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Eu quando escrevo
Não tenho nome, jeito, cor, ou idade.
Não sou nada, um pedaço de gente, um quase ninguém.
Quando escrevo me anulo, contente, feliz e satisfeito.
Me entrego de todo aberto o peito, sou sujeito refém.
Não do mal, não do bem,
Nem de mim…
Da verdade.
CONTIGO
Bonito...
Bonito!
Firme,
Forte,
Fino,
Rico,
Farto.
Aí parado,
Me olhando de cima para baixo!
Imponente e invejável.
Ereto,
Duro,
Rígido,
Engessado.
Diante de meus olhos sensíveis:
Engessado.
Uma bela obra.
Insuperáveis curvas;
Divinos traços do seu rosto;
Inegável corpo teu.
Corpo, corpo, corpo.
Engessado.
Instigante a primeira vista,
Mas sem gesto algum,
Incólume.
Coisa estática!
É como se estivesse preso dentro de si mesmo,
De modo que não brilham mais os seus olhos.
Nem se arregalam ou enxergam em volta,
Os seus olhos.
Secos,
Ocos,
Sem sinal de vida, o semblante.
Belo,
Belo semblante
Sem sinal de vida.
Sem afeto,
Sem carinho,
Sem carinho?
Fria pele sem arrepios,
Deliciosos músculos sem descanso,
Os desejáveis músculos teus,
Sempre erguidos,
Montados, armados,
De prontidão e disfarce.
Ao seu dispor.
A minha submissão.
Sem movimento,
Sem o o suor necessário,
Coração sem ritmo.
Lindo,
Bem feito.
Bonito,
Muito bonito!
Inquestionavelmente!
Ponho na estante, exibo às visitas e saio à rua, a procura do que realmente me apetece.
Demiurgo
Tudo me transforma.
Da comida que como a roupa que visto.
Das coisas que falo as que escuto em silêncio.
O que faço, o que disfarço o que calo, o que penso:
Tudo me transforma.
Até mesmo aquilo a que resisto.
Quando em permanecer o que sou insisto
Sou transformado também.
E sequer o meu pedante desdém
Me mantém das forças do mundo a salvo.
Das mudanças do tempo sou inevitável alvo,
Das andanças da vida um refém.
Tudo se transforma.
E a minha rígida forma
Forjada em leitura conversas festas e ócio
É frágil como uma taça
Que cedo ou tarde estilhaça
E no chão se termina em cacos de vidro.
Derramado vinho, vermelho líquido
se assemelha e se mistura ao sangue que agora brota corrente.
O mantive em meu cerne, vistoso e retinto,
Contente, o levei as mais sábias e proféticas bocas.
Hoje corto as mãos de quem saudoso me colhe.