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O papel da maquiagem e dos influenciadores negros do universo da beleza na elevação da

autoestima do povo negro

INTRODUÇÃO

Neste trabalho de conclusão de curso iremos abordar sobre a importância da maquiagem


como um instrumento de elevação da autoestima do povo negro, e o papel dos
influenciadores negros do universo da beleza como um amplificador da voz desse povo
através das pautas abordadas nos seus canais de comunicação, e analisar se foram capazes de
gerar mudanças no mercado da beleza, visando atender as necessidades de pessoas não
brancas.

Para refletir sobre essa questão foi preciso levar em consideração o conceito de alteridade,
que é entendido como a construção de identidades coletivas e individuais a partir do
momento em que eu percebo o que tenho de diferente e o que tenho de semelhante ao outro,
isto é, a visão do eu que se constrói a partir da relação com o outro. Dessa forma, no contexto
em que vivemos, quem não é branco já nasce com uma ideia distorcida sobre o que é ser
negro e o quão ruim é, devido à estrutura racista que perdura ao longo da história graças ao
período colonial.

Várias são as consequências dessa herança histórica escravista, mas a temática dessa pesquisa
engloba sobre a problemática do padrão estético eurocêntrico estabelecido socialmente, e
assim, construindo barreiras desde o nascimento para o povo preto amar a si e seus
semelhantes e enxergar a si e as pessoas com traços negróides como detentores de beleza,
pois é um ideal inalcançável e que distorce a noção de belo a partir do momento em que são
rejeitados e ridicularizados os fenótipos de uma pessoa negra, e várias são as formas de
propagação e fortalecimento disso, sendo através das técnicas de maquiagem, colocadas
como universais, mas que tem como base a estrutura facial de pessoas brancas, como afinar o
nariz, e principalmente, através da negligência por parte das indústrias de beleza e cosméticos
que não produzem produtos que atendem todas as necessidades do povo negro, comparado ao
desenvolvimento de diversos produtos que parecem ser formulados apenas tendo como
público principal as pessoas brancas, por exemplo, um protetor solar, uma base, entre outros.
Por isso refletir e debater sobre a estética e autoestima do povo negro e suas necessidades
dentro de uma sociedade racista é tão necessário para a luta antirracista, pois esse povo
precisa amar a si e aos seus semelhantes para entrar nesse combate diário.

As redes sociais tem sido um meio de encontros de narrativas semelhantes que geram
identificação e provocam acolhimento entre os sujeitos, além de reverberar a voz do povo
negro. Dessa forma, a problemática central desse ensaio analisa o papel dos influenciadores
negros do universo da maquiagem na luta antirracista através dos debates sobre as questões
que afetam e negam a estética negra e a autoestima desse povo, e o quanto eles podem
fortalecer a valorização da beleza negra utilizando dos seus canais de comunicação para
chamar a atenção das marcas de maquiagem e de cosméticos para perceberem o descaso com
o público preto e romper esse racismo que impede que pessoas negras sejam vistas como
cidadãos que possuem necessidades e poder de compra, além da imprenscidível
representatividade em campanhas de beleza, nas capas de revistas, e o mais importante, em
cargos de alto nível por trás dessas marcas de beleza, para que de fato acabe a produção em
massa realizada por pessoas brancas que apenas visualizam como público alvo seus
semelhantes, e esquecendo dos não brancos.

A partir dessa perspectiva, enxergando as redes sociais como uma ferramenta capaz de
fortalecer essa luta, foi realizada uma etnografia virtual, tendo como local de estudo e grupo
pesquisado os vídeos postados na plataforma “Youtube” pelo canal “Herdeira da beleza”, e os
comentários realizados por seus inscritos. Vale ressaltar que a escolha pelo canal de
comunicação “Herdeira da beleza” foi devido a relevância do criador Tássio Santos, sendo
um homem negro, maquiador profissional e jornalista de beleza, que tem sua temática voltada
para o mundo da maquiagem englobando questões sociais, principalmente sobre o racismo, e
ao longo dos anos tem ocupado espaços de destaque, se tornando uma das referências no
universo da beleza e utilizando disso para causar transformações nesse mercado, dentro e fora
da internet.

METODOLOGIA

Dessa forma, a presente pesquisa tem como objetivo geral compreender o papel da
maquiagem e dos influenciadores negros do universo da beleza na elevação da autoestima do
povo negro, através de um análise descritiva sobre as temáticas debatidas em seu canal de
comunicação e dos comentários presentes nos vídeos, para entender o impacto de sua
influência em relação a autoestima dos seus inscritos, e se através da criação dessa
comunidade ocorreram mudanças no mercado de beleza e cosméticos.

Para isso, foi utilizado do método de pesquisa etnográfico virtual, apresentado no artigo
“Etnografia on e off-line: cibercafés em Trinidad” de Daniel Miller, já que a pesquisa de
campo on-line se dedica à interpretação de fenômenos que acontecem a partir da interação de
pessoas no mundo virtual.

Como recorte de espaço foi decidido o canal da plataforma “Youtube” chamado “Herdeira da
beleza”, criado por Tássio Santos, por motivos expostos na introdução. Para o recorte dos
vídeos foram levados em consideração temáticas semelhantes, publicidades, e ano de
postagem , sendo um de 2018, e outro publicado no mês de junho de 2021, em busca de
discursos semelhantes e distintos para saber se houveram melhorias no mercado de beleza e
cosméticos, através de uma análise comparativa entre as narrativas expostas. Como aporte
teórico para pensar sobre a problemática acerca da construção de identidades coletivas e
individuais, foram utilizados os estudos de Stuart Hall e Frantz Fanon

DESENVOLVIMENTO
Segundo Stuart Hall, a identidade não é algo genético, mas sim, uma construção constante a
partir das representações do nosso imaginário social, isto é, nossas características tem como
base nossas vivências sociopolíticas e culturais, e assim, carregam um significado de
pertencimento e de compreender que existe um “nós” e “eles” delimitados por sistemas
simbólicos que apresentam quem são “eles”, e quem somos “nós” e quais as nossas posições
na sociedade. No livro “Pele Negra, Máscaras Brancas”, Frantz Fanon aborda sobre a
importância das pessoas que foram animalizadas e desumanizadas, durante toda sua vida, se
enxergar num local de pertencimento e a partir disso realizar a construção de identidades
coletivas e individuais para que de fato sejam humanizadas. E dentro de uma sociedade
racista, se compreender enquanto pessoa negra é observar que o outro, branco, está numa
posição social melhor que a sua, e quando você entende o que é ser branco em contraposição
ao que é ser negro, percebe que ser negro não é tão bom assim, e através disso, sua identidade
individual será construída com base nessas identidades coletivas racistas, e assim, passar a
odiar a si mesmo e seus semelhantes. Por isso é tão relevante abordar temas que englobam a
valorização da estética e autoestima do povo negro, pois é dessa forma que se pode intervir
no imaginário coletivo racista sobre o que ser negro, e também, modificar a maneira que o
povo preto se enxerga e se sente, para negar e romper com o padrão estético eurocêntrico em
que tem os traços negróides como feios, e quanto mais você os possui, menos prestígio social
você tem, pois o racismo é uma ferramenta de dominação onde há uma hierarquização e
inferiorização dos fenótipos negros.

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