Você está na página 1de 6

Pós-graduação em Direito Matrimonial Canônico

Universidade Católica de Santa Catarina

Disciplina 10: Aconselhamento pastoral, mediação de conflitos familiares e Pastoral Familiar


pré-matrimonial.

Prof André Parreira - Março/2024

Fragmentos para Aula 01

1965

CONSTITUIÇÃO PASTORAL GAUDIUM ET SPES SOBRE A IGREJA NO


MUNDO ATUAL
CAPÍTULO I
A PROMOÇÃO DA DIGNIDADE DO MATRIMÓNIO E DA FAMÍLIA

O matrimónio e a família no mundo atual


47. O bem-estar da pessoa e da sociedade humana e cristã está intimamente
ligado com uma favorável situação da comunidade conjugal e familiar. Por esse
motivo, os cristãos, juntamente com todos os que têm em grande apreço esta
comunidade, alegram-se sinceramente com os vários fatores que fazem
aumentar entre os homens a estima desta comunidade de amor e o respeito pela
vida e que auxiliam os cônjuges e os pais na sua sublime missão. Esperam daí
ainda melhores resultados e esforçam-se por os ampliar.
Porém, a dignidade desta instituição não resplandece em toda a parte com igual
brilho. Encontra-se obscurecida pela poligamia, pela epidemia do divórcio, pelo
chamado amor livre e outras deformações. Além disso, o amor conjugal é muitas
vezes profanado pelo egoísmo, amor do prazer e por práticas ilícitas contra a
geração. E as actuais condições económicas, socio-psicológicas e civis
introduzem ainda na família não pequenas perturbações. Finalmente, em certas
partes do globo, verificam-se, com inquietação, os problemas postos pelo
aumento demográfico. Com tudo isto, angustiam-se as consciências. Mas o vigor
e a solidez da instituição matrimonial e familiar também nisto se manifestam: as
profundas transformações da sociedade contemporânea, apesar das
dificuldades a que dão origem, muito frequentemente revelam de diversos
modos a verdadeira natureza de tal instituição.
Por tal motivo, o Concílio, esclarecendo alguns pontos da doutrina da Igreja,
deseja ilustrar e robustecer os cristãos e todos os homens que se esforçam por
proteger e fomentar a nativa dignidade do estado matrimonial e o seu alto e
sagrado valor.

O progresso e a promoção do matrimónio e da família


52. A família é como que uma escola de valorização humana. Para que esteja
em condições de alcançar a plenitude da sua vida e missão, exige, porém, a
benévola comunhão de almas e o comum acordo dos esposos, e a diligente
cooperação dos pais na educação dos filhos. A presença ativa do pai contribui
poderosamente para a formação destes; mas é preciso assegurar também a
assistência ao lar por parte da mãe, da qual os filhos, sobretudo os mais
pequenos, têm tanta necessidade; sem descurar, aliás, a legítima promoção
social da mulher. Os filhos sejam educados de tal modo que, chegados à idade
adulta, sejam capazes de seguir com inteira responsabilidade a sua vocação,
incluindo a sagrada, e escolher um estado de vida; e, se casarem, possam
constituir uma família própria, em condições morais, sociais e económicas
favoráveis. Compete aos pais ou tutores guiar os jovens na constituição da
família com prudentes conselhos que eles devem ouvir de bom grado; mas
evitem cuidadosamente forçá-los, direta ou indiretamente, a casar-se ou a
escolher o cônjuge.
A família - na qual se congregam as diferentes gerações que reciprocamente se
ajudam a alcançar uma sabedoria mais plena e a conciliar os direitos pessoais
com as outras exigências da vida social - constitui assim o fundamento da
sociedade. E por esta razão, todos aqueles que têm alguma influência nas
comunidades e grupos sociais, devem contribuís eficazmente para a promoção
do matrimónio e da família. A autoridade civil há de considerar como um dever
sagrado reconhecer, proteger e favorecer a sua verdadeira natureza, assegurar
a moralidade pública e fomentar a prosperidade doméstica. Deve salvaguardar-
se o direito de os pais gerarem e educarem os filhos no seio da família. Protejam-
se também e ajudem-se convenientemente, por meio duma previdente
legislação e com iniciativas várias, aqueles que por infelicidade não beneficiam
duma família.
Os cristãos, resgatando o tempo presente (15), e distinguindo o que é eterno das
formas mutáveis, promovam com empenho o bem do matrimónio e da família,
com o testemunho da própria vida e cooperando com os homens de boa vontade;
deste modo, superando as dificuldades, proverão às necessidades e vantagens
da família, de acordo com os novos tempos. Para alcançar este fim, muito
ajudarão o sentir cristão dos fiéis, a retidão de consciência moral dos homens,
bem como o saber e competência dos que se dedicam às ciências sagradas.
Os cientistas, particularmente os especialistas nas ciências biológicas, médicas,
sociais e psicológicas, podem prestar um grande serviço para bem do
matrimónio e da família se, juntando os seus esforços, procurarem esclarecer
mais profundamente as condições que favorecem a honesta regulação da
procriação humana.
Cabe aos sacerdotes, devidamente informados acerca das realidades familiares,
auxiliar a vocação dos esposos na sua vida conjugal e familiar por vários meios
pastorais, com a pregação da palavra de Deus, o culto litúrgico e outras ajudas
espirituais; devem ainda fortalecê-los, com bondade e paciência, nas suas
dificuldades e reconfortá-los com a caridade, para que assim se formem famílias
verdadeiramente irradiantes.
As diferentes obras, sobretudo as associações de famílias, procurem fortalecer
com a doutrina e a acção os jovens e os esposos, especialmente os casados de
há pouco, e formá-los para a vida familiar, social e apostólica.
Finalmente, os próprios esposos, feitos à imagem de Deus e estabelecidos numa
ordem verdadeiramente pessoal, estejam unidos em comunhão de afecto e de
pensamento e com mútua santidade (16) de modo que, seguindo a Cristo,
princípio da vida (17), se tornem, pela fidelidade do seu amor, através das
alegrias e sacrifícios da sua vocação, testemunhas daquele mistério de amor
que Deus revelou ao mundo com a sua morte e ressurreição (18).
1968

Conclusões do Celam de Medellín

3. Família e demografia

IV. Recomendações para uma pastoral familiar

Por vários fatores históricos, étnicos, sociológicos e até caracterológicos, a


instituição familiar sempre teve, na América Latina, uma importância global
muito grande.

É certo que nas grandes cidades perde parte de sua importância. Nas áreas
rurais, que formam ainda maior

parte do continente, apesar de todas as transformações externas, a família


continua a desempenhar um papel primordial tanto no campo social, quanto no
cultural, no ético ou no religioso.

Por isso e ainda mais por sua condição de formadora de pessoas, educadora
na fé e promotora do desenvolvimento, mas também a fim de sanar todas as
carências de que ela padece e que tem graves repercussões, julgamos
necessário dar à pastoral familiar uma prioridade na planificação da pastoral de
conjunto; sugerimos que esta seja planejada em diálogo com os casais que,
por sua experiência humana e pelos carismas próprios do sacramento do
matrimonio, podem auxiliar eficazmente em sua elaboração.

Esta pastoral familiar deve conter, entre outras coisas, as seguintes metas e
orientações fundamentais:

1. Procurar, desde os anos da adolescência, uma sólida educação para o amor


que integre e ao mesmo tempo sobreposse a simples educação sexual,
inculcando nos jovens de ambos os sexos a sensibilidade e a consciência dos
valores essenciais : amor, respeito, dom de si mesmo etc.

2. Difundir a idéia e facilitar, na prática, uma preparação para o matrimônio,


acessível a todos os que vão se casar e tão integral quanto possível: física,
sociológica, jurídica, moral e espiritual.

3. Elaborar e difundir uma espiritualidade matrimonial baseada


simultaneamente numa clara visão do leigo no mundo e na Igreja, e numa
teologia do matrimônio como sacramento.

4. Inculcar nos jovens em geral e sobretudo nos casais jovens a consciência e


a convicção de uma paternidade realmente responsável (noção esta de
primeiríssima importância neste continente tão marcado pela praga dos
nascimentos ilegítimos) .

5. Despertar nos esposos a necessidade do diálogo conjugal que os leve à


unidade profunda e a um espírito de coresponsabilidade e colaboração.
6. Facilitar o diálogo entre pais e filhos que ajude a superar, no seio da família,
o conflito de gerações e torne o lar “um lugar onde se realize o encontro das
gerações” (GS).

7. Fazer com que a família seja verdadeiramente uma «igreja doméstica» :


comunidade de fé, de oração, de amor, de ação evangelizadora, escola de
catequese etc.

8. Levar todas as famílias a uma generosa abertura para as outras famílias,


inclusive de concepções cristãs diferentes; e sobretudo para as famílias
marginalizadas ou em processo de desintegração; abertura para a sociedade,
para o mundo e para a vida da Igreja.

Queremos, finalmente, estimular os casais que se esforçam por viver a


santidade conjugal e realizam o apostolado familiar, bem como os que, «de
comum acordo, de forma bem ponderada, aceitam com magnanimidade uma
prole mais numerosa para educá-1a condignamente» (GS 50) .

Bem planejada e bem executada mediante os movimentos familiares, tão


meritórios, ou mediante outras formas, a pastoral familiar contribuirá,
certamente, para fazer de nossas famílias uma força viva (e não, como poderia
acontecer, um peso morto) a serviço da construção da Igreja, do
desenvolvimento e da realização das necessárias transformações em nosso
continente.

9. Liturgia

d) Sugestões particulares

1o - A celebração da Eucaristia em pequenos grupos e comunidades de base


pode ter verdadeira eficácia pastoral; aos bispos cabe permiti-1a, tendo em
conta as circunstâncias de cada lugar.

2° - A fim de que os sacramentos alimentem e fortaleçam a fé na situação atual


da América Latina, aconselha-se o estabelecimento, planificação e
intensificação de uma pastoral sacramental comunitária mediante preparações
sérias, graduais e adequadas para o batismo (os pais e padrinhos) ,
confirmação, primeira eucaristia e matrimônio.

1983

Código de Direito Canônico > Canon 1063

1992

Conclusões do Celam de Santo Domingo

1. 1.2.4. A família cristã


64. A família cristã é a “igreja doméstica”, primeira comunidade e-
vangelizadora. “Apesar do problemas que em nossos dias afligem o matrimônio
e a instituição familiar, esta, como célula primeira e vital da sociedade, pode
gerar grandes energias que são necessárias para o bem da humanidade”
(Discurso inaugural, 18). É necessário fazer da pastoral familiar uma prioridade
básica, sentida, real e atuante. Básica, como fronteira da Nova Evangelização.
Sentida, isto é, acolhida e assumida por toda a comunidade diocesana. Real,
porque será respal- dada, concreta e decididamente no acompanhamento do
bispo dioce- sano e seus párocos. Atuante significa que deve estar inserida
numa pastoral orgânica. Esta pastoral deve estar em sincronia com instru-
mentos pastorais e científicos. Necessita ser acolhida a partir de seus próprios
carismas pelas comunidades religiosas e os movimentos em geral.

2.3.3. Linhas pastorais

222. 1. Enfatizar a prioridade e centralidade da pastoral familiar na Igreja


diocesana. Para isto é necessário capacitar agentes. Os movi- mentos
apostólicos que têm por objetivo o matrimônio e a família podem oferecer
apreciável cooperação às Igrejas particulares, dentro de um plano orgânico
integral.

• – A pastoral familiar não pode limitar-se a uma atitude meramente


protetora, deve ser provisora, audaz e positiva. Há de discer- nir com
sabedoria evangélica os desafios que as mudanças cul- turais
apresentam à família. Há de denunciar as violações con- tra a justiça e a
dignidade da família. Há de acompanhar às fa- mílias dos setores mais
pobres, rurais e urbanos, promovendo a solidariedade.
• – A pastoral familiar há de cuidar da formação dos futuros espo- sos e o
acompanhamento dos cônjuges, sobretudo, nos primeiro anos de sua
vida matrimonial. Como preparação imediata têm reconhecido valor os
cursos para noivos antes da celebração sacramental.

1992

Catecismo da Igreja Católica - Parágrafo 1632

1996

Preparação para o Sacramento do Matrimônio

2004

Doc-79-CNBB > Somente parágrafo 461

2007

Conclusões do Celam Aparecida


437. Para tutelar e apoiar a família, a pastoral familiar pode estimular, entre
outras, as seguintes ações:

a) Comprometer de uma maneira integral e orgânica ás outras pastorais, os


movimentos e associações matrimoniais e familiares a favor das famílias.

b)Estimular projetos que promovam famílias evangelizadas e evangelizadoras.

c) Renovar a preparação remota e próxima para o sacramento do matrimônio e da


vida familiar com itinerários pedagógicos de fé.

d) Promover, em diálogo com os governos e a sociedade, políticas e leis a favor da


vida, do matrimônio e da família.

e) Estimular e promover a educação integral dos membros da família,


especialmente daqueles membros da família que estão em situações difíceis,
incluindo a dimensão do amor e da sexualidade

f) Estimular centros paroquiais e diocesanos com uma pastoral de atenção integral


à família, especialmente aquelas que estão em situações difíceis: mães
adolescentes e solteiras, viúvas e viúvos, pessoas da terceira idade, crianças
abandonadas, etc.

g) Estabelecer programas de formação, atenção e acompanhamento para a


paternidade e a maternidade responsáveis.

h) Estudar as causas das crises familiares para encará-las em todos os seus


fatores.

i) Continuar oferecendo formação permanente, doutrinal e pedagógica para os


agentes de pastoral familiar.

j) Acompanhar com cuidado, prudência e amor compassivo, seguindo as


orientações do Magistério, os casais que vivem em situação irregular, conscientes
que os divorciados e casados novamente não são permitidos comungar. Requerem-
se mediações para que a mensagem de salvação chegue a todos. É urgente
estimular ações eclesiais, com um trabalho interdisciplinar de teologia e ciências
humanas, que ilumine a pastoral e a preparação de agentes especializados para o
acompanhamento destes irmãos.

k) Diante das petições de nulidade matrimonial, fazer com que os Tribunais


eclesiásticos sejam acessíveis e tenham uma correta e rápida atuação.

l) Ajudar a criar possibilidades para que os meninos e meninas órfãos e


abandonados consigam, pela caridade cristã, condições de acolhida e adoção e
possam viver em família.

m) Organizar casas de acolhida e um acompanhamento específico para socorrer


com compaixão e solidariedade ás meninas e adolescentes grávidas, ás mães
“solteiras”, os lares incompletos.

n) Ter presente que a Palavra de Deus, tanto no Antigo quanto no Novo


Testamento, solicita-nos uma atenção especial em relação às viúvas. Procurar uma
maneira para que elas recebam uma pastoral que as ajude a enfrentar esta
situação, muitas vezes de desamparo e de solidão.

Você também pode gostar