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A Concepção Finalística Da Pólis Aristotélica - Estudo Introdutório
A Concepção Finalística Da Pólis Aristotélica - Estudo Introdutório
CAMPUS JACAREZINHO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO
Jacarezinho - 2018
MARIA ÂNGELA DE OLIVEIRA PERES
Jacarezinho– 2018
MARIA ÂNGELA DE OLIVEIRA PERES
________________________________________
Prof. Dr. Alexander Gonçalves
Campus Jacarezinho
________________________________________
Prof... ...............................................
Campus Jacarezinho
________________________________________
Prof. ...................................................
Campus Jacarezinho
ABSTRACT:
This paper seeks to contribute to the reflection of the premise that the purpose of the
democratic State is to represent the interests of its citizens-inferred from studies that
indicate the precariousness of democratic institutions is perceived by the citizens of that
their political representatives do not represent them. Aiming at an introductory study to
clarify the original concept about the theme, using the historical method to study it in
designing Aristotelian State purpose; and, for understanding of their fundamentals, is
structured according to the criteria used by Aristotle in politics to analyze: 1) the
political purpose-Polis, your natural evolution from primitive political communities
based on personal desire of survival and self-reliance, until the advent of Polis, the
perfect political community, based on the personal desire of eudaimonia (well-being); 2)
the formal policy purpose Polis, especially while: politeuma (citizen body); politeía (body
of laws); Polis eudaimon (social welfare); and 3) the political-moral purpose of the Polis,
synthesized in the responsibility of providing justice and education. The qualitative
method has guided the selection and the logical account of the corpus under analysis,
consisting of topics of the Nicomachean Ethics and political works, relevant to the
purposes selected for study, and selected bibliographical search comments
interdisciplinary.
Keywords: Political philosophy; State; Purpose; Aristotle; Polis.
SUMÁRIO
Introdução...............................................................................................................................09
1 - FINALIDADE NATURAL...............................................................................................12
1.1 Anterioridade ...................................................................................................................12
1.1.1 Zoon politikon.................................................................................................................13
1.1..1 O poder da natureza ......................................................................................................14
1.2 Sobrevivência ...................................................................................................................15
1.2.1Família .............................................................................................................................15
1.2.1.1 O poder do pai..............................................................................................................16
1.3 Autossuficiência ...............................................................................................................17
1.3.1 Povoado ..........................................................................................................................17
1.3.1.1 O poder do rei..............................................................................................................18
1.4 Eudaimonia ......................................................................................................................19
1.4.1Pólis .................................................................................................................................19
1.4.1.1O poder da lei................................................................................................................20
2 - FINALIDADE FORMAL.................................................................................................21
2.1 Politeía ..............................................................................................................................23
2.1.1 O melhor regime..............................................................................................................23
2.1.1.1 A cidadania...................................................................................................................24
2.2 Polites ................................................................................................................................24
2.2.1
2.3 Politeuma ..........................................................................................................................21
2.3.1 A pólis são seus cidadãos ...............................................................................................21
2.3.1.1 O bem comum ..............................................................................................................22
3 – FINALIDADE MORAL..................................................................................................25
3.1 Justiça ...............................................................................................................................25
3.1.1 Equidade..........................................................................................................................25
3.1.2 Sabedoria ........................................................................................................................27
3.1.2.1 Dianoética ...................................................................................................................27
3.2 Educação ..........................................................................................................................28
3.2.1 Ethos................................................................................................................................28
3.2.1.1 Hábito ..........................................................................................................................29
3.2.1 Philia................................................................................................................................30
3.2.1.1 Amizade cívica .............................................................................................................30
3.2.2 Mochteria .......................................................................................................................30
Considerações Finais .............................................................................................................30
Bibliografia .............................................................................................................................34
10
Introdução
1 Tema
A questão da finalidade do Estado encontra-se no cerne da reflexão sobre a crise
de legitimidade que fragiliza as instituições democráticas contemporâneas, pois advém da
anomia política causada pela perplexidade dos cidadãos frente ao que Castells (2018,
p.41/1696) denominou de “turbilhão de múltiplas crises”: impactos bio-climáticos, pobreza,
terrorismo, mídia orientada pelas mentiras da pós-verdade, polarização política, guerras, falta
de privacidade e cultura dominada pelo entretenimento hedonista.
Contudo, o principal alerta de Castells é no sentido de que a incapacidade da
sociedade de lidar com essas inúmeras crises decorre de “uma crise ainda mais profunda:
2 Problema
A finalidade do Estado é representar os interesses dos cidadãos?
3 Recorte
A concepção aristotélica da Pólis
4 Objetivos
4.1 Geral
Estudo introdutório sobre finalidade (a razão de ser) do Estado
4.2 Específico
Análise compreensiva de três de seus principais aspectos:
4.2.1 A finalidade natural do Estado
Sua origem (causa) natural
4.2.2 A finalidade política do Estado
Sua finalidade (razão) política
4.2.3 A finalidade moral do Estado
Seu fundamento (responsabilidade) moral.
2 Método
Analítico, fundamentado em comentadores do filósofo. Ou seja, buscar-se-á
compreender o entendimento aristotélico da Pólis a partir da análise de três aspectos três
principais requisitos elencados :
11
3 FINALIDADE MORAL.....................................................................................................25
3.1 Virtude ..............................................................................................................................25
3.1.1 Ética ................................................................................................................................25
3.1.1.1 Justiça ..........................................................................................................................26
3.1.2 Dianoética .......................................................................................................................27
3.1.2.1 Sabedoria .....................................................................................................................27
3.2 Educação ..........................................................................................................................28
3.2.1 Philia ...............................................................................................................................28
3.2.1.1 Amizade cívica .............................................................................................................28
3.2.2 Mochteria ........................................................................................................................29
Considerações Finais .............................................................................................................30
Bibliografia .............................................................................................................................31
14
15
INTRODUÇÃO
Considerações finais:
Introdução
16
1Tema/Recorte (Estado/Finalidade/Aristóteles/Pólis)
das instituições públicas influi negativamente “sobre a disposição dos cidadãos para participar
de processos políticos, como a escolha de governos” (2005; p.).
2 Problema
3 Hipótese
3 Justificativa/Delimitação do tema
18
[...]
Como? (quais são as relações ne cessárias para constituir tal ‘coisa’); e Por quê? (o
que justifica ou explica a sua existência). (BARBOSA & COSTA, 2015, p. 21-23)
“Quando eu uso uma palavra”, disse Humpty Dumpty num tom bastante
desdenhoso, “ela significa exatamente o que eu quero que signifique: nem
mais, nem menos”. “A questão é”, disse Alice, “se pode fazer as palavras
significarem tantas coisas diferentes”. “A questão”, disse Humpty Dumpty, “é
saber quem vai mandar – só isto1”.
1
Apud MORETZSOHN, Sylvia, in: A cidadania através do espelho. Revista Sinais Sociais. Rio de Janeiro:
SESC, 2011, p.140. Cf.: ‘When I use a word,’ Humpty Dumpty said in rather a scornful tone, ‘it means just what
I choose it to mean – neither more nor less.’ ‘The question is,’ said Alice, ‘whether you can make words mean so
many different things.’ ‘The question is,’ said Humpty Dumpty, ‘which is to be master – that’s all. CARROL,
Lewis. Alice Através do espelho. Capítulo VI, p. 48/88. Disponível http://pdfreebooks.org/files/through-the-
looking-glass-book.pdf. Acesso em 01.09.2018.
2
SORJ, Bernardo. A nova sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.25).
20
A Grécia Antiga também foi berço da Democracia, ou o governo do povo, no qual pela
primeira vez os cidadãos podiam participar diretamente do espaço político, nas ágoras
(locais de reunião). Vale lembrar que a participação era válida apenas para homens gregos,
com mais de 21 anos de idade.
Um dos primeiros filósofos a pensar e metodizar uma ideia política foi o grego Platão (428-7
– 348-7 a.C). O filósofo teve como principal inspiração, o pensamento e ideias de Sócrates,
seu mestre, condenado à morte por ter um comportamento considerado subversivo para a
época.
Platão acrescentou sua própria contribuição ao pensamento socrático e criou obras como “A
República” e “As Leis”, a partir desses escritos surgiram diversas reflexões sobre questões do
homem e seu convívio em sociedade, o que gerou as primeiras discussões e avaliações
políticas.
Em “A República”, Platão traz propostas e ideias para uma sociedade mais justa e igualitária.
Para ele, cada um deveria exercer atividades as quais possui aptidões especiais, em que
fortes vão para guerra, artesãos trabalham com as mãos e assim por diante. Além disso,
21
a educação deveria ser voltada para que crianças e jovens encontrassem e desenvolvessem
essas habilidades no futuro.
Ainda na Grécia, Aristóteles (384 – 322 a.C.) passou a discordar do pensamento platônico.
Suas ideias iam de encontro a ideia de Platão de que o público deveria se sobressair ao que
é privado. Para Aristóteles, a sociedade sempre iria privilegiar seus bens pessoais. Para o
filósofo, compreender a realidade política da sua época era mais importante do que
idealizar uma sociedade ideal. Essas ideias foram reunidas na obra “Política”, em que ele
ressalta um dos conceitos mais importantes para a sociedade, de que o homem é um
“animal político” e faz parte da sua natureza se organizar politicamente.
• Contratos sociais
A ideia de homem como “animal político” perdurou até o século XVII, quando Thomas
Hobbes (1588 – 1679) levantou a hipótese de que a sociedade se organizava a partir de um
contrato social, em que cada indivíduo prezava pela sua própria conservação dentro do
convívio social, que implicava na perda de um pouco de liberdade. É neste instante, que
homens assinavam um contrato fictício de convívio em sociedade. Se voltassem ao seu
estado completamente livre, de natureza, o convívio em harmonia seria praticamente
impossível. Em sua obra “Leviatã”, Hobbes coloca o Estado como ceifador da liberdade
humana, usando seu poder para garantir a ordem social.
Já John Locke (1632 – 1704) pensava nesse contrato como leis naturais, que impediam os
indivíduos de viverem em guerra constante, antes da formação das sociedades. Para ele, a
formação das sociedades ocorreu apenas pela necessidade da garantia da propriedade
privada. Sua ideia de que o homem é livre e o Estado existe apenas para garantir o direito à
vida e o direito da propriedade ocasionou em um novo fundamento conhecido
como liberalismo político.
Ainda baseado na ideia de um contrato social, estava Jean-Jacques Rosseau (1712 – 17780,
que acreditava no compartilhamento de recursos entre sociedades sem qualquer
necessidade de guerras. Para o filósofo, a propriedade privada era a maior representação
da desigualdade e causadora das mazelas sociais, como pobreza, crime e violência.
Sua solução para melhorar essas sociedades é que os governos seguissem inteiramente os
desejos e anseios da maioria dos cidadãos.
No século XX, a noções de contratos sociais foram retomadas com Rawls (1921 – 2002), que
prezava pelos princípios da justiça escolhidos em função da sociedade. Esses princípios
seriam igualitários e designados pelos próprios indivíduos e que todos deveriam ter
liberdades e oportunidades igualitárias.
https://www.resumoescolar.com.br/filosofia/resumo-da-filosofia-politica/, em 1.11.2018
palavra, pois estuda não somente o que é a felicidade (o assunto da Ética) mas também a
maneira de obtê-la (o assunto da Política); ao mesmo tempo ela é prática no sentido
4 RECORTE
5 HIPÓTESE/OBJETIVOS
5.1 Geral
5.2 Específicos
6 Metodologia/Estrutura do trabalho
6.1 Suaorigem;
No primeiro capítulo se estudará a origem da pólis por meio da análise das causas
fundantes apontadas por Aristóteles; bem como das principais características de sua evolução
a partir das comunidades políticas primitivas – que visavam a sobrevivência (casa) e
autossuficiência (povoado) – até a cidade completa (pólis), estágio final da comunidade
política, que visa o bem comum.
1 FINALIDADE NATURAL
3
"A Política, mais que um tratado, é uma coleção de formulações (logói), destinadas a servir de base à
exposição oral. A crítica minuciosa – e em curso – estabeleceu indubitavelmente que os oito livros da Política
não resultaram de um impulso criativo único. [...] Nos trinta anos que decorem entre os primeiros e últimos
livros, o discurso reflete a tensão entre duas orientações, a um tempo divergentes e conciliantes, das
investigações de Aristóteles: as experiências da vida criativa racional, inculcadas pela Academia Platônica, e o
estudo da multiplicidade das manifestações do ser. Em política, tratava-se de confrontar o bem supremo com os
regimes da Cidade-Estado que estava a ser ultrapassada pela monarquia mundial [de Alexandre, o Grande]."
(HENRIQUES, 2006)
25
uma comunidade política (koinonia) estabelecida em ordem a um bem (aghatou) [...] maior
porque abrange comunidades menores e porque possui auto-suficiência que as comunidades
maiores [sic] não alcançam." (2006; p.14-15). Explanação que antecipa parte da análise que o
mestre estagirista, na sequência, passa a realizar dos elementos que compõe a cidade - as
comunidades menores – não apenas para provar que erram os que não fazem "a menor
distinção entre uma grande família política e uma pequena cidade."; mas principalmente para
saber (o objetivo da Política) "em que eles [os elementos da cidade] diferem, e se é possível
reunir êsses conhecimentos esparsos para formar uma arte [política]." (Pol., Livro I, § 2-3).
De outra parte, Henriques também nos alerta de que na abertura da Política
Aristóteles introduz categorias - natureza, finalidade, felicidade, bem, homem, cidade, ser
vivo – cuja análise requer uma perspectiva global de sua filosofia, segundo a qual "a natureza
de qualquer realidade, seja criatura viva, instrumento ou comunidade deve ser procurada em
um fundamento, apresentado como causa, princípio ou finalidade." (2006, p. 15);
circunstância que estabelecemos como fio estruturante para o estudo da concepção aristotélica
da pólis.
1.1 ANTERIORIDADE
4
Logos (fala, discurso) é a lógica por trás de um argumento. Henry George Liddell, Robert Scott, An
Intermediate Greek-English Lexicon, λόγος, Disponível em 20.08.2018 in. www.perseus.tufts.edu. Cf.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Logos, acessado em 25.10.2018.
26
1.2 SOBREVIVÊNCIA
1.2.1 Família
1.3 AUTOSSUFICIÊNCIA
1.3.1 Povoado
1.4 EUDAIMONIA
1.4.1 Pólis
2 FINALIDADE POLÍTICA
2.1 POLITEUMA
2.2 POLITEÍA
Conforme Comparato:
Todavia, isso avança nas doutrinas dos direitos e do constitucionalismo, este como garantia(s) contra o poder arbitrário, da mesma forma que contra o exercício
a sua imposição. Esse princípio elevou a lei a um ato supremo com a finalidade de eliminar as tradições jurídicas do Absolutismo e do Ancien Regime. A
administração e os juízes, em face desse princípio, ficariam impedidos de invocar qualquer direito ou razão pública que se chocasse com a lei”.
.
2.2.1.1 A cidadania
inamovibilidade temporal8 “La ley como norma general y abstracta pressuponia una sociedad homogénea de
hombres libres e iguales. Sólo en este contexto social era posible la regulación integral de la vida jurídica con unas pocas normas
,.
(tradução livre)(MORAIS JÚNIOR, 2007, p.128)
a lei não deve ficar numa esfera puramente normativa, não pode ser apenas
lei de arbitragem, pois precisa influir na realidade social. E se a Constituição
se abre para transformações políticas, econômicas e sociais que a sociedade
brasileira requer, a lei se elevará de importância, na medida em que, sendo
fundamental expressão do direito positivo, caracteriza-se como
desdobramento necessário do conteúdo da Constituição e aí exerce função
transformadora da sociedade, impondo mudanças sociais democráticas,
ainda que possa continuar a desempenhar uma função conservadora,
garantindo a sobrevivência de valores socialmente aceitos.(MORAIS
JÚNIOR, 2007,p.129)
Dessa forma, tal como José Afonso da Silva (2003, p. 122) descreve, o Estado
democrático de direito funda-se nos seguintes princípios:
a lei não deve ficar numa esfera puramente normativa, não pode ser
apenas lei de arbitragem, pois precisa influir na realidade social. E se a
Constituição se abre para transformações políticas, econômicas e
sociais que a sociedade brasileira requer, a lei se elevará de
importância, na medida em que, sendo fundamental expressão do
direito positivo, caracteriza-se como desdobramento necessário do
conteúdo da Constituição e aí exerce função transformadora da
sociedade, impondo mudanças sociais democráticas, ainda que possa
33
2 FINALIDADE
2.1 Sobrevivência
2.1.1 Casa
2.2 Autossuficiência
2.1.2 Povoado
Neste período, o Estado, como criador da ordem jurídica, não se submetia a ela: o
poder era exercido segundo os interesses do monarca e as decisões tomadas pelo soberano
deveriam ser acatadas (eram impostas). (MORAIS JÚNIOR, 2007, p. 120)
2.2 Eudaimonia
34
2.2.1 Pólis
5
A ética aristotélica é social, e a sua política é ética. Elas estão completamente relacionadas, uma vez que na
ética o homem individual é essencialmente membro da sociedade e, na política, a virtude social do Estado é a
medida da virtude de seus cidadãos. A tarefa da ética consiste em estabelecer critérios para uma vida ordenada
dentro de uma sociedade, fundamentando esses critérios a partir dos fatos da vida, a partir da experiência. A ética
e a política possuem uma vinculação com o éthos, e a ética tem a sua particularidade na ação e não somente no
conhecimento, pois a sua finalidade é o próprio agir ético do homem em sociedade. A ética deve estabelecer uma
relação dialética entre a teoria e a prática, porque sua tarefa não é a construção de sistemas conceituais, mas de
esclarecer a ação através da qual o homem busca realizar-se. (SILVEIRA, 2000, p.2)
35
instrumental de garantia que o Estado de direito clássico (liberal) dispensa aos indivíduos
frente ao poder político. (MORAIS JÚNIOR, 2007,p.129)
Mais tarde, o referido deslocamento da soberania para as mãos do povo veio a ser
objeto de busca pelo modelo do Estado social de direito, que incorporou também o aspecto
social às constituições.(MORAIS JÚNIOR, 2007, p. 123)
desenvolvimento da sociedade. Conclui-se, em síntese, que a liberdade somente poderia ser usufruída por aquele que tivesse o mínimo de condições materiais para
contradissesse aquele majestoso sistema de idéias ou pusesse abaixo aquele esboço otimista de organização social, em que a razão humana anunciava, no plano
teórico, a obra de perfectibilidade das instituições, tudo levava a crer no triunfo dos esquemas de técnica constitucional do liberalismo. Um desses esquemas foi o
2.2.2.1 A cidadania
Deste modo, desde o século XVIII até os dias atuais, lutas populares reivindicam
a participação política tanto dos trabalhadores quanto das mulheres (CHAUI, 1997, p. 403-
404).
38
3 RESPONSABILIDADE
política. A Constituição de Weimar, com suas incertezas, permitiu, por via programática, a
primeira abertura para os direitos sociais.(MORAIS JÚNIOR, 2007,p.125)
3.1 VIRTUDE
experiência. A ética e a política possuem uma vinculação com o éthos, e a ética tem a sua
particularidade na ação e não somente no conhecimento, pois a sua finalidade é o
próprio agir ético do homem em sociedade. A ética deve estabelecer uma relação dialética
entre a teoria e a prática, porque sua tarefa não é a construção de sistemas conceituais, mas de
esclarecer a ação através da qual o homem busca realizar-se.(SILVEIRA, 2000, p.2)
Para o mestre estagirista a ação está relacionada com a verdade prática, que
envolve inteligência (alma racional) e desejo (alma sensitiva), e a verdade prática diz respeito
à razão verdadeira e ao apetite correto, pois o que aquela afirma e o que este busca são as
mesmas coisas: os meios adequados para obter a excelência moral(Ética a Nicômaco, 1130 a
23-27)
3.1.1.1 Justiça
Como foi dito ao final do capítulo 13 do livro I, há, juntamente com a alma
irracional, uma alma racional, a qual, agora, é divida em dois momentos: 1)Faculdade
científica e 2)Faculdade calculadora (1139 a 6 - 14). Os excelentes exercícios (virtudes
intelectuais) de cada uma destas faculdades são uma disposição(1139 a 15 - 17), assim
como era o caso da virtudemoral. Mas, enquanto esta se distingue da virtude intelectual pelo
fato de ser um meio-termo entre extremos, a excelência intelectual tem, por sua vez, como
obra (ergon) a verdade (aletéia) (1139 b 12). A faculdade científica tem por objeto os
princípios invariáveis, objeto da verdade teórica, enquanto a faculdade calculadora tematiza
as coisas passíveis de variação, objeto da verdade prática, (1139 a 26s).(VIEIRA, sd, p.1, §
1)
67
, inteligência, pensamento ou razão e apetite ou desejo, relativos às almas racional e
sensitiva, respectivamente: a verdade prática diz respeito à razão verdadeira e ao apetite
correto, pois o que aquela afirma e o que este busca são as mesmas coisas: os meios
adequados para obter a excelência moral (fim) (1130 a 23 – 27). O fim-alcançável-por-
este-meio e o meio-para-este-fim são as mesmas coisas afirmadas pela razão e buscadas pelo
42
[Vd. tb. Aristote. L’Éthique a Nicomaque. (Introdução, tradução e comentário de René A. Gauthier e Jean Y. Jolif). Louvain, Publications
desejo.
Universitaires, 1970, p. 446ss (Tome II, Deuxième Partie; Commentaires, Livres VI-X )].
(VIEIRA, sd, p. 1, § 2)
3.1.2.1 Sabedoria
único soberano al ser representante de la nación. Si el império de la ley era considerado la garantía máxima contra el
arbítrio y la injusticia de los governantes, una vez assentado el modelo jurídico-político burgués, asistiremos a un giro en
la realidad del Estado de derecho, que abrirá las puertas a nuevas expressiones absolutas ou totales de poder. En
definitiva, superado el poder absoluto del rey, éste fue sustituido por el de las asembleas soberanas, y, por lo tanto, al
absolutismo monárquico sucede una suerte de absolutismo legislativo o concepción obsoluta de la ley a la que queda
3.2 Educação
3.2.1 Philia
44
glauberataide.blogspot.com/2008/09/as-trs-espcies-de-amizade-em-aristteles.html
O termo philia, de onde se origina o conceito de amizade, tem uma complexidade semântica grande e ao
qual não é nosso intento se debruçar aqui. Ora o termo é traduzido por amor, de onde o sentido da palavra
filosofia por vezes entendida como amor à sabedoria, ora o termo é traduzido como amizade, de onde o
sentido da palavra filósofo por vezes entendido como um “amigo da sabedoria”. Foi nesse sentido que
Pitágoras, interpelado se se considerava um sábio, afirmou que não, mas que era um amigo (philos) da
sabedoria (sophia). “A intimidade entre amizade e filosofia é tão profunda que esta inclui o philos, o amigo,
no seu próprio nome e, como muitas vezes acontece em toda proximidade excessiva, arrisca não
conseguir distinguir-se” (AGAMBEN, 2007, p. 1).
Em sua Ética a Nicômaco, Aristóteles dedica dois livros ao estudo da philia, da amizade (livro VIII e IX),
que tem uma importância significativa para a vida humana, seja do ponto de vista existencial, ético (ARÃO,
2011) e, até mesmo, político (FEITOSA, 2013; RICKEN, 2008). Somente a amizade é capaz de
proporcionar ao homem uma relação verdadeira do homem com os outros homens (relação com a ética) e
com a comunidade à qual pertence (relação com a política).
A concepção de amizade está no centro do pensamento ético e político do filósofo grego e possui relação
direta com a virtude e a felicidade. Como virtude, a amizade suscita a benevolência, a reciprocidade e o
querer bem (ARISTÓTELES, 1999, 1155b 31-2,1156a 1-5; ARÃO, 2011). Como ressalta Gianotti (1996, p.
168):
Há, pois, na philía três traços característicos que são plenamente sublinhados na Ética a Nicômaco.
Primeiramente, requer benevolência (eunoia), querer bem o outro e, ao mesmo tempo, querer o bem para
o outro. Em seguida, esse relacionamento deve ser recíproco [...] uma amizade não seria louvável se a
benevolência não fosse recíproca. Finalmente, mesmo se o bem desejado é apenas aparente, ambos os
parceiros devem ter claro este bem querer.
A amizade é uma virtude extremamente necessária à existência humana a tal ponto que o filósofo
estagirita chegou a declarar que “ninguém deseja viver sem amigos, mesmo dispondo de todos os outros
bens” (ARISTÓTELES, 1999, 1155a). A amizade é necessária à vida dos homens e “conduz o homem à
felicidade, a eudaimonia” (BREA, 2009, p. 70).
aquela que ‘mantém as cidades unidas’ e com a qual ‘os legisladores se preocupam mais (...) do que com
a justiça (...)’”.
Mas aquilo que distingue de fato os diferentes tipos de amizade diz respeito a sua
finalidade, ao seu fim. Há amizade que visa o bem e cujos amigos se procuram porque
querem bem uns aos outros e essa é a amizade verdadeira (teleia philia), mas há amizades
cuja finalidade é o interesse e a utilidade, e outras que são o prazer e aquilo que é agradável.
Como pondera Feitosa (2013, p. 121) “Na Ética a Nicômaco Aristóteles define a amizade de
três modos: a primeira é justificada como a mais sublime, porque é o tipo de amizade que visa
somente à bondade por si mesma, ou seja, busca o bem do amigo por amor ao amigo”. E nas
palavras do próprio filósofo grego: “Essa espécie de amizade, pois, é perfeita tanto no que se
refere à duração como a outros respeitos, e nela cada um recebe de cada um a todos os
respeitos o mesmo que dá ou algo de semelhante. E é exatamente isso o que deve acontecer
entre amigos” (ARISTÓTELES, 1999, VIII, 4, 1156b, 33-35).
Na amizade por prazer e por interesse busca-se a amizade não por aquilo que ela é em
si mesma, ou seja, o amor do amigo, mas pela utilidade ou pelo prazer que ela proporciona.
Os que amam por utilidade não amam o amigo por si mesmo, mas em virtude de algum bem
que possa receber do outro. Os que amam pelo prazer não amam o amigo em si mesmo, mas
apenas pelo prazer que a amizade proporciona e que só dura enquanto dura o laço prazeroso
que a amizade proporciona. Esse tipo de amizade é comumente encontrada entre os jovens, ao
46
passo que a amizade que busca a utilidade é mais comumente encontrada entre os velhos,
comerciantes e desiguais. Fleitas (2016, p. 35) ressalta como esse tipo de amizade “é mais
fácil de ser desenvolvida entre pessoas de condições opostas” (entre uma pessoa pobre e outra
rica, por exemplo) e percebe-se “que a amizade baseada na utilidade é apropriada aos homens
com propensão para a ambição, porque preferem manter relações de trocas de interesses”.
Os dois tipos de amizade, onde a amizade existe em razão da utilidade ou do
prazer, são consideradas acidentais. No momento em que o amigo perde o encanto
proporcionado pelo prazer ou pela utilidade, a amizade acaba. A amizade baseada na utilidade
não é duradoura porque “como o que é útil não é permanente, desaparecendo a utilidade
desaparece também a amizade” (GOMES, 2010, p. 109). Fleitas (2016, p. 36) reforça a
contingência da amizade baseada na utilidade: “os que são amigos por causa da utilidade
separam-se quando cessa a vantagem, porque não amam um ao outro, mas apenas o que pode
ser vantajoso”. No que concerne a amizade por prazer
nota-se que nos homens os prazeres mudam de acordo com a etapa
e/ou circunstâncias de vida e, deste modo, a continuidade destas
amizades estão diretamente relacionadas a essa mutabilidade. Sendo,
portanto, que a continuidade da amizade fundada no prazer dependerá
da existência, ou não, das satisfações recíprocas que deram origem à
vinculação (FLEITAS, 2016, p. 37).
Por isso a amizade que se baseia no prazer é tão contingente quanto a que se
baseia na utilidade e a continuidade da amizade que se baseia no prazer depende da
permanência do objeto prazeroso ou de que haja prazer recíproco entre os amigos. E nas
palavras do próprio Aristóteles: “Sendo assim, as amizades deste tipo são apenas acidentais,
pois não é por ser quem ela é que a pessoa é amada, mas por proporcionar à outra algum
proveito ou prazer” (ARISTÓTELES, 1999, VIII, 3, 1156a 15-17). E no capítulo IX o
filósofo também afirma:
Talvez possamos dizer que nada há de estranho em romper uma
amizade baseada no interesse ou no prazer quando nossos amigos já
não possuem os atributos de serem úteis ou agradáveis; na realidade
éramos amigos desses atributos, e quando eles desparecem é razoável
não continuar amando (ARISTÓTELES, 1999, IX, 3, 1165b).
Só a amizade perfeita é considerada essencial e não acidental e não exclui nem a
utilidade e nem o prazer, pois o que é bom também é útil e prazeroso. Como destaca Sousa
47
(2014, p. 14): os homens que não são virtuosos só podem estabelecer relações de amizade
pautadas no interesse ou no prazer; e os homens que são virtuosos “podem estabelecer
relações de amizade em função do prazer ou da utilidade, da mesma forma que o fazem
aqueles que não são virtuosos”.
É nesse sentido que Aristóteles estabelece uma clara relação entre a amizade e a ética,
já que a amizade perfeita possui uma clara função moral e deve inspirar ações virtuosas.
Reforçando essa vinculação entre a ética e amizade Fleitas (2016, p. 39) afirma: “Os homens
bons o são de forma absoluta por serem virtuosos e a virtude é um hábito, de tal modo que o
homem bom deseja o bem tanto para si mesmo quanto para seu amigo em uma relação
permanente”.
A amizade verdadeira (teleia philia) é ainda enriquecida pela natureza dos dois outros
tipos de amizade, ou seja, a utilidade e o prazer, como afirma Aristóteles. “A amizade por
prazer tem alguma semelhança com esta espécie, pois pessoas boas também são
reciprocamente agradáveis. Acontece o mesmo em relação à amizade por interesse, pois as
pessoas boas também são reciprocamente úteis” (ARISTÓTELES, 1999, VIII, 4, 1157a 4-7).
O fato de querer bem ao amigo em si mesmo não exclui o prazer e a utilidade que uma
amizade pode proporcionar.
Aristóteles ainda teoriza sobre a amizade em cada etapa da vida dos indivíduos, onde a
mesma assume uma função específica em cada faixa etária: a amizade tem a função de evitar
que os jovens possam enveredar pelo caminho do erro, na maturidade inspirar atos nobres e
na velhice um meio de amparo para as carências que a mesma nos traz.
Referências Bibliográficas
AGAMBEN, Giorgio. O amigo. Cadernos de leitura, n. 10. Acesso em 05/09/2017. Texto realizado a partir do
original L’amico (Roma: Nottetempo, 2007).
ARÃO, Douglas J. Da Felicidade à Amizade: percursos éticos. Sapere Aude, Belo Horizonte, v. 2, n. 4, p. 89-
94, 2011. Acesso em 05/09/2017.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. Mário da Gama Kury. 3 ed. Brasília: Editora Universidade de
Brasília, 1999.
BALDINI, M. Amizade & Filósofos. Trad. Antônio Angonese e Laureano Pelegrini. Bauru: Editora do Sagrado
Coração, 2000.
BREA, Gerson. Amizade e comunicação: aproximações entre Karl Jaspers e Aristóteles. Revista Archai,
Brasília, n. 03, pp. 69-79, jul. 2009. Acesso em 02/09/2017.
FEITOSA, Zoraida M. L. A influência da amizade nas constituições políticas em Aristóteles. Prometeus, ano 6,
n. 11, p. 119-128, jan./jun., 2013. Acesso em 02/09/2017.
48
3.2.2 Mochteria
Considerações Finais
Bibliografia
49
Evandro Barbosa; Thaís Christina Alves Costa – Pelotas: NEPFIL online, 2015. 111p. –
(Série Dissertatio-Incipiens)
Introdução
(16)
[...]
(16)
[...]
[...]
50
(17)
[...]
Por isso, a filosofia não pode ser confundida com empilhar dados, datas,nomes e
ideias sem que se reflita sobre elas. Estudara história da filosofia é um elemento
primordial para o bom exercício filosófico, pois, sem esta base , dificilmente
conseguiríamos refletir os seus conteúdos (já que os principais problemas da filosofia
parecem acompanhá-la desde sempre). Poré m,este é apenas um elemento que compõe o
cenário filosófico, sendo necessário refletir sobre tais ideias
(18)
mais do que repeti- las. De forma resumida, podemos indicar ao estudante de filosofia que:
i. Fique atento ao modo comoo mundo se apresenta a nós por meios de objetos,
fenômenos e fatos, pois o filosofar não permite que nos distanciemos da matéria prima
de no ssas reflexões;
ii. Reflita sobre a experiência vivenciada, pois seu meditar indicao nível de atenção que a
re alidade desperta em você e o nível de pro fundidade desta reflexão, uma vez que as
perguntas filosóficas estão na base racional de nossas argumentações (como vimos, se o
historiador quer compreender determinado fato no tempo, nossa questão é anterior a
ela quando nos perguntamos sobre a possibilidade do próprio tempo);
v. Filosofar é uma atividade individual na maior parte do tempo, o que não implica se
isolar do mundo, já que filos ofia não é fuga da realidade, mas uma reflexão mais profunda
acerca da mesma;
vi. Chegamos à filosofia através da leitura; nada a substitui enquanto possibilidade de revelar
dimensões de profundidade da experiência humana. Por isso, a escolha adequada do material
de estudoé tão importante para o estudante de filosofia.
[...]
(19)
51
[...] sua pr ática é ú til para t odas as id ades, todos os sexos e para
todas as condições sociais; ela nos consola da felicidade do
outro, de nossos fracassos, do declínio de noss as f ormas ou de
nossa beleza; ela nos arma contra a pobreza, a ve lhice, a
doença, a mor te, contra os ig norantes e as pessoas maliciosas
(LA BRUYÈRE apud MARCOND ES, 2011, p.15).
[...]
(20)
[...]
52
Afilosofia tem essa capacidade criadora, mas a atitude filosófica precisa, antes de tudo,
ser negativa. Negativano sentido de não se comprometer de antemão com qualquer pré-
conceito ou pré-juízo que se apresente a ele como um todo mundo sabe que é assim
que as coisas são. Énesse se ntido que Deleuze e Guattari falam que os conceitos são c
onstruídos a partir de uma interrogação sobre situação, objetos, fatos e valores e que,
por isso, os filósofos não podem se contentar e aceitar os conceitos que lhes são
dados se m questionamento. Aatitude filosófica positiva se dá quando admitimos a
necessidade de conhecer mel hor o mundo como fez Sócrates ao afirmar “Sei que
nada sei!”, pois essa atitude desvela que os conceitos não surgem de forma miraculosa,
mas da desconfiança filosófica do que parece dado. Oresultado é admiração e espanto
frente ao mundo quando nos distanciamos do mesmo e, através de nossa habilidade de
raciocínio, percebemo-lo a partir de conceitos.
(22)
[...]
(23)
(24)
1776, com a luta pela independência. [...] As idéias políticas liberais tem como pano de fundo a luta contra as monarquias absolutistas por direito divino dos reis,
derivadas da concepção teocrática de poder. O liberalismo consolida-se com os acontecimentos de 1789, na França, isto é, a Revolução Francesa, que derrubou o
Antigo Regime”.
1
Hedonismo
A ambigüidade do conceito de prazer permitiu agrupar, sob a classificação geral de hedonismo, várias
linhas filosóficas claramente distintas. Hedonismo é definido como a doutrina que considera o prazer
(hedoné em grego) o objetivo supremo da vida. Apareceu muito cedo na história da filosofia, em duas
modalidades: a primeira toma o prazer como critério das ações humanas; a segunda considera o prazer
como único valor supremo. [...]Como fundamento do comportamento humano, o hedonismo esteve
sempre presente na história do pensamento.Foi incorporado à filosofia dos empiristas britânicos
Thomas Hobbes, John Locke e David Hume, ainda que de forma matizada. O também britânico Jeremy
Bentham, criador do hedonismo moderno ou utilitarismo, foi mais radical e pregou "a maior felicidade
para o maior número". Mas quase todos os grandes filósofos, como Platão, Aristóteles, Kant e Hegel se
opuseram frontalmente às teses hedonistas. Disponível em:
http://www.estudantedefilosofia.com.br/doutrinas/hedonismo.php. Acesso em 01.09.2018.