre amigos” (ARISTÓTELES, 1999, VIII, 4, 1156b, 33-35).
Na amizade por prazer e por interesse busca-se a amizade não por aquilo que ela é em
si mesma, ou seja, o amor do amigo, mas pela utilidade ou pelo prazer que ela proporciona.
Os que amam por utilidade não amam o amigo por si mesmo, mas em virtude de algum bem
que possa receber do outro. Os que amam pelo prazer não amam o amigo em si mesmo, mas
apenas pelo prazer que a amizade proporciona e que só dura enquanto dura o laço prazeroso
que a amizade proporciona. Esse tipo de amizade é comumente encontrada entre os jovens, ao
46

passo que a amizade que busca a utilidade é mais comumente encontrada entre os velhos,
comerciantes e desiguais. Fleitas (2016, p. 35) ressalta como esse tipo de amizade “é mais
fácil de ser desenvolvida entre pessoas de condições opostas” (entre uma pessoa pobre e outra
rica, por exemplo) e percebe-se “que a amizade baseada na utilidade é apropriada aos homens
com propensão para a ambição, porque preferem manter relações de trocas de interesses”.
Os dois tipos de amizade, onde a amizade existe em razão da utilidade ou do
prazer, são consideradas acidentais. No momento em que o amigo perde o encanto
proporcionado pelo prazer ou pela utilidade, a amizade acaba. A amizade baseada na utilidade
não é duradoura porque “como o que é útil não é permanente, desaparecendo a utilidade
desaparece também a amizade” (GOMES, 2010, p. 109). Fleitas (2016, p. 36) reforça a
contingência da amizade baseada na utilidade: “os que são amigos por causa da utilidade
separam-se quando cessa a vantagem, porque não amam um ao outro, mas apenas o que pode
ser vantajoso”. No que concerne a amizade por prazer
nota-se que nos homens os prazeres mudam de acordo com a etapa
e/ou circunstâncias de vida e, deste modo, a continuidade destas
amizades estão diretamente relacionadas a essa mutabilidade. Sendo,
portanto, que a continuidade da amizade fundada no prazer dependerá
da existência, ou não, das satisfações recíprocas que deram origem à
vinculação (FLEITAS, 2016, p. 37).
Por isso a amizade que se baseia no prazer é tão contingente quanto a que se
baseia na utilidade e a continuidade da amizade que se baseia no prazer depende da
permanência do objeto prazeroso ou de que haja prazer recíproco entre os amigos. E nas
palavras do próprio Aristóteles: “Sendo assim, as amizades deste tipo são apenas acidentais,
pois não é por ser quem ela é que a pessoa é amada, mas por proporcionar à outra algum
proveito ou prazer” (ARISTÓTELES, 1999, VIII, 3, 1156a 15-17). E no capítulo IX o
filósofo também afirma:
Talvez possamos dizer que nada há de estranho em romper uma
amizade baseada no interesse ou no prazer quando nossos amigos já
não possuem os atributos de serem úteis ou agradáveis; na realidade
éramos amigos desses atributos, e quando eles desparecem é razoável
não continuar amando (ARISTÓTELES, 1999, IX, 3, 1165b).
Só a amizade perfeita é considerada essencial e não acidental e não exclui nem a
utilidade e nem o prazer, pois o que é bom também é útil e prazeroso. Como destaca Sousa
47

(2014, p. 14): os homens que não são virtuosos só podem estabelecer relações de amizade
pautadas no interesse ou no prazer; e os homens que são virtuosos “podem estabelecer
relações de amizade em função do prazer ou da utilidade, da mesma forma que o fazem
aqueles que não são virtuosos”.
É nesse sentido que Aristóteles estabelece uma clara relação entre a amizade e a ética,
já que a amizade perfeita possui uma clara função moral e deve inspirar ações virtuosas.
Reforçando essa vinculação entre a ética e amizade Fleitas (2016, p. 39) afirma: “Os homens
bons o são de forma absoluta por serem virtuosos e a virtude é um hábito, de tal modo que o
homem bom deseja o bem tanto para si mesmo quanto para seu amigo em uma relação
permanente”.
A amizade verdadeira (teleia philia) é ainda enriquecida pela natureza dos dois outros
tipos de amizade, ou seja, a utilidade e o prazer, como afirma Aristóteles. “A amizade por
prazer tem alguma semelhança com esta espécie, pois pessoas boas também são
reciprocamente agradáveis. Acontece o mesmo em relação à amizade por interesse, pois as
pessoas boas também são reciprocamente úteis” (ARISTÓTELES, 1999, VIII, 4, 1157a 4-7).
O fato de querer bem ao amigo em si mesmo não exclui o prazer e a utilidade que uma
amizade pode proporcionar.
Aristóteles ainda teoriza sobre a amizade em cada etapa da vida dos indivíduos, onde a
mesma assume uma função específica em cada faixa etária: a amizade tem a função de evitar
que os jovens possam enveredar pelo caminho do erro, na maturidade inspirar atos nobres e
na velhice um meio de amparo para as carências que a mesma nos traz.

Referências Bibliográficas
AGAMBEN, Giorgio. O amigo. Cadernos de leitura, n. 10. Acesso em 05/09/2017. Texto realizado a partir do
original L’amico (Roma: Nottetempo, 2007).
ARÃO, Douglas J. Da Felicidade à Amizade: percursos éticos. Sapere Aude, Belo Horizonte, v. 2, n. 4, p. 89-
94, 2011. Acesso em 05/09/2017.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. Mário da Gama Kury. 3 ed. Brasília: Editora Universidade de
Brasília, 1999.
BALDINI, M. Amizade & Filósofos. Trad. Antônio Angonese e Laureano Pelegrini. Bauru: Editora do Sagrado
Coração, 2000.
BREA, Gerson. Amizade e comunicação: aproximações entre Karl Jaspers e Aristóteles. Revista Archai,
Brasília, n. 03, pp. 69-79, jul. 2009. Acesso em 02/09/2017.
FEITOSA, Zoraida M. L. A influência da amizade nas constituições políticas em Aristóteles. Prometeus, ano 6,
n. 11, p. 119-128, jan./jun., 2013. Acesso em 02/09/2017.
48

FLEITAS, Horácio F. R. Felicidade e amizade na Ética nicomaquéia. Dissertação (Mestrado em Filosofia).


Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Universidade de Caxias do Sul. Caxias do Sul-RS, 2016.
GIANNOTTI, José Arthur. O amigo e o benfeitor. Analytica, v. 1, n. 3, p. 165-177, 1996. Acesso em
03/09/2017.
GOMES, Alexandre T. As figuras da amizade em Kant e suas relações com a Moral, o Direito e a
Política. Doispontos, Curitiba, São Carlos, vol. 7, n. 2, p.107-126, out., 2010. Acesso em 04/09/2017.
RICKEN, Friedo. O Bem Viver em Comunidade: a vida boa segundo Platão e Aristóteles. São Paulo: Loyola,
2008.
ROSS, Sir David. Aristóteles. Trad. Luís F. Bragança Teixeira. Lisboa: Dom Quixote, 1987.
SOUSA, Gicélia V. de. Amizade e felicidade em Aristóteles. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura
em Filosofia). Departamento de Filosofia e Ciências Sociais. Universidade Estadual da Paraíba. Campina
Grande-PB, 2014.
WOLF, Ursula. A Ética a Nicômaco de Aristóteles. São Paulo: Edições Loyola, 2013.

Leia mais: https://www.sabedoriapolitica.com.br/news/sobre-a-amizade-em-aristoteles/,


acessado em: 111.11.2018

3.2.2 Mochteria

Considerações Finais

Bibliografia
49

METODOLOGIA E PRÁTICA DE PESQUISA EM FILOSOFIA [recurso eletrônico]

Evandro Barbosa; Thaís Christina Alves Costa – Pelotas: NEPFIL online, 2015. 111p. –
(Série Dissertatio-Incipiens)

(Passei Direito, em 10.11.2018)

Introdução

1. FILOSOFIA: QUESTÕES RECORRENTES

1.1. Situando a Questão Filosófica

(16)

O que temosna Filosofia é a divergência, não apenas de ideias, mas também


de métodos a seguir quando pretendemos conhecer. Por isso,não é difícil imaginar que
desde o início da Filosofia até hoje não temos uma resposta convincente para muitos
de seus problemas, o que torna filósofos (em diferentes tempos e contextos) tão
divergentes sobre um mesmo tema.

[...]

(16)

[...]

Por isso, ointeressado em filosofia te m uma tarefa que transcende as palavras de


um bom texto de Pl atão, Aristóteles, etc. O modo como lançamos o olhar crítico sobre o
mesmo é definidor da resposta que poderemos extrair do te xto, o que nos oferece um
bônus e um ônus. O bônus éque, dada a importância do aspecto subjetivo para a leitura do
texto filosófico, nosso espaço de manobra filosófico se dá pela “[...] simples indagação e
arguição, ensaiando ideias e imaginando possíveis argumentos contra e las, perguntando-
nos até que ponto nossos conceitos de fato funcionam” (NAGEL, 2007, p. 2). Poroutro
lado, fica sob nossa responsabilidade o ônus da prova, quer dizer, apresentar a devida
reflexão sobre o tema em questão e oferecer uma resposta consistente (na medida do
possível, é claro) para a defesa de um ponto de vista filosófico.

[...]
50

(17)

[...]

Por isso, a filosofia não pode ser confundida com empilhar dados, datas,nomes e
ideias sem que se reflita sobre elas. Estudara história da filosofia é um elemento
primordial para o bom exercício filosófico, pois, sem esta base , dificilmente
conseguiríamos refletir os seus conteúdos (já que os principais problemas da filosofia
parecem acompanhá-la desde sempre). Poré m,este é apenas um elemento que compõe o
cenário filosófico, sendo necessário refletir sobre tais ideias

(18)

mais do que repeti- las. De forma resumida, podemos indicar ao estudante de filosofia que:

i. Fique atento ao modo comoo mundo se apresenta a nós por meios de objetos,
fenômenos e fatos, pois o filosofar não permite que nos distanciemos da matéria prima
de no ssas reflexões;

ii. Reflita sobre a experiência vivenciada, pois seu meditar indicao nível de atenção que a
re alidade desperta em você e o nível de pro fundidade desta reflexão, uma vez que as
perguntas filosóficas estão na base racional de nossas argumentações (como vimos, se o
historiador quer compreender determinado fato no tempo, nossa questão é anterior a
ela quando nos perguntamos sobre a possibilidade do próprio tempo);

iii. Filosofar exige a discussão de ideias, po r isso não se furte ao questionamento e à


discussão de problemas filosóficos através de umnível de conversa que provoque reflexão
(não existe m fórmulas preestabelecidas do questionar);

v. Filosofar é uma atividade individual na maior parte do tempo, o que não implica se
isolar do mundo, já que filos ofia não é fuga da realidade, mas uma reflexão mais profunda
acerca da mesma;

vi. Chegamos à filosofia através da leitura; nada a substitui enquanto possibilidade de revelar
dimensões de profundidade da experiência humana. Por isso, a escolha adequada do material
de estudoé tão importante para o estudante de filosofia.

[...]

(19)
51

1.2. Filosofia como Prática de Conhecimento

Namaioria das vezes, os seres humanos estão envolvidos com as tarefas


cotidianas e isso lhes furta a necessidade de estudar filosofia. Pelocontrário, sua
preocupação com a manutenção de seus arranjos sociais (família, trabalho, educação,
lazer, etc.) não lhe s permite vislumbrar o que está po r trás de muit as de suas
atividades. Com isso, afilosofia permanece no anonimato e nquanto tarefa de formação,
porém isso não impede que o s interessados em filosofia façam um esforço para
demonstrar tanto sua necessidade para o desenvolvimento humano, quanto os benefícios
de se levantarem certas questões.

Tomamos,assim, a filosofia como uma prática de conhecimento, cuja função


é discutir as diversas dimensões que o constitui. Porisso, a filosofia convém a todo
mundo, pois, como define La Bruyère,

[...] sua pr ática é ú til para t odas as id ades, todos os sexos e para
todas as condições sociais; ela nos consola da felicidade do
outro, de nossos fracassos, do declínio de noss as f ormas ou de
nossa beleza; ela nos arma contra a pobreza, a ve lhice, a
doença, a mor te, contra os ig norantes e as pessoas maliciosas
(LA BRUYÈRE apud MARCOND ES, 2011, p.15).

Nesse sentido, a filosofia não é teoria, mas prática de elucidações e delimitaçãodo


pensamento, de modo que os problemas sejam desmembrados, analisados e dissolvidos
por meio da análise adequada. Nãoconhecemos os l imites e xatos do nosso con
hecimento, nem sabemos o resultado correto de todas as ações humanas, mas a
filosofia pode lançar luz aos questionamentos que envolvem estas dimensões, de modo
que, ao revelar o sentido das ações hum anas, teremos questionado o porquê das
mesmas, uma vez que a “[...] filosofia não é uma simples arte de formar, de inventar,
de fabricar conceitos [...] A filosofia, mais rigorosamente, é a disciplina que consiste
em criar conceitos” (DELEUZE & GUATTARI, 1992, p. 13).

[...]

(20)

[...]
52

Afilosofia tem essa capacidade criadora, mas a atitude filosófica precisa, antes de tudo,
ser negativa. Negativano sentido de não se comprometer de antemão com qualquer pré-
conceito ou pré-juízo que se apresente a ele como um todo mundo sabe que é assim
que as coisas são. Énesse se ntido que Deleuze e Guattari falam que os conceitos são c
onstruídos a partir de uma interrogação sobre situação, objetos, fatos e valores e que,
por isso, os filósofos não podem se contentar e aceitar os conceitos que lhes são
dados se m questionamento. Aatitude filosófica positiva se dá quando admitimos a
necessidade de conhecer mel hor o mundo como fez Sócrates ao afirmar “Sei que
nada sei!”, pois essa atitude desvela que os conceitos não surgem de forma miraculosa,
mas da desconfiança filosófica do que parece dado. Oresultado é admiração e espanto
frente ao mundo quando nos distanciamos do mesmo e, através de nossa habilidade de
raciocínio, percebemo-lo a partir de conceitos.

(22)

[...]

Ofato é que filosofia não se resume a um incorporar conceitos e relegar a um


segundo plano qualquer outro tipo de atividade intelectual. Naverdade, a filosofia exige
essa condição transdisciplinar ao abarcar questões de biologia, direito, sociologia,
psicologia, economia, etc. Isso demonstra que sua utilidade é crítica em todos os
âmbitos do con hecimento, ou seja, é uma atividade inquietante que nos leva a
questionar e refletir sobre as d iferentes esferas da vida, é um desvelar o que está e ncoberto
pelas convenções e pelos costumes. Em suma,embora construa conceitos no seu
desenvolvimento, a filosofia permite o acesso ao mundo com um ol har c rítico de
quem não se conforma com a explicação rasteira oferecida de diferentes formas
(televisão, revistas, internet.). Ess es canais oferecem uma ampla variedade de
conhecimento sobre o mundo, porém cabe a nós compreendermos com clareza
suficiente o que está por trás de tudo que vemos e ouvimos. Deforma resumida, cabe ao
filósofo não a sobreposição à s outras ciências, pois sua função fundamental é trazer
uma análise rigorosa em termos conceituais. Logo,as tradições transmitidas na so
ciedade sob difere ntes formas (opiniões, crenças, modos de agir) devem ser tomadas de
modo crítico, o que nos obriga a uma coerência de pensamento. Nessesentido, a
atitude filosófica tem seu propósito dado a partir de três questões fundamentais: O que?
53

(buscandoo seu significado intrínseco); Como? (quaissão as relações ne cessárias para


constituir tal ‘coisa’); e Por quê? (oque justifica ou explica a sua existência). [...]

(23)

1.3. Pensamento Crítico-filosófico

Desenvolverum pensamento c rítico exige aprimorar as habilidades básicas de


pensamento, ou seja, buscar a excelência na atividade crítica em termos filosóficos.
Nessesentido, pe nsar exige sopesar, pôr na balança os argumentos para avaliar o pe so
de alguma coisa. Opensamento, quando se faz filosofia, usa o máximo de seus recursos
para aprender a avaliar. Opensamento faz com que nos familiarizemos com
determinadas posições para poder afirmar com firmeza filosófica qual delas tem um
maior nível de justificação. Esse sopesarde ideias é o que nos permite direcionar nosso
pensamento e ações de acordo com o nível de fundamentação/justificação atingido por
cada argumento. Nessesentido, o pensar é determinante para a direção da ação, uma
vez que aquele produz a direção e a significação da ação.

Quandopensamos criticamente, nós utilizamos de modo coordenado e


integrado nossas habilidades de raciocínio de acordo com a situação que se apresenta.
Esteé o significado da e xcelência , enquanto a capacidade de ter nossas habilidades
desenvolvidas de forma constante, o que se re flete na eterna busca filosófica pelo
conhecimento como bem propusera Sócrates em sua máxima.

1.4. Pesquisa em Filosofia

Peloque vimos, podemos afirmar, então, que a investigação filosófica é a


busca pela resolução de problemas filosóficos seguindo alguns passos básicos:

(24)

O Estado Absolutista, já no século XVIII, foi marcado pela existência de um “mundo de


privilégios da feudalidade decadente” (BONAVIDES, 2004, p. 42), os quais, juntamente com
a amplitude dos poderes da coroa, a burguesia revolucionária posteriormente cuidou de
destruir. O momento histórico tido como marco da derrubada do regime absolutista foi a
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Revolução Francesa, fortemente influenciada pelas teorias liberais, sobretudo as de Locke e


Montesquieu, que serviriam de base para o surgimento do novo modelo de Estado. Apesar de
não ter sido o primeiro fato histórico influenciado pelas idéias liberais, a Revolução Francesa
foi um dos mais expressivos e de conseqüências bastante profundas e determinantes para a
construção da idéia de um Estado de direito2 . 2 Chauí (1997, p. 402) destaca que “Na Inglaterra, o liberalismo se consolida em
1688, com a chamada Revolução Gloriosa. No restante da europa, será preciso aguardar a Revolução Francesa de 1789. Nos Estados Unidos consolida-se em

1776, com a luta pela independência. [...] As idéias políticas liberais tem como pano de fundo a luta contra as monarquias absolutistas por direito divino dos reis,

derivadas da concepção teocrática de poder. O liberalismo consolida-se com os acontecimentos de 1789, na França, isto é, a Revolução Francesa, que derrubou o

Antigo Regime”.
1
Hedonismo

A ambigüidade do conceito de prazer permitiu agrupar, sob a classificação geral de hedonismo, várias
linhas filosóficas claramente distintas. Hedonismo é definido como a doutrina que considera o prazer
(hedoné em grego) o objetivo supremo da vida. Apareceu muito cedo na história da filosofia, em duas
modalidades: a primeira toma o prazer como critério das ações humanas; a segunda considera o prazer
como único valor supremo. [...]Como fundamento do comportamento humano, o hedonismo esteve
sempre presente na história do pensamento.Foi incorporado à filosofia dos empiristas britânicos
Thomas Hobbes, John Locke e David Hume, ainda que de forma matizada. O também britânico Jeremy
Bentham, criador do hedonismo moderno ou utilitarismo, foi mais radical e pregou "a maior felicidade
para o maior número". Mas quase todos os grandes filósofos, como Platão, Aristóteles, Kant e Hegel se
opuseram frontalmente às teses hedonistas. Disponível em:
http://www.estudantedefilosofia.com.br/doutrinas/hedonismo.php. Acesso em 01.09.2018.

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