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Módulo II:
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co, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema
ou banco de dados sem permissão escrita da Editora Seymour.
Palavra do Presidente
F - Que nossos primeiros pais foram criados em estado de inocência, por sua
desobediência, porém, perderam sua pureza e felicidade e, em consequência
de sua queda, todos os homens se tornaram pecadores, expostos justamente
à ira de Deus;
G - Que o Senhor Jesus Cristo tem feito, pelo seu sofrimento e morte, uma
expiação pelos pecados de todo o mundo, de sorte que todo aquele que crer
na suficiência da obra expiatória de Jesus pode ser salvo;
Introdução ____________________________________________ 17
Capítulo 1: Sobre a Bíblia ________________________________19
Capítulo 2: Os materiais usados para a escrita ______________35
Capítulo 3: A formação do cânon ________________________ 43
Capítulo 4: Inspiração e inerrância da Bíblia ________________49
Capítulo 5: As traduções da Bíblia _________________________59
Conclusão _____________________________________________67
Bibliografia ____________________________________________69
17
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
18
Capítulo 1
c
Sobre a Bíblia
O Livro
A Bíblia é um livro com divisões e subdivisões. Vamos
agora conhecer, de forma sucinta, como a Bíblia está dividida e
quais são os elementos que a compõem.
Testamentos
A Bíblia está dividida em dois Testamentos: Antigo Testa-
mento (AT) e Novo Testamento (NT), sendo que no Antigo Testa-
mento temos 39 livros e no Novo Testamento, 27, totalizando 66
livros.
A palavra “testamento”, lat. testamentum, vem do gre-
go “diatheke”, que tem dois significados. 1º Aliança ou concer-
to, 2º Testamento, um documento que consta a partilha dos bens
depois da morte, palavra está empregada no Novo Testamento,
como, por exemplo, em Lucas 22.20. No Antigo Testamento, a
palavra usada é “berith”, que significa concerto. O duplo sentido
do termo grego nos mostra que a morte do testador (Cristo) ra-
tificou ou selou a Nova Aliança, garantindo-nos toda herança
com Ele (Rm 8.17; Hb 9.15-17).
Quando falamos de AT, estamos dizendo da antiga alian-
ça que Deus fez com Israel e todo escopo inerente a Abraão, to-
davia, como prometida (Jeremias 31.31), a nova aliança substitui
a antiga (Hb 8.13), pois essa foi firmada no sangue da nova (Mt
26.28), a saber, o sangue de Jesus.
Antigo Testamento
Seguindo uma ordem temática e não cronológica, o AT
assim está dividido em nossa Bíblia.
Pentateuco: Gênesis a Deuteronômio, (5 livros).
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Convenção Unida Internacional Introdução Bíblica
Novo Testamento
A exemplo do AT, o NT também segue o mesmo padrão,
sem ter a ordem cronológica, mas sim temática.
Biográficos: Evangelhos de Mateus a João, (4 livros).
Nos evangelhos temos os chamados livros sinóticos, a sa-
ber: Mateus, Marcos e Lucas; isto devido à semelhança das nar-
rativas.
Histórico: Atos dos Apóstolos, (1 livro).
Doutrinários: Cartas paulinas, de Romanos a Filemom e,
Cartas Gerais, de Hebreus a Judas.
Escatológico: Apocalipse.
Capítulos e Versículos
Originalmente a Bíblia não foi escrita com a divisão entre
capítulos e versículos, estas divisões foram posteriores, logo, não
fazem parte dos autógrafos.
Com a Bíblia sendo dividida em capítulos e versículos,
tradicionalmente é dito que ela contém 1.189 capítulos e 31.173
Particularidades da Bíblia
O maior capítulo é o Salmo 119, e o menor, Salmo 117. O
Os Idiomas da Bíblia
Como brasileiros, lemos as nossas Bíblias em nosso ver-
náculo, no idioma Português. Mas sabemos que a Bíblia em por-
tuguês é uma tradução dos originais, pois ela foi inspirada em
duas principais línguas, mais algumas porções em outra, perfa-
zendo o total de três idiomas principais: Hebraico, Grego e Ara-
maico.
Hebraico
O AT foi escrito em hebraico, com exceção de algumas
porções nos livros de Esdras, Jeremias e Daniel, que foram es-
critas em aramaico. Daniel 2.4-7.28 foi escrito em aramaico, e é a
passagem mais longa escrita nesse idioma no AT. Mas a língua
predominante no AT é o hebraico. Mas a língua predominante
no AT é o hebraico.
O hebraico, conhecido como “língua de Canaã” (Is 19.18),
“língua Judaica” ou “judaico” (2 Rs 18.26, 28, Is 36.13), é um idio-
ma do grupo semítico falado no “Mar Mediterrâneo às monta-
nhas a leste do vale do rio Eufrates, e da Armênia (Turquia), ao
norte, à extremidade sul da península árabe”. É um idioma que
era falado na Palestina e que os hebreus herdaram dos cananeus
quando lá chegaram por volta do século XIII a.C.
É um idioma com vinte e duas consoantes sem vogais.
Como a maior parte das línguas semíticas, lê-se da direita para a
esquerda. Por não ter vogais, o hebraico perdeu o significado de
pronúncias de muitas palavras, e a pronúncia exata dependia do
leitor. Mas, com os sinais vocálicos no século VI feitas pelos mas-
23
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
O Português e o Hebraico
O idioma português foi enriquecido pelo hebraico, her-
dando algumas palavras como “amém”, “aleluia”, “jubileu”.
Larry Walker diz que “muitos substantivos próprios hebraicos
são usados nas línguas modernas para se referir a pessoas e luga-
res, como Davi, Jônatas/João, Miriam/Maria, Belém (o nome de
várias cidades do Brasil e de outros países).
Muitas expressões hebraicas comuns foram inconscien-
temente aceitas como figuras de linguagem em português, como
“boca de caverna” e“face da terra”. Algumas figuras, como o
“oriente (leste) do Éden”, foram usadas como títulos de livros e
filmes.
Foi nessa língua que Deus nos deu a Sua eterna palavra,
preservada por um povo (Israel) específico e disseminada por
todo o mundo através do fervor missionário do cristianismo.
Grego
O NT como o AT foi inspirado pelo Espírito Santo, mas
sob a ortografia da língua grega. A língua rega tem suas raízes na
língua fenícia por volta do século VIII a.C. É um alfabeto de vinte
25
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
Aramaico
Esse idioma era falado na civilização dos arameus, que,
segundo uma teoria, acredita ter como pai Arã, filho de Sem, neto
de Noé. O aramaico é semelhante ao hebraico, tendo, contudo,
um vocabulário maior. “Tinha o mesmo alfabeto que o hebraico,
diferia nos sons e na estrutura de certas partes gramaticais. Do
mesmo modo que o hebraico não possuía vogais: a partir de 800
d.C., é que os sinais vocálicos lhe foram introduzidos.”
Após o exílio babilônico, o aramaico começou a suplan-
tar o hebraico. Os judeus estavam tão familiarizados com essa
língua que, quando voltaram do cativeiro babilônico em 536, ti-
veram que usar intérprete para entenderem o que Esdras lia nas
Escrituras hebraica (Ne 8.5, 8).
É aceito entre os teólogos que Jesus se comunicava tam-
bém em aramaico, tendo como base algumas evidências, tais
como: era a língua popular; Jesus usou algumas expressões em
aramaico, como em Mt 5.18, onde Ele diz que a menor letra é o
jota (isso só é possível no aramaico), também em Mc 14.36, Jesus
utilizou a expressão Abba, que é aramaica. É bem provável que
Jesus falava a língua do povo, o aramaico, como também o he-
braico (Lc 4.16-20). Não é certo que esse idioma era o falado na
Palestina dos dias de Jesus, mas que há evidências do seu uso
em grande escala, disso não podemos duvidar. Se considerarmos
que Jesus era popular, ou seja, que “falava a língua do povo”,
não seria difícil pensar nessa possibilidade, até porque Ele era
acessível a todos, e o idioma é uma forma de aproximação pode-
rosa entre pessoas.
“O aramaico talvez tenha a mais longa, contínua e viva
história de qualquer língua conhecida. Era usado durante o perío-
do patriarcal bíblico e, nos dias de hoje, ainda é falado por alguns
povos. O aramaico e seu cognato, o siríaco, desdobraram-se em
muitos dialetos em diferentes lugares e períodos. Caracterizado
pela simplicidade, clareza e precisão, adaptava-se facilmente às
diversas necessidades da vida diária. Poderia servir igualmente
bem como língua para eruditos, estudantes, advogados ou ne-
gociantes. Alguns o descrevem como o equivalente semítico do
inglês.”5
5 WALKER, Larry. 1998, p. 305.
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Convenção Unida Internacional Introdução Bíblica
Os Escritores da Bíblia
A Bíblia foi escrita por vários escritores, entre eles intelec-
tuais (Moisés e Paulo), médico (Lucas), estadista (Daniel), boieiro
(Amós), Reis (Davi e Salomão), músico (Asafe), pescadores (Pe-
dro e João), funcionário público (Mateus), etc. E isso em diferen-
tes épocas, em um período de mil e quinhentos anos.
Os Escritores do AT
Moisés, filho de Anrão com Joquebede, da tribo de Levi.
Adotado pela filha de faraó, foi educado em toda ciência egípcia
por quarenta anos. Casou-se com Zípora, filha de Jetro, sacerdote
em Midiã, com quem teve dois filhos por nome de Gerson e Eli-
ézer (1 Cr 23.15).
Josué, filho de Num, conhecido também como Oséias, da
tribo de Efraim, foi auxiliar de Moisés, e posteriormente, seu
substituto responsável por levar o povo para Canaã, e assim fez.
Esdras, escriba hábil e responsável pela organização dos livros
do Antigo Testamento.
Davi, filho de Jessé, foi escolhido por Deus para eternizar
o seu trono e dele proceder a genealogia que traria o seu filho
Jesus. Foi sem dúvida o maior rei de Israel.
Os filhos de Corá, autores de 12 salmos. Este Corá ou Coré
é aquele que se rebelou contra Moisés em Números 16. Apesar
do castigo e do opróbrio, pois sempre foram identificados como
rebeldes (Jd 11), os filhos foram constituídos por Davi como mú-
sicos na casa do Senhor (1 Cr 6.31-38), pois eles não morreram na
rebelião de seu pai (Nm 26.10-11).
Asafe, um músico no tempo de Davi e de Salomão. Autor
de 12 Salmos.
Salomão, filho de Davi, foi o terceiro rei de Israel e se
notabilizou na história como um dos homens mais ricos e o mais
sábio de todos os tempos.
Isaías, um dos profetas mais importantes de Israel, nas-
ceu, provavelmente em torno de 760 a.C., em Jerusalém, Reino
do Sul. Era de uma família abastada e, pelo que consta, era so-
brinho do rei Uzias. Casou-se com uma “profetisa” (Is 8.3). Esse
termo pode ter o significado oficial, como também pode ser um
título honorífico que Isaías se referiu à sua esposa. Teve dois fi-
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Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
Os Escritores do NT
Mateus, também conhecido por Levi, foi chamado por
Jesus Cristo enquanto trabalhava na alfândega (Mt 9.9) e, desde
então, integrava o colégio apostólico (Mt 10.2-3). Era da região
da Galileia e, apesar de ser judeu, era odiado pelos seus patriotas
pelo fato de ser publicano, os quais não eram benquistos pelos
judeus por cobrarem impostos do seu povo para os romanos,
além de ter a crença de que os coletores de impostos acrescenta-
vam os valores e, assim, roubavam para si. Sofreu seu martírio na
Etiópia, apedrejado, queimado e decapitado.
Marcos, também conhecido por João Marcos, sendo que
João é o nome judaico, e Marcos é o nome latino, era primo de
Barnabé, companheiro de Paulo. Sua mãe, Maria, tinha uma casa
em Jerusalém frequentada pelos seguidores de Jesus (At 12.12).
Acompanhou Paulo e Barnabé na primeira viagem missionária
(At 13.5, 13). Apesar da recusa de Paulo em levá-lo na segunda
viagem missionária (15.36-41), ele não desistiu do apóstolo, mas
aparece como fiel companheiro na sua prisão em Roma (Cl 4.10;
Fm 23-24) e, na segunda prisão de Paulo, este pediu a Timóteo
que levasse Marcos (2 Tm 4.11). Marcos não fazia parte do co-
légio apostólico (Mt 10.2-4), mas viveu entre os apóstolos, e a
sua familiaridade com a igreja era natural. Há uma tradição de
Papias que diz que Marcos foi companheiro de Pedro, de quem
absorveu o conhecimento sobre o Senhor Jesus para escrever o
seu evangelho.
Lucas, o único escritor do Novo Testamento que não é ju-
deu e que, tradicionalmente, ficou conhecido pela alcunha dada
por Paulo de “o médico amado” (Cl 4.14). Foi companheiro de
Paulo por dez anos, o que muito facilitou as suas pesquisas in
loco. Lucas foi um homem culto e de muita capacidade literá-
ria, os seus registros estão aí para provar tal proeza. Merril C.
Tenney destaca as qualificações de Lucas: “médico, pastor, evan-
gelista itinerante, historiador e escritor”. Lucas, segundo Taylor
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Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
A Bíblia Hebraica
O conteúdo é o mesmo, mas as divisões se diferem.
Quando falamos Bíblia Hebraica, entenda os registros sagrados
do Antigo Testamento. Essa Bíblia é conhecida por Tanak, sigla
que vem com as iniciais das suas divisões, que veremos poste-
riormente.
Os Livros
Diferente do agrupamento dos nossos 39 livros, a Tanak
tem 24 livros, sendo os mesmos que os nossos. Essa diferença se
dá por conta do agrupamento.
Os profetas menores (Oséias a Malaquias) contamos cada
livro separadamente, mas para os judeus trata-se de um único
volume, O livro dos Doze. Assim, segue como sendo um os li-
vros do profeta Samuel, dos Reis, das Crônicas, Esdras-Neemias,
totalizando vinte e quatro livros. Mas perceba que são os mes-
mos de nossa Bíblia protestante. A diferença da forma que os
livros estão organizados não compromete o conteúdo, pois são
os mesmos livros, porém sistematizados de modo diferente. Se a
Bíblia que usamos, com base na Septuaginta, tem 39 livros, a dos
judeus tem 24 sem subtrações de conteúdo.
As Divisões
A Tanak tem três divisões: Torah, Neviim e Ketuvim.
Dessas três divisões vem o nome Tanak: sendo T, a inicial de To-
rah; N, a inicial de Neviim e k, a inicial de Ketuviim, dando as-
sim origem ao nome TaNaK.
A Torah (significa instrução, ensinamento ou lei), é o
Pentateuco.
Neviim, Os Profetas. Sendo divididos em duas partes:
Primeiros Profetas e Últimos Profetas. São eles:
Primeiros profetas: Josué, Juízes, Samuel, Reis, Isaías, Je-
remias, Ezequiel.
Últimos Profetas: O livro dos Doze, a saber, Oséias, Joel,
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Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
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Capítulo 2
Pedra
O famoso código de Hamurabi (1792-1750? a.C.), rei da
Babilônia que muitos identificam como Anrafel (?) de Gênesis
14.1, foi gravado sobre a pedra. Continha leis com ênfases “ao
roubo, agricultura, criação de gado, danos à propriedade, direi-
tos da mulher, direitos da criança, direitos dos escravos, assim
como assassinato, morte e injúria”. A escrita foi esculpida em
uma pedra de dois metros!
Outra pedra muito famosa que abriu o conhecimento so-
bre o Egito antigo foi um pedaço de granito encontrado na cidade
de Roseta (daí o nome “pedra de Roseta”) por soldados franceses
de Napoleão Bonaparte em 1799, que, em 1822, foi decifrada pelo
francês Jean-Fraçois Champollion. Essa pedra é datada de 196
a.C., quando o Egito estava sob domínio grego. Hoje, ela perten-
ce ao Museu Britânico, em Londres.
Argila
Por ser de baixo custo econômico, a argila também era
usada para a escrita. A argila úmida era moldada em tabuinhas
e incisões eram feitas ainda no material mole com um estilete.
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Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
Papiro
O papiro é uma planta aquática que cresce junto a rios,
comum no antigo Egito, cuja entrecasca servia para escrever.
Essa planta existe ainda hoje no Sudão, na Galileia Superior e no
vale de Sarom. As tiras extraídas do papiro eram coladas umas às
outras até formarem um rolo de qualquer extensão. Este material
gráfico primitivo é mencionado muitas vezes na Bíblia, exem-
plos: Êxodo 2.3; Jó 8.11; Isaías 18.2. Em certas versões da Bíblia, o
papiro é mencionado como junco, de fato, é um tipo de junco de
grandes proporções. Foi nesse material que João escreveu o livro
de Apocalipse (5.1) e suas cartas (2 Jo 12). Os papiros eram dis-
postos na forma de livro, o que se acredita que foi dele que veio
o formato de livro como conhecemos hoje. De papiro, deriva-se a
nossa palavra papel.
Pergaminho
Pergaminho é pele de animais (ovelhas e cabras) pre-
parada para a escrita. Em qualidade quanto à escrita, é melhor
que o papiro. Sua utilização remonta ao terceiro milênio a.C. No
segundo século a.C., a técnica de preparação nesse material foi
aperfeiçoada na cidade de Pérgamo, daí vem a origem do nome
dessa cidade citada por João em Apocalipse. Os pergaminhos
são citados por Paulo a Timóteo, (2 Tm 4.13).
Códice
Também conhecido como códex, palavra latina, que de-
signava um bloco de madeiras com várias folhas de papiro ou
pergaminho. “Vários caderninhos de quatro folhas duplas for-
mavam um códice de grossura ilimitada e de aspectos parecido
com o livro moderno, com capas de madeira ou de couro. Os
escritores cristãos adotaram, desde o século II, o uso do códice,
rompendo assim com a tradição judaica que só admitia o uso do
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Convenção Unida Internacional Introdução Bíblica
Papel
Esta palavra vem do latim papyrus, uma referência à
planta papiro que cresce às margens do rio Nilo, no Egito, que,
como vimos, era preparada para a escrita. Tradicionalmente,
afirma-se que o papel foi criado pelos chineses em 105 anos de-
pois de Cristo, por T´sai Lun, que fez “uma mistura umedecida
de casca de amoreira, cânhamo, restos de roupas e outros produ-
tos que contivessem fonte de fibras vegetais. Bateu a massa até
formar uma pasta, peneirou-a e obteve uma fina camada que foi
deixada para secar ao sol. Depois de seca, a folha de papel estava
pronta!” A técnica inventada pelos chineses foi bem guardada,
pois o seu valor era alto, só depois de 500 anos que os japoneses
tiveram acesso ao papel.
Em 751 d.C., os chineses tentaram conquistar uma cidade
sob o domínio árabe e foram derrotados. Nessa ocasião, alguns
artesãos foram capturados, e a tecnologia de fabricação de papel
deixou de ser um monopólio chinês.
O papel vem da celulose, matéria-prima extraída prin-
cipalmente de duas espécies de árvores, o pinheiro (pinus sp) e
o eucalipto (Eucalyptus sp). Esse papel, depois de um processo
industrial, chega às mãos do consumidor em condições de uso.
Esses são os principais materiais que usaram para a escrita até
chegar ao uso do papel moderno, que é a forma mais utilizada
em nossos dias.
Os Manuscritos
Manuscrito, palavra que vem do latim manus, “mão”, e
scriptus, “escrita”, que significa um documento escrito à mão.
Usamos o termo manuscrito em relação aos materiais usados ori-
ginalmente na escrita da Bíblia Sagrada.
6 ICP. São Paulo: Volume I. 2003, p. 24.
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Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
Texto Massorético
São assim chamados porque foi baseado na Massora, “a
tradição textual dos eruditos judeus conhecidos como os masso-
retas de Tiberíades” (local dessa comunidade, no mar da Gali-
leia). Os massoretas (500-1000, d.C.) prestaram um trabalho de
tamanha importância, pois, devido à sua erudição, foi possível
ter uma base para as modernas versões. Eles adicionaram pon-
tos vocálicos para facilitar na leitura, pois o hebraico não possui
vogais, apenas consoantes. A partir do século VI, os manuscritos
continham esses sinais de vocalização, por isso “qualquer texto
bíblico posterior ao século VI é chamado “massorético”.
Mark Norton diz que o texto massorético, como hoje o
temos, deve muito à família de Ben Aser. Por cinco ou seis ge-
rações, da segunda metade do século VIII a meados do século X
d.C., essa família desempenhou um papel muito importante no
trabalho dos massoretas em Tiberíades. Um registro fiel de seu
trabalho pode ser encontrado nos mais antigos manuscritos mas-
soréticos existentes, os quais remontam aos dois últimos mem-
bros daquela família. O manuscrito massorético de data mais an-
tiga é o Códice Cairense (895 d.C.), atribuído a Moisés Ben Aser.
Esse manuscrito compreende os livros tanto dos primeiros pro-
fetas (Josué, Juízes, Samuel e Reis) quanto dos últimos (Isaías,
Jeremias, Ezequiel e os 12 Profetas Menores). O resto do Antigo
Testamento está faltando no manuscrito.
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Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
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Convenção Unida Internacional Introdução Bíblica
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Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
42
Capítulo 3
A formação do cânon
8 Também conhecida como Crítica Histórica, a Alta Crítica tem por objetivo de-
terminar a autoria, a data e as circunstâncias em que foram compostas as Sagradas Escri-
turas. Esse método verifica também as fontes literárias e a confiabilidade dos escritos do
Antigo Testamento. A Alta Crítica é complementada pela Baixa Crítica (ou Crítica Textual),
cuja finalidade é estabelecer a correta leitura e interpretação do texto sagrado (Dicionário
Teológico. CPAD, p. 40).
43
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
Autoridade Apostólica
Foi escrito por um apóstolo? Ou por alguém que teve
contato com eles? Isso implicava Marcos e Lucas, que não eram
apóstolos, além de Hebreus, que era de autoria desconhecida.
Por esse critério, os livros do Novo Testamento foram aprova-
dos, pois, se Marcos e Lucas não foram apóstolos, todavia tive-
ram contatos com eles, sendo que o primeiro, segundo a tradi-
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Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
ção, teve contato com Pedro, e o segundo teve contato direto com
Paulo.
Conteúdo Espiritual
As igrejas liam o livro? Havia edificação espiritual me-
diante sua leitura? Por esse critério temos a questão da utilidade
da igreja e se ela era edificada por esses livros.
Exatidão Doutrinária
Além de ser verdadeiro, doutrinariamente não poderia
haver heresias. Quando lemos os apócrifos, percebemos a quan-
tidade de estórias contidas naqueles livros, algumas são verda-
deiras fábulas. Os relatos fantasiosos contidos em alguns apócri-
fos demonstram que é inverossímil afirmar que esses livros são
relatos inspirados. Se atentarmos para o conteúdo dos sessenta e
seis livros da Bíblia, veremos a exatidão teológica e, assim, con-
cluiremos que esse livro só pode ser obra de Deus.
Inspiração Divina
Milton Fisher diz que “por sua própria natureza, a Es-
critura Sagrada, quer do Antigo, quer do Novo Testamento, é
uma produção de Deus – não é obra da criação humana. A chave
para a canonicidade é a inspiração divina. Portanto, o método de
determinação não é a escolha entre vários possíveis candidatos
(de fato, não há outros candidatos), o do recebimento do material
autêntico e seu consequente reconhecimento por um grupo de
pessoas sempre crescente, à medida que os fatos de sua origem
vão se tornando conhecidos.”
E como saber se o livro é inspirado ou não? A sua infa-
libilidade em todos os sentidos, a historicidade dos registros e
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Convenção Unida Internacional Introdução Bíblica
Os Livros Apócrifos
Apócrifo tem o significado de “escondido”, “oculto”, “di-
fícil de entender”, devido ao seu conteúdo misterioso. É bom sa-
lientar que esses livros, apesar de não serem reconhecidos como
canônicos, não são totalmente condenados, visto o valor históri-
co de alguns.
A primeira inclusão dos livros apócrifos na Bíblia foi na
Septuaginta, tradução do hebraico para o grego, que acrescentou
quinze livros. Jerônimo, em 405, quando traduziu sua famosa
Vulgata (tradução para o latim), incluiu também os apócrifos,
mas, segundo a História, ele recomendou que esses livros não
servissem com caráter doutrinal.
A inspiração e inerrância
da Bíblia
os teólogos pentecostais.
A Declaração de Chicago
Em 1978, vários eruditos das mais distintas confissões
cristãs se reuniram para debater sobre o assunto da inspiração/
autoridade bíblica, em Chicago (EUA). O resultado daqueles de-
bates foi uma declaração ortodoxa da inspiração da Bíblia, co-
nhecida como a Declaração de Chicago, que transcrevemos a se-
guir um pequeno trecho.
A Inerrância da Bíblia
A inerrância bíblica é uma doutrina de extrema impor-
tância, pois nela se alicerçam as bases da verdade da palavra de
Deus. Não teria como as Escrituras reivindicarem autoridade es-
piritual para si se ela fosse falha e registrasse inverdades.
Definição
Inerrância vem do latim inerrantía e significa, literalmen-
te,“qualidade daquilo que não tem erro; infalível”. Assim, dize-
mos que a Bíblia é inerrante porque nela não contém nenhum
erro. Por sua inspiração ser divina, logo se imuniza de qualquer
possibilidade quanto a essas falácias.
O teólogo pentecostal John R. Higgms assim define a
doutrina da inerrância das Sagradas Escrituras: “Embora os ter-
mos “infalibilidade” e “inerrância” tenham sido, historicamente,
quase que sinônimos do ponto de vista da doutrina cristã, mui-
tos evangélicos têm preferido ora um termo, ora outro. Alguns
53
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
Relatos Difíceis
Honestamente reconhecemos que há relatos difíceis em
algumas passagens que demandam cuidados. O leitor da Bíblia,
por certo, já encontrou algumas passagens que, aparentemente,
coloca em dúvida a questão da inerrância das Escrituras. Quan-
do isso acontece, como por exemplo uma narrativa que consta
mentiras, incestos, estupros, etc., deve-se entender que não há
uma aprovação do ato, pois não é isso que aprova o livro sagrado
em todo o seu contexto. O que se deve levar em consideração é
que o registro do ato é verdadeiro, de fato existiu e foi como está
narrado, entretanto, não significa que os atos foram aprovados,
pois são condenáveis pela Palavra de Deus.
A própria Bíblia atesta a sua inerrância como divina em
algumas passagens:
58
Capítulo 5
As traduções da Bíblia
A Septuaginta
Septuaginta significa “setenta”. É conhecida pela abrevia-
ção LXX em algarismos romanos, às vezes é chamada de “Versão
Alexandrina”. É conhecida por esse nome por ter sido uma tra-
dução feita por setenta e dois sábios (6 sábios de cada tribo (12)
de Israel; 12x6=72).
Essa tradução foi a primeira feita da Bíblia hebraica
quando traduziram todo o Antigo Testamento para a língua gre-
ga. Isso foi necessário por causa do enfraquecimento da língua
hebraica diante do aramaico. Quando Alexandre, o Grande, es-
tabeleceu seu império em 331 a.C., as dimensões do poder grego
foram enormes, o seu poder de influência foi tamanho que não
teve alternativa, senão traduzir as Escrituras originalmente em
59
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
A Vulgata Latina
Essa tradução foi feita por Sofronius Eusebius Hierony-
mus, mais conhecido por Jerônimo, que traduziu possivelmente
com base na Septuaginta, ou nos textos vetus latina, ou ainda,
um ex novo.
Como no caso da Septuaginta, onde o hebraico perdeu
força, dessa feita o grego, no século III d.C., perdeu força para o
latim nos domínios do império romano. Dâmaso, bispo de Roma
(366-384 d.C.), inconformado com tantas versões e traduções,
pois isso dificultava um ensino homogêneo na igreja, solicitou a
Jerônimo (347–420), erudito no latim, grego e hebraico, que fizes-
se a tradução para a língua do império, pedido concluído em 405
d.C. Essa tradução ficou conhecida como “versio vulgata”, uma
versão popular na língua do povo, que durou vinte anos para ser
concluída. No Concílio de Trento (1545-1574), a igreja romana a
proclamou como autêntica, aderindo como versão oficial, e as-
sim foi até o Concílio Vaticano II, entre 1962 a 1965, convocação
feita pelo papa João XXIII para debater sobre os rumos da igreja
romana.
King James
Logo após as Reformas de Henrique VIII na igreja da In-
glaterra, não reconhecendo a autoridade papal, a igreja não refor-
mou por completo, ainda mantinha ensinos da igreja romana. E
isso gerava tensão, principalmente entre anglicanos e puritanos.
Enquanto os anglicanos haviam se conformado com a situação
da igreja, os puritanos queriam uma “purificação” mais intensa.
Os anglicanos usavam a Bíblia dos Bispos, que, após passar por
um processo de revista, foi publicada em 1568; e os puritanos, a
Bíblia de Genebra, que, além de ser uma bela obra, continha os
ensinamentos de Calvino. Essa Bíblia foi resultado da tradução
latina do reformador francês Thedodoro Beza, sucessor de Calvi-
no, e do grego, por William Whittingham (1524– 1579), a pedido
dos ingleses exilados em Genebra, Suíça.
60
Convenção Unida Internacional Introdução Bíblica
Tradução de Lutero
O reformador alemão, Martinho Lutero, enquanto estava
refugiado no castelo de Wartburg, traduziu as Escrituras para a
língua do seu país. Por volta de 1521-1522, traduziu o NT do gre-
go para o alemão popular, e o AT levou cerca de 11 anos. Depois
de onze anos de trabalho, concluiu a tradução do AT em 1534.
“A tradução de Martinho Lutero não foi a primeira Bíblia em
alemão. Entre 1466 e 1522, pelo menos 14 edições da Bíblia em
alemão mais erudito e 4 para o alemão mais popular circularam
na região. Mas a de Lutero foi maior que todas elas.”
A Bíblia de Lutero revolucionou a Alemanha de sua épo-
ca; até em nossos dias se fala que sua versão influenciou a gramá-
tica alemã. O seu trabalho foi um legado para toda a posteridade
reconhecido mundialmente.
A Bíblia em Português
Na língua portuguesa temos registros do século XIII-XIV
com os imperadores portugueses que empreenderam a tradução
da Bíblia para seu vernáculo. Apesar das tentativas, sempre fo-
ram trabalhos incompletos, como, por exemplo, D. Diniz (1279-
1325), rei de Portugal, que foi o primeiro a traduzir para o Portu-
guês, labor que só completou os vinte capítulos de Gênesis.
Vários são os exemplos de obras incompletas na língua
portuguesa:
D. João I (1385-1433), que traduziu o livro de Salmos e pa-
trocinou padres eruditos para esse trabalho, que só traduziram
os Evangelhos, o livro de Atos e as Epístolas de Paulo.
Dna Felipa, filha de D. Pedro, traduziu os Evangelhos,
com base no francês.
Dna. Leonora, esposa de D. João II, patrocinou a obra de
Valentim Fernandes, em 1495, que fora a primeira harmonia dos
evangelhos em língua portuguesa. Dna. Leonora ainda mandou
imprimir, cinco anos após o descobrimento do Brasil, o livro de
Atos, as epístolas de Tiago, Pedro, João e Judas do frei Bernardo
de Brinega.
Tradução de Figueiredo
Outra tradução muito importante na língua portuguesa
foi a do padre português Antônio Pereira de Figueiredo, nascido
em 14 de fevereiro de 1725, em Tomar, próximo a Lisboa, Por-
63
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
A Bíblia no Brasil
Pelo que consta nos anais, foi em São Luís, no estado do
Maranhão, que tivemos o primeiro texto produzido no Brasil.
Em 1847, o frei Joaquim de Nossa Senhora de Nazaré traduziu o
NT com base na Vulgata. Desde então, muitos fragmentos foram
traduzidos no Brasil. Em 1879, foi publicada A primeira edição
brasileira do Novo Testamento de Almeida. O padre Humberto
Rodhen foi o primeiro católico brasileiro a traduzir o Novo Tes-
tamento com base no grego, mas sua tradução sofreu várias crí-
ticas. Em 1917, foi publicada a Tradução Brasileira, sob a direção
do Dr. H. C. Tulcker, obra de valor inestimável, sem, contudo,
cair no gosto popular. Em 1932, o padre Matos Soares, com base
na Vulgata, traduziu a Bíblia e, por ter notas em defesa dos dog-
mas romanos, é bem apreciada pelos católicos, o que também
recebeu apoio papal em 1932.
Com a chegada das Sociedades Bíblicas no Brasil, outros
trabalhos de tradução de Bíblias foram empregados, como, por
exemplo, a revisão de JFA, dando origem à Edição Corrigida e
Revisada ao Texto original, pela Sociedade Bíblica Trinitariana
do Brasil, em 1969, em São Paulo. Em 1943, as Sociedades Bí-
blicas Unidas, através de um grupo de eruditos, melhoraram a
tradução de Almeida. Em 1948, a Sociedade Bíblica do Brasil foi
organizada e fez duas revisões no texto de Almeida, uma mais
profunda, conhecida como Edição Revista e Atualizada no Brasil,
e outra menos aprofundada, conservando o nome Corrigida. Em
1967, a Imprensa Bíblica Brasileira, criada em 1940, publicou a
64
Convenção Unida Internacional Introdução Bíblica
66
Conclusão
67
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
68
Bibliografia
Introdução ____________________________________________ 75
Capítulo 1: Pentateuco __________________________________ 77
Capítulo 2: Livros Históricos _____________________________86
Capítulo 3: Livros Poéticos ______________________________ 96
Capítulo 4: Livros Proféticos ____________________________105
Conclusão ___________________________________________ 125
Bibliografia __________________________________________ 127
75
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
76
Capítulo 1
O Pentateuco
O Livro de Gênesis
Data: 1445 – 1405 a.C.
Autor: tradicionalmente aceitamos que Moisés foi o es-
critor do Pentateuco, consequentemente do livro de Gênesis. En-
tretanto, há estudiosos que questionaram a sua autoria, como o
professor Johann Eichhorn. Mas, apesar da descrença quanto à
autoria mosaica, as evidências que apontam para Moisés são só-
lidas, o que leva a crer que, de fato, ele foi o escritor do Gênesis.
Fonte: a fonte para a escrita desse livro foi oral. As histórias con-
tadas foram coletadas por Moisés. E. F. Kevan diz que Moisés se
serviu de fontes para elaborar a sua obra, pois é bem provável
que a frase tão frequente, toledoth “estas são as gerações”, admi-
ta a utilização de fontes históricas por parte do autor. Ninguém
pode dizer com certeza se esta frase constitui um subtítulo que
indique a fonte da qual a informação foi derivada, embora seja
78
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento
O Livro de Êxodo
Data: 1445 – 405 a.C.
A história egípcia não menciona o Êxodo, mas, de acordo com
1 Rs 6.1, ele ocorreu 480 anos antes da construção do templo de
Salomão (inaugurado por volta de 970 a.C.). Ou seja, somando
tudo, chegamos ao ano de 1.450 a.C., segundo Kitchen.
Autor: Moisés.
A exemplo de Gênesis, Êxodo não fica livre dos ataques
da Alta Crítica quanto à autoria mosaica, ainda que a arqueolo-
gia tenha contribuído para confirmar que esse livro foi escrito
por Moisés. Leo G. Cox diz que, tomando por certo que um isra-
elita contemporâneo aos fatos tenha escrito as narrativas em Êxo-
do, é fácil deduzir que Moisés foi o autor. O autor não poderia ter
sido um israelita comum; ele era altamente talentoso, educado
e culto. Quem estava mais bem preparado entre todos estes es-
cravos que Moisés? Jesus afirmou que a lei foi escrita por Moi-
sés (Mc 1.44; Jo 7.19-22); seus discípulos também atestaram este
fato (Jo 1.45; At 26.22). Há evidências internas no próprio livro de
79
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
O Livro de Levítico
Data: 1445 – 1405 a.C.
Autor: Moisés.
Há indícios internos de que Moisés de fato escreveu
esse livro, pois vinte dos vinte e sete capítulos começam com a
fórmula: “Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo”. Ocasional-
mente, diz Dennin F. Kinlaw, o texto diz que Deus falou com
Moisés e Arão (11.1; 13.1; 14.33;15.1). Pelo menos uma vez Deus
fala somente com Arão (10.8). A maior parte do material do livro
apresenta mensagens vindas diretamente de Deus para Moisés.
A perspectiva tradicional da igreja era de que Moisés deu esse
livro a Israel e, consequentemente, a nós.
O terceiro livro do Pentateuco tem esse nome oriundo da
Septuaginta, a versão dos setenta, Leveitikon. Em latim é Leviti-
cus e, em português, Levítico. Este livro são prescrições para os
sacerdotes. No grego, levítico significa “referente aos levíticos”.
Como bem disse John Phillip, “em Êxodo vemos como Deus tira
seu povo do Egito; em Levítico vemos como Deus tira o “Egito”
do povo. Êxodo inicia com pecadores; Levítico com santos”. A
temática de santidade é a tônica do livro.
Kinlaw esboça a mensagem desse livro da seguinte for-
ma:
1.Não é possível comunhão com Deus exceto com base na
expiação do pecado. Os capítulos iniciais de Levítico des-
crevem várias ofertas necessárias para que a expiação e a
comunhão sejam efetuadas.
81
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
O Livro de Números
Data: 1405 a.C.
Autor: Moisés.
Números, do hebraico bemidbar, significa “no deserto”,
do latim Numeri, conforme a Vulgata Latina. Bemidbar, além de
ser a quinta palavra hebraica do primeiro versículo, faz uma alu-
são aos trinta e oito anos de peregrinação no deserto, e Numeri,
talvez seja uma referência aos dois censos registrados nesse livro.
Números narra o período de peregrinação no deserto da penín-
sula do Sinai, que cobre um período de 38 anos.
É um livro que muito enfatiza a reação do povo de Israel
diante das dificuldades, é comum encontrarmos o povo murmu-
rando, por isso há quem sugere que esse livro chame de “As mur-
murações de um povo”. Mas não podemos perder de vista que,
por causa dessas murmurações, aquele povo sofreu as consequ-
82
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento
O Livro de Deuteronômio
Data: 1405 a.C.
Autor: Moisés.
Deuteronômio fecha o Pentateuco de Moisés. Essa pala-
vra do grego significa “segunda lei” ou “repetição da lei”, devi-
do à ênfase na lei dada no Sinai, em um chamado à obediência.
Agora, o povo está acampado na fronteira oriental de
Canaã, no vale de Betel-Peor, na região montanhosa de Moabe.
Moisés repete as leis para o povo enfatizando a obediência a
Deus. Nesse momento, o libertador de Israel está com cento e
vinte anos, próximo de sua partida.
Enquanto o livro de Êxodo, Levítico e Números são dire-
cionados aos sacerdotes, ao Tabernáculo e a tudo que girava em
torno dos levitas, o quinto livro do Pentateuco se estendia a to-
dos os judeus, chamando-os à obediência e à observância da lei.
O propósito desse livro é de lembrar aos velhos e informar aos
jovens acerca do concerto com o Senhor e das leis que compõem
a aliança. As ideias de G. T. Manley, condensadas em sete pon-
tos, são bem interessantes, pois ajudam a compreender melhor
esse livro.
1.Cativeiro e Redenção
Israel “não deve esquecer” (4.9) que foi “servo na terra do
Egito” (5.15), muitas vezes chamado “casa da servidão”
(5.6), e que daqui o Senhor o “reuniu” (7.8) “com mão forte
e com braço estendido” (4.34).
2. A Maravilhosa Herança
Deus “dá” ao seu povo uma “boa terra” (1.25), donde
“mana leite e mel” (6.3), como “jurara a seus pais “que a
haviam de “possuir” (1.8) como “herança” (4.21).
83
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
3. O Amor de Deus
Israel deve “amar” o Senhor, seu Deus (5.10) “com todo
o seu coração e com toda a sua alma” (4.29), porque Ele
o amara primeiramente na pessoa de seus antepassa-
dos (4.37). Deve ainda temê-lo (4.10) e “chegar-se” a Ele
(10.20). Quanto aos outros deuses (5.7), que não conhe-
ceram (11.28), devem “desfazer mesmo os seus nomes”
(7.24).
4. O Povo do Senhor
“Todo o Israel” (1.1) vai “ouvir” as palavras do Senhor
(5.1), já que se considera um “povo santo” e “escolhido”
(7.6). Como todos os membros são “irmãos” (1.16), há que
cuidar dos menos afortunados, dos “órfãos, das viúvas,
dos estrangeiros” (10.18).
6. A Purificação do Pecado
Todos os “pecados” são condenados (15.9), especialmente
a idolatria que constitui uma “abominação” (7.25). Quanto
às penas a sofrer, não haverá piedade (13.8), de sorte que
o povo “ouça e tema” (13.11) e acabe por “tirar o mal do
meio dele” (13.5).
7. Promessa de Bênçãos
Não faltam promessas de “bênçãos” (7.13), quando chegar
a hora do “descanso” (3.20). A quem cumprir os manda-
mentos do Senhor (5.1), e ser-lhe-ão aumentados os dias
(4.26) e tudo lhe correrá bem (4.40). Mas ainda: “toda a
obra das suas mãos” será abençoada (2.7), comerá e far-
-te-á (6.11) e tudo “será conforme o desejo da sua alma”
(12.15).
85
Capítulo
Capítulo22
LIVROS Históricos
Livros HISTÓRICOS
O Livro de Josué
Data: a datação desse livro tem várias possibilidades. Uns
acham que a escrita desse livro não pode ser posterior a 1200 a.C.
e que há vestígios de fontes entre a morte de Josué e a época de
Samuel (1050). John Taylor diz que provavelmente a data desse
livro tenha sido na época dos primeiros reis de Israel (1045 a.C.),
durante a vida de Samuel, e antes de Davi tomar a cidade de Je-
rusalém. Donald Stamps data esse livro no século XIV, tendo por
base a invasão de Canaã por Israel nos meados de 1405.
Autor: alguns atribuem a autoria desse livro a um ancião
anônimo, outros, baseados na tradição judaica, Talmude, a Jo-
sué, sendo que as partes finais foram acrescentadas depois da
sua morte.
Josué, também conhecido como Oséias, era filho de Num,
da tribo de Efraim (Nm 13.8). Foi um dos doze espias que nas-
ceu no Egito. Tinha habilidade militar (Ex 17.8-13), acompanhou
Moisés na entrega da Lei (Ex 24.13) e sempre esteve presente
na liderança de Moisés, e Deus o escolheu para ser sucessor do
grande líder hebreu (Dt 31.14-15).
Esse livro abrange um período de vinte e quatro anos (30
anos?), da morte de Moisés até a morte de Josué. O livro do capi-
tão Josué trata da conquista de Canaã e a distribuição das terras,
o assentamento das tribos e, no capítulo vinte e quatro, há uma
informação muito importante que demonstra a situação espiritu-
al do povo: “serviu, pois, Israel ao Senhor todos os dias de Josué
e todos os dias dos anciãos que ainda viveram muito depois de
Josué e que sabiam toda a obra que o Senhor tinha feito a Israel”
(24.31). Isso mostra que a liderança de Josué foi fiel ao Senhor,
apesar de pequenos deslizes, muito mais por imprudências do
que por infidelidade.
O livro mostra a ida dos espias a Jericó (cap. 2), a pas-
sagem do Jordão (4-5), a circuncisão e a Páscoa depois do Egito
(cap. 5), a conquista de Jericó (cap. 6), a derrota e o pecado de Acã
(capítulo 7), a vitória sobre Ai, o engano dos gibeonitas e o so-
87
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
O Livro de Juízes
Data: Clyde Ridal fez uma observação interessante que
merece a nossa reflexão para situarmos a data desse livro, pois
diz que, se Isaías 9.4 é uma alusão a Juízes 7.21-25 (a derrota de
Midiã), o livro já existia no século VII a.C. Ainda diz que, se os
cananeus viviam em Gezer (1.29), devemos datar o livro como
anterior a 992 a.C., quando o faraó do Egito presenteou a filha
dele, uma das esposas de Salomão, com essa cidade (1 Rs 9.16).
Se os jebuseus ainda habitavam em Jerusalém (1.21), ele foi es-
crito antes de 1048, quando a fortaleza foi capturada por Davi.
Donald Stamps data cerca de 1050 a 1000 a.C.
Autor: Anônimo, ainda que haja tentativas de fixar nomes
ao relato desse livro. Já atribuíram a autoria a Finéias, Ezequiel,
Esdras. A tradição judaica atribui a Samuel.
O título Juízes é uma relação com os juízes que Deus le-
vantou para julgar Israel em um período anterior a Samuel, sen-
do este o último juiz. Esses juízes foram líderes militares e políti-
cos, que temporariamente lideravam o povo.
Enquanto o livro de Josué diz que o povo foi fiel até a
morte do seu líder, vemos a tragédia no livro de Juízes, por uma
geração que não conhecia ao Senhor, se apostataram e caíram
como juízo nas mãos dos inimigos. Foi um período de quatro-
centos e cinquenta anos (At 13.20), que abrange da morte de Jo-
sué à magistratura de Samuel.
Infelizmente, por algumas vezes o autor diz que “não ha-
via rei em Israel” (Jz 17.6; 18.1; 19.1) e que cada um fazia bem aos
seus próprios olhos (21.25), e a consequência, o livro relata, seria
tornarem-se presas fáceis nas mãos dos inimigos.
88
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento
O Livro de Rute
Data: alguns consideram a sua data entre 1050 a 1000,
a.C.
Autor: anônimo, apesar de haver três possíveis autores,
Samuel, Ezequias ou Esdras.
A história do livro de Rute reporta a uma família dos
tempos dos juízes. Esse livro foi escrito após a coroação de Davi,
pois no final do livro temos sua genealogia.
Junto a Ester, são os únicos livros da Bíblia que levam
os nomes de mulheres. Esse livro faz parte dos rolos Meguilot
(“cinco rolos”), e esse precisamente era lido na festa de Pentecos-
89
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
tes.
“O livro de Rute fala-nos da família de Elimeleque, de Be-
lém, que emigrou para Moabe, acossado pela fome, e lá morreu
com seus dois filhos. Entretanto, a viúva Noemi volta à terra de
seus antepassados, levando consigo sua nora Rute, também vi-
úva, que insistiu em acompanhá-la. Aí encontraram um parente
próximo, Boaz, que voluntariamente assumiu a responsabilida-
de de Goel, o qual desposou Rute, que foi mãe de Obede, avô de
Davi”. Richard Bauckam diz que o livro de Rute nos dá uma vi-
são diferente do Israel antigo, visão esta que complementa, e até
corrige, a perspectiva essencialmente masculina que aparece nas
outras histórias do AT. Mas, com este ponto de partida, pode-
mos ver o resto da história do AT também através dos olhos das
mulheres, assim como já a vemos através dos olhos dos homens.
Podemos identificar passagens em Gênesis nas quais a perspec-
tiva das matriarcas substitui a dos patriarcas (Gn 16; 21.6-21;
29.31-30.24). Mesmo onde a perspectiva masculina é dominante,
podemos suprir a perspectiva feminina ao ler nas entrelinhas e
preencher as lacunas. Deste modo, o livro de Rute pode ter para
todos nós –homens e mulheres – a importante função de revelar
novas maneiras de ler o resto da história bíblica.
Os Livros de 1 e 2 Samuel
Data: apesar de haver dificuldades quanto à data desses
livros, provavelmente a data mais próxima seja por volta de 930
a.C.
Autor: o livro traz o nome do grande profeta Samuel, mas
isso não significa que tenha sido ele o escritor, mas apenas faz
referência a esse grande homem de Deus devido à sua proemi-
nência.
Bem possível que o escritor desses livros tenha usado
como fonte registros do próprio Samuel, pois em 1 Samuel 10.25
diz que ele colocou “perante o Senhor” o livro que ele escreveu.
Ainda em 1 Crônicas 29.29 há uma referência de um livro cha-
mado “crônicas de Samuel, o vidente”. Levando em conta que
os profetas também registrassem os fatos como historiadores,
bem possível que Samuel fizesse o mesmo e que outros o tenham
usado como fonte para um registro histórico. Além da fonte de
90
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento
Os livros de 1 e 2 Reis
Data: Charles Pfeifer diz que o livro de 2 Reis termina
com a soltura de Joaquim de sua prisão de trinta e sete anos–
entre 562–561 a.C. O livro não poderia ter sido concluído antes
dessa data, nem muito depois de 536 a.C., o ano do retorno do
cativeiro da Babilônia, uma vez que nada narra sobre esse acon-
tecimento. Considerando que este livro é uma unidade e não o
produto de diversos autores em datas sucessivas, deve ser data-
do do período
entre 562-536 a.C.
Autor: não há consenso sobre a autoria do livro, surgindo
várias possibilidades, como Jeremias, Ezequiel, Isaías ou ainda
um dos profetas desconhecidos do cativeiro babilônico.
Os livros de Reis originalmente eram um só volume e a
sequência dos livros de Samuel. Essa história vai do final do rei-
nado de Davi e do período áureo do rei Salomão, passando pela
construção do templo e, posteriormente, à divisão das tribos en-
tre reino do Norte, Israel e reino do Sul, Judá.
O livro dos Reis narra a história dos líderes e a situação
espiritual, econômica, social e política da nação de Israel. Cobre
um período de aproximadamente cento e vinte anos. Através
desses registros sabemos quem foram os dezenove reis de Israel,
reino do Norte, e os vinte reis de Judá, reino do Sul.
Esse livro mostra claramente, sem nenhum interesse de
esconder as duas faces, o retrato de uma nação com sua liderança
piedosa ou ímpia. No meio dos ímpios, Deus sempre preservou
os seus, fato visto nesse período. Mas o livro mostra também a
91
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
Os Livros de 1 e 2 Crônicas
Data: não há consenso quanto à data específica, mas au-
tores sugerem algumas possibilidades. H. L. Ellison diz que o
próprio livro de Crônicas, no capítulo 36.22, indica uma data ter-
minal existente, a saber, 537 a.C. Donald Stamps data em 450-420
a.C.
Autor: a tradição judaica diz que o escritor foi Esdras, o
escriba.
Como Reis, Crônicas também originalmente trata-se de
um volume único. Há uma forte lista de genealogias, como tam-
bém narra a morte de Saul e a história do rei Davi. No segun-
do livro temos a história de Salomão e o decreto de Ciro, rei da
Pérsia, para que os judeus reedificassem a cidade. Esses livros
abrangem um período de quinhentos e vinte anos, da morte de
Saul até o decreto de Ciro.
Bem provável que o autor desse livro baseia sua narrativa
em Samuel e Reis como fontes, além de várias incursões por ou-
tros livros do AT, como Gênesis, Êxodo, Números, Josué, Rute e
alguns dos Salmos.
Os leitores originais de Crônicas eram as pessoas que vol-
taram do exílio babilônico para reconstruírem Jerusalém sob a
liderança de Esdras e Neemias.
Crônicas representa o ponto de vista sacerdotal, diferente
de Samuel e Reis que focam no ponto de vista profético, pois em
Crônicas a preocupação é com a realização do que Deus deter-
minara ou não e, em Samuel e Reis, de como Deus tratou o seu
povo.
Os Livros de Esdras-Neemias
Data: 430 a 400 ou datas entre 330 - 300 a.C.
Autor: Esdras.
Esdras e Neemias são separados em nossas Bíblias como
dois livros distintos, entretanto, na Bíblia judaica são um só, com
92
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento
O Livro de Ester
Data: as datas variam, como por exemplo, uns datam
aproximadamente antes de 300 a.C, e outros, após 465 a.C. Ou-
tros mais liberais datam no período Macabeus, em cerca de 130
a.C.
Autor: desconhecido. Mas, sempre há as possibilidades,
como Agostinho (354-430, d.C.), que acreditava que o seu autor
fosse Esdras; o Talmude atribui à Grande Sinagoga presidida por
Esdras; Clemente de Alexandria (150-215, d.C.) e outros acredita-
vam que pudesse ter sido Mardoqueu. A verdade é que o autor
desse livro foi alguém que tinha familiaridade com os assuntos
persas e com forte nacionalismo que, talvez, indiquem que tenha
sido um judeu que viveu na Pérsia antes de o império cair nas
mãos dos gregos.
Ester, nome persa que significa Estrela, também chama-
da pelo nome hebraico Hadassa, que significa murta. A história
desse livro se dá na cronologia entre o retorno de Zorobabel e
Esdras, entre o sexto e o sétimo capítulo do livro de Esdras. Tam-
bém foi nesse período que Ester se tornou rainha da Pérsia, cerca
93
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
95
Capítulo 3
Livros Poéticos
O Livro de Jó
Data: Alguns consideram meados do século IV a.C.
Autor: determinar o escritor do livro de Jó é uma tarefa
difícil, e muitos dizem ser inútil. Vários nomes são sugeridos,
como Moisés, o próprio Jó ou um nômade que viveu na época
dos patriarcas.
Alguns têm questionado a historicidade de Jó duvidando
da sua real existência. Entretanto, Jó foi um personagem históri-
co que viveu próximo do período patriarcal. Em Ezequiel 14.14
há uma referência a ele, e o apóstolo Tiago destaca a sua paci-
ência
96
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento
(5.11). Ora, essas citações só fazem sentido se, de fato, ele fosse o
exemplo de um homem histórico.
É bem provável que Jó viveu na época dos patriarcas, por
volta de 2000 a.C., possível época de Abraão, e, para sustentar
essa possibilidade, o doutor Milo L. Chapman diz, por exemplo,
que o livro afirma que Jó viveu durante 140 anos depois da res-
tauração da sua saúde e riqueza, além dos anos que ele havia
vivido antes do seu infortúnio. Não há expectativa de vida como
essa na narrativa bíblica depois do período patriarcal.
A riqueza de Jó consistia basicamente em rebanhos e ma-
nadas, como era o costume dos patriarcas. O próprio Jó oferece
sacrifícios pela sua família, como era o costume daqueles primei-
ros pais. No entanto, ele parece desconhecer a oferta pelo pecado
e outras práticas mosaicas.
Donald Stamps enumera alguns fatos para corroborar
ainda essa possibilidade como a sua longevidade de quase 200
anos (Abraão viveu por volta de 170 anos), como também suas
riquezas eram calculadas em termos de gado, sua atividade sa-
cerdotal na família era similar à de Abraão, Isaque e Jacó, a famí-
lia patriarcal como unidade social básica, semelhante aos dias de
Abraão, as incursões dos sabeus e dos caldeus encaixam na era
abraâmica, o uso frequente (trinta e uma vez) do nome patriarcal
comum de Deus, Shaddai (“O Onipotente”), e a ausência de refe-
rência a fatos da história israelita ou à lei mosaica também sugere
uma era pré-mosaica.
Os amigos de Jó, Elifaz, Bildade, Zofar e Eliú, o visitaram
em um momento de extremo sofrimento, quando ele havia per-
dido tudo. A grande questão do sofrimento humano é a temática
do livro, como também a questão do mal. O conceito teológico é
abrangente em outros livros da Bíblia, o que permite uma visão
mais panorâmica de sua mensagem sobre os temas correlaciona-
dos em seus quarenta e dois capítulos.
O Livro de Salmos
Data: quase todos entre os séculos X a V a.C. Acredita-se
que a compilação final se deu nos dias de Esdras e Neemias,
450–400 a.C.
Autor: diferentemente do que popularmente se propa-
97
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
1º Livro: 1 ao 41
2º Livro: 42 ao 72.
3º Livro: 73 ao 89.
4º Livro: 90 ao 106.
5º Livro: 107 ao 150.
O Livro de Provérbios
Data: cerca de 970–700 a.C. Earl C. Wolf diz que, embora
grande parte do livro de Provérbios tenha sua origem na época
de Salomão, no décimo século a.C., a conclusão da obra não pode
ser datada antes de 700 a.C., aproximadamente duzentos e cin-
quenta anos após o seu reinado. Uma seção (25.1–19.27) contém
a coleção de Provérbios que os escribas de Ezequias copiaram de
obras anteriores de Salomão. Alguns estudiosos datam a edição
final de Provérbios ainda mais tarde, mas antes do período de
conclusão do Antigo Testamento–400 a.C. Outros ainda chegam
a datar a edição final no período Intertestamental. Uma referên-
cia ao livro de Provérbios no livro apócrifo de “Eclesiástico” (“A
sabedoria de Jesus Ben Sirach”), escrito em torno de 180, indica
que nessa época Provérbios era amplamente aceito como parte
da tradição religiosa e literária de Israel.
Autor: Salomão, mais Agur (Cap. 30) e Lemuel (cap. 31),
99
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
100
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento
cisões: 11.1, 15, 26; 15.22; 16.3, 9-11, 33; 17.8, 18, 23; 18.16;
19.21; 20.10, 14, 16, 18, 23, 21.14; 22.26-27; 27.23-27; 28.8. O
orgulhoso e o humilde: 11.2; 12.9; 15.25; 16.18-19; 18.12;
21.4, 24; 22.4; 29.23. Amigos: 17.9, 17; 18.24; 19.4, 6; 27.6, 10.
Vizinhos: 25.8-10, 17-18; 26.18-19; 27.10, 14; 29.5. Senhores
e servos: 11.29; 14.35; 17.2; 29.19-21; 30.10, 22-23. Reis e go-
vernantes: 16.13-15; 19.12; 20.2; 23.1-3; 24.21; 25.1-7; 28.15-
16; 29.12, 14; 31.4-5. Esperança e medos; alegria e tristezas:
12.25; 13.12; 14.10, 13; 15.13, 30; 17.22; 18.14; 25.20; 27.9;
Ira:14.17, 29; 15.18; 16.14, 32; 19.11-12, 19; 20.2; 22.24-25;
29.22. Temor do Senhor: 10.27; 14.26-27; 15.16, 33; 16.6;
19.23; 22.4; 23.17; 24.21.14
O livro de Eclesiastes
Data: para aqueles que rejeitam a autoria de Salomão, a
data seria entre 400 e 200 a.C. Para outros, século X a.C.
Autor: tradicionalmente é aceito que Salomão tenha sido
o escritor desse livro na sua velhice. Os que defendem tal possi-
bilidade usam Ec 1.1, onde diz “filho de Davi” como base. Mas
esse argumento é frágil, pois a palavra “filho” não é usada obri-
gatoriamente só no sentido biológico, como também no sentido
político ou a qualquer grau de parentesco do sexo masculino.
Lutero, por exemplo, acreditava que não foi Salomão o escritor
de Eclesiastes.
Purkiser, citado por A. F. Harper, faz algumas observa-
ções: “no primeiro versículo, o livro é atribuído ao “filho de Davi,
rei em Jerusalém [...]” Entretanto, em 1.12 diz: “Eu, o pregador,
fui rei sobre Israel em Jerusalém”.
Claramente, nunca houve época alguma na vida de Salo-
mão em que pudesse se referir ao seu reino no pretérito. Em 2.4-
11 também são descritos os feitos do reinado de Salomão como
algo que já era passado no tempo em que foi escrito. Novamente,
em 1.16, o autor diz: “e sobrepujei em sabedoria a todos os que
viveram antes de mim em Jerusalém.” O mesmo pensamento se
repete em 2.7. No caso de Salomão, apenas Davi precedeu Salo-
mão como rei em Jerusalém. Mais uma vez devemos lembrar que
104
Capítulo 4
Livros Proféticos
105
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
OS PROFETAS MAIORES
Como já foi mencionado antes, esses profetas maiores
não são em importância, pois todos foram relevantes, mas quan-
to ao volume de seus respectivos livros.
O Livro de Isaías
Data: cerca de 700 – 680 a.C.
Autor: Isaías.
Isaías foi um dos profetas mais importantes de Israel, nas-
ceu provavelmente em torno de 760 a.C., em Jerusalém, Reino do
Sul. Era de uma família abastada e, pelo que consta, era sobrinho
do rei Uzias. Se casou com uma “profetisa” (Is 8.3). Esse termo
pode ter o significado oficial como também pode ser um título
honorífico que Isaías se referiu à sua esposa. Teve dois filhos para
os quais deu nomes proféticos. O mais velho chamou de Sear-
-Jasube, que significa “um remanescente deve”, e o mais jovem
chamou de Maher-shalal-has-baz, que significa “apressando-se
sobre a presa” ou “precipitando-se sobre a rapina”.
O profeta Isaías desenvolveu seu ministério durante os
reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, em um período em
que a Assíria era a potência de uma época de grandes conflitos
políticos. A vida social estava dividida entre ricos e pobres e
crescia cada vez mais o abismo entre eles, o que afetava a vida
religiosa dos judeus. Teve um ministério poderoso e entrou nos
anais como “o profeta messiânico”, por suas muitas profecias so-
bre o Messias e em especial o capítulo 53, vaticinado 700 anos
antes de Cristo. Ross Price diz que Isaías foi tanto poeta como
um orador, um artista com as palavras; sua expressão límpida
é insuperável. Além do mais, ele sempre tinha seus olhos volta-
dos para o futuro; por isso, o elemento de predição era forte na
sua profecia. Seu caráter e gênero têm sido resumidos sob quatro
caracterizações, ou seja, como estadista, reformador, teólogo e
poeta.
Seu livro pode ser dividido em duas principais partes:
1ª parte, capítulos 1–39, mensagens de juízos, e a
2ª parte, capítulos 40-66, mensagens de livramentos. Cla-
ro que a mensagem de Isaías tem o aspecto do ordinário, ou seja,
mensagens referentes ao seu tempo, como o aspecto escatológico
106
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento
quanto à vinda do Messias, o que por mais de uma vez ele profe-
tizou.
Segundo a tradição, foi serrado ao meio pelo ímpio rei
Manassés por volta de 680 a.C.
O Livro de Jeremias–Lamentações
Data: cerca de 585 – 580 a.C.
Autor: Jeremias.
O profeta Jeremias era de uma família sacerdotal, filho
de Hilquias, de uma pequena cidade por nome de Anatote, que
exerceu seu ministério profético cem anos depois de Isaías. Nas-
ceu por volta de 605 a.C. e, diferente de outros profetas que se
casaram, como Isaías, foi proibido por Deus de se casar (16.2) e
foi escolhido pelo Senhor para ser profeta durante o reinado dos
últimos reis de Judá, a saber: Josias (640-609, a.C.), Jeocaz (609
a.C.), Jeoaquim (609-598), Joaquim (598-597 a.C.) e Zedequias
(597-586 a.C.).
O seu ministério profético coincide com as reformas feitas
por Josias (2 Rs 22-23) em 628, pois a sua chamada foi, provavel-
mente, em 626 a.C., que cobre os últimos quarenta anos dos últi-
mos cinco reis de Judá. A mensagem de Jeremias era de advertên-
cia quanto à iminência do juízo de Deus através dos babilônios.
Nessa época, a Assíria já estava em decadência e as potências
mundiais eram Babilônia, ao norte, e Egito, ao Sul. Como a sua
mensagem não era agradável, os seus inimigos logo se opuseram
a ele. Sofreu grandes perseguições, sofrimentos, calabouços, etc.
Talvez pela falta de simpatia dos seus inimigos e até mesmo do
povo, foi um profeta que viveu na solidão, rejeitando até mesmo
viver nas regalias imperiais. Profeta sensível, mas firme, e que
demonstrava o seu amor por Deus e Sua palavra em uma época
que ainda havia as consequências da idolatria enraizada desde o
reinado do ímpio Manassés.
Jeremias foi contemporâneo de outros profetas, como
Habacuque e Sofonias, como também o profeta Ezequiel que es-
tava entre os cativos. O profeta Jeremias profetizou o cativeiro
babilônico, que duraria setenta anos. Esse profeta foi considera-
do traidor por pregar a submissão a Babilônia (38.17), pois ele ti-
nha certeza da mensagem que recebera da parte de Deus de que
107
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
Cânticos dos cânticos, Rute, Eclesiastes e Ester, faz parte dos ro-
los conhecidos como Meguillot. Sua mensagem é uma lamenta-
ção diante da situação miserável da cidade santa, Jerusalém.
O Livro de Ezequiel
Data: Cerca de 590 – 570 a.C.
Autor: Ezequiel.
Há quem sugira que os capítulos 40-48 não sejam de sua
autoria, como também os capítulos 38-39, mais alguns versículos
quando o posiciona na Babilônia. Mas ainda predomina o enten-
dimento da tradição que tenha sido o profeta que escreveu todo
o livro.
Filho do sacerdote Buzi, descendia de família real. Pro-
fetizou entre os cativos na Babilônia, próximo ao rio Quebar.
Perdeu sua esposa durante o cativeiro (24.15-18). Aos 26 anos,
foi levado cativo para Babilônia no meio dos nobres, quando Na-
bucodonosor deportou os nobres e a família real em 598-97 a.C.
Apesar do cativeiro, ele tinha a sua própria casa (3.24; 20.1). Foi
contemporâneo de Jeremias (Jeremias profetizou em Jerusalém,
Ezequiel entre os cativos), e também era conhecido do profeta
Daniel. Sua chamada se deu por volta dos trinta anos, e seu mi-
nistério durou uns 23 anos, até seus cinquenta anos. Sua morte
é desconhecida.
O livro é de difícil compreensão, pois há um grande uso
de alegorias nas mensagens do profeta, o que faz com que alguns
o chamem, junto com o livro do profeta Daniel, de “O apocalipse
do AT”. Merece muita atenção e uma apurada interpretação esse
livro, pois o material profético é uma mescla de linguagens que
precisam ser entendidas dentro do seu tempo profético. Talvez
por essas dificuldades que homens como Jerônimo, João Calvino
e o próprio Lutero escreveram tão pouco sobre esse livro. Assim,
é preciso o que disse Howie, citado por Kenneth Grider, quando
afirmou: “a profecia de Ezequiel, escrita num estilo apocalíptico
e repleto de obscuridades em relação ao texto e ao significado,
tem desconcertado um grande número de estudiosos e dado va-
zão a uma série de ideias estranhas, talvez mais do que qualquer
outro livro da Bíblia.”
Kenneth Grider diz que a profecia de Ezequiel forma um
109
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
O livro de Daniel
Data: cerca de 536 – 530 a.C.
Autor: tradicionalmente é aceito que foi o profeta Daniel
que escreveu esse livro, apesar de haver quem alegue que esse
livro foi escrito por alguém que viveu na época de Antíoco Epi-
fânio (175-169, a.C.). Mas quem advoga a não autoria de Daniel
se sustenta em especulações. Em várias partes do livro há a nar-
rativa na primeira pessoa, “Eu, Daniel”, o que dá indício de ser
ele o autor. Parece que o próprio Jesus reconheceu que Daniel foi
autor desse livro (Mt 24.15). Esse profeta era membro da elite de
Judá, foi levado cativo, em 605 a.C., para a Babilônia. O mestre
Antônio Gilberto diz que Daniel foi para o cativeiro babilônico
na primeira leva quando tinha entre quatorze e dezesseis anos.
Viveu no palácio de Nabucodonosor como estudante, estadista e
profeta de Deus, atravessando o governo de todos os reis babilô-
nicos, exceto o primeiro deles, Nabopolassar, pai de Nabucodo-
nosor, e fundador do neo-império Babilônico. O período do seu
exílio na Babilônia foi entre 605 a 536 a.C., e acredita-se que ele
viveu até os noventa anos.
Esse livro é visto como o “Apocalipse do AT”. Os doze
capítulos podem ser divididos em duas partes, sendo a 1ª parte,
dos capítulos 1 ao 6, relatos históricos, e a 2ª parte, dos capítulos
110
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento
OS PROFETAS MENORES
Essa segunda divisão dos livros proféticos em quantida-
de de livros é maior, pois são doze livros enquanto que a primei-
ra divisão são quatro livros mais o de Lamentações que é anexa-
da ao livro de Jeremias.
O Livro de Oseias
Data: Cerca de 715–710 a.C.
Autor: Oséias. Não há muitas informações sobre esse profeta, o
que sabemos é que era filho de Beeri e que exerceu o seu minis-
tério profético no impiedoso reino do Norte, Israel. Foi contem-
porâneo de Isaías (que profetizou no reinado do Sul), e de Amós.
O ministério de Oséias foi durante os últimos anos de Jeroboão
II, um período produtivo quanto à política, economia, etc., que
dava um “falso senso de segurança”. Com a morte de Jeroboão II
(753, a.C.), o reino entrou em declínio, os quatro reis sucessores
foram mortos, e a tragédia do reino do Norte culmina com o ca-
tiveiro assírio que se perdeu entre as nações.
Apesar de muitos teólogos não reconhecerem os três pri-
meiros capítulos como literais, sustentamos que o registro é lite-
ral e a mensagem simbólica. O casamento de Oséias tinha como
finalidade mostrar a infidelidade da nação de Israel e, ao mesmo
tempo, trazê-la ao arrependimento.
Charles Pfeiffer diz que há três interpretações sobre o
casamento do profeta Oséias. 1ª) alguns sugerem que o relato
bíblico tem intenção de apresentar uma alegoria com o objetivo
de transmitir a lição espiritual da infidelidade de Israel e que
111
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
O Livro de Joel
Data: há duas possíveis datas: 1ª 830 a.C., durante o rei-
nado de Joás, e 2ª 400 a.C., durante o período persa. A data tradi-
cional é a primeira, durante a minoridade do rei Joás e a regência
de Jeoiada, o sumo sacerdote.
Autor: Joel, filho de Petuel. Há na Bíblia treze homens
com esse nome, o que dificulta a identificação de qual seja o pro-
feta desse livro. Assim, as informações sobre a pessoa desse pro-
feta são escassas. O que sabemos é que ele foi profeta no reino do
Sul, Judá. Mostra-se interessado pelo Templo, o que faz muito
acreditar que, possivelmente, tenha sido sacerdote (muito ques-
tionado) e profeta.
Os três capítulos desse livro são basicamente divididos
em: 1 - o juízo de Deus; 2 - a promessa do derramamento do Es-
112
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento
O Livro de Amós
Data: cerca de 760 -755 a.C.
Autor: Amós. Foi um profeta de vida simples, de origem
camponesa. Oriundo de Tecoa, uma pequena vila de Judá, oito
km ao sul de Belém e vinte ao sudoeste de Jerusalém. Profetizou
para o reino do Norte, durante os reinados de Uzias, rei de Judá
(792-740 a.C.), e na segunda metade do reinado de Jeroboão II,
rei de Israel, uns 80 anos antes do cativeiro babilônico. Foi con-
temporâneo de Oseias.
Oscar F. Reed diz que Amós nega o título de nabi (pro-
feta profissional). Com esta atitude, quer dizer que não perten-
cia à ordem profética e não tinha recebido o treinamento para
isso. Designa-se cidadão de posição social humilde pertencente
à classe mais pobre. Em vista deste fato, imaginamos como ad-
quiriu o grau de cultura que manifestadamente possuía. Entre
os hebreus, o conhecimento e a cultura não eram peculiares aos
ricos e às classes de profissionais. Mesmo o treinamento inicial
de todo israelita o equipava religiosa e culturalmente, a despeito
de sua posição social. Mesmo assim, Amós era homem simples,
um boiadeiro e cultivador de sicômoro, a comida dos pobres. Seu
pai não era profeta, nem possuía formação nobre como Isaías.
A mensagem de Amós não era nada simpática, o teor de
juízo causava arrepios em seus ouvintes. Bussey disse que ele
não agradava aos ouvidos populares, mas mantinha os olhos na
mensagem divina que lhe cumpria proclamar. Pecado nacional
conduz a julgamento nacional e, quanto maior o privilégio e a
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Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
O Livro de Obadias
Data: 587 a.C. é uma possível data por ele ter entregado
sua profecia, logo em seguida a queda de Jerusalém diante de
Nabucodonosor.
Autor: Obadias. Não há muitas informações sobre esse
profeta. O seu nome significa “servo do Senhor”.
A profecia de Obadias é específica para Edom, que são os
descendentes de Esaú, irmão gêmeo de Jacó. Apesar do paren-
tesco, nunca houve um relacionamento amistoso entre judeus e
os edomitas, sempre houve austeridade. Mas, o motivo principal
de tal sentença profética foi a invasão de Judá patrocinada pelos
edomitas enquanto Jerusalém estava sendo saqueada pelos babi-
lônios em 587 a.C.
A profecia não se refere aos indivíduos (Esaú e Jacó), mas
às nações, como bem disse Alexandre Coelho, “o profeta trata de
duas nações, Israel e Edom, mas refere-se a elas por meio da ci-
tação de seus antepassados, Esaú e Jacó. Isso ocorre porque era
comum para os hebreus identificar as pessoas utilizando o nome
de seus antepassados.”
As grandes características dos edomitas se resumem
na palavra “profano”, pois, como bem disse Armor Peisker no
114
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento
O Livro de Jonas
Data: 760 a.C. É uma data conservadora. Tem como pano
de fundo o período de Jeroboão II, rei de Israel.
Autor: Jonas. Esse profeta, cujo nome significa “pomba”,
era filho de Amitai, da cidade de Gate-hefer (Js 19.3), pertencente
à tribo de Zebulom, próxima à cidade de Nazaré. Profetizou para
o reinado do Norte, Israel, durante o reinado de Jeroboão II.
Além do seu livro, Jonas só aparece no Antigo Testamen-
to em 2 Reis 14.23-25. Gleason Archer diz que Jonas deve ter co-
meçado o seu ministério profético antes do reinado de Jeroboão
II ou pelo menos antes desse brilhante rei ter conseguido alguns
dos seus triunfos militares mais marcantes. Nessa mesma épo-
ca, diz Hernandes Dias Lopes, a nação também se entregou à
115
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
O Livro de Miquéias
Data: cerca de 740 – 710 a.C., data proposta por Donald
Stamps. Leslie Carlson, doutor em teologia, diz que a data do
ministério de Miquéias é dada em relação aos reinados de Jotão
(739-735, a.C.), Acaz (735-715, a.C.), e Ezequias (715-687, a.C.),
reis de Judá (Mq 1.1). Miquéias começou a sua obra no tempo de
Jotão e serviu através de todo o reinado de Ezequias.
Autor: Miquéias.
Acredita-se que Miquéias foi contemporâneo de Isaías,
mas com uma diferença substancial. Enquanto Isaías foi um pro-
feta palaciano de estirpe real, Miquéias foi um profeta rústico
do campo e que morava numa pequena aldeia chamada More-
sete-Gater (Mq 1.14). Essa aldeia distava uns 30 quilômetros ao
sudoeste de Jerusalém, na fronteira de Judá com o território fi-
listeu. Armo Peisker diz que a região era fértil e bem provida de
água, lugar de plantações, pomares de olivas e pastos, mesmo
assim, os agricultores, entre os quais Miquéias fora criado, quase
sempre estavam em dificuldades econômicas. Oprimidos pelas
dívidas, eram forçados a hipotecar suas propriedades aos ricos
de Samaria e Jerusalém, os quais lhe desapropriavam as terras.
Assim se tornaram arrendatários de fazendas, oprimidos por se-
nhores gananciosos e insensíveis. Esta exploração dos pobres foi
aos olhos de Miquéias um dos crimes mais hediondos de seus
117
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
O livro de Naum
Data: cerca de 630 a.C.
Autor: Naum. Este nome significa “consolação”,“conso-
lador”. Pouco se sabe sobre este profeta senão que ele era habi-
tante de Elcose. Na tentativa de descobrir a localização de Elco-
se, têm sugerido lugares possíveis como Cafarnaum (Cafarnaum
significa Vila de Naum), ou na região da Galileia.
A mensagem de Naum, que fora um profeta do reino do
Sul, tinha como alvo Nínive, assim como a do profeta Jonas, mas
com uma diferença: enquanto o juízo de Nínive foi suspenso em
Jonas, em Naum o juízo seria levado a cabo, sendo destruída.
O reino do Norte, Israel, foi levado para o cativeiro assí-
rio quase cem anos antes de Naum, agora, diz o doutor Charles
Feinberg, Nínive estava no propósito de Deus, visitar aquela na-
ção que fora a vara da ira de Deus contra Israel. Nínive tinha ge-
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Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento
O livro de Habacuque
Data: a data provável é entre 640 - 609 a.C., quase no fim
do reinado de Josias, depois da destruição de Nínive pelos babi-
lônios.
Autor: Habacuque, cujo nome significa “abraço”. Se for
derivado de um vocábulo assírio usado para designar uma plan-
ta (hambakuku), então significa também “vegetal”. Jerônimo
(347 – 420, d.C.) afirmou que também esse nome poderia signifi-
car “segurar”, com base em uma raiz hebraica.
Não há muitas informações sobre quem tenha sido esse
personagem bíblico. Mas alguns teólogos têm tentando identifi-
car esse profeta. Silas Daniel diz que, segundo uma tradição dos
rabinos, alguns ligam o nome do profeta a 2 Reis 4.16, fazendo-o
filho da sunamita, pois diz o texto: “disse-lhe o profeta: por este
tempo, daqui a um ano, abraçarás um filho...”. Outros escritores
rabínicos o identificam como o atalaia de Isaías 21.6 e asseguram
ser ele da tribo de Levi.
O que de fato sabemos sobre Habacuque é que ele era
um profeta (1.1; 3.1). O ministério profético de Habacuque se di-
ferenciava de muitos pelo fato de ele ter sido um profeta aluno
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Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
O Livro de Sofonias
Data: cerca de 630 a.C.
Autor: Sofonias.
Este profeta, cujo nome significa “o Senhor esconde”, foi
contemporâneo de Jeremias e profetizou durante o reinado de
Josias, provavelmente residia em Judá, onde profetizou no rei-
no do Sul. Era de linhagem real, pois seu pai foi Cusi, seu avô,
Gedalias; seu bisavô, Amarias; e seu tetravô, Ezequias, com toda
probabilidade o piedoso rei Ezequias.
Acredita-se que, do grande avivamento que houve nos
dias de Josias, Sofonias foi participante e até pode ter influencia-
do o rei Josias com suas palavras proféticas por ele ter acesso ao
palácio. É possível que pouco tempo após as profecias de Sofo-
nias, as reformas começaram. Elas tiveram início no décimo se-
gundo ano do seu reinado, o que põe sua execução por volta do
ano 627 a.C. (2 Cr 34.3). Essa primeira fase das reformas durou
seis anos (2 Cr 34.8), e o paralelo entre o que representaram e as
profecias de Sofonias é extremamente significativo, isso porque
120
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento
O Livro de Ageu
Data: 520 a.C., segundo ano do rei Dario da Pérsia.
Autor: Ageu. O significado do seu nome é ímpar, pois
significa “festivo”, talvez em alusão ao seu nascimento que deu
em um dia de festa, é possível.
Ageu é chamado de “o profeta” (1.1; 1.10; Ed 6.14) e “em-
baixador do Senhor” (1.13). Ele é um daqueles que voltaram do
cativeiro babilônico para repovoar Jerusalém e reconstruir o
Templo, que ainda guardava em sua memória de setenta a oiten-
ta anos de vida, o suntuoso Templo de Salomão, antes da destrui-
ção pelos babilônicos.
Os judeus entraram em um estado de apatia e deixaram
a reconstrução do Templo esquecida, e foram tratar de seus inte-
resses. Mas, depois de dezesseis anos de estagnação, Ageu moti-
va os judeus a recomeçarem a obra do Templo na certeza de que,
apesar desse segundo Templo ser mais simples em comparação
ao suntuoso edificado por Salomão, “a glória dessa última casa
121
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
O Livro de Zacarias
Data: Cerca de 520 - 470 a.C.
Autor: Zacarias.
Nascido no cativeiro babilônico, filho de Baraquias, foi
trazido pelo seu avô para Jerusalém. Como contemporâneo de
Ageu, sua mensagem segue o mesmo padrão de exortação. O
contexto histórico de Zacarias é o mesmo de Ageu e Malaquias,
pois esses livros, sendo pós-exílico, tratam do retorno do povo
que estava no cativeiro babilônico, onde ficaram por setenta
anos. A diferença é que cada um tem uma mensagem profética
sob perspectivas distintas.
Zacarias, possivelmente era um jovem nessa época, o que
leva a crer que ele nasceu no período do cativeiro babilônico. As
impressões do exílio que ficaram nele foram o suficiente para
aproveitar a oportunidade de retornar e, assim, seguir os passos
de Ageu, que era mais velho.
122
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento
O Livro de Malaquias
Data: Cerca de 430 – 420 a.C.
Autor: Malaquias, que significa “mensageiro do Senhor”.
Há uma incerteza, na verdade, se o nome Malaquias é um nome
pessoal ou se é um título. Bem provável que seja um substantivo
próprio.
Não há muitas informações sobre a pessoa do profeta, o
que sabemos é que foi um profeta em Judá, contemporâneo de
Neemias e com fortes convicções na fidelidade a Deus. Creem
que ele era membro da Grande Sinagoga nos tempos de Esdras.
Donald Stamps diz que suas convicções são a favor da fidelidade
ao concerto (2.4; 5, 8, 10), e contra a adoração hipócrita e mecâni-
ca (1.7-2.9), à idolatria (2.10-12), ao divórcio (2.13-16) e ao roubo
de dízimos e ofertas (3.8-10), revelam um homem de rigorosa
integridade e de intensa devoção a Deus.
Pat e David Alexander dizem que os dias de Malaquias
eram um período difícil de espera, e a desilusão tomou conta. Os
tempos eram difíceis, o povo estava na pobreza, explorado pe-
123
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
124
Conclusão
125
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
126
Bibliografia
15 MOODY, Comentário Bíblico. Volume II. 2ª ed. São Paulo: Batista regular,
2017, p. 15.
133
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
134
Capítulo 1
A literatura Apócrifa
138
Capítulo 2
carne.
Em meio a essa desumanidade imposta por aquele louco,
houve aquele sentimento de patriotismo escondido em muitos
judeus, mas em especial em um velho fiel sacerdote do Senhor
por nome de Matatias que residia em um lugar simples, Modei-
na, entre Jerusalém e Jope. Esse “velho fiel” era um descendente
direto da casa de Arão. Tinha cinco valorosos filhos: João, Simão,
Judas, Eleazar e Jônatas.
Certo subalterno de Antíoco foi a regiões onde estava o
velho Matatias e o obrigou a sacrificar a outros deuses. O velho
sacerdote se recusou e ainda matou o comissário de Antíoco e
derrubou o altar daqueles deuses pagãos, eclodindo o grito da
Independência!
Matatias juntamente com seus cinco filhos começaram a
integrar judeus que quisessem aderir à luta contra seus inimigos,
com o objetivo de se libertarem completamente. Mas, depois de
muitos meses e já com um exército robusto, Matatias morreu.
Antes de morrer, recomendou que Simão, um dos seus filhos,
fosse o conselheiro e Judas, o chefe militar, e assim se foi em 167
a.C., em Modeina.
Judas, cujo apelido era Macabeus (“o Martelador”), tor-
nou-se o grande general do exército hebreu. Judas Macabeus era
amado pelos judeus e conseguiu juntar grandes quantidades de
patriotas.
Depois de muitas batalhas contra seus inimigos, Judas li-
derou a purificação do templo, símbolo sagrado dos judeus. “No
dia 25 de chisleu (novembro/dezembro) de 166 a.C., 3 anos de-
pois que Epifanes profanou com porco o altar do Senhor, Judas
dedicou o templo. Foi uma festa muito grande. Durou oito dias.
Esse sucesso, conhecido como “Festa da Dedicação”, foi obser-
vado pela posteridade dos judeus. O Senhor Jesus participou de
uma dessas festas, conforme lemos em João 10.22-23.”
Antíoco Epifanes morreu em 164 a.C., por uma terrível
enfermidade na Babilônia. Sua morte foi agonizante, os judeus
acreditam que um espírito mau se apossou dele.
Em 161 a.C., os judeus foram derrotados pelos grego-sí-
ros, e Judas morreu como herói. Foi sepultado junto com seu pai
em Modeina. Seu irmão Jônatas, apelidado “o astuto”, o subs-
140
Convenção Unida Internacional Período Interbbíblico
141
Capítulo 3
143
Capítulo 4
Seitas políticas-religiosas e
instituições judaicas
Os Fariseus
Esse nome, hb. pharush, gr. pharisaios, lat. pharisaeu,
tradicionalmente tem-se dito que o significado é “separatista”,
talvez, diz Harrison, seja uma alusão ao seu inconformismo ou,
como ainda sugere esse autor, “fosse usado como zombaria por
causa de sua severidade que os separava de seus conterrâneos
judeus, como também dos gentios”. Mas F.F.Bruce18 diz que “é
muito mais provável que eles fossem chamados de “fariseu” no
sentido “separatista”, pois evitavam rigorosamente tudo o que
pudesse lhes causar impureza cerimonial, pois eles certamente
tomavam cuidados extremos no que dizia respeito à pureza ritu-
al, às leis sobre alimentos, à lei do sábado e outras afins.”
Os fariseus, que eram descendentes dos “piedosos” du-
rante a guerra dos Macabeus, tinham a lei de Moisés ao pé da
letra. Era um grupo exclusivista. Teologicamente, acreditava-se
na existência dos anjos, espíritos, na ressurreição dos mortos.
Nesse sentido era diferente dos Saduceus, que não acreditavam
em nada disso. Davam uma forte ênfase às regras dos dízimos
Os Saduceus
O nome saduceus pode ser uma forma hebraica do grego
syndikoy, “síndico”, “membros do conselho”, ou também pode
ser assim chamado por sua linhagem sacerdotal com Zadoque, o
sumo sacerdote indicado por Salomão (1 Rs 2.35).
Os saduceus eram opostos aos fariseus, suas crenças e
posição social deixam esse antagonismo bem claro. F.F. Bruce
diz que, “como eram poderosos, os saduceus parecem ter limita-
do as poucas famílias ricas, em especial as principais famílias de
sacerdotes, ao passo que os fariseus contavam com a estima do
povo de modo geral. A bem da verdade, a distinção entre os dois
partidos costuma ser vista como originariamente social, sendo
os saduceus descendentes de patrícios proprietários de terras,
enquanto os fariseus eram originários dos comerciantes das ci-
dades.”
Os saduceus eram o partido de pessoas ricas e, para não
perder seus prestígios, se submetiam ao império romano e não
faziam oposição ao helenismo daqueles dias. Enquanto os fari-
seus dominavam as Sinagogas, haja vista seu apego à Torah, os
Saduceus controlavam o sacerdócio e o ritual do Templo.
Os Essênios
Não existe unanimidade quanto à origem do nome “es-
sênios”, mas pode significar “piedoso”, “justo”, derivado do ara-
maico, hasya, ou, ainda, “curador”, do aramaico asya.
Esse partido, apesar de pouco mencionado, existia nos
dias do Novo Testamento, e muitos escritores do primeiro século
escreveram sobre eles, como Filo de Alexandria (20 a.C.–50 d.C.),
Flávio Josefo (37 d.C.–100 d.C.), Plínio, o Velho (23 d.C.–79 d.C.),
que apesar dos exageros, são fontes importantes. Acredita-se que
viviam na região do Mar Morto, provavelmente no Mosteiro de
145
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
Os Herodianos
O nome tem sua origem em Herodes, o Grande, que
“tentou romanizar a Palestina. Na verdade, era mais um partido
político do que religioso. Os herodianos acreditavam “que os in-
teresses do judaísmo melhor se defenderiam com a cooperação
com os romanos”. Logo, entendiam que a aliança com Roma for-
taleceria os interesses dos judeus. Não desfrutavam da simpatia
do povo, e se tornaram inimigos de Jesus, a ponto de querer ma-
tá-lo: “E, tendo saído os fariseus, tomaram logo conselho com os
herodianos contra ele, procurando ver como o matariam” (Mc
3.6).
Os Escribas e Rabinos
Os escribas eram copistas e pessoas versadas na lei de
Moisés e usufruíam de grande autoridade entre os judeus. Teo-
logicamente estavam alinhados com os fariseus.
Os rabinos tinham como função principal a explicação e
interpretação da lei, e seus ensinamentos eram preservados em
livros que tinham muita importância para os estudiosos dos es-
critos mosaicos. Jesus por diversas vezes condenou a tradição
rabínica por eles se colocarem acima das Escrituras, principal-
mente os fariseus.
Havia duas principais escolas rabínicas. 1ª) a Escola de
Hilel, que tinha uma interpretação do AT mais moderada e 2ª)
Escola de interpretação Shammai, onde estavam os rabinos mais
famosos por causa de suas interpretações mais extremadas do
AT.
Basicamente havia algumas obras rabínicas que serviam
como interpretação: O Talmude, uma coletânea de comentários
do AT; Halakah, tinha como objetivo maior a interpretação da lei,
e o Haggadah, por sua vez, a aplicação da lei.
Templo
O Grande Templo construído (1004 a.C. ?), por Salomão e
destruído pelos babilônicos em 586 a.C., foi reerguido por Ageu
e Zorobabel, em 537 a.C., e anos mais tarde reformado por He-
rodes em cerca de 19 a.C. Percebe-se claramente que a vida re-
ligiosa no Novo Testamento girava principalmente em torno do
147
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
O Sinédrio
Essa palavra vem do grego sinedrion, que significa “as-
sembleia”. Era a autoridade máxima dos judeus. Um conselho
com poder político e religioso, composto por setenta pessoas
com representantes dos fariseus (estudioso da lei), membros de
famílias ricas e os saduceus (classe sacerdotal).
O Sinédrio ficava em Jerusalém, mas se estendia também
por toda a Palestina. Tinha poder criminal, político e religioso.
Como judeu, Jesus foi julgado pelo Sinédrio.
148
Convenção Unida Internacional Período Interbbíblico
149
Conclusão
150
Convenção Unida Internacional Período Interbbíblico
151
Bibliografia
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Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
158
Capítulo 1
Os livros biográficos
O Evangelho de Mateus
Data: uns sugerem data anterior a 70 d.C., e outros, por
volta de 80 d.C. O dr. Holmer Kent diz que a data do Evange-
lho de Mateus deve ser anterior a 70 d.C., pois, não encontramos
nele indicação de que Jerusalém estivesse em ruínas (sendo cla-
ramente proféticas todas as predições de sua destruição). Passa-
gens tais como 27.8 (“até ao dia de hoje”) e 28.15 (idem) exigem
um intervalo de certa duração, mas quinze ou vinte anos após a
ressurreição seriam suficientes. Provavelmente ele escreveu da
região da Síria-Palestina.
Autor: com base na tradição, Mateus, conhecido por Levi.
Foi chamado por Jesus Cristo enquanto trabalhava na alfânde-
ga (Mt 9.9) e, desde então, integrava o colégio apostólico (Mt
10.2-3). Era da região da Galileia e, apesar de ser um judeu, era
odiado pelos seus patriotas pelo fato de ser publicano, e estes
não eram benquistos pelos judeus por cobrarem impostos do seu
povo para os romanos. Pois além disso havia a crença de que os
160
Convenção Unida Internacional Panorama do Novo Testamento
O Evangelho de Marcos
Data: entre 50 a 80 d.C. ou 55-65 d.C.
Autor: Marcos, também conhecido por João Marcos, sen-
do que João é o nome judaico, e Marcos é o nome latino, era pri-
mo de Barnabé, companheiro de Paulo. Sua mãe, Maria, tinha
uma casa em Jerusalém frequentada pelos seguidores de Jesus
(At 12.12). Acompanhou Paulo e Barnabé na primeira viagem
missionária (At 13.5, 13). Apesar da recusa de Paulo em levá-lo
na segunda viagem missionária (15.36-41), ele não desistiu do
apóstolo, mas aparece como fiel companheiro na sua prisão em
Roma (Cl 4.10; Fm 23-24) e, na segunda prisão de Paulo, este pe-
diu a Timóteo que levasse Marcos (2 Tm 4.11).
Marcos não fazia parte do colégio apostólico (Mt 10.24),
mas viveu entre os apóstolos, e a sua familiaridade com a igreja
era natural. Há uma tradição que diz que Marcos foi companhei-
ro de Pedro, de onde ele tirou o conhecimento sobre o Senhor
Jesus para escrever o seu evangelho. Papias, bispo de Hierapólis,
na Frígia, responsável por essa tradição, escreveu em 140 d.C.:
“Marcos, que era o intérprete de Pedro, escreveu precisamente
tudo que ele lembrava, tanto das palavras como das ações de
Cristo, mas não em ordem. Pois ele não foi nem ouvinte nem al-
guém que acompanhou o Senhor”. É importante ressaltar ainda
que Pedro faz menção de Marcos na sua primeira carta: “a vossa
coeleita em Babilônia vos saúda, e meu filho Marcos” (5.13). Ob-
serve a expressão de Pedro, “meu filho”, o que demonstra uma
verdadeira amizade entre ambos. Parece, pela fala de Pedro, que
ambos estiveram presentes na Babilônia. Talvez Babilônia se re-
fira a Roma, ou também à própria Babilônia/Caldeia, onde Pedro
exerceu seu ministério antes de ir para Roma.
Há muitas possibilidades de onde Marcos escreveu o seu
evangelho. Craig Keener cita Galileia, Alexandria e Roma como
prováveis locais. João Crisóstomo (347-407) achava que poderia
ter sido no Egito. A possibilidade mais aceita tem sido a cidade
de Roma.
Esse evangelho foi escrito para os cristãos romanos du-
rante a grande perseguição contra os primeiros cristãos. Donald
Burdick diz que o hábito de Marcos de explicar os termos judeus
e seus costumes aponta leitores gentios (5.41; 7.2-4, 11, 34). As
163
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
O Evangelho de Lucas
Data: não há consenso sobre a data desse Evangelho,
havendo várias sugestões. 60-63 tem sido sugerida por Donald
Stamps; 59-63 por Robert Gundry. Outros ainda datam em um
164
Convenção Unida Internacional Panorama do Novo Testamento
homem perfeito, ideal. Isso não quer dizer que Lucas não teve
a preocupação de registrar alguns milagres de Jesus, pelo con-
trário, ele registrou alguns, vejamos: a grande pescaria (5.411), a
ressurreição do filho da viúva de Naim (7.11-18), a mulher com
espírito de enfermidade (13.11-17), o hidrópico (14.1-6), os dez
leprosos (17.11-19) e a cura da orelha de Malco (22.50-51).
Lucas selecionou dez parábolas exclusivas em seu Evan-
gelho: os dois devedores (7.41-43), o bom samaritano (10.30-37),
o homem rico e seu celeiro cheio (12.16-21), a figueira estéril
(13.6-9), a dracma perdida (15.8-10), o filho pródigo (15.11-31),
o administrador infiel (16.1-12), o rico e Lázaro (16.19-31), o juiz
iníquo e a viúva importunadora (18.1-8), o fariseu e o publicano
(18.9-14).
É importante salientar que, dos três evangelhos sinóticos,
Lucas é o que mais faz menção do Espírito Santo em seu Evange-
lho, o que credencia serem os seus registros a base teológica do
pentecostalismo moderno. Enquanto Marcos tem seis referências
e Mateus, doze, Lucas menciona dezesseis vezes o Espírito San-
to só no seu evangelho, sem considerar o livro de Atos, que é o
segundo volume dessa obra e que tem farta referência sobre a
Pessoa do Espírito.
O evangelho de Lucas mostra Jesus como o Filho de Deus
sob a perspectiva de um homem perfeito. Registrou sua gene-
alogia e seu nascimento como Mateus, mas focou naquilo que
Jesus falou. O seu evangelho é de fato “uma perfeita joia da arte
grega”, como disse Robert Gundry.
O Evangelho de João
Data: anos 90 d.C. Com o descobrimento de fragmentos
no Egito, a data limite tem que ser no final do primeiro século.
Autor: João, “o discípulo amado”. No Novo Testamento temos
três Joãos famosos: João Batista, o precursor de Jesus (Mt 3), João
Marcos, o autor do Evangelho (At 12.12; 15.37) e João, “o discípu-
lo amado” (21.20), autor desse Evangelho, filho de Zebedeu, que
foi um dos doze. Ainda que não seja unânime, é possível que ele
tinha escrito o seu evangelho de Éfeso ou nas regiões da Galileia
ou Síria.
Em vez de fazer uma apresentação iniciando pelo nasci-
166
Convenção Unida Internacional Panorama do Novo Testamento
O livro histórico
171
Capítulo 3
As epistolas paulinas
Gálatas, etc.
A inestimável contribuição paulina é vista na sistemati-
zação doutrinária da igreja, pois é nos seus escritos que a igreja
neotestamentária fundamenta a sua teologia e doutrina, e essa
contribuição paulina não fica só restrita à teologia, mas em ou-
tras áreas também, como casamento, cidadania, etc.
Paulo foi um daqueles homens que Deus, na sua onis-
ciência, produziu no devido tempo com uma missão específica
(At 9.15) para contribuir com a expansão do Evangelho, e até os
apóstolos reconheciam que Deus equipou Paulo com uma capa-
cidade superior em prol do reino a tal ponto que Pedro reconhe-
ceu quando disse que “Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria
que lhe foi dada, falando disto, como em todas as suas epístolas,
entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e
inconstantes torcem...” (2 Pe 3.15-16).
O valor da vida e obra de Paulo é aquilatado pelo próprio
Deus que o escolheu e o vocacionou para o apostolado e, assim,
fundamentar a igreja nos ensinamentos do Senhor Jesus e no dos
apóstolos (Ef 2.20-22).
173
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
177
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
179
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
25 Dependendo da data aceita, pode haver alteração, como alguns sugerem que a
primeira carta paulina pode ser Gálatas, por exemplo. A cronologia sempre deve ser enca-
rada em datas aproximadas, pois é muito difícil determinar a data específica sem nenhuma
margem de erro.
183
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
1 Epístola a Timóteo
Data: considerando vários fatores, muitos sugerem 65
d.C., a possível data.
184
Convenção Unida Internacional Panorama do Novo Testamento
Autor: Paulo.
O apóstolo Paulo estava na Macedônia, quando, de al-
gum lugar nessa região, ele endereçou essa carta a um jovem
pastor na cidade de Éfeso por nome Timóteo, que era filho de
uma judia com um grego, natural de Listra, na província romana
da Galácia. Paulo o encontrou na sua primeira viagem missio-
nária em Listra, região que provavelmente foi o lugar onde Ti-
móteo se converteu e Paulo o levou em suas viagens. Com base
em 1 Tm 4.14 e 2 Tm 1.6, sabemos que Timóteo foi um obreiro
devidamente consagrado para o ministério com a imposição de
mãos e confirmada por profecias do Espírito (1 Tm 1.18).
Devido à juventude daquele obreiro, a oposição interna
era grande, assim, Paulo o aconselha como ele deveria proceder.
O mentor de Timóteo trata de assuntos éticos, morais, cívicos,
espirituais e principalmente ministeriais. Ao listar as qualidades
para o ministério, talvez Timóteo estivesse sofrendo algum tipo
de pressão, Paulo de certa forma reforça a chamada de Timóteo,
como também deixa claro que há requisitos para quem deseja o
episcopado.
Há vários fatores que motivaram o apóstolo a escrever
essa carta para aquele jovem pastor, como a partida de Paulo, de
Éfeso à Macedônia (1.3), a preocupação de que ele poderia estar
ausente por um período mais longo do que a princípio esperava
(3.14,15) e a dolorosa consciência de que erros traiçoeiros esta-
vam ameaçando a igreja de Éfeso (BERKHOF, 2018, p. 214).
Parece que membros de destaque que tinham cargos na
igreja questionavam o jovem pastor com um entendimento equi-
vocado da lei judaica, enfatizando mitos e genealogias (1.4; 4.7).
Os opositores internos de Timóteo proibiam casamento e prega-
vam a abstinência de certos alimentos (4.3), e ignoravam a ques-
tão da ressurreição (2 Tm 2.18).
2 Epístola a Timóteo
Data: 67 d.C.
Autor: Paulo.
Diferente da primeira, quando Paulo escreveu a segunda
carta a Timóteo, estava preso, aguardando a sentença no corre-
dor da morte. Paulo foi libertado depois da sua prisão (Atos 28),
185
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
Epístola a Tito
Data: 65/66 d.C.
Autor: Paulo.
Considerada uma carta pastoral, pois ela foi endereçada
ao pastor Tito, um gentio convertido através de Paulo e pastor
na ilha de Creta. Foi um cooperador fiel do ministério paulino.
Apesar das treze referências a Tito, não sabemos muitas coisas
sobre ele. Muitos acreditam que talvez ele fosse irmão de Lucas
(STAMPS).
Acredita-se que Creta foi um dos primeiros lugares a ou-
vir o evangelho. Os cretenses estavam presentes no dia de pente-
costes (At 2.11). Mas, mesmo assim, não tinham boa fama, eram
186
Convenção Unida Internacional Panorama do Novo Testamento
Epístola a Filemom
Data: Cerca de 62 d.C.
Autor: Paulo.
Esta carta é uma de caráter bem pessoal, ou seja, não tem
discussões teológicas, mas um pedido de acolhimento, aceita-
mento, reconciliação.
Paulo estava preso quando escreveu essa carta e teve
contato com Onésimo na mesma situação, um escravo fugitivo
do seu senhor Filemom, provavelmente um homem convertido
e de boa posição social que morava em Colosso. Paulo endere-
ça sua carta “ao amado Filemom, nosso cooperador, e à nossa
irmã Áfia, e a Arquipo, nosso companheiro, e à igreja que está
em sua casa” (vv. 1-2). Teólogos recentes acham que Arquipo era
um proprietário de escravos e Filemom, o superintendente das
igrejas no Vale de Licas. Mas, tradicionalmente, Arquipo é visto
como o filho de Filemom e Áfia, sua esposa.
187
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
Não sabemos como que Onésimo teve contato com Paulo na pri-
são, mas através desse contato Paulo o ganha para Cristo, ten-
do-o em grande estima. Entretanto, como a lei romana dizia, ele
tinha de “devolver” o escravo fugitivo para o seu senhor File-
mom. Paulo então intercede a favor do escravo, pois sabia das
consequências do ato de Onésimo, para que Filemom não mera-
mente o recebesse como escravo, mas como um irmão em Cristo.
E, assim, junto com Tiquíco, Paulo envia o escravo fugitivo para
quem era de direito, o seu senhor.
“Na verdade, ele estava pedindo que Filemom libertasse
Onésimo da escravidão e o mandasse de volta (13), em parte pe-
los serviços que Paulo havia prestado a Filemom. Paulo faz uso
de um costume daquela época: quem recebia um presente tinha
a obrigação de retribuir com outro. Isso explica o apelo no v.19:
Filemom devia a sua própria vida cristã a Paulo”.
Esta carta é a mais breve de Paulo e que a maioria dos
teólogos divide em três partes, a saber: introdução (1-7), o pedido
(8-21) e a conclusão (22-25).
188
Capítulo 4
As epistolas gerais
Epístola de Tiago
Data: data anterior a 66 d.C., provavelmente entre 45– 49.
Há quem date tardiamente em 150 d.C., esses que sustentam essa
data tardia são os que advogam a autoria a um “Tiago desconhe-
cido”.
Autor: Tiago, O Justo.
“Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze
tribos quem andam dispersas: saúde” (1.1), é assim que o escritor
inicia sua epístola, o que por um lado facilita a identificação de
autoria, mas dificulta a identidade precisa, pois Tiago era um
nome comum naquela época, e o autor só diz que era “servo de
Deus e do Senhor Jesus Cristo”, o que para identificação não aju-
da muito.
191
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
Epístola de 1 Pedro
Data: 60-63 d.C.
Autor: Pedro. Além das evidências internas, há também
evidências externas, como Irineu (130-216 d.C.), outros mestres
encontraram também alusões a Pedro na Epístola de Barnabé (80
d.C.), na obra de Clemente de Roma (95-97 d.C.), na obra Pastor
de Hermas (começo do segundo século), Policarpo (martirizado
em 155 d.C.), e Papias (que escreveu em cerca de 130-140), etc.,
que são testemunhas de autoria petrina.
Pedro fazia parte do colégio apostólico, logo foi testemu-
nha ocular da vida e ministério do Senhor Jesus. Foi conduzido
a Jesus por seu irmão André (Jo 1.40-42), e era de Betsaida, uma
aldeia de pescadores.
Pedro escreveu a sua carta em um contexto de persegui-
ção. Nero, imperador romano, ateou fogo em Roma, em 64 d.C,
e culpou os cristãos por esse incêndio. Além de Nero culpar os
cristãos pelo o incêndio que ele mesmo provocou, ainda matou
193
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
Epístola de 2 Pedro
Data: Provavelmente entre 66-68 d.C.
Autor: não resta dúvida de que seja de autoria petrina,
pois, em 2 Pe 1.1, diz “Simão Pedro, servo e apóstolo” e ainda
confirma, em 3.1, que escreveu essa segunda carta.
F. B. Meyer diz que, ao escrever essa segunda carta, o
apóstolo está mais velho, aguardando “ser chamado para selar o
seu testemunho com o seu sangue” (1.14).
A segunda carta de Pedro é uma das mais discutíveis,
pois muitos teólogos não aceitam a autoria petrina. Questionam
que o estilo da segunda carta difere substancialmente da primei-
ra e, por isso, hesitam em afirmar que Pedro seja seu autor. O
debate em torno da autoria é tão intenso que ela não foi reco-
nhecida canônica até o Concílio de Cartago em 397. Erasmo de
Roterdã (1466-1536), por exemplo, rejeitou-a, e Calvino hesitou
194
Convenção Unida Internacional Panorama do Novo Testamento
Epístolas de 1, 2 e 3 João
Data: há várias datas, umas descartáveis e outras mais
prováveis. Uns datam entre os anos 110 e 165 (para esses, o após-
tolo João não é autor do evangelho), mas tradicionalmente essa
Epístola está em torno dos anos 85 a 95 d.C. Charles Ryrie diz
que a segunda e a terceira epístola de João podem também ser
datadas do mesmo ano da primeira epístola, isto é, cerca de 90.
Todas as epístolas, segundo Ryrie, foram escritas de Éfeso, “de
acordo com a tradição digna de confiança.”
Autor: João, o “discípulo amado”. De certa forma, essa
carta é anônima internamente, ou seja, não há registro do seu
autor, mas, segundo a tradição, essa carta mais as duas seguintes
de mesmo nome, juntas com o quarto Evangelho segundo João,
foram do mesmo autor, a saber, João, o apóstolo, filho de Zebe-
deu.
João viveu seus últimos dias em Éfeso (atual Turquia) e
foi o último apóstolo vivo. Nesse tempo, o cristianismo já havia
desenvolvido uns 60 anos, tempo suficiente para problemas teo-
lógicos com os falsos profetas surgirem. João foi “um texto escri-
to para advertir os leitores contra falsas doutrinas, incentivando-
-os a reterem a verdade: que Deus é luz e amor, e que espera que
seus filhos vivam na luz e amem uns aos outros.”
É aceito que João escreveu de onde residia, em Éfeso, a
“certo número de igrejas da província da Ásia, que estava sob
sua responsabilidade apostólica”. Os bombardeios dos falsos
mestres eram grandes, assim, o apóstolo escreve “a respeito da
salvação em Cristo e seu processo no crente. Certas pessoas que
anteriormente conviveram com os leitores da epístola deixaram
a congregação (2.19), mas os resultados dos seus falsos ensinos
continuavam a distorcer o evangelho quanto a saber que tinham
a vida eterna. Doutrinariamente a sua heresia negava que Jesus
é o Cristo (2.22; 5.1) ou que Jesus veio em carne (4.2,3). Na área
moral, ensinavam que não era necessário a fé salvífica (cf.1.16;
5.4,5), a obediência aos mandamentos de Jesus (2.3–4; 5.3) e uma
vida santa, separada do pecado (3.7–12) e do mundo (2.15–17).”
196
Convenção Unida Internacional Panorama do Novo Testamento
3 João
Se na segunda carta João adverte os irmãos para não re-
ceberem em suas casas aqueles pregadores itinerantes que pre-
gavam mentiras, na terceira carta ele enaltece a Gaio para quem
endereça a carta, louvando-o por permanecer fiel. Diótrefes era o
grande opositor nessa carta, pois, além de não receber quem João
recomendava, não reconhecia a sua autoridade apostólica.
Há três personagens nessa carta, a saber: Gaio, homem
de boa reputação e louvado pela igreja; Diótrefes, um dirigente
local nada exemplar, que se comportava como tirano; e Demé-
trio, homem honrado e que talvez tenha sido aquele que levou
a carta, como também um pregador itinerante recomendado por
João, que precisava ser acolhido enquanto estivessem entre eles
evangelizando.
Epístola de Judas
Data: Cerca de 70-80 d.C.
Autor:“Judas, servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago”,
essa é a identificação do autor dessa carta. Pelo testemunho bí-
197
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
blico sabemos que esse Tiago que Judas diz que é irmão, pro-
vavelmente seja o Tiago, o Justo, irmão mais novo de Jesus (Mc
6.3). Assim, conforme diz a tradição, o Judas que escreveu essa
carta foi um dos irmãos de Jesus que não fazia parte do colégio
apostólico.
A carta é breve (apenas 25 versículos), mas, como dizem
alguns teólogos, “é enérgica”. Parece que a princípio ele queria
falar sobre a salvação, mas, sob a orientação de Deus, faz uma
defesa da fé cristã denunciando aqueles que perturbavam os
cristãos com suas heresias. Judas faz um diagnóstico dos per-
turbadores, usando ilustrações do Antigo Testamento, o que de
certa forma revela o seu judaísmo intrínseco. Usa o exemplo de
Sodoma e Gomorra (7; Gn 19); Caim (11; Gn 4); Balaão (11; Nm
31.8); Corá (11; Nm 16). Ainda diz que aqueles homens eram
“ímpios” (15) e que “não têm o Espírito” (19).
Teólogos veem certa semelhança entre essa carta e a 2
Epístola de Pedro por haver três citações idênticas nessas epísto-
las, 1. 2 Pedro 2.4 e Judas 6, onde referem-se aos anjos caídos; 2. 2
Pedro 2.11 e Judas 9, que falam da relutância dos anjos em fazer
acusações contra Satanás e, 3. 2 Pedro 3.3-4 e Judas 17-18, que
falam de escarnecedores nos últimos dias.
Judas é o único escritor do Novo Testamento que se des-
taca ao fazer citações não canônicas, quando se refere à profecia
de 1 Enoque (v.14) e da Assunção de Moisés (v.9) com base em
pseudoepigráficos.
David Wallace diz que essa carta foi escrita a todos os
cristãos do primeiro século, advertindo-os contra a incipiente
heresia do Gnosticismo, uma filosofia que fazia distinção entre
a matéria má e o espírito bom. Tal sistema de pensamento tinha
sérias implicações para a vida e doutrina cristã. Desafiava a dou-
trina bíblica da criação e dava lugar à ideia de que o corpo de
Cristo foi aparente, não real, pois, se Cristo tivesse um corpo real,
teria sido mau. O tom de Judas é polêmico, pois ele repreende os
falsos mestres que enganavam crentes instáveis e corrompiam
a mesa do Senhor. O doutor Wallace esboça assim essa carta: 1.
Identificação, saudação e propósito, Judas 1-4. 2. Advertências
contra os falsos mestres, Judas 5-16. 3. Exortações aos cristãos,
Judas 17-23. 4. Bênçãos, Judas 24-25.
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Capítulo 5
O livro escatológico
Livro de Apocalipse
Data: para os preteristas antes dos anos 70 d.C. A data
tradicional é 95 d.C.
Autor: João, o “discípulo amado”. Com o livro de Apoca-
lipse, encerram os escritos joaninos: o Evangelho, as três cartas e
o Apocalipse.
“A palavra revelação vem do latim revelatio (revelare,
“revelar ou tirar o véu daquilo que estivera previamente escon-
dido), que era o título na Vulgata Latina. O título grego é Apo-
calypse, extraído diretamente da primeira palavra do texto
199
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour
grego, apocalypsis”.
Quando João recebeu as revelações do Apocalipse, esta-
va preso numa ilha chamada Patmos, por causa de perseguição
imperial. Nos dias do apóstolo, o imperador romano era Domi-
niciano (51-96, d.C.), um imperador maligno que se considerava,
“Dominus ac Deus”, expressão latina para Senhor e Deus, e que
exigia ser adorado como tal. Adorar o imperador era visto como
lealdade a Roma, e quem se negasse era visto como subversivo, e
Roma não tolerava subversão. João não estava entre aqueles que,
por medo do imperador, o adoraram, antes continuou fiel ao seu
verdadeiro Deus, o que resultou no exílio.
O livro de Apocalipse, por ser um gênero escatológico,
tem sido objeto de estudos distinguindo-se das mais variáveis
interpretações. Claro que respeitando as demais interpretações,
esse seminário (SWS) sustenta a escola futurista, entendendo que
os três primeiros capítulos se referem às igrejas literais da época
que João escreveu, sem nenhum vínculo com a igreja durante
esses dois mil anos de história. A partir do capítulo quatro, te-
mos uma mudança de cenário onde entendemos que se trata de
coisas futuras.
O mestre Antônio Gilberto27 assim definiu: “O futurista é
o que imagina o livro como de cumprimento futuro. Considera
que a igreja será arrebatada a qualquer momento, vindo a seguir
a Grande Tribulação para Israel e demais nações da terra, com os
juízos divinos sob as trombetas, selos, e taças da ira de Deus. Há,
entre os futuristas, alguns que ensinam que a igreja passará pelas
tribulações, ignorando eles o que a Palavra de Deus declara em
Apocalipse 3.10, 1 Tessalonicenses 1.10, e Romanos 5.9. O dia da
ira do Senhor é o período da Grande Tribulação (Ap 6.17).”
Entre os futuristas há duas escolas distintas, o pré-mile-
nismo histórico (considerado moderada) e o pré-milenismo dis-
pensacionalista (considerado extremista).
Além dos futuristas, há aqueles que fazem uma interpre-
tação preterista, que sustentam que tudo que está no livro de
apocalipse já se cumpriu como também o sermão de Jesus em
Mateus 24. Assim, eles interpretam que a Roma imperial era a
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Conclusão
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Convenção Unida Internacional Panorama do Novo Testamento
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Bibliografia
204
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