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Seminário William Seymour

Teologia sob perspectiva pentecostal


Seminário William Seymour
Teologia sob perspectiva pentecostal
Seminário William Seymour
Teologia sob perspectiva pentecostal

Curso Básico em Teologia

Módulo II:

Introdução Bíblica · Panorama do AT


Período Interbíblico · Panorama do NT
Índice para catálogo sistemático: 1. Religião; 2. Teologia; 3. Pentecosta-
lismo.

LUZ, Jetúlio (1980-).

Seminário William Seymour. Curso Básico em Teologia. Módulo II:


Introdução Bíblica. Panorama do Antigo Testamento – Período In-
terbíblico – Panorama do Novo testamento. Belo Horizonte: Editora
Seymour, 2020

www.editoraseymour.com.br │ editoraseymour@gmail.com

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser re-
produzida ou transmitida por quaisquer meios (Eletrônico ou mecâni-
co, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema
ou banco de dados sem permissão escrita da Editora Seymour.
Palavra do Presidente

Seja muito bem-vindo ao estudo da teologia!

Através do profeta Jeremias, encontramos esta importan-


te declaração do nosso Deus:

Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedo-


ria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico
nas suas riquezas, mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em
me entender e me conhecer, que eu sou o Senhor, que faço
beneficência, juízo e justiça na terra; porque destas coisas
me agrado, diz o Senhor (Jeremias 9.23,24).

Isso significa que somente Deus e o conhecimento d’Ele é


o que realmente importa, não um mero conhecimento intelectual
ou filosófico, mas sim um conhecimento experimental, resultado
de uma vida em Sua presença.
Se você deseja se aprofundar no conhecimento do nosso
Deus, aqui você encontrará um conteúdo essencialmente bíblico
e adequado para o seu aprendizado e aperfeiçoamento espiritual
como servo(a) de Deus.
Nosso desejo é contribuir para seu crescimento espiritual
e teológico, a fim de que você seja um “... obreiro(a) aprovado(a)
que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra
da verdade.” (2 Timóteo 2.15).

Que em tudo Deus seja engrandecido!

Pr. Leonardo Meyer


Presidente da Convenção Unida Internacional
Bem-Vindo!

O Seminário William Seymour, doravante SWS, tem o


prazer de saudar com um retumbante bem-vindo a todos vocês!
Sabendo da importância do conhecimento teológico
apresentamos uma das escolas que mais cresce no Brasil e que
tem como objetivo contribuir com o desenvolvimento intelectual
de todos aqueles que gostariam de conhecer as razões de sua fé.
Todo o conteúdo está ancorado na teologia pentecostal, ou seja, o
que o aluno tem em mãos são conteúdos de teologia pentecostal
totalmente corroborados pelas autoridades pentecostais como
visto nas bibliografia e citações, o que reforça o nosso compro-
misso de ensinar respaldado no que o movimento pentecostal
clássico tem sustentado biblicamente e historicamente, sem, con-
tudo, perder o diálogo com outras tradições.
Os nossos cursos são modulares, o que facilita para os
alunos tanto EAD como Presencial. A grade curricular está de
acordo com o que temos de melhor nos cursos de teologia nos
três níveis, quer seja o básico, médio ou bacharel livre. Esses cur-
sos podem ser estudados presencial ou a Distância, nesse último
caso, enviamos para qualquer lugar do Brasil e no exterior, lem-
brando que os alunos podem iniciar em qualquer época do ano.
Além do material didático (livro com média de 200 páginas), o
aluno também tem acesso aos vídeos aulas. É oportuno lembrar
que você pode ter um núcleo/extensão do SWS na sua igreja.
Além dos cursos regulares de teologia, temos cursos de
capaci tação EAD de Capelania, Pregação Bíblica, Aconselha-
mento Pastoral, Psicologia Pastoral, Ministério, Missiologia, den-
tre outros.
O SWS saúda a todos os alunos sob a recomendação de
Pedro quando escreveu que devemos crescer na “graça e no co-
nhecimento do Senhor Jesus” (2 Pe 3.18).

Pr. Jetúlio Luz


Diretor do Seminário William Seymour
Cremos
A - Em Deus, Criador e Sustentador de todas as coisas, imanente no universo
e do mesmo transcendente, Criador de todos os homens, fonte de toda bon-
dade e beleza, de toda verdade e amor;

B - Em Jesus Cristo, Deus manifesto na carne, nosso Guia, exemplo de santi-


dade, humildade e amor, Redentor e Salvador do mundo;

C - No Espírito Santo, Deus presente conosco, Consolador providenciando


direção, conforto e força para as nossas vidas, e que é, na realidade, o selo
para a redenção;

D - Que há três pessoas na Divindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, indi-


visíveis na sua essência, iguais em poder e glória;

E - Que na pessoa de Jesus acham-se unidas as naturezas humana e divina,


de modo que Ele é Verdadeiro Deus e Verdadeiro homem;

F - Que nossos primeiros pais foram criados em estado de inocência, por sua
desobediência, porém, perderam sua pureza e felicidade e, em consequência
de sua queda, todos os homens se tornaram pecadores, expostos justamente
à ira de Deus;

G - Que o Senhor Jesus Cristo tem feito, pelo seu sofrimento e morte, uma
expiação pelos pecados de todo o mundo, de sorte que todo aquele que crer
na suficiência da obra expiatória de Jesus pode ser salvo;

H - No perdão dos pecados, na vida de amor e oração e na graça suficiente


para todas as nossas necessidades;

I – Na Bíblia Sagrada, como inspirada por Deus, sendo, portanto, infalível e


inerrante, tendo-a como regra de fé e prática;

J - Que o arrependimento para com Deus, a fé em nosso Senhor Jesus Cristo


e a regeneração pelo Espírito Santo, são necessários à Salvação dos homens;

K - Que somos justificados pela graça, mediante a fé em nosso Senhor Jesus


Cristo e que todo aquele que crê tem o testemunho em si mesmo;

L - Que é privilégio de todos os crentes serem inteiramente santificados, e


que o espírito, alma e corpo podem ser preservados sem mancha, até a vinda
de Nosso Senhor Jesus Cristo;

M - Na imortalidade da alma, na ressurreição do corpo, no Juízo Final, na


felicidade eterna dos justos e no castigo eterno dos maus;

N - Ser o batismo por imersão o cumprimento da justiça de Deus, que


significa o sepultamento da vida de pecados e o surgimento de uma nova
vida em Deus;

O - No batismo bíblico efetuado por imersão do corpo inteiro uma só vez em


águas, em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, conforme determinou
o Senhor Jesus Cristo;

P - Na atualidade do Batismo no Espírito Santo como promessa viável para


todos os que creem; sendo distinto da regeneração e justificação e posterior a
essas, com a evidência inicial das línguas estranhas e que esse batismo, como
revestimento de poder, capacita os salvos para o trabalho.

Q - Na cura e libertação de todos os males pelo poder da fé e que os sinais


acompanham os que creem e que os mesmos são operados mediante a ora-
ção da fé no nome do Senhor Jesus;

R - Na igreja como a congregação de todos os que se unem ao Senhor redivi-


do, para adoração e serviço;

S - No reino de Deus, como governo divino, na sociedade humana e na fra-


ternidade dos homens;

T - No arrebatamento da Igreja, na ressurreição dos mortos e na segunda


vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo;

U - No triunfo final da Justiça e na vida eterna. Amém.

Convenção Unida Internacional


www.convencaounida.com.br
Sumário Geral

Palavra do presidente ____________________________________5


Bem-Vindo _____________________________________________7
Cremos ________________________________________________9
Introdução Bíblica______________________________________13
Panorama do Antigo Testamento _________________________ 71
Período Interbíblico ___________________________________ 129
Panorama do Novo Testamento__________________________153
Introdução
Bíblica
Sumário

Introdução ____________________________________________ 17
Capítulo 1: Sobre a Bíblia ________________________________19
Capítulo 2: Os materiais usados para a escrita ______________35
Capítulo 3: A formação do cânon ________________________ 43
Capítulo 4: Inspiração e inerrância da Bíblia ________________49
Capítulo 5: As traduções da Bíblia _________________________59
Conclusão _____________________________________________67
Bibliografia ____________________________________________69

Assista as vídeos aulas através do QRCODE


Posicione a câmera do celular
Introdução

O estudo da Bíblia Sagrada é a base de todos os estudos


teológicos, pois é a partir dela que todo escopo doutrinário será
configurado e que servirá como guia para o povo de Deus.
A Bíblia é um livro riquíssimo tanto no valor espiritual
como literário, histórico, geográfico, etc. Claro que sempre incli-
namos para estudarmos a Bíblia muito mais pelo aspecto espiri-
tual, mas, se atentarmos, veremos que ela também reúne vários
estilos literários e é também fidedigna nas suas informações ge-
rais que envolvem acontecimentos históricos ou localização geo-
gráfica por exemplo.
Apesar de toda essa riqueza, o nosso objetivo nesse estu-
do não é comprovar a exatidão da Bíblia, pois isso iremos ver em
outra oportunidade em Arqueologia Bíblica, mas dar um pano-
rama geral da formatação desse livro inspirado por Deus, como
bem explorado no capítulo 4 dessa obra, que busca mostrar a
inspiração divina.
Assim, estudaremos a Introdução Bíblica, que é a “dis-
ciplina que tem por objetivo estudar sistematicamente e orde-
nadamente a origem, a estrutura, a formação, os objetivos e as
reivindicações das Escrituras Sagradas”.
Ainda que seja uma obra introdutória, veremos que o li-
vro que regulamenta a nossa fé e crenças, passou por um proces-
so natural, como qualquer outra literatura, até ter a sua forma
final que nós temos na forma escrita.
Trabalharemos desde o significado do termo até a Bíblia
na língua portuguesa e, em especial, como ela chegou ao Brasil,
que é um assunto de grande importância. Isso mostra que os nos-
sos estudos serão um misto de Teologia com História. O primei-
ro, pelo caráter espiritual, o segundo, pelo processo de formação
do livro sagrado em sua forma escrita.
Como a Bibliologia é extensa, focamos nos principais ca-
pítulos da matéria e nos situamos no que é mais relevante. Orga-

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Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

nizamos a sequência do nosso estudo a partir do significado eti-


mológico do livro, explorando os dois Testamentos, os materiais
primitivos usados na escrita, veremos sobre os manuscritos mais
importantes tanto do AT como do NT, conheceremos os escritores
da Bíblia. Além da Bíblia protestante, conheceremos as divisões
da Bíblia hebraica, saberemos em quais idiomas a Bíblia fora es-
crita. Muitos livros foram escritos e reclamaram inspiração divi-
na, veremos, então, a formação e os critérios para a canonização,
e aproveitaremos para saber um pouco mais sobre os chamados
livros apócrifos e aquilo que diferencia a Bíblia dos demais li-
vros, a inspiração divina. Veremos algumas teorias sobre esse
assunto. Ligado à inspiração, vamos estudar sobre a inerrância
das Escrituras, tema central em Bibliologia. Como também nos
concentraremos em breves aspectos históricos tendo em vista as
principais traduções e a Bíblia na língua portuguesa e como che-
gou ao Brasil.
A partir desse momento, vamos conhecer sobre o livro
mais importante da História. Convido a todos para mergulhar-
mos profundamente nessa disciplina, e ainda sugiro que não fi-
quem apenas nessas páginas, que, devido aos limites dos nossos
estudos, não podem ir um pouco além. Estudem, pesquisem e se
apaixonem por esse livro sagrado: a palavra de Deus.

18
Capítulo 1
c
Sobre a Bíblia

O vocábulo Bíblia não aparece internamente nas Escritu-


ras Sagradas. Esta palavra deriva de biblos, cidade fenícia, que
era um antigo e importante centro produtor de papiro preparado
para a escrita. Originário do grego, o termo Bíblia significa “li-
vros”, ou “coleção de pequenos livros”. Atribui-se a João Crisós-
tomo (347-407), como o principal disseminador desse vocábulo
para se referir à Palavra de Deus. No Ocidente, a palavra em
questão foi introduzida por Jerônimo (347-420), tradutor da Vul-
gata.
O teólogo F.F. Bruce diz respeito especificamente aos
livros que são reconhecidos como canônicos pela igreja cristã.
Nesse sentido, acredita-se estar o uso cristão mais antigo da ex-
pressão ta biblia (os livros) na epístola de 2 Clemente 2.14 (c.150
d.C.): “os livros e os apóstolos declaram que a igreja (...) existe
desde o princípio” (compare Dn 9.2: “eu, Daniel, entendi pelos
livros...”, cuja referência é ao corpus dos escritos proféticos do
Antigo Testamento). O vocábulo grego biblion (do qual é o plu-
ral) é o diminutivo de biblos, que na prática denota qualquer tipo
de documento escrito, mas originalmente aquele que foi escrito
em papiro.1 Os livros antigamente não eram como nos moldes
modernos, isso só foi possível com a invenção do tipo móvel por
Johannes Gutenberg, no século XV, na Alemanha.
Como os cristãos primitivos só tinham os escritos vetero-
testamentários, é importante saber que, quando eles se referiam

1 COMFORT, Philip Wesley. A Origem da Bíblia. 1ª ed. Rio de Janeiro: CPAD,


1998, p. 12.
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às Escrituras, estavam se reportando ao AT, assim, chamavam de


vários nomes, como “Escritura” (Mc 12.10, Rm 4.3), “Escrituras”
(plural), (Mc 12.24, At 17.11), “Santas Escrituras” (Rm 1.2, 2 Tm
2.15), “Lei e os Profetas” (Mt 5.17), “Lei de Moisés e os Profe-
tas e os Salmos” (Lc 24.44). O apóstolo Paulo usou termos como
“sagradas letras” (2 Tm 3.15), “oráculos de Deus” (Rm 3.2). Sem
dúvida, podemos dizer que um dos nomes mais satisfatórios é a
“Palavra de Deus” (2 Co 2.17, 1 Ts 2.13, Hb 4.12).

O Livro
A Bíblia é um livro com divisões e subdivisões. Vamos
agora conhecer, de forma sucinta, como a Bíblia está dividida e
quais são os elementos que a compõem.

Testamentos
A Bíblia está dividida em dois Testamentos: Antigo Testa-
mento (AT) e Novo Testamento (NT), sendo que no Antigo Testa-
mento temos 39 livros e no Novo Testamento, 27, totalizando 66
livros.
A palavra “testamento”, lat. testamentum, vem do gre-
go “diatheke”, que tem dois significados. 1º Aliança ou concer-
to, 2º Testamento, um documento que consta a partilha dos bens
depois da morte, palavra está empregada no Novo Testamento,
como, por exemplo, em Lucas 22.20. No Antigo Testamento, a
palavra usada é “berith”, que significa concerto. O duplo sentido
do termo grego nos mostra que a morte do testador (Cristo) ra-
tificou ou selou a Nova Aliança, garantindo-nos toda herança
com Ele (Rm 8.17; Hb 9.15-17).
Quando falamos de AT, estamos dizendo da antiga alian-
ça que Deus fez com Israel e todo escopo inerente a Abraão, to-
davia, como prometida (Jeremias 31.31), a nova aliança substitui
a antiga (Hb 8.13), pois essa foi firmada no sangue da nova (Mt
26.28), a saber, o sangue de Jesus.

Antigo Testamento
Seguindo uma ordem temática e não cronológica, o AT
assim está dividido em nossa Bíblia.
Pentateuco: Gênesis a Deuteronômio, (5 livros).
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Históricos,:Josué a Ester, (12 livros).


Poéticos: Jó a Cantares de Salomão, (5 livros).
Proféticos: Isaías a Malaquias, (17 livros). Sendo que é
subdividido em profetas maiores e menores, não em importância,
mas em tamanho do livro e extensão ministerial, são eles:
Profetas maiores: Isaías a Daniel, (5 livros).
Profetas menores: Oséias a Malaquias, (12 livros).
O estudante de Teologia deve ter em mente que essas
divisões não estão em ordem cronológica. Essa divisão vem da
Septuaginta numa sequência lógica do que cronológica.2

Novo Testamento
A exemplo do AT, o NT também segue o mesmo padrão,
sem ter a ordem cronológica, mas sim temática.
Biográficos: Evangelhos de Mateus a João, (4 livros).
Nos evangelhos temos os chamados livros sinóticos, a sa-
ber: Mateus, Marcos e Lucas; isto devido à semelhança das nar-
rativas.
Histórico: Atos dos Apóstolos, (1 livro).
Doutrinários: Cartas paulinas, de Romanos a Filemom e,
Cartas Gerais, de Hebreus a Judas.
Escatológico: Apocalipse.

Dos livros do Novo Testamento, só hebreus é incerto


quanto à sua autoria, havendo várias sugestões, como, por exem-
plo, o apóstolo Paulo, o que é improvável, outros sugerem Apolo,
Barnabé, Lucas, etc. A verdade é que essa carta fica “anônima”
por não sabermos com certeza a sua autoria humana.

Capítulos e Versículos
Originalmente a Bíblia não foi escrita com a divisão entre
capítulos e versículos, estas divisões foram posteriores, logo, não
fazem parte dos autógrafos.
Com a Bíblia sendo dividida em capítulos e versículos,
tradicionalmente é dito que ela contém 1.189 capítulos e 31.173

2 Para conhecer a sequência dos relatos bíblicos, indicamos a Bíblia em Ordem


Cronológica da editora Vida que, por certo, ajudará muito para quem deseja estudar crono-
logicamente.
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versículos, sendo que o AT contém 929 capítulos e 23.214 versí-


culos. O NT tem 260 capítulos e 7.959 versículos. Entretanto, de-
vemos atentar para a versão que foi usada para a contabilidade,
pois pode variar.
A Bíblia Católica Romana possui 1.330 capítulos e
35.527 versículos. Devemos considerar que a Bíblia católica, além
de ter os mesmos 66 livros da “Bíblia protestante”, tem o acrés-
cimo de 7 livros: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, 1
e 2 Macabeus (e partes de Ester e Daniel). Esses acréscimos na-
turalmente aumentam a quantidade de capítulos e versículos na
Bíblia romana, distinguindo-se da protestante.
Essa divisão se deu em tempos distintos. Há três nomes
que atribuem a divisão em capítulos, um deles é o de Lanfron,
arcebispo de Cantuária, como também Sthepen Langton, profes-
sor da Universidade de Paris. Antônio Gilberto3 diz que o res-
ponsável por essa divisão foi o cardeal Hugo de Saint Cher, em
1250, abade da Ordem Dominicana e comentarista bíblico fran-
cês.
A divisão em versículos foi feita em duas etapas. O AT foi
feito pelo Rabi Mardoqueu Nathan, em 1445, e o NT, por Robert
Stevens em 1551. A primeira Bíblia completa em capítulos e ver-
sículos publicada foi a Bíblia de Genebra em 1560.
Graças a essas divisões, podemos manusear a Bíblia com
facilidade. Imagine manusear um livro volumoso como a Bíblia
sem nenhuma referência numérica para leitura? Seria semelhan-
te a ler um pergaminho hebraico! Essas divisões, ainda que não
sejam precisas, ajudam-nos a situar e memorizar as passagens
com mais facilidade. É importante ressaltar que essas divisões
não são inspiradas por Deus, pois elas foram feitas posterior-
mente e não saíram dos autógrafos inspirados pelo Espírito San-
to, mas de estudiosos que, com suas habilidades, facilitaram o
manuseio do livro sagrado.

Particularidades da Bíblia
O maior capítulo é o Salmo 119, e o menor, Salmo 117. O

3 GILBERTO, Antônio. A Bíblia Através dos Séculos. Rio de Janeiro: CPAD,


1986, p. 23.
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maior versículo da Bíblia está em Ester 8.9, o menor (dependen-


do da versão) pode ser Êxodo 20.13, ou Lc 20.30 ou, ainda, Jó 3.2
(Revista e Atualizada - SBB). O livro de Ester não contém o nome
de Deus (o tetragrama, YHWH). Há na Bíblia 8.000 menções de
Deus e 177 menções do Diabo. A Bíblia é também um registro
de história, geografia, antropologia, etc. Uma fonte arqueológica
corroborada como fidedigna em todos os seus registros. Nelson
Glueck, o renomado arqueólogo judeu, escreveu: “pode-se afir-
mar categoricamente que até hoje nenhuma descoberta arqueo-
lógica contradisse qualquer informação dada pela Bíblia”.

Os Idiomas da Bíblia
Como brasileiros, lemos as nossas Bíblias em nosso ver-
náculo, no idioma Português. Mas sabemos que a Bíblia em por-
tuguês é uma tradução dos originais, pois ela foi inspirada em
duas principais línguas, mais algumas porções em outra, perfa-
zendo o total de três idiomas principais: Hebraico, Grego e Ara-
maico.

Hebraico
O AT foi escrito em hebraico, com exceção de algumas
porções nos livros de Esdras, Jeremias e Daniel, que foram es-
critas em aramaico. Daniel 2.4-7.28 foi escrito em aramaico, e é a
passagem mais longa escrita nesse idioma no AT. Mas a língua
predominante no AT é o hebraico. Mas a língua predominante
no AT é o hebraico.
O hebraico, conhecido como “língua de Canaã” (Is 19.18),
“língua Judaica” ou “judaico” (2 Rs 18.26, 28, Is 36.13), é um idio-
ma do grupo semítico falado no “Mar Mediterrâneo às monta-
nhas a leste do vale do rio Eufrates, e da Armênia (Turquia), ao
norte, à extremidade sul da península árabe”. É um idioma que
era falado na Palestina e que os hebreus herdaram dos cananeus
quando lá chegaram por volta do século XIII a.C.
É um idioma com vinte e duas consoantes sem vogais.
Como a maior parte das línguas semíticas, lê-se da direita para a
esquerda. Por não ter vogais, o hebraico perdeu o significado de
pronúncias de muitas palavras, e a pronúncia exata dependia do
leitor. Mas, com os sinais vocálicos no século VI feitas pelos mas-
23
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

soretas4 de Tiberíades, ajudou a preservar a pronúncia exata da


língua hebraica. Os sinais vocálicos são pontos colocados em cima,
embaixo e dentro das consoantes, esses sinais não podem ser con-
siderados como letras, mas sinais que equalizam a pronúncia tra-
dicional.
No hebraico não há substantivo neutro, tudo é masculi-
no ou feminino. Larry Walker diz que essa língua “é deficiente
em adjetivos”. E prossegue dando exemplos, afirmando que “no
original hebraico, um “coração dobrado” é enunciado por “um
coração e um coração” (Sl 12.2), e “diversos pesos” é na verdade
“uma pedra e uma pedra” (Dt 25.13); “toda a descendência real”
é “semente do reino” (2Rs 11.1).”

O Português e o Hebraico
O idioma português foi enriquecido pelo hebraico, her-
dando algumas palavras como “amém”, “aleluia”, “jubileu”.
Larry Walker diz que “muitos substantivos próprios hebraicos
são usados nas línguas modernas para se referir a pessoas e luga-
res, como Davi, Jônatas/João, Miriam/Maria, Belém (o nome de
várias cidades do Brasil e de outros países).
Muitas expressões hebraicas comuns foram inconscien-
temente aceitas como figuras de linguagem em português, como
“boca de caverna” e“face da terra”. Algumas figuras, como o
“oriente (leste) do Éden”, foram usadas como títulos de livros e
filmes.
Foi nessa língua que Deus nos deu a Sua eterna palavra,
preservada por um povo (Israel) específico e disseminada por
todo o mundo através do fervor missionário do cristianismo.

Grego
O NT como o AT foi inspirado pelo Espírito Santo, mas
sob a ortografia da língua grega. A língua rega tem suas raízes na
língua fenícia por volta do século VIII a.C. É um alfabeto de vinte

4 Escribas judeus, que tinham como função preservar os manuscritos hebraicos


do AT. Através dos massoras (manual) eles ensinavam como fazer cópias perfeitas, obser-
vando certos pontos importantíssimos para não errarem nessas cópias, como nunca escre-
ver de memória. Os massoretas tinham como tarefa escrever uma cópia fiel aos originais,
sem nenhuma alteração.
24
Convenção Unida Internacional Introdução Bíblica

e quatro letras, sendo que Alfa é a primeira e Ômega, a derra-


deira, ambas foram aplicadas a Jesus em Ap 1.8.
Com as conquistas de Alexandre, o Grande, em 336, o
império grego estendia seus domínios, e isso fez com que essa
língua predominasse em todo o mundo de então. Isso contribuiu
para que o NT fosse escrito em grego, pois assim, por providên-
cia divina, todos teriam acesso à Palavra de Deus. O império gre-
go teve tanta influência que, mesmo no Egito, teve peso, pois lá
houve a tradução do hebraico para o grego das Escrituras, co-
nhecida como Septuaginta em 285, a.C.
Nos dias de Jesus falavam o hebraico, grego e o aramaico.
O grego falado no cotidiano era o Koiné, como também era uti-
lizado pelos escritores da época, como Políbio, Estrabão, Filon,
Josefo e Plutarco, por ser uma língua rica e bela. O grego Koiné
era mais pobre em comparação ao grego clássico, mas, por sua
gramática mais simples, retrata melhor o cotidiano das pessoas.
Deus, em sua sabedoria, preparou tudo para disseminar o evan-
gelho. “Nos primórdios do cristianismo, o Evangelho pregado ou
escrito em grego podia ser compreendido pelo mundo todo. Só
Deus podia fazer isso! Ele não enviaria o seu Filho ao mundo en-
quanto este não estivesse preparado, e esse preparo incluía uma
língua conhecida por todos”, diz Antônio Gilberto. A referência
paulina da “plenitude dos tempos”, em Gl 4.4, é exatamente essa
preparação de todas as vias conectadas para que Jesus pudesse
vir ao mundo. Apesar de todas as dificuldades, Deus preparou
todas as coisas usando as nações para que no tempo certo tomas-
se a forma humana.
Apesar de a maioria dos escritores do Novo Testamento
ser formada por judeus, estes escreveram seus livros em grego,
que era a língua predominante da época em pleno império ro-
mano, onde o latim não sobrepujou ao grego. Não é uma língua
fácil tendo em vista o português, mas através de materiais apro-
priados (dicionários, léxicos, curso específico, etc.) é possível
compreendermos a língua do Novo Testamento e, assim, estudar
a Bíblia na língua original, o que é de grande importância. Um
estudante de Teologia jamais pode ignorar as línguas originais,
pois há diferenças consideráveis.

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Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

Aramaico
Esse idioma era falado na civilização dos arameus, que,
segundo uma teoria, acredita ter como pai Arã, filho de Sem, neto
de Noé. O aramaico é semelhante ao hebraico, tendo, contudo,
um vocabulário maior. “Tinha o mesmo alfabeto que o hebraico,
diferia nos sons e na estrutura de certas partes gramaticais. Do
mesmo modo que o hebraico não possuía vogais: a partir de 800
d.C., é que os sinais vocálicos lhe foram introduzidos.”
Após o exílio babilônico, o aramaico começou a suplan-
tar o hebraico. Os judeus estavam tão familiarizados com essa
língua que, quando voltaram do cativeiro babilônico em 536, ti-
veram que usar intérprete para entenderem o que Esdras lia nas
Escrituras hebraica (Ne 8.5, 8).
É aceito entre os teólogos que Jesus se comunicava tam-
bém em aramaico, tendo como base algumas evidências, tais
como: era a língua popular; Jesus usou algumas expressões em
aramaico, como em Mt 5.18, onde Ele diz que a menor letra é o
jota (isso só é possível no aramaico), também em Mc 14.36, Jesus
utilizou a expressão Abba, que é aramaica. É bem provável que
Jesus falava a língua do povo, o aramaico, como também o he-
braico (Lc 4.16-20). Não é certo que esse idioma era o falado na
Palestina dos dias de Jesus, mas que há evidências do seu uso
em grande escala, disso não podemos duvidar. Se considerarmos
que Jesus era popular, ou seja, que “falava a língua do povo”,
não seria difícil pensar nessa possibilidade, até porque Ele era
acessível a todos, e o idioma é uma forma de aproximação pode-
rosa entre pessoas.
“O aramaico talvez tenha a mais longa, contínua e viva
história de qualquer língua conhecida. Era usado durante o perío-
do patriarcal bíblico e, nos dias de hoje, ainda é falado por alguns
povos. O aramaico e seu cognato, o siríaco, desdobraram-se em
muitos dialetos em diferentes lugares e períodos. Caracterizado
pela simplicidade, clareza e precisão, adaptava-se facilmente às
diversas necessidades da vida diária. Poderia servir igualmente
bem como língua para eruditos, estudantes, advogados ou ne-
gociantes. Alguns o descrevem como o equivalente semítico do
inglês.”5
5 WALKER, Larry. 1998, p. 305.
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Convenção Unida Internacional Introdução Bíblica

Os Escritores da Bíblia
A Bíblia foi escrita por vários escritores, entre eles intelec-
tuais (Moisés e Paulo), médico (Lucas), estadista (Daniel), boieiro
(Amós), Reis (Davi e Salomão), músico (Asafe), pescadores (Pe-
dro e João), funcionário público (Mateus), etc. E isso em diferen-
tes épocas, em um período de mil e quinhentos anos.

Os Escritores do AT
Moisés, filho de Anrão com Joquebede, da tribo de Levi.
Adotado pela filha de faraó, foi educado em toda ciência egípcia
por quarenta anos. Casou-se com Zípora, filha de Jetro, sacerdote
em Midiã, com quem teve dois filhos por nome de Gerson e Eli-
ézer (1 Cr 23.15).
Josué, filho de Num, conhecido também como Oséias, da
tribo de Efraim, foi auxiliar de Moisés, e posteriormente, seu
substituto responsável por levar o povo para Canaã, e assim fez.
Esdras, escriba hábil e responsável pela organização dos livros
do Antigo Testamento.
Davi, filho de Jessé, foi escolhido por Deus para eternizar
o seu trono e dele proceder a genealogia que traria o seu filho
Jesus. Foi sem dúvida o maior rei de Israel.
Os filhos de Corá, autores de 12 salmos. Este Corá ou Coré
é aquele que se rebelou contra Moisés em Números 16. Apesar
do castigo e do opróbrio, pois sempre foram identificados como
rebeldes (Jd 11), os filhos foram constituídos por Davi como mú-
sicos na casa do Senhor (1 Cr 6.31-38), pois eles não morreram na
rebelião de seu pai (Nm 26.10-11).
Asafe, um músico no tempo de Davi e de Salomão. Autor
de 12 Salmos.
Salomão, filho de Davi, foi o terceiro rei de Israel e se
notabilizou na história como um dos homens mais ricos e o mais
sábio de todos os tempos.
Isaías, um dos profetas mais importantes de Israel, nas-
ceu, provavelmente em torno de 760 a.C., em Jerusalém, Reino
do Sul. Era de uma família abastada e, pelo que consta, era so-
brinho do rei Uzias. Casou-se com uma “profetisa” (Is 8.3). Esse
termo pode ter o significado oficial, como também pode ser um
título honorífico que Isaías se referiu à sua esposa. Teve dois fi-
27
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

lhos e lhes deu nomes proféticos. Segundo a tradição, foi serrado


ao meio pelo ímpio rei Manassés, por volta de 680 a.C.
Jeremias, de uma família sacerdotal, filho de Hilquias,
de uma pequena cidade por nome de Anatote, que exerceu seu
ministério profético cem anos depois de Isaías. Nasceu por volta
de 605 a.C. e, diferente de outros profetas que se casaram, como
Isaías, ele foi proibido por Deus de casar-se (16.2) e foi escolhido
pelo Senhor para ser profeta durante o reinado dos últimos reis
de Judá, a saber: Josias (640-609, a.C.), Jeocaz (609 a.C.), Jeoaquim
(609-598 a.C.), Joaquim (598-597 a.C.) e Zedequias (597-586 a.C.).
Sua chamada foi provavelmente em 626 a.C., que cobre os últi-
mos quarenta anos dos últimos cinco reis de Judá.
Ezequiel, filho do sacerdote Buzi, descendia de família
real. Profetizou entre os cativos na Babilônia, próximo ao rio
Quebar. Perdeu sua esposa durante o cativeiro (24.15-18). Aos 26
anos, foi levado cativo para Babilônia no meio dos nobres quan-
do Nabucodonosor deportou os nobres e a família real em 598-
97 a.C. Apesar do cativeiro, ele tinha a sua própria casa (3.24;
20.1). Foi contemporâneo de Jeremias (Jeremias profetizou em
Jerusalém, Ezequiel entre os cativos), e também era conhecido
do profeta Daniel. Sua chamada se deu por volta dos trinta anos,
e seu ministério durou uns 23 anos, até seus cinquenta anos. Sua
morte é desconhecida.
Daniel, este profeta era membro da elite de Judá, foi le-
vado cativo em 605 a.C., para a Babilônia. O mestre Antônio Gil-
berto diz que Daniel foi para o cativeiro babilônico na primeira
leva, quando tinha entre quatorze e dezesseis anos. Viveu no
palácio de Nabucodonosor como estudante, estadista e profeta
de Deus, atravessando o governo de todos os reis babilônicos,
exceto o primeiro deles, Nabopolassar, pai de Nabucodonosor, e
fundador do neo-império Babilônico. O período do seu exílio na
Babilônia foi entre 605 a 536 a.C., e se acredita que ele viveu até
os noventa anos.
Oséias, o que sabemos é que era filho de Beeri e que exer-
ceu o seu ministério profético no impiedoso reino do Norte, Is-
rael. Foi contemporâneo de Isaías (que profetizou no reinado do
Sul), e de Amós. O ministério de Oséias foi durante os últimos
anos de Jeroboão II, um período produtivo quanto à política,
28
Convenção Unida Internacional Introdução Bíblica

economia, etc., que dava um “falso senso de segurança”. Com


a morte de Jeroboão II (753, a.C.), o reino entrou em declínio,
os quatro reis sucessores foram mortos e a tragédia do reino do
Norte culmina com o cativeiro assírio que se perdeu entre as na-
ções.
Joel, filho de Petuel. Há na Bíblia treze homens com esse
nome, mas é muito difícil identificar qual seja o profeta desse
livro. Assim, as informações sobre a pessoa desse profeta são es-
cassas. O que sabemos é que ele foi profeta no reino do Sul, Judá.
Mostra-se interessado pelo Templo, o que faz muito acreditar
que, possivelmente, tenha sido sacerdote (muito questionado) e
profeta.
Amós, segundo Donald Stamps, “Foi um profeta de vida
simples, de origem camponesa. Oriundo de Tecoa, uma pequena
vila de Judá, oito km ao sul de Belém e vinte ao sudoeste de Je-
rusalém. Profetizou para o reino do Norte, durante os reinados
de Uzias, rei de Judá (792-740 a.C.), e na segunda metade do rei-
nado de Jeroboão II, rei de Israel, uns 80 anos antes do cativeiro
babilônico.”
Obadias, não há muitas informações sobre esse profeta.
O seu nome significa “servo do Senhor”. A profecia de Obadias
é específica para Edom, que são os descendentes de Esaú, irmão
gêmeo de Jacó.
Jonas, profeta cujo nome significa “pomba”, era filho de
Amitai, da cidade de Gate-hefer (Js 19.3), pertencente à tribo de
Zebulom, próxima à cidade de Nazaré. Profetizou para o reina-
do do Norte, Israel, durante o reinado de Jeroboão II.
Miquéias, acredita-se que foi contemporâneo de Isaías,
mas com uma diferença substancial. Isaías teria sido um profeta
palaciano, de estirpe real, enquanto Miquéias, um profeta rústi-
co, do campo, e que morava numa pequena aldeia chamada Mo-
resete-Gater (Mq 1.14). Essa aldeia distava uns 30 quilômetros
ao sudoeste de Jerusalém, na fronteira de Judá com o território
filisteu. O ministério de Miquéias foi para o reinado do Sul, Judá,
durante os reinados de Jotão, Acaz e Ezequias, como vimos ante-
riormente, e, simultaneamente, durante os reinados de Pecaías,
Peca e Oséias em Israel (2 Rs 15.23-30), reino do Norte. Profeti-
zou o local do nascimento do Messias (Mq 5.2; Mt 2.5-6).
29
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

Naum, este nome significa “consolação”,“consolador”.


Pouco se sabe sobre este profeta, senão que ele era habitante de
Elcose. Na tentativa de descobrir a localização de Elcose, tem-se
sugerido lugares possíveis como Cafarnaum (Cafarnaum signifi-
ca Vila de Naum), ou na região da Galileia.
Habacuque, cujo nome significa “abraço”. Se for derivado
de um vocábulo assírio usado para designar uma planta (ham-
bakuku), então significa também “vegetal”. Jerônimo (347 – 420,
d.C.) afirmou que esse nome também poderia significar “segu-
rar”, com base em uma raiz hebraica.
Sofonias, cujo nome significa “o Senhor esconde”, foi
contemporâneo de Jeremias e profetizou durante o reinado de
Josias, provavelmente residia em Judá, onde profetizou no rei-
no do Sul. Era de linhagem real, pois seu pai foi Cusi, seu avô,
Gedalias; seu bisavô, Amarias; e seu tetravô, Ezequias, com toda
probabilidade o piedoso rei Ezequias. Acredita-se que o grande
avivamento que houve nos dias de Josias, Sofonias foi partici-
pante e até pode ter influenciado o rei Josias com suas palavras
proféticas, por ele ter acesso ao palácio.
Ageu, o significado do seu nome é ímpar, pois significa
“festivo”, talvez em alusão ao seu nascimento que se deu em um
dia de festa, uma possível referência. Ageu é chamado de “o pro-
feta” (1.1; 1.10; Ed 6.14) e “embaixador do Senhor” (1.13). Ele é
um daqueles que voltaram do cativeiro babilônico para repovoar
Jerusalém e reconstruir o Templo, que ainda guardava em sua
memória de setenta a oitenta anos de vida o suntuoso Templo de
Salomão, antes da destruição pelos babilônicos.
Zacarias, nascido no cativeiro babilônico, filho de Bara-
quias, foi trazido pelo seu avô para Jerusalém. Como contem-
porâneo de Ageu, sua mensagem segue o mesmo padrão de
exortação. O contexto histórico de Zacarias é o mesmo de Ageu e
Malaquias, pois esses livros, sendo pós-exílicos, tratam do retor-
no do povo que estava no cativeiro babilônico, onde ficaram por
setenta anos.
Malaquias, cujo nome significa “mensageiro do Senhor”.
Há uma incerteza, na verdade, se o nome Malaquias é um nome
pessoal ou se é um título. Mas, bem provável que seja um subs-
tantivo próprio. Não temos muitas informações sobre a pessoa
30
Convenção Unida Internacional Introdução Bíblica

do profeta, o que sabemos é que foi um profeta em Judá, con-


temporâneo de Neemias e com fortes convicções na fidelidade a
Deus. Creem que ele era membro da Grande Sinagoga nos tem-
pos de Esdras.

Os Escritores do NT
Mateus, também conhecido por Levi, foi chamado por
Jesus Cristo enquanto trabalhava na alfândega (Mt 9.9) e, desde
então, integrava o colégio apostólico (Mt 10.2-3). Era da região
da Galileia e, apesar de ser judeu, era odiado pelos seus patriotas
pelo fato de ser publicano, os quais não eram benquistos pelos
judeus por cobrarem impostos do seu povo para os romanos,
além de ter a crença de que os coletores de impostos acrescenta-
vam os valores e, assim, roubavam para si. Sofreu seu martírio na
Etiópia, apedrejado, queimado e decapitado.
Marcos, também conhecido por João Marcos, sendo que
João é o nome judaico, e Marcos é o nome latino, era primo de
Barnabé, companheiro de Paulo. Sua mãe, Maria, tinha uma casa
em Jerusalém frequentada pelos seguidores de Jesus (At 12.12).
Acompanhou Paulo e Barnabé na primeira viagem missionária
(At 13.5, 13). Apesar da recusa de Paulo em levá-lo na segunda
viagem missionária (15.36-41), ele não desistiu do apóstolo, mas
aparece como fiel companheiro na sua prisão em Roma (Cl 4.10;
Fm 23-24) e, na segunda prisão de Paulo, este pediu a Timóteo
que levasse Marcos (2 Tm 4.11). Marcos não fazia parte do co-
légio apostólico (Mt 10.2-4), mas viveu entre os apóstolos, e a
sua familiaridade com a igreja era natural. Há uma tradição de
Papias que diz que Marcos foi companheiro de Pedro, de quem
absorveu o conhecimento sobre o Senhor Jesus para escrever o
seu evangelho.
Lucas, o único escritor do Novo Testamento que não é ju-
deu e que, tradicionalmente, ficou conhecido pela alcunha dada
por Paulo de “o médico amado” (Cl 4.14). Foi companheiro de
Paulo por dez anos, o que muito facilitou as suas pesquisas in
loco. Lucas foi um homem culto e de muita capacidade literá-
ria, os seus registros estão aí para provar tal proeza. Merril C.
Tenney destaca as qualificações de Lucas: “médico, pastor, evan-
gelista itinerante, historiador e escritor”. Lucas, segundo Taylor
31
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

Caldwell, era grego, descendente de um escravo alforriado e que


se formou em medicina na prestigiada universidade de Alexan-
dria, Egito. A cultura de Lucas é admirável, ele mostra o domínio
da língua grega e sabia organizar os fatos com maestria. Apesar
de ser um gentio, não se mostrava alheio à cultura judaica, pois
estava contextualizado a tal ponto que sua redação não deixa dú-
vidas quanto ao que se tratava de assuntos de natureza religiosa
ou cultural dos judeus.
João, no Novo Testamento temos três Joões famosos:
João Batista, o precursor de Jesus (Mt 3), João Marcos, o autor do
Evangelho (At 12.12; 15.37) e João, “o discípulo amado” (21.20),
filho de Zebedeu, que foi um dos doze. Foi autor do Evangelho e
das três cartas universais que trazem o seu nome mais o livro de
Apocalipse, que, juntos, são conhecidos como escritos joaninos.
Paulo, nome romano e Saulo, nome hebraico, apóstolo
e mestre, depois de Jesus o maior nome do Cristianismo, res-
ponsável por treze cartas do Novo Testamento, onde está a base
doutrinária da igreja cristã. Em Filipenses temos um pequeno re-
sumo biográfico sobre o apóstolo: “circuncidado ao oitavo dia,
da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreu;
segundo a lei, fui fariseu. Segundo o zelo, perseguidor da igreja;
segundo a justiça que há na lei, irrepreensível”, (3.5-6).
Pedro, também chamado de Simão, nasceu em Betsaída,
região da Galileia, filho de Jonas, era irmão de André e ambos
foram apóstolos de Jesus. Era casado, sua profissão era pescador
e sofreu o martírio em 64, onde, segundo a tradição, morreu cru-
cificado de cabeça para baixo em uma cruz.
Tiago, o Justo. Há três por esse nome no Novo Testamen-
to: Tiago, apóstolo, filho de Zebedeu, irmão de João; Tiago, após-
tolo, filho de Alfeu; e Tiago, irmão de Jesus, filho de Maria e José
(Mt 13.55). O Tiago escritor foi o irmão de Jesus, que no começo
não cria Nele (Jo 7.2-5) e não fazia parte do colégio apostólico.
Mais tarde, tornou-se um líder da igreja.
Judas, irmão de Tiago e, consequentemente, de Jesus. Apesar de
ter sido o escritor da carta, não fazia parte do colégio
apostólico.
Há ainda os autores anônimos, como os dos livros do
AT de Juízes, Rute, Samuel, Reis, Ester, Jó. No NT, só a carta aos
32
Convenção Unida Internacional Introdução Bíblica

Hebreus é anônima, não temos certeza quanto à sua autoria hu-


mana. No somatório geral, temos cerca de quarenta autores ins-
pirados que Deus usou para registrar a Sua palavra.

A Bíblia Hebraica
O conteúdo é o mesmo, mas as divisões se diferem.
Quando falamos Bíblia Hebraica, entenda os registros sagrados
do Antigo Testamento. Essa Bíblia é conhecida por Tanak, sigla
que vem com as iniciais das suas divisões, que veremos poste-
riormente.

Os Livros
Diferente do agrupamento dos nossos 39 livros, a Tanak
tem 24 livros, sendo os mesmos que os nossos. Essa diferença se
dá por conta do agrupamento.
Os profetas menores (Oséias a Malaquias) contamos cada
livro separadamente, mas para os judeus trata-se de um único
volume, O livro dos Doze. Assim, segue como sendo um os li-
vros do profeta Samuel, dos Reis, das Crônicas, Esdras-Neemias,
totalizando vinte e quatro livros. Mas perceba que são os mes-
mos de nossa Bíblia protestante. A diferença da forma que os
livros estão organizados não compromete o conteúdo, pois são
os mesmos livros, porém sistematizados de modo diferente. Se a
Bíblia que usamos, com base na Septuaginta, tem 39 livros, a dos
judeus tem 24 sem subtrações de conteúdo.

As Divisões
A Tanak tem três divisões: Torah, Neviim e Ketuvim.
Dessas três divisões vem o nome Tanak: sendo T, a inicial de To-
rah; N, a inicial de Neviim e k, a inicial de Ketuviim, dando as-
sim origem ao nome TaNaK.
A Torah (significa instrução, ensinamento ou lei), é o
Pentateuco.
Neviim, Os Profetas. Sendo divididos em duas partes:
Primeiros Profetas e Últimos Profetas. São eles:
Primeiros profetas: Josué, Juízes, Samuel, Reis, Isaías, Je-
remias, Ezequiel.
Últimos Profetas: O livro dos Doze, a saber, Oséias, Joel,
33
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias,


Ageu, Zacarias, Malaquias.
Ketuviim, Os Escritos Salmos, Jó, Provérbios, Rute, Cân-
ticos dos Cânticos, Eclesiastes, Lamentações, Ester, Daniel, Es-
dras-Neemias, Crônicas.
Em Lucas 24.44, o próprio Jesus reconheceu essa divisão
da Bíblia hebraica: “e disse-lhes: são estas as palavras que disse
estando ainda convosco: convinha que se cumprisse tudo o que
de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos Profetas, e nos Sal-
mos (Escritos).”

34
Capítulo 2

Materiais usados para a escrita

Até a invenção do papel e do tipo móvel no século XV,


na Alemanha, os materiais utilizados para a escrita eram vários,
como pedras, tijolos de barro, couro, metais, tabuinhas cobertas
de cera ou gesso, óstraco (fragmento de cerâmica), papiro, perga-
minho, etc.

Pedra
O famoso código de Hamurabi (1792-1750? a.C.), rei da
Babilônia que muitos identificam como Anrafel (?) de Gênesis
14.1, foi gravado sobre a pedra. Continha leis com ênfases “ao
roubo, agricultura, criação de gado, danos à propriedade, direi-
tos da mulher, direitos da criança, direitos dos escravos, assim
como assassinato, morte e injúria”. A escrita foi esculpida em
uma pedra de dois metros!
Outra pedra muito famosa que abriu o conhecimento so-
bre o Egito antigo foi um pedaço de granito encontrado na cidade
de Roseta (daí o nome “pedra de Roseta”) por soldados franceses
de Napoleão Bonaparte em 1799, que, em 1822, foi decifrada pelo
francês Jean-Fraçois Champollion. Essa pedra é datada de 196
a.C., quando o Egito estava sob domínio grego. Hoje, ela perten-
ce ao Museu Britânico, em Londres.

Argila
Por ser de baixo custo econômico, a argila também era
usada para a escrita. A argila úmida era moldada em tabuinhas
e incisões eram feitas ainda no material mole com um estilete.
35
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

Esse material podia secar ao sol ou no forno, o que parece que


havia melhor aceitação. A argila, segundo pesquisadores, como
Trebolle Barrera, deu-se como “instrumento de correio interna-
cional, como mostram as cartas de Tell-Amarna”. “As inscrições
oficiais eram colocadas num vaso de argila, onde se escrevia o
resumo do conteúdo em tabuinhas”.

Papiro
O papiro é uma planta aquática que cresce junto a rios,
comum no antigo Egito, cuja entrecasca servia para escrever.
Essa planta existe ainda hoje no Sudão, na Galileia Superior e no
vale de Sarom. As tiras extraídas do papiro eram coladas umas às
outras até formarem um rolo de qualquer extensão. Este material
gráfico primitivo é mencionado muitas vezes na Bíblia, exem-
plos: Êxodo 2.3; Jó 8.11; Isaías 18.2. Em certas versões da Bíblia, o
papiro é mencionado como junco, de fato, é um tipo de junco de
grandes proporções. Foi nesse material que João escreveu o livro
de Apocalipse (5.1) e suas cartas (2 Jo 12). Os papiros eram dis-
postos na forma de livro, o que se acredita que foi dele que veio
o formato de livro como conhecemos hoje. De papiro, deriva-se a
nossa palavra papel.

Pergaminho
Pergaminho é pele de animais (ovelhas e cabras) pre-
parada para a escrita. Em qualidade quanto à escrita, é melhor
que o papiro. Sua utilização remonta ao terceiro milênio a.C. No
segundo século a.C., a técnica de preparação nesse material foi
aperfeiçoada na cidade de Pérgamo, daí vem a origem do nome
dessa cidade citada por João em Apocalipse. Os pergaminhos
são citados por Paulo a Timóteo, (2 Tm 4.13).
Códice
Também conhecido como códex, palavra latina, que de-
signava um bloco de madeiras com várias folhas de papiro ou
pergaminho. “Vários caderninhos de quatro folhas duplas for-
mavam um códice de grossura ilimitada e de aspectos parecido
com o livro moderno, com capas de madeira ou de couro. Os
escritores cristãos adotaram, desde o século II, o uso do códice,
rompendo assim com a tradição judaica que só admitia o uso do
36
Convenção Unida Internacional Introdução Bíblica

rolo para os textos sagrados. Em épocas posteriores, por causa


do alto custo do pergaminho, costumava-se raspar o texto es-
crito para escrever sobre ele outro texto, dando assim a origem
aos códices rescripti ou palimpsestos. Procedimentos químicos
e fotográficos permitem a leitura do texto raspado que era, com
frequência, um texto bíblico.”6

Papel
Esta palavra vem do latim papyrus, uma referência à
planta papiro que cresce às margens do rio Nilo, no Egito, que,
como vimos, era preparada para a escrita. Tradicionalmente,
afirma-se que o papel foi criado pelos chineses em 105 anos de-
pois de Cristo, por T´sai Lun, que fez “uma mistura umedecida
de casca de amoreira, cânhamo, restos de roupas e outros produ-
tos que contivessem fonte de fibras vegetais. Bateu a massa até
formar uma pasta, peneirou-a e obteve uma fina camada que foi
deixada para secar ao sol. Depois de seca, a folha de papel estava
pronta!” A técnica inventada pelos chineses foi bem guardada,
pois o seu valor era alto, só depois de 500 anos que os japoneses
tiveram acesso ao papel.
Em 751 d.C., os chineses tentaram conquistar uma cidade
sob o domínio árabe e foram derrotados. Nessa ocasião, alguns
artesãos foram capturados, e a tecnologia de fabricação de papel
deixou de ser um monopólio chinês.
O papel vem da celulose, matéria-prima extraída prin-
cipalmente de duas espécies de árvores, o pinheiro (pinus sp) e
o eucalipto (Eucalyptus sp). Esse papel, depois de um processo
industrial, chega às mãos do consumidor em condições de uso.
Esses são os principais materiais que usaram para a escrita até
chegar ao uso do papel moderno, que é a forma mais utilizada
em nossos dias.

Os Manuscritos
Manuscrito, palavra que vem do latim manus, “mão”, e
scriptus, “escrita”, que significa um documento escrito à mão.
Usamos o termo manuscrito em relação aos materiais usados ori-
ginalmente na escrita da Bíblia Sagrada.
6 ICP. São Paulo: Volume I. 2003, p. 24.
37
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

Esses manuscritos foram escritos em vários materiais, principal-


mente no papiro e pergaminho, e muitos foram conservados,
como também, infelizmente, alguns foram perdidos, tendo hoje
só cópias muito bem preservadas e confiáveis.
Não temos nenhum manuscrito bíblico original que saiu
diretamente das penas dos seus respectivos escritores, conheci-
dos como autógrafos, e acredito que isso foi providência divina.
O mestre Antônio Gilberto7, com sua sabedoria ímpar, dá
algumas razões por não haver nenhum original.

1. O costume dos judeus de enterrar todos os manuscritos


estragados pelo uso ou qualquer outra coisa; isto para evi-
tar mutilação ou interpolação espúria.
2. Os reis idólatras e ímpios de Israel podem ter destruído
muitos, ou contribuído para isso.
3. O monstro Antíoco Epifânio (75-164 a.C.), rei da Síria
decidiu exterminar a religião judaica. Destruiu todas as
cópias que achou das Sagradas Escrituras.
4. O imperador Diocleciano (284-305 d.C.), por dez anos
vasculhou todo o império à procura de cópias e destruiu
todas que foram encontradas. Ele chegou a julgar que
tivesse destruído tudo, pois mandou cunhar uma moeda
comemorando tal “vitória”.

Mas Deus preservou sempre a sua Palavra escrita, e isso


vemos nos manuscritos preservados pela Grande Sinagoga, pre-
sidida por Esdras, que serviu como base para a Septuaginta.

A Caligrafia dos Manuscritos


A caligrafia dos manuscritos está em unciais e cursivas, a
primeira é assim chamada porque os seus caracteres são escritos
em letras maiúsculas, que eram “caracterizadas por serem mais
arredondadas do que nos documentos literários, sem espaço en-
tre palavras, sem pontuação e com abreviações bem definidas”;
já a segunda, são escritos em letras minúsculas, predominan-
temente em grego, com espaços entre as palavras. “Dos 4.500

7 GILBERTO, Antônio. 1986, p. 77.


38
Convenção Unida Internacional Introdução Bíblica

manuscritos existentes, cerca de 300 são unciais, e o restante, cur-


sivo. A partir do século IX, prevaleceram em face dos unciais,
sendo catalogados em número de 2.795”, diz Júlio Trebolle Bar-
rera.

Os Manuscritos mais importantes


Suspeita-se que haja cerca de 5500 manuscritos espalha-
dos pelas bibliotecas e museus do mundo afora. Vejamos alguns
desses manuscritos considerados importantes.

Manuscritos do Antigo Testamento


Veremos dois manuscritos do AT: os manuscritos Masso-
réticos e os manuscritos do Mar Morto.

Texto Massorético
São assim chamados porque foi baseado na Massora, “a
tradição textual dos eruditos judeus conhecidos como os masso-
retas de Tiberíades” (local dessa comunidade, no mar da Gali-
leia). Os massoretas (500-1000, d.C.) prestaram um trabalho de
tamanha importância, pois, devido à sua erudição, foi possível
ter uma base para as modernas versões. Eles adicionaram pon-
tos vocálicos para facilitar na leitura, pois o hebraico não possui
vogais, apenas consoantes. A partir do século VI, os manuscritos
continham esses sinais de vocalização, por isso “qualquer texto
bíblico posterior ao século VI é chamado “massorético”.
Mark Norton diz que o texto massorético, como hoje o
temos, deve muito à família de Ben Aser. Por cinco ou seis ge-
rações, da segunda metade do século VIII a meados do século X
d.C., essa família desempenhou um papel muito importante no
trabalho dos massoretas em Tiberíades. Um registro fiel de seu
trabalho pode ser encontrado nos mais antigos manuscritos mas-
soréticos existentes, os quais remontam aos dois últimos mem-
bros daquela família. O manuscrito massorético de data mais an-
tiga é o Códice Cairense (895 d.C.), atribuído a Moisés Ben Aser.
Esse manuscrito compreende os livros tanto dos primeiros pro-
fetas (Josué, Juízes, Samuel e Reis) quanto dos últimos (Isaías,
Jeremias, Ezequiel e os 12 Profetas Menores). O resto do Antigo
Testamento está faltando no manuscrito.
39
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

Há outros manuscritos que atribuem à família Ben Aser


como o Código Alepo, do X século d.C, que continha todo o AT.

Os Manuscritos do Mar Morto


Acredita-se que a descoberta dos rolos do Mar Morto,
como é popularmente são conhecidos, foi a maior descoberta ar-
queológica referente aos manuscritos bíblicos, pois aqueles ma-
nuscritos são bem mais antigos do que até então era considerado
mais vetustos, que eram os manuscritos que datavam de 900 d.C.
A descoberta dos rolos de Qunram, assim também conhecidos,
pois era uma comunidade de essênios que viviam próximo ao
Mar Morto, se deu de forma acidental. Durante o inverno de
1946-1947, pastores beduínos estavam cuidando do seu rebanho
e, ao procurar um animal que se perdeu, encontraram alguns ro-
los preservados em jarros numa caverna.
Sabendo dessas descobertas naquelas cavernas, empre-
enderam mais buscas, e o resultado foi surpreendente, pois os
manuscritos que foram lá achados eram textos “que foram escri-
tos antes da conquista da Palestina pelos romanos em 70 d.C.”
Nas cavernas exploradas foram encontrados “perto de seiscentos
manuscritos”, e desses “cerca de duzentos são constituídos por
material bíblico”. Norton diz que os fragmentos numeram-se
entre cinquenta e sessenta mil peças. Aproximadamente 85 por
cento dos fragmentos são de couro; os 15 por centos restantes são
de papiros. Até hoje foram exploradas 12 cavernas, na segunda
caverna mais importante (4Q) foram achados quarenta mil frag-
mentos de quatrocentos manuscritos diferentes, dos quais cem
são de teor bíblico. Todos os livros do Antigo Testamento, exceto
Ester, estão representados. Na caverna (3Q), foi descoberto um
rolo de cobre de aproximadamente 2,5 metros de comprimen-
to por trinta centímetros de largura, isso em 1952. O maior rolo
achado foi o Rolo do Templo, que mede aproximadamente 8,5
metros.
É inegável o valor dessa descoberta, pois, como disse Luiz
Sayão, mestre em língua hebraica, o significado das descobertas
é por demais relevante para o estudo da Bíblia.

Afinal, antes da descoberta dos MMM (Manuscritos do

40
Convenção Unida Internacional Introdução Bíblica

Mar Morto), a mais antiga cópia da Bíblia Hebraica (An-


tigo Testamento) era o texto de Ben Asher, arquivado em
São Petesburgo e datado do ano 1008 AD. Esse é o Texto
Massorético padrão, base da Bíblia Hebraica de Kittel, e da
Bíblia Hebraica Stuttgartensia, base de todas as versões da
Bíblia. Portanto, os manuscritos bíblicos achados são pelo
menos mil anos mais antigos que o Texto Massorético tra-
dicional que tínhamos à disposição. É muito difícil preser-
var textos antigos por tanto tempo. Os estudiosos da crí-
tica textual sabem muito bem disso. Os MMM confirmam
que o Texto Massorético foi preservado. Os MMM contêm
manuscritos bíblicos muito bem preservados, manuscri-
tos bíblicos diferentes do TM (ou corrompidos) e também
material religioso próprio da comunidade local. Não se
pode esquecer que o comum é esperar por um manuscrito
corrompido (especialmente com mil anos de diferença de
outro). Todavia, ficou claro que o número de manuscritos
muito próximos ao Texto Massorético é surpreendente, e
revela uma preservação de texto sem precedentes na His-
tória.
Alguns manuscritos, porém, possuem semelhanças maio-
res com a Septuaginta. Isso tem enriquecido muito o cam-
po da crítica textual, e deu maior valor à versão grega da
Bíblia Hebraica. Além disso, os MMM têm sido úteis aos
estudiosos na solução de difíceis problemas de tradução
de passagens difíceis e obscuras da Bíblia Hebraica. Deve
ser ressaltado que essas descobertas revelaram o zelo e
cuidado meticuloso dos escribas judeus para com os ma-
nuscritos bíblicos. Isso explica porque o texto foi tão bem
preservado. É também impressionante saber que os per-
gaminhos ficaram “guardados” por dois mil anos sem
serem destruídos, numa região tão disputada e marcada
por conflitos históricos. Finalmente, deve ser dito que as
versões bíblicas publicadas antes de 1947 não contam com
toda essa riqueza dos MMM. Por isso, versões bíblicas
precisam ser revisadas e realinhadas com o resultado das
pesquisas atuais.

41
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

Manuscritos do Novo Testamento


Como foi dito anteriormente, hoje não temos os autógra-
fos, o mais próximo é um papiro designado P52, datado aproxi-
madamente de 110 a 125 d.C e que contém alguns versículos de
João 18 (31-34, 37, 38).
Alguns manuscritos importantes do Novo Testamento
são:
O Códice Sinaítico, datado por volta de 350 d.C., contém
todo o Novo Testamento.
O Códice Vaticano, esse manuscrito está na Biblioteca
do Vaticano desde 1418. Contém todo o Antigo Testamento e o
Novo Testamento em grego, exceto a última parte do NT e as
epístolas pastorais. É datado possivelmente de 325, d.C.
Códice Alexandrino, manuscrito que data cerca de 450
d.C., apresenta quase todo o Novo Testamento. É reconhecido
por ser testemunha fiel do Apocalipse e das epístolas gerais. Está
na Biblioteca Nacional do Museu Britânico de Londres, Inglater-
ra.
Códice Ephrami Rescriptus, data cerca de 450 d.C. Con-
tinha todo o AT e NT. Atualmente conservam-se somente os
textos de Jó, Provérbios, Eclesiastes, Sabedoria, Eclesiástico e
Cântico dos Cânticos, e do NT, preservam todos, menos 2 Tes-
salonicenses e 2 João. Esse manuscrito é um palimpsesto, pois
o manuscrito original foi apagado para escrever os sermões de
Epharem (299-378), pai da igreja no IV século. Está conservado
na Biblioteca de Paris, França.
Códice Beza, também conhecido como “Códice de Cam-
bridge”, datado entre o século V e VI. Descoberto por Theodoro
Beza, em 1562, no mosteiro de Santo Irineu, na França. É um ma-
nuscrito antigo escrito em grego e latim. Foi entregue à Universi-
dade de Cambridge.

Atualmente, temos mais de seis mil cópias de manuscritos


gregos do Novo Testamento, ou de porções dele. Nenhu-
ma outra obra da literatura grega pode ostentar tal abun-
dância de cópias, afirma Philip W. Comfort.

42
Capítulo 3

A formação do cânon

Cânon, do grego Kanwn (Kanon), que significa “vara de


medir”, é aplicado no sentido de regra, padrão, lista. Em hebrai-
co temos Kaneh, “vara ou cana de medir” (Ez 40.3), instrumento
para medida. Essa palavra era usada no sentido mais amplo de
padrão ou norma. Desde o século IV, os cristãos usavam essa
palavra para se referirem aos livros inspirados do AT e do NT.
Quando falamos do Cânon Sagrado ou Escritura canôni-
ca, logo estamos falando dos livros que foram submetidos às mi-
núcias analíticas quanto à sua inspiração e foram reconhecidos
como divinamente inspirados.

O Cânon do Antigo Testamento


O cânon do AT foi formado em um período de
pouco mais de mil anos, ou seja, de Moisés a Esdras, o escriba.
Apesar dos questionamentos da Alta Crítica8, sabemos
que nos dias de Esdras já havia um volume considerado de livros
canônicos. Como presidente da Grande Sinagoga, organizada
por Neemias em 410 a.C., composta por cerca de 120 membros,
o que no futuro daria origem ao Sinédrio, em 275 a.C., Esdras
selecionou os rolos sagrados, fechando assim o cânon do Antigo

8 Também conhecida como Crítica Histórica, a Alta Crítica tem por objetivo de-
terminar a autoria, a data e as circunstâncias em que foram compostas as Sagradas Escri-
turas. Esse método verifica também as fontes literárias e a confiabilidade dos escritos do
Antigo Testamento. A Alta Crítica é complementada pela Baixa Crítica (ou Crítica Textual),
cuja finalidade é estabelecer a correta leitura e interpretação do texto sagrado (Dicionário
Teológico. CPAD, p. 40).
43
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

Testamento. R.T. Beckwith diz que “ninguém duvida que, pela


época de Esdras e Neemias (século V a.C.), o Pentateuco já estava
completo, como também já era canônico, sendo muito considera-
do como tal. Foi traduzido para o grego no século III a.C., tornan-
do-se desse modo a primeira porção da Septuaginta.”
Mas, apesar dos 39 livros do Antigo Testamento já serem
reconhecidos como inspirados nos dias de Jesus (ainda que li-
vros como Eclesiastes e Cânticos dos Cânticos sofressem relutân-
cias, e isso só mostra o cuidado nesse processo de canonização),
só em Jâmnia, perto da moderna Jope em Israel, no ano 90 d.C.,
que os rabinos, em um concílio sob a presidência de Yohanan
Ben Zakkay, reconheceram esses livros como canônicos. É im-
portante salientar que esse concílio não canonizou os livros, mas
só reconheceu a sua inspiração divina.

O Cânon do Novo Testamento


Tertuliano foi um dos primeiros pais da igreja a chamar as
Escrituras de Novo Testamento. Milton Fisher diz que esse título
havia aparecido antes (C. 190) em uma composição feita contra
o montanismo, de autor desconhecido. Esse fato é significativo.
Seu uso colocou as Escrituras do Novo Testamento em um nível
de inspiração e autoridade igual ao do Antigo Testamento.
O Cânon do NT, ao contrário do AT que durou aproxi-
madamente mil anos, durou cerca de 50 anos, entre 49 a 96. Em
cinquenta anos, os vinte e sete livros neotestamentários estavam
escritos, faltava tão somente o processo de canonização. Processo
de canonização foi o árduo trabalho que levou para os livros da
Bíblia serem reconhecidos como livros inspirados.
Os primeiros livros do NT a serem aceitos como canôni-
cos foram os escritos paulinos, num total de treze epístolas. Cro-
nologicamente, a primeira epístola escrita para alguns foi Gála-
tas, entre 49-56 ou 1 Tessalonicenses em 52 d.C. Atos foi escrito
em 63 d.C. e os evangelhos sinóticos, entre 60 a 65, sendo que
João, em 85 d.C. As demais cartas, de Hebreus a Judas, foram es-
critas entre 68 a 90 d.C. e, finalmente, Apocalipse em 96 d.C. Ape-
sar de todos os livros do NT já tivessem sido escritos em pouco
menos de um século, só foi em 393 d.C., no concílio de Hipona e,
em 397, no concílio de Cartago, ambos no Norte da África, que
44
Convenção Unida Internacional Introdução Bíblica

os 27 livros que temos hoje em nossas Bíblias, apresentados pelo


bispo Atanásio, foram reconhecidos como canônicos. Isso quer
dizer que antes do ano 400 d.C., todos os livros estavam aceitos
como regra de fé e prática para todo o cristianismo. O mestre
Antônio Gilberto fez uma observação quanto à demora para o
reconhecimento desses livros quando diz: “como se vê, houve
um amadurecimento de 400 anos”.
É oportuno o que escreveu Milton Fisher sobre a ques-
tão do reconhecimento do cânon: “a geração que seguiu a dos
apóstolos recebeu o testemunho daqueles que sabiam que eles
tinham o direito de falar e escrever, em nome de Jesus. Por con-
seguinte, a segunda e a terceira geração de cristãos relembravam
as palavras e escritos apostólicos como as próprias palavras de
Jesus. Isso é o que realmente se queria dizer com canonização –
reconhecimento da palavra divinamente inspirada. Portanto, os
crentes (a Igreja) não estabeleceram o cânon, mas simplesmente
deram testemunho de sua extensão ao reconhecer a autoridade
das palavras de Jesus”.
O sentido que usamos de canonização não é de estabele-
cimento, e sim de reconhecimento, pois os livros já eram inspi-
rados e só faltava, porém, a formalização de reconhecimento de
tais livros.

Critérios Para a Canonização


Na época havia muitos livros que reivindicavam auto-
ridade espiritual. Além dessa diversidade literária, havia ques-
tionamentos principalmente dos gnósticos e de Marcião, por
exemplo. A igreja precisava se posicionar dando uma resposta
definitiva, quando então usaram os seguintes princípios para re-
conhecerem um livro inspirado.

Autoridade Apostólica
Foi escrito por um apóstolo? Ou por alguém que teve
contato com eles? Isso implicava Marcos e Lucas, que não eram
apóstolos, além de Hebreus, que era de autoria desconhecida.
Por esse critério, os livros do Novo Testamento foram aprova-
dos, pois, se Marcos e Lucas não foram apóstolos, todavia tive-
ram contatos com eles, sendo que o primeiro, segundo a tradi-
45
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

ção, teve contato com Pedro, e o segundo teve contato direto com
Paulo.

Conteúdo Espiritual
As igrejas liam o livro? Havia edificação espiritual me-
diante sua leitura? Por esse critério temos a questão da utilidade
da igreja e se ela era edificada por esses livros.

Exatidão Doutrinária
Além de ser verdadeiro, doutrinariamente não poderia
haver heresias. Quando lemos os apócrifos, percebemos a quan-
tidade de estórias contidas naqueles livros, algumas são verda-
deiras fábulas. Os relatos fantasiosos contidos em alguns apócri-
fos demonstram que é inverossímil afirmar que esses livros são
relatos inspirados. Se atentarmos para o conteúdo dos sessenta e
seis livros da Bíblia, veremos a exatidão teológica e, assim, con-
cluiremos que esse livro só pode ser obra de Deus.

Uso Pela Igreja


Os livros foram reconhecidos pelos pais da igreja? Eles
citaram? A igreja o reconheceu? Ora, o reconhecimento da igre-
ja, seus leitores, era fundamental, até porque ela não usaria um
livro sem saber a procedência e sem que houvesse nenhum con-
teúdo espiritual e que fugisse da coerência e da lógica que há em
todos os livros canonizados nas Escrituras.

Inspiração Divina
Milton Fisher diz que “por sua própria natureza, a Es-
critura Sagrada, quer do Antigo, quer do Novo Testamento, é
uma produção de Deus – não é obra da criação humana. A chave
para a canonicidade é a inspiração divina. Portanto, o método de
determinação não é a escolha entre vários possíveis candidatos
(de fato, não há outros candidatos), o do recebimento do material
autêntico e seu consequente reconhecimento por um grupo de
pessoas sempre crescente, à medida que os fatos de sua origem
vão se tornando conhecidos.”
E como saber se o livro é inspirado ou não? A sua infa-
libilidade em todos os sentidos, a historicidade dos registros e
46
Convenção Unida Internacional Introdução Bíblica

a perfeição dos relatos caracterizam uma faceta da inspiração,


além da precisão de suas profecias que se cumprem plenamente
e com perfeição, levando em conta que os relatos têm grandes
hiatos de tempos e circunstâncias distintas, são fatos que corro-
boram a origem divina.
Os livros já existiam e saíram das penas de escritores que
andaram com Jesus ou tiveram contatos com fontes primárias,
como no caso de Lucas, Marcos e Paulo. O processo de canoniza-
ção submeteu os tais livros a exames que demonstram que o re-
sultado que temos hoje não foi obra do acaso ou que escolheram
sem nenhum critério.

Os Livros Apócrifos
Apócrifo tem o significado de “escondido”, “oculto”, “di-
fícil de entender”, devido ao seu conteúdo misterioso. É bom sa-
lientar que esses livros, apesar de não serem reconhecidos como
canônicos, não são totalmente condenados, visto o valor históri-
co de alguns.
A primeira inclusão dos livros apócrifos na Bíblia foi na
Septuaginta, tradução do hebraico para o grego, que acrescentou
quinze livros. Jerônimo, em 405, quando traduziu sua famosa
Vulgata (tradução para o latim), incluiu também os apócrifos,
mas, segundo a História, ele recomendou que esses livros não
servissem com caráter doutrinal.

Circunstâncias em que foram produzidos


O pastor batista Enéas Tognini9, grande nome carismáti-
co entre os batistas, diz que as circunstâncias em que os apócrifos
foram produzidos eram diversas.

“Se aceitarmos a data máxima dos modernos especialistas


para a escrita dos primeiros apócrifos, ou seja, 300 a.C.,
penetraremos, então, no ambiente em que tal literatura
apareceu [...] Faltando-lhes a revelação divina, voaram nas
asas da imaginação, urdindo planos que se consubstancia-
ram em peças literárias, cujas preocupações eram consolar

9 Período Interbíblico. 1º ed. São Paulo: Hagnos, 2009, p. 25.


47
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

o povo que esperava a palavra de Deus. No silêncio da voz


divina, multiplicaram-se as palavras humanas.”

Esses livros, que eram quatorze (10 livros e 4 acréscimos),


depois caíram para onze (7 livros e os 4 acréscimos), sendo apro-
vados em 18 de abril de 1546, no Concílio de Trento, em reposta à
Reforma Protestante. O cardeal Pallavacini, em “História Eclesi-
ástica”, declara que, em pleno Concílio, 40 bispos dos 49 presen-
tes travaram luta corporal, agarrados às barbas e batinas uns dos
outros. Foi nesse ambiente “espiritual” que os apócrifos foram
aprovados!”, e, continua, “a primeira edição da Bíblia romana
com os apócrifos deu-se em 1592, com autorização do Papa Cle-
mente VIII.”10

10 Apud em A Bíblia Através dos Séculos, p. 64.


48
Capítulo 4

A inspiração e inerrância
da Bíblia

Muitos escritores produziram obras maravilhosas na


academia literária, mas nenhuma delas tem a inspiração divina.
Um livro evangélico, por mais edificante que seja, não está em
igualdade a nenhum livro da Bíblia, e nenhum escritor, por mais
piedoso que tenha sido, está em igualdade com o seleto grupo
escolhido por Deus para serem escritores de Sua Palavra.
A palavra inspiração vem de dois vocábulos gregos, theo,
“Deus”; e pneustos, “sopro”. Literalmente, significa, “aquilo que
é dado pelo sopro de Deus”. O Dicionário Teológico assim defi-
ne:
Ação sobrenatural do Espírito Santo sobre os escritores
sagrados, que os levou a produzir, de maneira inerrante,
infalível, única e sobrenatural, a Palavra de Deus.

“Em português, a palavra “inspirar” é originária do ver-


bo latino inspirare, que significa “introduzir ar nos pulmões”.
É um processo fisiológico tão necessário à vida que a mantém
em pleno funcionamento. É algo automático, independe de nos-
sa vontade. Basta estarmos vivos para que o ar entre pela boca e
pelas narinas e nos chegue até os pulmões. Assim também ocor-
reu com os santos profetas e apóstolos usados para escrever a
Bíblia Sagrada. O Espírito Santo insuflou-lhes a Palavra de Deus
de tal forma que foram impulsionados a registrar os arcanos e
desígnios divinos de maneira sobrenatural, inerrante, infalível e
singular. Nenhum outro livro foi inspirado dessa forma; foi um
milagre que se deu na área do conhecimento humano e nunca
49
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

mais se repetiu”, diz Claudionor de Andrade.


Quando lemos 2 Pedro 1.19-21 e 2 Timóteo 3.15, temos
uma forma de sinergismo. A primeira referência diz sobre o es-
critor inspirado, e a segunda diz livro inspirado, ou seja, Deus é o
autor das Escrituras através dos seus servos pelo Espírito Santo.
Claro que a participação humana é só como instrumento, isso
não quer dizer que eles foram a fonte. O Espírito Santo usou a
capacidade de cada um, inspirando Suas palavras, para que eles
pudessem escrever a revelação de Deus segundo a sua capaci-
dade intelectual. E isso fica bem claro quando comparamos os
estilos literários.
A Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil
11
(2017) diz: “cremos [...] que os livros da Bíblia foram produ-
zidos sob inspiração divina: “Toda a Escritura é inspirada por
Deus e útil para o ensino” (2 Tm 3.16-ARA). Isso significa que
toda a Escritura foi respirada ou soprada por Deus, o que a dis-
tingue de qualquer outra literatura, manifestando, assim, o seu
caráter sui generis. As Escrituras Sagradas são de origem divina;
seus autores humanos falaram e escreveram por inspiração ver-
bal e plenária do Espírito Santo: “porque a profecia nunca foi
produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos
de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (2 Pe 1.21).
Deus soprou nos escritores sagrados, os quais viveram
em uma região e em uma época da história cuja cultura influen-
ciou na composição dos textos. Esses homens não foram robôs,
mas instrumentos usados por Deus; sendo úteis com sua própria
personalidade e talento.
Algo a se destacar é que a inspiração da Bíblia é única,
pois nenhum outro livro da história que já foi ou será escrito
pode reclamar a inspiração divina para si. A inspiração da Bíblia
é especial e ímpar, não existindo um livro mais e outro me-
nos inspirado, tendo os mesmos graus de inspiração e autorida-
de.
Os cerca de quarenta autores humanos receberam a

11 A Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil é um documento oficial


elaborado pela CGADB - Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, publicado
em 2017 na Convenção Geral em São Paulo/SP, que se posiciona sob 24 temas e que é o
norte teológico da denominação no Brasil.
50
Convenção Unida Internacional Introdução Bíblica

inspiração única com o objetivo de registrar “A Palavra de Deus”,


depois, nunca mais. Podemos então dizer que, de certa forma,
aquela inspiração não se repete mais, cessou totalmente. A ins-
piração da Bíblia foi exclusiva. Qualquer homem que reivindicar
para si a mesma autoridade da Bíblia é um falso profeta. A ins-
piração dos escritores bíblicos foi única e, para aquele propósito,
não se repete mais. O cânon está fechado! Um livro que recla-
me para si inspiração na mesma autoridade das Escrituras deve
ser rejeitado e considerado “outro evangelho” (Gl 1.8). Hoje, os
escritores têm a ajuda do Espírito Santo para produzirem suas
obras iluminando, capacitando, etc., mas não inspirando como
os “homens santos de Deus”, estes foram singulares e, uma vez
que o último livro foi escrito, a torneira se fechou e nunca mais
se abriu.

Teorias da Inspiração da Bíblia


O homem escreveu as mais diversas teorias para expres-
sar seus entendimentos ainda que alguns desses tenham sido
rechaçados por não condizerem com a ortodoxia teológica. Al-
gumas teorias demonstram a incapacidade humana de produzir
tamanho volume como a Bíblia, provando, portanto, que esse
livro é sob inspiração divina. Vejamos agora algumas dessas teo-
rias.

Teoria da Inspiração Dinâmica


Essa teoria afirma que Deus concebeu uma revelação gra-
dual que não difere em essência, mas em grau, ou seja, que al-
guns livros não seriam inspirados na mesma medida que seriam
os livros doutrinários. Raimundo de Oliveira diz que “esta teo-
ria rejeita a ideia duma operação direta do Espírito Santo sobre
a produção dos livros da Bíblia, isto é, uma operação que teria
como propósito específico a produção desses livros, e põe em seu
lugar a ideia duma inspiração geral dos escritores”.

Teoria do Ditado ou Mecânica


Afirma que os escritores humanos foram apenas ama-
nuenses que escreviam o que Deus mandava. Essa teoria torna-
-se insustentável, pois “a Bíblia mesma dá prova de que os seus
51
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

escritores não eram meros instrumentos passivos na produção


dos seus livros, mas sim eles eram autores no verdadeiro sentido
da palavra. Em alguns casos os escritos da Bíblia são resultados
de investigações históricas. Noutros casos os autores registram
as suas próprias experiências pessoais. Cada escritor tinha estilo
próprio. O estilo de Isaías não é como o de Ezequiel, nem o estilo
de Paulo é como o de Pedro.”

Teoria da Inspiração Natural


Afirma que a Bíblia foi escrita por homens com capacida-
des elevadas no intelecto, nivelando os escritores sacros a gran-
des gênios como Skakespeare, por exemplo. Essa teoria é falsa,
pois, como diz Antônio Gilberto, ela “nega o sobrenatural. É um
erro fatal de consequências imprevisíveis para a fé. Os escritores
da Bíblia reivindicam que era Deus quem falava através deles (2
Sm 23.2 com At 1.16; Jr 1.9 com Ed 1.1; Ez 3.16,17; At 28.25, etc)”.

Teoria da Inspiração Mística ou Iluminação


Afirma que cada crente tem sua iluminação diferindo na
intensidade, uns mais, outros menos, o que faz com que cada um
tenha uma elevação religiosa.
Isso faz com que a inspiração bíblica dependa da compre-
ensão humana a partir da sua “experiência religiosa”.

Teoria da Inspiração dos Conceitos e não das palavras


Afirma que Deus inspirou apenas as ideias e não as pa-
lavras, e essas ficaram por conta dos autores humanos. Não, os
escritores bíblicos foram auxiliados do começo ao fim sem ne-
nhuma interferência humana. Tudo foi obra do Espírito Santo.

Teoria Verbal e Plenária


Afirma que o Espírito Santo agiu de forma sobrenatural
orientando e guiando nos registros sagrados. Segundo Claudio-
nor de Andrade, “Plenária: todos os livros da Bíblia, sem qual-
quer exceção, foram igualmente inspirados por Deus. Verbal: o
Espírito Santo guiou os autores não somente quanto às ideias,
mas também quanto às palavras dos mistérios e concertos do Al-
tíssimo”. Essa teoria é a mais aceita pelos estudiosos, entre eles
52
Convenção Unida Internacional Introdução Bíblica

os teólogos pentecostais.

A Declaração de Chicago
Em 1978, vários eruditos das mais distintas confissões
cristãs se reuniram para debater sobre o assunto da inspiração/
autoridade bíblica, em Chicago (EUA). O resultado daqueles de-
bates foi uma declaração ortodoxa da inspiração da Bíblia, co-
nhecida como a Declaração de Chicago, que transcrevemos a se-
guir um pequeno trecho.

A autoridade das Escrituras é a chave para a igreja cris-


tã em todos os séculos. Aqueles que professam a sua fé
em Jesus Cristo como o seu salvador e Senhor são intima-
dos a mostrar a realidade de seu discipulado através da
humanidade e da obediente fidelidade à Palavra escrita
de Deus. Rejeitar as Escrituras como a nossa regra de fé
e conduta constitui-se em deslealdade para com o nosso
Mestre. O reconhecimento inquestionável e irrestrito das
Sagradas Escrituras é essencial para a completa compre-
ensão e confissão de sua autoridade.

A Inerrância da Bíblia
A inerrância bíblica é uma doutrina de extrema impor-
tância, pois nela se alicerçam as bases da verdade da palavra de
Deus. Não teria como as Escrituras reivindicarem autoridade es-
piritual para si se ela fosse falha e registrasse inverdades.

Definição
Inerrância vem do latim inerrantía e significa, literalmen-
te,“qualidade daquilo que não tem erro; infalível”. Assim, dize-
mos que a Bíblia é inerrante porque nela não contém nenhum
erro. Por sua inspiração ser divina, logo se imuniza de qualquer
possibilidade quanto a essas falácias.
O teólogo pentecostal John R. Higgms assim define a
doutrina da inerrância das Sagradas Escrituras: “Embora os ter-
mos “infalibilidade” e “inerrância” tenham sido, historicamente,
quase que sinônimos do ponto de vista da doutrina cristã, mui-
tos evangélicos têm preferido ora um termo, ora outro. Alguns
53
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

preferem “inerrância” para se distinguirem dos que sustentam


poder a “infalibilidade” referir-se à veracidade da mensagem da
Bíblia, sem necessariamente indicar que a Bíblia não contém er-
ros. Outros preferem “infalibilidade” a fim de evitar possíveis
maus entendimentos em virtude de uma definição demasiada-
mente limitada da “inerrância”. Atualmente, o termo “inerrân-
cia” parece estar mais em voga que “infalibilidade”.

Relatos Difíceis
Honestamente reconhecemos que há relatos difíceis em
algumas passagens que demandam cuidados. O leitor da Bíblia,
por certo, já encontrou algumas passagens que, aparentemente,
coloca em dúvida a questão da inerrância das Escrituras. Quan-
do isso acontece, como por exemplo uma narrativa que consta
mentiras, incestos, estupros, etc., deve-se entender que não há
uma aprovação do ato, pois não é isso que aprova o livro sagrado
em todo o seu contexto. O que se deve levar em consideração é
que o registro do ato é verdadeiro, de fato existiu e foi como está
narrado, entretanto, não significa que os atos foram aprovados,
pois são condenáveis pela Palavra de Deus.
A própria Bíblia atesta a sua inerrância como divina em
algumas passagens:

Toda palavra de Deus é pura; ele é um escudo para os que


nele confiam, (Pv 30.5);
Seca-se a erva, e caem as flores, porém a palavra de nosso
Deus subsiste eternamente, (Is 40.8);
O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão
de passar, (Mt 24.35);
Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade, (Jo
17.17);
Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para
ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em
justiça, (2 Tm 3.16);
... é impossível que Deus minta (Hb 6.18).

A inerrância mais a infalibilidade (Jo 10.35) da Bíblia são


a certeza de que tudo o que está escrito tem a veracidade divina.
54
Convenção Unida Internacional Introdução Bíblica

Haroldo O. Brown diz que “muitas declarações bíblicas dizem


respeito a assuntos que não podem ser nem provados nem refu-
tados. Por outro lado, muitas alegadas contradições foram resol-
vidas ou consideravelmente diminuídas por uma exegese com-
petente. Isso se aplicaria, por exemplo, a aparentes discrepâncias
nas genealogias de Jesus (Mt 1; Lc 3), às diversas narrativas da
conversão de Paulo (At 9; 22; 23) e a supostos erros de fatos –
como a referência ao coelho como um animal ruminante (Lv 11.6)
e ao sol ter parado sobre a cidade de Gibeão (Js 10.12–14). Embo-
ra ainda haja dificuldades lógicas e científicas, é impossível dizer
se tais dificuldades são, estritamente falando, erros ou apenas
contradições aparentes, falhas do copista ou do tradutor, ou um
problema de intervalo histórico e retórico entre o escritor e o lei-
tor”.
Brown ainda prossegue: “nenhuma teoria, seja da teo-
logia seja da ciência, é sempre inteiramente destituída de difi-
culdades. J. C. Ryle, bispo evangélico de Liverpool (Inglaterra),
disse: “as dificuldades que cercam quaisquer outras teorias da
inspiração são dez vezes maiores que qualquer dificuldade que
cerque a nossa”.

Testemunhos de Alguns Pais da Igreja


Na história eclesiástica há alguns testemunhos de ho-
mens de Deus que corroboraram a crença da inerrância das Es-
crituras Sagradas.
Irineu (130-202): “as Escrituras são perfeitas, pois foram
faladas pelo Verbo de Deus e pelo Seu Espírito”.
Atanásio (295-373): “estes são mananciais da salvação (...)
que ninguém lhes acrescente ou deles retire seja o que for”.
Agostinho (354-430): “as consequências mais calamitosas
devem seguir o acreditar que qualquer coisa falsa é achada nos
livros sagrados – isto quer dizer que os homens, através de quem
a Escritura foi dada a nós [em forma escrita], colocaram nestes li-
vros qualquer coisa falsa. Se uma vez tu permitires nesse templo
alto da autoridade uma declaração falsa, nenhuma sentença será
deixada nestes livros.”
Anselmo (1033-1109): “além disso, este próprio Deus-
-homem [Cristo] estabeleceu o Novo Testamento e confirmou o
55
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

Velho [Testamento]. Por isso, assim como é necessário afirmar


que Ele mesmo era verdadeiro, também ninguém pode negar a
verdade de qualquer coisa incluída nestes Testamentos”.
Tomás de Aquino (1224-1274): “as Sagradas Escrituras,
porém, devem manifestar a verdade de modo eficaz, sem erro de
qualquer espécie. (...) Nada falso pode estar sob o sentido literal
da Escritura.”
Martinho Lutero (1483-1546): “tenho aprendido a dar
honra [isto é, infalibilidade] somente aos livros que são do câ-
non, a fim de que eu creia com confiança que nenhum de seus
autores errou.”

Documentos Confessionais Sobre a Inerrância


Alguns importantes documentos são baseados ou susten-
tam a inerrância bíblica em sua explanação doutrinária.

Confissão Belga, 1561


Confessamos que a palavra de Deus não foi enviada nem
produzida “por vontade humana, mas homens falaram da parte
de Deus, movidos pelo Espírito Santo”, como diz o apóstolo Pe-
dro (2 Pe 1.21).
Depois, Deus, por seu cuidado especial para conosco e
para com a nossa salvação, mandou seus servos, os profetas e os
apóstolos escreverem Sua palavra revelada (Ex 34.27; Sl 102.18;
Ap 1.11,19). Ele mesmo escreveu com o próprio dedo as duas
tábuas da lei (Ex 31.18). Por isso, chamamos estas escritas: sagra-
das e divinas Escrituras (2 Tm 3.16).”

Confissão de Westminster, 1647


I. Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da
providência de tal modo manifestem a bondade, a sabedoria e o
poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, contudo não
são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da Sua
vontade necessário para a salvação; por isso foi o Senhor servi-
do, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar
à sua Igreja aquela Sua vontade; e depois, para melhor preser-
vação e propagação da verdade, para o mais seguro estabeleci-
mento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia
56
Convenção Unida Internacional Introdução Bíblica

de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever


toda. Isto torna indispensável a Escritura Sagrada, tendo cessa-
do aqueles antigos modos de revelar Deus a Sua vontade ao seu
povo.” (Sl 19. 1-4; Rm. 1.32, e 2.1, e 1.19-20, e 2.14-15; 1 Co 1.21, e
2.13-14; Hb 1.1-2; Lc. 1.3-4; Rm. 15.4; Mt 4.4, 7, 10; Is 8.20; 1 Tim.
3.15; 2 Pe 1.19).
II. Sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus
escrita, incluem-se agora todos os livros do Velho e do Novo
Testamento, que são os seguintes, todos dados por inspiração de
Deus para serem a regra de fé e de prática...”

Trinta e Nove Artigos da Religião, 1563


“A Escritura Sagrada contém todas as coisas necessárias
para a salvação; de modo que tudo o que nela não se lê, nem por
ela se pode provar, não deve ser exigido de pessoa alguma seja
crido como artigo de Fé ou julgado como requerido ou necessá-
rio para a salvação. Pelo nome de Escritura Sagrada entendemos
os Livros canônicos do Velho e Novo Testamento, de cuja
autoridade jamais houve qualquer dúvida na Igreja.”

Confissão Batista de New Hampshire, 1832


“Cremos que a Bíblia Sagrada foi escrita por homens di-
vinamente inspirados, e é um perfeito tesouro de instrução ce-
lestial; que tem Deus como seu autor, salvação como seu fim, e
verdade sem qualquer mistura de erro como seu conteúdo; que
ela revela os princípios pelos quais Deus nos julgará; e por isso é,
e continuará sendo até o fim do mundo, o verdadeiro centro da
união cristã, e o supremo padrão pelo qual toda conduta, credos,
e opiniões humanas devem ser julgados.”

Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil, 2017


“Nossa declaração de fé é esta: cremos, professamos e
ensinamos que a Bíblia Sagrada é a Palavra de Deus, única re-
velação escrita de Deus dada pelo Espírito Santo, escrita para a
humanidade e que o Senhor Jesus Cristo chamou as Escrituras
Sagradas de a “Palavra de Deus”; que os livros da Bíblia foram
produzidos sob inspiração divina: “Toda a Escritura é inspirada
por Deus e útil” (2 Tm 3.16 – ARA). Isso significa que toda a Es-
57
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

critura foi respirada ou soprada por Deus, o que a distingue de


qualquer outra literatura, manifestando, assim, o seu caráter sui
generis. As Escrituras Sagradas são de origem divina; seus auto-
res humanos falaram e escreveram por inspiração verbal e ple-
nária do Espírito Santo: “Porque a profecia nunca foi produzida
por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus
falaram inspirados pelo Espírito Santo” (2 Pe 1.21).
Deus soprou nos escritores sagrados, os quais viveram
numa região e numa época da história e cuja cultura influenciou
na composição do texto. Esses homens não foram usados auto-
maticamente; eles foram instrumentos usados por Deus, cada
um com sua própria personalidade e talento. A inspiração da Bí-
blia é especial e única, não existindo um livro mais inspirado e
outro menos inspirado, tendo todos o mesmo grau de inspiração
e autoridade. A Bíblia é nossa única regra de fé e prática, a iner-
rante, completa e infalível Palavra de Deus: “a lei do SENHOR é
perfeita” (Sl 19.7). É a Palavra de Deus, que não pode ser anula-
da: “e a Escritura não pode falhar” (Jo 10.35 – ARA).”
Cremos da Convenção Unida Internacional - Igreja Uni-
da, 2021:
Cremos na Bíblia Sagrada, como inspirada por Deus, sen-
do, portanto, infalível e inerrante, tendo-a como única re-
gra de fé e prática”.

58
Capítulo 5

As traduções da Bíblia

Originalmente a Bíbli foi escrita em hebraico, grego e al-


gumas porções em aramaico como já vimos anteriormente. Para
disponibilizar a Bíblia em 6.912 idiomas existente no mundo, só
através de uma tradução para o idioma nativo.
Antes de prosseguirmos, vamos definir dois termos per-
tinentes: tradução e transliteração. O primeiro é o processo de
converter uma língua em outra. O segundo é a versão das pa-
lavras em certa língua para as letras correspondentes de outra
língua.
Claro que temos muitas traduções, mas citaremos as que
consideramos mais importantes, deixando em aberto o interesse
pelos estudos das traduções por parte dos leitores.

A Septuaginta
Septuaginta significa “setenta”. É conhecida pela abrevia-
ção LXX em algarismos romanos, às vezes é chamada de “Versão
Alexandrina”. É conhecida por esse nome por ter sido uma tra-
dução feita por setenta e dois sábios (6 sábios de cada tribo (12)
de Israel; 12x6=72).
Essa tradução foi a primeira feita da Bíblia hebraica
quando traduziram todo o Antigo Testamento para a língua gre-
ga. Isso foi necessário por causa do enfraquecimento da língua
hebraica diante do aramaico. Quando Alexandre, o Grande, es-
tabeleceu seu império em 331 a.C., as dimensões do poder grego
foram enormes, o seu poder de influência foi tamanho que não
teve alternativa, senão traduzir as Escrituras originalmente em
59
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

hebraico para a língua do momento, o grego. Essa tradução foi


feita na cidade de Alexandria, no Egito, no reinado de Ptolomeu
II, em 285 a.C.

A Vulgata Latina
Essa tradução foi feita por Sofronius Eusebius Hierony-
mus, mais conhecido por Jerônimo, que traduziu possivelmente
com base na Septuaginta, ou nos textos vetus latina, ou ainda,
um ex novo.
Como no caso da Septuaginta, onde o hebraico perdeu
força, dessa feita o grego, no século III d.C., perdeu força para o
latim nos domínios do império romano. Dâmaso, bispo de Roma
(366-384 d.C.), inconformado com tantas versões e traduções,
pois isso dificultava um ensino homogêneo na igreja, solicitou a
Jerônimo (347–420), erudito no latim, grego e hebraico, que fizes-
se a tradução para a língua do império, pedido concluído em 405
d.C. Essa tradução ficou conhecida como “versio vulgata”, uma
versão popular na língua do povo, que durou vinte anos para ser
concluída. No Concílio de Trento (1545-1574), a igreja romana a
proclamou como autêntica, aderindo como versão oficial, e as-
sim foi até o Concílio Vaticano II, entre 1962 a 1965, convocação
feita pelo papa João XXIII para debater sobre os rumos da igreja
romana.

King James
Logo após as Reformas de Henrique VIII na igreja da In-
glaterra, não reconhecendo a autoridade papal, a igreja não refor-
mou por completo, ainda mantinha ensinos da igreja romana. E
isso gerava tensão, principalmente entre anglicanos e puritanos.
Enquanto os anglicanos haviam se conformado com a situação
da igreja, os puritanos queriam uma “purificação” mais intensa.
Os anglicanos usavam a Bíblia dos Bispos, que, após passar por
um processo de revista, foi publicada em 1568; e os puritanos, a
Bíblia de Genebra, que, além de ser uma bela obra, continha os
ensinamentos de Calvino. Essa Bíblia foi resultado da tradução
latina do reformador francês Thedodoro Beza, sucessor de Calvi-
no, e do grego, por William Whittingham (1524– 1579), a pedido
dos ingleses exilados em Genebra, Suíça.
60
Convenção Unida Internacional Introdução Bíblica

Para resolver essas tensões intermináveis e desgastantes, o rei


Tiago (King James) I, em 1607, ajuntou uma comissão de 54 eru-
ditos dos dois grupos para fazerem uma revisão profunda da
Bíblia. Entretanto, essa comissão não fez uma revisão, mas uma
tradução direta do hebraico e grego, resultando, assim, na fa-
mosa tradução que conhecemos hoje como Versão do Rei Tiago
(King James Version), publicada em 1611.
Philip Wesley Comfort diz que “a “King James Version“
se constitui em um pequeno monumento da prosa inglesa, por
causa do seu estilo gracioso, linguagem majestosa e ritmos poé-
ticos.”

Tradução de Lutero
O reformador alemão, Martinho Lutero, enquanto estava
refugiado no castelo de Wartburg, traduziu as Escrituras para a
língua do seu país. Por volta de 1521-1522, traduziu o NT do gre-
go para o alemão popular, e o AT levou cerca de 11 anos. Depois
de onze anos de trabalho, concluiu a tradução do AT em 1534.
“A tradução de Martinho Lutero não foi a primeira Bíblia em
alemão. Entre 1466 e 1522, pelo menos 14 edições da Bíblia em
alemão mais erudito e 4 para o alemão mais popular circularam
na região. Mas a de Lutero foi maior que todas elas.”
A Bíblia de Lutero revolucionou a Alemanha de sua épo-
ca; até em nossos dias se fala que sua versão influenciou a gramá-
tica alemã. O seu trabalho foi um legado para toda a posteridade
reconhecido mundialmente.

Traduções de Wycliffe e Tyndale


João Wycliffe (1330-1384), professor em Oxford, Inglater-
ra, fez um trabalho gigantesco. Com o intento de dar a Bíblia
na língua do seu país, traduziu para o inglês tendo como base
a Vulgata Latina de Jerônimo. Essa obra foi antes da invenção
da impressa, que só veio em 1454 na Alemanha, quando, então,
outro inglês, influenciado pela tradução de Lutero, deixou o seu
país em 1524 e foi para a Alemanha no intuito de fazer a tradu-
ção. Esse homem foi William Tyndale (1494-1536), mestre em Ar-
tes na Universidade de Oxford, Inglaterra. Ele traduziu o Novo
Testamento baseado no “idioma” que Wycliffe havia reunido,
61
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

imprenso na Alemanha em 1536. Tyndale fez a tradução até o


livro de Crônicas devido às perseguições. Deixou seu amigo João
Rodger incumbido de concluir. Assim, em 1537, toda a Bíblia de
Tyndale foi impressa. William Tyndale foi preso e, no dia 6 de
outubro de 1536, queimado em praça pública depois de ter sido
encontrado por líderes romanos.

A Bíblia em Português
Na língua portuguesa temos registros do século XIII-XIV
com os imperadores portugueses que empreenderam a tradução
da Bíblia para seu vernáculo. Apesar das tentativas, sempre fo-
ram trabalhos incompletos, como, por exemplo, D. Diniz (1279-
1325), rei de Portugal, que foi o primeiro a traduzir para o Portu-
guês, labor que só completou os vinte capítulos de Gênesis.
Vários são os exemplos de obras incompletas na língua
portuguesa:
D. João I (1385-1433), que traduziu o livro de Salmos e pa-
trocinou padres eruditos para esse trabalho, que só traduziram
os Evangelhos, o livro de Atos e as Epístolas de Paulo.
Dna Felipa, filha de D. Pedro, traduziu os Evangelhos,
com base no francês.
Dna. Leonora, esposa de D. João II, patrocinou a obra de
Valentim Fernandes, em 1495, que fora a primeira harmonia dos
evangelhos em língua portuguesa. Dna. Leonora ainda mandou
imprimir, cinco anos após o descobrimento do Brasil, o livro de
Atos, as epístolas de Tiago, Pedro, João e Judas do frei Bernardo
de Brinega.

João Ferreira de Almeida


Foi com João Ferreira de Almeida, conhecido pela sigla
JFA, que a língua portuguesa subiu de patamar com a tradução
das Escrituras. Este português, nascido em Torres de Tavares,
próximo a Lisboa, em 1628, ainda novo, aos doze anos, mudou-
-se para a Ásia. Depois de morar dois anos na Batávia (atual Ja-
carta), na Indonésia, transferiu-se para Málaca, na Malásia.
Um ano depois de convertido já pregava o evangelho em
muitos lugares na costa de Malabar. Casado com Lucretia Valcoa
de Lemmes (ou Lucrécia de Lemos) e pai de um casal, se conver-
62
Convenção Unida Internacional Introdução Bíblica

teu do catolicismo para o protestantismo depois de ter lido um


folheto em espanhol sobre as diferenças do cristianismo.
Conhecedor das línguas originais, hebraico e grego, ini-
ciou a tradução para a língua portuguesa, sendo que, em 1676,
o Novo Testamento estava pronto, mas, só em “1681, a primeira
edição do Novo Testamento de Almeida finalmente saiu da gráfi-
ca. A impressão foi feita em Amsterdã, na Holanda, na tipografia
da viúva J. V. Zomeren”. Marcus Braga diz que “a tradução de
Almeida continha milhares de erros, a maior parte deles produ-
zida pela comissão de eruditos que tentavam harmonizar o tex-
to em português com a tradução holandesa de 1637. O próprio
Almeida compilou uma lista de mais de dois mil erros, e outro
revisor, Ribeiro dos Santos, afirmou ter encontrado um número
ainda maior. É importante salientar, todavia, que Almeida pre-
parou uma tradução literal e que dispensou demasiado cuidado
em harmonizá-la com as versões castelhana e holandesa. Além
de ter-se baseado no Textus Receptus, foi influenciado pela edi-
ção de Beza, que pertence aos manuscritos “ocidentais”. Dando
sequência a esse labor, JFA iniciou a tradução do AT e, em 1683,
ele completou a tradução do Pentateuco. Já com a saúde debili-
tada, ainda conseguiu traduzir o AT até Ezequiel 48.21, vindo a
falecer em 6 de agosto de 1691. Braga diz que, em “1748, o pastor
Jacobus op den Akker, da Batávia, retomou o trabalho interrom-
pido por Almeida e, cinco anos depois, em 1753, concluiu o tra-
balho, publicando o Antigo Testamento”. A Bíblia completa em
um único volume só foi publicada em 1819. A edição de 1898,
feita na Europa, viria a ser conhecida como “Revista e Corrigi-
da”. Em meados do século XX, no Brasil, o texto de Almeida foi
revisto e atualizado, e essa edição é conhecida como “Revista e
Atualizada”.
E, assim, a tradução João Ferreira de Almeida, com o pas-
sar dos anos, vem aprimorando em suas versões e, sem dúvida,
é a preferida por mais de 60% de cristãos brasileiros.

Tradução de Figueiredo
Outra tradução muito importante na língua portuguesa
foi a do padre português Antônio Pereira de Figueiredo, nascido
em 14 de fevereiro de 1725, em Tomar, próximo a Lisboa, Por-
63
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

tugal. Ele gastou dezoito anos para traduzir o Novo Testamento


com base na Vulgata. A primeira edição do NT em seis volumes
saiu em 1778. O AT foi publicado em dezessete volumes em sua
primeira edição de 1783 a 1790. Só em 1821 que foi publicada em
um só volume.
A Tradução de Figueiredo é considerada um monumento
para a língua portuguesa devido ao seu vasto conhecimento do
vernáculo como filólogo e latinista, mas o que pesa contra essa
tradução é que Figueiredo, por não conhecer os originais, se ba-
seou na Vulgata, como também a inclusão dos livros apócrifos, o
que faz dele ser bem aceito pelos católicos romanos.

A Bíblia no Brasil
Pelo que consta nos anais, foi em São Luís, no estado do
Maranhão, que tivemos o primeiro texto produzido no Brasil.
Em 1847, o frei Joaquim de Nossa Senhora de Nazaré traduziu o
NT com base na Vulgata. Desde então, muitos fragmentos foram
traduzidos no Brasil. Em 1879, foi publicada A primeira edição
brasileira do Novo Testamento de Almeida. O padre Humberto
Rodhen foi o primeiro católico brasileiro a traduzir o Novo Tes-
tamento com base no grego, mas sua tradução sofreu várias crí-
ticas. Em 1917, foi publicada a Tradução Brasileira, sob a direção
do Dr. H. C. Tulcker, obra de valor inestimável, sem, contudo,
cair no gosto popular. Em 1932, o padre Matos Soares, com base
na Vulgata, traduziu a Bíblia e, por ter notas em defesa dos dog-
mas romanos, é bem apreciada pelos católicos, o que também
recebeu apoio papal em 1932.
Com a chegada das Sociedades Bíblicas no Brasil, outros
trabalhos de tradução de Bíblias foram empregados, como, por
exemplo, a revisão de JFA, dando origem à Edição Corrigida e
Revisada ao Texto original, pela Sociedade Bíblica Trinitariana
do Brasil, em 1969, em São Paulo. Em 1943, as Sociedades Bí-
blicas Unidas, através de um grupo de eruditos, melhoraram a
tradução de Almeida. Em 1948, a Sociedade Bíblica do Brasil foi
organizada e fez duas revisões no texto de Almeida, uma mais
profunda, conhecida como Edição Revista e Atualizada no Brasil,
e outra menos aprofundada, conservando o nome Corrigida. Em
1967, a Imprensa Bíblica Brasileira, criada em 1940, publicou a
64
Convenção Unida Internacional Introdução Bíblica

Edição Revisada de Almeida. Em 1988, a Sociedade Bíblica do


Brasil publicou a Bíblia na Linguagem de Hoje. A Editora Vida,
em 1990, publicou a Edição Contemporânea da Bíblia de Almei-
da. A Sociedade Bíblica Internacional patrocinou a Nova Versão
Internacional nos anos 2000.

Datas marcantes – Sociedade Bíblica do Brasil


Em termos de publicação da Bíblia completa, em língua
portuguesa, as principais datas são as seguintes:
1753: Tradução de João Ferreira de Almeida, em dois vo-
lumes.
1790: Tradução de João Ferreira de Almeida, em dois
volumes.
1819: Primeira impressão da Bíblia completa em portu-
guês, em um único volume. Tradução de João Ferreira de
Almeida.
1898: Revisão da tradução de João Ferreira de Almei-
da, que recebeu o nome de Almeida Revista e Corrigida
(ARC).
1917: Tradução Brasileira. Elaborada a partir dos originais,
foi produzida durante 15 anos por uma comissão de espe-
cialistas e sob a consultoria de alguns ilustres brasileiros,
como Rui Barbosa, José Veríssimo e Heráclito Graça. Foi a
primeira tradução completa da Bíblia feita no Brasil.
1932: Tradução de Matos Soares, feita em Portugal, a par-
tir do texto latino.
1956: Conclusão da revisão e atualização do texto de Al-
meida, no Brasil, conhecida como Almeida Revista e Atu-
alizada (ARA).
1957: Bíblia Sagrada Ave-Maria, publicada pela Editora
Ave Maria.
1959: Tradução dos Monges Beneditinos. Elaborada a par-
tir dos originais para o francês, na Bélgica, e traduzida do
francês para o português.
1968: Tradução dos Padres Capuchinhos. Elaborada em
Portugal, a partir dos originais.
1981: Bíblia de Jerusalém, publicada pela Editora Paulus,
feita a partir do francês (com revisão em 2002).
65
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

1981: A Bíblia Viva, da Editora Mundo Cristão. Revisada


em 2010, com o título Nova Bíblia Viva.
1983: Bíblia Vozes, feita no Brasil a partir dos originais.
1988: Bíblia na Linguagem de Hoje. Feita no Brasil, pela
Sociedade Bíblica do Brasil, a partir dos originais. O Novo
Testamento havia sido publicado em 1973.
1993: Revista e Atualizada, 2ª edição, de João Ferreira de
Almeida, pela Sociedade Bíblica do Brasil.
1993: A Bíblia Sagrada em Português Corrente, feita em
Portugal.
1995: Revista e Corrigida, 2ª edição, de João Ferreira de
Almeida, pela Sociedade Bíblica do Brasil.
2000: Nova Tradução na Linguagem de Hoje, pela Socie-
dade Bíblica do Brasil. (Para esta edição, houve uma cui-
dadosa revisão do texto do Novo Testamento. O texto do
Antigo Testamento é essencialmente o mesmo da primeira
edição, de 1988).
2001: Nova Versão Internacional, publicada pela Editora
Vida e Sociedade Bíblica Internacional.
2001: Bíblia Sagrada, tradução oficial da CNBB (Conferên-
cia Nacional dos Bispos do Brasil).
2002: Bíblia do Peregrino, tradução de Luís Alonso
Schökel, publicada pela Ed. Paulus.
2009: A Bíblia para Todos (revisão da Bíblia em Português
Corrente), feita em Portugal.

É um presente de Deus para a língua portuguesa e de


todos os idiomas que podem ter as Escrituras em seu vernáculo.
É verdade que há muito trabalho a ser feito quanto às traduções,
o que se torna um grande desafio para a igreja, mas, enquanto as
sociedades bíblicas e eruditos trabalham nesse mister, sejamos
gratos a Deus por tamanho privilégio de ler a Sua Palavra em
nossa língua materna.

66
Conclusão

Uma vez que conhecemos um pouco mais sobre esse li-


vro santo, que acreditamos ser a palavra de Deus, portanto, ins-
pirado pelo Espírito Santo conforme o testemunho apostólico,
precisamos honrá-lo como merece.
Alguém disse que demonstramos o nosso amor a Deus
pela forma com que honramos a Sua Palavra, concordo total-
mente. Deus nos deixou a Sua Palavra escrita para o benefício
não só do Seu povo, mas de todas as pessoas, pois são elas que
testificam de Jesus, o salvador do mundo, e, por isso, ela deve
ocupar lugar central na igreja coletivamente e em cada membro
individualmente.
Conhecemos um pouco sobre a história desse livro sagra-
do, viajamos nos principais capítulos da Bibliologia que foram
suficientes para nos dar uma visão panorâmica da Bíblia tanto
quanto o livro como também a sua mensagem, que reconhece-
mos ser inspirada por Deus.
O propósito dessa Introdução Bíblica não foi falar exaus-
tivamente nem fazer apologias profundas, mas trabalhar os prin-
cipais capítulos no que tange à formação da Bíblia. Temos um li-
vro riquíssimo que merece todo esforço ao ser estudado por uma
perspectiva formativa pela qual passou para finalmente chegar à
forma final que temos em mãos.
Bom pontuar que, apesar da perspectiva histórica, literá-
ria, etc., da Bíblia, ela não é importante meramente por isso, mas
sim pelo conteúdo quanto à inspiração divina. A Bíblia é o úni-
co livro no mundo que se pode dizer que é inspirado por Deus.
Quando o último livro da Bíblia foi escrito, a torneira daquela
inspiração singular se fechou e não se repetiu e nem se repete
mais. Muitos homens escreveram verdadeiras obras literárias e
até profundos devocionais, mas nenhum deles pôde
reclamar para si o selo de inspiração divina, esse só a Palavra de
Deus que está registrada no livro santo.
Deus nos deixou a Sua palavra para sermos guiados por

67
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

ela. Uma vez que o homem é convencido pelo Espírito Santo


quanto à sua necessidade de salvação, ele precisa conhecer o pla-
no salvífico de Deus para a humanidade, e isso só será possível
se ele conhecer a revelação de Deus nas Escrituras. Tendo isso em
vista, é imprescindível que a igreja sempre centralize a Palavra
de Deus, não meramente em um dia comemorativo, como o Dia
da Bíblia, mas em todas as suas ações, pois só assim teremos um
verdadeiro avivamento.
A Reforma Protestante desencadeou literalmente a Bíblia
das catedrais de marfim que, por séculos, escravizou os homens,
mas, por causa do grito corajoso de um homem, levantou-se um
grande exército, e hoje podemos desfrutar de um exemplar da
Bíblia, onde podemos nos alimentar diariamente da Palavra de
Deus, pois, como anunciou Jesus “nem só de pão viverá o ho-
mem, mas de toda a palavra de Deus” (Mt 4.4.).

68
Bibliografia

CARSON, D.A. Introdução ao Novo Testamento. Edições Vida


Nova.
COMFORT, Philip W. A Origem da Bíblia. CPAD.
FEE, Gordon & STUART, Douglas. Como ler a Bíblia livro por
livro. Vida Nova.
GILBERTO, Antônio. A Bíblia Através dos Séculos. CPAD.
_______________ Bíblia: O livro, a História e a Mensagem. CPAD.
GEISLER, Normam/NIX, William. Introdução Bíblica – Como a
Bíblia chegou até nós. Vida.
LIMPIC, Ted. De Onde Veio a Bíblia? Abba Press.
MEARS, Henrietta. Estudo Panorâmico da Bíblia. Editora Vida.
O que é a Bíblia? Uma introdução ao Livro da Fé Cristã. Socieda-
de Bíblica do Brasil.
RICHELLE, Matthieu. A Arqueologia e a Bíblia. Vida Nova.
69
Panorama do
PANORAMA DO
Antigo
ANTIGO TESTAMENTOT
Testamento
Sumário

Introdução ____________________________________________ 75
Capítulo 1: Pentateuco __________________________________ 77
Capítulo 2: Livros Históricos _____________________________86
Capítulo 3: Livros Poéticos ______________________________ 96
Capítulo 4: Livros Proféticos ____________________________105
Conclusão ___________________________________________ 125
Bibliografia __________________________________________ 127

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Introdução

O Panorama Bíblico é o estudo dos livros que compõem


a Bíblia Sagrada, que pode ser estudado na sequência natural
dos livros ou por Testamentos. Em nosso caso, ficaremos com a
segunda opção.
O Panorama do Antigo Testamento é o estudo de todos
os livros veterotestamentários da Bíblia, que é composta pelos
trinta e nove livros. Teceremos comentários sobre cada um dos
livros, obedecendo a suas divisões tradicionais. Esses comentá-
rios não se tratam de discussões exegéticas, mas de informações
básicas para conhecimento de cada livro estudado.
O objetivo deste estudo é conhecer cada livro da Bíblia
com seus respectivos autores, levando em consideração a época
e sua mensagem dentro do contexto profético. De forma sucinta,
objetivamos situar o autor, a data e o escopo de cada livro quanto
à sua mensagem, sem minúcias exegéticas.
Baseamos nossos estudos conforme a divisão tradicional
que os teólogos protestantes fazem da Bíblia, começando pelos
livros do Pentateuco, que é um longo escrito com ênfase na cons-
trução do povo de Israel.
Logo após, veremos os livros históricos que situam o
povo de Israel sob posse de Canaã, seu desenvolvimento como
nação e o início da monarquia, que foi antecedido pelo período
teocrático muito bem documentado no livro dos juízes. É entre
os livros históricos que há um grande número de livros anôni-
mos que se baseiam mais na tradição do que em evidências in-
ternas.
A poesia hebraica também é salmodiada entre os livros
da Bíblia na divisão dos livros poéticos. Nesses escritos fica evi-
dente a profundidade de espírito do povo hebreu, haja vista a
poesia nos livros de salmos e as reflexões em Eclesiastes e Pro-
vérbios. Os livros poéticos são provas da grandeza de Deus e da
pequenez humana, cantados em forma de poema daquilo que se

75
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

tem mais entranhado na essência do homem.


Na última divisão do AT temos um dos momentos mais
importantes de Israel: o profetismo. Interessante como os livros
proféticos revelam o poder das mensagens que cada profeta en-
tregou. Não eram mensagens vazias, mas cheia de autoridade
que confrontava a todos, do rei ao camponês. No Panorama do
Antigo Testamento, veremos que esses profetas foram dotados
de autoridade espiritual que ultrapassava os limites racionais da
capacidade humana. As mensagens deles eram objetivas e auda-
ciosas e desafiavam o povo a permanecer ou se voltar para Deus.
A divisão dos profetas é a maior divisão do AT, de Isaías a Mala-
quias, 17 livros, superando os históricos que são 12 livros. Entre
os livros proféticos, destacaremos as duas subdivisões que há.
O Antigo Testamento é a Bíblia Hebraica, pois os judeus
só reconhecem esses escritos como inspirados por Deus. Para nós
protestantes, ele é inspirado por Deus, mas é apenas a primeira
parte do livro sagrado, pois reconhecemos o NT de igual forma.
Desde Gênesis a Apocalipse, não atacaremos jamais a autentici-
dade das mensagens e, quando houver uma dúvida, preferimos
o caminho conservador, evitando quaisquer desvios que possam
comprometer levianamente a palavra de Deus. Queremos tão so-
mente conhecer cada livro, tendo em vista que todos eles foram
inspirados por Deus.

76
Capítulo 1

O Pentateuco

O Pentateuco, palavra grega que significa “os cinco ro-


los”, se refere aos cinco primeiros livros da Bíblia, a saber: Gê-
nesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Os judeus
chamam esses cinco livros de Torá, instrução. Os judeus têm no
Pentateuco/Torah autoridade infalível.
Apesar de a narração imperar nesses livros, eles apre-
sentam vários materiais, como histórias, leis, rituais, cerimônias,
registros, etc., o que valoriza o gênero literário no conjunto da
obra. Talvez por causa dessa diversidade, haja tamanha comple-
xidade interna nos registros claramente percebida na continui-
dade e descontinuidade dos relatos. Por exemplo, é visível que
há uma descontinuidade entre Gênesis 19.38 e 20.1, assim como
entre Êxodo 19.25 e 20.1. Segundo especialistas, como John E.
Hartley, professor do Antigo Testamento na Azusa-Pacific Uni-
versity, o decálogo que se encontra em Êxodo 20.1-17 distingue-
-se da narrativa de seu contexto literário (19.1-25; 20.1821). Além
disso, os próprios códigos legais não são agrupados sob nenhu-
ma ordem lógica. John Taylor diz que fica óbvio ao leitor que ele
contém uma grande variedade de material literário–narrativa,
leis, instruções rituais, sermões, genealogias, poesias que foram
reunidas de fontes diferentes. No entanto, significa que o mate-
rial foi cuidadosamente inserido numa estrutura narrativa, com
um propósito definido em mente e com objetivo identificável por
parte do autor ou editor.
Há, entre os teólogos liberais, dificuldade de aceitar a
literalidade dos 11 primeiros capítulos do Gênesis, preferindo
77
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

interpretar aqueles relatos como metáforas e sem nenhum com-


promisso como relato histórico. Encaixar esses capítulos como
alegórico compromete toda a narrativa da criação e da civiliza-
ção sob o prisma do criacionismo bíblico.
A narrativa do pentateuco é essencial não só para nos in-
formar quanto ao início de tudo dentro da história, como tam-
bém de mostrar o plano redentor cumprido em Jesus no Novo
Testamento. Após Gênesis 3, o relato é de uma civilização cor-
rompida pelo pecado e que se fez necessário Deus dar leis ao
povo, mostrando-lhes o caminho a ser seguido para instituir
uma árvore genealógica que fosse a linhagem do Salvador.
Cada livro tem as suas peculiaridades que juntas formam
uma unidade histórica com diversos fatos, em diferentes épocas,
que complementam a narrativa. Enquanto Gênesis narra o início
de tudo, Êxodo continua de onde Gênesis parou, no capítulo 50,
com a narrativa sobre o povo escravizado, seu desenvolvimento
e sua libertação; Levítico, por sua vez, é uma narrativa que fri-
sa a religiosidade de Israel; e os dois últimos livros, Números e
Deuteronômio, se dedicam à jornada do povo no deserto rumo a
Canaã.
Na sequência, veremos um sucinto panorama de cada li-
vro do Pentateuco.

O Livro de Gênesis
Data: 1445 – 1405 a.C.
Autor: tradicionalmente aceitamos que Moisés foi o es-
critor do Pentateuco, consequentemente do livro de Gênesis. En-
tretanto, há estudiosos que questionaram a sua autoria, como o
professor Johann Eichhorn. Mas, apesar da descrença quanto à
autoria mosaica, as evidências que apontam para Moisés são só-
lidas, o que leva a crer que, de fato, ele foi o escritor do Gênesis.
Fonte: a fonte para a escrita desse livro foi oral. As histórias con-
tadas foram coletadas por Moisés. E. F. Kevan diz que Moisés se
serviu de fontes para elaborar a sua obra, pois é bem provável
que a frase tão frequente, toledoth “estas são as gerações”, admi-
ta a utilização de fontes históricas por parte do autor. Ninguém
pode dizer com certeza se esta frase constitui um subtítulo que
indique a fonte da qual a informação foi derivada, embora seja
78
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento

de admitir, com reservas naturalmente, que Moisés esteve pre-


sente nessas fontes, talvez gravadas em tábuas de barro, e proce-
dentes de Noé, Sem, Terá e outros.
O primeiro livro escrito por Moisés e, consequentemen-
te, do Pentateuco, Gênesis, do hebraico Bereshit, significa “no
princípio” (Gn 1.1). “Gênesis”, como temos intitulado em nossas
Bíblias atualmente, foi uma obra da Septuaginta, que significa
“origem ou fonte”. Não podemos negar que esse título cai bem
para o livro em apreço, visto que se trata do início de tudo.
A divisão do livro de Gênesis não é complexa, pois pode-
mos dividir em duas partes principais: 1ª parte, capítulo 1 ao 11,
o início de tudo e, 2ª parte, capítulo 12 ao 50, a era patriarcal. No
total, o livro de Bereshit abrange da criação a José; há quem diga
que esse tempo é um período de 2.315 anos, de 4.004 a 1.689 a.C.
O livro trata da criação, do desenvolvimento da civilização, do
dilúvio universal, repovoamento com a família de Noé, o início
de um projeto de nação com a chamada de Abraão, patriarcados
de Isaque e Jacó, as doze tribos de Israel em Jacó e a história de
José, que cobre a maior parte do livro, capítulos 37–50.

O Livro de Êxodo
Data: 1445 – 405 a.C.
A história egípcia não menciona o Êxodo, mas, de acordo com
1 Rs 6.1, ele ocorreu 480 anos antes da construção do templo de
Salomão (inaugurado por volta de 970 a.C.). Ou seja, somando
tudo, chegamos ao ano de 1.450 a.C., segundo Kitchen.
Autor: Moisés.
A exemplo de Gênesis, Êxodo não fica livre dos ataques
da Alta Crítica quanto à autoria mosaica, ainda que a arqueolo-
gia tenha contribuído para confirmar que esse livro foi escrito
por Moisés. Leo G. Cox diz que, tomando por certo que um isra-
elita contemporâneo aos fatos tenha escrito as narrativas em Êxo-
do, é fácil deduzir que Moisés foi o autor. O autor não poderia ter
sido um israelita comum; ele era altamente talentoso, educado
e culto. Quem estava mais bem preparado entre todos estes es-
cravos que Moisés? Jesus afirmou que a lei foi escrita por Moi-
sés (Mc 1.44; Jo 7.19-22); seus discípulos também atestaram este
fato (Jo 1.45; At 26.22). Há evidências internas no próprio livro de
79
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

que Moisés escreveu certos trechos (17.14; 24.4). Connell escreve:


“nada no livro entra em conflito com a afirmação de Moisés ser
o autor. A menção frequente do nome de Moisés na terceira pes-
soa tem paralelos nos livros de Isaías e Jeremias. Além disso, o
registro do seu chamado no capítulo 3 contém as mesmas marcas
de autenticidade que as narrativas desses profetas.”
Esse livro do grego, exodo, significa saída e, do hebrai-
co, Shemót, é importante por sua narrativa desde Moisés à pe-
regrinação no deserto. Os quarenta capítulos contam a história
de uma nação sob escravidão, um libertador, o êxodo e a vida
social e religiosa de um povo. Provavelmente foi escrito durante
a trajetória no deserto.
Há discrepâncias quanto a quem foi o Faraó do Êxodo,
prevalecendo duas possibilidades. 1. Amenotepe II (1450-1420)
ou 2. Merneptá (1238-1229). Se for a primeira opção, então o fa-
raó seria Totmés III, e Hatchepsute, a responsável pela criação de
Moisés. Entretanto, se for a segunda opção, o faraó do Êxodo foi
Ramsés II, ambos faraós opressores.
No livro de Êxodo, temos a continuação de Gênesis, mas
dessa vez em outro cenário e circunstâncias. Agora, a narrati-
va cobrirá o sofrimento de um povo, entrelaçadas a esse relato
temos as histórias de Moisés, Arão, sumo sacerdote, sua irmã,
Miriam, como também Jetro, Josué, Bezalel. Vemos também o
Decálogo (dez mandamentos) mais todo o corpus da lei mosaica,
a narrativa da vida religiosa com a instituição do sacerdócio e
suas leis inerentes e, por fim, a inauguração do Tabernáculo no
capítulo 40.
K. A. Kitchen diz que o livro de Êxodo é a história do
nascimento de Israel como nação. É uma epopeia em que qua-
se tudo gira em torno de Moisés, o personagem central. Foi ele
quem tirou o povo do Egito, o “Êxodo” (a saída) que dá nome ao
livro. Por intermédio de Moisés, Deus deu a seu povo a norma
de vida, a lei, dando-se a eles e fazendo deles o seu próprio povo
num contrato duradouro (a aliança). Êxodo mostra Deus no con-
trole da história. Revela um Deus que pode ser conhecido; que
resgata os oprimidos; um Deus “santo” cuja bondade e justiça
são impressionantes.
J. C. Connell diz que o livro de Êxodo é o livro da reden-
80
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento

ção. O nome grego “Êxodo” (lit. “saída”) descreve aqui como


Deus tirou os filhos de Israel da escravidão no Egito; mas, por
redenção, compreendemos que o Redentor não apenas livra Seu
povo da escravidão, mas também coloca esse povo em relação es-
pecial consigo mesmo, fazendo dele Sua “propriedade peculiar”
(19.5). Connell ainda diz que as referências no Novo Testamento
justificam plenamente nossa posição que vê Cristo como “cum-
primento” deste livro. Nos milagres registrados, vemos “sinais”
da operação divina (conf. João 2.11), no concerto do Sinai vemos
um precursor da nova aliança, e na adoração do tabernáculo ve-
mos uma “sombra dos bens vindouros” (Hb 10.1).

O Livro de Levítico
Data: 1445 – 1405 a.C.
Autor: Moisés.
Há indícios internos de que Moisés de fato escreveu
esse livro, pois vinte dos vinte e sete capítulos começam com a
fórmula: “Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo”. Ocasional-
mente, diz Dennin F. Kinlaw, o texto diz que Deus falou com
Moisés e Arão (11.1; 13.1; 14.33;15.1). Pelo menos uma vez Deus
fala somente com Arão (10.8). A maior parte do material do livro
apresenta mensagens vindas diretamente de Deus para Moisés.
A perspectiva tradicional da igreja era de que Moisés deu esse
livro a Israel e, consequentemente, a nós.
O terceiro livro do Pentateuco tem esse nome oriundo da
Septuaginta, a versão dos setenta, Leveitikon. Em latim é Leviti-
cus e, em português, Levítico. Este livro são prescrições para os
sacerdotes. No grego, levítico significa “referente aos levíticos”.
Como bem disse John Phillip, “em Êxodo vemos como Deus tira
seu povo do Egito; em Levítico vemos como Deus tira o “Egito”
do povo. Êxodo inicia com pecadores; Levítico com santos”. A
temática de santidade é a tônica do livro.
Kinlaw esboça a mensagem desse livro da seguinte for-
ma:
1.Não é possível comunhão com Deus exceto com base na
expiação do pecado. Os capítulos iniciais de Levítico des-
crevem várias ofertas necessárias para que a expiação e a
comunhão sejam efetuadas.

81
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

2. O homem não pode expiar os próprios pecados. Faz-se


necessário um sistema de mediação. O papel dos sacerdo-
tes, os filhos de Arão, é desempenhado em cada trecho do
livro. O sistema pressupõe um mediador.
3.A expiação deve ser de acordo com o plano divino. Note
a porção apreciável de Levítico, que é discurso direto de
Deus. Repare no fim trágico de Nadabe e Abiú quando
cultuaram segundo padrões próprios em vez de seguir o
padrão de Deus, dado por Moisés.
4. Somente o bom, o limpo e o são (o perfeito) são aceitá-
veis como sacrifício a Deus. O homem não pode se aproxi-
mar de Deus de mãos vazias. Deus faz estipulação rígida
sobre o que lhe agrada.
5.As pessoas que andam com Deus devem ser santas, por-
que Ele é santo.
6.A comunhão com Deus envolve o compromisso da vida
total.
Pelo que se conclui do livro de Levítico, para todos aque-
les que se dizem servos de Deus é alto o padrão de exigência de
santidade, que não só se limita às exigências sacerdotais. Se é
para servi-lo, que sirvam em santidade, em toda forma de proce-
der.

O Livro de Números
Data: 1405 a.C.
Autor: Moisés.
Números, do hebraico bemidbar, significa “no deserto”,
do latim Numeri, conforme a Vulgata Latina. Bemidbar, além de
ser a quinta palavra hebraica do primeiro versículo, faz uma alu-
são aos trinta e oito anos de peregrinação no deserto, e Numeri,
talvez seja uma referência aos dois censos registrados nesse livro.
Números narra o período de peregrinação no deserto da penín-
sula do Sinai, que cobre um período de 38 anos.
É um livro que muito enfatiza a reação do povo de Israel
diante das dificuldades, é comum encontrarmos o povo murmu-
rando, por isso há quem sugere que esse livro chame de “As mur-
murações de um povo”. Mas não podemos perder de vista que,
por causa dessas murmurações, aquele povo sofreu as consequ-
82
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento

ências, pois o que era uma distância de 350 km se transformou


em 40 longos anos, além daquela geração morrer no deserto, ex-
ceto Calebe e Josué.
O Novo Testamento registra alguns paralelos: compare
João 3.14 com Nm 21.9; 1 Co 10.5-11 com Nm 14.29-35; 16.41-50;
20.1-13; 2 Pe 2.15-16 com Nm 22.24; Ap 2.14 com Nm 22.24; Jd 11
com Nm 16.

O Livro de Deuteronômio
Data: 1405 a.C.
Autor: Moisés.
Deuteronômio fecha o Pentateuco de Moisés. Essa pala-
vra do grego significa “segunda lei” ou “repetição da lei”, devi-
do à ênfase na lei dada no Sinai, em um chamado à obediência.
Agora, o povo está acampado na fronteira oriental de
Canaã, no vale de Betel-Peor, na região montanhosa de Moabe.
Moisés repete as leis para o povo enfatizando a obediência a
Deus. Nesse momento, o libertador de Israel está com cento e
vinte anos, próximo de sua partida.
Enquanto o livro de Êxodo, Levítico e Números são dire-
cionados aos sacerdotes, ao Tabernáculo e a tudo que girava em
torno dos levitas, o quinto livro do Pentateuco se estendia a to-
dos os judeus, chamando-os à obediência e à observância da lei.
O propósito desse livro é de lembrar aos velhos e informar aos
jovens acerca do concerto com o Senhor e das leis que compõem
a aliança. As ideias de G. T. Manley, condensadas em sete pon-
tos, são bem interessantes, pois ajudam a compreender melhor
esse livro.
1.Cativeiro e Redenção
Israel “não deve esquecer” (4.9) que foi “servo na terra do
Egito” (5.15), muitas vezes chamado “casa da servidão”
(5.6), e que daqui o Senhor o “reuniu” (7.8) “com mão forte
e com braço estendido” (4.34).

2. A Maravilhosa Herança
Deus “dá” ao seu povo uma “boa terra” (1.25), donde
“mana leite e mel” (6.3), como “jurara a seus pais “que a
haviam de “possuir” (1.8) como “herança” (4.21).

83
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

3. O Amor de Deus
Israel deve “amar” o Senhor, seu Deus (5.10) “com todo
o seu coração e com toda a sua alma” (4.29), porque Ele
o amara primeiramente na pessoa de seus antepassa-
dos (4.37). Deve ainda temê-lo (4.10) e “chegar-se” a Ele
(10.20). Quanto aos outros deuses (5.7), que não conhe-
ceram (11.28), devem “desfazer mesmo os seus nomes”
(7.24).

4. O Povo do Senhor
“Todo o Israel” (1.1) vai “ouvir” as palavras do Senhor
(5.1), já que se considera um “povo santo” e “escolhido”
(7.6). Como todos os membros são “irmãos” (1.16), há que
cuidar dos menos afortunados, dos “órfãos, das viúvas,
dos estrangeiros” (10.18).

5.O Altar do Senhor


Todos os presentes e sacrifícios serão levados ao “lugar”
que Ele “escolher” para ali fazer habitar o Seu nome (12.5,
11) e aí todos “se poderão alegrar” diante dele (12.7).

6. A Purificação do Pecado
Todos os “pecados” são condenados (15.9), especialmente
a idolatria que constitui uma “abominação” (7.25). Quanto
às penas a sofrer, não haverá piedade (13.8), de sorte que
o povo “ouça e tema” (13.11) e acabe por “tirar o mal do
meio dele” (13.5).

7. Promessa de Bênçãos
Não faltam promessas de “bênçãos” (7.13), quando chegar
a hora do “descanso” (3.20). A quem cumprir os manda-
mentos do Senhor (5.1), e ser-lhe-ão aumentados os dias
(4.26) e tudo lhe correrá bem (4.40). Mas ainda: “toda a
obra das suas mãos” será abençoada (2.7), comerá e far-
-te-á (6.11) e tudo “será conforme o desejo da sua alma”
(12.15).

O Pentateuco, livros de Gênesis, Êxodo, Levíticos, Núme-


84
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento

ros e Deuteronômio, os cinco primeiros livros da Bíblia escritos


por Moisés, mostra-nos a Criação e a formação de uma nação,
Israel, por um ato soberano, e os propósitos que Deus tem para
essa nação. A fidelidade do Altíssimo é vista em toda a trajetória
desse povo, mesmo em situações de murmurações dos hebreus,
Deus não alterou os seus desígnios para o seu povo, como é cla-
ramente perceptível nos livros canônicos citados, isso quer dizer
que as ações humanas não mudam a essência de Deus. Muito
mais que o povo, esses livros nos revelam Deus.

85
Capítulo
Capítulo22

LIVROS Históricos
Livros HISTÓRICOS

A segunda divisão da nossa Bíblia chamamos de Livros


Históricos, que compreende de Josué a Ester, doze livros.
Josué é o primeiro livro dos históricos por narrar a con-
quista de Canaã pelo povo de Israel, sob a liderança do filho de
Num. Ainda que a sequência da Septuaginta não esteja de acor-
do com a Hebraica, percebemos uma sequência lógica, ou seja,
o povo sai da escravidão egípcia e conquista Canaã, a terra da
promessa.
O desenvolvimento de toda essa história é visto com os
demais livros que registram momentos distintos de Israel, como
o livro de Juízes que nos informa momentos de cativeiros, apos-
tasias e libertações desse povo. Esses livros muito contribuem
para contextualizar a situação espiritual e política do povo de
Deus em diferentes ocasiões.
Essa divisão, livros históricos, é importante para saber-
mos o desenvolvimento do povo como nação mesmo em altos
e baixos, fiel e infiel e que, mesmo assim, Deus demonstrou seu
grandioso amor para com o seu povo, providenciando libertado-
res para os livrarem das mãos dos seus inimigos.
Enquanto no Pentateuco temos um povo que acabara de
sair do Egito e cuja formação se deu no deserto durante qua-
renta anos, nos históricos temos as conquistas não de escravos,
mas agora de uma nação livre. E, mesmo como nação, algumas
coisas ainda são vistas entre eles, principalmente a instabilidade
na lei do Senhor que, por diversas vezes, causou a apostasia ge-
ral. Mas, mesmo o povo em infidelidade, Deus levantou profetas
86
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento

para trazer o povo de volta. Os livros históricos descortinam a


sequência do estabelecimento do povo de Israel como nação, na
condição de um povo livre e em situação geográfica favorável.

O Livro de Josué
Data: a datação desse livro tem várias possibilidades. Uns
acham que a escrita desse livro não pode ser posterior a 1200 a.C.
e que há vestígios de fontes entre a morte de Josué e a época de
Samuel (1050). John Taylor diz que provavelmente a data desse
livro tenha sido na época dos primeiros reis de Israel (1045 a.C.),
durante a vida de Samuel, e antes de Davi tomar a cidade de Je-
rusalém. Donald Stamps data esse livro no século XIV, tendo por
base a invasão de Canaã por Israel nos meados de 1405.
Autor: alguns atribuem a autoria desse livro a um ancião
anônimo, outros, baseados na tradição judaica, Talmude, a Jo-
sué, sendo que as partes finais foram acrescentadas depois da
sua morte.
Josué, também conhecido como Oséias, era filho de Num,
da tribo de Efraim (Nm 13.8). Foi um dos doze espias que nas-
ceu no Egito. Tinha habilidade militar (Ex 17.8-13), acompanhou
Moisés na entrega da Lei (Ex 24.13) e sempre esteve presente
na liderança de Moisés, e Deus o escolheu para ser sucessor do
grande líder hebreu (Dt 31.14-15).
Esse livro abrange um período de vinte e quatro anos (30
anos?), da morte de Moisés até a morte de Josué. O livro do capi-
tão Josué trata da conquista de Canaã e a distribuição das terras,
o assentamento das tribos e, no capítulo vinte e quatro, há uma
informação muito importante que demonstra a situação espiritu-
al do povo: “serviu, pois, Israel ao Senhor todos os dias de Josué
e todos os dias dos anciãos que ainda viveram muito depois de
Josué e que sabiam toda a obra que o Senhor tinha feito a Israel”
(24.31). Isso mostra que a liderança de Josué foi fiel ao Senhor,
apesar de pequenos deslizes, muito mais por imprudências do
que por infidelidade.
O livro mostra a ida dos espias a Jericó (cap. 2), a pas-
sagem do Jordão (4-5), a circuncisão e a Páscoa depois do Egito
(cap. 5), a conquista de Jericó (cap. 6), a derrota e o pecado de Acã
(capítulo 7), a vitória sobre Ai, o engano dos gibeonitas e o so-
87
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

corro de Josué em favor de Gibeão (capítulos 9-10), Sol e Lua são


detidos (10.12-15), diversas vitórias de Josué (10.28-43, 11.123,
12.7-24).
A partir do capítulo quatorze, temos a segunda seção do
livro, com as divisões da terra, da qual podemos destacar a he-
rança de Calebe (capítulos 14), o único dos que saíram do Egito
que entrou na terra de Canaã, junto com Josué. O tabernáculo em
Siló (capítulo 18), as cidades de Refúgio (capítulo 20), exortações
finais (capítulos 23-24).

O Livro de Juízes
Data: Clyde Ridal fez uma observação interessante que
merece a nossa reflexão para situarmos a data desse livro, pois
diz que, se Isaías 9.4 é uma alusão a Juízes 7.21-25 (a derrota de
Midiã), o livro já existia no século VII a.C. Ainda diz que, se os
cananeus viviam em Gezer (1.29), devemos datar o livro como
anterior a 992 a.C., quando o faraó do Egito presenteou a filha
dele, uma das esposas de Salomão, com essa cidade (1 Rs 9.16).
Se os jebuseus ainda habitavam em Jerusalém (1.21), ele foi es-
crito antes de 1048, quando a fortaleza foi capturada por Davi.
Donald Stamps data cerca de 1050 a 1000 a.C.
Autor: Anônimo, ainda que haja tentativas de fixar nomes
ao relato desse livro. Já atribuíram a autoria a Finéias, Ezequiel,
Esdras. A tradição judaica atribui a Samuel.
O título Juízes é uma relação com os juízes que Deus le-
vantou para julgar Israel em um período anterior a Samuel, sen-
do este o último juiz. Esses juízes foram líderes militares e políti-
cos, que temporariamente lideravam o povo.
Enquanto o livro de Josué diz que o povo foi fiel até a
morte do seu líder, vemos a tragédia no livro de Juízes, por uma
geração que não conhecia ao Senhor, se apostataram e caíram
como juízo nas mãos dos inimigos. Foi um período de quatro-
centos e cinquenta anos (At 13.20), que abrange da morte de Jo-
sué à magistratura de Samuel.
Infelizmente, por algumas vezes o autor diz que “não ha-
via rei em Israel” (Jz 17.6; 18.1; 19.1) e que cada um fazia bem aos
seus próprios olhos (21.25), e a consequência, o livro relata, seria
tornarem-se presas fáceis nas mãos dos inimigos.
88
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento

O autor se preocupou em escrever os nomes dos juízes, como


Otniel e outros. É digno de se destacar que Débora foi a única
mulher que serviu como “juíza militar” nesse período. A nar-
rativa do livro gira em torno dos seus personagens centrais, que
foram os juízes.

Lista dos Juízes e Suas Tribos


Há divergências de quantos foram os juízes, talvez isso
seja pelo fato de não considerarem Eli e Samuel, que não cons-
tam nesse livro, mas no livro do profeta que leva o seu nome. Os
filhos de Samuel, Joel e Abias, por exemplo, são mencionados
como juízes de Israel em 1 Samuel 8.2. Vejamos os nomes dos
juízes nesse livro.

Otoniel, tribo de Judá, 1.11-15; 3.7-11.


Eúde, tribo de Benjamim, 3.12-30; 4.1.
Sangar, desconhecido a origem, 3.31; 5.6.
Débora, tribo de Efraim, 4-5.
Gideão, tribo de Manassés, 6-8.
Tola, tribo de Issacar, 10.1-2.
Jair, tribo de Manassés, 10.3-5.
Jefté, tribo de Manassés, 11-12.
Ibsã, tribo de Judá ou Zebulom, Jz 12.8-9.
Elom, tribo de Zebulom, 12.11-12.
Abdon, tribo de Efraim, 12.13-15.
Sansão, tribo de Dã, 13-16.

O Livro de Rute
Data: alguns consideram a sua data entre 1050 a 1000,
a.C.
Autor: anônimo, apesar de haver três possíveis autores,
Samuel, Ezequias ou Esdras.
A história do livro de Rute reporta a uma família dos
tempos dos juízes. Esse livro foi escrito após a coroação de Davi,
pois no final do livro temos sua genealogia.
Junto a Ester, são os únicos livros da Bíblia que levam
os nomes de mulheres. Esse livro faz parte dos rolos Meguilot
(“cinco rolos”), e esse precisamente era lido na festa de Pentecos-
89
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

tes.
“O livro de Rute fala-nos da família de Elimeleque, de Be-
lém, que emigrou para Moabe, acossado pela fome, e lá morreu
com seus dois filhos. Entretanto, a viúva Noemi volta à terra de
seus antepassados, levando consigo sua nora Rute, também vi-
úva, que insistiu em acompanhá-la. Aí encontraram um parente
próximo, Boaz, que voluntariamente assumiu a responsabilida-
de de Goel, o qual desposou Rute, que foi mãe de Obede, avô de
Davi”. Richard Bauckam diz que o livro de Rute nos dá uma vi-
são diferente do Israel antigo, visão esta que complementa, e até
corrige, a perspectiva essencialmente masculina que aparece nas
outras histórias do AT. Mas, com este ponto de partida, pode-
mos ver o resto da história do AT também através dos olhos das
mulheres, assim como já a vemos através dos olhos dos homens.
Podemos identificar passagens em Gênesis nas quais a perspec-
tiva das matriarcas substitui a dos patriarcas (Gn 16; 21.6-21;
29.31-30.24). Mesmo onde a perspectiva masculina é dominante,
podemos suprir a perspectiva feminina ao ler nas entrelinhas e
preencher as lacunas. Deste modo, o livro de Rute pode ter para
todos nós –homens e mulheres – a importante função de revelar
novas maneiras de ler o resto da história bíblica.

Os Livros de 1 e 2 Samuel
Data: apesar de haver dificuldades quanto à data desses
livros, provavelmente a data mais próxima seja por volta de 930
a.C.
Autor: o livro traz o nome do grande profeta Samuel, mas
isso não significa que tenha sido ele o escritor, mas apenas faz
referência a esse grande homem de Deus devido à sua proemi-
nência.
Bem possível que o escritor desses livros tenha usado
como fonte registros do próprio Samuel, pois em 1 Samuel 10.25
diz que ele colocou “perante o Senhor” o livro que ele escreveu.
Ainda em 1 Crônicas 29.29 há uma referência de um livro cha-
mado “crônicas de Samuel, o vidente”. Levando em conta que
os profetas também registrassem os fatos como historiadores,
bem possível que Samuel fizesse o mesmo e que outros o tenham
usado como fonte para um registro histórico. Além da fonte de
90
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento

Samuel, há também as “Crônicas do profeta Natã” e as “Crôni-


cas de Gade, o vidente” (1 Cr 29.29), visto que esses três homens
cobrem todo o período narrado no livro de Samuel.
Em nossas Bíblias, o livro de Samuel é dividido em dois
volumes, mas originalmente é um só. Com o término dos tempos
dos juízes, Samuel registra a monarquia com a coroação de Saul.
Há uma transição entre o livro de Juízes e os livros de Samuel.
Assim o livro não só revela a vida do profeta Samuel, como tam-
bém o início da monarquia com Saul e as notas biográficas sobre
Davi, o maior rei de Israel.

Os livros de 1 e 2 Reis
Data: Charles Pfeifer diz que o livro de 2 Reis termina
com a soltura de Joaquim de sua prisão de trinta e sete anos–
entre 562–561 a.C. O livro não poderia ter sido concluído antes
dessa data, nem muito depois de 536 a.C., o ano do retorno do
cativeiro da Babilônia, uma vez que nada narra sobre esse acon-
tecimento. Considerando que este livro é uma unidade e não o
produto de diversos autores em datas sucessivas, deve ser data-
do do período
entre 562-536 a.C.
Autor: não há consenso sobre a autoria do livro, surgindo
várias possibilidades, como Jeremias, Ezequiel, Isaías ou ainda
um dos profetas desconhecidos do cativeiro babilônico.
Os livros de Reis originalmente eram um só volume e a
sequência dos livros de Samuel. Essa história vai do final do rei-
nado de Davi e do período áureo do rei Salomão, passando pela
construção do templo e, posteriormente, à divisão das tribos en-
tre reino do Norte, Israel e reino do Sul, Judá.
O livro dos Reis narra a história dos líderes e a situação
espiritual, econômica, social e política da nação de Israel. Cobre
um período de aproximadamente cento e vinte anos. Através
desses registros sabemos quem foram os dezenove reis de Israel,
reino do Norte, e os vinte reis de Judá, reino do Sul.
Esse livro mostra claramente, sem nenhum interesse de
esconder as duas faces, o retrato de uma nação com sua liderança
piedosa ou ímpia. No meio dos ímpios, Deus sempre preservou
os seus, fato visto nesse período. Mas o livro mostra também a
91
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

recompensa dos caminhos de impiedade.


Dois profetas se destacam nestes livros, Elias e seu suces-
sor, Eliseu. Ambos foram os profetas que Deus usou para adver-
tir o povo de Israel a seguirem fiéis ao Senhor.

Os Livros de 1 e 2 Crônicas
Data: não há consenso quanto à data específica, mas au-
tores sugerem algumas possibilidades. H. L. Ellison diz que o
próprio livro de Crônicas, no capítulo 36.22, indica uma data ter-
minal existente, a saber, 537 a.C. Donald Stamps data em 450-420
a.C.
Autor: a tradição judaica diz que o escritor foi Esdras, o
escriba.
Como Reis, Crônicas também originalmente trata-se de
um volume único. Há uma forte lista de genealogias, como tam-
bém narra a morte de Saul e a história do rei Davi. No segun-
do livro temos a história de Salomão e o decreto de Ciro, rei da
Pérsia, para que os judeus reedificassem a cidade. Esses livros
abrangem um período de quinhentos e vinte anos, da morte de
Saul até o decreto de Ciro.
Bem provável que o autor desse livro baseia sua narrativa
em Samuel e Reis como fontes, além de várias incursões por ou-
tros livros do AT, como Gênesis, Êxodo, Números, Josué, Rute e
alguns dos Salmos.
Os leitores originais de Crônicas eram as pessoas que vol-
taram do exílio babilônico para reconstruírem Jerusalém sob a
liderança de Esdras e Neemias.
Crônicas representa o ponto de vista sacerdotal, diferente
de Samuel e Reis que focam no ponto de vista profético, pois em
Crônicas a preocupação é com a realização do que Deus deter-
minara ou não e, em Samuel e Reis, de como Deus tratou o seu
povo.

Os Livros de Esdras-Neemias
Data: 430 a 400 ou datas entre 330 - 300 a.C.
Autor: Esdras.
Esdras e Neemias são separados em nossas Bíblias como
dois livros distintos, entretanto, na Bíblia judaica são um só, com
92
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento

o nome de Esdras. Essa separação se deu pela primeira vez na


Vulgata Latina, por Jerônimo, em torno de 400 d.C. Logo, é acon-
selhável que sempre leiam os dois entendendo que se trata de
um único volume.
Do capítulo 1 ao 6 de Esdras há um período de vinte e três
anos. Entre os fatos narrados nos capítulos 6 e 7, há um intervalo
de quase sessenta anos. Esdras-Neemias tratam da situação do
povo e da cidade pós-cativeiro, com a permissão de Ciro, o rei
persa, para voltarem à cidade de Jerusalém.
Esdras-Neemias abrange um período de aproximada-
mente de cem anos (538-533). O que iniciou nos livros anteriores,
em Esdras-Neemias encerra a história do povo de Israel.
Esdras-Neemias descrevem o retorno de Israel do cati-
veiro babilônico em três etapas com três líderes distintos: Com
Zorobabel, em 538-537; com Esdras, oitenta anos depois, em 458;
e com Neemias em 445. Esse retorno só foi possível por causa
da conquista de Ciro, rei da Pérsia, em 539, cessando o poderio
babilônico.

O Livro de Ester
Data: as datas variam, como por exemplo, uns datam
aproximadamente antes de 300 a.C, e outros, após 465 a.C. Ou-
tros mais liberais datam no período Macabeus, em cerca de 130
a.C.
Autor: desconhecido. Mas, sempre há as possibilidades,
como Agostinho (354-430, d.C.), que acreditava que o seu autor
fosse Esdras; o Talmude atribui à Grande Sinagoga presidida por
Esdras; Clemente de Alexandria (150-215, d.C.) e outros acredita-
vam que pudesse ter sido Mardoqueu. A verdade é que o autor
desse livro foi alguém que tinha familiaridade com os assuntos
persas e com forte nacionalismo que, talvez, indiquem que tenha
sido um judeu que viveu na Pérsia antes de o império cair nas
mãos dos gregos.
Ester, nome persa que significa Estrela, também chama-
da pelo nome hebraico Hadassa, que significa murta. A história
desse livro se dá na cronologia entre o retorno de Zorobabel e
Esdras, entre o sexto e o sétimo capítulo do livro de Esdras. Tam-
bém foi nesse período que Ester se tornou rainha da Pérsia, cerca
93
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

de 478, no reinado de Assuero.


O livro de Ester tem algo em particular, pois não apare-
ce o nome de Deus (YHWH). Mas, apesar desse fato, está claro
na história desse livro que Deus está no controle de toda aquela
situação. C.E. Demaray, comentando sobre a ausência do nome
de Deus no livro, diz que é muito provável que a razão seja a su-
jeição do livro à censura, e qualquer referência a Deus ou à fé dos
judeus teria causado a sua destruição. O livro, por outro lado,
está repleto de provas da providência divina que atua a favor
dos judeus. Isto constitui uma grande parte de sua mensagem re-
ligiosa, e é certamente um dos principais propósitos pelos quais
foi escrito.
O livro tem alguns personagens e fatos centrais: 1. a recu-
sa de Vasti, capítulo 1; 2. a coroação de Ester, capítulo 2; 3. Hamã,
capítulos 3 e 10; 4. Mardoqueu, capítulo 6; 5. O livramento dos
judeus, capítulos 7-8; e 6. A origem da festa de Purim, capítulo 9.
Hamã, o segundo homem do império persa no reinado de As-
suero, odiava os judeus. Intentou matá-los, mas, descoberto por
Mardoqueu, tio da jovem Ester, que futuramente seria rainha no
lugar de Vasti, pediu à sobrinha que intercedesse a favor do seu
povo. O rei exalta a Mardoqueu e sentencia Hamã. Os judeus
escapam de morte nacional. Assim, instituíram a festa de Purim.
Pur significa sorte, para comemorar a libertação dos judeus na
pérsia.
A Septuaginta grega acrescentou parágrafos inteiros, in-
clusive referências a Deus. A Vulgata Latina, tradução latina feita
por Jerônimo, tornou essas passagens parte dos livros deuteroca-
nônico12, que podem ser lidas em edições da Bíblia católica, num
total de 107 versículos como acréscimos. Entretanto, o que reco-
nhecemos como inspirados, é o que temos em nossas versões.

12    De conformidade com a doutrina da igreja católica, são assim considera-


dos os livros produzidos no chamado período interbíblico, e que não se acham inclusos
no cânon hebraico. A igreja Católica, desta maneira, os denomina, indicando não conta-
rem com a mesma inspiração dos livros realmente sagrados e que nos foram dados pela
imediação do Espírito Santo. Em síntese: o que a Igreja Católica chama de deuterocanô-
nico não passa de apócrifo. Eis os livros tidos como deuterocanônicos pelo catolicismo
romano: Macabeus, 1 e 2 Tobias, Judite, Ester, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, Cânticos
de Azarias, Suzana, e Bel e o Dragão, estes três, incluídos no livro de Daniel (Dicionário
Teológico. CPAD, p. 142).
94
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento

Os livros históricos, diferentes do Pentateuco, nos levam


para uma nação estabelecida, que vive altos e baixos no seu re-
lacionamento com Deus. Nesses livros, vemos como é possível
uma nação desfrutar da bondade de Deus e, ao mesmo tem-
po, viver uma religiosidade totalmente inócua. Mesmo diante
de tanta apostasia, Deus levanta homens a favor do seu povo
inconstante com o propósito de trazê-los para o centro da Sua
vontade. Mesmo em tempos de crises, Deus cuida do seu povo
através de corretivos.

95
Capítulo 3

Livros Poéticos

Em nossa Bíblia temos a sequência dos cinco livros que


chamamos de poéticos, pois esse gênero literário predomina na
narrativa desses livros, a saber: Jó, Salmos, Provérbio, Eclesiastes
e Cânticos de Salomão. Sendo que ainda nessa divisão temos os
livros sapienciais que os estudiosos agrupam: Jó, Provérbios e
Eclesiastes. A figura referencial nesse gênero é Salomão, o ho-
mem mais sábio de todos os tempos e personagem de extrema
importância dentro da história de Israel.
A poesia e sabedoria são vistas nesses livros dentro da
singularidade judaica. A beleza literária desses livros sai dos li-
mites religiosos, como o livro de Jó, que é considerado uma obra
literária mundial. A sabedoria do Oriente está presente em cada
parágrafo, cheia de reflexão para quem quer viver uma vida sob
os limites da lei do Senhor.

O Livro de Jó
Data: Alguns consideram meados do século IV a.C.
Autor: determinar o escritor do livro de Jó é uma tarefa
difícil, e muitos dizem ser inútil. Vários nomes são sugeridos,
como Moisés, o próprio Jó ou um nômade que viveu na época
dos patriarcas.
Alguns têm questionado a historicidade de Jó duvidando
da sua real existência. Entretanto, Jó foi um personagem históri-
co que viveu próximo do período patriarcal. Em Ezequiel 14.14
há uma referência a ele, e o apóstolo Tiago destaca a sua paci-
ência
96
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento

(5.11). Ora, essas citações só fazem sentido se, de fato, ele fosse o
exemplo de um homem histórico.
É bem provável que Jó viveu na época dos patriarcas, por
volta de 2000 a.C., possível época de Abraão, e, para sustentar
essa possibilidade, o doutor Milo L. Chapman diz, por exemplo,
que o livro afirma que Jó viveu durante 140 anos depois da res-
tauração da sua saúde e riqueza, além dos anos que ele havia
vivido antes do seu infortúnio. Não há expectativa de vida como
essa na narrativa bíblica depois do período patriarcal.
A riqueza de Jó consistia basicamente em rebanhos e ma-
nadas, como era o costume dos patriarcas. O próprio Jó oferece
sacrifícios pela sua família, como era o costume daqueles primei-
ros pais. No entanto, ele parece desconhecer a oferta pelo pecado
e outras práticas mosaicas.
Donald Stamps enumera alguns fatos para corroborar
ainda essa possibilidade como a sua longevidade de quase 200
anos (Abraão viveu por volta de 170 anos), como também suas
riquezas eram calculadas em termos de gado, sua atividade sa-
cerdotal na família era similar à de Abraão, Isaque e Jacó, a famí-
lia patriarcal como unidade social básica, semelhante aos dias de
Abraão, as incursões dos sabeus e dos caldeus encaixam na era
abraâmica, o uso frequente (trinta e uma vez) do nome patriarcal
comum de Deus, Shaddai (“O Onipotente”), e a ausência de refe-
rência a fatos da história israelita ou à lei mosaica também sugere
uma era pré-mosaica.
Os amigos de Jó, Elifaz, Bildade, Zofar e Eliú, o visitaram
em um momento de extremo sofrimento, quando ele havia per-
dido tudo. A grande questão do sofrimento humano é a temática
do livro, como também a questão do mal. O conceito teológico é
abrangente em outros livros da Bíblia, o que permite uma visão
mais panorâmica de sua mensagem sobre os temas correlaciona-
dos em seus quarenta e dois capítulos.

O Livro de Salmos
Data: quase todos entre os séculos X a V a.C. Acredita-se
que a compilação final se deu nos dias de Esdras e Neemias,
450–400 a.C.
Autor: diferentemente do que popularmente se propa-
97
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

gou, os Salmos não são obras de um único autor, mas de vários.


Claro que Davi foi quem mais escreveu, cerca de 73 salmos. Asa-
fe, levita, escreveu 12. Os filhos de Corá escreveram 12. Salomão,
filho de Davi, 2, inclusive o mais antigo dos Salmos, o do capítulo
90. Moisés escreveu 1. 50 Salmos sãos considerados anônimos.
Os Salmos, do grego Psalmoi, significa “Cânticos” ou
“Cânticos Sagrados”, sendo que o Códice Alexandrino designa
como “Saltério” pelo uso da palavra grega Psâlterion, e do he-
braico, Tehilim que significa “Louvores” ou “Cântico de Louvor”,
são o hinário judaico que expressa os mais variados sentimentos,
certezas e incertezas, confiança e receios, etc. São louvores que
desnudam o que há de mais profundo na essência humana.
Salmos é o livro mais longo da Bíblia, com cento e cin-
quenta capítulos, divididos em cinco livros.

1º Livro: 1 ao 41
2º Livro: 42 ao 72.
3º Livro: 73 ao 89.
4º Livro: 90 ao 106.
5º Livro: 107 ao 150.

Essa divisão em cinco livros acredita-se que foi escolhi-


da para combinar com os cinco livros do Pentateuco. Observe
que no fim de cada um dos cinco livros (41, 72, 89, 106 e 150) há
uma doxologia13, ao real significado dos Salmos. Dentro desse
contexto são oportunas as palavras de C.S.Lewis: “os Salmos são
poemas, e poemas feitos para serem cantados; não são tratados
doutrinários, nem mesmo sermões. Do contrário, não veremos
o que eles contêm e pensaremos que estamos vendo o que eles
não contêm”. Apesar do conteúdo teológico, os Salmos devem
ser entendidos sob os limites do seu gênero.
Dereck Kidner diz que alguns se relacionam com a época
do primeiro Templo (de Davi e Salomão, cerca de 950 a.C., até a
destruição em 587). Estes enfatizam os ideais de realeza e justiça,

13    Doxologia [do gr. doxa, glória + logia, palavra] Manifestação de louvor e


enaltecimento a Deus através de expressões de exaltamentos (Deus seja louvado! Aleluia!)
e hinos. A doxologia não pode vir desassociada da verdadeira adoração. Ela exige adora-
ção (Dicionário Teológico. CPAD, p. 152).
98
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento

a aliança com o Deus de Israel e a terra. Outros estão relaciona-


dos ao exílio (587-520), quando não havia rei nem Templo, e o
povo estava disperso. Nestes, o salmista se volta para o futuro,
esperando que Deus traga restauração. E um terceiro grupo per-
tencente ao período após o retorno (520-167?), quando o templo
foi reconstruído, e o culto foi restaurado, mas o povo não tinha
rei e estava sob domínio de estrangeiros. Houve um desenvolvi-
mento considerável no conhecimento religioso durante este lon-
go período de 600 anos, e o livro de Salmos reflete isso.
O Saltério tornou-se o hinário de todas as épocas. Ne-
nhum outro livro de hinos tem sido usado há tanto tempo por
tanta gente. Ele é lido, cantado, recitado em todos os dias do ano.
Samuel Terien diz a respeito deles: “nenhum outro livro de hinos
e orações já foi usado há tanto tempo e por tantas e tão diversas
pessoas”. Numa era de informalidade, os Salmos fornecem uma
linguagem indispensável para o culto. Nas palavras de Lutero,
“Castelo Forte É Nosso Deus”; de Watts, “Jesus Reinará” e “Ó
Deus, auxílio Nosso no Passado”; a mensagem do saltério ecoa
ao redor da terra, diz Dr. Kyle M. Yater, professor associado do
Antigo Testamento e Arqueologia Bíblica no Golden Gate Baptist
Theological Seminary.

O Livro de Provérbios
Data: cerca de 970–700 a.C. Earl C. Wolf diz que, embora
grande parte do livro de Provérbios tenha sua origem na época
de Salomão, no décimo século a.C., a conclusão da obra não pode
ser datada antes de 700 a.C., aproximadamente duzentos e cin-
quenta anos após o seu reinado. Uma seção (25.1–19.27) contém
a coleção de Provérbios que os escribas de Ezequias copiaram de
obras anteriores de Salomão. Alguns estudiosos datam a edição
final de Provérbios ainda mais tarde, mas antes do período de
conclusão do Antigo Testamento–400 a.C. Outros ainda chegam
a datar a edição final no período Intertestamental. Uma referên-
cia ao livro de Provérbios no livro apócrifo de “Eclesiástico” (“A
sabedoria de Jesus Ben Sirach”), escrito em torno de 180, indica
que nessa época Provérbios era amplamente aceito como parte
da tradição religiosa e literária de Israel.
Autor: Salomão, mais Agur (Cap. 30) e Lemuel (cap. 31),
99
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

são os autores desses respectivos capítulos. Exceto os dois capí-


tulos citados e alguns outros (“os sábios”, 22.17, e os “homens de
Ezequias”, 25.1), Salomão escreveu os demais.
Provérbio é a tradução da palavra hebraica mashal, que
tem o sentido de “oráculo”, “parábola”, ou “máxima sábia”. O
conteúdo deste livro é um exemplo de ensino no Oriente Médio
antigo, com a diferença de que o conteúdo de provérbio veio da
parte de Deus.
O propósito de Provérbio é dar sabedoria para que os ho-
mens se comportem com justiça, retidão, honestidade, prudên-
cia, etc. É importante que se destaque a postura dos mais jovens,
como bem salientou Kataharine Dell, que disse que o jovem pode
escolher dois caminhos, um leva à insensatez e destruição, re-
presentado pela prostituta ou mulher leviana que seduz e atrai
jovens ingênuos à sua cama perfumada, numa imagem que con-
tém nuanças de antigos ritos pagãos de fertilidade; o outro leva
a sabedoria e vida e é representado pela personagem da Sabedo-
ria, que representa a verdade, o conhecimento, e o entendimento.
São tratados assuntos dos mais importantes sob várias perspec-
tivas da vida humana, tais como amizade, casamento, trabalho,
sabedoria, etc.

Há várias referências sobre a sabedoria e insensatez: 10.8,


13-14, 23; 12.1, 15-16, 23; 13.14-16, 20; 14.1,378, 15-18,24,33;
15.5,7,14, 20-21; 16.16, 21-23; 17.10,12, 16,24,28; 18.2,6-7, 15;
19.25, 29; 21.22; 22.3; 23.9; 24.3-7, 13-14; 26.1, 3-12; 27.12,
22; 28.26; 29.8-9, 11. Os justos e os perversos: 10.3, 6-7, 11,
20-21, 24-25, 27-32; 11.3-11, 17-21, 23, 28, 30-31; 12.2-3, 5-7,
12-13, 21, 26, 28; 13.5-6,9, 21-22, 25; 14.9, 11, 14, 19, 32; 15.6,
8-9, 26, 28-29; 16.8, 12-13; 17.13, 15; 18.5; 20.7; 21.3,7-8, 10,
12, 18, 26-27; 24.15-16; 25.26; 28.1, 12, 28; 29.2-6-7, 16, 27.
As palavras e a língua: 10.18-21, 31-32; 11.9, 11-14; 12.6, 14,
17-19, 22; 13.2-3; 13.2-3; 14.5, 25; 15.1-2, 4, 23; 16.1, 23-24,
27-28; 17.4, 7, 27; 18.4, 6, 13, 20-21; 19.5, 9; 20.19; 21.6, 23;
22.10; 25.11, 15, 23, 27; 26.22-28; 27.2; 28.23; 29.20. Ricos
e pobres: 10.15; 11.4, 24-25; 13.7-8, 11, 14.20-21, 31; 18.11,
23; 19.4, 7, 17; 21.13, 17; 22.1-1, 7, 16, 22-23; 23.4-5; 28.3,
6, 11, 20, 22; 30.8-9. O mundo dos negócios; planos e de-

100
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento

cisões: 11.1, 15, 26; 15.22; 16.3, 9-11, 33; 17.8, 18, 23; 18.16;
19.21; 20.10, 14, 16, 18, 23, 21.14; 22.26-27; 27.23-27; 28.8. O
orgulhoso e o humilde: 11.2; 12.9; 15.25; 16.18-19; 18.12;
21.4, 24; 22.4; 29.23. Amigos: 17.9, 17; 18.24; 19.4, 6; 27.6, 10.
Vizinhos: 25.8-10, 17-18; 26.18-19; 27.10, 14; 29.5. Senhores
e servos: 11.29; 14.35; 17.2; 29.19-21; 30.10, 22-23. Reis e go-
vernantes: 16.13-15; 19.12; 20.2; 23.1-3; 24.21; 25.1-7; 28.15-
16; 29.12, 14; 31.4-5. Esperança e medos; alegria e tristezas:
12.25; 13.12; 14.10, 13; 15.13, 30; 17.22; 18.14; 25.20; 27.9;
Ira:14.17, 29; 15.18; 16.14, 32; 19.11-12, 19; 20.2; 22.24-25;
29.22. Temor do Senhor: 10.27; 14.26-27; 15.16, 33; 16.6;
19.23; 22.4; 23.17; 24.21.14

O livro de Eclesiastes
Data: para aqueles que rejeitam a autoria de Salomão, a
data seria entre 400 e 200 a.C. Para outros, século X a.C.
Autor: tradicionalmente é aceito que Salomão tenha sido
o escritor desse livro na sua velhice. Os que defendem tal possi-
bilidade usam Ec 1.1, onde diz “filho de Davi” como base. Mas
esse argumento é frágil, pois a palavra “filho” não é usada obri-
gatoriamente só no sentido biológico, como também no sentido
político ou a qualquer grau de parentesco do sexo masculino.
Lutero, por exemplo, acreditava que não foi Salomão o escritor
de Eclesiastes.
Purkiser, citado por A. F. Harper, faz algumas observa-
ções: “no primeiro versículo, o livro é atribuído ao “filho de Davi,
rei em Jerusalém [...]” Entretanto, em 1.12 diz: “Eu, o pregador,
fui rei sobre Israel em Jerusalém”.
Claramente, nunca houve época alguma na vida de Salo-
mão em que pudesse se referir ao seu reino no pretérito. Em 2.4-
11 também são descritos os feitos do reinado de Salomão como
algo que já era passado no tempo em que foi escrito. Novamente,
em 1.16, o autor diz: “e sobrepujei em sabedoria a todos os que
viveram antes de mim em Jerusalém.” O mesmo pensamento se
repete em 2.7. No caso de Salomão, apenas Davi precedeu Salo-
mão como rei em Jerusalém. Mais uma vez devemos lembrar que

14 ALEXANDER, Pat e David, 2008, p. 397.


101
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

os judeus usavam o termo “filho” para qualquer descendente;


assim, Jesus também é descrito como o “filho de Davi”.
Para os que advogam que Salomão seja o escritor desse
livro “a linhagem (1.1), o reinado em Jerusalém (1.12), a grande
sabedoria (1.16) e a riqueza inigualável (1.4-9) do autor indicam
que Eclesiastes foi escrito por Salomão (1 Rs 3; 4.21-34; 10), que
se autodenominou “o Pregador” (1.12). Ao final do livro (12.914),
há uma homenagem à sabedoria de Salomão e um sumário com
a admoestação que se deve “temer a Deus e guardar os seus
mandamentos” (12.13). A outra possibilidade é que estudiosos
acreditam que o escritor desse livro é um anônimo pós-exílico
que se utilizou de um “artifício literário”, usando Salomão como
a figura central para transmitir a sua mensagem.
Eclesiastes é o título grego, e Qoheleth hebraico, que sig-
nifica o “pregador”. G.S.Hendry diz que no hebraico a palavra
está ligada com qahal, a assembleia pública, e sugere a espécie de
sabedoria transmitida pelo orador aos que se reuniam no átrio
exterior, em distinção à “sabedoria oculta”, que é conhecida so-
mente daqueles que foram admitidos ao mistério de Deus (1 Co
2.7). Segundo A. F. Harper, a palavra vem de uma raiz que sig-
nifica “reunir” e, assim, provavelmente indica alguém que reú-
ne uma assembleia para ouvi-lo falar, portanto, um orador ou
pregador. A Septuaginta usou o termo grego Ecclesiastes, que
as traduções em inglês e português transpuseram como o nome
do livro. O termo designa “um membro da ecclesia, a assembleia
dos cidadãos na Grécia”. Já no início da era cristã, ecclesia era o
termo usado para se referir à igreja.
A mensagem do Pregador é mostrar que não há nada
novo debaixo do céu. Não há novidade, e os empreendimentos
humanos não traduzem satisfação, mas a ausência de algo ple-
no. Viver é um ciclo cansativo, enfadonho, etc., que nada traz de
novo comparado à história dos antepassados. Ele, o pregador,
ainda ressalta as experiências da vida principalmente quando
não há temor a Deus. A conclusão, diante dos fatos existenciais,
foi essa: “de tudo o que se tem ouvido, o fim é: teme a Deus e
guarda os seus mandamentos; porque este é o dever de todo ho-
mem. Porque Deus há de trazer juízo a toda obra e até tudo que
está encoberto, quer seja bom, quer seja mau” (12.13-14).
102
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento

O Livro de Cântico dos Cânticos


Data: os estudiosos variam as datas entre o século X, caso
seja Salomão o seu escritor, ou entre 700 a.C. a 300 a.C.
Autor: o livro assim começa: “Cântico de cânticos, que é
de Salomão”.
“Cânticos dos cânticos” é uma tradução literal do he-
braico shir hashirim, que traz o sentido do mais excelente dos
Cânticos. Na Vulgata latina é chamado de Cânticos e nas escri-
turas hebraicas é o primeiro de cinco livros curtos chamados de
meguillot.
Esse poema é de difícil interpretação, haja vista as dife-
rentes opiniões sobre um real entendimento que afugente as es-
peculações. Muitos preferem a interpretação com base nos três
personagens, que seriam Salomão, a serva sulamita e seu amante
pastor. De acordo com essa interpretação, a jovem que aparece
nesse poema seria uma moradora nas regiões de Suném e era
apaixonada pelo seu noivo, um jovem pastor. Por causa de sua
beleza, Salomão foi atraído por ela e a levou à força para o seu pa-
lácio. Essa jovem não cedeu aos encantos de Salomão e nem aos
fascínios da corte, antes permaneceu fiel ao seu “amante pastor”.
Ao perceber que aquela jovem se mantinha fiel ao seu pastor e
que não cedeu a nenhum encanto de Salomão, o rei permitiu que
ela fosse embora do seu palácio e, acompanhada pelo seu amor,
voltou ao seu humilde lar, no campo. Essa abordagem é questio-
nada como as outras que há nesse livro, mas é bem possível que
seja a mais viável e, por isso, muitos estudiosos sustentam essa
teoria dos três personagens defendida recentemente por Terry e
Pouget.
Muitos intérpretes da Bíblia seguiram o exemplo de Orí-
genes usando o método alegórico para sustentar que o livro trata
do relacionamento do cristão com o Senhor, como também do
amor de Deus para com Israel e de Cristo para com a igreja, mas
essa interpretação, paulatinamente, foi perdendo força por en-
tender que a alegoria não seja uma forma de interpretação ro-
busta da palavra de Deus, pois ela “poderia fazer com que o livro
significasse qualquer coisa que a imaginação fértil do intérprete
pudesse inventar e, no final, as suas próprias extravagâncias se-
riam a sua ruína, de forma que hoje esta escola de interpretação
103
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

praticamente desapareceu”, diz Meek.


A mensagem nesse poema pode ser vista na fidelidade que há
no amor verdadeiro. O amor visto nesse gênero que, ao mesmo
tempo revela a fidelidade, é também intenso e puro. Os amantes
não são fascinados por nada que exista fora, mas respiram a pu-
reza do amor, e esse compromisso está cima de tudo. Ainda que
não haja uma mensagem direta no Novo Testamento, podemos
relacionar a sua mensagem com Hb 13.4.

104
Capítulo 4

Livros Proféticos

A última divisão do Antigo Testamento é conhecida


como livros proféticos, que se inicia em Isaías e se encerra em
Malaquias.
Os livros proféticos, para fins didáticos, são divididos em
maiores e menores. Maiores e menores foram assim chamados
por Santo Agostinho (354-430), não em importância, mas em ex-
tensão ministerial e volume dos respectivos livros.
Os profetas foram uma figura importante e de muita in-
fluência nos palácios ou nos campos, em toda a nação de Israel.
Todos tinham respeito por eles, mesmo quando não simpatiza-
vam por suas profecias. Toleravam-nos por causa de suas vidas
exemplares e também por suas mensagens serem verdadeiras, e
isso fazia com que eles fossem respeitados. Muitas vezes o res-
peito por eles era por medo do povo, que os tinham como gran-
des autoridades.
Entretanto, mesmo sabendo da sua importância em nos-
so estudo, não temos como alvo os profetas e seus respectivos
ministérios, mas os livros que por eles foram escritos.
Os profetas maiores são Isaías, Jeremias-Lamentações,
Ezequiel e Daniel; os profetas menores por sua vez são Oséias,
Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofo-
nias, Ageu, Zacarias e Malaquias. Sendo que, Ageu, Zacarias e
Malaquias, são considerados profetas pós-exílicos, ou seja, pro-
fetas que exerceram seus ministérios em Jerusalém, depois dos
setenta anos de cativeiro babilônico.

105
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

OS PROFETAS MAIORES
Como já foi mencionado antes, esses profetas maiores
não são em importância, pois todos foram relevantes, mas quan-
to ao volume de seus respectivos livros.

O Livro de Isaías
Data: cerca de 700 – 680 a.C.
Autor: Isaías.
Isaías foi um dos profetas mais importantes de Israel, nas-
ceu provavelmente em torno de 760 a.C., em Jerusalém, Reino do
Sul. Era de uma família abastada e, pelo que consta, era sobrinho
do rei Uzias. Se casou com uma “profetisa” (Is 8.3). Esse termo
pode ter o significado oficial como também pode ser um título
honorífico que Isaías se referiu à sua esposa. Teve dois filhos para
os quais deu nomes proféticos. O mais velho chamou de Sear-
-Jasube, que significa “um remanescente deve”, e o mais jovem
chamou de Maher-shalal-has-baz, que significa “apressando-se
sobre a presa” ou “precipitando-se sobre a rapina”.
O profeta Isaías desenvolveu seu ministério durante os
reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, em um período em
que a Assíria era a potência de uma época de grandes conflitos
políticos. A vida social estava dividida entre ricos e pobres e
crescia cada vez mais o abismo entre eles, o que afetava a vida
religiosa dos judeus. Teve um ministério poderoso e entrou nos
anais como “o profeta messiânico”, por suas muitas profecias so-
bre o Messias e em especial o capítulo 53, vaticinado 700 anos
antes de Cristo. Ross Price diz que Isaías foi tanto poeta como
um orador, um artista com as palavras; sua expressão límpida
é insuperável. Além do mais, ele sempre tinha seus olhos volta-
dos para o futuro; por isso, o elemento de predição era forte na
sua profecia. Seu caráter e gênero têm sido resumidos sob quatro
caracterizações, ou seja, como estadista, reformador, teólogo e
poeta.
Seu livro pode ser dividido em duas principais partes:
1ª parte, capítulos 1–39, mensagens de juízos, e a
2ª parte, capítulos 40-66, mensagens de livramentos. Cla-
ro que a mensagem de Isaías tem o aspecto do ordinário, ou seja,
mensagens referentes ao seu tempo, como o aspecto escatológico
106
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento

quanto à vinda do Messias, o que por mais de uma vez ele profe-
tizou.
Segundo a tradição, foi serrado ao meio pelo ímpio rei
Manassés por volta de 680 a.C.

O Livro de Jeremias–Lamentações
Data: cerca de 585 – 580 a.C.
Autor: Jeremias.
O profeta Jeremias era de uma família sacerdotal, filho
de Hilquias, de uma pequena cidade por nome de Anatote, que
exerceu seu ministério profético cem anos depois de Isaías. Nas-
ceu por volta de 605 a.C. e, diferente de outros profetas que se
casaram, como Isaías, foi proibido por Deus de se casar (16.2) e
foi escolhido pelo Senhor para ser profeta durante o reinado dos
últimos reis de Judá, a saber: Josias (640-609, a.C.), Jeocaz (609
a.C.), Jeoaquim (609-598), Joaquim (598-597 a.C.) e Zedequias
(597-586 a.C.).
O seu ministério profético coincide com as reformas feitas
por Josias (2 Rs 22-23) em 628, pois a sua chamada foi, provavel-
mente, em 626 a.C., que cobre os últimos quarenta anos dos últi-
mos cinco reis de Judá. A mensagem de Jeremias era de advertên-
cia quanto à iminência do juízo de Deus através dos babilônios.
Nessa época, a Assíria já estava em decadência e as potências
mundiais eram Babilônia, ao norte, e Egito, ao Sul. Como a sua
mensagem não era agradável, os seus inimigos logo se opuseram
a ele. Sofreu grandes perseguições, sofrimentos, calabouços, etc.
Talvez pela falta de simpatia dos seus inimigos e até mesmo do
povo, foi um profeta que viveu na solidão, rejeitando até mesmo
viver nas regalias imperiais. Profeta sensível, mas firme, e que
demonstrava o seu amor por Deus e Sua palavra em uma época
que ainda havia as consequências da idolatria enraizada desde o
reinado do ímpio Manassés.
Jeremias foi contemporâneo de outros profetas, como
Habacuque e Sofonias, como também o profeta Ezequiel que es-
tava entre os cativos. O profeta Jeremias profetizou o cativeiro
babilônico, que duraria setenta anos. Esse profeta foi considera-
do traidor por pregar a submissão a Babilônia (38.17), pois ele ti-
nha certeza da mensagem que recebera da parte de Deus de que
107
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

o povo iira para o exílio. Foi incompreendido, mas se manteve


fiel ao Senhor, e a palavra de Deus foi cumprida em seu tempo.
De fato, o povo foi para o cativeiro e por lá ficou os setenta anos
profetizados (Jr 25.12).
Sendo um profeta oriundo de uma pequena cidade ru-
ral, Jeremias observava bem a natureza, como a migração dos
pássaros (8.7), conhecia os hábitos da perdiz (17.11). Talvez por
sua origem humildade, recusou a chamada (1.6; 17.16; 20.7-9), e
isso sempre o perseguiu (20.9). Apesar de seus anseios pessoais,
foi submisso a ponto de aceitar não se casar por ordenança do
Senhor (16.1-9).
Jeremias foi o profeta que sofreu por causa de sua men-
sagem. David Barton disse que o povo odiava Jeremias. Ele foi
banido do Templo. Mas, incapaz de abandonar sua tarefa, ele
ditou suas profecias a Baruque, e elas foram levadas ao rei. A
descrição, vivida no capítulo 36, do rei cortando e queimando
desdenhosamente as profecias à medida que eram lidas destaca
o isolamento de Jeremias. Os membros da corte que preferiam o
enfrentamento julgavam que havia chegado a hora. A pregação
de Jeremias era um perigoso derrotismo. Assim, tomaram medi-
das para se livrar dele: Jeremias foi preso e lançado num poço.
Seria complicado matar um profeta a sangue frio; assim, ele foi
abandonado (capítulo 38). Jeremias foi salvo graças à interven-
ção de um corajoso servo do palácio.
Além da profecia sobre o cativeiro babilônico (25-29), ele
também profetizou contra outras nações (46–51), como Deus ha-
via dito na sua chamada: “às nações te dei por profeta” (1.5). Je-
remias profetizou contra o Egito (46.1-28), Filístia (47.17), Moabe
(48.1-47), Amom (49.1-6), Edom (49.7-22), Damasco (49.23-27),
Arábia (49.28-33), e contra a própria Babilônia (5051). Ele foi um
profeta legítimo, a sua palavra teve seu cumprimento, como, por
exemplo, o cumprimento sobre a queda de Jerusalém (39.1-1).
Ele fez um paralelo de obediência tendo os recabitas como exem-
plo (35.1-19). Jeremias, cognominado de “o profeta chorão”, após
cumprir seu ministério durante quarenta anos, morreu no Egito.
Bem provável que Jeremias seja autor do Livro de Lamentações.
Este livro é um poema fúnebre que narra a queda de Jerusalém,
em 586 a.C., por Nabucondonosor, rei da Babilônia. Junto com
108
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento

Cânticos dos cânticos, Rute, Eclesiastes e Ester, faz parte dos ro-
los conhecidos como Meguillot. Sua mensagem é uma lamenta-
ção diante da situação miserável da cidade santa, Jerusalém.

O Livro de Ezequiel
Data: Cerca de 590 – 570 a.C.
Autor: Ezequiel.
Há quem sugira que os capítulos 40-48 não sejam de sua
autoria, como também os capítulos 38-39, mais alguns versículos
quando o posiciona na Babilônia. Mas ainda predomina o enten-
dimento da tradição que tenha sido o profeta que escreveu todo
o livro.
Filho do sacerdote Buzi, descendia de família real. Pro-
fetizou entre os cativos na Babilônia, próximo ao rio Quebar.
Perdeu sua esposa durante o cativeiro (24.15-18). Aos 26 anos,
foi levado cativo para Babilônia no meio dos nobres, quando Na-
bucodonosor deportou os nobres e a família real em 598-97 a.C.
Apesar do cativeiro, ele tinha a sua própria casa (3.24; 20.1). Foi
contemporâneo de Jeremias (Jeremias profetizou em Jerusalém,
Ezequiel entre os cativos), e também era conhecido do profeta
Daniel. Sua chamada se deu por volta dos trinta anos, e seu mi-
nistério durou uns 23 anos, até seus cinquenta anos. Sua morte
é desconhecida.
O livro é de difícil compreensão, pois há um grande uso
de alegorias nas mensagens do profeta, o que faz com que alguns
o chamem, junto com o livro do profeta Daniel, de “O apocalipse
do AT”. Merece muita atenção e uma apurada interpretação esse
livro, pois o material profético é uma mescla de linguagens que
precisam ser entendidas dentro do seu tempo profético. Talvez
por essas dificuldades que homens como Jerônimo, João Calvino
e o próprio Lutero escreveram tão pouco sobre esse livro. Assim,
é preciso o que disse Howie, citado por Kenneth Grider, quando
afirmou: “a profecia de Ezequiel, escrita num estilo apocalíptico
e repleto de obscuridades em relação ao texto e ao significado,
tem desconcertado um grande número de estudiosos e dado va-
zão a uma série de ideias estranhas, talvez mais do que qualquer
outro livro da Bíblia.”
Kenneth Grider diz que a profecia de Ezequiel forma um
109
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

dos maiores livros proféticos do Antigo Testamento. Os primei-


ros 24 capítulos tratam do chamado de Ezequiel para ser profeta
e das suas profecias em relação à queda de Jerusalém – a destrui-
ção final pela Babilônia, que ocorreu no décimo primeiro ano do
reinado de Zedequias. Os capítulos 25-33 contêm as profecias de
Juízo contra sete nações pagãs-Amom (25.1-7), Moabe (25.8-11),
Edom (25.12-14), Filístia (25.15-17), Tiro (26-28), Sidom (28.20-23)
e Egito (29-32). A última seção, capítulos 33-48, contém profecia
acerca da restauração de Jerusalém e profecias de esperança para
o futuro de Israel.
Com exceção de 1.2-3, o livro de Ezequiel foi escrito na
primeira pessoa, tendo a queda de Jerusalém como o tema cen-
tral. Suas profecias são bem meticulosas, o que não é um padrão
em outros profetas. O seu estilo de escrita é bem visual, o que
explica a natureza apocalíptica do seu livro.

O livro de Daniel
Data: cerca de 536 – 530 a.C.
Autor: tradicionalmente é aceito que foi o profeta Daniel
que escreveu esse livro, apesar de haver quem alegue que esse
livro foi escrito por alguém que viveu na época de Antíoco Epi-
fânio (175-169, a.C.). Mas quem advoga a não autoria de Daniel
se sustenta em especulações. Em várias partes do livro há a nar-
rativa na primeira pessoa, “Eu, Daniel”, o que dá indício de ser
ele o autor. Parece que o próprio Jesus reconheceu que Daniel foi
autor desse livro (Mt 24.15). Esse profeta era membro da elite de
Judá, foi levado cativo, em 605 a.C., para a Babilônia. O mestre
Antônio Gilberto diz que Daniel foi para o cativeiro babilônico
na primeira leva quando tinha entre quatorze e dezesseis anos.
Viveu no palácio de Nabucodonosor como estudante, estadista e
profeta de Deus, atravessando o governo de todos os reis babilô-
nicos, exceto o primeiro deles, Nabopolassar, pai de Nabucodo-
nosor, e fundador do neo-império Babilônico. O período do seu
exílio na Babilônia foi entre 605 a 536 a.C., e acredita-se que ele
viveu até os noventa anos.
Esse livro é visto como o “Apocalipse do AT”. Os doze
capítulos podem ser divididos em duas partes, sendo a 1ª parte,
dos capítulos 1 ao 6, relatos históricos, e a 2ª parte, dos capítulos
110
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento

7 ao 12, escatológicos. ão é um livro de fácil interpretação exata-


mente por ter uma mistura de profecias com fatos históricos.
Donald Stamps traça o livro do profeta Daniel em três
partes: 1ª) o contexto histórico de Daniel (1.1-7); 2ª) a soberania
de Deus entre as nações (1.21-7.28); e 3ª) as visões de Daniel so-
bre Israel (8.1-12.13).
O livro de Daniel encerra a divisão dos profetas maio-
res e, consequentemente, se inicia outra divisão mais abrangente
quanto à quantidade de livros, conhecida como profetas meno-
res ou o Livro dos Doze.

OS PROFETAS MENORES
Essa segunda divisão dos livros proféticos em quantida-
de de livros é maior, pois são doze livros enquanto que a primei-
ra divisão são quatro livros mais o de Lamentações que é anexa-
da ao livro de Jeremias.

O Livro de Oseias
Data: Cerca de 715–710 a.C.
Autor: Oséias. Não há muitas informações sobre esse profeta, o
que sabemos é que era filho de Beeri e que exerceu o seu minis-
tério profético no impiedoso reino do Norte, Israel. Foi contem-
porâneo de Isaías (que profetizou no reinado do Sul), e de Amós.
O ministério de Oséias foi durante os últimos anos de Jeroboão
II, um período produtivo quanto à política, economia, etc., que
dava um “falso senso de segurança”. Com a morte de Jeroboão II
(753, a.C.), o reino entrou em declínio, os quatro reis sucessores
foram mortos, e a tragédia do reino do Norte culmina com o ca-
tiveiro assírio que se perdeu entre as nações.
Apesar de muitos teólogos não reconhecerem os três pri-
meiros capítulos como literais, sustentamos que o registro é lite-
ral e a mensagem simbólica. O casamento de Oséias tinha como
finalidade mostrar a infidelidade da nação de Israel e, ao mesmo
tempo, trazê-la ao arrependimento.
Charles Pfeiffer diz que há três interpretações sobre o
casamento do profeta Oséias. 1ª) alguns sugerem que o relato
bíblico tem intenção de apresentar uma alegoria com o objetivo
de transmitir a lição espiritual da infidelidade de Israel e que
111
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

Oséias, na realidade, não contraiu casamento. Entre os mestres


que defendem este ponto de vista estão Calvino, Keil, von Hoo-
nacher, Reuss, Gressman, Robert Pferiffer e E. J. Young. 2ª) al-
guns insistem que Oséias realmente se casou com uma mulher
que ele sabia ser prostituta, talvez uma prostituta cultual. T. H.
Robinson e T. Laetsch defendem este ponto de vista. 3ª muitos
defendem que se casou com uma mulher que ele julgava ser pura
e que mais tarde ficou sabendo de sua infidelidade.
As possibilidades sobre quem era Gômer é muito discuti-
da como vimos acima. Contudo, se há debates sobre ela ter sido
uma prostituta comum, ou uma prostituta cultual ou se tornado
infiel posteriormente, por outro lado, é patente a mensagem atra-
vés da alegoria desse relacionamento com uma mulher infiel que
simbolizava a situação espiritual da nação de Israel.
Os quatorze capítulos do livro estão divididos da seguin-
te forma: 1º o casamento do profeta com Gômer e seus respectivos
filhos, com juízos e restauração da parte de Deus, capítulos 1-3;
2º a mensagem de Oséias e a descrição da infidelidade, rejeição
e restauração de Israel, capítulos 4-14. Enquanto nos primeiros
três capítulos temos uma descrição da vida pessoal do profeta,
na segunda há uma revelação e aplicação à nação de Israel.
Oséias mostra que a infidelidade da nação não anula o
caráter justo de Deus.

O Livro de Joel
Data: há duas possíveis datas: 1ª 830 a.C., durante o rei-
nado de Joás, e 2ª 400 a.C., durante o período persa. A data tradi-
cional é a primeira, durante a minoridade do rei Joás e a regência
de Jeoiada, o sumo sacerdote.
Autor: Joel, filho de Petuel. Há na Bíblia treze homens
com esse nome, o que dificulta a identificação de qual seja o pro-
feta desse livro. Assim, as informações sobre a pessoa desse pro-
feta são escassas. O que sabemos é que ele foi profeta no reino do
Sul, Judá. Mostra-se interessado pelo Templo, o que faz muito
acreditar que, possivelmente, tenha sido sacerdote (muito ques-
tionado) e profeta.
Os três capítulos desse livro são basicamente divididos
em: 1 - o juízo de Deus; 2 - a promessa do derramamento do Es-
112
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento

pírito; e 3 - promessas escatológicas no Milênio e o julgamento


das nações.
Não se pode perder de vista que a ideia central do livro
é a grande praga de gafanhotos que o profeta interpretou como
o precursor do juízo de Deus, “o Dia do Senhor”. O dr. Derward
Deere diz que Joel convoca todas as categorias sociais ao arre-
pendimento e lhes promete que, se todos preenchessem os requi-
sitos de obediência a Deus, a terra seria restaurada à sua antiga
fertilidade. Também o Espírito de Deus seria derramado sobre
toda a carne, o povo da aliança triunfaria finalmente sobre todos
os seus inimigos, e haveria uma era de santidade e paz universal.

O Livro de Amós
Data: cerca de 760 -755 a.C.
Autor: Amós. Foi um profeta de vida simples, de origem
camponesa. Oriundo de Tecoa, uma pequena vila de Judá, oito
km ao sul de Belém e vinte ao sudoeste de Jerusalém. Profetizou
para o reino do Norte, durante os reinados de Uzias, rei de Judá
(792-740 a.C.), e na segunda metade do reinado de Jeroboão II,
rei de Israel, uns 80 anos antes do cativeiro babilônico. Foi con-
temporâneo de Oseias.
Oscar F. Reed diz que Amós nega o título de nabi (pro-
feta profissional). Com esta atitude, quer dizer que não perten-
cia à ordem profética e não tinha recebido o treinamento para
isso. Designa-se cidadão de posição social humilde pertencente
à classe mais pobre. Em vista deste fato, imaginamos como ad-
quiriu o grau de cultura que manifestadamente possuía. Entre
os hebreus, o conhecimento e a cultura não eram peculiares aos
ricos e às classes de profissionais. Mesmo o treinamento inicial
de todo israelita o equipava religiosa e culturalmente, a despeito
de sua posição social. Mesmo assim, Amós era homem simples,
um boiadeiro e cultivador de sicômoro, a comida dos pobres. Seu
pai não era profeta, nem possuía formação nobre como Isaías.
A mensagem de Amós não era nada simpática, o teor de
juízo causava arrepios em seus ouvintes. Bussey disse que ele
não agradava aos ouvidos populares, mas mantinha os olhos na
mensagem divina que lhe cumpria proclamar. Pecado nacional
conduz a julgamento nacional e, quanto maior o privilégio e a
113
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

oportunidade de uma nação, maior também deve ser seu julga-


mento.
Alexandre Coelho diz que Amós nos mostra que Deus se
utiliza de quem Ele quer, e que Ele pode se utilizar de pessoas
que, dentro dos nossos padrões, não seriam enquadradas como
adequadas a certas funções. Amós era um homem rústico, de ori-
gem humilde, com um limitado e nenhum compromisso com as
normas cerimoniais que reagiam a convivência dentro das sun-
tuosas casas dos ricos israelitas. Ele era de Judá, mas profetizou
para Israel. E, além de tudo, era um “leigo na igreja”, ou melhor,
não era uma pessoa acostumada com os trabalhos de liderança
nem de administração dos sacrifícios e leis cerimoniais descritos
no Pentateuco.
Amós profetizou o julgamento das nações, capítulos 1-2,
direcionou três mensagens a Israel, capítulos 3-6, e as visões do
profeta capítulos 7-9.

O Livro de Obadias
Data: 587 a.C. é uma possível data por ele ter entregado
sua profecia, logo em seguida a queda de Jerusalém diante de
Nabucodonosor.
Autor: Obadias. Não há muitas informações sobre esse
profeta. O seu nome significa “servo do Senhor”.
A profecia de Obadias é específica para Edom, que são os
descendentes de Esaú, irmão gêmeo de Jacó. Apesar do paren-
tesco, nunca houve um relacionamento amistoso entre judeus e
os edomitas, sempre houve austeridade. Mas, o motivo principal
de tal sentença profética foi a invasão de Judá patrocinada pelos
edomitas enquanto Jerusalém estava sendo saqueada pelos babi-
lônios em 587 a.C.
A profecia não se refere aos indivíduos (Esaú e Jacó), mas
às nações, como bem disse Alexandre Coelho, “o profeta trata de
duas nações, Israel e Edom, mas refere-se a elas por meio da ci-
tação de seus antepassados, Esaú e Jacó. Isso ocorre porque era
comum para os hebreus identificar as pessoas utilizando o nome
de seus antepassados.”
As grandes características dos edomitas se resumem
na palavra “profano”, pois, como bem disse Armor Peisker no
114
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento

Novo Testamento, o escritor aos hebreus escreve Esaú como tal


ou, como diríamos hoje em dia, ateu, materialista e secularista.
Sua descendência também seguiu esse padrão. Ao escrever so-
bre isso, George Adam Smith menciona o fato de que, no Antigo
Testamento, nunca lemos acerca dos deuses edomitas. Diz que,
embora tivessem divindades, “eram essencialmente irreligiosos,
vivendo para comer, saquear e vingar-se do povo que merecia
castigo maior que os filisteus e ter o nome aviltado como símbolo
entre Edom e Israel.
Despidos de espiritualidade, os descendentes de Esaú os-
tentavam em sua soberba a tal ponto que Obadias denunciou o
seu orgulho, v.3. Eles achavam que suas fortalezas seriam indes-
trutíveis, mas a sentença era de destruição, vv.8-10. Teólogos di-
zem que, no século V a.C., os árabes tomaram Edom, e, no século
III, a região foi conquistada pelos nabateus (que construíram a
cidade de Petra, na atual Jordânia).
Um edomita famoso nas páginas do NT foi Herodes, o
Grande, rei dos judeus na época do nascimento de Jesus. Jesus
chamou a esse Herodes de “raposa” (Lc 13.32).
A mensagem de Obadias está dividida em duas seções, a primei-
ra entre os versículos 1-14, e a segunda, entre os versículos 15-21,
que tratam do Dia do Senhor, quando Edom será totalmente des-
truída. Após os anos 70 d.C., os descendentes de Esaú desapare-
ceram completamente da história.

O Livro de Jonas
Data: 760 a.C. É uma data conservadora. Tem como pano
de fundo o período de Jeroboão II, rei de Israel.
Autor: Jonas. Esse profeta, cujo nome significa “pomba”,
era filho de Amitai, da cidade de Gate-hefer (Js 19.3), pertencente
à tribo de Zebulom, próxima à cidade de Nazaré. Profetizou para
o reinado do Norte, Israel, durante o reinado de Jeroboão II.
Além do seu livro, Jonas só aparece no Antigo Testamen-
to em 2 Reis 14.23-25. Gleason Archer diz que Jonas deve ter co-
meçado o seu ministério profético antes do reinado de Jeroboão
II ou pelo menos antes desse brilhante rei ter conseguido alguns
dos seus triunfos militares mais marcantes. Nessa mesma épo-
ca, diz Hernandes Dias Lopes, a nação também se entregou à
115
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

opressão econômica, aos desmandos legais, ao descalabro moral


e à apostasia religiosa. Foi nesse tempo que Amós denunciou a
ganância insaciável dos poderosos, a mancomunação dos juízes
com os ricos para oprimirem os pobres, a corrupção dos valores
morais e o desaparecimento da piedade, de uma virtude sem or-
todoxia e sem vida.
Teólogos liberais têm feito verdadeira guerra contra a
historicidade do livro do profeta Jonas, afirmando que aquela
narrativa não se trata de história, mas sim de uma ficção literá-
ria. Mas, contrapondo a esse frágil argumento, Jesus sustentou a
historicidade desse livro quando fez um paralelo com sua morte
e ressurreição (Mt 12.39-41). A descrença em milagres faz com
que muitos não enxerguem o livro de Jonas histórico, preferindo
o caminho da incredulidade. O que eles esquecem é que Deus
sempre fez milagres em toda a história, e usar um peixe como
meio de transporte é a mesma coisa que usar corvos para alimen-
tar profeta.
Nínive, feita capital do império Assírio por Senaqueribe,
se situava à margem do rio Tigre. Foi a cidade mais importante
de sua época e entrou nos anais como uma das mais importantes
de todos os tempos. Os ninivitas eram impiedosos, tinham uma
forma de crueldade contra os seus inimigos. Foi para esse povo
que Jonas foi enviado.
A mensagem central do livro de Jonas não é o milagre do
grande peixe, apesar de ser espetacular. Concordo com Vincent
Mora quando diz que aquele peixe, que foi obsessão para a ima-
ginação judia e cristã, não é o centro da narrativa. Aquele grande
peixe não passa do instrumento providencial que conduziu Jo-
nas para o propósito original. A mensagem de Jonas é missioná-
ria, ou seja, o amor de Deus para com os pecadores e que o amor
de Deus é a salvação de todos.
Mesmo Jonas sendo um homem escolhido para levar o
amor de Deus a uma nação estranha, ele preferiu fugir para Tá-
rsis, sendo desobediente à voz divina. Mas, mesmo assim, Deus
não desistiu do profeta fujão. Isso mostra para nós que é Deus
que vai à procura dos homens, nunca ao contrário. O amor divi-
no é o anzol que nos fisga.
O livro de quatro capítulos dá um resumo da biografia
116
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento

contraditória do profeta. No capítulo 1, temos a chamada do


profeta (1.1-2), a fuga, a intervenção divina (3-17) e o milagre
do grande peixe (v.17). No capítulo 2, temos a oração mais an-
gustiante do profeta, no ventre de um grande peixe (2.1-10). No
capítulo 3, o profeta anuncia a mensagem de destruição contra os
ninivitas (3.1-4), os ninivitas se arrependem, e Deus atenta para
eles (5-10). O último capítulo mostra um profeta desgostoso pelo
arrependimento daquela nação, a ponto de pedir a morte (4.1-5).
Diante de sua atitude, Deus lhe dá a lição usando uma aboborei-
ra (6-11).
Jonas foi um exemplo de missionário no Antigo Testa-
mento apesar de sua tentativa de fuga, mas, no final de tudo, a
sua mensagem causou os resultados para o fim que foi designa-
da: o arrependimento de uma nação!

O Livro de Miquéias
Data: cerca de 740 – 710 a.C., data proposta por Donald
Stamps. Leslie Carlson, doutor em teologia, diz que a data do
ministério de Miquéias é dada em relação aos reinados de Jotão
(739-735, a.C.), Acaz (735-715, a.C.), e Ezequias (715-687, a.C.),
reis de Judá (Mq 1.1). Miquéias começou a sua obra no tempo de
Jotão e serviu através de todo o reinado de Ezequias.
Autor: Miquéias.
Acredita-se que Miquéias foi contemporâneo de Isaías,
mas com uma diferença substancial. Enquanto Isaías foi um pro-
feta palaciano de estirpe real, Miquéias foi um profeta rústico
do campo e que morava numa pequena aldeia chamada More-
sete-Gater (Mq 1.14). Essa aldeia distava uns 30 quilômetros ao
sudoeste de Jerusalém, na fronteira de Judá com o território fi-
listeu. Armo Peisker diz que a região era fértil e bem provida de
água, lugar de plantações, pomares de olivas e pastos, mesmo
assim, os agricultores, entre os quais Miquéias fora criado, quase
sempre estavam em dificuldades econômicas. Oprimidos pelas
dívidas, eram forçados a hipotecar suas propriedades aos ricos
de Samaria e Jerusalém, os quais lhe desapropriavam as terras.
Assim se tornaram arrendatários de fazendas, oprimidos por se-
nhores gananciosos e insensíveis. Esta exploração dos pobres foi
aos olhos de Miquéias um dos crimes mais hediondos de seus
117
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

dias, e ele bravamente denunciou estes exploradores (2.2).


Há teólogos que afirmam que Miquéias tenha sido discí-
pulo de Isaías, isso não é certeza, mas podemos concluir que seu
ministério foi tão importante quanto o do profeta messiânico. Foi
de fato um profeta de grande prestígio, como bem lembra Silas
Daniel sobre o episódio do profeta Jeremias quanto à profecia de
Miquéias sobre a destruição de Jerusalém, indiretamente a razão
pela qual ele teve sua vida poupada. Quando quiseram executar
o profeta Jeremias, no intuito de salvar o profeta, lembraram que
Miquéias profetizou o mesmo em sua época e nem por isso foi
condenado pelo rei Ezequias, mas se arrependeu e buscou ao Se-
nhor (Jr 26.19-19,24).
O ministério de Miquéias foi para o reinado do Sul, Judá,
durante os reinados de Jotão, Acaz e Ezequias, como vimos an-
teriormente, e simultaneamente, durante os reinados de Pecaías,
Peca e Oseias em Israel (2 Rs 15.23-30), reino do Norte. Além de
profetizar o local do nascimento do Messias (Mq 5.2; Mt 2.5-6),
a mensagem do seu livro é amalgamada entre juízo e redenção;
dos capítulos 1-3, juízos contra Jerusalém e Samaria, e a segunda
parte do seu livro, dos capítulos 4-7, a redenção de Israel. Mi-
quéias profetizou no reinado do Sul, mas a sua mensagem atin-
giu também o reino do Norte, Israel.

O livro de Naum
Data: cerca de 630 a.C.
Autor: Naum. Este nome significa “consolação”,“conso-
lador”. Pouco se sabe sobre este profeta senão que ele era habi-
tante de Elcose. Na tentativa de descobrir a localização de Elco-
se, têm sugerido lugares possíveis como Cafarnaum (Cafarnaum
significa Vila de Naum), ou na região da Galileia.
A mensagem de Naum, que fora um profeta do reino do
Sul, tinha como alvo Nínive, assim como a do profeta Jonas, mas
com uma diferença: enquanto o juízo de Nínive foi suspenso em
Jonas, em Naum o juízo seria levado a cabo, sendo destruída.
O reino do Norte, Israel, foi levado para o cativeiro assí-
rio quase cem anos antes de Naum, agora, diz o doutor Charles
Feinberg, Nínive estava no propósito de Deus, visitar aquela na-
ção que fora a vara da ira de Deus contra Israel. Nínive tinha ge-
118
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento

nuinamente se arrependido nos dias do profeta Jonas, mas agora


estava pronta para juízo por causa de sua crueldade e estupidez.
Ela fora cruel na guerra e gananciosa em acumular riquezas de-
sonestamente. O poder que governara a Ásia ocidental por cerca
de três séculos agora já fora derrotado pelo poder combinado
dos babilônios e medos.
A mensagem de Naum descrita em seu livro são três pro-
fecias reveladas em cada capítulo do livro, direcionadas a Níni-
ve. A primeira profecia, no capítulo 1, é uma profecia que exalta
a justiça de Deus; a segunda, no capítulo 2, mostra a iminência
do juízo e a terceira revela os pecados de Nínive e a inevitável
sentença.
“Naum nos mostra que Deus é tardio em se irar, mas
mostra também que a retribuição aos pecados é dada no momen-
to certo. Sua misericórdia não pode ser interpretada como uma
concessão ao pecado, mas como uma oportunidade a uma vida
de retidão e quebrantamento” (COELHO, 2002, p. 67).

O livro de Habacuque
Data: a data provável é entre 640 - 609 a.C., quase no fim
do reinado de Josias, depois da destruição de Nínive pelos babi-
lônios.
Autor: Habacuque, cujo nome significa “abraço”. Se for
derivado de um vocábulo assírio usado para designar uma plan-
ta (hambakuku), então significa também “vegetal”. Jerônimo
(347 – 420, d.C.) afirmou que também esse nome poderia signifi-
car “segurar”, com base em uma raiz hebraica.
Não há muitas informações sobre quem tenha sido esse
personagem bíblico. Mas alguns teólogos têm tentando identifi-
car esse profeta. Silas Daniel diz que, segundo uma tradição dos
rabinos, alguns ligam o nome do profeta a 2 Reis 4.16, fazendo-o
filho da sunamita, pois diz o texto: “disse-lhe o profeta: por este
tempo, daqui a um ano, abraçarás um filho...”. Outros escritores
rabínicos o identificam como o atalaia de Isaías 21.6 e asseguram
ser ele da tribo de Levi.
O que de fato sabemos sobre Habacuque é que ele era
um profeta (1.1; 3.1). O ministério profético de Habacuque se di-
ferenciava de muitos pelo fato de ele ter sido um profeta aluno
119
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

da Escola de profeta, que era uma espécie de “seminário” que


preparava aqueles que exerciam tal ministério.
Além de ser profeta, era também músico. Ele termina o
capítulo 3 assim: “para o cantor-mor sobre os meus instrumentos
musicais”. Alguns, como Silas Daniel, sugerem que talvez fosse
membro de um grupo profissional de profetas que estavam liga-
dos ao Templo em Jerusalém, como pode ser visto em 1 Crônicas
25.1: “Davi, juntamente com os chefes do serviço, separou para o
ministério os filhos de Asafe, de Hemã, e d e Jedutum, para
profetizarem com harpas, alaúde e címbalos”.
Foi contemporâneo do profeta Jeremias e profetizou no
reino do Sul, Judá. Os três capítulos mostram o dilema do profeta
diante do iminente juízo de Deus contra os judeus através dos
Caldeus. Os dois primeiros capítulos são as perguntas do profe-
ta sobre Deus usar o ímpio para punir o seu povo, mas, mesmo
assim, ele acredita em Deus. Alguns teólogos, como J. H. Eatton,
sustentam que o capítulo três foi acrescentado tardiamente. É de
se destacar a confiança do profeta (2.4) e o seu famoso cântico em
3.17-19.

O Livro de Sofonias
Data: cerca de 630 a.C.
Autor: Sofonias.
Este profeta, cujo nome significa “o Senhor esconde”, foi
contemporâneo de Jeremias e profetizou durante o reinado de
Josias, provavelmente residia em Judá, onde profetizou no rei-
no do Sul. Era de linhagem real, pois seu pai foi Cusi, seu avô,
Gedalias; seu bisavô, Amarias; e seu tetravô, Ezequias, com toda
probabilidade o piedoso rei Ezequias.
Acredita-se que, do grande avivamento que houve nos
dias de Josias, Sofonias foi participante e até pode ter influencia-
do o rei Josias com suas palavras proféticas por ele ter acesso ao
palácio. É possível que pouco tempo após as profecias de Sofo-
nias, as reformas começaram. Elas tiveram início no décimo se-
gundo ano do seu reinado, o que põe sua execução por volta do
ano 627 a.C. (2 Cr 34.3). Essa primeira fase das reformas durou
seis anos (2 Cr 34.8), e o paralelo entre o que representaram e as
profecias de Sofonias é extremamente significativo, isso porque
120
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento

se percebe claramente que o conteúdo que o profeta recebera de


Deus para entregar ao povo quanto ao que precisava ser feito (Sf
1.4-6) foi materializado e executado cabalmente pelo reinado de
Josias (2 Cr 34.3-7).
Manassés foi um dos piores reis que reinou sobre Judá,
além de idólatra, sacrificou seus próprios filhos. O seu filho
Amom o sucedeu por dois anos, mas andou no caminho de seu
pai, Manassés. Com Josias no trono começa então um tempo de
reforma nesse reinado, que foi feita com sucesso.
A mensagem de Sofonias era advertir Judá quanto ao Ju-
ízo iminente. Esse juízo é chamado pela frase “o dia do Senhor”
(1.14). Donald Stamps diz que a aplicação imediata da palavra
profética era a apóstata Judá que receberia a justa retribuição por
sua iniquidade, o mesmo acontecendo com as nações pagãs em
derredor, alistadas nominalmente pelo profeta. O alcance ime-
diato da profecia aplica-se à igreja e ao mundo na conclusão da
história. Sofonias escreveu também, para encorajar os fiéis com
a mensagem, que Deus um dia haveria de restaurar o seu povo.
Judá, então, cantaria louvores ao Deus justo que habita no meio
do seu povo.

O Livro de Ageu
Data: 520 a.C., segundo ano do rei Dario da Pérsia.
Autor: Ageu. O significado do seu nome é ímpar, pois
significa “festivo”, talvez em alusão ao seu nascimento que deu
em um dia de festa, é possível.
Ageu é chamado de “o profeta” (1.1; 1.10; Ed 6.14) e “em-
baixador do Senhor” (1.13). Ele é um daqueles que voltaram do
cativeiro babilônico para repovoar Jerusalém e reconstruir o
Templo, que ainda guardava em sua memória de setenta a oiten-
ta anos de vida, o suntuoso Templo de Salomão, antes da destrui-
ção pelos babilônicos.
Os judeus entraram em um estado de apatia e deixaram
a reconstrução do Templo esquecida, e foram tratar de seus inte-
resses. Mas, depois de dezesseis anos de estagnação, Ageu moti-
va os judeus a recomeçarem a obra do Templo na certeza de que,
apesar desse segundo Templo ser mais simples em comparação
ao suntuoso edificado por Salomão, “a glória dessa última casa
121
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

será maior que a da primeira” (2.9). Na época de Ageu, Josué era


o sumo sacerdote e Zorobabel, o govenador de Israel e,
juntos, mais o povo, iniciaram a reedificação do grande Templo.
A reconstrução do Templo era de suma importância, pois
havia uma representatividade tanto interna quanto externa. In-
terna porque os judeus enxergavam no templo um dos grandes
símbolos da sua vida religiosa e externa porque, uma vez o tem-
plo reedificado, era um testemunho às outras nações da sobera-
nia de Deus. Sobre esse segundo ponto, Joyce Baldwin diz: “as
nações tinham que saber sem sombra de dúvida que o Deus de
Israel não deixaria de existir quando os israelitas foram removi-
dos do seu território.”
Por quatro vezes Ageu se dirige ao povo com uma men-
sagem (1.2-15; 2.1-9; 2.10-19; 2.20-23). Todas essas mensagens fo-
ram precisas e transmitidas em um período pouco mais de cem
dias. Ageu direcionou uma mensagem aos príncipes e sacerdo-
tes, 1.1-2, como também ao povo, 1.3-12; 1.13-14. Foi específico
com os príncipes, sacerdote e também com o povo em geral, 2.1-
9. As prioridades deveriam ser avaliadas e que, portanto, o povo
deveria refletir, 2.10-19. A parte final, 2.20-23, foi específica para
o sucessor de Davi.

O Livro de Zacarias
Data: Cerca de 520 - 470 a.C.
Autor: Zacarias.
Nascido no cativeiro babilônico, filho de Baraquias, foi
trazido pelo seu avô para Jerusalém. Como contemporâneo de
Ageu, sua mensagem segue o mesmo padrão de exortação. O
contexto histórico de Zacarias é o mesmo de Ageu e Malaquias,
pois esses livros, sendo pós-exílico, tratam do retorno do povo
que estava no cativeiro babilônico, onde ficaram por setenta
anos. A diferença é que cada um tem uma mensagem profética
sob perspectivas distintas.
Zacarias, possivelmente era um jovem nessa época, o que
leva a crer que ele nasceu no período do cativeiro babilônico. As
impressões do exílio que ficaram nele foram o suficiente para
aproveitar a oportunidade de retornar e, assim, seguir os passos
de Ageu, que era mais velho.
122
Convenção Unida Internacional Panorama do Antigo Testamento

A mensagem do livro de Zacarias está dividida em duas


partes. A primeira, capítulos 1-8, que é uma mensagem direta
aos judeus, e a segunda, 9-14, tem mais uma natureza apocalípti-
ca, o que leva os teólogos a pensarem que essa segunda parte não
foi escrita por Zacarias, com o qual não concordamos. Charles
Feinberg diz que esses capítulos parecem ter sido escritos mais
tarde, e isto se deve naturalmente à mudança de estilo. A dife-
rença de temas nasce do fato de que, na última parte do livro, o
profeta foi comissionado a revelar acontecimentos apocalípticos
relacionados com a vinda do Messias e seu reino terrestre. Todas
as evidências internas apontam para um só autor e não para uma
autoria múltipla.
Myer Pearlman, teólogo judeu, esboça o livro do profeta
Zacarias em três seções:
1ª Seção simbólica: visões de esperança (1-6).
2ª Seção prática: exortações à obediência e à piedade (7-
8).
3ª Seção profética: promessa de glória por meio da tribu-
lação (9-14).

O Livro de Malaquias
Data: Cerca de 430 – 420 a.C.
Autor: Malaquias, que significa “mensageiro do Senhor”.
Há uma incerteza, na verdade, se o nome Malaquias é um nome
pessoal ou se é um título. Bem provável que seja um substantivo
próprio.
Não há muitas informações sobre a pessoa do profeta, o
que sabemos é que foi um profeta em Judá, contemporâneo de
Neemias e com fortes convicções na fidelidade a Deus. Creem
que ele era membro da Grande Sinagoga nos tempos de Esdras.
Donald Stamps diz que suas convicções são a favor da fidelidade
ao concerto (2.4; 5, 8, 10), e contra a adoração hipócrita e mecâni-
ca (1.7-2.9), à idolatria (2.10-12), ao divórcio (2.13-16) e ao roubo
de dízimos e ofertas (3.8-10), revelam um homem de rigorosa
integridade e de intensa devoção a Deus.
Pat e David Alexander dizem que os dias de Malaquias
eram um período difícil de espera, e a desilusão tomou conta. Os
tempos eram difíceis, o povo estava na pobreza, explorado pe-
123
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

las potências estrangeiras. A prosperidade prometida por Ageu,


caso eles reavaliassem suas propriedades, não se materializou,
e as previsões gloriosas de Zacarias acerca do futuro rei messiâ-
nico e do dia do juízo e da restauração trazidos por Deus não se
cumpriram. É difícil não perder a esperança quando a espera se
prolonga. O povo estava começando a duvidar das palavras do
profeta e sentir que Deus se esquecera deles. Com isto demons-
travam uma atitude cada vez mais desleixada em relação ao cul-
to e aos padrões de vida estabelecidos por Deus.
A mensagem de Malaquias era um chamado à piedade
e ao abandono à indiferença. O povo, uma vez que já estava em
Jerusalém, deveria cultuar a Deus com inteireza de coração, mas
não foi isso que fizeram. Ofereciam qualquer tipo de sacrifício,
e no ato de servir a Deus, que deveria ser prazeroso, não havia
mais o contentamento ou uma verdadeira adoração a Deus.
Alexandre Coelho, teólogo pentecostal, classifica a men-
sagem de Malaquias em quatro temas: 1ª) Malaquias trata do
desprezo dos israelitas pelos sacrifícios no templo; 2ª) Malaquias
trata dos casamentos com vizinhos estrangeiros; 3ª) Malaquias
fala do Dia do Senhor e, por último, 4ª) Fala da infidelidade na
entrega dos dízimos.
Malaquias é o último livro do Antigo Testamento em nos-
sa tradução, iniciando, portanto, o Novo Testamento em Mateus,
mas, antes disso, entre o último livro do Antigo Testamento e o
primeiro do Novo Testamento, há o período Interbíblico, conhe-
cido como tempo do silêncio profético.

124
Conclusão

Qualquer leitor atento percebeu que o nosso intuito nesse


Panorama do Antigo Testamento não foi a discussão teológica,
mas sim a situação do contexto de cada livro, seus respectivos
autores e suas mensagens. Quando houve mais de uma possibi-
lidade, sempre ficamos com a mais conservadora.
A importância do estudo dos livros dentro dos limites de
cada divisão ajuda a contextualizar, ainda que em nossas Bíblias
não esteja em ordem cronológica, mas, de forma temática, ainda
é possível fazer relações pertinentes quando o leitor possui certo
conhecimento dos livros da Bíblia.
Os críticos buscam enfraquecer as bases conservadoras
para colocarem em dúvida o registro sagrado, sempre com dis-
curso de pureza histórica. Mesmo diante de tantos ataques, os
alicerces da Bíblia continuam inalteráveis e certamente não so-
frerão nenhum abalo, pelo contrário, quanto mais avançar a ciên-
cia, mais se comprovará a veracidade não só de um testamento,
mas do livro como um todo, AT e NT.
Não podemos ter dificuldades com o AT achando que é
uma parte diferente, em importância, do NT. Essa ideia não é
equivocada, pois ainda que teologicamente possa haver diferen-
ças, a inspiração divina é a mesma. Deus não inspirou uns auto-
res divinos mais do que outros, mas todos de igual forma recebe-
ram o “sopro” de Deus e escreveram o que Ele quis revelar.
Dúvidas quanto à existência de personagens históricos,
como Abraão, Moisés, Davi, Salomão, Jó e outros não pode ha-
ver, pois há indícios históricos desses e de outros personagens
bíblicos, o que comprovam fielmente a narrativa Bíblica. Não é
nenhum devaneio intelectual crer na Bíblia, em especial no AT,
como uma fonte não só espiritual, mas histórica e que, a cada dia,
se comprova a sua fidedignidade.
Através desse estudo, o leitor pôde contextualizar a sua
leitura em cada livro da Bíblia, o que possibilita uma leitura mais
agradável e produtiva. Sempre é mais eficiente quando sabemos

125
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

do que se trata tal escrito, o poder de absorção é maior quando


as informações contextualizam o texto em questão. Isso se aplica
à Bíblia. Saber quem escreveu, propósito, época, cultura, etc., são
informações que deixam a leitura mais dinâmica e que, por certo,
faz o leitor pesquisar mais.
O estudo de cada livro individualmente demanda mui-
to esforço e tempo, mesmo assim, é necessário. O propósito do
Panorama do Antigo Testamento é despertar o interesse pelos
estudos sistemáticos de cada livro, conforme foi proposto aqui.
Queremos que haja um interesse em conhecer separadamente
esses 39 livros da Bíblia, levando em consideração o que foi apre-
sentado aqui, como também as sugestões enumeradas no decor-
rer desse estudo. Anote tudo, pesquise, e o crescimento bíblico
será inevitável tanto espiritual como intelectual, até porque um
não anula o outro, apenas complementam-se.

126
Bibliografia

ATOS, Comentário Bíblico. Ed. Atos.


BAKER, David/ARNOLD, Bill. Faces do Antigo Testamento.
CPAD.
CHAMPLIN, Russel. O Antigo Testamento interpretado - versí-
culo por versículo. 5 Volumes. Hagnos.
COELHO, Alexandre / DANIEL, Silas. Os profetas menores.
CPAD.
Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
Dever, MARK. A mensagem do Antigo Testamento. CPAD. JU-
NIOR, Walter C. Kaiser. Pregando e Ensinando a partir do Anti-
go Testamento. CPAD.
MEYER, F.B. Comentário Bíblico. Editora Betânia.
PEARLMAN, Meyer. Através da Bíblia livro por livro. PFEIF-
FER, Charles F. Comentário Bíblico Moody – 2 Volumes – Antigo
e Novo Testamento. Ed. Batista regular.
ZUK, Roy B. Teologia do Antigo Testamento. CPAD.
127
Período
Interbíblico
Sumário

Introdução ___________________________________________ 133


Capítulo 1:Literatura apócrifa ___________________________135
Capítulo 2: A Revolta dos Macabeus ____________________ _ 139
Capítulo 3: O Fim do Silêncio Profético ____________________142
Capítulo 4: Seitas Políticas – Religiosas e Instituições Judaicas__
_____________________________________________________ 144
Conclusão ____________________________________________150
Bibliografia ___________________________________________122

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Posicione a câmera do celular
Introdução

O Período Interbíblico é o tempo de silêncio profético en-


tre os dois Testamentos, Malaquias e Mateus. Há um período de
quatrocentos anos entre a profecia de Malaquias 3.1 e o seu res-
pectivo cumprimento em Mateus 3.1.
Everett Harrison15diz que a expressão “anos silenciosos”,
frequentemente empregada para descrever o período entre o An-
tigo Testamento e o Novo Testamento, é inapropriada. Embora
nenhum profeta inspirado se levantasse em Israel durante esses
séculos, e o Antigo Testamento fosse considerado completo, mui-
tos acontecimentos deram ao Judaísmo sua ideologia particular e
providencialmente prepararam o caminho para a vinda de Cris-
to e a proclamação do Seu Evangelho. Claro que houve muitos
acontecimentos nesse período, mas, levando em conta que não
houve, como bem disse Harrison, “nenhum profeta inspirado”,
usaremos esse termo para fins didáticos.
Os quatrocentos anos de Período Interbíblico caracteri-
zam-se pela cessação momentânea da revelação profética, pelo
silêncio extensivo em que Deus permaneceu em relação ao seu
povo, pois durante esse tempo nenhum profeta se levantou sob
autoridade divina.
Geralmente tem-se dificuldade em situar esse período,
mas, para facilitar, é bom ter em mente o retorno de Israel do ca-
tiveiro babilônico sob Ciro, o persa, em 535 a.C. Nesse retorno es-
tavam Esdras, Neemias, Ageu, Zacarias e por último Malaquias.
Depois de Malaquias, que exerceu seu ministério entre 470 – 433
a.C., não se levantaram profetas inspirados até aparecer João Ba-
tista pregando no deserto (Mt 3).
Deve-se levar em consideração também que o povo,
ao retornar do cativeiro, não estava mais dividido entre Sul e
Norte, Jerusalém e Israel, pois as dez tribos do Norte, Israel, fo-
ram dizimadas no cativeiro assírio (722 a.C.), quando Sargão II

15 MOODY, Comentário Bíblico. Volume II. 2ª ed. São Paulo: Batista regular,
2017, p. 15.
133
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

miscigenou o povo com outras nações, dando origem aos sama-


ritanos e, assim, se espalharam entre outros povos.
Durante o período Interbíblico, após o cativeiro babilô-
nico, os judeus viveram sob domínios consecutivos de três im-
périos: persa, grego e romano. Israel vai viver nesse contexto
dominado por esses povos, mas também é nesse período que a
história registra fatos marcantes para o nosso interesse: a revol-
ta dos Macabeus e o surgimento dos livros apócrifos, além de
algumas instituições e grupos político-religiosos importantes na
cultura judaica.
Interessante que o ambiente do Novo Testamento é de
domínio romano, mas de cultura grega. Alexandre, o Grande
(356 a.C. - 326 a.C.), conquistou o mundo e logo helenizou a sua
época. A cultura grega logo se disseminou, despertando o inte-
resse pelo conhecimento e, com isso, o fortalecimento da língua
grega. O período Interbíblico ajuda-nos a entender essa transi-
ção.
Flávio Josefo (37–100 d.C.), historiador judeu, nascido em
Jerusalém e de uma família sacerdotal, nos traz informações va-
liosas, sendo, portanto, uma fonte histórica sobre esse período.
Obras: Guerras Judaicas, conhecidas também como a guerra dos
judeus ou a história das guerras judaicas; Antiguidades Judaicas;
Contra Apion ou Tese contra Apion e Autobiografia.
Estudar o período interbíblico é situar-se em um Testa-
mento que se finda e em outro que inicia.

134
Capítulo 1

A literatura Apócrifa

A literatura também é um diferencial desse período, sem


levar em consideração o mérito de inspiração divina, pois isso
já é assunto decidido, mas no valor histórico desses livros, que
trazem registros dessa época, contribuindo muito para a com-
preensão daquele contexto.
Nesse período surgiram muitas obras que deram o nome
de literatura apócrifa, que virou sinônimo de livros não inspira-
dos; também a literatura pseudoepigráfica, nome dado aos es-
critos judaicos extrabíblicos ou não inspirados do Antigo Testa-
mento; e apocalíptica, gênero bem explorado nesse período. Não
é fácil datar o surgimento desses livros com precisão, uns dizem
que podem ter surgidos em 190 a.C. ou entre 100 e 130 a.C.
Os autores desses livros são difíceis de identificá-los, não
havendo concordância entre os estudiosos. Entretanto, alguma
certeza há, como, por exemplo: os livros de Macabeus não foram
escritos por nenhum membro dessa família; Daniel, o profeta he-
breu, não escreveu os “Acréscimos a Daniel”, como também não
foi o rei Salomão, filho de Davi, que escreveu “Sabedoria”.
Os judeus estavam espalhados pelo mundo sofrendo
as terríveis humilhações, bem provável que isto, junto com ou-
tros fatores, como a esperança messiânica e o nacionalismo nas
interpretações das profecias, tenham contribuído para o surgi-
mento dessas literaturas. Como bem disse Enéas Tognini: “fal-
tando-lhes a revelação divina, voaram nas asas da imaginação,
urdindo planos que consubstanciaram em peças literárias, cujas
preocupações eram consolar o povo que esperava uma palavra
135
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

de Deus. No silêncio da voz divina, multiplicaram-se as palavras


humanas.”
O mestre Antônio Gilberto diz que nas Bíblias de edição
romana o total de livros é de 73, porque essa igreja, desde o Con-
cílio de Trento em 1546, incluiu no cânon do Antigo Testamento
7 livros apócrifos, além de 4 acréscimos ou apêndices a livros
canônicos, acrescentando, assim, ao todo 11 escritos apócrifos.
A palavra “apócrifo” significa, literalmente, “escondi-
dos”, “oculto”, isto em referência aos livros que tratavam de
coisas secretas, misteriosas. No sentido religioso, o termo signi-
fica “não genuíno”, “espúrio”, desde sua aplicação por Jerôni-
mo (347-420 d.C.). Os apócrifos foram escritos entre Malaquias
e Mateus, ou seja, entre o Antigo e o Novo Testamento, numa
época em que cessou por completo a revelação divina. Por falta
da voz divina, os homens produziram seu “cânon” espúrio, isto
basta para tirar-lhes qualquer pretensão de canonicidade. Flávio
Josefo rejeitou-os totalmente, nunca foram reconhecidos pelos
judeus como parte do cânon hebraico. Jamais foram citados por
Jesus nem foram reconhecidos pela igreja primitiva.
Jerônimo (347-420, d.C.), Agostinho (354-430, d.C.), Ata-
násio (296-373, d.C.), Júlio Africano (160-240, d.C.) e outros ho-
mens de valor dos primitivos cristãos, opuseram-se a eles na
qualidade de livros inspirados. Apareceram pela primeira vez na
Septuaginta, a tradução do Antigo Testamento feita do hebraico
para o grego. Quando a Bíblia foi traduzida para o latim, em 170
d.C., seu Antigo Testamento foi traduzido do grego da Septua-
ginta, e não do hebraico. Quando Jerônimo traduziu a Vulgata
no início do século V (405 d.C.), incluiu os apócrifos oriundos
da Septuaginta, através da Antiga Versão latina, porque isso lhe
foi ordenado, mas recomendou que esses livros não poderiam
servir como base doutrinária.
Os 14 escritos apócrifos, dos quais 10 são livros e 4
acréscimos, até antes do Concílio de Trento, a igreja romana acei-
tava, mas depois passou a aceitar apenas 11, dos quais 7 eram
livros e 4 acréscimos. A igreja ortodoxa grega mantém os 14 até
hoje.
A igreja romana aprovou os apócrifos, em 18 de abril de
1546, para combater o movimento da Reforma Protestante, en-
136
Convenção Unida Internacional Período Interbbíblico

tão incipiente. Nessa época, os protestantes combatiam violenta-


mente as novas doutrinas romanistas: do purgatório, da oração
pelos mortos, da salvação mediante obras, etc. A igreja romana
via nos apócrifos bases para sustentar essas doutrinas e apelou
para eles, aprovando-os como canônicos.16
Harrison corrobora com Tognini quando diz que foi no
período de silêncio profético que grande parte desses livros foi
escrita. Ele cita e faz um breve comentário de alguns apócrifos
dessa época.
I e II Esdras: enquanto o primeiro Esdras tem teor históri-
co, o segundo é mais apocalíptico.
Tobias: narra a história de um piedoso judeu que vivia em
Nínive e menciona o Arcanjo Rafael. Obs: na Bíblia Protes-
tante só há menção ao Arcanjo Miguel (Jd 9).
Judite: a história de Judite, uma judia muito bela que li-
vrou o seu povo.
Acréscimos a Ester: suplemento ao livro bíblico de Ester
que registra as orações de Ester e de Mardoqueu.
Sabedoria de Salomão: louvor à sabedoria.
Eclesiástico: escrito provavelmente em 180 d.C., é um
puro exemplo de poesia judia que exalta as virtudes da
sabedoria e do temor a Deus.
Baruque e a Epístola de Jeremias: escrita na Babilônia cin-
co anos depois da queda de Jerusalém, é uma mensagem
de Baruque aos exilados para se voltarem a Deus.
A Canção dos três Filhos Santos: a canção foi colocada na
boca dos jovens hebreus, Sadraque, Mesaque e Abede-Ne-
go, e inserida em Dn 3.23, na Septuaginta.
A história de Susana: a história de Susana descreve a hi-
pocrisia de dois anciãos que tentaram seduzi-la, mas ela os
recusou e foi salva por Daniel.
Bel e o Dragão: conta a história de como Daniel matou o
Dragão que era adorado na Babilônia. Daniel foi lançado
na cova dos leões, mas foi salvo milagrosamente.
I e II Macabeus: 1 Macabeus descreve o período da revolta
dos Macabeus, um livro que apresenta a história da Judeia

16 GILBERTO, Antônio. 1986, pp. 63-64.


137
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

desde a ascensão de Antíoco Epifânio (175 a.C.) até a mor-


te de Simeão (135 a.C.). Pensa-se que foi escrito cerca de
105 a.C. O segundo livro dos Macabeus contém a história
do período entre 175 e 160 a.C., paralelo, mas independen-
te a 1 Macabeus. É o resumo de uma história mais detalha
por certo Jason de Cirene (2.23).

138
Capítulo 2

A Revolta dos macabeus

Antíoco Epifanes (215–164 a.C.) governava com requintes


de crueldade. Nutria um ódio mortal pelos judeus. Com os boa-
tos de sua morte, os judeus ficaram felizes. Mas, com o alvoroço
em Jerusalém, Antíoco pensou se tratar de uma rebelião. Assim,
correu para Jerusalém e lá cometeu as maiores atrocidades ma-
tando mais de 40 mil judeus, entre eles crianças, jovens e velhos,
além de levar alguns para o cativeiro.
Se a crueldade já bastava por si só, ele ainda profanou a
religião judaica matando um porco sobre o altar do templo em
Jerusalém, algo repugnante para os judeus. Obrigaram os judeus
a comerem aquela carne assada sob o fio da espada. Ainda bor-
rifaram o sangue misturado com os excrementos do suíno por
todo o templo. Além da profanação feita por Antíoco, ele ainda
roubou os judeus, os quais ficaram dois anos sob humilhação,
pois Antíoco deixou Filipe como governador da Judeia.
A crueldade não era só pelas mãos diretas de Antíoco,
mas por pessoas que odiavam os judeus, como Apolônio. Em um
dia de sábado, quando os judeus estão sob a lei, Apolônio matou
muitos hebreus e incendiou Jerusalém. Isso agradou Antíoco que
cerceou o direito de culto, decretando um único tipo de culto
conforme a sua imagem e semelhança. Tanto o templo de Sama-
ria em Gerizim como o de Jerusalém foram dedicados a outros
deuses. A crueldade em todos os sentidos contra os judeus fora
intensificada cada vez mais, a ponto de muitos preferirem salvar
a sua própria vida. Se uns judeus fracassaram, outros preferi-
ram morrer a ter que violar o sábado do Senhor ou a comer essa
139
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

carne.
Em meio a essa desumanidade imposta por aquele louco,
houve aquele sentimento de patriotismo escondido em muitos
judeus, mas em especial em um velho fiel sacerdote do Senhor
por nome de Matatias que residia em um lugar simples, Modei-
na, entre Jerusalém e Jope. Esse “velho fiel” era um descendente
direto da casa de Arão. Tinha cinco valorosos filhos: João, Simão,
Judas, Eleazar e Jônatas.
Certo subalterno de Antíoco foi a regiões onde estava o
velho Matatias e o obrigou a sacrificar a outros deuses. O velho
sacerdote se recusou e ainda matou o comissário de Antíoco e
derrubou o altar daqueles deuses pagãos, eclodindo o grito da
Independência!
Matatias juntamente com seus cinco filhos começaram a
integrar judeus que quisessem aderir à luta contra seus inimigos,
com o objetivo de se libertarem completamente. Mas, depois de
muitos meses e já com um exército robusto, Matatias morreu.
Antes de morrer, recomendou que Simão, um dos seus filhos,
fosse o conselheiro e Judas, o chefe militar, e assim se foi em 167
a.C., em Modeina.
Judas, cujo apelido era Macabeus (“o Martelador”), tor-
nou-se o grande general do exército hebreu. Judas Macabeus era
amado pelos judeus e conseguiu juntar grandes quantidades de
patriotas.
Depois de muitas batalhas contra seus inimigos, Judas li-
derou a purificação do templo, símbolo sagrado dos judeus. “No
dia 25 de chisleu (novembro/dezembro) de 166 a.C., 3 anos de-
pois que Epifanes profanou com porco o altar do Senhor, Judas
dedicou o templo. Foi uma festa muito grande. Durou oito dias.
Esse sucesso, conhecido como “Festa da Dedicação”, foi obser-
vado pela posteridade dos judeus. O Senhor Jesus participou de
uma dessas festas, conforme lemos em João 10.22-23.”
Antíoco Epifanes morreu em 164 a.C., por uma terrível
enfermidade na Babilônia. Sua morte foi agonizante, os judeus
acreditam que um espírito mau se apossou dele.
Em 161 a.C., os judeus foram derrotados pelos grego-sí-
ros, e Judas morreu como herói. Foi sepultado junto com seu pai
em Modeina. Seu irmão Jônatas, apelidado “o astuto”, o subs-
140
Convenção Unida Internacional Período Interbbíblico

tituiu naquele movimento de independência, mas morreu por


traição de Trifão quando estava em um banquete a portas fecha-
das.
Assim, restava o último sobrevivente dos Macabeus, Si-
mão, o Conselheiro. Homem sábio, teve um governo próspero e
reinou por 30 anos, como o de seus irmãos Judas e Jônatas. Foi
morto por seu genro, Ptolomeu, que queria usurpar seu trono,
junto com seus dois filhos, Judas e Matatias, em 135 a.C., dando
cabo ao último sobrevivente dos Macabeus. Mas, um dos filhos
de Simão, João Hircano fugiu, e com ele inicia a “dinastia hasmo-
niana”.
Apesar da linda história dos Macabeus, é bom que se
diga que há uma diferença entre a primeira e a segunda gera-
ção hasmoniana. A primeira, com Matatitas e seus cinco filhos
e a segunda dinastia, com João Hircano, as duas gerações têm
configurações distintas, principalmente de intolerância. Os filhos
de João Hircano perfilaram por corredores negros que a história
registra. Apesar da libertação contra os sírios e seus inimigos, a
dinastia hasmoniana desapareceu em 37 a.C.

141
Capítulo 3

O fim do silêncio profético

O silêncio profético17 durou quatrocentos anos, quatro


séculos sem voz profética. Difícil de saber por quais razões o Se-
nhor não levantou profeta nesse período, privando o mundo e o
seu povo dos seus arautos. Mas aquele período era “momentâ-
neo”, até a voz que retumbou no deserto: “e naquele dia aparece
João Batista pregando no deserto da Judeia e dizendo: arrepen-
dei-vos, porque é chegado o Reino dos céus. Porque este é anun-
ciado pelo profeta Isaías, que disse: voz do que clama no deserto:
preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas” (Mt
3.1-3).
Malaquias profetizou: “eis que eu envio o meu anjo, que
preparará o caminho diante de mim; e, de repente, virá ao seu
templo o Senhor, a quem vós buscais, o anjo do concerto, a quem
vós desejais; eis que vem, diz o Senhor dos exércitos”, (3.1). Ma-
laquias, sendo um dos últimos profetas do AT, vaticinou uns
quatrocentos anos antes de Cristo esta profecia, logo, se consi-
derarmos o que Jesus falou em Mateus quando disse sobre João
Batista,“E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir”

17 Sempre afirmamos que durantes os quatrocentos anos conhecidos como


tempos de silêncio profético, Deus não falou com os homens nesse período. Si-
las Daniel, porém, em sua obra O Batismo no Espírito Santo e as línguas como a
sua evidência (CPAD), diz que Deus falava nesse período com uma “voz misterio-
sa”, ainda afirma que nesse período houve profetas como João Hircano e os profetas
essênios, cem anos antes de João Batista (ver p.96). Entretanto, quando ratificamos
o silêncio profético nesse período, nos referimos aos profetas bíblicos, sendo João
Batista o último profeta nos moldes do AT (Lc 16.16). Nesse sentido, não houve pro-
fetas canônicos, e o próprio Silas Daniel diz que “não havia real inspiração profética”.
142
Convenção Unida Internacional Período Interbbíblico

(11.14), resta-nos concluir que, entre Malaquias 3.1 e Mateus 3.1-


3, temos um hiato de quatro séculos que foi interrompido com
aquela voz profética no deserto da Judeia, que veio “no espírito
e virtude de Elias” (Lc.1.17), ou seja, João Batista era o Elias pro-
fetizado por Malaquias (4.5).
Como bem profetizara Malaquias, em 3.1, o Senhor en-
viaria o seu anjo para “preparar o caminho”, João Batista confir-
mou com base na profecia correlata de Isaías (40.3) que ele era
“a voz que clama no deserto” e que preparava “o caminho do
Senhor” (Mt 3.3).
O silêncio profético foi encerrado com o ministério de
João Batista, aquele que veio preparar a vinda do Messias, inclu-
sive, ele mesmo batizou Jesus (3.13-17) nas águas do Jordão para
iniciar o Seu ministério.
Quando tudo estava pronto, Jesus nasceu em Belém (2.1),
cresceu em Nazaré (2.23, e, após o Seu batismo nas águas do
Jordão (Mt 3.16), iniciou seu ministério aos trinta anos (Lc 3.23),
escolhendo seus discípulos (Mt 10; Lc 10), e percorreu toda a Pa-
lestina pregando o evangelho do reino (Mt 4.23).
Os 400 anos de silêncio, apesar da ausência da voz pro-
fética, foi um período que merece nossa atenção, até porque é
perceptível que Deus estava preparando o cenário para a vinda
do Seu Filho.
Destarte, devemos considerar Gálatas 4.4: “mas, vindo
a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho”, pois Jesus
nasceu na plenitude dos tempos, o tempo preparado por Deus,
tendo João como precursor.

143
Capítulo 4

Seitas políticas-religiosas e
instituições judaicas

Para uma melhor compreensão do Novo Testamento, é


importante que saibamos algumas coisas pertencentes àquele
contexto, como seitas com caráter político-religioso, instituições
e as tradicionais festas judaicas.

Os Fariseus
Esse nome, hb. pharush, gr. pharisaios, lat. pharisaeu,
tradicionalmente tem-se dito que o significado é “separatista”,
talvez, diz Harrison, seja uma alusão ao seu inconformismo ou,
como ainda sugere esse autor, “fosse usado como zombaria por
causa de sua severidade que os separava de seus conterrâneos
judeus, como também dos gentios”. Mas F.F.Bruce18 diz que “é
muito mais provável que eles fossem chamados de “fariseu” no
sentido “separatista”, pois evitavam rigorosamente tudo o que
pudesse lhes causar impureza cerimonial, pois eles certamente
tomavam cuidados extremos no que dizia respeito à pureza ritu-
al, às leis sobre alimentos, à lei do sábado e outras afins.”
Os fariseus, que eram descendentes dos “piedosos” du-
rante a guerra dos Macabeus, tinham a lei de Moisés ao pé da
letra. Era um grupo exclusivista. Teologicamente, acreditava-se
na existência dos anjos, espíritos, na ressurreição dos mortos.
Nesse sentido era diferente dos Saduceus, que não acreditavam
em nada disso. Davam uma forte ênfase às regras dos dízimos

18 BRUCE, F. F. História do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2019, p.


79.
144
Convenção Unida Internacional Período Interbbíblico

(Lc 18.12), a ponto de não comer qualquer alimento que “a me-


nos que o dízimo sobre eles de fato já tivesse sido pago”. Jesus
condenou as atitudes desse partido, pois agiam com hipocrisia,
usando a lei para exigir, mas sem nenhum espírito de misericór-
dia e bondade. O mais famoso dos fariseus no Novo Testamento
foi o apóstolo Paulo (Fp 3.5).

Os Saduceus
O nome saduceus pode ser uma forma hebraica do grego
syndikoy, “síndico”, “membros do conselho”, ou também pode
ser assim chamado por sua linhagem sacerdotal com Zadoque, o
sumo sacerdote indicado por Salomão (1 Rs 2.35).
Os saduceus eram opostos aos fariseus, suas crenças e
posição social deixam esse antagonismo bem claro. F.F. Bruce
diz que, “como eram poderosos, os saduceus parecem ter limita-
do as poucas famílias ricas, em especial as principais famílias de
sacerdotes, ao passo que os fariseus contavam com a estima do
povo de modo geral. A bem da verdade, a distinção entre os dois
partidos costuma ser vista como originariamente social, sendo
os saduceus descendentes de patrícios proprietários de terras,
enquanto os fariseus eram originários dos comerciantes das ci-
dades.”
Os saduceus eram o partido de pessoas ricas e, para não
perder seus prestígios, se submetiam ao império romano e não
faziam oposição ao helenismo daqueles dias. Enquanto os fari-
seus dominavam as Sinagogas, haja vista seu apego à Torah, os
Saduceus controlavam o sacerdócio e o ritual do Templo.

Os Essênios
Não existe unanimidade quanto à origem do nome “es-
sênios”, mas pode significar “piedoso”, “justo”, derivado do ara-
maico, hasya, ou, ainda, “curador”, do aramaico asya.
Esse partido, apesar de pouco mencionado, existia nos
dias do Novo Testamento, e muitos escritores do primeiro século
escreveram sobre eles, como Filo de Alexandria (20 a.C.–50 d.C.),
Flávio Josefo (37 d.C.–100 d.C.), Plínio, o Velho (23 d.C.–79 d.C.),
que apesar dos exageros, são fontes importantes. Acredita-se que
viviam na região do Mar Morto, provavelmente no Mosteiro de
145
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

Qunram. Segundo Filo, havia aproximadamente quatro mil essê-


nios, que trabalhavam na agricultura e viviam de forma ascética,
isolados. Parece que abraçou o celibato moderado e que só ho-
mens adultos podiam fazer parte dessa comunidade.
Reuniam aos sábados em suas Sinagogas para estudar as
Escrituras Sagradas e davam forte ênfase às questões morais e
religiosas. “Eles tinham muitos escrúpulos na atenção que pres-
tavam à pureza cerimonial, e tinham todos os bens – dinheiro,
alimentos e roupas – em comum. Evitavam sacrifícios animais,
fazer juramentos, serviço militar e atividades comerciais. Não
mantinham escravos, faziam provisão para o que, dentre eles,
não podiam trabalhar por doença ou idade e, de modo geral, cul-
tivavam todas as virtudes. De fato, eram exemplos vivos da tese
de Filo, na qual afirma que os homens verdadeiramente bons são
verdadeiramente livres” (BRUCE, 2019, p. 91).
Conta-se uma história sobre um dos profetas essênios,
que certa vez, quando Herodes ainda era criança, a caminho da
Escola, Menaém, o profeta essênio, o cumprimentou como futu-
ro rei e que ele teria uns trinta anos de reinado. Por isso, acre-
dita-se que o Menaém, de Atos 13.1, foi uma “das formas pelas
quais Herodes, o Velho, honrou o profeta Menaém, escolhendo
um neto dele com o mesmo nome para ser criado na corte como
companheiro de seu próprio filho Antipas, o futuro tetrarca da
Galileia e da Pereia.”
Como o próprio nome sugere, Zelotes indica zelo, talvez
por seu zelo à lei mosaica. O surgimento dos zelotes foi em 6
d.C., “fundado” por Judas, o Galileu, que, segundo Josefo, era
a quarta “escola filosófica dos judeus” - as três primeiras seriam
o partido dos fariseus, saduceus e essênios. Entre os discípulos
de Jesus havia um zelote por nome de Simão (Lc 6.15). Teologi-
camente os zelotes tinham as mesmas crenças dos fariseus, mas
se diferenciavam em um ponto: eles lutavam pela libertação dos
judeus de domínios estrangeiros; eram revolucionários políticos
e acreditavam em suas participações ativamente nesse processo.
Os zelotes eram “profundamente antirromanos, eles eram quase
tão hostis ao sistema judaico – à hierarquia e aos ricos aristocra-
tas – quanto os romanos. Ganharam a admiração do povo co-
mum porque eram reconhecidos como seus defensores.”
146
Convenção Unida Internacional Período Interbbíblico

Os Herodianos
O nome tem sua origem em Herodes, o Grande, que
“tentou romanizar a Palestina. Na verdade, era mais um partido
político do que religioso. Os herodianos acreditavam “que os in-
teresses do judaísmo melhor se defenderiam com a cooperação
com os romanos”. Logo, entendiam que a aliança com Roma for-
taleceria os interesses dos judeus. Não desfrutavam da simpatia
do povo, e se tornaram inimigos de Jesus, a ponto de querer ma-
tá-lo: “E, tendo saído os fariseus, tomaram logo conselho com os
herodianos contra ele, procurando ver como o matariam” (Mc
3.6).

Os Escribas e Rabinos
Os escribas eram copistas e pessoas versadas na lei de
Moisés e usufruíam de grande autoridade entre os judeus. Teo-
logicamente estavam alinhados com os fariseus.
Os rabinos tinham como função principal a explicação e
interpretação da lei, e seus ensinamentos eram preservados em
livros que tinham muita importância para os estudiosos dos es-
critos mosaicos. Jesus por diversas vezes condenou a tradição
rabínica por eles se colocarem acima das Escrituras, principal-
mente os fariseus.
Havia duas principais escolas rabínicas. 1ª) a Escola de
Hilel, que tinha uma interpretação do AT mais moderada e 2ª)
Escola de interpretação Shammai, onde estavam os rabinos mais
famosos por causa de suas interpretações mais extremadas do
AT.
Basicamente havia algumas obras rabínicas que serviam
como interpretação: O Talmude, uma coletânea de comentários
do AT; Halakah, tinha como objetivo maior a interpretação da lei,
e o Haggadah, por sua vez, a aplicação da lei.

Templo
O Grande Templo construído (1004 a.C. ?), por Salomão e
destruído pelos babilônicos em 586 a.C., foi reerguido por Ageu
e Zorobabel, em 537 a.C., e anos mais tarde reformado por He-
rodes em cerca de 19 a.C. Percebe-se claramente que a vida re-
ligiosa no Novo Testamento girava principalmente em torno do
147
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

Templo, o qual foi muito importante para os judeus e até para a


igreja incipiente. Em Atos 3 lemos que os apóstolos subiam ao
Templo para a oração, o que mostra que era uma prática regular.
No ano 70 d.C., o Templo foi destruído pelos romanos quando o
general Tito liderou a destruição de Jerusalém.
A Sinagoga (Imagem: Sinagoga espanhola)
A origem das Sinagogas remonta ao cativeiro babilônico
quando o povo estava em terras estranhas e sem templo e se reu-
niam para ler as Escrituras e salmodiar ao Senhor.
As Sinagogas são vistas com frequência no Novo Testa-
mento e até o Senhor Jesus pregou em muitas delas, a igreja pri-
mitiva de igual forma e, principalmente, Paulo em suas viagens
missionárias. As Sinagogas foram importante aliadas do cristia-
nismo para a expansão da sua mensagem.
Havia um número considerável de Sinagogas, o livro de
Atos registra a sua existência nas cidades de Damasco, Chipre,
Icônio, Tessalônica, Bereia Corinto e Éfeso. Em Roma descobri-
ram indícios da existência de onze Sinagogas.
Para formar uma Sinagoga era preciso ter dez homens.
A função principal desse lugar era orar e estudar a lei, além de
preservar os rolos do Antigo Testamento, como também podia
funcionar como uma escola rabínica que ensinava o AT.
No culto na Sinagoga lia-se o shema (Dt 6.4), havia cânti-
cos sem instrumentos musicais, além de oração e leitura do AT.
Quando havia alguém capacitado, esses faziam uma homilia.
Caso houvesse algum visitante e esse fosse conhecido de todos
quanto à capacidade de ensinar, era franqueado com a oportuni-
dade de expor uma porção das Escrituras.

O Sinédrio
Essa palavra vem do grego sinedrion, que significa “as-
sembleia”. Era a autoridade máxima dos judeus. Um conselho
com poder político e religioso, composto por setenta pessoas
com representantes dos fariseus (estudioso da lei), membros de
famílias ricas e os saduceus (classe sacerdotal).
O Sinédrio ficava em Jerusalém, mas se estendia também
por toda a Palestina. Tinha poder criminal, político e religioso.
Como judeu, Jesus foi julgado pelo Sinédrio.
148
Convenção Unida Internacional Período Interbbíblico

O período interbíblico não pode ser ignorado, faz parte


da história e é uma porta aberta para o mundo do Novo Testa-
mento. Muitas coisas sucederam nesse período tanto na história
como nas páginas bíblicas e, por isso, é importante estudarmos
essa época.

149
Conclusão

Estudamos um dos períodos mais interessantes do con-


texto bíblico, pois situa o leitor da Palavra de Deus exatamente
em que momento se encontrava o encerramento do Antigo e o
início do Novo Testamento. É importante saber o contexto em
que as passagens se encontram, e esse período, de certa forma,
nos indica através dos relatos históricos.
Os três famosos filósofos gregos, a saber: Sócrates (470-
399 a.C), mais o seu discípulo Platão (428-347 a.C), e Aristóteles
(384-322 a.C), viveram, bem provavelmente (com base na crono-
logia), no contexto histórico dessa época, em especial os dois úl-
timos.
Pincelamos um pouco sobre os livros apócrifos, vimos
como nesse período a produção literária foi profusa. Vários li-
vros foram escritos e, dentro do seu contexto e gênero, têm a sua
importância, como os históricos livros dos Macabeus que narram
a saga de uma família consumida por um amor ao seu povo e,
não só isso, mas também o desdobramento dessa revolta e suas
consequências na história do povo judeu.
Mesmo sendo utilizados pela Igreja Católica Romana,
é sempre importante afirmar que Jesus, os apóstolos e a igreja
primitiva não os reconheceram como canônicos. Basta ler e será
explícita a ausência de inspiração divina e que as suas narrati-
vas estão longe do padrão canônico. Eles são usados muito mais
para sustentar dogmas do que privilegiar a genuína palavra de
Deus.
Algumas instituições e seitas serão predominantes na
narrativa neotestamentária. Ao entrar no mundo do Novo Tes-
tamento, será comum ler nos evangelhos, por exemplo, sobre os
fariseus, escribas, Sinagogas, rabinos, etc. Inclusive será comum
Jesus ser o alvo dos escribas e fariseus, como também dos hero-
dianos, que, nas narrativas dos evangelhos, tentaram matar nos-
so Senhor.
As Sinagogas, que provavelmente tiveram origem no ca-

150
Convenção Unida Internacional Período Interbbíblico

tiveiro babilônico, são instituições que sempre serão vistas nos


relatos dos evangelhos, o próprio Jesus pregou nas Sinagogas e,
posteriormente, veremos o quanto serão importantes no desen-
volvimento do Cristianismo, em especial no ministério de Paulo,
que muito utilizou.
Israel saiu do cativeiro babilônico pelos persas, mas ain-
da não era uma nação livre, como bem mostra esse período.
Esse tempo, que durou quatrocentos anos, encerrou-se
com o aparecimento de João Batista no deserto da Judéia com
uma mensagem de arrependimento. Batista foi a última voz pro-
fética nos moldes do AT, ele veio preparar o caminho para o Se-
nhor Jesus, cumprindo assim a profecia messiânica.
O período interbíblico também nos mostra que Jesus nas-
ceu num período de domínio político romano, mas de cultura
grega. Essa mistura é perceptível. Israel é uma nação sob domí-
nio romano e, por isso, há uma tensão política e religiosa entre
esses dois povos.
Temos uma porta aberta na história para contextualizar-
mos principalmente o mundo do Novo Testamento, pois o pen-
samento desse período será sentido nas narrativas, e a situação
de Israel estará ainda sob domínio estrangeiro nesse contexto, o
Senhor Jesus nascerá, o que levará muitos a pensarem que Ele
será o libertador político do seu povo, quando, na verdade, Ele
veio salvar os perdidos.

151
Bibliografia

ANDRADE, Claudionor de. Geografia Bíblica. CPAD. BERKHO-


FF, Louis. Introdução ao Novo Testamento. CPAD.
BRUCE, F.F. História do Novo Testamento. Vida Nova.
GOWE, Richard. Novo manual dos usos e costumes dos tempos
bíblicos. CPAD.
JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. CPAD.
MERRILL, Eugene. História de Israel no Antigo Testamento.
CPAD.
MESQUITA, Antônio Neves. Povos e nações do mundo antigo.
Hagnos.
________________ Panorama do mundo bíblico. Casa Publicado-
ra Batista.
MOODY, Comentário Bíblico. Volume II – Novo Testamento.
Batista Regular.
TOGNINI, Enéas. Período Interbíblico. Hagnos.
152
Panorama do
Novo Testamento
Sumário

Introdução ___________________________________________ 157


Capítulo 1: Os Livros Biográficos _______________________ 159
Capítulo 2: Livro Histórico _____________________________ 168
Capítulo 3: As Epístolas Paulinas _________________________172
Capítulo 4: As Epístolas Gerais __________________________ 189
Capítulo 5: Livro Escatológico ___________________________199
Conclusão ____________________________________________202
Bibliografia ___________________________________________204

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156
Introdução

O estudo dos livros do Novo Testamento é a segunda


parte do Panorama Bíblico, que está dividido entre o Antigo e
o Novo Testamento. Veremos, portanto, o panorama do Novo
Testamento, que fecha o Panorama Geral.
O Novo Testamento é diferente do Antigo em vários as-
pectos, a começar pela quantidade de livros, pois, enquanto o AT
tem 39, o NT tem apenas 27. É uma mistura de livros pequenos
e medianos quanto ao volume. O maior livro do NT, em quan-
tidade de capítulos, é o livro de Atos (junto com o evangelho de
Mateus têm 28 capítulos, mas o capítulo 28 de Atos tem 11 versí-
culos a mais), e o menor livro é a carta de 2 João, com apenas 13
versículos.
O estudo panorâmico do NT tem como objetivo o conhe-
cimento geográfico, histórico e teológico de cada livro. Desde
Mateus a Apocalipse veremos os 27 livros de forma sucinta, mas
com informações necessárias que possibilitem o leitor a situar
cada livro dentro do seu contexto original.
Não temos como objetivo fazer um comentário exaustivo
de cada livro, pois, para isso, seria necessária uma obra especí-
fica sobre o tema. É oportuno sugerir aos leitores que adquiram
bons comentários bíblicos, essas obras são de grande valia para
a compreensão dos textos, pois são obras exegéticas de grande
relevância.
O estudo do nosso Panorama Bíblico levará em conta o
contexto de cada autor, possíveis datas, os destinos de cada um
e, o principal, o conteúdo, a mensagem que é a fonte de edifi-
cação para a igreja e a razão do estudo. Ainda que não façamos
comentários extensos, procuraremos deixar claro o conteúdo do
livro em análise como um todo.
Obedeceremos a sequência tradicional das divisões do
Novo Testamento (NT):

Livros biográficos, Mateus a João;

157
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

Livro histórico, Atos dos Apóstolos;


Epístolas paulinas, Romanos a Filemom;
Epístolas gerais, Hebreus a Judas;
Livro escatológico, Apocalipse.

É possível que haja discordâncias, até porque em nada


há consenso total, só a Bíblia é absoluta. Mas, seguiremos a li-
nha conservadora que reflete bem a nossa identidade. Longe de
causarmos confusões ou colocar em dúvidas pilares sólidos que
sustentamos como verdade. Ainda que haja diferenças, é só uma
questão de entendimento e de possibilidades.
Um ponto importante também neste estudo é que todas
as datas são aproximadas, uma ou outra podem ser objetivas,
mas na sua maioria são possibilidades. Para um mesmo livro
pode haver mais de uma possível data, mas, conforme analisa-
mos todo o contexto, sustentamos as mais prováveis.
Os autores podem também variar no sentido de uns afir-
marem categoricamente a autoria, e outro não, essa dificuldade é
comum, visto que há um distanciamento e que as fontes variam.
Isto pode facilitar quando os testemunhos internos são de fácil
identificação. Apesar de diferentes do AT, os autores do NT são
mais fáceis de identificação.
O Novo Testamento é um verdadeiro banquete geográ-
fico, histórico, social e teológico, quem souber se servir terá um
banquete que nutrirá o seu intelecto, mas, principalmente, a sua
vida espiritual.

158
Capítulo 1

Os livros biográficos

O Novo Testamento abre as cortinas com a narrativa so-


bre a vida do Senhor Jesus em quatro Evangelhos, a saber: Ma-
teus, Marcos, Lucas e João, daí consideramos que esses quatro
evangelhos são livros biográficos.
Essa pequena biografia registra a vida e a obra do Senhor
Jesus sob a perspectiva de cada escritor. É fácil perceber que há
os traços da personalidade dos autores nos seus respectivos re-
gistros. Mateus, por exemplo, escrevendo para um público ju-
deu, cita vários costumes judaicos sem a necessidade de explica-
ção. Lucas, por ser um homem culto, usa um grego polido. Cada
escritor foi inspirado pelo Espírito sem perder o estilo pessoal.
Os três primeiros Evangelhos são conhecidos como sinó-
ticos devido à semelhança dos relatos nos três respectivos evan-
gelhos. Claro que, devido às perspectivas de narrativas pelos
quatro autores diferentes, há o que chamamos de “problemas
sinóticos”, que são aparentes discrepâncias dos mesmos eventos
registrados por cada um dos escritores que, na maioria das ve-
zes, são complementares, o que requer do leitor um exame mais
cuidadoso evitando a precipitação de uma falsa interpretação.
Os Evangelhos, ainda que narrem a vida de Jesus, não
descrevem os detalhes como segue uma biografia tradicional. Na
verdade, o que temos nos Evangelhos é uma visão panorâmica
da vida e obra de Jesus sob os pontos principais do seu ministé-
rio e da sua obra redentora.
Um relato que todo mundo gostaria de saber, por exem-
plo, é sobre os dezoito anos de silêncio sobre a vida de Jesus, pois
159
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

nenhum dos escritores relata sobre esse período silente. Jesus


nasceu em Belém, foi criado em Nazaré, posteriormente aparece
aos doze anos entre doutores e, depois, só aparece aos trinta anos
no rio Jordão para ser batizado por João Batista. Nada sabemos
sobre os dezoito anos de ausência da vida pública de Jesus, senão
algumas especulações.
O evangelista João fez uma afirmação que nos mostra
claramente que os registros que temos são os fatos necessários
para a salvação dos homens, sem, contudo, esgotar a biografia
de Jesus. “Jesus, pois, operou também, em presença de seus dis-
cípulos, muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro.
Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo,
o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome”
(Jo 20.30-31).
Os Evangelhos têm Jesus como a Pessoa central e a sua
obra redentora como a sua missão, isso é unânime nos quatro re-
latos. Se não temos uma biografia nos moldes tradicionais, temos
dados suficientes para conhecer o “Deus encarnado” (Jo 1.14) ca-
paz de salvar todos os homens que creem na obra redentora do
Senhor Jesus.

O Evangelho de Mateus
Data: uns sugerem data anterior a 70 d.C., e outros, por
volta de 80 d.C. O dr. Holmer Kent diz que a data do Evange-
lho de Mateus deve ser anterior a 70 d.C., pois, não encontramos
nele indicação de que Jerusalém estivesse em ruínas (sendo cla-
ramente proféticas todas as predições de sua destruição). Passa-
gens tais como 27.8 (“até ao dia de hoje”) e 28.15 (idem) exigem
um intervalo de certa duração, mas quinze ou vinte anos após a
ressurreição seriam suficientes. Provavelmente ele escreveu da
região da Síria-Palestina.
Autor: com base na tradição, Mateus, conhecido por Levi.
Foi chamado por Jesus Cristo enquanto trabalhava na alfânde-
ga (Mt 9.9) e, desde então, integrava o colégio apostólico (Mt
10.2-3). Era da região da Galileia e, apesar de ser um judeu, era
odiado pelos seus patriotas pelo fato de ser publicano, e estes
não eram benquistos pelos judeus por cobrarem impostos do seu
povo para os romanos. Pois além disso havia a crença de que os
160
Convenção Unida Internacional Panorama do Novo Testamento

publicanos (coletores de impostos) acrescentavam os valores e,


assim, roubavam para si. Sofreu seu martírio na Etiópia apedre-
jado, queimado e decapitado.
Mateus não foi o primeiro evangelho a ser escrito segun-
do a cronologia, ainda que em nossas Bíblias seja o primeiro livro
do Novo Testamento. Acredita-se que o primeiro evangelho te-
nha sido Marcos, o que sugere para alguns que Mateus se utili-
zou do evangelho já existente de Marcos como fonte, o que para
outros é improvável. O doutor Holmer Kent diz que ainda que
seja possível que Marcos fosse escrito primeiro e que estivesse à
disposição de Mateus, não houve nenhum uso servil desse Evan-
gelho mais curto por parte de Mateus, e muitos têm argumenta-
do pela completa independência desses dois livros.
A mensagem do evangelho de Mateus é direcionada para
os convertidos do judaísmo, logo, é um evangelho para os ju-
deus. Isso justifica o porquê de Mateus se utilizar tanto do An-
tigo Testamento, mais que os outros evangelistas. Em Harmony
of the Gospels19, de Robertson, há uma lista de 93 citações do AT
em Mateus, 49 em Marcos, 80 em Lucas e 33 em João. Além da
ausência de explicações sobre tradições judaicas. Mateus faz alu-
sões a costumes judaicos sem a necessidade de explicá-los, visto
que seu público é judeu. Se levarmos em consideração que Ma-
teus tem o propósito de provar que Jesus era o Messias esperado
pelos judeus, temos outro motivo para justificar o uso tão prolixo
do AT por parte desse evangelista.
O evangelho de Mateus tem algumas singularidades,
como, por exemplo, alguns fatos no nascimento de Jesus (junto
com Lucas são os únicos evangelistas que relatam o nascimen-
to do Senhor Jesus) só Mateus narra, como a visita dos sábios
do oriente (2.2-15), o massacre de Belém (2.16-18), a fuga para
o Egito (2.19-22), e o retorno para Nazaré (2.23). Existem ainda
outras peculiaridades nesse evangelho que o diferencia dos de-
mais. De todas as parábolas que o Senhor Jesus contou há dez
que encontramos somente no evangelho de Mateus: a parábola
do Joio (13.24-30; 36-43); tesouro escondido (13.44); parábola da
pérola (13.45-46); parábola da rede (13.47-50); credor incompas-

19    Citação de Holmer Kent, em Comentário Bíblico Moody. Volume II, p.


24.
161
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

sivo (18.23-35); os lavradores da vinha (20.1-16); os dois filhos


(21.28-32); as bodas (22.1-14); as dez virgens (25.1-13); parábola
dos talentos (25.14-46). Ainda encontramos só em Mateus o re-
gistro de dois cegos (Mt 20) e a moeda na boca do peixe (17.2427).
Nos quatro primeiros capítulos Mateus narra a genealogia de Je-
sus, o seu nascimento, o início do seu ministério pelo Batismo de
João nas águas do Jordão e a sua vitória sobre o Diabo no monte
da tentação. Os capítulos 5-7 Mateus narra Jesus como pregador
com a mensagem insuperável do Sermão do Monte. Há nesse
evangelho nove discursos especiais: Além do sermão do monte,
o convite universal (11.28-30), sobre as palavras vãs (12.36-37), a
revelação de Pedro sobre quem é Jesus (16.17-19); sobre a humil-
dade e o perdão (18.15-35); a rejeição de Jesus (21.43), oito “ais
de vós” (23.13-36), as profecias escatológicas de Jesus (24-25), a
grande Comissão e as promessas (28.18-20). Além desses even-
tos, há outros registrados por Mateus ligados à paixão de Cristo,
o sonho da mulher de Potifar (27.19), a ressurreição dos santos
depois da ressurreição de Jesus (27.52-53), a mentira do desapa-
recimento do corpo de Jesus (27.62-64), o terremoto na manhã da
ressurreição (28.2).
Mateus é o Evangelho do Rei que escreveu para os judeus
e, por isso, havia a necessidade de um registro escrito, pois, como
bem disse Craig Keener20, “os rabinos ensinavam as tradições
orais, mas os cristãos judeus necessitavam de uma coletânea es-
crita dos ensinamentos de Jesus para uso dos conversos gentios.
Mateus salienta reiteradamente que Jesus cumpre em sua pessoa
as Escrituras judaicas e argumenta a partir dessas Escrituras da
maneira como faria um escriba especializado”.
Mateus esboça o seu livro iniciando com uma apresen-
tação geral de Jesus (1-4.1-11). Ainda mostra o seu ministério na
Galileia e circunvizinhança (4.12 - 18.35), como também na região
da Judeia, Peréia, Jerusalém (19 - 26.46) e, dedica a parte final da
sua narrativa (26.47-28.1-20) à prisão de Jesus, seu julgamento,
crucificação, sepultamento, ressurreição, e a ordem da Grande
Comissão.

20    KEENER, Craig. Comentário Bíblico Atos – Novo Testamento. Belo Ho-


rizonte: Atos, 2004, p. 42.
162
Convenção Unida Internacional Panorama do Novo Testamento

O Evangelho de Marcos
Data: entre 50 a 80 d.C. ou 55-65 d.C.
Autor: Marcos, também conhecido por João Marcos, sen-
do que João é o nome judaico, e Marcos é o nome latino, era pri-
mo de Barnabé, companheiro de Paulo. Sua mãe, Maria, tinha
uma casa em Jerusalém frequentada pelos seguidores de Jesus
(At 12.12). Acompanhou Paulo e Barnabé na primeira viagem
missionária (At 13.5, 13). Apesar da recusa de Paulo em levá-lo
na segunda viagem missionária (15.36-41), ele não desistiu do
apóstolo, mas aparece como fiel companheiro na sua prisão em
Roma (Cl 4.10; Fm 23-24) e, na segunda prisão de Paulo, este pe-
diu a Timóteo que levasse Marcos (2 Tm 4.11).
Marcos não fazia parte do colégio apostólico (Mt 10.24),
mas viveu entre os apóstolos, e a sua familiaridade com a igreja
era natural. Há uma tradição que diz que Marcos foi companhei-
ro de Pedro, de onde ele tirou o conhecimento sobre o Senhor
Jesus para escrever o seu evangelho. Papias, bispo de Hierapólis,
na Frígia, responsável por essa tradição, escreveu em 140 d.C.:
“Marcos, que era o intérprete de Pedro, escreveu precisamente
tudo que ele lembrava, tanto das palavras como das ações de
Cristo, mas não em ordem. Pois ele não foi nem ouvinte nem al-
guém que acompanhou o Senhor”. É importante ressaltar ainda
que Pedro faz menção de Marcos na sua primeira carta: “a vossa
coeleita em Babilônia vos saúda, e meu filho Marcos” (5.13). Ob-
serve a expressão de Pedro, “meu filho”, o que demonstra uma
verdadeira amizade entre ambos. Parece, pela fala de Pedro, que
ambos estiveram presentes na Babilônia. Talvez Babilônia se re-
fira a Roma, ou também à própria Babilônia/Caldeia, onde Pedro
exerceu seu ministério antes de ir para Roma.
Há muitas possibilidades de onde Marcos escreveu o seu
evangelho. Craig Keener cita Galileia, Alexandria e Roma como
prováveis locais. João Crisóstomo (347-407) achava que poderia
ter sido no Egito. A possibilidade mais aceita tem sido a cidade
de Roma.
Esse evangelho foi escrito para os cristãos romanos du-
rante a grande perseguição contra os primeiros cristãos. Donald
Burdick diz que o hábito de Marcos de explicar os termos judeus
e seus costumes aponta leitores gentios (5.41; 7.2-4, 11, 34). As
163
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

declarações de Clemente de Alexandria no sentido de que os que


em Roma ouviram a pregação de Pedro insistiram com Marcos
para que lhes providenciasse uma narrativa escrita é também um
testemunho a favor de quem sustenta que o Evangelho foi redi-
gido para cristãos romanos.
Marcos escreve para uma comunidade de cristãos roma-
nos que está, provavelmente, sob perseguição. Ele escreve um
relato biográfico para aqueles cristãos a fim de consolá-los, mos-
trando que Jesus não era um político ou revolucionário qualquer,
mas o Messias que ultrapassava qualquer limite político.
Diferentemente de Mateus e Lucas, Marcos não escreveu
o nascimento de Jesus, mas inicia o seu relato a partir do seu ba-
tismo. Doravante, a narrativa de Marcos é baseada naquilo que
Jesus fez, sem, contudo, dar longas explicações, apesar de haver
mais detalhes.
Os dezesseis capítulos de Marcos podem ser divididos
em duas partes, do capítulo 1-9 se concentra no ministério de Je-
sus com suas variantes, e os capítulos 10-16 se referem, em maior
abrangência, à sua paixão, ressurreição e suas últimas palavras.
A parte final, capítulo 16, é motivo de discussão quanto à origi-
nalidade da narrativa, se saiu da pena de Marcos ou se foi acres-
centado posteriormente, pois segundo alguns não se encontram
nos manuscritos mais antigos.
“Nos 16 capítulos de Marcos, apenas quatro parágrafos
são exclusivos deste Evangelho (4.26-29; 8.22-26; 9.49-50; 13.33-
37). O restante aparece também em Mateus ou Lucas, ou aparece
em ambos. Mas como cada evangelista adaptou o material a seu
propósito específico, o que se tem não é uma simples duplicação
de relato. Nenhum deles é dispensável. E perder Marcos seria
perder muito mais do que aqueles quatro parágrafos que não en-
contramos em nenhum dos outros Evangelhos. Marcos nos mos-
tra Jesus em ação, para convencer, a partir das coisas que Jesus
fez, que ele era de fato o que admirava ser: o Filho de Deus.”

O Evangelho de Lucas
Data: não há consenso sobre a data desse Evangelho,
havendo várias sugestões. 60-63 tem sido sugerida por Donald
Stamps; 59-63 por Robert Gundry. Outros ainda datam em um
164
Convenção Unida Internacional Panorama do Novo Testamento

tempo depois da queda de Jerusalém em 70 d.C.


Autor: Lucas. Este Evangelho é o único dentre os quatro
escritos por um não-judeu, que tradicionalmente ficou conheci-
do “o médico amado” (Cl 4.14). Foi companheiro de Paulo por
dez anos, o que muito facilitou as suas pesquisas in loco. Lucas
foi um homem culto e de muita capacidade literária, os seus re-
gistros estão aí para provar tal proeza. Merril C. Tenney destaca
as qualificações de Lucas: “médico, pastor, evangelista itineran-
te, historiador e escritor”. Lucas, segundo Taylor Caldwell, era
grego, descendente de um escravo alforriado e que se formou
em medicina na prestigiada universidade de Alexandria, Egito.
A cultura de Lucas é admirável, ele mostra o domínio da lín-
gua grega e sabia organizar os fatos com maestria. Apesar de ser
um gentio, não se mostra ignorante com a cultura judaica, estava
contextualizado a tal ponto que sua redação não deixa dúvida do
que se trata sobre assuntos de natureza religiosa ou cultural dos
judeus.
Os registros de Lucas foram endereçados a uma pessoa:
“pareceu-me também a mim conveniente descrevê-lo a ti, ó ex-
celentíssimo Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado
minuciosamente de tudo desde o princípio” (Lc 1.3). Teófilo, que
significa “amigo de Deus”, era um oficial do alto escalão romano
que já sabia quem era Jesus e que patrocinou as pesquisas de
Lucas mais detalhadas sobre o Messias. Se for levar em conside-
ração que as obras de Lucas (Lucas-Atos) foram endereçadas a
esse importante oficial romano, não é exagero afirmar que esses
registros chegaram à classe culta de Roma através de Teófilo.
Lucas segue o exemplo de Mateus ao narrar o nascimen-
to de Jesus e dá pouca ênfase aos milagres e centraliza mais nos
discursos de Cristo, o que é compreensível tendo em vista o seu
público-alvo.
Sugerem que Lucas se utilizou dos escritos de Marcos
como fonte para o seu relato. Teólogos dizem que ele usou 65%
do material de Marcos, reproduzindo parte dele quase ao pé da
letra. Além das testemunhas, ele também utilizou material exclu-
sivo de Mateus.
O evangelho de Lucas é mais discursivo, ou seja, a ênfase
está mais no que Jesus falou, sem perder de vista que Ele é um
165
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

homem perfeito, ideal. Isso não quer dizer que Lucas não teve
a preocupação de registrar alguns milagres de Jesus, pelo con-
trário, ele registrou alguns, vejamos: a grande pescaria (5.411), a
ressurreição do filho da viúva de Naim (7.11-18), a mulher com
espírito de enfermidade (13.11-17), o hidrópico (14.1-6), os dez
leprosos (17.11-19) e a cura da orelha de Malco (22.50-51).
Lucas selecionou dez parábolas exclusivas em seu Evan-
gelho: os dois devedores (7.41-43), o bom samaritano (10.30-37),
o homem rico e seu celeiro cheio (12.16-21), a figueira estéril
(13.6-9), a dracma perdida (15.8-10), o filho pródigo (15.11-31),
o administrador infiel (16.1-12), o rico e Lázaro (16.19-31), o juiz
iníquo e a viúva importunadora (18.1-8), o fariseu e o publicano
(18.9-14).
É importante salientar que, dos três evangelhos sinóticos,
Lucas é o que mais faz menção do Espírito Santo em seu Evange-
lho, o que credencia serem os seus registros a base teológica do
pentecostalismo moderno. Enquanto Marcos tem seis referências
e Mateus, doze, Lucas menciona dezesseis vezes o Espírito San-
to só no seu evangelho, sem considerar o livro de Atos, que é o
segundo volume dessa obra e que tem farta referência sobre a
Pessoa do Espírito.
O evangelho de Lucas mostra Jesus como o Filho de Deus
sob a perspectiva de um homem perfeito. Registrou sua gene-
alogia e seu nascimento como Mateus, mas focou naquilo que
Jesus falou. O seu evangelho é de fato “uma perfeita joia da arte
grega”, como disse Robert Gundry.

O Evangelho de João
Data: anos 90 d.C. Com o descobrimento de fragmentos
no Egito, a data limite tem que ser no final do primeiro século.
Autor: João, “o discípulo amado”. No Novo Testamento temos
três Joãos famosos: João Batista, o precursor de Jesus (Mt 3), João
Marcos, o autor do Evangelho (At 12.12; 15.37) e João, “o discípu-
lo amado” (21.20), autor desse Evangelho, filho de Zebedeu, que
foi um dos doze. Ainda que não seja unânime, é possível que ele
tinha escrito o seu evangelho de Éfeso ou nas regiões da Galileia
ou Síria.
Em vez de fazer uma apresentação iniciando pelo nasci-
166
Convenção Unida Internacional Panorama do Novo Testamento

mento de Jesus, João apresenta a Sua divindade logo de início e


faz questão de registrar o primeiro milagre em Caná da Galileia.
Claro que, dentro de todo o contexto do seu Evangelho, ele tinha
como objetivo mostrar o Jesus divino, o verbo de Deus. A refe-
rência que mostra o propósito do evangelista é 20.30-31: “Jesus,
pois, operou também, em presença de seus discípulos, muitos
outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes, porém,
foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de
Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.”
“O cuidado do apóstolo João em descrever o ministério
de Jesus e o ministério de João Batista (1.19–37; 3.22–36) pode re-
fletir a preocupação do apóstolo com sua audiência judaica. Mas
o evangelho de João também apela aos gentios usando a palavra
“Verbo” (Logos), que para a maior audiência gentia transmitiria
a ideia de “Mente Divina” por trás da Criação.”21
João escreveu o seu Evangelho para provar que Jesus era
de fato o Filho de Deus, talvez por esse motivo os milagres para
João apontavam para o próprio Cristo, não sendo um fim em si
mesmo. Ele usa a palavra grega semeion, sinais, para sinalizar
que os milagres de Jesus conduzem para Ele mesmo. Para João,
não bastava crer em milagres, mas em Jesus.
A mensagem central dos livros biográficos é revelar a
Pessoa do Senhor Jesus mostrando a sua obra redentora. Cada
evangelista escreveu o seu relato fiel com o propósito de dissemi-
nar a mensagem e as obras de Cristo. Ainda que haja pequenas
referências em outras partes da Bíblia sobre o Senhor Jesus, o
maior relato biográfico sobre o nosso Salvador está nos quatro
evangelhos, portanto, se queremos conhecê-lo, devemos ler os
evangelhos simultaneamente.

21    Panorama da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD, 2016, p. 185.


167
Capítulo 2

O livro histórico

Se nos Evangelhos temos o relato sobre a vida do Senhor


Jesus, em Atos temos o que Jesus fez através dos seus discípulos
sob o poder do Espírito Santo.
Atos é o único livro no Novo Testamento que se preocupa
em nos trazer como a igreja de Jerusalém evangelizou paulati-
namente o mundo de então, como também as dificuldades dos
apóstolos que, aos poucos, foram sendo desobstruídas na medi-
da em que o evangelho se disseminava.
O relato de Atos sobre a igreja de Jerusalém, sob a lide-
rança apostólica, cobre um período de trinta anos de evangeliza-
ção.
Com esses relatos, o historiador sagrado não só tem a
preocupação de “registrar fatos”, mas também de fazer teologia.
O que se iniciou no Evangelho, mostrando a vida e o ministério
de Jesus sob o poder do Espírito, agora tem como pauta o Espíri-
to agindo na vida da igreja.

Data: 62-63 d.C.


Autor: Lucas (Ver introdução no Evangelho de Lucas).
Atos é a continuação de Lucas, ou seja, é o segundo vo-
lume da mesma obra. Assim como o primeiro volume, Atos é
também endereçada a Teófilo, que, segundo Warren Wiersbe, era
“um oficial romano que havia aceitado a Cristo e que precisa-
va ser fortalecido em sua fé. Também é possível que fosse um
homem em busca da verdade e para o qual a mensagem cristã
estava sendo ensinada, pois o termo traduzido por “instruído”,
168
Convenção Unida Internacional Panorama do Novo Testamento

em Lucas 1.4, vem do mesmo radical que nosso termo catecúme-


no, “alguém a quem estão sendo ensinados os fundamentos do
cristianismo.”
“O Evangelho de Lucas registra “todas as coisas que Je-
sus começou a fazer e a “ensinar” em seu corpo humano, e o
livro de Atos relata o que Jesus continuou a fazer e ensinar por
meio de seu corpo espiritual, a igreja” (WIERSBE, Volume V, p.
520). A narrativa de Atos tem como objetivo registrar os feitos
dos primeiros apóstolos da igreja incipiente por todo o império e
circunvizinhança sob o poder do Espírito.
Lucas, como um exímio historiador, lança os fundamen-
tos no capítulo primeiro e, em seguida, narra o fato do Dia de
Pentecostes e suas consequências. Fica muito claro que o poder
que eles receberam no Pentecostes foi a força propulsora para
cumprirem o seu chamado. A partir de Atos 2, o evangelho se es-
palha no mundo de então muito por causa daquelas nações que
estavam representadas no dia de Pentecostes (At 2.9-11), pois
ainda a igreja de Jerusalém era nacionalista.
Os oito primeiros capítulos de Atos mostram a igreja cen-
tralizada em Jerusalém, talvez por causa do forte exclusivismo
judaico. Até que aparece na história um personagem por nome
Saulo, nome hebraico, que posteriormente atenderá por seu
nome romano Paulo, o qual persegue a igreja de tal forma que
ela se espalha e chega, por providência divina, a Samaria através
de Filipe. O martírio de Estevão (Atos 7) mais a perseguição con-
tra a igreja (Atos 8) foram fatores externos que tiraram a igreja da
zona de conforto para ela cumprir o seu propósito (At 1.8).
A partir do capítulo 9, com a conversão de Saulo, as pers-
pectivas mudam, mas especificamente a partir de Atos 13.2: “e,
servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Apar-
tai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chama-
do”. Todos os apóstolos foram importantes para a sedimentação
do cristianismo dentro do propósito soberano de Deus, mas a
providência dos céus escolheu Paulo como “um vaso escolhido
para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos
de Israel” (9.15). Lucas acompanha Paulo como companheiro de
viagem missionária. Tertuliano disse que o que Pedro foi para
Marcos, Paulo foi para Lucas. Por isso que, em certo momento da
169
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

narrativa de Lucas, ele altera para a primeira pessoa do plural,


dando a entender que ele estava presente por ocasião daquele
registro.
Apesar da narrativa do doutor Lucas ser um gênero his-
tórico, não se pode perder de vista que ele não só fez sistematizar
um registro, mas também fez teologia, ou seja, além de ter em
vista mostrar como que aquela igreja vivia naqueles dias, tinha o
objetivo de enfatizar um padrão para as demais. E durante todo
o livro de Atos vemos uma igreja “autenticamente pentecostal”
na sua origem.
Alegar que Atos é meramente um livro descritivo, sem
ênfase prescritiva, é ignorar o propósito dos escritos de Lucas
tanto no Evangelho, o primeiro volume, como em Atos, o segun-
do volume. Não é sem sentido que Lucas dá ênfase à Pessoa e
obra do Espírito Santo nos dois volumes. O autor não só narra
história (descrição), mas também faz teologia (prescrição).
Ainda que o livro de Atos destaque os apóstolos, em es-
pecial Pedro, Tiago, João e Paulo, não é exagero que esse livro
seja os Atos do Espírito Santo através da igreja. É patente o Es-
pírito Santo entre os apóstolos gerando comunhão, prazer pela
oração, jejum e palavra, como também impulsionando-os para o
cumprimento da Grande Comissão como o Senhor Jesus ordena-
ra. E não somente na evangelização, mas ainda é visto o Espírito
Santo como o verdadeiro Paráclito, o Consolador, pois a igreja
viveu sob ameaças e perseguições de todas as formas, mas em
todos os momentos o Espírito de Deus esteve presente, portanto,
Atos é a descrição dos Atos do Espírito Santo.

A Cronologia22 do Livro de Atos


30 d.C – Fundação da igreja em Jerusalém (At 1-2).
32/35 – Conversão de Paulo (At 9)
34/37 – Primeira visita de Paulo a Jerusalém (At 9.26-30)
45 ou 46 – Por causa da fome, Antioquia envia doações
– Tiago é executado (At 12.2)
ou 47 – Primeira viagem missionária de Paulo (At 13-14)
48 – Os apóstolos se reúnem em Jerusalém (At 15)

22    ALEXANDER, Pat e David. 2008, p. 643.


170
Convenção Unida Internacional Panorama do Novo Testamento

48/51 - Segunda viagem missionária de Paulo (At 15.36 –


18.22)
52 - Paulo chega a Corinto (At 18)
53 – Início da terceira viagem missionária de Paulo (Atos
18.23)
54/57 – Paulo em Éfeso (At 19)
57/58 – Paulo na Grécia (At 20)
58 (junho) – Paulo chega a Jerusalém
58/60 – Paulo na prisão em Cesaréia (At 24 – 26)
60/61 – Paulo apela para César e é levado para Roma (At
27)
61/63 – Paulo em prisão domiciliar em Roma (At 28.30)

O livro de Atos dos Apóstolos é um livro inacabado, pois


a igreja continua cumprindo a ordem de Jesus e ela só será com-
pleta quando terminar a nossa labuta neste corpo e estivermos
com o Senhor na eternidade. Enquanto a nossa esperança não for
consumada, avante!

171
Capítulo 3

As epistolas paulinas

A sequência de treze cartas, conforme temos em nosso


Novo Testamento foi escrita por Paulo, por isso que chamamos
de Epístolas paulinas. Nessas epístolas (cartas), em sua maioria,
predomina o teor doutrinário, como, por exemplo, em Romanos,
Efésios, Gálatas, etc.
Paulo escreveu essas cartas em diferentes ocasiões e nem
sempre em situações favoráveis. Não podemos perder de vista
que o apóstolo dos gentios sempre foi alvo dos inimigos do evan-
gelho de Cristo e que, por isso, estava sempre em perigo, mesmo
assim, foi capaz de edificar a igreja por meio dos seus escritos.
Entre as epístolas paulinas que conhecemos existem
umas que são conhecidas como epístolas pastorais e outras, epís-
tolas da prisão. As primeiras são assim chamadas porque leva
em conta o teor da mensagem enviada, que são endereçadas aos
pastores Timóteo e Tito, com mais recomendações pastorais que
doutrinárias. As segundas, por sua vez, são assim designadas,
pois levam em conta as circunstâncias que o apóstolo se encon-
trava, pois sabemos que estava preso quando escreveu as cartas
aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses e a Filemom e que
foram entregues por Tíquico e Onésismo (Cl 4.3, 7-9; Fm 12; Ef
6.12).
Romanos é uma das cartas mais teológicas de Paulo,
principalmente os onze primeiros capítulos. O conteúdo teológi-
co da carta aos Romanos fez o Dr. Martin Lloyde Jones escrever
14 volumes sobre essa carta! Ainda as cartas de 1 e 2 Tessaloni-
censes são obras que têm grande valor teológico, além de Efésios,
172
Convenção Unida Internacional Panorama do Novo Testamento

Gálatas, etc.
A inestimável contribuição paulina é vista na sistemati-
zação doutrinária da igreja, pois é nos seus escritos que a igreja
neotestamentária fundamenta a sua teologia e doutrina, e essa
contribuição paulina não fica só restrita à teologia, mas em ou-
tras áreas também, como casamento, cidadania, etc.
Paulo foi um daqueles homens que Deus, na sua onis-
ciência, produziu no devido tempo com uma missão específica
(At 9.15) para contribuir com a expansão do Evangelho, e até os
apóstolos reconheciam que Deus equipou Paulo com uma capa-
cidade superior em prol do reino a tal ponto que Pedro reconhe-
ceu quando disse que “Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria
que lhe foi dada, falando disto, como em todas as suas epístolas,
entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e
inconstantes torcem...” (2 Pe 3.15-16).
O valor da vida e obra de Paulo é aquilatado pelo próprio
Deus que o escolheu e o vocacionou para o apostolado e, assim,
fundamentar a igreja nos ensinamentos do Senhor Jesus e no dos
apóstolos (Ef 2.20-22).

A Epístola aos Romanos


Data: 57 d.C.
Autor: Paulo.
Roma, uma importante cidade do império, era governa-
da por Nero, que, com o passar dos anos, tornou-se um homem
cruel. Até o imperador Cláudio expulsar os judeus, havia bas-
tante deles em Roma. Segundo Craig Keener, “a comunidade
judaica talvez contasse com 50 mil membros; muitas conversões
romanas ao judaísmo criaram ressentimento entre outros roma-
nos, da aristocracia, gerando tensões entre os elementos judaicos
e gentios na cidade”. Apesar de judeus estarem em Roma, eles
tinham como idioma não o latim, mas o grego. Não há informa-
ções sobre quem levou o evangelho a Roma ainda que a igreja
católica afirme que o seu fundador tenha sido Pedro, o que não
condiz com os registros históricos, mas em Atos 2.10 diz que ha-
via no dia de Pentecostes “forasteiros romanos” que, provavel-
mente, foram os que levaram o Evangelho para Roma.
Essa carta paulina foi escrita para a igreja romana, ou um

173
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

grupo de cristãos que moravam nessa cidade. Bem possível que


Paulo tinha em mente a necessidade de fundamentar a igreja ro-
mana nos principais fundamentos da fé cristã. É nessa epísto-
la que o apóstolo dos gentios escreveu sobre assuntos de difícil
compreensão, que por séculos mentes privilegiadas como Agos-
tinho, Lutero, Calvino, Armínio, Wesley, etc., se debruçaram nos
seus assuntos centrais.
Essa carta não foi aleatória, tinha propósito. Donald
Stamps diz que Paulo escreveu essa carta a fim de preparar o
caminho para a obra que ele esperava realizar em Roma e na
sua missão prevista para a Espanha. 1. Seu propósito era duplo.
Segundo parece, os romanos tinham ouvido boatos falsos a res-
peito da mensagem e da teologia de Paulo (exemplo, 3.8; 6.1, 2,
15); daí ele achar necessário registrar por escrito o evangelho que
já pregava há vinte e cinco anos. 2. Queria corrigir certos pro-
blemas da igreja, causados por atitudes erradas dos judeus para
corrigir os gentios (exemplos, 2.1-29; 3.1, 9), e dos gentios para
com os judeus (exemplos, 11.11-32).
O doutor Berkeley Mickelsen diz que Paulo começa com
alguns comentários preliminares preparando o leitor para tudo
quanto ele pretende escrever (1.1-17) e, assim, estabelece uma
harmonia excelente entre ele próprio e seus leitores. Depois ele
se direciona ao assunto da importância da justiça no relaciona-
mento entre o homem e Deus (1.18-8.39). Primeiro, destaca ori-
ginalmente que o homem não é justo, depois cuidadosamente
responde à questão: como um homem se torna justo diante de
Deus? Reforça a questão com a discussão de como o homem jus-
tificado diante de Deus deveria viver. Sendo judeu, Paulo olha-
va para a humanidade como se fosse dividida em duas classes
– judeus e gentios. Como cristão, como olhar para essas duas
divisões? Ele responde à pergunta quando examina o plano de
Deus para o judeu e para o gentio (9.1-11.36). Aqui ele estabelece
uma posição distinta para a história da filosofia cristã. Depois,
indo para a área da aplicação, dá exortações específicas para os
cristãos romanos quanto à sua aparência, atitude e prática (12.1-
15.13). Concluindo, ele mostra seu interesse profundo pelos
crentes romanos (15.14-16.27).
Dos dezesseis capítulos dessa carta, é visível que os onze
174
Convenção Unida Internacional Panorama do Novo Testamento

primeiros capítulos tratam de assuntos teológicos, e os últimos


cinco tratam de admoestações e saudações.
“Paulo desejava muito visitar os cristãos em Roma. Quan-
do escreveu essa carta, ele mal sabia que tempos depois chegaria
à cidade em cadeias e testificaria diante do imperador. Nem po-
deria imaginar sua morte por decapitação em Roma” pelas mãos
do sanguinário Nero.

Epístola aos Coríntios


Data: 54/55 d.C.
Autor: Paulo.
O apóstolo Paulo escreveu essa carta à igreja de Corinto
estando na cidade de Éfeso (1 Co 16.8). Na sua segunda viagem
missionária, por volta dos anos 50, Paulo ficou em Corinto dezoi-
to meses e lá anunciou o evangelho dando origem à igreja nessa
cidade. Lucas registra isso em Atos 18.1-17.
Segundo Keener,23 Corinto “era um dos principais centros
urbanos do Antigo Mediterrâneo e uma das cidades do Império
de maior diversidade cultural. Grega pela localização, capital
da Acaia (que cobria quase todo o território da antiga Grécia),
Corinto fora colônia romana durante cerca de um século. Mais
tarde foi recolonizada pelos romanos, isto é, após sua destruição.
Então, passaram a coexistir em seu espaço as culturas gregas e
latinas, assinalando-se, entre ambas, alguns choques. Sua locali-
zação no istmo de Corinto, breve rota por terra através da Grécia,
poupava aos navegantes a viagem mais traiçoeira pelo sul da pe-
nínsula. Isso a transformou em próspera comunidade mercantil,
o que contribuiu para a presença de religiões estrangeiras e pode
muito bem ter acelerado o nível de promiscuidade sexual. Con-
tundo, de um modo geral, a promiscuidade era característica de
toda a cultura masculina grega. Corinto era reconhecida por sua
prosperidade, e o proverbial desregramento sexual da antiga Co-
rinto grega parece haver se prolongado da Corinto romana.”
Essa igreja era bem diversificada, apesar de aparente-
mente ser de maioria gentia. Era uma igreja muito problemá-
tica em todos os aspectos, desde a imoralidade às coisas mais

23 Comentário Bíblico – Novo Testamento. Belo Horizonte: Atos, 2004, p. 470.


175
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

rudimentares da fé. Era uma igreja imatura. O exibicionismo so-


cial era um grande problema, e a falta de discernimento quanto
à Ceia do Senhor e a má compreensão sobre a ressurreição dos
santos eram muito mal compreendidas. Por ser uma igreja mista
(judeus e gentios), numa cidade promíscua, Paulo adverte-os a
ter consciência quanto à liberdade cristã para não praticarem o
mesmo daqueles que não conhecem a Deus. Apesar de ser uma
igreja onde se tinha os carismas (dons) do Espírito, era carnal.
Bom que se diga que o problema da igreja de Corinto não eram
os dons, mas sim a falta de sabedoria quanto aos mesmos.
A falta de entendimento quanto à unidade do corpo
gerou divisões internas dando status a Paulo, Pedro e Apolo,
que logo rejeitaram. A igreja de Corinto era uma mistura social
e racial. Além das famílias importantes, havia os escravos e os
oficiais do governo romano que contribuíam para a divisão da
comunidade de fé. A religiosidade em Corinto era intensa, o pa-
ganismo era forte. Havia na cidade o grande templo de Afrodite,
onde mil prostitutas do templo estavam à disposição. A mistura
da idolatria com a imoralidade era um dos grandes desafios da
igreja, e isso Paulo não deixou passar despercebido, mas exortou
aos cristãos coríntios que deveriam separar-se das
obras da carne.
Paulo já havia escrito para os coríntios em outra oportu-
nidade (Ver 5.9), mas é bem provável que essa carta se perdeu.
Mas, nessa carta que temos em mãos, fica claro que Paulo foi in-
formado de problemas internos que havia nela (1.10-6.20). Paulo
denuncia a divisão partidária na igreja sob pretexto de falsa sa-
bedoria. O apóstolo apela para a reconciliação sob a consciência
de que a igreja é um corpo. Além desse problema, a gravidade
da imoralidade que entrou na igreja era infame a tal ponto que
era pior que as dos ímpios. Incesto (capítulo 5), litígio entre os
irmãos (capítulo 6) e prostituição (6.12-20) eram práticas imorais
entre eles. Paulo responde algumas questões sobre o casamento,
celibato e vida de solteiro (capítulo 7), faz algumas admoestações
sobre liberdade cristã, alimentos, festas (capítulos 8-11). Um dos
grandes erros da igreja de Corinto era quanto à Ceia. Junto à
Ceia, havia a comunhão do Ágape, e estava havendo problemas
de acepção de pessoas e uma má compreensão da Ceia (capítulo
176
Convenção Unida Internacional Panorama do Novo Testamento

11). Os capítulos 12-14 tratam do mesmo assunto, os dons espiri-


tuais. O capítulo 13 é a base que valida o uso dos dons espiritu-
ais. Enquanto Paulo mostra os dons espirituais no capítulo doze,
no quatorze ele orienta como deve ser o seu uso em culto público
e mostra a sua importância. A igreja ainda tinha muitas dúvidas
sobre a ressurreição corporal, então ele dedica o capítulo quinze
para esse fim e conclui a carta (capítulo 16) sobre a coleta para os
cristãos mais pobres de Jerusalém, bem como transmite algumas
saudações. No último versículo, Paulo demonstra o seu afeto
para com aquela igreja: “o meu amor” (16.24).

Epístola aos Coríntios


Data: 56 d.C.
Autor: Paulo.
A segunda carta de Paulo aos coríntios foi escrita pou-
co tempo depois da primeira em algum lugar da Macedônia,
provavelmente em Filipos. A natureza dessa carta é mais uma
defesa pessoal de Paulo diante daqueles que não queria reconhe-
cer o seu apostolado. Ele faz uma autodefesa do seu ministério.
Também, faz uma coleta para os cristãos da Judeia que estava
sofrendo. Enquanto que a primeira carta Paulo queria resolver
problemas internos das mais variadas naturezas, na segunda, ele
sente a necessidade de fazer uma defesa do seu ministério, pois
seus inimigos colocavam seu apostolado em dúvida. É nessa car-
ta que ele fala sobre o espinho na sua carne (12.7), o que até hoje
tem sugerido diversas especulações, mas sem nenhuma conclu-
são final.
A segunda carta de Paulo aos coríntios pode ser dividi-
da em três partes principais. 1ª Capítulos 1-7, que trata mais de
um caráter de gratidão aos coríntios e pela alegria em meio ao
sofrimento. 2ª Capítulos 8-9, um apelo à generosidade para com
os irmãos mais pobres de Jerusalém. 3ª Capítulos 10-13, faz uma
defesa do seu apostolado, fala sobre os falsos apóstolos. Conta
sobre a sua experiência e conclui com uma referência que a cha-
mamos de benção apostólica: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e
o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com vós
todos. Amém!” (13.13).
As duas cartas de Paulo à igreja de Corinto mostram que

177
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

a igreja já havia sido bem espalhada pelo mundo da época, atin-


gindo várias classes sociais e étnicas. Havia diversos problemas
morais e espirituais nessa igreja e que Paulo magistralmente ins-
truiu aqueles irmãos conforme os ensinamentos de Cristo e dos
apóstolos.

Epístola aos Gálatas


Data: existem algumas possibilidades que varia entre 49
a 56 d.C.
Autor: Paulo.
Essa carta escrita pelo apóstolo Paulo foi endereçada aos
“gálatas”. Galácia, no primeiro século, tinha dois significados
que entre os estudiosos não há consenso a qual Paulo se refe-
re. Keener, por exemplo, diz que os eruditos discutem se Paulo
estaria se referindo aos que estavam na Galácia do Norte (uma
região situada na Ásia Menor colonizada pelos celtas, que não é
mencionada em Atos e que estava sendo evangelizada lentamen-
te) ou aqueles que moravam na região conhecida como Galácia
do Sul (que alguns eruditos chamam de Frígia – Galática). Se
Paulo utilizou tecnicamente o termo, ele deve estar se referin-
do a Galácia do Norte (que incluía Ancyra, Tavium e Pessinus);
mas, se o empregou no sentido genérico, como julgam alguns
escritores antigos, é possível que estivesse se referindo à região
da Frígia, mencionada nos capítulos 13 e 14 de Atos (incluindo
Antioquia, Icônio, Listra e Derbe).
Essa missiva tem caráter singular, pois vemos uma forte
ênfase de judaizantes querendo impor os seus ritos aos gentios.
Alguns judeus que haviam se convertido achavam que os gen-
tios deveriam se submeter às práticas judaicas e, nesse contexto,
Paulo escreve para se opor a essa imposição, deixando claro que
em Cristo somos salvos independente de ritos religiosos, como a
circuncisão.
Há também uma defesa do seu apostolado, pois esses que
perturbavam aquelas igrejas colocavam em dúvida os ensinos de
Paulo, sugerindo que este “tinha retirado certas exigências da lei
a fim de tornar o evangelho mais atrativo para os gentios”.
Myer Pearlman nos dá três objetivos pelos quais essa car-
ta foi escrita:
178
Convenção Unida Internacional Panorama do Novo Testamento

1. Opor–se à influência dos mestres judaizantes que pro-


curavam destruir a autoridade de Paulo.
2. Refutar os seguintes erros, que eles ensinavam: 1) que
a obediência da lei, com a fé, é necessária à salvação; 2) que o
cristão se aperfeiçoa guardando a Lei.
3. Reconquistar os gálatas que haviam caído da graça.
Todo cristão deveria dar uma atenção a essa carta para
entender que somos justificados pelos méritos de Cristo e que a
fé é o meio de agradar a Deus. Essa carta é tão importante
teologicamente que Lutero declarou-se casado com ela, “a sua
Catarina” (nome de sua esposa).

Epístola aos Efésios


Data: 62 d.C.
Autor: Paulo.
Quando Paulo escreveu estava preso, provavelmente em
prisão domiciliar em Roma, o que faz dessa carta, junto com Fili-
penses, Colossenses e Filemom, as “epístolas da prisão”.
A cidade de Éfeso era uma das mais importantes na Ásia
Menor (atual Turquia). David Gill diz que Éfeso era um porto
muito importante na foz do rio Caister, província romana da
Ásia. Hoje o rio está assoreado e os restos arqueológicos ficam a
certa distância do mar.
Éfeso era uma cidade grega que possuía uma das grandes
sete maravilhas do mundo antigo, que era o templo de Ártemis.
Diz Gill que, no período helenista, “Éfeso fazia parte do reinado
de Atalidas, que acabaria sendo entregue aos romanos, em 133
a.C. Mais tarde, a cidade veio a ser o centro administrativo da
província, sobrepujando Pérgamo, a antiga capital real”.
No período helenista (predominância da cultura grega)
foi construído um grande teatro, que mais tarde no governo de
Cláudio foi ampliado para 24 mil pessoas. Acredita-se que foi
para esse teatro que os companheiros de Paulo foram arrastados,
episódio registrado em Atos 19.23-41.
Paulo ficou dois anos em Éfeso ensinando e pregando o
evangelho do Senhor Jesus na sua terceira viagem missionária
e dali a mensagem de Cristo se espalhou por toda a província.
Uma vez preso em Roma, Paulo escreveu essa carta. Muito se

179
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

discute sobre o destinatário, mas acredita-se que foi escrita para


os efésios, como bem disse Alfred Martin, que, parece mais pro-
vável que uma congregação particular estava em vista, e não te-
mos fortes motivos para rejeitarmos o destino aceito tradicional-
mente.
É tida como uma das cartas mais profundas que Paulo
escreveu, ao lado de Romanos. Certamente essa profundidade se
dá pela forma que o escritor rabisca sobre temas importantes da
fé cristã. A igreja que estava na cidade de Éfeso era uma congre-
gação mista, ou seja, havia cristãos gregos, judeus e romanos, e
isso gerava choque na comunhão, a ponto de causar desgaste no
corpo. Por estar numa cidade onde se adoravam a deusa Diana,
que “entre muitas coisas, era a deusa da nova vida e do nasci-
mento”, a carta tem também como objetivo exortar os cristãos
sobre o proceder que honrasse a Cristo.
Comentando sobre o conteúdo dessa carta, o doutor Al-
fred Martin diz que esta epístola, junto com a de Colossenses,
enfatiza a verdade de que a igreja é o corpo do qual Cristo é o
Cabeça. Embora Paulo tivesse mencionado esta mesma verdade
antes, em Romanos 12 e 1 Coríntios 12, aqui não há nenhum ou-
tro ponto mais alto de revelação do que aquele que foi alcançado
nesta epístola, que é mostrar o crente assentado com Cristo nos
lugares celestiais e o exorta a viver de acordo com sua elevada
vocação. Na realidade, a epístola pode ser dividida em duas par-
tes principais, cada uma contendo três capítulos. Em Efésios 1-3
o apóstolo conta aos crentes o que eles são em Cristo. Em Efésios
4-6, ele lhe diz o que devem fazer por estarem em Cristo. Já se
sugeriu muitas vezes que o conteúdo da epístola pode ser resu-
mido em três palavras: assentado, andando e firme. Pela posição,
o crente está assentado com Cristo nos lugares celestiais (2.6);
sua responsabilidade é andar condignamente ao chamado que
lhe foi feito (4.1); e este andar é mais amplamente apresentado
como uma guerra na qual ele está empenhando contra Satanás e
todas as suas hostes e na qual ele é exortado a permanecer firme
contra as ciladas do diabo (6.11).
Donald Stamps, teólogo pentecostal, esboça a carta de
Efésios em dois pontos principais, mais os subpontos: 1. a reden-
ção do crente (1–3) e 2. a vida do crente (4-6).
180
Convenção Unida Internacional Panorama do Novo Testamento

Epístola aos Filipenses


Data: 62/63 d.C.
Autor: Paulo.
A cidade de Filipos ficava na Macedônia a 16 km do Mar
Egeu. Filipos leva esse nome em homenagem a Filipe II da Ma-
cedônia, pai de Alexandre Magno. Essa igreja foi fundada por
Paulo, sendo a primeira na Europa. “Era uma cidade romana
privilegiada, tendo uma guarnição militar”. Estava numa locali-
zação estratégica, constituindo porto de entrada da Europa. Con-
siderada uma Roma em miniatura, era famosa por sua mina de
ouro. Com a conversão de Lídia (At 16), em certo momento che-
gou a ser o “berço do Cristianismo europeu”. A igreja de Filipos
foi a primeira igreja que Paulo fundou na Europa durante a sua
segunda viagem missionária (At 16.12-40).
Filipenses é uma das cartas em prisão e se caracteriza por
ser uma carta mais pessoal. Robert Mounce diz que essa carta
tem um ar de confiança e fortes traços pessoais. Há uma ausência
marcada de doutrina formal. Até mesmo o grande hino no capí-
tulo 2 foi introduzido indiretamente para reforçar uma exortação
à humildade. A nota dominante da carta é a alegria. Ela revela o
apóstolo Paulo como “radiante no meio das tempestades e ten-
sões da vida”. Paulo estava preso aguardando a sua sentença por
Roma, e isso afligia os irmãos. O apóstolo dos gentios “tinha vá-
rios motivos para escrever. Queria explicar por que estava man-
dando Epafrodito de volta. Queria agradecer aos filipenses pelo
donativo que haviam mandado (e também se certificar de que
não enviariam outro, criando um ciclo de “dar presente e esperar
em troca”, conforme as convenções da época). Ele tinha notícias
para dar. E o que ouvira sobre os motivos a incentivá-lo e acon-
selhá-lo. Outras notícias chegaram a ele enquanto escrevia, o que
tornou necessário acrescentar uma palavra de advertência.”24
O tema dessa carta é alegria e Paulo escreve para contra-
por o desânimo dos filipenses por causa da prisão do apóstolo
em Roma, como também para resolver algumas questões. Nesta
carta, Paulo faz uma das mais lindas menções sobre Cristo
(2.5–11).

24    ALEXSANDER, Pat e David. 2008, p. 720.


181
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

Keener estruturou os quatro capítulos dessa carta assim:


capítulo 1 aplica os tópicos de Paulo e trabalho comum de Fili-
penses no evangelho (usando motivos das cartas de antigas ami-
zades). Capítulo 2 modela por imitação (em que ele inclui car-
tas de antigas amizades). Capítulo 3 inclui a digressão comum
nas cartas antigas. Capítulo 4 volta ao assunto principal da carta
(uma nota expectante de agradecimento para evitar qualquer su-
gestão de ideologia comum antiga protetor-protegido).

Epístola aos Colossenses


Data: 62 d.C.
Autor: Paulo.
Colosso estava localizada na Frigia, onde a religião era
praticada com intensidade, onde Cibele era a principal divinda-
de. Essa cidade sofreu um grande e terrível terremoto, mas se
reergueu. Colosso distava 160 km a leste de Éfeso na região da
Ásia Menor.
A carta aos colossenses foi escrita pelo apóstolo Paulo du-
rante o período que ele esteve em Éfeso. Essa igreja foi fundada
provavelmente por Epafras (Ver Cl 1.7), pois, Paulo nunca foi
nessa cidade (Ver 2.1). Não ficam explícitos quais eram os pro-
blemas teológicos que a igreja de Colosso estava sofrendo, mas
provavelmente “pelas refutações de Paulo ao falso ensino”, diz
Donald Stamps, “deduz-se que era uma mistura estranha de en-
sinos cristãos, tradições judaicas extra bíblicas e filosóficas pagãs
(semelhantemente ao sincretismo religioso das seitas falsas de
hoje). Tal ensino subvertia e substituía a centralidade de Jesus”,
arremata.
Ithel Jones esboçou a carta aos colossenses da seguinte
maneira: capítulo 1.1-8, saudação e ação de graça; 1.9-14, ora-
ção pelo progresso espiritual dos colossenses; 1.15-19, Cristo
em relação com Deus, com o universo e com a igreja; 1.20-23, a
obra reconciliadora de Cristo; 1.24-2.3, a tarefa do apóstolo na
proclamação dessa obra; 2.4-23, advertência e refutação do falso
ensinamento; 3.1-11, a nova vida e a velha; 3.12-17, as vestes da
santidade; 3.18 - 4.1, injunções concernentes à vida doméstica;
4.2-6, exortação à oração, sabedoria e conversação prudente; e,
4.7-18, recomendação e saudação finais.
182
Convenção Unida Internacional Panorama do Novo Testamento

1 Epístola aos Tessalonicenses


Data: 50 a 52 d.C. são possíveis datas.
Autor: Paulo.
Essa carta endereçada à igreja de Tessalônica foi o primei-
ro25 escrito (Gálatas?) de Paulo, uns vinte anos depois da ressur-
reição de Jesus quando esteve na cidade de Corinto. Tessalônica,
naquela época, tinha uma população de 200 mil habitantes e era
a principal cidade da Macedônia.
O ministério de Paulo nessa cidade foi curto devido a
perseguição por causa da conversão de alguns que estavam inte-
ressados no judaísmo.
A igreja tessalonicense foi modelo para todos da Macedô-
nia segundo o apóstolo (1.7). Aquela igreja foi exemplar e Paulo
faz questão de ressaltar a fé daqueles irmãos. A primeira carta
foi muito mais para fortalecer os irmãos sanando as dúvidas que
existia, até porque Paulo ficou pouco tempo com eles. A volta de
Jesus é um tema trabalhado por Paulo, pois “parece que alguns
crentes haviam morrido em Tessalônica, motivando preocupa-
ção sobre a sua salvação final. Por isso, Paulo explica o plano de
Deus para os santos que já tiveram partido quando Cristo voltar
para buscar a sua igreja (4.13–18), e exorta os vivos sobre a im-
portância de estarem preparados quando Ele vier (5.1–11). Paulo
termina a carta com uma oração pela santificação e preservação
espiritual dos tessalonicenses (5.23-24)”, diz Donald Stamps.
O doutor David Hubbard, comentando sobre o conteúdo
da carta, disse que os ensinamentos de Paulo sobre a volta de
Cristo, enquanto estivera em Tessalônica, gerara dois problemas
específicos: falta de trabalho sistemático à vista da iminente vin-
da de Cristo e medo de que os crentes mortos fossem privados
dos direitos da participação nas glórias desse grande evento.
Com característica integridade, Paulo enfrenta esses pro-
blemas, admoestando à diligência e fazendo uma dramática des-
crição dos papéis dos santos vivos e mortos na vinda de Cristo.
O livro termina (capítulo 5) com um desafio a que estejam alertas

25 Dependendo da data aceita, pode haver alteração, como alguns sugerem que a
primeira carta paulina pode ser Gálatas, por exemplo. A cronologia sempre deve ser enca-
rada em datas aproximadas, pois é muito difícil determinar a data específica sem nenhuma
margem de erro.
183
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

e com alguns conselhos práticos relativos às atitudes cristãs e


dons espirituais.

2 Epístola aos Tessalonicenses


Data: Existem escritores que sustentam que essa segun-
da carta foi escrita antes da primeira, mas os argumentos são
frágeis. Louis Berkhof diz que 2 Tessalonicenses 2.15 se refere,
claramente, a uma carta anterior a do apóstolo. É provável que
esta epístola tenha sido escrita alguns meses depois da primeira,
pois, por um lado, Silas e Timóteo ainda estavam com o após-
tolo 1.1, o que não era o caso, depois que Paulo deixou Corinto,
e ainda eram antagonizados pelos judeus, de modo que, muito
provavelmente, o seu caso ainda não havia sido trazido perante
Gálio (At 18.12-17); e, por outro lado, havia ocorrido mudança,
tanto no sentimento do apóstolo, que não mais fala do seu jeito
de visitar os tessalonicenses, como também na condição da igreja
à qual ele estava escrevendo, uma mudança que exigiria algum
tempo. Deveríamos datar a epístola aproximadamente em mea-
dos de 53 d.C.
Autor: Paulo.
A segunda carta aos tessalonicenses é mais um esclareci-
mento que surgira por causa da primeira carta. Assim, Paulo,
amorosamente, responde e pontua algumas questões.
Os equívocos que surgiram ficam evidentes principal-
mente no que tange à volta de Jesus e muitos deles achavam que
não precisavam mais trabalhar. Essa segunda carta tem mais um
teor de um pai corrigindo os seus filhos.
Stamps lista três características dessa carta. 1. Ela contém
um dos trechos mais completos do NT a respeito da iniquidade
e da impostura desenfreada, no final dos tempos (2.3-12). 2. O
justo juízo de Deus, vinculado à segunda vinda de Cristo, é des-
crito aqui em termos apocalípticos, como no livro de Apocalipse
(1.6-10; 2.8). 3. Emprega termos descritivos do Anticristo que não
se acham noutras partes da Bíblia.

1 Epístola a Timóteo
Data: considerando vários fatores, muitos sugerem 65
d.C., a possível data.
184
Convenção Unida Internacional Panorama do Novo Testamento

Autor: Paulo.
O apóstolo Paulo estava na Macedônia, quando, de al-
gum lugar nessa região, ele endereçou essa carta a um jovem
pastor na cidade de Éfeso por nome Timóteo, que era filho de
uma judia com um grego, natural de Listra, na província romana
da Galácia. Paulo o encontrou na sua primeira viagem missio-
nária em Listra, região que provavelmente foi o lugar onde Ti-
móteo se converteu e Paulo o levou em suas viagens. Com base
em 1 Tm 4.14 e 2 Tm 1.6, sabemos que Timóteo foi um obreiro
devidamente consagrado para o ministério com a imposição de
mãos e confirmada por profecias do Espírito (1 Tm 1.18).
Devido à juventude daquele obreiro, a oposição interna
era grande, assim, Paulo o aconselha como ele deveria proceder.
O mentor de Timóteo trata de assuntos éticos, morais, cívicos,
espirituais e principalmente ministeriais. Ao listar as qualidades
para o ministério, talvez Timóteo estivesse sofrendo algum tipo
de pressão, Paulo de certa forma reforça a chamada de Timóteo,
como também deixa claro que há requisitos para quem deseja o
episcopado.
Há vários fatores que motivaram o apóstolo a escrever
essa carta para aquele jovem pastor, como a partida de Paulo, de
Éfeso à Macedônia (1.3), a preocupação de que ele poderia estar
ausente por um período mais longo do que a princípio esperava
(3.14,15) e a dolorosa consciência de que erros traiçoeiros esta-
vam ameaçando a igreja de Éfeso (BERKHOF, 2018, p. 214).
Parece que membros de destaque que tinham cargos na
igreja questionavam o jovem pastor com um entendimento equi-
vocado da lei judaica, enfatizando mitos e genealogias (1.4; 4.7).
Os opositores internos de Timóteo proibiam casamento e prega-
vam a abstinência de certos alimentos (4.3), e ignoravam a ques-
tão da ressurreição (2 Tm 2.18).

2 Epístola a Timóteo
Data: 67 d.C.
Autor: Paulo.
Diferente da primeira, quando Paulo escreveu a segunda
carta a Timóteo, estava preso, aguardando a sentença no corre-
dor da morte. Paulo foi libertado depois da sua prisão (Atos 28),

185
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

mas depois foi preso novamente durante a perseguição de Nero.


Mas dessa vez é diferente, pois, como disse Louis Berkhof, ele
é tratado como um “criminoso comum” (2.9), e os seus amigos
asiáticos afastaram dele, com a exceção de Onesíforo (1.15); os
amigos que estiveram com ele durante o seu primeiro aprisiona-
mento agora estão ausentes (Cl 4.10-14; 2 Tm 4.10-12); e a pers-
pectiva do apóstolo é totalmente diferente da que encontramos
em Filipenses e Filemom.
Paulo faz um apelo a Timóteo a estar com ele, pois o
abandonaram na prisão e lá estava sofrendo como criminoso co-
mum. O coração de Paulo nessa carta pulsa por Timóteo como
um pai por seu filho. O apóstolo dos gentios, sabendo que pouco
tempo lhe restava, encorajou a Timóteo e exaltou a inspiração
das Escrituras e faz uma das mais lindas afirmações nos últimos
momentos de sua vida, depois de 35 anos após a sua conversão
em Damasco. “Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão
de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo. Combati
o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a
coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me
dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos os
que amarem a sua vinda”, (4.6–8).
Não podemos esquecer que essa segunda carta a Timóteo
é a última do seu ministério, pois ele está preso e, em seguida
será morto, durante a perseguição de Nero, imperador romano,
que decapitará o apóstolo.

Epístola a Tito
Data: 65/66 d.C.
Autor: Paulo.
Considerada uma carta pastoral, pois ela foi endereçada
ao pastor Tito, um gentio convertido através de Paulo e pastor
na ilha de Creta. Foi um cooperador fiel do ministério paulino.
Apesar das treze referências a Tito, não sabemos muitas coisas
sobre ele. Muitos acreditam que talvez ele fosse irmão de Lucas
(STAMPS).
Acredita-se que Creta foi um dos primeiros lugares a ou-
vir o evangelho. Os cretenses estavam presentes no dia de pente-
costes (At 2.11). Mas, mesmo assim, não tinham boa fama, eram
186
Convenção Unida Internacional Panorama do Novo Testamento

tidos como “mentirosos”, “besta ruins”, “ventre preguiçoso”


(1.12). Os gregos usavam o termo pejorativo “cretizar” para se
referirem a mentir.
A igreja de Creta estava ainda em processo de solidez,
mas já havia problemas internos. Os falsos mestres distorciam
o evangelho vivendo, na prática, o contrário ao que eles ensina-
vam. “Os irmãos são exortados para que vivam uma vida de pie-
dade, sujeitando-se às autoridades, não difamando ninguém e
reconhecendo que a nova vida em Cristo manifesta as boas obras
(3.11)”. O apóstolo dos gentios encoraja o seu companheiro Tito
a não arrefecer, mas seguir em frente diante de um grupo de cris-
tãos obstinados naquela ilha.
Louis Berkhof diz que o objetivo de Paulo, ao escrever
esta carta, é convocar Tito para que venha ter com ele, tão logo
outra pessoa tenha assumido o seu lugar; para dar-lhe orienta-
ções a respeito da ordenação de presbíteros nas diferentes cida-
des para adverti-lo a respeito dos hereges na ilha; e guiá-lo, em
seu ensinamento e em suas atitudes, com aqueles que não aceita-
vam a sua palavra.
Parece que Tito viveu os mesmos problemas de Timóteo,
e Paulo o exorta a cumprir seu ministério.

Epístola a Filemom
Data: Cerca de 62 d.C.
Autor: Paulo.
Esta carta é uma de caráter bem pessoal, ou seja, não tem
discussões teológicas, mas um pedido de acolhimento, aceita-
mento, reconciliação.
Paulo estava preso quando escreveu essa carta e teve
contato com Onésimo na mesma situação, um escravo fugitivo
do seu senhor Filemom, provavelmente um homem convertido
e de boa posição social que morava em Colosso. Paulo endere-
ça sua carta “ao amado Filemom, nosso cooperador, e à nossa
irmã Áfia, e a Arquipo, nosso companheiro, e à igreja que está
em sua casa” (vv. 1-2). Teólogos recentes acham que Arquipo era
um proprietário de escravos e Filemom, o superintendente das
igrejas no Vale de Licas. Mas, tradicionalmente, Arquipo é visto
como o filho de Filemom e Áfia, sua esposa.

187
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

Não sabemos como que Onésimo teve contato com Paulo na pri-
são, mas através desse contato Paulo o ganha para Cristo, ten-
do-o em grande estima. Entretanto, como a lei romana dizia, ele
tinha de “devolver” o escravo fugitivo para o seu senhor File-
mom. Paulo então intercede a favor do escravo, pois sabia das
consequências do ato de Onésimo, para que Filemom não mera-
mente o recebesse como escravo, mas como um irmão em Cristo.
E, assim, junto com Tiquíco, Paulo envia o escravo fugitivo para
quem era de direito, o seu senhor.
“Na verdade, ele estava pedindo que Filemom libertasse
Onésimo da escravidão e o mandasse de volta (13), em parte pe-
los serviços que Paulo havia prestado a Filemom. Paulo faz uso
de um costume daquela época: quem recebia um presente tinha
a obrigação de retribuir com outro. Isso explica o apelo no v.19:
Filemom devia a sua própria vida cristã a Paulo”.
Esta carta é a mais breve de Paulo e que a maioria dos
teólogos divide em três partes, a saber: introdução (1-7), o pedido
(8-21) e a conclusão (22-25).

188
Capítulo 4

As epistolas gerais

Diferente das Epístolas Paulinas em que há destinatários


específicos, as cartas gerais não seguem o mesmo padrão. Elas
não são enviadas para pessoas específicas, ainda que haja deba-
tes, vide a segunda e terceira carta de João, mas não é regra, pois
elas são escritas a cristãos em geral em certas situações de perigo,
sob perseguição, como é vista no contexto das cartas escritas por
Pedro.
Essas cartas compreendem de Hebreus a Judas, num
total de oito cartas que, também, são conhecidas como Cartas
Católicas (universais), visto que elas são endereçadas a todos os
cristãos.
Nesse grupo, a única carta que não sabemos o seu autor é
a carta de Hebreus, as demais são cartas que, ainda que tenham
discussões, como a de Judas ou a segunda carta de Pedro, sabe-
mos os seus autores humanos.
Quando analisamos cada carta, vemos como cada um
elaborou seus escritos sob temáticas diferentes. Hebreus, por
exemplo, é um tratado profundo cheio de religiosidade judaica
que exalta a Cristo e que demonstra que seu autor quis fazer um
paralelo exaltando a superioridade de Cristo. Interessante que o
trio de apóstolos (Pedro, Tiago e João) que dizemos terem sido os
mais íntimos de Jesus deixa registros históricos e inspirados pelo
Espírito Santo para a igreja. Apesar de não fazer parte do colégio
apostólico, Judas escreveu uma breve carta enérgica e com gran-
de teor apologético.
Nessas cartas percebemos que o cristianismo já havia se
189
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

espalhado e que os problemas internos e externos começam a


borbulhar, obrigando um posicionamento daqueles que foram
considerados testemunhas oculares por terem andado com Je-
sus. Tiago faz uma aplicação prática, Pedro consola os que esta-
vam sob perseguição, João adverte para permanecerem em Cris-
to, preservando-se dos falsos profetas.
Se temos em Hebreus uma carta anônima, por outro lado,
temos uma carta com profundidade teológica nos seus treze ca-
pítulos que é única em seu estilo; e, se temos uma brevidade de
vinte e cinco versículos em Judas, sobra energia apologética para
“batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos”, v.3.

Epístola aos Hebreus


Data: teólogos defendem uma data anterior à destruição
de Jerusalém, nos anos 70 d.C., pelos romanos. Stamps data entre
67-69.
Autor: o autor da carta aos Hebreus é um mistério para
nós, pois a sua autoria é atribuída a diversos autores, como
Barnabé, teoria defendida por Tertuliano; Lucas ou Clemente,
apoiada por Calvino; Apolo era a teoria de Lutero, e ainda têm
as possibilidades de terem sido Silas ou Priscila. Diante dos fatos
e da inconsistência das possibilidades, é certo dizer que humana-
mente a carta aos hebreus continua anônima, o que faz ficarmos
com a ideia de Orígenes: a ideia geral da epístola é Paulina, mas
somente Deus sabe quem a escreveu.
Os destinatários desta carta eram cristãos de origem
judaica, mas há quem diga que esta carta foi escrita exatamen-
te para cristãos gentios. Entretanto, parece, como disse Robert
Ross, que aqueles a quem a epístola foi escrita eram hebreus por
identidade nacional e cristãos por profissão de fé. O lugar onde
esses cristãos estavam é de difícil identificação pelo fato de haver
quatro possibilidades: Alexandria, Antioquia (na Síria), Roma e
Jerusalém, sendo que essas duas últimas são as mais prováveis,
ficando o destino entre uma das duas.
Com a possibilidade da apostasia e a volta ao judaísmo,
para assim serem poupados de perseguição, o escritor aos he-
breus deseja mostrar-lhes o perigo e exorta que eles permaneçam
fiéis ao padrão cristão. Para isto, diz Louis Berkhof, ele mostra,
190
Convenção Unida Internacional Panorama do Novo Testamento

como comparação, a verdadeira natureza e o valor intrínseco da


religião cristã.
A carta está basicamente dividida em duas partes, 1. O
autor quer mostrar a superioridade de Cristo (1-10), e 2. O escri-
tor faz uma aplicação geral (10.19-13.7), exortando a permane-
cerem no padrão estabelecido tendo em vista os bons exemplos,
como os heróis da fé (capítulo 11), e demonstrarem a santidade
prática em todo o convívio.
Craig Keener estrutura a mensagem dessa carta, demons-
trando que Jesus é maior que os anjos (1.1-14) que entregaram a
lei (2.1-8); este contraste contribui com o argumento do escritor
de que Cristo é maior que a própria lei. Ele é maior que Moisés
e a terra prometida (3.1-4.13). Como um sacerdote da ordem de
Melquisedeque, Ele é maior que o sacerdócio do Antigo Testa-
mento (4.14-7.28) porque Ele está preso a uma convenção nova
(capítulo 8) e ao serviço divino do templo (9.1-10.18). Então, os
seus seguidores deveriam perseverar na fé e não voltar, descon-
siderando o custo (10.19-12.13). O escritor segue a sua discus-
são teórica, como muitas cartas faziam, com exortações morais
específicas amarradas no mesmo tema (13.1-17). Entremeado ao
longo da carta está a advertência repetida contra a apostasia, no-
tando-se que a pena por rejeitar o novo pacto é maior do que
tinha sido por rejeitar o velho.

Epístola de Tiago
Data: data anterior a 66 d.C., provavelmente entre 45– 49.
Há quem date tardiamente em 150 d.C., esses que sustentam essa
data tardia são os que advogam a autoria a um “Tiago desconhe-
cido”.
Autor: Tiago, O Justo.
“Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze
tribos quem andam dispersas: saúde” (1.1), é assim que o escritor
inicia sua epístola, o que por um lado facilita a identificação de
autoria, mas dificulta a identidade precisa, pois Tiago era um
nome comum naquela época, e o autor só diz que era “servo de
Deus e do Senhor Jesus Cristo”, o que para identificação não aju-
da muito.

191
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

Hernandes Dias Lopes26 diz que o autor desta carta “identifica-


-se como Tiago (1.1). Havia três deles: Tiago, apóstolo, Filho de
Zebedeu, irmão de João; Tiago, apóstolo, filho de Alfeu; e, Tiago,
irmão de Jesus, filho de Maria e José (Mt 13.55). Essa carta não
poderia ser do apóstolo Tiago, filho de Zebedeu, porque ele foi
morto antes de a carta ser escrita (At 12.2). Tiago, filho de Alfeu,
não exerceu nenhuma influência notória na igreja cristã. Essa
carta, portanto, foi escrita por Tiago, irmão de Jesus. No começo,
ele não cria em Jesus (Jo 7.2-5). Mais tarde, ele tornou-se um pro-
eminente líder na vida da igreja.”
Corroborando com Lopes, o doutor Walter W. Wessel diz
que a opinião tradicional identifica o autor como sendo Tiago, o
irmão do Senhor. A semelhança da linguagem da epístola com
as palavras de Tiago em At 15, a forte dependência do escritor da
tradição judia, e a consistência do conteúdo de sua carta com as
notícias históricas que o Novo Testamento dá em relação a Tiago,
“o irmão do Senhor”, tudo tende a apoiar a autoria tradicional.
Logo, o autor dessa carta foi Tiago, o justo, irmão do Senhor Je-
sus. Tiago foi martirizado em 62, pelo sumo sacerdote Anás II.
Tiago desfrutava de grande estima pelos seus contempo-
râneos que moravam em Jerusalém, em especial dos mais po-
bres. Craig Keener diz que as pessoas não cristãs como também
as cristãs de Jerusalém admiravam a sua devoção, mas as denún-
cias que faziam contra a aristocracia (como em 5.1-6) certamente
representaram um forte motivo para a oposição do sacerdócio
aristocrático a ele. No ano de 62 d.C., quando o procurador Fes-
tus morreu, o sumo sacerdote Anás II executou Tiago e algumas
outras pessoas. O clamor público era tão grande que, quando o
novo procurador Albinos chegou, Anás foi deposto por causa da
questão.
Ainda no primeiro versículo, Tiago revela para quem foi
escrita: “às doze tribos que andam dispersas”. Esta expressão
se refere a toda nação de Israel, mas parece que Tiago usa para
se referir a toda a igreja, cristãos judeus, da Palestina, levando
em conta que seria difícil haver judeus fora da Palestina naquela
época, mesmo na Diáspora.

26    Comentário Expositivo do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2019,


Volume III, p. 250.
192
Convenção Unida Internacional Panorama do Novo Testamento

Talvez por sua natureza prática e a questão da justifica-


ção distinta em Tiago e Paulo, Lutero, o reformador alemão, ti-
nha suas ressalvas quanto a esta carta. Mas o conteúdo de Tiago
expresso é de muita importância, pois nos leva a ter uma vida
cristã menos teórica e de mais frutos. Keener, ao mostrar os argu-
mentos de Tiago, diz que ele se dirige ao orgulho do rico (1.9–11;
2.1–9; 4.13–17), à perseguição pelo rico (2.6, 7; 5.6) e ao pagamen-
to retido pelo rico (5.4-6). Ele também se dirige àqueles que ten-
taram uma retaliação por meio de atos violentos (2.11; 4.2) ou por
palavras (1.19, 20, 26; 3.1-12; 4.11, 12; 5.9). Ele responde com uma
chamada à sabedoria (1.5; 3.14–18), fé (1.6–8; 2.14–26) e resistên-
cia paciente (1.9-11; 5.7-11). Uma vez entendido no contexto da
situação, suas exortações “deslocadas”, se ajustam todas como
essencial para o seu argumento.
Herder, citado por F. W. Farrar, assim se expressou sobre
Tiago: “que nobre é o homem que fala nesta Epístola! Que incan-
sável paciência no sofrimento! Que grandeza na pobreza! Que
alegria na tristeza! Simplicidade, sinceridade, confiança direta na
oração! Como ele quer ação! Ação, não palavras (...) não uma fé
morta!”

Epístola de 1 Pedro
Data: 60-63 d.C.
Autor: Pedro. Além das evidências internas, há também
evidências externas, como Irineu (130-216 d.C.), outros mestres
encontraram também alusões a Pedro na Epístola de Barnabé (80
d.C.), na obra de Clemente de Roma (95-97 d.C.), na obra Pastor
de Hermas (começo do segundo século), Policarpo (martirizado
em 155 d.C.), e Papias (que escreveu em cerca de 130-140), etc.,
que são testemunhas de autoria petrina.
Pedro fazia parte do colégio apostólico, logo foi testemu-
nha ocular da vida e ministério do Senhor Jesus. Foi conduzido
a Jesus por seu irmão André (Jo 1.40-42), e era de Betsaida, uma
aldeia de pescadores.
Pedro escreveu a sua carta em um contexto de persegui-
ção. Nero, imperador romano, ateou fogo em Roma, em 64 d.C,
e culpou os cristãos por esse incêndio. Além de Nero culpar os
cristãos pelo o incêndio que ele mesmo provocou, ainda matou

193
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

milhares de cristãos das formas mais cruéis, como jogá-los às fe-


ras para serem devorados.
No primeiro século d.C., houve três ondas de persegui-
ções contra os cristãos primitivos, a primeira com Nero (54-68
d.C.), a segunda com Dominiciano (81-96 d.C.), e a terceira Tra-
jano (98-117 d.C.). O historiador romano do segundo século, Tá-
cito, que não era nada simpatizante com os cristãos, afirmou que
Nero queimava cristãos vivos como tochas para iluminar seus
jardins à noite. Segundo a tradição, Pedro foi martirizado em
Roma, onde foi crucificado de cabeça para baixo.
Pedro diz, em 1.1, que está escrevendo aos “estrangeiros
dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitinia”. Pedro
escreveu provavelmente de Roma, pois, em 5.13, se refere à Babi-
lônia que pode ser uma referência a Roma, onde os cristãos esta-
vam sob perseguição nas províncias romanas, para confortá-los
diante de tamanha perseguição, ainda que seja possível que a
perseguição nesse tempo não estava em toda a sua força.
Pedro trata de muitas questões em sua primeira carta
como a submissão às autoridades, o sofrimento, casamento, re-
lação entre homem e mulher, santificação, adornos femininos,
vida social, e deveres dos presbíteros que deverão pastorear com
amor e não sendo dominadores, vigilância, volta de Jesus.

Epístola de 2 Pedro
Data: Provavelmente entre 66-68 d.C.
Autor: não resta dúvida de que seja de autoria petrina,
pois, em 2 Pe 1.1, diz “Simão Pedro, servo e apóstolo” e ainda
confirma, em 3.1, que escreveu essa segunda carta.
F. B. Meyer diz que, ao escrever essa segunda carta, o
apóstolo está mais velho, aguardando “ser chamado para selar o
seu testemunho com o seu sangue” (1.14).
A segunda carta de Pedro é uma das mais discutíveis,
pois muitos teólogos não aceitam a autoria petrina. Questionam
que o estilo da segunda carta difere substancialmente da primei-
ra e, por isso, hesitam em afirmar que Pedro seja seu autor. O
debate em torno da autoria é tão intenso que ela não foi reco-
nhecida canônica até o Concílio de Cartago em 397. Erasmo de
Roterdã (1466-1536), por exemplo, rejeitou-a, e Calvino hesitou
194
Convenção Unida Internacional Panorama do Novo Testamento

quanto à autoria petrina. Em contrapartida, outros aceitaram,


como Agostinho, Lutero, etc.
Não podemos negar que há diferenças literárias entre as
duas cartas, mas há evidências tanto internas (1.1; 3.1), como ex-
ternas de que esta segunda carta foi escrita pelo mesmo autor da
primeira, “o servo e apóstolo do Senhor Jesus”, como ele mesmo
se identifica estando ainda em Roma no fim do reinado de Nero
por quem foi martirizado.
Os falsos mestres desestabilizavam a fé dos irmãos ata-
cando pontos cardeais principalmente sobre a volta de Jesus. Pe-
dro, então, encoraja aqueles cristãos a crescerem na “graça e no
conhecimento do Senhor Jesus” (3.18), e não serem passíveis com
os falsos mestres na igreja. A chave da segunda carta é a verdade
de Cristo contra os ensinamentos dos falsos mestres. Os cristãos
deveriam crescer no conhecimento para não serem enganados
pelos falsos mestres. Os gnósticos, com seus ensinos contrários a
Cristo e a sua segunda vinda, provavelmente perturbavam a fé
dos irmãos.
“Esta epístola combate falsos mestres, que serão julgados
por Deus. Pedro motiva seus leitores a viver uma vida irrepreen-
sível, enquanto aguardam o dia da vinda do Senhor, que certa-
mente virá”. Stephen Paine, comentando sobre a mensagem de
2 Pedro, diz que a preocupação específica do coração de Pedro
nesta ocasião parece que era o desenvolvimento de um espírito
de anarquia e antinomianismo nas igrejas e também uma atitude
de ceticismo quanto à segunda vinda de Cristo. Há quem ache
que os falsos mestres descritos na epístola eram representantes
da heresia gnóstica nos seus primeiros estágios. Mas ainda que
grandemente preocupado com a ameaça desses falsos mestres
e, embora dando certa ênfase a este assunto, o apóstolo perce-
bia que a necessidade básica dos seus leitores era a edificação
espiritual e o poder que os tornaria superiores diante de tais pe-
rigos. Ele, portanto, começa e termina a sua carta estimulando a
conquista espiritual, inserindo suas advertências contra os falsos
mestres no capítulo do meio entre os três.
A segunda carta petrina é mais curta que a primeira, so-
mando apenas 3 capítulos e 61 versículos, que podemos seguir a
sugestão de Donald Stamps com a seguinte divisão: capítulo 1, o
195
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

valor do verdadeiro conhecimento; capítulo 2, a condenação dos


falsos mestres; e, capítulo 3, a certeza da Vinda do Senhor.

Epístolas de 1, 2 e 3 João
Data: há várias datas, umas descartáveis e outras mais
prováveis. Uns datam entre os anos 110 e 165 (para esses, o após-
tolo João não é autor do evangelho), mas tradicionalmente essa
Epístola está em torno dos anos 85 a 95 d.C. Charles Ryrie diz
que a segunda e a terceira epístola de João podem também ser
datadas do mesmo ano da primeira epístola, isto é, cerca de 90.
Todas as epístolas, segundo Ryrie, foram escritas de Éfeso, “de
acordo com a tradição digna de confiança.”
Autor: João, o “discípulo amado”. De certa forma, essa
carta é anônima internamente, ou seja, não há registro do seu
autor, mas, segundo a tradição, essa carta mais as duas seguintes
de mesmo nome, juntas com o quarto Evangelho segundo João,
foram do mesmo autor, a saber, João, o apóstolo, filho de Zebe-
deu.
João viveu seus últimos dias em Éfeso (atual Turquia) e
foi o último apóstolo vivo. Nesse tempo, o cristianismo já havia
desenvolvido uns 60 anos, tempo suficiente para problemas teo-
lógicos com os falsos profetas surgirem. João foi “um texto escri-
to para advertir os leitores contra falsas doutrinas, incentivando-
-os a reterem a verdade: que Deus é luz e amor, e que espera que
seus filhos vivam na luz e amem uns aos outros.”
É aceito que João escreveu de onde residia, em Éfeso, a
“certo número de igrejas da província da Ásia, que estava sob
sua responsabilidade apostólica”. Os bombardeios dos falsos
mestres eram grandes, assim, o apóstolo escreve “a respeito da
salvação em Cristo e seu processo no crente. Certas pessoas que
anteriormente conviveram com os leitores da epístola deixaram
a congregação (2.19), mas os resultados dos seus falsos ensinos
continuavam a distorcer o evangelho quanto a saber que tinham
a vida eterna. Doutrinariamente a sua heresia negava que Jesus
é o Cristo (2.22; 5.1) ou que Jesus veio em carne (4.2,3). Na área
moral, ensinavam que não era necessário a fé salvífica (cf.1.16;
5.4,5), a obediência aos mandamentos de Jesus (2.3–4; 5.3) e uma
vida santa, separada do pecado (3.7–12) e do mundo (2.15–17).”
196
Convenção Unida Internacional Panorama do Novo Testamento

Bem possível que João escreveu essa epístola seguindo o con-


selho dos anciãos da igreja que lhes pediram para registrar os
ensinamentos que ele transmitiu àqueles cristãos oralmente.
2 João
João inicia sua carta se identificando como “ancião”, pro-
vavelmente devido à sua idade avançada ou à sua função eclesi-
ástica, e “senhora eleita” pode ser a igreja local, e “irmã, eleita”
(v.13), outra congregação. O doutor Charles Ryrie diz que o des-
tino da segunda carta é “enigmática”, pois a expressão “senhora
eleita” pode ser uma pessoa em particular, como uma senhora, e
a sua família na região de Éfeso.
João tinha como objetivo prevenir a igreja dos falsos
mestres, incentivando seus leitores a viverem e amarem a ver-
dade. Quando ele escreveu essa carta, havia muitos pregadores
itinerantes pregando outro evangelho, negando que Jesus veio
em carne. Há uma advertência para aqueles irmãos não hospe-
darem aqueles falsos pregadores em suas casas para não serem
cúmplices de suas heresias.

3 João
Se na segunda carta João adverte os irmãos para não re-
ceberem em suas casas aqueles pregadores itinerantes que pre-
gavam mentiras, na terceira carta ele enaltece a Gaio para quem
endereça a carta, louvando-o por permanecer fiel. Diótrefes era o
grande opositor nessa carta, pois, além de não receber quem João
recomendava, não reconhecia a sua autoridade apostólica.
Há três personagens nessa carta, a saber: Gaio, homem
de boa reputação e louvado pela igreja; Diótrefes, um dirigente
local nada exemplar, que se comportava como tirano; e Demé-
trio, homem honrado e que talvez tenha sido aquele que levou
a carta, como também um pregador itinerante recomendado por
João, que precisava ser acolhido enquanto estivessem entre eles
evangelizando.

Epístola de Judas
Data: Cerca de 70-80 d.C.
Autor:“Judas, servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago”,
essa é a identificação do autor dessa carta. Pelo testemunho bí-

197
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

blico sabemos que esse Tiago que Judas diz que é irmão, pro-
vavelmente seja o Tiago, o Justo, irmão mais novo de Jesus (Mc
6.3). Assim, conforme diz a tradição, o Judas que escreveu essa
carta foi um dos irmãos de Jesus que não fazia parte do colégio
apostólico.
A carta é breve (apenas 25 versículos), mas, como dizem
alguns teólogos, “é enérgica”. Parece que a princípio ele queria
falar sobre a salvação, mas, sob a orientação de Deus, faz uma
defesa da fé cristã denunciando aqueles que perturbavam os
cristãos com suas heresias. Judas faz um diagnóstico dos per-
turbadores, usando ilustrações do Antigo Testamento, o que de
certa forma revela o seu judaísmo intrínseco. Usa o exemplo de
Sodoma e Gomorra (7; Gn 19); Caim (11; Gn 4); Balaão (11; Nm
31.8); Corá (11; Nm 16). Ainda diz que aqueles homens eram
“ímpios” (15) e que “não têm o Espírito” (19).
Teólogos veem certa semelhança entre essa carta e a 2
Epístola de Pedro por haver três citações idênticas nessas epísto-
las, 1. 2 Pedro 2.4 e Judas 6, onde referem-se aos anjos caídos; 2. 2
Pedro 2.11 e Judas 9, que falam da relutância dos anjos em fazer
acusações contra Satanás e, 3. 2 Pedro 3.3-4 e Judas 17-18, que
falam de escarnecedores nos últimos dias.
Judas é o único escritor do Novo Testamento que se des-
taca ao fazer citações não canônicas, quando se refere à profecia
de 1 Enoque (v.14) e da Assunção de Moisés (v.9) com base em
pseudoepigráficos.
David Wallace diz que essa carta foi escrita a todos os
cristãos do primeiro século, advertindo-os contra a incipiente
heresia do Gnosticismo, uma filosofia que fazia distinção entre
a matéria má e o espírito bom. Tal sistema de pensamento tinha
sérias implicações para a vida e doutrina cristã. Desafiava a dou-
trina bíblica da criação e dava lugar à ideia de que o corpo de
Cristo foi aparente, não real, pois, se Cristo tivesse um corpo real,
teria sido mau. O tom de Judas é polêmico, pois ele repreende os
falsos mestres que enganavam crentes instáveis e corrompiam
a mesa do Senhor. O doutor Wallace esboça assim essa carta: 1.
Identificação, saudação e propósito, Judas 1-4. 2. Advertências
contra os falsos mestres, Judas 5-16. 3. Exortações aos cristãos,
Judas 17-23. 4. Bênçãos, Judas 24-25.
198
Capítulo 5

O livro escatológico

O Novo Testamento, e consequentemente a Bíblia, termi-


na com um dos mais belos livros já escritos em todos os tempos,
além de sua mensagem cheia de simbolismo e alegorias, é visí-
vel a inspiração divina na exatidão do seu relato. Dentro do seu
gênero, o Apocalipse é o mais complexo de toda a Bíblia e, por
conseguinte, mais negligenciado.
Devemos reconhecer que as dificuldades em interpretar
um livro desse gênero são imensas e que, por muitos não se limi-
tarem ao contexto geral, fazem deste gênero verdadeiras especu-
lações intermináveis.
Creio firmemente que existe esse livro nas Escrituras Sa-
gradas para consolar a igreja de Cristo, mostrando que a vida
eterna será muito mais sublime do que pensamos ou imagina-
mos. O Apocalipse não deve ser o livro de terror, mas o registro
sagrado da esperança da igreja.

Livro de Apocalipse
Data: para os preteristas antes dos anos 70 d.C. A data
tradicional é 95 d.C.
Autor: João, o “discípulo amado”. Com o livro de Apoca-
lipse, encerram os escritos joaninos: o Evangelho, as três cartas e
o Apocalipse.
“A palavra revelação vem do latim revelatio (revelare,
“revelar ou tirar o véu daquilo que estivera previamente escon-
dido), que era o título na Vulgata Latina. O título grego é Apo-
calypse, extraído diretamente da primeira palavra do texto
199
Curso Básico em Teologia Seminário William Seymour

grego, apocalypsis”.
Quando João recebeu as revelações do Apocalipse, esta-
va preso numa ilha chamada Patmos, por causa de perseguição
imperial. Nos dias do apóstolo, o imperador romano era Domi-
niciano (51-96, d.C.), um imperador maligno que se considerava,
“Dominus ac Deus”, expressão latina para Senhor e Deus, e que
exigia ser adorado como tal. Adorar o imperador era visto como
lealdade a Roma, e quem se negasse era visto como subversivo, e
Roma não tolerava subversão. João não estava entre aqueles que,
por medo do imperador, o adoraram, antes continuou fiel ao seu
verdadeiro Deus, o que resultou no exílio.
O livro de Apocalipse, por ser um gênero escatológico,
tem sido objeto de estudos distinguindo-se das mais variáveis
interpretações. Claro que respeitando as demais interpretações,
esse seminário (SWS) sustenta a escola futurista, entendendo que
os três primeiros capítulos se referem às igrejas literais da época
que João escreveu, sem nenhum vínculo com a igreja durante
esses dois mil anos de história. A partir do capítulo quatro, te-
mos uma mudança de cenário onde entendemos que se trata de
coisas futuras.
O mestre Antônio Gilberto27 assim definiu: “O futurista é
o que imagina o livro como de cumprimento futuro. Considera
que a igreja será arrebatada a qualquer momento, vindo a seguir
a Grande Tribulação para Israel e demais nações da terra, com os
juízos divinos sob as trombetas, selos, e taças da ira de Deus. Há,
entre os futuristas, alguns que ensinam que a igreja passará pelas
tribulações, ignorando eles o que a Palavra de Deus declara em
Apocalipse 3.10, 1 Tessalonicenses 1.10, e Romanos 5.9. O dia da
ira do Senhor é o período da Grande Tribulação (Ap 6.17).”
Entre os futuristas há duas escolas distintas, o pré-mile-
nismo histórico (considerado moderada) e o pré-milenismo dis-
pensacionalista (considerado extremista).
Além dos futuristas, há aqueles que fazem uma interpre-
tação preterista, que sustentam que tudo que está no livro de
apocalipse já se cumpriu como também o sermão de Jesus em
Mateus 24. Assim, eles interpretam que a Roma imperial era a

27 Daniel & Apocalipse. Rio de Janeiro: CPAD, 1984, p. 86.


200
Convenção Unida Internacional Panorama do Novo Testamento

besta do capítulo 13, por exemplo, e que Nero foi o anticristo.


Ainda há outra escola de interpretação desse livro, são os que
sustentam uma interpretação histórica que entende que a mensa-
gem do Apocalipse é uma profecia “simbólica de toda a história
da igreja até a volta de Cristo e o fim dos tempos”.
Com base no Milênio descrito em Apocalipse, ainda se
destacam três grandes correntes de interpretações. 1. Os Pós-Mi-
lenistas, que ensinam um logo período de retidão e paz. Loraine
Boettner, pós-milenista, diz que “o milênio se encerrará com a
segunda vinda de Cristo, a ressurreição e o julgamento final. Em
suma, os pós-milenistas apresentam um reino espiritual nos co-
rações dos homens”; 2. Os Pré-Milenistas, que sustentam que o
milênio é um período literal de mil anos que sucederá na segun-
da vinda de Jesus, interpretação que sustentamos. 3. Os amile-
nistas,que não creem em um milênio literal, como os pré-mile-
nistas. Acreditam que o milênio “é um período indeterminado
que vai da primeira à segunda vinda de Cristo.”
Ao mesmo tempo em que o livro de apocalipse é históri-
co, capítulos 1-3, é escatológico, capítulos 4-22.

201
Conclusão

O Novo Testamento é a base doutrinária da Bíblia, pois


nele encontramos toda estrutura teológica que serve como fun-
damento normativo para a igreja em todas as épocas. Isso não
quer dizer que é mais importante que o AT ou que é mais inspi-
rado, essa não é a questão, porque a palavra de Deus é única e
não há divisões de inspiração. Mas, teologicamente, há sim com-
preensões distintas que fazem com que cada uma seja entendida
dentro do seu contexto.
O NT se inicia com os relatos biográficos da vida de Jesus
de forma resumida, pois há coisas que não sabemos da vida do
Mestre, como, por exemplo, os dezoito anos da sua vida que os
evangelhos silenciam. Mas o que temos é o suficiente para a com-
preensão do Filho de Deus e da sua obra expiatória. Os quatro
evangelhos narram de forma complementar alguns eventos, daí
o porquê de os evangelhos sinóticos terem as suas semelhanças,
como também os seus problemas.
A sequência do NT nos dá um cronograma mais lógico
do que uma exatidão quanto ao contexto histórico. Por exemplo,
nos últimos capítulos do livro de Atos temos a viagem de Paulo
para Roma e, em sequência, temos a carta aos Romanos, ainda
que trate de coisas diferentes. Essa questão lógica tem prós e con-
tra, mas é a configuração que temos da nossa Bíblia.
As cartas paulinas ainda que não estejam na ordem cro-
nológica, estão agrupadas em uma sequência de Romanos a Fi-
lemon. E aquelas cartas conhecidas como gerais, de igual forma,
mas de autorias diferentes, terminando com o livro das revela-
ções, o Apocalipse.
Se por um lado, perdemos a sequência cronológica, tem
a ordem temática, o que também é relevante. Entretanto, o mais
importante é o conteúdo, e disso não perdemos nada, afinal te-
mos o NT completo com a sua mensagem para a igreja em todos
os tempos.
O nosso Panorama Bíblico está dividido em duas partes

202
Convenção Unida Internacional Panorama do Novo Testamento

principais, AT e NT, o qual acabamos de estudar. Logo, com a


conclusão desse último, finalizamos o Panorama e isso ajuda o
leitor a conhecer um pouco mais sobre cada livro da Bíblia, o que
é de muita valia. O aluno teve acesso a cada livro com pequenos
comentários, que o ajudaram a compreender quem foi o autor, as
possíveis datas, o destinatário, a mensagem, etc.

203
Bibliografia

BERKHOF, Louis. Introdução ao Novo Testamento. CPAD.


BRUCE. F.F. História do Novo Testamento. CPAD. CHAMPLIN,
Russel. Novo Testamento - versículo por versículo. 6 Volumes.
Hagnos.
Comentário Beacon. CPAD.
GUNDRY, Robert. Panorama do Novo Testamento. Vida Nova,
KEENER, Craig. Comentário Bíblico Atos. Volume II – Novo Tes-
tamento. Editora Atos.
____________Comentário Histórico Cultural da Bíblia – AT e NT
– Vida Nova.
LOPES, Hernandes Dias. Comentário Expositivo do Novo Testa-
mento. Hagnos, 3 Volumes.
KUMMEL, Werner Georg. Síntese Teológica do Novo Testamen-
to. Teológica, 2003.
MEYER, F.B. Comentário Bíblico. Betânia.
Panorama da Bíblia. CPAD.
STERN, David H. Comentário Judaico do Novo Testamento.
Templus.
WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. 6 volumes.
Geográfica.

204
Seminário William Seymour
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