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CASAS
FAMILIARES
RURAIS
Transamazônica e Xingu
REALIZAÇÃO:
Fundação Viver Produzir e Preservar
CONSULTORIA:
CONSFLOR ‐ UFOPA ‐ Empresa Júnior de
Consultoria e Serviço Florestal
ELABORAÇÃO:
Ana Paula Santos Souza
Charlyngton da Silva e Silva
DIAGRAMAÇÃO:
Charlyngton da Silva e Silva
FOTOS:
Arquivo FVPP
APOIO:
PDA/MMA – Projeto 204‐P
BIRD, CEC, KFW/ FFEM, DFID, BANCO DO
BRASIL
IPAM‐ Ins tuto de Pesquisa da Amazônia
ENDEREÇO FVPP:
Rua Anchieta, 2092, Bairro Perpétuo Socorro,
Altamira, Pará
Fone: (93) 3515‐2406 ‐ (93) 3515‐3013
Site: www.fvpp.org.br ‐ Email. fvppaltamira@yahoo.com.br
A FUNDAÇÃO VIVER, PRODUZIR E PRESERVAR
1. APRESENTAÇÃO: ................................................................................................................................................................................................ 05
04. CONTEXTO EDUCACIONAL DOS MUNICIPIOS EM QUE AS CFR ESTÃO EM FUNCIONAMENTO. .............................................................. 33
ParteI ‐ O QUE A FAMÍLIA PREVÊ PARA A CONTINUIDADE DA FORMAÇÃO ESCOLAR DOS FILHOS. .......................................................... 35
Sumário
06. MUDANÇAS OBSERVADAS PELAS FAMILIAS NO COMPORTAMENTO DOS JOVENS QUE ESTUDAM NA CFR. ........................................ 41
07. O QUE VOCÊ APRENDEU NAS CFR QUE SERVE NA SUA VIDA? .................................................................................................................... 46
08. AVALIAÇÃO EXTERNA DAS CFR POR ORGANIZAÇOES RELIGIOSAS, PRIVADAS E PROJETOS NÃO‐GOVERNAMENTAIS. ...................... 49
09. AVALIAÇÃO DAS CFR POR GESTORES PÚBLICOS MUNICIPAIS DA ÁREAS DE EDUCAÇÃO E AGRICULTURA E VEREADORES. .............. 50
10. ASPECTOS JURÍDICOS A SEREM CONSIDERADOS NAS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO PARA O CAMPO. ...................................................... 52
11. RECOMENDAÇÕES COM VISTAS À PROXIMA ETAPA DAS CFR DA ‐ TRANSAMAZÔNICA. ..................................................................... 55
A EDUCAÇÃO NO CAMPO
NO BRASIL
A PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA
COMO EDUCAÇÃO ALTERNATIVA
NO MEIO RURAL
¹“A associação de Pais da Casa Familiar Rural de Pacajá foi fundada em 1997 e foi a segunda associada na região e no Estado, com o objetivo de administrar e participar do processo educativo
dos jovens. As atividades educativas iniciaram em 19 de abril 1998, como uma turma de 25 jovens trabalhadores e trabalhadorasdo campo”(CFR ²PACAJÀ, PPP, 2009)
“A Casa Familiar Rural de Uruará teve suas atividades iniciadas em 03 de março de 2000, com uma turma de vinte cinco alunos.” ( CFR Uruará, PPP,2009).
Aula Prá ca
Cer ficação
5%
13%
NR
Entre 20 e 30 anos
como principal fonte de sobrevivência a
agricultura e a pecuária em regime de trabalho Mais de 60 anos
familiar. Parte das famílias receberam lotes no 55%
período inicial da colonização, parte se compõe 25% Entre 30 e 45 anos
dos que adquiriram suas propriedades de outras
de 45 a 60 anos
posses e outra parte vive nos projetos de
assentamento rurais recentes³. Trata-se de uma
área pública federal que vem sendo repassada a Predominam famílias cujo chefe está na faixa
agricultores e outras modalidades de uso, há etária entre 45 e 60 anos, ou seja, famílias com
cerca de quarenta anos, desde o início da filhos adolescentes, mas também com filhos mais
colonização da BR-230 (Transamazônica). maduros.
³Na década passada a região da Transamazônica passou por um processo de ocupação das últimas faixas de terras públicas, com destinação de parte dessas
áreas para assentamentos de reforma agrária, nas categorias de uso como PAs-Projetos de Assentamento, PDSs-Projetos de desenvolvimento Sustentável.
Também foram destinadas áreas para RESEXs-Reservas Extrativistas, para uso de populações tradicionais, assim como um mosaico de UCs de uso
sustentável e de preservação, principalmente na Terra do Meio.
Não
41%
51% NR
Sim
17%
Apesar do esforço do Programa Luz para
Todos para a extensão de energia nas estradas 1%
Não
vicinais da região, 41% das famílias ainda não
NR
possuem energia elétrica em suas propriedades.
Porém, o fato de 51% das famílias terem energia em Sim
Entre 2,1 e 4 Km
Entre 6,1 e 9 Km
51%
Mais de 9 Km
13%
NR
LOGÍSTICA DA PROPRIEDADE
Como se observa, a maioria das famílias dos Como já mencionado, 35% das famílias
alunos das CFR se enquadra no conceito de residem nas propriedades há mais de 20 anos,
agricultores familiares (detentores de 1 a 4 módulos enquanto que 31% residem num período entre 10 e
rurais da região). A subdivisão dos lotes entre os 20 anos. Desta forma, 66% das famílias apresentam
filhos, fenômeno observado nas economias um tempo suficiente para criar raízes e relações
agrárias mais dinâmicas começa a se reproduzir na econômicas, políticas, culturais e sociais na região.
área da colonização. Pode-se dizer então que os alunos das CFR da
Transamazônica são uma geração proveniente de
Gráfico 6 - Regime de posse da propriedade famílias de agricultores estáveis, que buscam no
4%
modelo de alternância, um mecanismo de
NR
integração entre formação escolar e fortalecimento
32% 20% Outros
de sua condição como agricultores familiares cujo
Posse/Protocolo
projeto de vida está associado a sua viabilidade
10% Recibo de compra e venda social nesta região.
12%
RB As CFR, são portanto, um modelo de
22% Título Definitivo/escritura educação rural que pode auxiliar na afirmação de
projetos de desenvolvimento rural, como o
A maioria das famílias apresenta situação existente na Transamazônica. Para isso, parece ser
jurídica precária em relação a propriedade da terra. importante no atual momento, uma definição
São 32% as que possuem título definitivo, um estratégica quanto ao passo seguinte a ser
número muito baixo, considerando que a maioria empreendido pela agricultura familiar da região,
está na propriedade há mais de vinte anos. principalmente em sua matriz tecnológica e adequar
as CFR a esses objetivos.
46%
Renda entre 5 e 10 salários LAVOURA BRANCA
Renda acima de 10 salários
34%
As atividades agropecuárias são as principais
Tem lavoura branca
fontes de renda das famílias representando 53% da
receita financeira total, havendo predominância da
agricultura/roça (26%) sobre a pecuária (17%) e Não tem lavoura
66% branca
pequenas criações (10%). Vale ressaltar que 37% da
renda é proveniente de programas sociais, salários e
benefícios do INSS com destaque para a bolsa
família que representa 19% da renda das famílias.
PRODUÇÃO ANIMAL
Gráfico 13. Sistema de criação de animais
4%
PLANTAS DE USO
De forma geral, o extrativismo
é uma atividade muito MEDICINAL
frequente entre as famílias de UTILIZADAS
alunos das CFR, mas de pouca PELA FAMÍLIA
importância financeira para
essas famílias. De 74 famílias
que reponderam os Na região da Transamazônica e
questionários da pesquisa Xingu o uso de plantas
sobre atividades extrativistas, medicinais e práticas
93% declararam fazer algum homeopáticas ainda se mantêm.
tipo de coleta de produtos Nesse estudo foram
extrativistas, porém essa identificadas 18 espécies
atividade representa apenas vegetais com uso medicinal
5% da receita financeira das (alfavaca, ameixa, boldo, capim
família. santo, casca de ipê roxo, casca
de quina, cidreira, gengibre,
Uma análise de atividades de hortelã, jatobá, malva-grossa,
25 famílias que fazem mastruz, meracilina, mogno,
extrativismo mostrou que none, Santa Maria, siriguela e
HORTALIÇAS 100% dos produtos foram vassourinha). Dessas espécies
usados para o auto-consumo e pode-se observar que a grande
uma parte foi comercializada, maioria são plantas cultivadas e
Foram identificadas 13 reforçando a importância que poucas são espécies coletadas
espécies de hortaliças cultivadas produtos extrativistas tem para diretamente da floresta.
pelas famílias de alunos das o consumo interno das
CFR (coentro, tomate, famílias. Embora apenas 23% da
cebolinha, almeirão, pimentão, amostra do estudo declare o
repolho, couve, rúcula, quiabo, cultivo de plantas medicinais, a
abóbora, mostarda, alface e conservação desses
maxixe. Existe um forte conhecimentos como um
engajamento dos alunos no capital das famílias está
cultivo e menor participação na demonstrado no gráfico 61, em
venda das hortaliças. Esse que 65% da obtenção das
padrão pode estar sendo plantas se dá nas propriedades e
influenciado pelo fato de os 19% nos círculos de vizinhança.
alunos terem oportunidade de Como este tipo de atividade
participar em experiências tem sido tradicionalmente
práticas de produção de desenvolvida pelas mulheres,
hortaliças durante a alternância cuja ciência do uso medicinal de
nas CFRs (todas tiveram ou plantas têm sob seu domínio,
têm cultivo de hortaliças) e essa é uma atividade a ser
estarem tentando reproduzir os incentivada no âmbito do
conhecimentos adquiridos nos ensino das CFR.
lotes de seus pais.
Este estudo identificou que 79% das famílias A primeira avaliação se refere ao uso de
beneficiam algum produto e a variação nas mecanização com tratores nas atividades
porcentagens em cada município se observa agropecuárias em que 32% das famílias fazem
relativa uniformidade entre os municípios com algum uso de trator agrícola no lote. O fato de
destaque para as famílias de Brasil Novo, Vitória do quase 1/3 das famílias das CFR já usarem trator
Xingu e Senador José Porfírio em que 100% fazem indica um processo inicial de mecanização agrícola
o beneficiamento dos produtos do seus lotes. que deve ser ampliado nos próximos anos,
sobretudo com o aumento das exigências
Quinze produtos são beneficiados pelas ambientais que estão impedindo, cada vez mais, o
famílias de alunos das CFR (artesanato de cipó, uso dos métodos tradicionais de corte e queima
artesanato de palha, carvão, chocolate, doce de para o preparo de áreas agrícolas. Apenas 20% das
frutas, estacas, farinha de mandioca, goma de famílias usam tratores particulares e o restante
mandioca, leite, madeira para construção, (80%) usam tratores de terceiros obtidos por
manteiga, ovos, queijo, requeijão e tucupi). empréstimos ou aluguéis.
Gráfico 14: Destinação dos produtos beneficiados Gráfico 15: Uso principal dos tratores
1% 1%
7% Preparo de área
13%
Fazer Açude
Só consumo 9%
44%
32% Consumo e Venda Fazer/Conservar Estradas
60% Só venda
Transporte de cargas
Sem Informação
33%
Dividir o lote
USO DE TRAÇÃO ANIMAL
Parte IV - Perfil Econômico e Base Produtiva das Famílias Envolvidas nas CFR da Região da Transamazônica e Xingu
Debulhador de Milho Farinheira Elétrica Caixote de juntar esterco Inse cida Orgânico
C RÉD ITO
O FNO, em diferen tes mo da lida d es,
O g rá fico a b a ixo mo stra que 69% da s é a lin h a de crédito ma is a cessa da p ela s
famílias de alunos das CFR já tiveram f a m í l i a s, s e g u i d a p e l o P RO N A F q u e
a c e s s o a a l g u m a l i n h a d e c r é d i t o. C o m ta mb ém a p resen ta vá ria s mo da lida d es
desta que p a ra Medicilâ n dia o n de cerca de (jovem, mulh er, A , B, C, D, investimen to
9 0 % d a s f a m í l i a s r e c e b e r a m c r é d i t o, e Ma is A limen to s). E n tre a s a tivid a d es
c e r t a m e n t e, i n fl u e n c i a d a s p e l a f o r ç a d a que mais receberam financiamento
ca ca uicultura do mun icíp io. estã o em p rimeiro lug a r a cria çã o de g a do
e em segun do o cultivo de ca ca u.
Gráfico 17: Acesso a linha de crédito pelas famílias
31%
Teve acesso a crédito
21%
Água de Boa Qualidade
Com assoreamento
Não sabe
75%
Gráfico 19: Situaçaõ do CAR nos lotes das famílias etc...) também é uma prática adotada.
38%
Fez CAR provisório
15%
Permanência de mão-de-obra na propriedade, A opção pela CFR é para “aprender mais como
“o filho continua ajudando em casa”. -A CFR trabalhar na propriedade e pela valorização da
é muito boa por ter dois cursos em um só”. propriedade”.
(ensino formal e o ensino técnico).
Uma “qualificação voltada para a
A Pedagogia da alternância é concebida pela propriedade”, como essência da própria
maioria como:“estudar em escola de boa “qualificação do ensino”.
qualidade e passar 15 dias em casa”.
A qualidade do ensino é citada em todos os
Falta de outras escolas próximas e os estudos municípios como um conceito ora associado à
que podem melhorar a propriedade. proposta de alternância, ora como avaliação
dos resultados na formação das turmas que já
As influências familiares e da comunidade passaram pelas CFR.
servem como referência para muitas das
escolhas. Na CFR o “conhecimento é para ajudar a
comunidade”.
A participação das famílias nos STTR –
b) F o r t a l e c i m e n t o
Institucional
Oficinas de Aperfeiçoamento
Conteúdos ministrados
pelos monitores das CFR
Cidadania e movimentos sociais, Ferramentas
da Pedagogia de Alternância, História local,
Associativismo, Agricultura, Conhecimentos
sobre a pecuária, Interpretação e análise de
gráficos, Histórico dos movimentos sociais
regionais, Cultura local, Cultivos da região,
Preser vação ambiental, Economia
(gerenciamento da propriedade). Agricultura Desafios para a CFR
f a m i l i a r, N o ç õ e s d e a d m i n i s t r a ç ã o d a
propriedade, Valorização e reconhecimento dos
tipos de solos, Cultivos diversos (realidade · Dificuldades financeiras (falta de veículos, materiais
regional), Cultura de cacau, Criação de bovinos, para oficina, etc.)
Criação de aves, Horticultura, a questão fundiária · Falta de equipamentos: trator, aparelho topográfico,
e agrária, Geologia: os tipos de solos do arado, etc.
mu n i c í p i o, G e s t ã o d a p r o p r i e d a d e, · Estradas de difícil acesso no inverno
Cooperativismo, Legislaçao agrária, Interpretação · Mais treinamento dos monitores para trabalhar com
textual- Habilidade de leitura-Domínio da escrita- interdisciplinaridade.
Gramática, Formação política, Desenvolvimento · Financiamento permanente para o projeto CFR
social, Operações-geometria-trigonometria- · Adaptação de metodologias considerando a realidade
medidas de cálculo de área, de construções entre dos alunos
outros.
· Trabalhar a interdisciplinaridade
· Inserir a língua portuguesa na Base Técnica,
Importante observar que todas as CFR têm utilizando temas geradores.
PPP estruturados, ricos em detalhamento · A responsabilidade com os alunos, pois eles ficam dia
conceitual e operacional. O que pode merecer e noite sob a responsabilidade dos monitores.
mais atenção é o envolvimento dos monitores · O perfil dos alunos, nem sempre ligados a agricultura.
desde a concepção e\ou apropriação dos · Quadro de recursos humanos insuficiente (falta de
conteúdos desses projetos , como mecanismo de governanta, vigia noturno, entre outros).
domínio e enriquecimento a partir de sua
· Indisciplina de alguns alunos.
formação intelectual e técnica e experiência na
execução dos mesmos. Isto faz parte da gestão · Equipe com profissionais adequados.
pedagógica do processo.
4
“Partirá do princípio de que todo conhecimento mantém um diálogo permanente com outros conhecimentos, que pode ser de questionamento, de negação, de
complementação, de ampliação, de iluminação de aspectos não distinguidos”. Artigo 8º, I, resolução CEB 3/1998. (PPP-uruará,2009).
VIII
AVALIAÇÃO EXTERNA DAS CFR: POR ORGANIZAÇÕES
RELIGIOSAS, PRIVADAS E PROJETOS
NÃO‐GOVERNAMENTAIS
5
Além desses apoios foi registrado o empenho da Paróquia de Pacajá, representada pela Senhora Maria Lucimar que, no início da CFR, cedeu espaço para os jovens assistirem aulas,
barracao para reuniões, utensílios de cozinha e preparavam as refeições, pois era muito precário e esse trabalho, conforme o depoimento, foi muito gratificante, pois o projeto prosperou.
6
O agricultor e técnico agrícola Monteiro, de Medicilândia desenvolveu técnicas locais adaptando métodos de preparação de roças sem o uso do fogo, tendo sido uma das
experiências exitosas apoiadas pelo PDA\PPG7 e com apropriação ampla por produtores da região.
7
Este projeto foi formulado pelas lideranças dos movimentos sociais agregados na FVPP, em 2003, com apoio do Ministério do Meio Ambiente que pretendia discutir estratégias de
ampliação do impacto de projetos socioambientais apoiados na região e na Amazônia. O projeto 2003-2013 sinalizou ações estratégias de políticas públicas como o ordenamento
territorial, o aperfeiçoamento das estratégias econômicas e a ampliação do impacto das CFRs junto com a implantação de novas unidades de ensino superior e tecnológico. Em
2010, houve uma avaliação da implementação do Projeto 2003-2013, resultando em proposições para os próximos 10 anos, considerando nova conjuntura institucional. A
singularidade desse processo reside no fato de que é um caso raro em que as políticas públicas de desenvolvimento são pensadas no âmbito da sociedade e com esta pauta se
estabelece o diálogo com o governo.