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GLT/24

GRUPO DE ESTUDO DE LINHAS DE TRANSMISSÃO - GLT

NOVA METODOLOGIA PARA A DETERMINAÇÃO DE DISTÂNCIA MÍNIMA DE SEGURANÇA PARA LINHAS


SUJEITAS A DESLIGAMENTOS POR QUEIMADAS: ESTUDO DE CASO E APLICAÇÃO DE ANÁLISE
GEOESTATÍSTICA

ALESSANDRO CESAR DE SOUSA BERREDO

RESUMO

Nos últimos dez anos, queimadas foram o segundo maior causador de desligamentos no Sistema Interligado Nacional
(SIN) [1]. Este artigo apresenta uma análise estatístico-espacial orientada por dados de projeto, operação e histórico
de falhas provocadas por descargas induzidas por queimadas em uma linha de transmissão compacta operando em
500 kV visando estabelecer uma metodologia de cálculo para a determinação de distância mínima de segurança e
largura manejo de vegetação em faixas de servidão de linhas de transmissão sujeitas a queimadas.

PALAVRAS-CHAVE

Descarga induzida por Queimada; Incêndio Florestal; Linhas de Transmissão; Limpeza de Faixa; Manejo de
Vegetação; Queimadas.

1.0 INTRODUÇÃO

Nos últimos dez anos, queimadas causaram 3.900 desligamentos de linhas de transmissão, respondendo por 25.8%
do total de eventos somente no SIN [1]. As queimadas foram o segundo maior causador de desligamentos, ficando
atrás somente das descargas atmosféricas, o que fez contribuiu para que o órgão regulador tomasse medidas de
fiscalização mais rigorosas ao longo dos últimos anos.

Em contrapartida, ao contrário da notória preocupação dos engenheiros nos projetos de linhas com o desempenho
das instalações frente às descargas atmosféricas, ações para a melhoria do desempenho das linhas frente as
queimadas parecem seguir discretas nas fases de planejamento, licenciamento e projeto de novas linhas. A carência
destas ações ainda na fase de projeto tem condenado muitas linhas de transmissão à protocolos de supressão de
vegetação na faixa de servidão muitas vezes técnica e economicamente inviáveis. Uma pesquisa realizada com
transmissoras brasileiras em 2022 revelou que a limpeza de faixa de servidão fora a segunda maior despesa
operacional em 43% das empresas respondentes. Os demais 57% respondentes afirmaram que a limpeza de faixa
se enquadra entre a terceira e a quinta maiores despesas operacionais.

No Brasil, as instalações de transmissão devem atender requisitos técnicos elétricos, mecânicos e ambientais
mínimos estabelecidos em edital e na legislação a fim de obter a licença de operação. A norma brasileira vigente
para projetos de linhas de aéreas, NBR 5422 [2], não estabelece um critério específico para o cálculo de distância
mínima de segurança para vegetação sujeita a queimadas, se limitando ao cálculo de distância mínima para o
obstáculo e ao protocolo de manejo da vegetação na faixa de servidão.

A contratação de novas concessionárias de transmissão acontece por meio de leilões de energia. A eficiência do
modelo é obtida por meio da concorrência dos proponentes, onde o candidato que propõe o menor deságio sobre a
receita anual permitida oferecida pelo governo, atendendo os requisitos de edital, obtém o direito de instalar e operar
a nova linha de transmissão pelo período de concessão contratado. Como a necessidade de mitigação da
vulnerabilidade ao incêndio florestal não é estabelecida nas diretrizes do edital — e não é estabelecida em nenhuma
norma técnica nacional ou internacional — a adoção de distância de segurança específica para vegetação sujeita a
incêndios é raramente considerada na avaliação dos proponentes. Obviamente, dada tal situação, qualquer oferta
de deságio adotando uma maior distância de segurança a fim de aumentar a confiabilidade da futura instalação frente
às queimadas resultaria em uma proposta de receita anual permitida desfavorável em comparação aos concorrentes
e, consequentemente, em uma menor probabilidade de arremate no leilão de transmissão.
Na prática, o baixo desempenho operacional das linhas de transmissão do SIN expostas a queimadas por si só
ressalta a necessidade de se estabelecer critérios técnicos mínimos de desempenho para este modo de falha.

adesousa@uncc.edu
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Somado a isso, a introdução das linhas de potência natural elevada (LPNE) com distâncias compactas entre fases,
e a manutenção das distancias verticais praticadas entre os condutores e o solo parece ter impactado
significativamente a vulnerabilidade das instalações expostas a queimadas. Linhas compactas têm apresentado um
aumento substancial no número de falhas envolvendo múltiplas fases mesmo em regiões onde o manejo de
vegetação é frequentemente executado.

Mais recentemente, diversas linhas de transmissão instaladas em locais de reconhecida alta incidência de queimadas
foram licenciadas a operar com restrição parcial ou total de manejo da vegetação presente na faixa de servidão.
Apesar do projeto considerar a vegetação um obstáculo seguindo o que determina a norma brasileira, tal protocolo
não considera os fatores relacionados ao incêndio da vegetação que podem levar a redução da rigidez dielétrica do
meio e consequentemente ao desligamento da instalação.
Este não é um problema exclusivamente brasileiro. Diversos países como Canadá, México, África do Sul, Austrália,
China e Portugal sofrem com desligamentos provocados por queimadas, sejam eles causados por danos aos
componentes ou por descargas elétricas induzidas pelo incêndio [3]. Conforme mencionado anteriormente, apesar
de a norma brasileira vigente não estabelecer procedimentos específicos para o cálculo de distância mínima de
segurança para vegetação sujeita a queimadas, este tópico não é diretamente endereçado em nenhuma outra norma
internacional.

Este trabalho apresenta a análise de histórico de desempenho de uma instalação de linha de transmissão compacta
operando em 500 kV no norte do Brasil, para o período entre 2013 e 2021, a fim de estabelecer um critério para o
cálculo de distância de segurança mínima para linhas similares expostas a queimadas. Este artigo também compara
resultados da análise com a metodologia vigente. Esta proposta dá um passo adiante no auxílio ao estabelecimento
de requisitos técnicos visando endereçar o problema da exposição a queimadas em futuros editais de linhas de
transmissão, bem como na avaliação de critérios de manejo de vegetação adotados em instalações existentes.

1.1 ESTUDO DE CASO

A linha de transmissão estudo de caso deste artigo trata-se de um circuito simples compacto operando em 500 kV
com extensão total de 923,4 km. O circuito atravessa o bioma do Cerrado em aproximadamente 59.7% de sua
extensão e 40,3% em área de Caatinga. A Figura 1 ilustra a localização da instalação e os biomas atravessados.

Figura 1 Localização da instalação estudo de caso

A linha, instalada em uma faixa de servidão com 70 metros de largura fixa, foi projetada para a distância vertical
mínima de 9,5 metros entre os cabos condutores e o solo, atendendo aos requisitos de distância mínima de
segurança da NBR 5422 para áreas agriculturáveis pelo método de cálculo convencional [2]. A linha adota 5 metros
de espaçamento entre os subcondutores internos de feixes quádruplos simétricos convencionais (45,7 cm). De
acordo com a transmissora, a vegetação remanescente na lateral da área roçada tem altura média de 3 metros. A
Figura 2 ilustra as distâncias e os espaçamentos adotados bem como o esquema de limpeza de faixa. A limpeza de
faixa com corte raso é realizada em 28 metros da largura total da faixa em atendimento aos requisitos da licença de
operação. A área de corte raso é elencada com base nas distâncias verticais existentes e pode variar com o
comprimento do vão – inclusive se dividir em até três partes isoladas a depender do relevo.
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Figura 2 Dimensões e esquema de supressão de vegetação da instalação

2.0 MODO DE FALHA

Segundo a literatura, desligamentos causados por queimadas podem ser atribuídos à danos aos componentes (e.g.,
colapso de uma estrutura suporte de madeira ou contaminação de isoladores) ou à redução da rigidez dielétrica do
ar entre condutores e o solo devido às altas temperaturas, mas também devido à exposição às chamas e à materiais
particulados, gases e sais suspensos na coluna de fumaça [5]. Em condições ambientais controladas, determinar a
rigidez dielétrica do ar é um problema probabilístico de multiplas variáveis bem dominado pelos engenheiros.
Entretanto, quando variáveis relacionadas ao incêndio são incluídas, torna-se impraticável estimar com a mesma
acurácia a distância mínima de segurança para a qual o circuito exposto à queimada não resultará em falha.
Somado a isso, muitos desses parâmetros possuem interdependência e dependência de fatores ambientais externos,
climatológicos e sociais associados também à ignição e propagação de incêndios florestais, como temperatura
ambiente e umidade relativa, características da vegetação atravessada, relevo, vento e cultura da população local
[5].

2.1 ANÁLISE DO HISTÓRICO DE FALHAS

A linha estudo de caso entrou em operação comercial no ano de 2002. Entre 2013 e 2021, 108 falhas ocorreram
devido a descargas induzidas por queimadas. Curiosamente, de todos os eventos de desligamento, somente um
caso ocorreu em um vão onde a atividade de supressão não fora executada. A altura entre os condutores e o solo
naquele vão para a condição crítica de operação é de aproximadamente 16,8 metros.

A análise revelou que eventos envolvendo a fase central e uma das fases laterais – próxima a vegetação
remanescente com três metros de altura média – responderam por 76% dos desligamentos. No total, 83.3% dos
desligamentos envolveram duas fases. A Figura 3 mostra que as fases esquerda e central responderam por 44 dos
108 desligamentos, e as fases direita e central responderam por 38 desligamentos. As fases esquerda e direita
desligaram simultaneamente em oito eventos adicionais. Estes resultados evidenciam a característica dos
desligamentos, aparentemente influenciados pela largura de manejo de vegetação adotado, onde o combustível
existente no limite da área de manejo resulta em uma intensidade de fogo maior expondo as fases laterais à
temperaturas mais elevadas, mas também à redução da distância elétrica devido ao comprimento de chama e ao
material particulado suspenso no ar proveniente da queima da vegetação nos limites da área de manejo.
Os dados também corroboram para o fato de que a técnica de roço – corte raso – praticado embaixo dos cabos
condutores se mostra razoável para a manutenção da rigidez dielétrica vertical para as distâncias encontradas, já
que somente 14% dos desligamentos foram monofásicos.
4

Figura 3 Classificação de desligamentos por fases envolvidas

A Figura 4 mostra os resultados de frequência e frequência acumulada de desligamentos por faixa de distância direta
entre as fases laterais e o topo da vegetação no limite da área de manejo. Vãos com distância direta lateral entre
10,54 e 11,11 m responderam por 86,52% dos desligamentos. A distância lateral de até 10,54 m, relacionada a 43,8%
dos desligamentos, corresponde aos vãos com altura cabo-solo de 9,55 m, aderente com a altura cabo-solo
especificada no projeto da linha. Os desligamentos cessaram para distâncias diretas acima de 12,81 m.

Figura 4 Frequência de desligamentos por faixas de distância entre condutor lateral e vegetação média

Assumindo a altura média de três metros para a vegetação nos limites da área de supressão e a distância direta de
11,39 m para a vegetação lateral, obtida na investigação do histórico de falhas, seria necessária altura mínima de
10,83 m entre os condutores e o solo roçado a fim de obter o desempenho mantendo a largura de manejo existente.
Mantendo a altura de projeto de 9,5 metros exigiria um aumento aproximado de 28 m para 33,5 m na largura da área
de manejo, ou seja, um aumento de aproximadamente 2,8 metros para cada lado. Este artigo assumiu comprimento
de chama médio de 2 metros atingindo a linha transversalmente na direção dos condutores laterais. A título de
referência, Frost e Robertson [6] menciona que incêndios experimentais de gramíneas em savanas tropicais
resultaram em chamas com comprimento entre 0,5 e 5 metros e comprimento médio de 2,8 metros.

A Figura 5 ilustra as distâncias de segurança médias encontradas nos vãos onde ocorreram falhas, baseadas em
dados de planta e perfil e campo. Nota-se que para a altura média cabo-solo no ponto crítico do vão – 9,8 metros –
a distância direta entre a vegetação lateral e o condutor lateral é de 10,7 m, ligeiramente superior à distância mínima
de projeto. Na ocorrência de incêndio, esta distância seria reduzida para 8,7 metros assumindo um comprimento de
chama de 2 metros. Apenas uma pequena fração dos eventos de desligamento foram relacionados ao combustível
remanescente na área roçada embaixo dos condutores.

Figura 5 Distâncias médias encontradas nos vãos com ocorrência de falha


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3.0 ESTABELECIMENTO DA EQUAÇÃO DE DISTÂNCIA MINIMA DE SEGURANÇA

Esta seção apresenta as metodologias de cálculo de distância de segurança para obstáculos estabelecida na norma
brasileira e propõe um critério para o cálculo de distância mínima para linhas de transmissão compactas instaladas
no bioma do Cerrado sujeitas a queimadas. São apresentados ainda os resultados de cálculo para ambas as
metodologias e a aderência para os resultados do histórico de falhas. Há de se ressaltar que a distância mínima deve
ser verificada também para os demais critérios elétricos. Projetos recentes de linhas de potência natural elevada têm
adotado distâncias verticais superiores a 12 metros, bastante superiores às distâncias estabelecidas pela NBR 5422
para travessia de obstáculos.

3.1 CÁLCULO DA DISTÂNCIA MÍNIMA SEGUNDO A NBR 5422:1985

A norma brasileira de projetos de linhas aéreas de transmissão de energia elétrica, NBR 5422:1985 [2], oferece, em
seu capítulo 10, dois procedimentos de cálculo – simplificado e alternativo – para a obtenção das distâncias mínimas
de segurança do condutor para o solo ou para obstáculos diversos. Em seu capítulo 13, a norma determina a
aplicação do método simplificado descrito no capítulo 10 para a limpeza seletiva de revestimento vegetal. A norma
brasileira não estabelece procedimento de cálculo específico para vegetação sujeita a incêndios.

Em seu capítulo 10, o procedimento apresenta uma metodologia simplificada para tensões entre fases acima de 87
kV, para a qual é adotada a fórmula descrita na Equação 1.

Equação 1 Distância mínima de segurança à obstáculo em condições normais de operação (método convencional) [2]

𝐷
𝐷 = 𝑎 + 0,01 − 50
√3
Onde:

a é a distância básica de segurança, e


Du é o valor da tensão máxima de operação em kV.

O valor de a deve ser de 4 metros para vegetação atravessada ou 6,5 metros para locais com circulação de máquinas
agrícolas.

O capítulo 10 da norma também descreve o método alternativo de cálculo onde variáveis elétricas como fatores de
sobretensão e forma são consideradas (vide Equação 2).

Equação 2 Distância mínima de segurança à obstáculo (método alternativo) [2]


,
⎡ √2 . 𝐷 . 𝑃 + 𝑉 . 𝑎 ⎤
⎢ √3 ⎥
𝐷=𝑎 + ⎢ ⎥ .𝑏 .𝑐
500 . 𝑘
⎢ ⎥
⎣ ⎦
Onde:

a1 é a distância básica (4,3 para locais com circulação de máquinas agrícolas);


Du é o valor da tensão máxima de operação em kV;
Pu é o valor de sobretensão de manobra entre fase e terra com 98% de probabilidade de não ser excedido;
VL é o valor da tensão máxima de crista entre fase e terra de uma linha de transmissão de menor valor de tensão
posicionada acima ou abaixo do circuito principal (este parâmetro foi suprimido para a intenção de cálculo deste
artigo);
a2 é um fator correspondente a 3 desvios padrões (1,15);
b é um fator de correção para condições atmosféricas diferentes das normais (1,03);
c é um coeficiente de segurança (1,2 para locais onde circulam máquinas agrícolas), e
k é o fator de forma (1,15 para locais onde circulam máquinas agrícolas).

A Figura 6 apresenta as alturas associadas aos critérios convencional (Equação 1) e alternativo (Equação 2)
propostos na NBR 5422, calculadas entre condutor e solo para locais com circulação de máquinas agrícolas e para
vegetação, e o estresses elétricos resultantes. A vegetação remanescente sob os condutores com altura de 10
centímetros após o corte raso foi considerada no cálculo de estress elétrico.
6

Figura 6 Altura e estresse elétrico resultante entre condutor e solo

A Figura 7 apresenta as distâncias diretas calculadas e o estresse elétrico resultante entre o condutor e o topo da
vegetação lateral utilizando os resultados de distância vertical da NBR 5422. Percebe-se que a altura cabo-solo
adotada na Figura 6 é um metro inferior (9,5 m) à distância direta resultante entre a vegetação lateral e o cabo
condutor (10,5 m) mostrada na Figura 7.

Figura 7 Distância e estresse elétrico resultante entre o condutor lateral e a vegetação lateral remanescente

3.2 MODELO PROPOSTO PARA O CÁLCULO DE DISTÂNCIA MÍNIMA DE SEGURANÇA EM ÁREAS SUJEITAS
A QUEIMADAS

Conforme mencionado anteriormente, o critério de cálculo para a determinação de distância mínima para vegetação
proposta pela NBR 5422 não considera a influência de incêndios florestais na redução da rigidez dielétrica do ar,
mas tão somente a variação da altitude. Em 2016, uma transmissora brasileira propôs a adaptação de uma equação
empírica de rigidez dielétrica do ar (ver Equação 4) [10]. O estudo considerou que a equação original, proposta para
a determinação de rigidez dielétrica para curtas distâncias entre eletrodos de esfera, poderia ser adaptada para o
cenário de incêndios florestais, já que na realidade do campo, o pequeno raio de esfera assumido na equação (12,5
cm) e a longa distância entre os condutores e as chamas poderia se traduzir em uma configuração de eletrodos
similar a haste-haste.

A proposta adapta também a equação de correção de densidade do ar (ver Equação 3), sugerindo uma curva de
temperatura média do ar em função da distância entre condutor e chamas causada por incêndios. Tal proposta,
apesar de endereçar a redução da densidade do ar pela alta temperatura, não expõe diretamente a influência de
outros fatores como a ionização térmica do ar ou a redução da distância devido ao comprimento da chama na direção
dos condutores. A condutividade elétrica da chama pode ser drasticamente influenciada pela temperatura do fogo e
pelas características da espécie vegetal [8]. A equação adaptada de correção de densidade do ar (δ) foi utilizada no
numerador da equação de rigidez dielétrica do ar conforme destacado em negrito na Equação 4.
7

Equação 3 Correção da densidade do ar para temperatura média entre condutor e topo das chamas [4]

𝜌 .𝑇
𝛿=
𝑇
𝜌 . 273 + .𝑇 .ℎ .

Equação 4 Rigidez dielétrica do ar para altura entre condutor e chama com base na correção da densidade do ar [4]

0.54 ℎ
22,7 . 𝜌 . 12,5 . 1 + .
𝜹 . 12,5 12,5
𝑉( ) =
ℎ ℎ
0,25 . +1+ +1 +8
12,5 12,5
Onde:

δ é o fator de correção de densidade do ar


ρ é a pressão atmosférica corrigida para o local
ρ0 é a pressão atmosférica de referência equivalente a 760 mm/HG
T0 é a temperatura de referência equivalente a 293 Kelvin
Ti é a temperatura estimada do fogo a um metro do solo equivalente a 620°C.
Tf é a temperatura média da coluna de ar
h é a distância entre o condutor e o topo da chama, em cm.
Vpico é a tensão de pico associada a ocorrência de ruptura da rigidez dielétrica do ar, em kV

A Figura 8 apresenta os resultados estimados de temperatura e fator de densidade do ar com base na Equação 3,
para diferentes alturas a partir do topo da chama. Os exemplos de resultados de temperatura (212°C) e fator de
densidade do ar (0,56) referentes a 8 metros de altura a partir do topo da chama e foram utilizados na obtenção da
distância mínima de segurança proposta.

Figura 8 Variação da temperatura do ar e do fator de densidade do ar em função da altura

Em realidade, a aderência de equações conceituais à realidade prática das instalações se torna muito duvidosa por
se tratar de uma exposição de campo elétrico não uniforme e um ambiente caótico sujeito a grande variabilidade dos
parâmetros (i.e., material particulado suspenso no ar, gases provenientes da combustão, variação de temperatura,
correntes de ar, resistividade elétrica, temperatura e comprimento de chama). Há de se considerar ainda que no
momento imediatamente após o primeiro evento de descarga, sobretensões de manobra de religamento e o estado
de ionização do ar podem impedir o religamento automático da linha. A adoção de tempos de religamento mais
longos pode auxiliar na regeneração do meio isolante e no sucesso do religamento.

Berredo, A.C.S. [7] propõe que seja incluído no resultado da Equação 4 o comprimento mínimo da chama resultante
da queima da vegetação de cerrado, estimado neste estudo em 2 metros. Tal comprimento de chama é embasado
em Frost & Robertson [6] e em Reyes [9] com altura das chamas de incêndio no Cerrado medidas entre 2,62 e 3,47
metros no período da noite e tarde, respectivamente.
8

O cálculo utilizando a nova metodologia proposta resultou em uma distância direta de aproximadamente 12,5
metros entre o condutor lateral e a vegetação assumindo um comprimento de chama da ordem de 2 metros e a
vegetação lateral com altura máxima de 3 metros. Essa distância resultaria na altura de 12,4 metros entre os
condutores e a vegetação abaixo com corte raso de 10 cm de altura, se mantida a largura de manejo de 28 metros
do estudo de caso.

4.0 RESULTADOS E CONCLUSÕES

Este estudo de caso adota originalmente a altura mínima para regiões agriculturáveis atendendo aos requisitos de
edital e normativos (9,5 metros entre condutor e solo), resultando em uma distância direta de 10,5 metros entre o
condutor lateral e a vegetação no limite da área de manejo estabelecida na licença de operação.

A nova metodologia proposta estima que a distância direta de ~ 12,5 metros entre o condutor lateral e a vegetação
seja suficiente para evitar a maioria dos desligamentos por queimadas, assumindo um comprimento de chama da
ordem de 2 metros e a vegetação lateral com altura máxima de 3 metros. O acréscimo da distância direta entre o
condutor lateral e a vegetação existente entre 2 e 2,5 metros deve resultar em uma redução substancial no número
de desligamentos.

Como o aumento da altura entre os condutores e o solo é uma solução impraticável para linhas existentes, aumentar
a largura de manejo da vegetação nos pontos críticos, de 28 metros para 33,5 ~ 35 m, resultaria no aumento da
distância direta entre o condutor lateral e a vegetação de 10,5 m para aproximadamente 12,9 m na operação crítica,
cobrindo a totalidade dos desligamentos associados às distâncias apresentadas no histórico de falhas para o período
analisado (ver Figura 9).

Figura 9 Dimensões mínimas sugeridas para o manejo de vegetação com corte raso

5.0 REFERÊNCIAS

1. ONS, “Qualidade do Suprimento - Principais Causas de Perturbações em Linhas de Transmissão da Rede


Básica,” Online, Abril 2023, dados obtidos no sitio do ONS: https://www.ons.org.br/Paginas/resultados-da-
operacao/qualidade-do-suprimento-paineis.aspx

2. ASSOCIACÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, “NBR 5422: Projeto de linhas aéreas de transmissão de
energia elétrica: Procedimento,” Rio de Janeiro, Relatório Técnico, 1985.

3. CIGRE, “TB 767 - Vegetation fire characteristics and the potential impacts on overhead line performance”, WG
B2-45, Paris, Junho 2019.

4. Berredo et al., “Innovative methodology for modeling the criticality of shutdowns by fires in transmission line spans
and optimum area design for the suppression of vegetation,” em CIGRE-IEC 2019 Conference on EHV and UHV
(AC & DC), 2019.

5. Sukhnandan, A. A theoretical and experimental investigation into fire-induced flashover of high voltage
transmission lines. Tese (Mestrado Acadêmico), Universidade de KwaZulu Natal, Durban, Africa do Sul, 2005

6. P. FROST and F. ROBERTSON, “The ecological effects of fire in savannas,” Determinants of Tropical Savannas,
1987.
9

7. BERREDO, A.C.S. Novel Methodology for Spatial Risk Analysis of Overhead Transmission Lines Subject
to Wildfires. Tese (Mestrado Acadêmico), The University of North Carolina at Charlotte, Estados Unidos, Carolina
do Norte, 2023.

8. Kgakgamatso Mphale and Mal Heron, “Measurement of Electrical Conductivity for a Biomass Fire,” International
Journal of Molecular Science, vol. 9, no. 5, p. 1416-1423, 2008.

9. REYES, R. R. Avaliação do comportamento do fogo em áreas de pastagem e Cerrado submetidas a queima


controlada. Dissertação (Mestrado Acadêmico) – Ciências Florestais e Ambientais, Universidade Federal do
Tocantins. Gurupi, TO, 2017.

10. L. I. Sirotinski, “High Voltage Technique,” Editura Energetica de Stat, 1954.

DADOS BIOGRÁFICOS

Alessandro Berredo é mestre em energia aplicada e engenharia eletromecânica pela


UNC Charlotte e atua como líder técnico sênior no programa de linhas aéreas do EPRI
(EUA) nas áreas de manutenção em linhas energizadas, chaves seccionadoras, projetos
e reforços de linhas aéreas. Em seus 27 anos de experiência em operação e manutenção
de linhas de transmissão, Alessandro atuou como técnico de manutenção e engenheiro
de linhas em empresas como Light, ABENGOA Brasil, State Grid e TAESA. Alessandro
é graduado em engenharia elétrica e possui pós graduações em sistemas elétricos de
potência, engenharia de manutenção e geoprocessamento.

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