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CENTRO DE HUMANIDADES
DIRETOR: WALDECI FERREIRA CHAGAS
DIRETOR ADJUNTO: FRANCISCO FÁBIO DANTAS
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO:
CHEFIA: IVONILDES DA SILVA FONSECA
CHEFIA ADJUNTA: RITA DE CÁSSIA DA ROCHA CAVALCANTE
COMITÊ INSTITUCIONAL
Guarabira -2016
PB
Espaço da ficha técnica
Dedicatória
APRESENTAÇÃO 05
A INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS NO PORTUGUÊS
BRASILEIRO: uma perspectiva ecolinguística 07
Marta Furtado da Costa
EDUCAÇÃO ÉTNICO-RACIAL E INTERMÍDIAS
Carlos Adriano Ferreira de Lima 13
Daniel Torquato Fonseca de Lima
APRESENTAÇÃO
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O Projeto A cor da cultura é um projeto educativo de valorização da cultura
afro-brasileira, fruto de uma parceria entre o Canal Futura, a Petrobras, o Cidan - Centro
de Informação e Documentação do Artista Negro, o MEC, a Fundação Palmares, a TV
Globo e a Seppir - Secretaria de políticas de promoção da igualdade racial.
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Desvendando a ecolinguística
A obra começa apresentando a história de uma pequena cidade no interior dos Estados
Unidos, onde todos pareciam viver em harmonia com o meio ambiente. Até que,
subitamente, uma doença estranha se espalha pelas plantas e muda a paisagem do lugar.
A tônica do livro Silent Spring é descrever diversas situações fictícias, que certamente
poderiam acontecer em qualquer lugar do mundo. Chamando a atenção para a
contaminação do meio ambiente, pelo uso de pesticidas, inseticidas e agrotóxicos e os
impactos ambientais, sociais e econômicos causados por esse processo.
Aos poucos, as mais variadas áreas do conhecimento passaram a incorporar a
consciência ecológica ao arcabouço de suas disciplinas. Surge a ecologia urbana,
proposta por Robert Park e Ernest Burgess, a sociologia ambiental de Riley E. Dunlap e
William R. Catton e a psicologia ambiental ou ecopsicologia, apresentada Günther &
Rosestraten (COUTO, 2013). Neste caminho, os estudos linguísticos também começam
a desenvolver um olhar voltado a esta consciência ambiental. Haugen (1972) em seu
livro The ecology of language, apresentou a definição que norteou a ecolinguística no
campo da linguagem. Para o autor, a ecologia da língua ou ecologia linguística é o
estudo das interações entre qualquer língua e seu meio ambiente. Segundo Haugen
(1972: 325) “o verdadeiro meio ambiente da língua é a sociedade que a usa como um de
seus códigos”.
Couto (2013: 279), faz uma crítica à definição de Haugen (1972), uma vez que a
partir dela é possível entender a língua como uma "coisa" que se relaciona com o meio
ambiente. Diante disto, o autor conceitua a ecolinguística "como sendo o estudo das
interações verbais que se dão no interior do ecossistema linguístico". Para definir
ecossistema é preciso recorrer à biologia. O ecossistema é um conjunto de seres vivos
(biocenose) que interagem entre si e com o meio (biótipo). A união entre biótipo,
biocenose e as inter-relações dos organismos desse conjunto, forma o ecossistema.
Para compreender um ecossistema linguístico é preciso levar em consideração
três variáveis: língua (L), que é um conjunto de códigos verbais ou não verbais através
dos quais os membros de um grupo se comunicam, território (T) e população (P).
Pensar na perspectiva ecolinguística nos leva a considerar o conceito de meio ambiente
e tudo que está intrínseco a ele.
O período que compreende o século XVI até o século XIX, foi marcado pela
chegada de cerca de cinco milhões de africanos escravizados, trazidos da África
subsaariana para o Brasil, aportando nos estados de Pernambuco, Bahia e Rio de
Janeiro. Estas pessoas eram trazidas da região banto e da região sudanesa. É possível
ver na fígura 1 o local de origem, assim como o destino dos negros trazidos da África. A
região banto faz parte de um conjunto de 300 línguas, faladas em 21 países. As línguas
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sudanesas mais importantes foram os iorubás e os povos de línguas do grupo ewe - fon
(CASTRO, 2015).
Algumas considerações
ALMEIDA, Maria Inez Couto de. Cultura Iorubá: costumes e tradições. Rio de
Janeiro: Dialogarts, 2006.
BONVINI, Emílio. Línguas africanas e português falado no Brasil. In: FIORIN, José
Luiz; PETTER, Margarida (Org.). África no Brasil: a formação da língua portuguesa.
São Paulo: Contexto, 2008.
CASTRO, Yeda Pessoa de. A influência das línguas africanas no português brasileiro.
Disponível em <http://www.educacao.salvador.ba.gov.br/documentos/linguas-
africanas.pdf>. Acesso em 10 maio de 2014.
COUTO, Hildo Honório do. O que vem a ser ecolinguística, afinal? In: Cadernos de
Linguagem e Sociedade, 14 (1), 2013, p. 275-313.
_______. Ecolinguística: estudo das relações entre língua e meio ambiente. Brasília:
Thesaurus Editora, 2007.
HAUGEN, Einar. The ecology of language. Stanford: Stanford University Press, 1972,
p. 325-339.
INTRODUÇÃO
mídia nem suas interrelações, ao contrário, torna mais amplo seu pensar e devir. Uma
chave de leitura possível para o intertexto é a seguinte:
a percepção, pelo leitor, da relação entre uma obra e outras que a tenham precedido
ou sucedido. Esta definição, de fato, corresponde à denominação mais geral de
Genette para a transtextualidade e encontra-se, segundo seu autor, restrita ao terreno
da literatura. Sua identificação é motivada por traços particulares, e não pela
existência de uma heterogeneidade constitutiva geral. (RIFATERRE apud
GENETTE, 1997, p. 2)
Claus Clüver ao pesquisar as relações entre as artes opta pelo termo interartes.
No primeiro momento focando na abordagem semiótica propõe em suas reflexões
problematizar as questões de intertextualidade, representação, transposição
intersemiótica – em outros autores, como Julio Plaza, conhecidas como traduções – o
leitor no processo de percepção da obra.
É necessário em um primeiro momento diferenciar os termos “Mídia”, “Meio” e
“Media”. A diferença também e para além de uma questão fonética e regional, visto que
a palavra media (latim) ao ser pronunciado em inglês ficaria próximo a palavra “mídia”
e que teria como significado “meios”. No Português Brasil, optou-se pela escrita mídia,
que remete ao sim produzido pelo termo em inglês media. Sendo assim, as relações
intermidiáticas e intermediáticas são sinônimos, cujo anterioridade está calcada na
discussão de intertexto.
O termo intermedia é utilizado com restrições nos EUA segundo Clüver enquanto
que na Alemanha Intermedialität é recorrente nos estudos de literatura comparada,
Artes Comparadas e os Estudos Interartes.
OBJETO DE APRENDIZAGEM – OA
2
Os museus e algumas instituições vêm cada vez mais oferecendo a visitação virtual do seu
espaço. A tecnologia consiste em estabelecer um ponto e a pessoa enxergar-nos 360°.
3
Narrativa do game “Búzios – ecos da liberdade”, desenvolvido para a plataforma de PC que
possui elementos dos RPGs – role-playing game (jogo de interpretação de personagem) – como o
controle do personagem por uma história pré-determinada.
4
Mapas virtuais possibilitam uma visão de satélite, por cima, de uma cidade. Com a opção “visão
da rua” é possível ver a cidade de um plano horizontal, tal visão de que está na rua.
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Esse professor poderia ser taxado de esquisito, “meio maluco”, alguns alunos
iriam achar até interessante, mas o certo é que eles prenderiam sua atenção e a partir de
então entrariam em um processo de aprendizagem colaborativo e dinâmico propiciado
pelas novas ferramentas tecnológicas.
Cada vez mais percebemos o crescimento no interesse dos alunos pelas novas
tecnologias digitais e consequentemente o crescimento na produção de softwares
(produtos digitais) voltados a educação, porém percebe-se certa aversão por parte dos
professores ao tratar com tais aparatos, ora por desconhecimento dos softwares, ora por
medo da não habilidade total do mesmo (perdendo assim a postura do professor sabedor
de tudo).
Devido a essas condições e percepções o uso dos softwares como ferramenta
pedagógica ainda estão distantes do esperado, sucumbindo a uma mudança arrastada ou
de usos inadequados (que não utilizam ou exploram toda a potencialidade dela).
A utilização de novas ferramentas deve ser motivada, porém isso não quer dizer
que vão existir velhas ferramentas, no sentido pejorativo, ou que devemos esquecer as
ferramentas mais antigas. Pelo contrário as ferramentas necessitam da utilização para
legitimar a sua utilização, dar um sentido, um contexto. O que seria dos computadores
mais modernos se há mais anos antes de Cristo não existissem os ábacos, esses ainda
presentes na utilização em aulas de matemáticas e continuam despertando a curiosidade
nos alunos.
Os softwares e suas utilizações vão aparecer de forma mais efetiva na sociedade
a partir da “máquina analítica” de Charles Babage no século XIX, máquina que não foi
concluída, mas que deixou abertos os caminhos para novas utilizações nas tecnologias
presentes. Sobre influência do “tear de Jacquard”, Babbage pensava em uma máquina
capaz de armazenar informações, instruções ou números, através de cartões perfurados
(Jacquard também trabalhava com a ideia dos cartões perfurados, mas eles só
acionavam ou desativavam funcionamentos na máquina dele). Babbage assim atribui à
máquina a possibilidade de armazenar e processar dados, o que depois viriam a ser as
memórias do computador. Nessa abertura tecnológica, surge a figura de Ada Byron, a
condessa de Lovelace, que se interessou pelas ideias de Babbage e pelo funcionamento
da máquina. O encanto foi tão grande que ela passou a produzir “programas” para serem
executados pela máquina assim que fosse concluída a sua construção. A máquina não
ficou pronta, mas Ada Byron ganhou o reconhecimento de primeira programadora da
História.
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5
Foi um dos primeiros computadores capaz de armazenar informações e programas.
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REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
BREVE HISTÓRICO
contar uma história, que poderia ser histórias de vida, lendas locais, casos, enfim toda e
qualquer narrativa que nos contasse algo sobre as pessoas e o lugar. Estes momentos
foram registrados em livros artesanais confeccionados pelas crianças, como forma de
incentivar o prazer pela leitura a partir da criação de suas próprias histórias.
Nas mais diversas culturas o valor de ouvir uma história está ligado a sua
formação. As histórias orais fazem parte da ontogênese humana. Crescemos embalados
pelo delicado e poético som de nossas mães que nos acalantam com histórias ouvidas de
suas avós, que criam um ambiente de aconchego, de carinho, afeto e imaginação. Sobre
a relevância das de contar historias podemos citar:
[...] é ouvindo histórias que se pode sentir (também)
emoções importantes, como a tristeza, a raiva, a irritação,
o bem estar, o medo, a alegria, o pavor, a insegurança, a
tranquilidade, e tantas outras mais, e viver profundamente
tudo o que as narrativas provocam em quem as ouve com
toda amplitude, significância e verdade que cada uma
delas fez (ou não) brotar. Pois é ouvir, sentir e enxergar
com os olhos imaginários. (ABRAMOVICH, 1989, p.17)
CONCLUSÃO
Contar histórias é uma arte milenar que, a despeito das novas tecnologias de
comunicação e informação, ainda sim encanta crianças, jovens e adultos. As literaturas
oral e escrita constituem alimentos preciosos para a alma, uma vez que as histórias são
meios preciosos de ampliar nosso horizonte e aumentar o conhecimento em relação ao
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mundo que nos cerca. As histórias de várias culturas foram transmitidas oralmente de
geração para geração mesmo dentre os povos que dominavam a escrita. A narração de
fatos, dos mitos, lendas, contos e fábulas constituem as principais formas pelas quais
recebemos a herança da tradição que nos cabe transformar, assim como outros fizeram
antes de nós, com valores herdados e por sua vez renovados.
Deste modo, nossa experiência á frente do “Gira Contos Contadores de
Historias” e vivências na realização do Projeto Cultura “Gira Contos da Contação ao
livro” nos leva a concluir que a Arte Educação vem enriquecer o processo de ensino
aprendizagem no ambiente escolar, constitui potente ferramenta pedagógica para a
aplicação da Lei 10.639/03, uma vez que por meio da criatividade e expressão artística,
o educando percebe-se como sujeito criador e criativo diante de suas próprias
potencialidades, ou até mesmo dificuldades.
Neste trabalho, pudemos constatar por meio da experiência e convivência junto
às comunidades atendidas pelo projeto que a acessibilidade, frequência e presença de
bens e instrumentos públicos e/ou privados de fomento e apoio às expressões artístico-
culturais como a cultura literária, por exemplo, são bastante precárias e quase
inexistentes.
Ao contemplar atividades de arte, educação e cultura, a iniciativa proposta pelo
Gira Contos Contadores de histórias, demonstrou configurar-se numa estratégia potente
para engendrar reflexões e promover o diálogo sobre temas tabus no espaço escolar tal
como o racismo, relações de gênero e sexualidade. No caso desta experiência em
específico pudemos observar que as histórias e lendas locais suscitaram temas ligados
ás questões geracionais e identitárias tanto das crianças quanto das pessoas adultas nas
comunidades.
O trabalho desenvolvido ao longo deste projeto nos demonstrou que a expressão
em arte constitui uma importante ferramenta comunicadora e questionadora, capaz de
possibilitar á criança, ao adolescente ou jovem negro/a e indígena falar de si e por si.
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REFERÊNCIAS
ABROMOVICH, Dany. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. São Paulo:
Scipione, 2004.
BARBOSA, Ana Mae. Arte-Educação: leitura no subsolo.3ed. São Paulo:Cortez, 2001.
BRASIL. MEC. SEPPIR. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das
Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana, Brasília: MEC/SEPPIR, 2004.
CUNHA JÚNIOR, Henrique. Africanidades, Afrodescendências e Educação. In
TRINDADE, Azoilda Loreto, org. Africanidades brasileiras e educação [livro
eletrônico]. Rio de Janeiro: ACERP; Brasília: TV Escola, 2013, p. 68 -79.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a pedagogia do
oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
LOPES, Ney. Diáspora Africana. Disponível em:
em:<http://www.ciadejovensgriots.org.br/griots.php> Acesso em: 19 de outubro de
2013.
MANDURUKU, Daniel. A escrita e a autoria fortalecendo a identidade. Disponível
em: http://pib.socioambiental.org/pt/c/iniciativas-indigenas/autoria-indigena/a-escrita-
e-a-autoria-fortalecendo-a-identidade#, Acesso em: 29 jul. 2014.
PACHECO, Lilian. Pedagogia Griô: A Reinvenção da Roda da Vida [livro
eletrônico].MINC, Lençois, Bahia: Grãos de Luz e Griô, Ação Griô, 2006.
SPOLIN, Viola. O jogo Teatral na sala de aula. São Paulo:Perspectiva, 2007.
LIMA, Heloísa Pires. Histórias da Preta. São Paulo:Companhia das letrinhas,1998.
TRINDADE, Azoilda Loreto, org. Africanidades brasileiras e educação [livro
eletrônico].Salto para o futuro, Rio de Janeiro: ACERP; Brasília: TV Escola, 2013.
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O Professor Mediador
Observando este desenho produzido por uma criança o que vemos é uma
situação de trabalho de um homem negro escravizado e o capataz sendo servido por
uma criança negra e ainda a figura de um cachorro que ladra para o negro escravizado.
De onde essa criança foi buscar esta informação visual?
Esta é a imagem que está presente em nosso próprio contexto escolar, tais
como livros, obras de arte, filmes, enfim no dia a dia de nossa cultura visual. Logo,
quando as crianças são convidadas a desenhar, retratam aquilo que faz parte do seu
universo, e esse é proporcionado pela escola através dos livros didáticos, assim como as
mídias em geral. O desenho construído pela criança evidencia o que afirma Ostrower
(1987) quando disse que.
Jean-Baptiste Debret
Fonte:Jornal da Besta Fubana, 2013
Por isso, é importante o/a professor/a levar para a sala de aula outras
propostas de trabalho e a produção dos artistas negros, e ao longo das aulas mostrar
aos/as alunos/as suas produções e importância dentro da história da arte, artistas, tais
como: Arthur Timótheo, Benedito José, Tobias Benedito, José de Andrade, Emmanuel
Zamor, Estevão Silva, Firmino Monteiro, João Timótheo, Horácio Hora, Rafael Pinto
Bandeira, Wilson Tibério, Arthur Bispo do Rosário, Heitor dos Prazeres, e Abdias do
Nascimento
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Referências
escola necessita de uma reforma, com a construção de salas de aula, já que existe salas
funcionando em um anexo ( Centro de Geração de Renda).
Conforme a lei nº 10.639 de 09 de janeiro de 2003, além de todas as implicações
para a abordagem das questões étnico raciais e da história dos povos africanos no ensino
fundamental, a E.M.E.F. Cândido Régis de Brito tem motivos adicionais para trabalhar
a origem do nome do distrito, uma vez que a comunidade necessita conhecer e valorizar
a história de Zumbi dos Palmares.
As experiências vivenciadas como professora negra me estimularam a
desenvolver o Projeto África/ Brasil na E.M.E.F Cândido Régis de Brito. Conversei
com algumas/ns professoras (es) para a implementação das ações no do 4º e 5º ano do
Fundamental I e 6º, 7º e 9º ano do Fundamental II. O racismo, o preconceitos e a
discriminação presentes na sociedade estão no ambiente escolar, comprometendo a
autoestima e o aprendizado dos (as) alunos (as), na E.M.E.F Cândido Régis de Brito não
é diferente. Presenciamos o racismo disfarçado, em brincadeiras e apelidos pejorativos.
Ações racistas, muitas vezes invisibilizadas e silenciadas por gestores(as),
professores(as) e funcionários(as).
Projeto África/Brasil
O Projeto foi realizado com os (as) alunos(as) do 4º e 5º ano do Fundamental I
e 6º, 7º e 9º ano do Fundamental II. Realizei uma leitura do material didático disponível
na escola como os livros de geografia e história utilizados no Projeto Araribá, Geografia
da Paraíba e História da Paraíba, observando como estava sendo abordada a história
Afro-brasileira e Africana.
A observação de como os alunos se relacionavam com a diversidade étnica no
ambiente escolar, durante as aulas e no recreio, estimulou a realização do projeto no
qual foram utilizadas várias metodologias, que serão aqui relatadas.
A proposta inicial, lançada em sala de aula foi solicitar que os alunos a
observassem situações de preconceito e discriminação que estão presentes na TV, nos
jornais, nas revistas, na escola e na comunidade. A cada turma foi dividida em grupos e
após o período de observações, foi chegado o momento de partilha das observações.
Um representado de grupo do 9º ano observou que nos programas de TV
observados
o número de atores negros era muito pequeno, e que os personagens que estes atores
desempenhavam enfrentavam as maiores dificuldades financeiras, as famílias trabalham
em atividades onde o salário era pequeno, sofriam discriminações e preconceitos por
parte de outros personagens.
Outro relatou sobre os apelidos que eles ouviam antes do início das aulas e no
recreio. Na roda de conversa foi observado que os apelidos, quando são atribuídos
aos(às) negros(as) é sempre referente à sua cor de pele. Mesmo sendo pejorativos e que
desqualificam e inferiorizam os (as) negros(as), nas falas dos(as) alunos(as) eles
relatam como brincadeiras.
43
Projeto Político Pedagógico, para que a partir dela a comunidade passe a conhecer a
valorizar as pessoas negras e a sua história.
REFERÊNCIAS
Seu Elegbara dos yoruba, Legba dos fon, encerra aspectos múltiplos e
contraditórios que dificultam uma apresentação e uma definição
coerentes.
Vamos enumerar rapidamente suas principais características.
Seu é o mensageiro dos outros Orisa e nada se pode fazer sem ele.
É o guardião dos templos, das casas e das cidades.
É a cólera dos Orisas e das pessoas. (VERGER, 2000, p.119)
Segundo Lima; Fonseca e Silva (2009) o processo de demonização do Orixá Exu remonta
ao século XV, período em que os colonizadores europeus chegaram às terras africanas e
estranharam a forma como Exu se apresentava e sua representação.
Embora sejamos amparados pelas leis que garantem a liberdade de pensamento, de
manifestação de crenças e a livre escolha de religião ou de não ter religião, na prática não o
respeito necessário. Para as igrejas – como um todo – a recomendação de que propaguem a
prática da paz, o que vivenciamos é a prática de ações discriminatórias, perseguição religiosa,
uma verdadeira “guerra santa” em nome daquele que os chamam de Ser Supremo.
Os ataques vivenciados pelos adeptos das religiões afro-brasileiras, nada mais é do que o
comprometimento das suas conquistas, a reativação do racismo, o progresso da intolerância.
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Enquanto a ética dos terreiros consagra a natureza e seus elementos, assim como também a
poesia do corpo; a alegria de homenagear os ancestrais, suas entidades e o acolhimento; seus
perseguidores cultivam preconceitos, discriminações, racismo e intolerância.
Salles (2004, p. 107), utiliza o termo Catimbó para designar um tipo de culto da
Jurema, que foi predominante em Alhandra até a década de 1970. O catimbó seria um
culto que tem como caráter central o de ser terapêutico, mas que em sua essência tem
um complexo sistema de crenças, que esta fundamentada no “Reino dos encantados” e
nas “cidades da Jurema”.
Segundo Salles (2004, p. 105) a Jurema da cidade de Alhandra tem sua tradição
diretamente ligada às famílias remanescente da antiga aldeia Aratagui, principalmente a
família de Inácio Gonçalves e seus descendentes. Dessa família temos Maria Eugênia
Gonçalves Guimarães, conhecida por Maria do Acais (Faleceu na década de 1930).
Maria do Acais foi uma mestra juremeira muito importante, seu prestígio ultrapassou as
fronteiras do Estado da Paraíba. No ano de 1910 ela herdou a propriedade conhecida
como Acais, localizada na cidade de Alhandra. Sua família tradicionalmente praticava o
Catimbó. Sales utiliza o termo Catimbó, para designar o tipo de culto da Jurema que
predominou em Alhandra até meados de 1970.
O culto praticado pela tradicional família do Acais era o Catimbó.
Embora o termo apresente um caráter bastante genérico, iremos
utilizá-lo para designar o tipo de culto da Jurema que predominou em
Alhandra até meados da década de 1970. Suas sessões, no entanto, não
se diferenciavam, em parte, das atuais sessões de mesa ainda
praticadas nos terreiros umbandizados: ambas consistem em sessões
de consulta, de caráter mais individual, nas quais o cliente recorre ao
mestre (médium) em busca de cura para seus males físicos, mentais,
espirituais ou, ainda, para resolver problemas do cotidiano os mais
variados possíveis. (SALLES, 2004, p. 107)
A função da Jurema é similar a de muitas religiões: (...) “se propõe a curar os
doentes, resolver problemas práticos da vida cotidiana, oferecer consolo aos sofredores,
compensar o pobre e o desvalido pelos infortúnios de sua condição social.” (PRANDI,
2006, p.11).
Bairrão (2003, p. 4) nos coloca outro ponto acerca da Jurema é o uso da palavra
Jurema que tem várias acepções significando a árvore, a bebida, a cabocla, a cerimônia
religiosa, o mundo espiritual, a cidade encantada. Enquanto árvore seu nome é
popularmente conhecido a exemplo, por Jurema Preta, Jurema Branca. Santiago e
Peixoto (2007) nos dizem que, a Jurema é uma árvore que floresce no agreste e na
caatinga nordestina, de suas raízes se faz uma bebida tida como mágico-sagrada
utilizada nos rituais, esta árvore era usada nos cultos de nativos, como os Tupis e
Cariris.
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As árvores eram calçadas e consagradas a um (a) mestre (a) encantado (a), o que
compõe as cidades da Jurema. Para Salles (2004, p.112), essas cidades são:
A Jurema de meia noite armada segundo Silva e Ayala (2010) ocorre à meia
noite, o rito é realizado no chão; são utilizados elementos como, jarros com ervas da
Jurema, sete qualidades de cachaça, bebidas (champanha, vinho tinto, vinho branco,
cerveja), mel, garrafada de Jurema, um cruzeiro de velas brancas, alguidares com
frutas, três alguidares com fumos preparados – sendo eles de três tipos: fumo de queda,
fumo de descarrego e fumo de levanta – cachimbos cruzados, charutos e cigarros, velas
coloridas.
Segundo Assunção (2010, p.91) os objetos ritualísticos da Jurema são
denominados de marcas, sendo os principais a marca mestra (maracá), a marca
(cachimbo) e a princesa (bacia). Assunção (2010, p.206) ainda nos afirma que a tradição
52
Santiago (2008, p.7) nos afirma que atualmente os Mestres incorporam nos
adeptos, na figura de Baianos, Boiadeiros, Zé Pilintra, Príncipes, Ciganos, dentre outros.
Em sua pesquisa realizada em terreiros na Paraíba, encontrou alguns Mestres e Mestras
sob os nomes de:
Carlos, Sibamba, Chapéu Amarelo, José Alencar, Zé Pilintra, Zé
Aguiar, Zé da Ladeira, Aurora, Zé Moringa, Chapéu Virado,
Laurinda, Antônio, Zé da Pinga, Zé Vaqueiro, Zé do Beco, Zé do
Tesouro, José do Coqueiral, Zé das Alma, Zé Pretinho, Pé de Serra,
Maria do Acais, Joana Pé-de-Chita, Amélia de Lima, Aroeira, Zé
Menino. (SANTIAGO, 2008, p.8)
das dores e dos sofrimentos dos que padecem. As entidades cultuadas na Jurema dão
uma idéia de encontro que houve entre esta e a Umbanda.
A umbanda expande-se no interior do sertão nordestino a partir da década de
1960, quando a região vivia o início de um processo desenvolvimentista impulsionado
pelo Governo Federal. Embora não existia propriamente um processo de
industrialização, há na região, nesse momento, uma ampliação considerável do setor
terciário (comércio, serviços, instituições financeiras) dos serviços governamentais
(telecomunicações, saúde, educação) e crescente urbanização das cidades, embora com
baixo nível de infra-estrutura urbana básica. (ASSUNÇÃO, 2010, p.111-112)
Na Paraíba, assim como em outros estados do Nordeste brasileiro a estruturação
da Umbanda ocorre por volta dos anos de 1960. Temos então nesse estado uma junção
entre esta expressão religiosa e o Catimbó, surgindo a Umbanda cruzada com a Jurema.
Como nos afirma Santiago (2008, p.3):
Em meados do século XX, no Estado paraibano, ocorre a aproximação
do Catimbó com a Umbanda em virtude do movimento de expansão
desta pelo país. Assim, foi se delineando a Umbanda cruzada com
Jurema como resultado da junção dos rituais da tradição
juremeira/catimbozeira com a Umbanda trazida oficialmente para o
referido Estado nos fins de 1960.
Temos em 06 de novembro de 1966, a sanção da Lei de Nº 3.443, que
assegurou aos cultos da Umbanda e africanos no Estado da Paraíba seu livre exercício,
esta lei foi assinada pelo governador João Agripino. Essa Lei criou também a Federação
dos Cultos Africanos do Estado da Paraíba (FECAP), a qual os terreiros deveriam se
afiliar, a condição básica para o funcionamento das casas, neste momento, esta afiliada a
FECAP por sua vez, dentre suas atividades, deveria disciplinar o exercício desses cultos
no Estado.
Entretanto, mesmo com a liberação ao analisarmos a lei fica evidente que a
mesma impõe restrições a essa liberação, uma vez que a prática religiosa gozará da
liberdade de realização sob algumas condições, a exemplo, que a Secretaria da
Segurança Pública autorize os cultos, as casas deveriam estar filiadas a federação e que
as lideranças provem com laudo psiquiátrico que gozam de sanidade mental.
Silva (2009, p.78-79) aponta que após conflitos dentro da FECAP, começou a ter
rupturas e dando lugar a novas federações, a exemplo, da Cruzada Federativa de
Umbanda e Cultos Afro-brasileiros da Paraíba em 1972. Em 1996 temos a fundação da
54
Caputo (2008, p.56) declara que o ioruba circula nos terreiros “mais como um
conjunto de vocábulos do que propriamente com a língua falada”, uma vez que muitos
“candomblecistas sabem para que Òrìsà estejam cantando e o momento de usar dos
cânticos, mas não entendem completamente o significado daquilo que cantam”. Cada
terreiro tem sua forma de lidar com este fato, alguns terreiros ministram em seu interior
aulas de ioruba para seus membros.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
religiões afro-brasileiras. Como nos sugerem os PCN's, essas religiões, assim como as
demais, devem ser trabalhadas de forma positiva, favorecendo a quebra das barreiras ao
combate à intolerância religiosa, o que equivale ao processo de erradicação do
preconceito e da discriminação para com as religiões afro-brasileiras.
REFERÊNCIAS
ASSUNÇÃO, Luiz Carvalho de. O reino dos mestres: a tradição da jurema na mbanda
nordestina. Rio de Janeiro: Pallas, 2010.
BAIRRÃO, José Miguel Henriques. Raízes da Jurema. In: Revista Psicologia USP.
v.14, n.1. São Paulo: USP, 2003. ISSN 0103-6564 Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642003000100009
Acesso em: 16 de Setembro de 2010.
BOAES, Giovanni. África e Brasil: separação simbólica/social no campo das religiões
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Setembro de 2009. Disponível em:
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2008
58
Solange P. Rocha
Introdução
Se a educação sozinha não transforma a
sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.
Paulo Freire (1921-1997)
2010, informando as desigualdades de acesso a esse nível de ensino, uma vez que as
crianças negras (8,9%) têm menor número de matrículas nas creches e nas escolas de
séries iniciais da Educação Básica, quando comparadas às crianças brancas (10,3%).
A educação na infância foi considerada fundamental “para o desenvolvimento
humano, para a formação da personalidade, para a construção da inteligência e para a
aprendizagem”, assim como as relações na sala de aula são vistas como espaço para a
“eliminação de qualquer forma de preconceito, racismo e discriminação racial” (Plano
Nacional de Implementação da Lei 10.639/03, 2013, p. 48-50). Podemos destacar,
portanto, avanços nos dispositivos legais que abordam a temática racial na educação
infantil, num curto espaço de tempo, entre os anos de 2004 e 2009, quando se passou a
enfatizar a necessidade de discutir as relações raciais desde a infância, período em que
as crianças começam as suas trajetórias escolares.
Conforme exposto, com a redefinição de uma política educacional em âmbito
nacional que determina a mudança curricular com a inserção da Educação das Relações
Étnico-raciais e conteúdos que mostrem a diversidade étnico-racial e cultural do Brasil,
coube às universidades (públicas e privadas) readequarem suas atividades de formação,
modificando, mesmo que minimamente, seus currículos, uma vez que as instituições de
ensino superior só funcionam porque se comprometem a cumprir os dispositivos que
normatizam a educação brasileira, a exemplo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (1996), que determinou a obrigatoriedade da Lei 10.639/03 e os seus
desdobramentos legais mencionados anteriormente (Plano Nacional de Implementação
da Lei 10.639/03, 2013, p. 30).
Quando o Núcleo de Estudos e Pesquisas Afro-brasileiros e Indígenas da
Universidade Estadual da Paraíba, Campus Guarabira, o NEABI-UEPB-Guarabira,
propôs o Curso de Especialização em Educação Étnico-racial na Educação Infantil em
2014, buscando assegurar não só a formação inicial e, sobretudo, a continuada de
profissionais da Educação, também estava cumprindo uma das ações acadêmicas das
instituições de Ensino Superior, conforme previsto no Plano Nacional de
Implementação da Lei 10.639/03 (2013, p. 40) que orienta para se:
dedicar especial atenção aos cursos de licenciatura e formação de
professores(as), garantindo formação adequada aos professores(as)
sobre o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e os
conteúdos propostos nas Leis nº 10.639/03 e nº 11.645/08.
62
habitantes do território paraibano. (ROCHA, 2009 ; LIMA, 2013). Apesar dessa baixa
presença de pessoas negras cativas, se comparada com outras províncias brasileiras,
formou-se na Paraíba uma sociedade escravista, que não era fundamentada apenas nas
atividades econômicas, mas estava amplamente difundida em todas as relações sociais,
cujas perspectivas se apoiavam nas subordinações do outro e, sobretudo, do indivíduo
negro, como um potencial trabalhador braçal e subordinado àqueles que tinham poder
de mando e de alguma posse material.
Nesse cenário em crise do escravismo, tornaram-se comuns o aliciamento e
escravização ilícita de crianças negras. Registros históricos nos informam que no
longínquo ano de 1864, uma mulher chamada Angélica, órfã desde os 12 anos, foi
vendida ao Capitão Raymundo Granja do Termo de Ouricury (Pernambuco).
Segundo as informações enviadas pelo Delegado de Ingazeira (Pernambuco),
sabe-se que Angélica teria nascido em Pilar ou em Alagoa Nova (localidades do Agreste
da Paraíba), conforme documento enviado ao Chefe de Polícia paraibana, pedindo a
confirmação de sua cidade de origem e sua condição jurídica.
Tais informações puderam ser obtidas a partir da consulta ao Livro de Assento
de Batismo que, nos períodos colonial e imperial, tinha a Igreja católica como
responsável pela elaboração das certidões de batismo. Um documento muito importante
para garantir a existência social e no qual constava a condição jurídica dos indivíduos –
se livres, libertos ou escravizados.
Quase um ano depois, nas Correspondências da Chefia da Polícia da província
paraibana, o subdelegado de Alagoa Nova informava que as:
REFERÊNCIAS
OLIVEIRA, Luiza Iolanda P. Cortez de. Entre casas, ruas e igrejas: crianças
abandonadas na cidade da Paraíba oitocentista. 2014. 170 f. Dissertação (Mestrado em
História). Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal da
Paraíba. João Pessoa, 2014.
OLIVEIRA, Maria Luiza Ferreira. Resistência popular contra o Decreto 798 ou a “lei de
cativeiro”: Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Ceará, 1851-1852. In: DANTAS,
Monica Duarte (org.). Revoltas, Motins, Revoluções: Homens livres e libertos no
Brasil do século XIX. São Paulo:Alameda, 2011, p. 392-427.
PRIORE, Mary del. História das crianças no Brasil. 2ed. São Paulo: Contexto, 2000.
6
Utilizamos a designação negra para as pessoas identificadas pardas, morenas, mulatas
73
O quadro de Debret recebe por parte de Silva (2013, p.129) uma análise que
aponta dentre outros dados, todas as crianças em uma mesma atividade, em um mesmo
espaço físico mas com lugares sociais previamente definidos:
mais bem vestido e único calçado, com o cavalo de pau e chapéu mais
enfeitados e com a espada empunhada. Nota-se a presença de mais
dois meninos brancos, ambos descalços. Os que estão no fundo
parecem mais maltrapilhos que os da frente e no canto, à direita,
pode-se notar um menino bem pequeno. Em primeiro lugar, o jovem
“sinhozinho-general” tem sua posição de liderança e privilégio
destacada não só por suas roupas, já que é único realmente
fantasiado no grupo, com galões nos ombros, casaquinha de corte
militar e que, detalhe bem significativo, tem os pés
calçados. Além disso, seu espadim de brinquedo é o único a ter uma
empunhadura, o que pode nos deixar supor ser o único
manufaturado, de fabrico semi-industrial, dentre todas as armas
de brinquedo que os meninos trazem consigo. Até mesmo o
graveto que ele usa como cavalinho imaginário tem detalhes que a
montaria de seus dois subordinados imediatos não
apresentam: nele foram deixadas folhagens ao modo de uma
garbosa crina, orelhas e longa cauda do cavalinho.
(OLIVEIRA; CURY, 2011, p. 164 apud JOVINO, 2015, p.199)
mudanças sociais, mas que o lugar das crianças negras continua sendo, ainda que não
totalmente, o que predominou na escravidão.
A partir das análises das/os pesquisadoras/es, no ato de brincar, se fazem e se
reproduzem ideologias, conforme descreveu Azoilda Loretto Trindade ao identificar
elementos reprodutivistas da hierarquização entre as pessoas, que hoje chamamos,
racismo. O racismo enquanto construção social se apresenta, em brincadeiras, “contos
de fadas e populares” e “musiquinhas” praticadas no mundo infantil, a exemplo de
“Escravos de Jó” que, embora pertencendo ao nosso imaginário social, à nossa memória
afetiva, trazem no seu bojo a naturalização da condição de escravo que, no caso do
Brasil, é tido como sinônimo de negro.” (TRINDADE, 2013, p.82)
Nessa perspectiva ficam evidenciadas as mudanças ocorridas no processo
histórico ( a instituição da escravidão foi abolida em 13 de maio de 1888) e também a
permanência da lógica do pensamento escravista que se manifesta em atos concretos
em vários momentos no cotidiano escolar confirmando que a escola, ainda não é um
espaço de acolhimento, uma vez que:
Vale ressaltar o destaque dado pelo Órgão oficial sobre os valores pois, estes se
imiscuem nas práticas sociais como alerta Nilma Gomes:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERENCIAS
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Brasília: Ministério da Educação/SECADI, 2005 p.39-65
Textos que apresentam ações afirmativas em relação ao negro, seu cabelo e sua
identidade
Foi nessa época, e por isso, que as mães decidiram que as crianças não
usariam tranças, só birotes, porque assim elas ficariam mais
interessadas em fazer amigos, brincar e aprender. Vovó me acaricia e
diz: Querida Bintou, quando for mais velha, você terá bastante tempo
para a vaidade e para mostrar a todos a bela mulher que será. Mas,
agora, querida, você ainda é apenas uma criança. Poderá usar tranças
no momento adequado (DIOUF, 2010, p.10).
A história mostra o carinho da avó com a criança, assim como a relação de amor
e amizade entre as famílias. O contexto social no qual Bintou está inserida faz com que
a comunidade seja um local adequado para a criança crescer com uma educação em que
se preza o convívio familiar e o respeito aos idosos e a ancestralidade, muito apreciada
pela comunidade africana. Na aldeia onde Bintou reside, pode-se notar os traços sociais
e culturais típicos do lugar, que é destacado no batizado do irmão de Bintou, o ritual que
envolve a escolha do nome do irmão, a alimentação, que está ligada ao consumo de
vegetais, além das celebrações e vestimentas utilizadas por todos da comunidade.
O mundo no black power de Tayó (2013) narra a história de Tayó, uma criança
de seis anos, que é descrita como uma menina linda e simpática, que encanta a todos
com o seu modo de ser e viver. A descrição inicia pela beleza de Tayó, em que os olhos
são tão negros quanto “as mais escuras e belas noites”; o nariz parece uma larga e
valiosa pepita de ouro; “grossos e escuros como orobô seus lábios se movem só para
dizer palavras de amor (p. 14). Sobre a cabeça, que a parte do corpo que a menina mais
gosta, ostenta uma acentuada cabeleira chamada black power (p. 17). Tayó é uma
criança negra que se admira muito e gosta de usar o penteado black power sempre
enfeitado. Em um momento o cabelo fica enfeitado de florzinha, em outros prefere o
cabelo enfeitado por borboletas ou tiras de lãs coloridas. Pelo fato da menina gostar de
seu cabelo, que busca projetar em cada penteado que faz, o universo e a natureza, com
seus bichinhos e planetas. A narrativa mostra como a Tayó reage quando os colegas
criticam o seu cabelo: “Bem-humorada, quando seus colegas de classe dizem que seu
cabelo é ruim, ela responde: ─ Meu cabelo é muito bom porque é fofo, lindo e cheiroso.
Vocês estão com dor de cotovelo porque não podem carregar o mundo no cabelo como
eu posso” (OLIVEIRA, 2013, p. 27). A reflexão sobre a sua origem é constante na
narrativa:
história enfatiza o fato de as correntes não terem sido capaz de aprisionar a alma de seus
antepassados.
Betina (2009) trata da história de uma garota que tem fascínio pelas tranças
desenhadas por sua avó em seus cabelos. O cuidado com que as tranças são entrelaçadas
faz com que a cabeça de Betina transforme-se em uma autêntica obra de arte. O que faz
o penteado ser ainda mais especial, é o fato da avó contar belíssimas histórias de seus
antepassados enquanto carinhosamente trança os cabelos da neta. A avó esforça-se para
deixar o cabelo de Betina digna de uma princesa. Além dos variados enfeites que utiliza,
como contas e lãs coloridas faz com que a criança sinta que é muito cuidada e amada.
A relação de amizade entre Betina e as colegas da escola é de respeito, pois as
meninas de sua turma sentem curiosidade para saber de que forma as continhas
coloridas eram colocadas em seu cabelo, assim como, a trança enraizada na cabeça. A
garota descreve às colegas como a avó preparava as suas tranças, detalhadamente, pois
seu cabelo entrançado era motivo de orgulho.
A oralidade está presente nesta narrativa, principalmente o respeito pelos mais
idosos, e o interesse em repassar para a neta os valores dos antepassados. Os
ensinamentos da avó são preciosos, e com sabedoria ensina a neta a guardar esses
ensinamentos para que possa no futuro repassar as outras gerações. O fato de ensinar a
neta o segredo de fazer tranças perfeitas não deixa de ser um aprendizado para a criança,
que depois passa a fazer as mesmas tranças nos cabelos das irmãs e da mãe. Com o
passar dos tempos, os ensinamentos da avó de Betina transformam-se e concretizam-se
quando a jovem, com uma experiência anterior, especializa-se em penteados afros,
tornando-se dona de um conceituado salão de beleza negra. O reconhecimento
profissional é realizado não somente no Brasil, assim como no exterior. Além desse
reconhecimento, Betina é convidada pelas escolas a proferir palestras sobre a arte de
trançar cabelos afros, incentivando às crianças negras a gostarem de seus cabelos
crespos. Destaca as várias formas de inventar penteados e de como transformá-los em
88
Entremeio sem babado (2007) conta a história de Kizzy, uma menina estudiosa e
curiosa, que gostava muito de perguntar, e por isso recebe o apelido de entremeio sem
babado, que ao pé da letra significa “um enfeite de roupa que faltava o complemento”.
Em relação à Kizzy, por ser intrometida, significava uma pessoa que se mete em um
assunto sem ter sido consultada. Com a dúvida sobre o que isso significa, quando
descobre fica revoltada, chega até ficar doente, porque não aceitava essa alcunha.
Depois de muito refletir, resolve passar alguns dias sem entrar nas conversas, sem fazer
perguntas, mas um dia se cansa, e resolve voltar a ser como era, “menina, menininha
perguntadeira”. Kizzy é uma criança que gosta de sua imagem. Inicia pela escolha dos
vestidos, que são sempre cor de rosa, a sua cor preferida. O seu cabelo sempre
enfeitado, segundo o narrador, “cada dia de um jeito: com birotes enfeitados, com
gominhas coloridas, de trancinhas com borboletinhas, de rabo-de-cavalo, de tranças e
solto com baião-de-dois” (SANTANA, 2007, p. 06). Kizzy tenta levar a vida sem
precisar da aprovação das pessoas. A protagonista mostra uma personalidade relevante
na narrativa, pois acredita que para ser respeitada é necessário defender suas próprias
ideias, mesmo que não sejam consideradas apropriadas por outras pessoas.
A curiosidade de Kizzy não se continha apenas em fazer perguntas, mas
gostava de ler revistinhas, almanaques, livros, folhetos e rótulos de tudo. O problema
era quando não sabia o significado de alguma coisa, que as perguntas surgiam e eram
dirigidas para todos os familiares. Em uma das ocasiões, quando toda família estava
89
reunida e discutiam sobre as origens dos nomes, quis saber qual a origem de seu nome,
Kizzy. Este foi um momento importante na vida da menina, pois além de descobrir qual
a origem de seu nome, possibilitou uma forma de voltar ao que era antes, uma criança
curiosa. A família explica que o nome Kizzy significa “aquela que fica, que não vai
embora, e que seu nome era de origem africana, o mesmo lugar de origem de toda a sua
família” (SANTANA, 2007, p. 20).
Considerações finais
REFERÊNCIAS
CANDIDO, Antonio. “O direito à literatura”. In: Vários Escritos. São Paulo: Duas
Cidades, 1995.
GOMES, Nilma Lino. Sem perder a raiz: corpo e cabelo como símbolo da identidade
negra. 2ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.
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SANTANA, Patrícia. Entremeio sem babado. São Paulo: Mazza Edições, 2007.
ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. 11. ed. rev. atual. ampl. São
Paulo: Global, 2003.
O caminho é escutar os/as alunos/as/sujeito, uma vez que hoje a escola que
se quer cidadã e inclusiva, deve ser respeitosa com o modo de ser do sujeito que ela está
formando. Portanto, a relação ensino aprendizagem na perspectiva da educação étnico-
racial não se dar num processo impositivo, mas dialógico, uma vez que ninguém entra
na escola para aprender a ser negro/a, índios/a, branco/a, homem, mulher, homo afetivo
e cidadão/ã, já se é tudo isso antes de se entrar nas escolas, e todos esses sujeitos todos
os dias vão as escolas, mas nem sempre as escolas os reconhecem como tais.
Nesse sentido, as práticas a serem desenvolvidas nas escolas devem se fazer
de modo a ampliar e garantir a cidadania, as identidades étnicas e de gênero e assim
primar pelo respeito. Logo, aprender sobre história e cultura afro-brasileira e africana na
escola é um exercício de cidadania, portanto, um direito das crianças e adolescentes,
obrigação da escola e dever do Estado, sobretudo, de garantir as escolas condições
necessárias a que esse processo ocorra de modo natural e saudável. Em contrapartida,
professores/as não devem enxergar a Lei 10.639/003 como a que lhes obriga a execução
de uma prática com um conteúdo que eles/as afirmam desconhecerem, mas devem
enxergar essa lei como a que garante a todos/as que frequentam as escolas públicas
desse país o direito de aprender sobre a história e a cultura dos seus antepassados e
assim reconstruir suas identidades étnico-raciais.
permite então ouvir uma fala diferente que, indo além do texto, não
nos fala só do outro, texto, mas do outro em nós, possibilitando-nos
tomar a palavra (SEKEFF, 2007, p. 26).
Toda música é uma criação artística, mas, mesmo que não tenha sido
produzida com um propósito social e político, pelo menos diretamente, o traz
implicitamente, isso porque a música é,
{...} a música não fala nem pensa, não se reduz ao que “sentia” o
compositor no momento de sua criação nem no que se pretende que
surgiram as imagens sonoras, as respostas que suscita vão muito além,
reconhecido na ação do chamado jogo poético da linguagem musical
(SEKEFF, 2007, pp. 25/26).
Portanto, “Respeitem meus cabelos, brancos” não foi composta com o fim
de que professores/as a utilizassem nas aulas de História. Todavia “música não é uma
98
criação arbitrária, e sua escuta tampouco é” (SEKEFF, 2007, p. 21). Tal afirmação se
confunde com as palavras desse cantor e compositor quando falou sobre essa música:
Embora a música tenha sido composta para o público cantar, ouvir e dançar,
também tem uma função social, sobretudo, educativa, à medida que ritmo e letra
chamam a atenção do ouvinte para o preconceito racial, representado no desrespeito aos
cabelos das pessoas negras. Desde o lançamento do show em 2002 à letra da música
“Respeitem meus cabelos, brancos”, tem chamado à atenção de setores da sociedade
brasileira, que nas redes sociais se manifestaram sobre o sentido da letra. Sobre tal
questão disse a blogueira Thamirys Pereira.
Sabe quando uma vírgula faz toda a diferença numa frase? Pois é o
que acontece com a música de hoje. Eu ainda não acredito que por
tanto tempo entendi errado o sentido que Chico César (Aquele de
Mama África, pra quem não se situou ainda) quis passar
com Respeitem meus cabelos, brancos. {...} Simpatizo muito com o
movimento negro. O preto, o pardo, ainda hoje, é ridicularizado em
nossa sociedade. Muitas vezes, o racismo é tão velado, tão intrínseco
ao nosso cotidiano, que não o percebemos. É preciso, então, que
alguém venha e nos mostre nossos privilégios, nossos preconceitos. E
é sobre isso que fala Respeitem meus cabelos, brancos. Reparem na
vírgula. É isso mesmo. Durante muito tempo acreditei que a frase
correta era "Respeitem meus cabelos brancos" e que fosse um brado
pelo respeito aos mais idosos. Mas agora vejo que esta frase
representa um clamor por uma causa de igual nobreza: a causa negra.
É um grito pelo poder de decidir sobre o próprio cabelo sem ser
julgado, taxado, desrespeitado (PEREIRA, 2013).
gênero musical marcante nessa música, sobretudo, pelo som da guitarra e bateria tocada
na mesma intensidade com que é cantada.
A letra é cantada de modo articulada, quase declamada em voz imposta a
chamar diretamente a atenção do ouvinte para a falta de respeito a que pessoas negras
são submetidas cotidianamente, principalmente no que diz respeito aos seus cabelos.
Chico Cesar chama atenção de todos ao dizer: <Respeitem meus cabelos, brancos.
Chegou a hora de falar vamos ser francos. Pois quando um preto fala o branco cala ou
deixa a sala com veludo nos tamancos. Cabelo veio da África, junto meus santos
benguelas, zulus, gêges, rebolos, bundos, bantos, batuques, toques, mandingas, danças,
tranças, cantos. Respeitem meus cabelos, brancos. Se eu quero pixaim, deixa. Se eu
quero enrolar, deixa. Se eu quero colorir, deixa. Se eu quero assanhar, deixa. Deixa,
deixa a madeixa balançar>.
A letra e o ritmo possibilitam aos/as professores/as trabalharem diversas
questões em sala de aula. Por isso, é importante analisá-la para além da postura política
do compositor/cantor e assim apontar outras discussões que estão para além do que a
primeira vista a letra da música oferece ao ouvinte. No exercício de analise da música é
importante à atenção aos comentários e críticas feitos por diferentes setores da
sociedade, isso possibilita perceber a recepção do público à obra, e os caminhos a que
este é induzido. No comentário sobre “Respeitem meus cabelos, brancos”, a blogueira
Thamirys Pereira, limitou a discussão ao preconceito racial existente no Brasil, o que
está relacionado a sua postura política:
.
A luta contra o preconceito racial deve ser de toda a sociedade. Por outro
lado à discussão e o enfrentamento ao preconceito racial não começou nos partidos de
esquerda e nem foram os intelectuais ou políticos de esquerda os mentores. As ações e
intervenções que ao longo da história se realizaram são frutos dos movimentos negros,
que desde o período colonial da história do Brasil se posicionaram contra a escravidão e
desde o pós-abolição se mantiveram contra o preconceito e em defesa da cidadania para
100
rebelde à tentativa dos brancos de querer dominar as pessoas negras e desqualificar seu
tipo de cabelo. Contra essa tentativa, Chico César canta o verbo deixar repetidas vezes:
“Se eu quero pixaim, deixa. Deixa, deixa, deixa a madeixa balançar”.
Referências
PINHEIRO, Augusto. Chico César coloca questão racial no seu novo show. In. Folha
Online, 2002. (Disponível em
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u27504.shtml. Acessado em 12 de
outubro de 2015, às 22h46min).
SEKEFF, Maria de Lourdes. Da Música, Seus Usos e Recursos. São Paulo: Editora da
UNESP, 2007.
TROTTA, Felipe da Costa & SANTOS, Kywza J. F. P. dos. Respeitem meus cabelos,
brancos: música, política e identidade negra. In. Revista Famecos: mídia, cultura e
tecnologia. Vol. 19, nº 01, Porto Alegre, janeiro/abril/2012. Disponível em
http://revistaseletronicas.pucrs.br/fale/ojs/index.php/revistafamecos/rt/captureCite/1135
0/7740. Acesso em 12 de outubro de 2015.
Discografia
I – INTRODUÇÃO
qual a comunidade está atrelada. Alagoa Grande faz limites com os municípios de
Alagoa Nova, Massaranduba, Serra Redonda, Matinhas, Areia, Alagoinha e Mulungu.
O município encontra-se inserido nos domínios da bacia hidrográfica do Rio
Mamanguape e possui uma área de 320,56 km², extensão que abrange o território onde
está localizada a comunidade quilombola.
Consideramos, no entanto, que o território não é definido exclusivamente pelo
aspecto do domínio físico, mas também de uma assimilação que aciona a dimensão
simbólica e histórico política, Gusmão (1999) propõe que a identificação de territórios
quilombolas seja percebida, em geral, por um tripé que relaciona “terra-parentesco-
pertencimento étnico” (auto declaração), uma vez que as comunidades quilombolas
relacionam-se com a terra efetivamente e nela estão as condições para sua sobrevivência
individual e familiar dadas por uma história de trabalho na terra. Assim, “estas
comunidades se pensam como vinculadas ao lugar e a sua história muitas vezes se inicia
no estabelecimento, no lugar, e por continuidade através de laços de parentesco [...]”
(GRÜNEWALD, 2011, p.19).
Desta forma, organizamos o capítulo em duas seções: 1) Território e
territorialidade, propondo uma reflexão teórica que assume o território como produto
da apropriação de um segmento do espaço por um dado grupo social e que sobre eles
estabelece relações políticas, afetivas, indenitárias e espirituais; 2) Grupos étnicos e
etnicidade, que objetiva problematizar o pertencimento étnico como um processo que
não se herda pelo sangue, mas se constrói por modos de vida e posicionamentos
políticos que são históricos, dinâmicos e complexos.
II – TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADE
memória afetiva, uma vez que aquele pedaço de chão é um patrimônio hereditário,
conquistado pelo processo de ocupação realizado por seus pais e avós. Tais elementos
constrói uma história de fundação dessa comunidade, ou seja, uma origem comum, o
território torna-se um fator regulador das relações sociais entre os membros da
comunidade (OLIVEIRA, 1998), aspecto que trataremos a seguir.
Outro dado relevante acerca do processo de divisão mais recente de Caiana foi
dado por Elza (42 anos), agente de saúde da comunidade e uma das lideranças da
Associação de Mulheres Negras de Caiana. Segundo ela, a divisão ocorre por questões
de acesso a políticas sociais do governo federal através da EMATER, ela narra a
seguinte situação:
Foi por conta, assim à comunidade no geral era uma comunidade muito
extensa e por esse motivo, pela questão de benefícios federais, por exemplo:
a casa de farinha comunitária, escola e outros benefícios então ficava muito
extenso, muito longe para que os aluno vinhece estudar todo mundo aqui,
então por esse motivo e a questão da associação dos moradores acharam por
bem fazer uma em Caiana do Agreste que era tudo Caiana e outra em Caiana
dos Crioulos, então, lá sempre já teve essa questão assim, num era Caiana do
Agreste, já dizia assim: Caiana de João Lula. Ele era uma grande líder lá de
Caiana do Agreste, agente diz que era uma Caiana só mais sempre teve esses
apeliduzinhos, por exemplo: Caiana de Baixo, Caiana de João Lula. Então
essas comunidades ficava muito distante para beneficiar de um órgão só,
como a escola, casa de farinha e outros. Era uma Caiana só, mas já se tinha
esses apelidos. Que a Caiana de João Lula é hoje Caiana do Agreste, ai
juntou com Caiana de Baixo. Isso desde eu pequeninha que eu ouvia falar
isso, quem nasceu e se criou aqui sabe desse detalhe de Caiana de Baixo e
Caiana de João Lula.
mais jovens não querem mais saber da vida de roçado, da lida com os bichos e muito
menos das festas religiosas que são relatadas como tradições de Caiana:
Antigamente era, faz que nem diz o ditado, antigamente aqui era muito
bonito, e era muito bom. Era muito religioso! Por que de quinze em quinze
dia, de oito em oito dia tinha uma novena, tinha uma reza, o pessoal fazia
muito promessa pra os santos. Ai quando aquele promessa ... era valida
aquela promessa ... ou Nossa Senhora da Conceição ou São Sebastião ou
Nossa Senhora da Saúde, Nossa Senhora do Bom Remédio, Nossa Senhora
das Cabeças, cada um tinha sua doença e tinha vários nomes de santos. São
Sebastião que é o livrador das pestes, faz que nem diz o ditado, se pegava
com aquele santo pra rezar o terço, ai pronto, ai faz que nem diz o ditado, era
servido daquela promessa, ai pronto quando era no sábado, ó fulana vai lá pra
casa sábado, sábado lá em casa eu vou rezar um terço sábado, eu fiz uma
promessa com tal santo e vou ... quando for sábado eu vou rezar um terço, ai
a gente ia pra aquele terço, quando num era um terço era uma novena, faz que
nem diz o ditado, ai chamava a bandinha, tinha uma banda de pífano aqui na
Caiana, ai chamava aquele bandinha, aquela bandinha ia só pra rezar o terço e
depois do terço ai tenha a comemoração de beijar o santo que antigamente
a gente beijava o santo, ai pronta, ai o tocador entrava quando beijar ai acaba
a brincadeira, ai ia pra aquele novena rezava o terço ai quando terminava de
rezar os tocador beijava ai ficada por ali um pedacinho tomava um café um
tira-gosto, ai todo mundo ia pra sua casas.
Paulo Rosalina
Alves Maria da
da Cruz Conceição
Bevenuta
Caetano Rosalina da
Paulo Conceição
Manuel Josefa
José Josefa Francisca da
Maria da Caetano
Loureço Conceição
Conceição
Sabastião Maria
José da Josefa da
Silva Conceição
Severino João Antonio Pedro Paulo Josefa Maria das Luzia José
Sebastião Sebastião Sebastião Sebastião Sebastião Maria da Dores da Maria Defá
da Silva da Silva da Silva da Silva da Silva Conceição Silva da Silva Caetano
Juliana Alexandra
Conceição Conceição
O tema desta sessão será tratado a partir de Barth (1998), que compreende os
grupos étnicos como um tipo organizacional, distanciando-se da compreensão que toma
como referência os traços culturais comuns ao grupo como central. Barth não
desconsidera os elementos culturais compartilhados, mas os vê como implicações e
resultado de um tipo de organização dos grupos étnicos. Deste modo, o ponto central
nas reflexões de Barth é a identificação das fronteiras étnicas como elemento que define
os grupos e não a essência cultural que ele contém. Temos, desta forma, que a
identidade cultural desses grupos não se herda pelo sangue, mas se constrói por modos
de vida que são históricos, dinâmicos e complexos.
Portanto, a definição de pertencimento étnico deve ser considerada como fruto
de um processo político de constituição de uma identidade e uma organização sócio-
política singular (BARTH, 1998), mobilizada pelos sujeitos da comunidade dentro do
processo histórico afim de reconhecimento étnico racial e da titularidade territorial.
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Neste âmbito, dois aspectos devem ser evidenciados sobre a etnicidade, um leva em
consideração que a “[...] etnicidade não é vazia de conteúdo cultural, mas ela nunca é
também a simples expressão de uma cultura já pronta” (POUTIGNAT, 1998, p.129), e o
outro leva em consideração o comportamento cognitivo/afetivo (EPSTEIN apud
GRÜNEWALD, 2011) caminho que não restringe a etnicidade a elementos de
interesses, que representaria uma visão estritamente racional do fenômeno. Assim
passamos apresentar a composição étnico-politica de Caiana dos Crioulos tendo como
marco conceitual as ponderações feitas por Barth (1998).
V - CONSIDERAÇÕES FINAIS
VI – REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. Os quilombos e as novas étnias. pp.43-81 In:
O’DWYER, Eliane Cantarino (org.). Quilombos: identidade étnica e territorialidade.
Rio de Janeiro – RJ: Ed. FGV/ Associação Brasileira de Antropologia-ABA, 2002.
GUSMÃO, Neusa Maria Mendes de. Herança Quilombola: negros, terras e direitos. pp.
143-162 IN: BACELAR, Jeferson. CAROSO, Carlos. Brasil, um país de negros?. Rio
de Janeiro : Pallas, 1999.
OLIVEIRA, João Pacheco de. Cap. 1: Os obstáculos ao estudo do contato. pp.24-59 In:
___________. O Nosso Governo: os Ticuna e o regime tutelar. São Paulo – SP:
MCT/CNPq, 1988.
RAFFESTIN, Claude. Por uma Geografia do Poder. São Paulo-SP: Ática, 1993.
Mestra em Ciências das Religiões pela Universidade Federal da Paraíba (2011). Possui
Licenciatura Plena em História pela Universidade Estadual da Paraíba
(2008).Graduanda em Pedagogia (UFPB). Atualmente trabalha com Educação Étnico-
racial na SEE-PB/GEDI/NEER. Atuou como professora/tutora no NEaD/SEE/PB ;
Professora de História na educação básica. Professora/ mediadora EAD no Curso de
Formação Sexualidade, Prevenção das DST/AIDS E Hepatites virais. Professora no
curso Progestão Online pela Secretaria Estadual de Educação/PB.Tutora no curso EAD
Educação para relações etnicorraciais. Historiadora, atuando principalmente nos
seguintes temas: Educação, Educação Infantil, Religiosidade afro-brasileira, Preconceito
e Religião; História Cultural; Diversidade (Cultural, Religiosa e de Gênero) e Educação
Étnico-racial.
SOLANGE P. ROCHA