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OS IMPACTOS DO TURISMO NO MUNICÍPIO DE SANTO AMARO, ANTES DEPOIS DA

ESTRADA MA-320

Michelle Santos Rocha1


Itaan de Jesus Pastor Santos2

RESUMO: O presente artigo é fruto da parte inicial da


dissertação de mestrado da autora, desenvolvido através de
pesquisas bibliográficas e entrevistas não estruturadas. O
trabalho propõe-se a analisar os impactos provocados pelo
turismo no município de Santo Amaro - MA, antes e depois da
construção da estrada MA-320, de modo particular, avaliando a
percepção de cada ator social em relação ao seu próprio papel
no processo de implementação da atividade turística naquele
município. Nesse contexto, esse estudo finaliza com
considerações preliminares acerca desta temática.
Palavras-chave: Turismo. Desenvolvimento. Impactos. Santo
Amaro-MA.

ABSTRACT: This article is the result of the initial part of the


master's thesis, developed through bibliographical research and
unstructured interviews. This paper aims to analyze the impacts
of tourism in the municipality of Santo Amaro-AM, before and
after the construction of the MA-320 road, in particular, to
evaluate the perception of each social actor in relation to their
own role in the process of construction of tourist activity in this
region. In this context, this study concludes with preliminary
considerations on this theme.
Keywords: Tourism. Development. Impacts. Santo Amaro-MA.

1 INTRODUÇÃO

O estudo dos impactos do turismo nem sempre é ponderado na pauta das questões
políticas brasileiras e nas formulações de políticas públicas, expatriando a fundamental
importância que o assunto tem na formação socioespacial como produto de relações sociais
no país (SOUZA, 1996). Este trabalho faz parte da primeira etapa da dissertação da autora
no mestrado do Programa de Desenvolvimento Socioespacial e Regional da Universidade
Estadual do Maranhão. A dissertação tem como objetivo analisar os impactos causados pelo
desenvolvimento do turismo no município de Santo Amaro do Maranhão, fazendo um
comparativo do antes e depois da instalação da estrada MA-320, estudando suas
1 Turismóloga. Mestranda em Desenvolvimento Socioespacial e Regional pela Universidade Estadual
do Maranhão. E-mail: mimi.slz@hotmail.com
2 Professor e Orientador. Universidade Estadual do Maranhão. Doutor em Agronomia pela

Universidade Técnica de Lisboa. E-mail: itaanps@gmail.com


transformações socioespaciais e culturais e como isso está impactando nas relações sociais
das populações locais. O interesse em compreender a percepção de cada ator social do
desenvolvimento do turismo nesta região em relação ao seu próprio papel no processo de
construção dessa atividade reflete na relevância social, política, cultural, econômica e
ambiental. Inicia fazendo uma abordagem sobre a atividade do turismo, quanto a sua
importância, seu desenvolvimento, seus impactos e sua significativa incidência na
(re)produção, transformação e organização do espaço. Prossegue dissertando sobre o
município de Santo Amaro e a relação que este tem com o turismo buscando entender se os
discursos sobre o desenvolvimento alcançam a realidade social concreta em seus
movimentos e relações. E por fim, as considerações parciais obtidas neste primeiro
momento, seguida das referências bibliográficas.

2 A IMPORTÂNCIA DO TURISMO

O turismo por bem estar (lazer) e por interesses religiosos, culturais e sociais tem
sido um dos setores mais impulsionados pela economia mundial. Atualmente é responsável
por um em cada cinco empregos gerados no mundo na última década, o que representa
10,4% do PIB mundial. Em termos absolutos, o Brasil é a 11ª economia do turismo no
mundo, e representa uma fatia importante do setor, segundo pesquisa da World Travel &
Tourism Council (WTTC, 2017). De acordo com esses estudos, o turismo injetou US$ 163
bilhões na economia brasileira em 2017, o correspondente a 7,9% do Produto Interno Bruto
(PIB).
Em 2003, um fato significativo para o turismo brasileiro foi a criação do Ministério do
Turismo. O Plano Nacional de Turismo (PNT) estruturado em diretrizes, metas e programas,
passa a ser o principal instrumento de planejamento para o setor. Outro fator considerável
foi a instalação da Câmara Temática de Regionalização, gerando os primeiros debates em
reuniões da Confederação Nacional do Turismo (CNTUR), com ênfase nas escalas
espaciais: descentralização da gestão e dinamização da economia regional (MTUR, 2015).
Nesse contexto, foi lançado o Programa de Regionalização do Turismo (PRT) – Roteiros do
Brasil, na Confederação Nacional do Comércio (CNC) em Brasília, destinado a ser um
instrumento de política pública coordenada e integrada.

“[...] a flexibilidade, articulação, mobilização, cooperação intersetorial e


interinstitucional e sinergia de decisões (...), compreendendo-se como
regionalização a organização de um espaço geográfico em regiões para fins
de planejamento, gestão e promoção e comercialização integrada e
compartilhada da atividade turística. ” (BENI, 2006, p.30)
O compromisso de regionalizar o turismo se fortaleceu e se transformou na política
macro de desenvolvimento do turismo (BRASIL, 2015). No Maranhão, o turismo cresceu
gradativamente a partir da adoção dessas medidas institucionais. Em 1999, foi criado o
Plano de Desenvolvimento Integral do Turismo do Maranhão (Plano Maior) que dividiu o
estado em pólos turísticos (MARANHÃO, 2002), com 53 cidades no mapa do turismo
brasileiro distribuídos em 10 pólos (MTUR, 2017). Os três principais destinos: Pólo de São
Luís, Chapada das Mesas e Lençóis Maranhenses.
Segundo o Governo do Estado do Maranhão (2017), o turismo tem sido uma
importante fonte de renda para o estado. A taxa de ocupação hoteleira maranhense, no
decorrer do mês de julho de 2017, foi a melhor dos últimos cinco anos. O resultado
confronta com a redução média de 30% observada no turismo nacional no mesmo período.
Em São Luís, 69% das vagas hoteleiras foram preenchidas. Carolina, na região da Chapada
das Mesas, obteve 78% de taxa de ocupação nesse setor. Já em Barreirinhas, principal
destino indutor do turismo dos Lençóis/Munim, essa taxa alcançou 90% aos fins de semana
e 73% nos demais dias. Diante desses dados, a atividade mostra o aquecimento da
economia do Maranhão.
Deste modo, o turismo é uma dinâmica que foi estabelecendo a ocupação do
espaço, remodelando os lugares e promovendo transformações na essência e na vida
cotidiana das pessoas. É uma atividade que tem seu espaço como objetivo, sendo este a
sua matéria-prima e ao mesmo tempo que ela é produto e produtor de espaço, vai se
apossando dos lugares, infundindo-lhes outras ações e novos usos às práticas já existentes.
Ao se apoderar de um espaço, o turismo não aprecia somente a paisagem, mas tudo o que
vem a compor este espaço. É uma das esferas socioeconômicas que avançam os
processos de urbanização e funcionam como elementos de difusão e disseminação cultural.
O espaço proposto é aquele referenciado por Milton Santos:

“O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e, também,


contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não consideradas
isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá. (...)
Sistemas de objetos e sistema de ações interagem. De um lado, os sistemas
de objetos condicionam a forma como se dão as ações e, de outro lado, o
sistema de ações leva à criação de objetos novos ou se realiza sobre objetos
preexistentes. É assim que o espaço encontra a sua dinâmica e se
transforma. ” (SANTOS, 1996, p.51)

Os efeitos econômicos turísticos propiciam implicações sociais nítidas, pois geram


a criação de empregos, redistribuição de renda, efeitos multiplicadores e outros. No entanto,
também implicam nos valores sociais e culturais do homem, acarretando impactos positivos
e/ou negativos que advém de diversos fatores. Para definir se estes fatores são favoráveis
ou não, Mathieson e Wall citam:

“[...] a natureza dos equipamentos e de recursos, e sua atratividade para os


turistas. O volume e a intensidade dos gastos dos turistas nas destinações, o
nível de desenvolvimento econômico e a base econômica da destinação, o
grau de distribuição e de circulação das despesas realizadas pelos turistas na
destinação e o grau de adaptação do local à sazonalidade da demanda
turística é um fator de fortalecimento dessa atividade com todos os
desdobramentos que ela produz”. (apud Ruschamann, 1997; p.42)

Isto é, com o crescimento diário do turismo, estes impactos ocorrem por onde ele
se desenvolve. Seus efeitos negativos podem levar à descaracterização das tradições e
costumes das comunidades receptoras, à ostentação de tempo e dinheiro, aumento do
custo de vida, ao surgimento e/ou intensificação da criminalidade e da prostituição,
crescimento urbano desordenado, poluição e destruição do meio ambiente, entre outros. Os
atrativos como a cultura, belezas naturais, índices socioeconômicos e infraestrutura podem
motivar ou não o fluxo de turistas. Então, é necessário planejar e investir em cada espaço
que se pretende fixar a atividade, a fim de minimizar os impactos negativos e maximizar os
impactos positivos.

“[...] o desenvolvimento do turismo tem passado por transformações


conceituais para dar conta dos preceitos sustentáveis do desenvolvimento.
Por essa razão, entre outras, o papel do planejamento turístico na
minimização de efeitos negativos e potencialização dos efeitos positivos
torna-se preponderante. Os impactos negativos têm sido constantemente
associados muito mais à falta ou inadequação de planejamento do que às
atividades turísticas propriamente ditas. Conhecer e estabelecer relações
entre o desenvolvimento desta atividade e o desenvolvimento histórico da
humanidade é importante para a elaboração de um planejamento turístico
sustentável. ” (CARVALHO, 2007)

Observamos a importância do turismo para uma localidade levando em consideração


as transformações socioespaciais e culturais que esta atividade promove e como impacta
nas relações sociais das populações locais.

2.1 A HISTÓRIA DE SANTO AMARO E SUA RELAÇÃO COM O TURISMO

O Município de Santo Amaro foi criado em 1997, localiza-se a 225 km da capital do


Maranhão. Tem sua história iniciada com a chegada dos jesuítas provenientes de Tutóia,
que foram expulsos pela prática de grilagem. Estes se fixaram nas restingas e dunas e
permaneceram até a morte do jesuíta mais antigo, chamado Amaro. Assim, em sua
homenagem, a região foi denominada de Santo Amaro. Com o desmembramento do
município de Primeira Cruz, o povoado de Santo Amaro foi elevado à categoria de município
pela Lei Estadual nº 6.197 de 10 de novembro de 1994. Os habitantes são chamados de
santo amarenses. O município se expande por 1.601,2 km2 e até o último censo, estimada
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), tinha 13.820 habitantes.
Sua população estimada em 2018 é de 15.654 (IBGE). Santo Amaro do Maranhão limita-se
ao Norte com o Oceano Atlântico; a Leste com o município de Barreirinhas; a Oeste com o
município de Primeira Cruz e ao Sul com o município de Barreirinhas. Suas principais
atividades econômicas são de subsistência nas áreas de pesca, de agricultura e de criação
de animais. Conforme o Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos
(IMESC, 2015), o Índice de Desenvolvimento Humano (IDHM) - Santo Amaro do Maranhão
é 0,518, em 2010, o que situa esse município na faixa de Desenvolvimento Humano Baixo
(IDHM entre 0,500 e 0,599). O Instituto ainda afirma que a dimensão que mais contribui para
o IDHM do município é Longevidade, com índice de 0,738, seguida de Renda, com índice de
0,454, e de Educação, com índice de 0,416. Santo Amaro do Maranhão ocupa a 5467ª
posição entre os 5.565 municípios brasileiros segundo o IDHM (PNUD, Ipea e FJP).
Atualmente, o turismo retrata uma vigorosa forma de ocupação dos trabalhadores locais.
Santo Amaro está insertado dentro do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses (PNLM),
criado em junho de 1981 pelo Decreto Lei 86.060. Esse é um ecossistema que configura
uma beleza natural ímpar formada por dunas, lagoas, rios, oceano e vegetação, somado a
uma rica história e diversidade cultural. Parte do munícipio se encontra na área de
amortecimento do parque, onde aproximadamente 700 famílias moram no interior e no
entorno dessa unidade de conservação. Esta região desfruta de área com consideráveis
recursos hídricos e reservatórios naturais como o Lago de Santo Amaro, com uma extensão
de quase 100 km², e o Rio Grande, também conhecido como Rio Alegre, com uma área de
72 km.
Essas características se tornaram “a menina dos olhos” para o turismo. Em 2001,
com o asfaltamento da MA 402, esta região é inserida no circuito turístico, onde os principais
investimentos se deram nos municípios de Barreirinhas e Santo Amaro. Houve toda uma
dinâmica para promover esta atividade nesses locais, sendo Barreirinhas, pela facilidade do
acesso, o principal portal de entrada para o Parque dos Lençóis. A mídia foi a principal
indutora deste turismo, a beleza dos Lençóis Maranhenses foi contemplada pelo mundo
através dos cenários das novelas e filmes. E desde então, o fluxo de visitantes só aumenta
nestas localidades.
O principal acesso para o PNLM até 2017, era feito pelo município de Barreirinhas,
que possui maior infraestrutura turística e urbana. O turismo desenvolvido neste município
acabou deixando a população local às margens da atividade. Já em Santo Amaro, o fluxo de
turismo aconteceu de forma menos intensa devido ao difícil acesso para se chegar na sede.
Diante dos relatos de Araújo, Sousa e Feitosa (2005), o acesso ao município de Santo
Amaro do Maranhão exigia a superação de desafios, percorrendo-se uma estrada não
pavimentada com 38 km de extensão onde só passavam carros tracionados. Por conta
disso, o turismo lá não configurou impactos sociais e ambientais de alta magnitude como em
Barreirinhas, visto que parte da população está integrada ao processo da atividade turística,
mas também não está alheia às potencialidades naturais da localidade, sendo importante a
sua participação nesse processo. De acordo com Noronha e Araújo (2017), o município de
Santo Amaro, adotou a atividade turística como uma alternativa viável para o
desenvolvimento socioeconômico para sua população, priorizando ações de inclusão social
com o turismo de base comunitária, por meio de programas e de projetos que envolvem,
especialmente, moradores locais, objetivando obter benefícios econômicos e sociais.
Entretanto, a vida daquela pacata cidade não deixou de ser movimentada e transformada
pelo dinamismo do turismo. O espaço geográfico vai sendo esculpido por uma nova
abordagem, construindo-se e interligando-se por redes de serviços, dos mais diversos tipos
e subtipos, como as redes de transportes, as digitais, as urbanas, entre outros. De acordo
com Milton Santos (2006), podemos entender “as redes geográficas como um conjunto de
locais da superfície terrestre conectados ou interligados entre si”. Essas conexões podem
ser materiais, digitais e culturais, além de envolver o fluxo de informações, mercadorias,
conhecimentos, valores culturais e morais, entre outros. Mas, diversos são os segmentos de
turismos neste município, que já conta com uma considerável estrutura de serviço tais como
pousadas, restaurantes, farmácias, bancos, agência de turismo, prestadores de serviços
credenciados (veículos 4x4) junto ao ICMbio e a secretaria Municipal de Turismo para
operar no parque e outros.
O turismo em Santo Amaro foi promovido com o discurso de desenvolvimento
econômico, geração de emprego e renda, de preservação ambiental, de melhoria e
qualidade de vida, desenvolvimento regional e da infraestrutura. Entretanto, esta atividade
congrega impactos significativos, positivos e negativos, em função do seu desenvolvimento.
Ao mesmo tempo em que pode ser uma alternativa socioeconômica produzindo postos de
trabalho e renda, muitas vezes de forma aleatória e acentuada principalmente nas pequenas
comunidades, onde a esperança é exaltada quanto a melhores condições de vida, ela
germina uma gama de impactos sociais, culturais e ambientais. Os moradores podem ser
vítimas dos efeitos do turismo com alguns impactos negativos como o aumento
desordenado de turistas, o descontentamento e frustação, o alto custo de vida,
desigualdade de renda, transformações na cultura e identidade local, especulação
imobiliária, exploração sexual e de agressões naturais. Rodrigues (1997) afirma que
considerar a atividade turística como sustentável ou como integrante da possibilidade do
desenvolvimento sustentável é apenas desviar os termos da questão sem analisar a
complexidade de uma atividade econômica que tem por base o consumo de paisagens
naturais exóticas ou a história passada. Ruschmann (1997) registra que o turismo pode
causar diferentes impactos, tais como econômicos, sociais, culturais e sobre o meio
ambiente natural e afirma que eles podem dar-se de forma positiva ou negativa, ou seja,
podem trazer benefícios e prejuízos.
Em junho de 2018, o turismo santo amarense foi dinamizado com a inauguração da
rodovia MA 320, que alcança as proximidades da sede do município a partir da BR 402 à
altura do povoado Pedras, num total de três horas da capital São Luís até Santo Amaro e
que se tornou uma outra entrada ao Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. A
demanda turística a partir desse período, mostra um aumento significativo nos feriados e
fins de semana na sede do município. E como já foi dito, a comunidade não está alheia às
potencialidades turísticas da localidade, sendo importante a sua participação nesse
processo, pois suas relações sociais e costumes são reveladas para o mundo. Os atores do
desenvolvimento do turismo (governo, mercado e sociedade civil) são responsáveis por
cada impacto gerado e vítimas das consequências benéficas e maléficas deste.
O que se salienta é a hipótese de expansão dos empreendimentos turísticos para a
área do município, o que, seguindo o ritmo do que já aconteceu em Barreirinhas, pode
ocasionar mudança na cultura local, especulação imobiliária, exclusão social da população
local, bem como na degradação ambiental. Formata-se um discurso contraditório em relação
ao desenvolvimento e sustentabilidade das comunidades locais e suas identidades
socioculturais.
Esse aspecto é o que justifica o interesse em investigar os impactos (positivos e
negativos) causados pelas atividades turísticas desenvolvidas em Santo Amaro e como a
comunidade local e os demais atores sociais está experenciando esse momento.
As questões centrais da pesquisa em curso, giram em torno das seguintes
problemáticas: Que tipo de transformação o turismo desenvolvido em Santo Amaro acarreta
para a comunidade? Como esta se relaciona com as mudanças promovidas pelas atividades
turísticas, e qual a sua perspectiva sobre o seu futuro? A comunidade está satisfeita ou
insatisfeita com o turismo que ocorre em sua região? O desenvolvimento do turismo nesta
região está de fato contribuindo para uma melhor qualidade de vida da comunidade? Como
os atores sociais do turismo deste local interpretam o turismo antes e depois da chegada da
estrada MA 320?
A metodologia está pautada por duas grandes discussões, onde inicialmente aborda
o turismo quanto ao seu histórico, tipologia, sustentabilidade e impactos e a outra discussão
verifica a construção da realidade, englobando os atores sociais e suas instituições,
buscando a compreensão de como estes percebem o desenvolvimento do turismo. Para
averiguar a transformação socioespacial ocorrida na cidade e suas consequências no
campo econômico, social, cultural e ambiental e compreender se os discursos sobre o
desenvolvimento alcançam a realidade social concreta em seus movimentos e relações, a
construção deste trabalho desenvolveu neste estudo inicial, o levantamento bibliográfico de
livros, teses, dissertações e artigos científicos, além de aplicar entrevistas não estruturadas
com o Núcleo de Extensão e Desenvolvimento da UEMA (LABEX), uma equipe do curso de
Turismo da UFMA e com a Secretaria de Turismo de Santo Amaro.
O LABEX, em 10 anos de existência, tem uma vasta experiência em extensão
universitária e extensão rural e uma forte atuação no município de Santo Amaro.
Desenvolve atualmente o projeto “Comunidade de Referência em Produção Agroecológica:
uma alternativa para a melhoria da qualidade de vida da sociedade rural de Santo Amaro do
Maranhão”, onde tem o turismo de base comunitária como uma das referências no conceito
de desenvolvimento da região. Este segmento do turismo é desenvolvido pelos próprios
moradores locais, no qual articulam atividades, operações e empreendimentos em uma
comunidade que recebe diversos perfis de turistas. É importante relatar, que representantes
do povoado de Satuba, em Santo Amaro, procuraram pela equipe do LABEX solicitando que
um trabalho fosse feito para desenvolver o turismo em sua localidade. Fica claro o desejo
dessa comunidade em fazer parte do processo da atividade do turismo.
Essa mesma postura adota a equipe do curso de turismo da UFMA através do
projeto “Turismo de base comunitária e desenvolvimento local: estratégias e desafios para o
fortalecimento do município de Santo Amaro”. As atividades foram executadas nas regiões
de Satuba, Buritizal e Lavado e feitos estudos preliminares sobre as atividades voltadas
para o turismo nos setores da hospedagem, rede café, gastronomia regional e no
entretenimento. A equipe afirma que as comunidades de Betânia, Travosa, Espigão já
desenvolvem um turismo comunitário e o principal objetivo é organizar e prepará-las para
receber os turistas, de modo mais sustentável.
A Secretaria de Turismo de Santo Amaro também mostra desenvolver o turismo
adotando ações de inclusão social com o turismo de base comunitária, por meio de
programas e de projetos. Entretanto, também incentiva o turismo tradicional, de massa,
vinculado à consolidação do capitalismo, contrariando a preocupação com a relação social,
cultural, ambiental e econômica das comunidades envolvidas. Observa-se então, dois tipos
de turismo que geram efeitos diferentes assim como seus impactos.

3 CONCLUSÃO

Os resultados obtidos até o momento levam a perceber como a atividade turística é


dinâmica e obtém no espaço, seu principal objeto de consumo. Aciona na sua (re)produção
provocando a reconfiguração social, cultural e espacial das localidades. Diante disso, fica
expressa a necessidade de aprofundar a análise dos seus impactos e a sua compreensão
para o estímulo da atividade turística a partir da percepção de cada ator social que está
inserido neste processo.
Observa-se que os santo amarenses possuem uma expectativa de melhor
qualidade de vida quando demonstram o interesse em fazer parte das atividades do turismo
desenvolvidas em seu município, quando se permitem participar de projetos de turismo de
base comunitária.
Tais descobertas motivam a continuidade da pesquisa que pretende conhecer
melhor a atividade turística desenvolvida na cidade de Santo Amaro do Maranhão. Devemos
considerar que a dinâmica desta análise envolve o debate atual dos territórios no Maranhão,
assim como cruza a temática turismo com outras como a produção agrícola, cultura popular,
geração de renda, desenvolvimento regional e políticas públicas.
Dessa forma, a concretização deste trabalho se afirmará na produção do
conhecimento contribuindo para formulação e debate crítico de futuros estudos que
envolvam estas temáticas.

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