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RECIFE
PERNAMBUCO
UFPE
Universidade Federal de Pernambuco
RECIFE – 2002
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO – UFPE
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS – CFCH
Dissertação de Mestrado
apresentada ao Departamento de
História da Universidade Federal de
Pernambuco, como requisito parcial
para obtenção do Grau de Mestre em
História, sob a orientação do Prof.
Dr. Pedro Martinello.
RECIFE – PE
2002
Tipologia do texto: Times New Roman
Fonte do texto: letra 12
Espaço: 1,5
® Francisco Bento da Silva
e-mail: chicobento_ac@yahoo.com.br
CDU—____________
FRANCISCO BENTO DA SILVA
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________
PROF. DR. ANTÔNIO TORRES MONTENEGRO
MEMBRO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIA HUMANAS
_______________________________________________
PROF. DRA. SILVANA MARIA BRANDÃO DE AGUIAR
MEMBRO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
_______________________________________________
PROF. DR. GÉRSON RODRIGUES ALBUQUERQUE
MEMBRO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
_____________________________________________
PROF. DR. LUIZ ANASTÁCIO MOMESSO (SUPLENTE)
MEMBRO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO
____________________________________________
PROF. DRA. MARIA DO SOCORRO FERRAZ BARBOSA (SUPLENTE)
MEMBRO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
Agradecimentos
Ao amigo e mestre maior Elder Andrade de Paula, não só pelo apoio inestimável na
consecução deste trabalho mas, na minha formação acadêmica. No entanto eximo-o dos erros
aqui cometidos, sua contribuição foi nos acertos;
Ao meu dileto amigo Sérgio Roberto Gomes de Souza. Que o espírito epicurista
prevaleça, que a sanha dionisíaca nunca acabe e que a razão pessimista nos guie. Obrigado
por tudo, em Rio Branco e em Recife;
Ao meu prezado amigo Mauro César pelas divagações e preocupações compartilhadas
entre nós;
Ao meu orientador, professor Pedro Martinello pela liberdade e confiança que me deu
nos caminhos que escolhi e ao meu dileto e diletante amigo Gérson Albuquerque, pelo apoio
de sempre e por tecer observações substanciais ao trabalho;
À minha amiga professora Alderlândia Maciel e sua família, — em especial D. Linei —
amigos em todas horas durante minha jornada em Cruzeiro do Sul. Obrigado pelo apoio, sem
vocês tudo seria mais difícil;
Ao professor Mark Clark e ao professor Vicente Cerqueira, obrigado pela dileta
amizade forjada na luta sincera e honesta. A este último, agradeço ainda pela tradução do
Resumo para a língua de Shakespeare;
Aos colegas do Departamento de Filosofia e Ciências Sociais: Sérgio Roberto dos
Santos, João Lima, Coracy Sabóia, Marcos Inácio, Elane Correia e Eloísa Winter;
Aos professores José Porfíro e Sheila Palza, pela paciência e compreensão em me
acolherem em sua casa, onde parte deste trabalho foi escrito;
A Jorge Félix e Teresa Ribeiro, em Epitaciolândia, que sempre me ofereceram acolhida
carinhosa quando lá estive e onde finalizei este trabalho;
Aos meus amigos de todas as horas: Marineide, Tinho, Jô Luís, Lenira Pontes,
Vanessa Paula, Julliana Paula e Josenilda (Pio);
Enfim, à todos meus colegas de mestrado com quem convivi durante alguns meses na
“stressante” cidade de Recife: Hélio, Teresa, Geórgia, Nilda, Michele, Ormifran, Orlandine,
Eldo, Ialdo, Valmir, Fátima e Euzébio.
iii
Há 500 anos:
Somos raposas verdes
Colhendo uvas com os olhos,
Semeando promessas e vento
Com tempestade na boca,
Sonhamos com uma paz da Suécia
Com suíças militares, vendemos siris na estrada
E papagaios em Haia,
Senzalamos casas-grandes
E sobradamos em mucambos,
Joaquim Silvério e derrama,
A polícia nos dispersa e o
Futebol nos conclama,
Cantamos salve-rainhas
E salve-se quem puder,
Pois Jesus Cristo nos mata
Num carnaval de mulatas".
RESUMO
ABSTRACT
This work aims at discussing the bases that modeled the authoritarian and
person-centered political practices in vigor during the period from 1921 to 1964. It is
only after 1921 that Acre gains administrative unification; before that its administration
comprised several Departaments located in the geographical valleys of its territory. This
unification brings into being the figure of territorial governors nominated by the
Ministry of Justice and confirmed by the Presidente of the Republic. Those governors,
usually military officers, will control the local politics for decades, for they had the
power in their hands and often exerted it beyond legal limits. The executive power
prevailed in a singular manner, for the Judicial power was fragile and incipient, and the
legislative power was almost non-existing due to the way public administration was
implemented in Acre; Acre was given a public power thet obeyed the interests of the
Federation above all and was backed by the local oligarchies it also seeks to discuss the
various phases of the autonomy movement which, in its diverse faces, struggles to given
Acre the status of federated state in place of federal territory. In this respect, some light
is shed on the person-centered political practices held in the state, favored by the state
administrative machinery. Finally it focus on the period of Governor José Augusto, the
first constitutionally elected governor after Acre gained federative status; its mandate
was disturbed and weakened by several factors, and he was impeached by the
interference of the new political re-ordering established with the military dictatorship
INTRODUÇÃO....................................................................................................... 13
CAPÍTULO I: A PRESENÇA DO ESTADO E SUA CONFORMAÇÃO COMO CENTRO 22
DE PODER POLÍTICO: A HIPERTROFIA DO EXECUTIVO.
1.1 — ESTADO E TERRITÓRIO: UMA DISCUSSÃO PRELIMINAR SOBRE O 22
CASO ACREANO.
1.2 — UM POUCO ANTES: A GÊNESE POLÍTICA DO TERRITÓRIO DO 25
ACRE — 1904/1920.
1.3 — A CENTRALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA TERRITORIAL E OS 29
GOVERNOS A PRESTAÇÃO.
1.3.1 — A PRIMEIRA FASE DOS GOVERNADORES NOMEADOS — 30
1921/1930.
1.3.2 — O PERÍODO DOS INTERVENTORES FEDERAIS — 1930/1937. 37
1.3.3 — A SEGUNDA FASE DOS GOVERNADORES NOMEADOS — 39
1937/1962.
1.4 — OS FESTEJOS DE POSSE DOS GOVERNADORES: A 40
TEATRALIZAÇÃO DO PODER.
1.5 — A FORÇA POLICIAL TERRITORIAL COMO BASE DA BUROCRACIA 45
COERCITIVA.
CAPÍTULO II: O MOVIMENTO AUTONOMISTA E A ELEVAÇÃO DO ACRE A 48
ESTADO: MUDANÇAS E CONTINUÍSMOS.
2.1 — A GÊNESE E AS VÁRIAS FACES DO MOVIMENTO 48
AUTONOMISTA ACREANO.
2.2 — OS EMBATES EM TORNO DO PROJETO AUTONOMISTA DE 58
GUIOMARD SANTOS.
2.3 — GUIOMARD SANTOS VERSUS OSCAR PASSOS: APOGEU DO 66
PODER PERSONALISTA E DO CLIENTELISMO POLÍTICO.
2.4 — AS ÚLTIMAS CENAS DO REGIME TERRITORIAL E A TRANSIÇÃO 70
PARA ESTADO.
CAPÍTULO III: DE JOSÉ AUGUSTO AO CAPITÃO CERQUEIRA: FRAGILIDADE 72
POLÍTICA, FALTA DE HEGEMONIA E EXACERBAÇÃO DO
AUTORITARISMO NO EXECUTIVO.
3.1 — ELEIÇÃO E QUEDA DE JOSÉ AUGUSTO: LUTA PELO PODER E A 72
BUSCA FRUSTRADA DE UMA NOVA HEGEMONIA.
3.2 — A DITADURA MILITAR NO ACRE: UM NOVO RÓTULO EM UM 79
VELHO CONTEÚDO.
3.3 — OS VÁRIOS GOLPES: CASUÍSMO DO PODER LEGISLATIVO, 80
TRAIÇÃO PARTIDÁRIA E INSTAURAÇÃO ―LEGAL‖ DO ARBÍTRIO E DA
EXCEÇÃO.
3.4 — (O)CASO DO ACRE: GOLPE MILITAR, HIPERTROFIA DO 86
EXECUTIVO E ―CAÇA ÀS BRUXAS‖.
3.5 — O AUTORITARISMO E A DITADURA MILITAR NO PANAROMA
BRASILEIRO. 100
CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 105
BIBLIOGRAFIA...................................................................................................... 110
APÊNDICES .......................................................................................................... 118
13
INTRODUÇÃO
―Desde que há mundo, nenhuma autoridade ainda teve boa vontade para se deixar tomar
como objeto de crítica‖. Nietzsche, Aurora.
3
corporativismo e compadrio . Este legado perdurou posteriormente, sofrendo somente alterações e
recombinações; mas, na sua essência, permaneceu sendo um elemento duradouro e indelével na formação
4
e desenvolvimento da ―sociedade nacional‖ .
Florestan Fernandes (1975) ao estudar alguns processos sociais brasileiros demonstra que
eles sempre ocorreram pelo alto, sem participação ou clamor popular que pudessem dar a estes
acontecimentos, um verniz de autonomia e mobilização das classes sociais subalternas.
Para ele, a revolução burguesa ocorrida no Brasil aconteceu sem rupturas políticas fortes,
não sendo capaz de construir uma institucionalidade democrática com incorporação social. A guisa de
ilustração, assim foi com a abolição da escravidão, — que embora extremamente necessária e justa, foi
resolvida por um Decreto-Lei — e, com a adoção do regime republicano, implantado através de um golpe
militar. Partindo destes pressupostos, isto reforça ainda mais a característica excludente, hierárquica e
centralizadora do exercício do poder existente na formação da Nação brasileira e em particular, do Estado
Nacional.
Analisando as experiências do período pós 1930, comumente batizado de Segunda
República, Wanderley G. Santos (1988) destaca três formas de experiências autoritárias na política
brasileira: a primeira seria o Integralismo, que oriundo do império, sobrevive na República e é baseado
nas desigualdades naturais entre os homens e no direito diferenciado; a segunda é caracterizada pelo
Estado Novo, que é marcado pela acentuada intervenção e uso de mecanismos regulatórios do Estado, no
intuito de disciplinar as questões sociais e assegurar certos níveis de eficácia econômica através do
processo de industrialização. Conjugando ainda um grau acentuado de paternalismo e a busca de
subordinação dos trabalhadores urbanos, ao chefe político; por último, o autoritarismo instrumental com
seu viés pragmático e temporário — geralmente de cunho militar —, onde os procedimentos autoritários
visam edificar uma sociedade liberal, estabelecendo mecanismos de um Estado forte como sendo
momentâneos e necessários para corrigir, dissolver desvios, fragilidades e tendências de desagregação da
ordem social e nacional.
A partir dessa sumária exposição, quero apontar para questão de que no Brasil se conviveu
muito pouco com a manifestação e prática democrática. Deixando de lado o período anterior a 1889, e
concentrando o enfoque nestes poucos mais de cem anos republicanos, percebe-se que até os anos trinta o
conceito de democracia também não se aplica aos procedimentos e práticas políticas existentes até então.
Entre 1931 e 1934 passa a funcionar um regime provisório muito frágil do ponto de vista
político e institucional; somente de 34 a 37 há a primeira e breve experiência de democracia formal de
fato, substituída pela ditadura estadonovista que subsiste até 1945. Na seqüência, ocorreu a
3Interessantes reflexões acerca dos conceitos destes termos, podem ser encontradas em Faoro (2000); Prado
Júnior (2000); Holanda (1976); Freyre (1973); e, Leal (1997). Cf. Bibliografia.
4O termo ―sociedade nacional‖, remete a um conjunto de universais abstratos muito próximos: Estado, Nação,
Povo, País e Identidade nacional. Vistos como totalidades uniformes onde as pessoas se sentem ligadas por uma
rede de vínculos percebidos como sendo comuns, que os mantém unidos e os fazem sentirem se diferentes
dos ―outros‖, provocando uma alteridade coletiva. Estes termos, geralmente estão ligados à idéia de uma
sociedade sem oposição, na qual os conflitos foram dissimulados na identidade da sociedade consigo mesma,
produzindo ideologicamente uma fusão que procura coincidir indivíduo, sociedade e Estado.
15
5
implementação da chamada democracia populista (45/64) , rompida com o golpe de 1964 e legando a
ditadura militar que perdurou até metade dos anos oitenta. Ou seja, durante todo o último decênio do
século XIX e todo o século XX, conviveu-se de forma alternada pouco mais de trinta anos com a
6
democracia representativa em seu sentido moderno e universalista .
Levantadas essas questões preliminares e de ordem mais geral, quero deixar patente que são
a partir destas considerações maiores que irei discutir, dentro da temática do autoritarismo político, o
assunto que abordarei neste trabalho. Do ponto de vista pessoal, a escolha e os caminhos a serem
percorridos estão ligados à minha formação acadêmica. Por isso, estas problematizações advêm de
7
reflexões sobre as quais me debrucei durante a minha graduação em Ciência Política , ao abordar dentro
desta perspectiva, a transição política de 1982 no Acre.
Nesta monografia, ficou a preocupação de que práticas autoritárias também eram comuns e
se explicitaram durante o interstício em que vigorou a ditadura militar no período pós 64 e a chamada
abertura política. A princípio, a meta para o mestrado era fazer uma abordagem que englobasse somente
os anos em que vigoraram os governos biônicos indicados pela ditadura militar (64/82). Mas ao olhar para
o caso acreano, me deparei com a presença destas práticas como já presentes no período de formação
política do Território do Acre, no início do século passado. É em função disto, que o trabalho aqui
apresentado busca modestamente discutir as ―As raízes do autoritarismo no executivo acreano —
1921/1964‖.
Passarei agora para o ponto fulcral deste trabalho, que procurará colocar em relevo algumas
questões – tanto de ordem geral quanto específica – sobre como se deu no Acre a convivência da
8
sociedade com procedimentos de cunho autoritário emanados a partir do Estado , onde este passa a
conformar e dominar os espaços públicos através de suas instituições.
O Acre como Unidade da Federação brasileira se insere no contexto nacional — geográfica
e politicamente — de forma gradativa, conflituosa e tardia. Contribuíram para isto acontecimentos como
9
a República independente de Luís Galvez ; o levante liderado por Plácido de Castro visando a anexação,
10
posteriormente ratificada com o Tratado de Petrópolis; a luta autonomista ; a unificação departamental e
territorial (Acre).
9Luiz Galvez Rodrigues de Árias, espanhol que trabalhou na embaixada de seu país em Buenos Aires; depois
seguiu para o Brasil e se estabeleceu em Manaus, onde trabalhou primeiramente como jornalista e depois no
Consulado boliviano em Belém, quando toma contato com a ―Questão acreana‖. Figura folclórica e
controversa que em 14 de julho de 1899, proclamou o Acre Independente (Governo do Estado do Acre,
1999). A intencionalidade da data coincidindo com a revolução francesa de 1789 e as compras adquiridas
previamente em Manaus não foram por acaso.
10Embora o Projeto de Lei nº 4.070 que redundou na elevação do Acre a Estado tenha sido apresentado em
16
1957; muito antes, em 1908, o deputado cearense Francisco Sá já tinha apresentado semelhante Projeto na
Câmara Federal, depois reapresentou com algumas alterações o mesmo Projeto no Senado Federal em 1915,
ambos foram rejeitados. Somente em 1919 seu Projeto é reapresentado e aprovado com substanciais
alterações, dando ao Acre a centralização administrativa, mas negando-lhe o estatuto de Estado. Cf. Craveiro
Costa (1974).
11Semânticamente deriva do grego e significa governo (arché) de poucos (oligos). Para Ianni (1989), as
oligarquias no Brasil são compostas por lideranças políticas e econômicas onde o poder é exercido pelo
mesmo grupo e pessoas interpostas, em nome ou em benefício de uma classe social bastante reduzida e
solidária no controle do poder (ibidem, p. 47).
12Cf. Costa (1998).
17
13Para Saes (1992), em A formação do Estado burguês no Brasil, o “burocratismo” é um sistema de organização dos
servidores do Estado (civis e militares) que os enquadra em determinadas práticas e regras jurídicas,
construindo uma tendência ideológica própria desta categoria, baseada na impessoalidade e não-monopólio
das funções, hierarquia vertical. Ou seja, qualquer um a partir da competência profissional pode desempenhar
as mais variadas funções dentro do aparelho estatal; com isto, procura-se descaracterizar o caráter de classe
do Estado.
14 O termo sociedade acreana encontra-se ao longo do trabalho ―aspado‖ devido ser muito amplo e vago
depoimentos. No caso destes últimos, isto foi proporcionado por aqueles que, em maior ou menor grau,
vivenciaram estes eventos e processos sociais em graus diferenciados de atuação e olhar interpretativo.
Desta forma, um alento para esta deficiência documental primária nos é dada por Fustel de
Coulanges (apud Paz, 1996) ao afirmar que embora o historiador deva permanecer próximo ao
documento, alerta que o mundo histórico não pode necessariamente ser reduzido a um texto. Contudo não
se pode abrir mão, como ressaltou Michel de Certeau (1995, p. 19), de um sistema de referências. Sistema
este que sempre contém uma filosofia implícita e particular que remete à subjetividade do autor. Esse
entendimento se aproxima em muito da visão de Hayden White, (1994) que afirma ser o ―fato histórico‖
algo que não é antecipadamente dado, mas que elaboramos a partir de certas indagações que fazemos ao
passado.
Outro fator está relacionado com os marcos temporais, que embora do ponto de vista macro
já estejam delimitados, existem micro-tempos que evidenciam a indefinição clara de limites.
Simultaneamente, isto leva a optar em reduzir fatores e atores, implicando assim que se considera a priori
alguns, dentre muitos, como efetivamente significativos em relação a um determinado acontecimento a
ser analisado. Inspirado em Fernand Braudel, José Luís Fiori (1995) indaga, ―se os inúmeros ‗rios do
tempo‘ correm de forma integrada, conquanto estabeleçam curvas e confluências não coincidentes, será
possível a cada navegante descobrir a lógica de sua vertente sem que conheça a dos demais?‖ (idem,
p.32). Certamente, este é um problema que aflige a todos aqueles que se voltam para o interpretar das
ações humanas. Uma resposta metafórica e pessoal a esta pergunta, seria afirmar que nos é dado a
conhecer apenas trechos ínfimos de alguns dos inúmeros ―rios do tempo‖ e as águas estão sempre turvas,
onde cada um observa e analisa aspectos singulares dentre os diversos existentes.
Compreendo que a abordagem é complexa e a diversidade de interpretações que ela
comporta é muito grande. Isto também ocorre pelas implicações e injunções de ordem
teórico/metodológica que se inserem em tal abordagem, como também pelas singularidades presentes em
qualquer evento histórico e pelas escolhas das veredas que foram feitas.
Concomitante a isto, entendo que a percepção do social não pode ser encarada como sendo
neutra, sem produzir estratégias e práticas pelo historiador, pelos sujeitos e pelos diversos grupos sociais
envolvidos. Assim, ―fugirei‖ das prenoções rankeanas de uma história isenta, de falar do passado pelo
passado, como se este não tivesse uma conexão com o presente e com aquele que a escreve.
Contrapondo-se a esta ótica, parecem ser bastante apropriadas as observações de Michel de
Certeau (1995, p. 17) ao afirmar não existir considerações e leituras capazes de apagar as particularidades
do tópos de onde falo, domino e conduzo minha investigação. Porque na escrita da História, e para o
historiador, o sistema de pensamento está intimamente ligado a ―lugares‖ que englobam aspectos sociais,
econômicos, políticos e culturais.
Os tópicos levantados aqui não comportam explicações definitivas, nem é minha pretensão
procurá-las. Isso recoloca todos aqueles que lidam com a dimensão humana, inclusive o historiador, em
uma posição de construtores de visões particulares e interpretações que jamais podem adquirir a etiqueta
de absolutas.
20
No entanto, deve-se tomar cuidado com as visões enviesadas como a de White, que
concebe a história como sendo feita da forma que o historiador achar melhor e que este faça dela o que
quiser (apud Paz, 1996, p. 194). Não concordo com esta assertiva da negativa radical de um mínimo de
pressupostos no estudo da História.
Entendo que é somente a busca do conhecimento, a problematização e a dúvida metódica
que constroem algumas certezas, que embora parciais e discutíveis são necessárias. Como afirma Agnes
Heller (1981) com bastante propriedade, compreender a história significa trazer os fenômenos e as
experiências vividas para dentro do nosso mundo, procurando explicar e conhecer o que antes era obscuro
e com isto, promovendo uma certa inteligibilidade sobre o passado.
Traçadas estas observações, considero de vital importância discutir o contexto histórico dos
acontecimentos a serem analisados em meu estudo, articulando-os com os constructos que também são
comuns a outras ciências, notadamente a Ciência Política e a Sociologia. Pois, dialogando com as suas
respectivas categorias e paradigmas, entendo que se possa fazer uma análise fundamentada em torno do
político e do social de maneira mais consistente. Como bem observou Fernand Braudel (1980), ―todas as
ciências sociais se contaminam umas com as outras; e a História não escapa a estas epidemias. Daí,
essas transformações de ser, de modos ou de rostos‖ (p. 125).
Após essas explanações e considerações em torno da história enquanto área de produção e
entendimento dos acontecimentos, e das múltiplas visões dos determinados autores aqui citados, ressalto
que procurei me ater e manter uma proximidade maior com aqueles autores que considero importantes
para o desenvolvimento, tanto teórico quanto metodológico, de meu estudo.
Reconheço, como já foi antecipadamente colocado, que há uma proximidade argumentativa
com a Sociologia e a Ciência Política, que contribuíram para a execução deste trabalho proposto. Assim
como Carr, entendo que ―quanto mais sociológica a História se torna, e quanto mais histórica a Sociologia
se torna, tanto melhor para ambas‖ (in Hunt, 1992, p. 02).
Acredito que essa percepção da contribuição e das trocas entre as disciplinas são essenciais
para o surgimento de novas abordagens e perspectivas analíticas, que em vez de anular, somam e tornam
o conhecimento sobre os eventos passados mais ricos através dos múltiplos olhares. Talvez haja aí a
complementaridade que Max Weber achava existir entre as ciências humanas, que segundo ele se
orientam em duas direções: uma relacionada às causalidades históricas, daquilo que só ocorre uma única
vez; e a outra seria a causalidade sociológica, que reconstruiria funcional e conceitualmente as
instituições sociais.
Estruturalmente este trabalho está organizado e dividido em três capítulos, a saber:
— Capítulo I – A presença do Estado e sua conformação como centro do poder político: a hipertrofia do
executivo — Procuro neste tópico ressaltar o caráter autoritário da formação e o direcionamento político
16
do Território do Acre nas suas diversas fases, que vai desde sua anexação ao Brasil em 1903 , passando
16Após a vitória do exército liderado por Plácido de Castro contra os bolivianos, o governo federal temendo
uma retomada dos conflitos, envia para o Acre um destacamento militar comandado pelo general Olímpio da
Silveira, que obriga os acreanos a deporem as armas e leva a questão para o âmbito diplomático. Do
momento em que termina o conflito armado entre brasileiros e bolivianos e a assinatura do Tratado de
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pelas várias organizações administrativas, dando maior ênfase no período após 1920, quando ocorre a
unificação administrativa. Para efeito didático, compreendo este período como sendo composto de quatro
17
fases: a primeira está circunscrita entre 1904 e 1920, quando o poder executivo era descentralizado nos
Departamentos; a segunda entre 1921 e 1930, quando os governadores (Delegados da União) passam a
ser nomeados; a terceira vai de 1930 até 1937, com a figura dos Interventores Federais e a última de 1937
a 1962, quando novamente os governadores voltam a serem nomeados;
— Capítulo II – Do Movimento Autonomista à elevação do Acre a Estado: mudanças e continuísmos —
procuro colocar em evidência a luta do Movimento Autonomista, que desde os primórdios da anexação
do Acre ao Brasil começou a tentar elevar o Território à condição de Estado federado. Ressaltando
aspectos relevantes que marcaram a trajetória dos grupos em luta, contra ou a favor da autonomia;
incluindo ainda as disputas políticas entre Guiomard Santos e Oscar Passos. Entendendo por princípio,
que o desfecho desta contenda pouco acrescentou para diferenciar o legado autoritário oriundo dos
tempos do Território;
— Capítulo III – De José Augusto ao capitão Cerqueira: fragilidade política, falta de hegemonia e
exacerbação do autoritarismo no executivo — Aqui ressalto alguns aspectos relacionados aos conflitos e
embates, — de cunho partidário e de busca de hegemonia política — enfrentados pelo governo de José
Augusto. Este foi o primeiro governador constitucionalmente eleito e logo deposto pelo golpe de 64 em
virtude do rearranjo político que ocorreu em âmbito nacional, açodado mais ainda pelas peculiaridades da
política local. Após sua queda, assume o poder o capitão do Exército Edgard Pedreira Cerqueira, que
imprime inicialmente uma série de medidas, visando punir os atos ―subversivos‖ praticados por José
Augusto e seus auxiliares durante o curto mandato frente ao executivo acreano.
Petrópolis, o Acre foi dividido em duas zonas administrativas: o Acre Setentrional (Juruá/Tarauacá),
governado pelo general Olímpio da Silveira e o Acre Meridional (Acre/Purús), governado por Plácido de
Castro. Cf. Souza (1994, p. 134).
17Tenho como ponto de partida o Decreto 5.188, de 07 de abril de 1904 que instituiu a criação dos três
―A região e o Estado são uma loucura coletiva que penetram no público e privado, nas
dimensões de existência social de um povo‖. Mikhail Bakhunin.
18Sem querer ser profundo e prolixo, o termo hegemonia se insere neste contexto, próximo as concepções de
Gramsci, que entende o conceito como sendo o exercício da dominação (força) e direção (consenso) de uma
classe – ou fração dela – sobre o restante da sociedade. Esta hegemonia procura se estabelecer tanto no
campo político, quanto moral, cultural e ideológico. Cf.: Portelli (1977).
23
19Entre 1904 e 1920 o Acre era administrado pelos prefeitos departamentais, que exerciam o poder de forma
descentralizada e extremamente autoritária nos Departamentos do Território.
20O estudo de Carvalho — A construção da ordem: a elite imperial/Teatro das sombras: a política imperial — é
ganha prestígio com a implantação da República em 1889. Segundo o escritor Márcio Souza (1994), na
Amazônia, os mandatários da República,“instalaram militares no poder, já que eles aparentemente encarnavam o ideal
positivista, rápido e regenerador, inexistente nos políticos locais (idem, p. 137).
24
Usarei como ponto de partida e para dar maior clareza a este intento
analítico, a unificação administrativa do Acre ocorrida em 1921 22. É a partir deste
momento que começa a se delinear um corpo burocrático mais consistente, uma
ascendência impar dos governadores (Delegados da União) sobre as prefeituras
municipais e uma cristalização maior dos atos destes, expressos na figura do chefe, do
mandatário maior que era o dirigente do executivo acreano.
Em certo sentido, isso explica a opção de centrar a análise no período após
esta unificação, mesmo reconhecendo que as práticas personalistas e autoritárias
remontam a própria formação e organização política do Acre na sua fase embrionária do
regime de Departamentos. Onde para Craveiro Costa, os munícipes e as cidades nada
mais eram do que ―presas do mandonismo de autoridades arbitrárias ou de chefes
detestáveis, teatro de cenas degradantes (...) burgos que apodrecem corroídos pela
politicagem‖ (idem, p. 193).
A título de exemplo, é significativo um ―entrevero‖ ocorrido em princípio
dos anos dez em Sena Madureira, entre o então prefeito e os representantes da Justiça
Federal23 que trabalhavam naquela cidade. Consta no relatório, publicado em forma de
livro24, que o então prefeito José Inácio da Silva, em conjunto com o seu filho, Luiz
Ignácio da Silva (tesoureiro), e o seu genro Luiz Americano da Costa (oficial de
gabinete), foram denunciados por ex-funcionários da prefeitura junto a Justiça Federal
pelo crime de peculato, após estes anexarem uma farta documentação que comprovava
tais denúncias.
Como forma de se opor às determinações judiciais, os acusados não
compareceram à sessão de audiência e passaram a fazer pressão em cima do Juiz
Federal. De acordo com o relatório, o prefeito colocou em estado alerta a Força Policial
e soltou alguns presos para servirem-lhe de capangas. Em função destes
acontecimentos, os magistrados dizem que ―a justiça não capitulou, mas não podia
deixar de retirar-se, em presença da polícia prefeitural, armada até os dentes e
Curado Fleury, Antônio Cesário de Faria Alvim Filho, José Lopes de Aguiar e Jorge Serpa. Sobre a relação
entre executivo e judiciário, Craveiro Costa (1974) faz o seguinte comentário: “prefeitos e juízes chocavam-se
constantemente. Pelo critério de alguns prefeitos, os juízes lhes eram inteiramente subordinados. E se juntarmos a tudo isso as
ausências constantes e prolongadas dos juízes preparadores e promotores públicos, a incompetência dos substitutos leigos, a
corrupção que raros magistrados escapam, teremos no quadro as verdadeiras cores” (idem, p. 151).
25
28Aqui poderemos ressaltar essas oligarquias como sendo composta de grupos políticos e econômicos
inseridos, ou não, dentro da burocracia do aparato administrativo: sendo os grupos mais significativos
formado por comerciantes, militares, profissionais liberais e seringalistas. Segundo Carvalho (1996), — no seu
estudo clássico das elites imperiais no Brasil, — o ponto central da análise deve ser sobre ―quem manda?‖.
Por isso, devemos nos ater sobre dois princípios básicos: posição e decisão. A posição está relacionada com as
pessoas que ocupam os espaços formais de poder; já decisão, tem a ver com o poder real e concretamente
exercido. (idem, p. 55).
29A Constituição Federal determinava que qualquer solo público salvo o Distrito Federal, deveria pertencer a
o velho axioma já repetido inúmeras vezes: o que é bom para os EUA é bom para o
Brasil32.
Esta discussão se alongou por muito tempo. Em 1909, políticos ligados ao
Acre, procuram justificar a legalidade da nova condição acreana, apelando para a
opinião de dois renomados juristas americanos conhecidos como George F. Curtis e
Thomaz Coolley. Curtis afirmava em seu relatório o caráter de exceção a respeito do
caso americano, pregando a necessidade de uma progressiva autonomia institucional,
política e econômica para os Territórios; Coolley, por sua vez, entendia ser uma
anomalia democrática a existência de Territórios nos EUA: eram apenas uma exceção,
algo transitório (Craveiro Costa, 1974, p. 120).
Mas o governo central se mostrou resoluto em manter o regime instituído
em 1904, por entender que o Acre, devido algumas peculiaridades idiossincráticas, não
poderia ser elevado ao grau de Estado. Entre as questões alegadas configuravam o
aspecto territorial, considerado muito amplo; baixa densidade populacional; a cultura
local, ainda vista como ―atrasada‖ e ―despreparada‖ para se inserir nos moldes do sul do
país; deficiência de comunicação; falta de organização social, entre outros fatores que
seguiam esta mesma ótica.
É a partir deste ponto de vista, que o sociólogo Oliveira Viana, em sua obra
―Pequenos Estudos de Psicologia Social‖, faz referência à questão acreana de maneira
bastante contundente, defendendo este quadro instaurado pelo governo federal, ao dizer
que no Acre:
32Élícito informar também que a própria Carta republicana brasileira é inspirada na Constituição norte-
americana, bem como a primeira bandeira da República.
28
33Mais tarde, Oliveira Vianna se aproxima de algumas idéias arianas e passa a ver no Estado Novo varguista
um modelo de democracia autoritária (sic) como ele preconizara (Bastos & Moraes, 1993, pp. 87 e ss).
34Esta fórmula no principio serviu para desestabilizar a organização dos movimentos autonomistas que
estavam surgindo. A criação do Departamento do Alto Tarauacá se insere nesta ótica, pois vinham do Alto
Juruá as mais fortes oposições enfrentadas pelo governo em relação ao modelo político adotado. Confira
capítulo II e mapas em Anexos.
35O Acre entre 1904 e 1912 teve três Departamentos administrativos com suas respectivas sedes: Alto Acre
(Rio Branco); Alto Juruá (Cruzeiro do Sul); Alto Purús (Sena Madureira) e após 1912, um novo
Departamento é criado em conjunto com a figura dos municípios: Alto Tarauacá, cuja sede ficava na vila
Seabra (atual Tarauacá), que recebeu este nome em homenagem ao Ministro da Justiça Joaquim J. Seabra. O
quinto município era Xapuri, que ficava no Alto Acre. Em relação às homenagens personalistas, outras
nomeiam os principais municípios acreanos, denotando esta característica como sendo uma constante ao
longo da história: Rio Branco (Barão do Rio Branco), Sena Madureira (general homônimo), Manuel Urbano
(desbravador da região), Rodrigues Alves, Epitaciolândia (Epitácio Pessoa), Senador Guiomard (Guiomard
Santos), Plácido de Castro, Assis Brasil (diplomata) e Marechal Thaumaturgo (fundador da cidade de Cruzeiro
do Sul).
36Cf. Calixto (1985); SEPLAN/DGE (1971). As primeiras eleições para os membros dos Conselhos
37No final do século XIX somente a região do Purus, ―uma das mais ricas da Amazônia‖, chegou a exportar
5.423.164kg de borracha, 40.749hl de castanha, 34.253kg de óleo de copaíba e 307.103kg de pirarucu (Cunha,
1998, p.184).
38Sobre a escolha de Epaminondas Jácome, Craveiro Costa (1974) faz o seguinte comentário sarcástico: “O
Sr. Epitácio Pessoa lembrou-se de pôr na cabeceira do moribundo (o Acre) um médico, acreano honorário, clínico de escassa
ciência (...). Nada se sabia da capacidade administrativa do facultativo nomeado governador. A inferir pela sua ciência, não
deveria ser grande coisa (...)” (Idem, p. 203).
39Quando o governador se encontrava impedido ou licenciado, era substituído pelo secretário-geral ou alguém
indicado pelo presidente da República. Em caso de renúncia ou abandono, assumia o presidente da Corte de
Apelação ou o Desembargador que estivesse no exercício do cargo.
30
administradores executivos, que na sua maioria assumiam sem saber quando seriam
substituídos.
Quando não tomavam a rara iniciativa de deixarem o cargo, eram demitidos
ad nutum. Isto geralmente era algo determinado pelos arranjos políticos emanados da
capital federal, muitas vezes pautados pelos momentos instáveis da República e
consignados aos interesses localizados nas unidades federativas.
Este fator relacionado à alta rotatividade do cargo, foi levantado na
imprensa acreana em 1953 em um artigo do advogado Mário de Oliveira 40, onde ele
ressaltava o aspecto da nomeação dos governantes e a intermitência da permanência no
cargo, que ele alude como ―governos a prestação‖. Alguns administradores que subiram
e desceram escadas do palácio Rio Branco 41, praticamente ―sem ter tido tempo de abrir
suas malas‖42.
Mas o objetivo aqui não é fazer uma análise sobre a administração de cada
um desses governantes e sim, realçar alguns aspectos significativos que se inserem
dentro dos propósitos que já foram especificados.
40Era filho do coronel João Donato de Oliveira, seringalista (dono do seringal Amapá) ex-comandante da
Força Policial do Território do Acre - FPTA e ex-intendente de Rio Branco. ―Governos intermitentes‖. O
Acre, n° 1119, p. 01. 03/05/53.
41Sede do poder executivo acreano.
42Varadouro, ano I, n° 06, p. 03, dezembro de 1977.
31
43Epaminondas Jácome, juntamente com Francisco Mangabeira (autor do hino acreano), era auxiliar médico
frontispício a seguinte frase: “Orgam dos interesses comerciaes” e era ferrenho opositor de Epaminondas Jácome.
45Órgão oficioso de Epaminondas Jácome. Seu proprietário legal era o coronel Manoel Vasconcellos, tendo
como redator chefe o jornalista e advogado Porto da Silveira (oficial de gabinete do governador) e redator-
secretário o advogado Francisco Pereira. Manoel Vasconcellos era ainda proprietário da fábrica de cigarros
Victória e da casa noturna High Life. Foi acusado pelos seus opositores de se beneficiar da amizade com
Jácome, sonegar impostos e não ter alvará de funcionamento de seus empreendimentos comerciais. Este
jornal mantinha um contrato com o governo para a publicação das mensagens e atos administrativos, circulou
somente durante o mandato de Epaminondas Jácome, quando foi fechado a pedido deste em 10/12/22.
32
jornal Folha do Acre (ano XII, n 411, p. 01, 11/05/22) acusou-o ainda de ser fugitivo da justiça paulista.
49Segundo palavras do Ministro da Justiça e Negócios Interiores, os conselhos municipais eram uma forma de
―preparar o Território para constituir futuramente o Estado, o que seria um grande inconveniente no
momento‖. A Capital, n° 23, p. 01, 08/01/22.
50A Capital, p.01, nº 01, 29/07/21. O PRAF foi fundado no dia 06 de agosto de 1918, sua convenção ocorreu
no Cine Éden onde compareceram 427 pessoas. Sua primeira diretoria era constituída de 27 pessoas, sendo
19 militares, 04 médicos e os restantes, comerciantes (Costa, 1992, p. 48).
33
em todo Território, já que ele surge da fusão do PCA, de Rio Branco; do Partido
Republicano Juruaense - PRJ, de Cruzeiro do Sul e do Partido Democrata - PD, de
Tarauacá. Estes dois últimos partidos, do vale do Juruá, embora com pouca expressão
regional, estavam ao largo do movimento separatista liderado pelos membros do Partido
Autonomista do Juruá - PAJ.
Segundo documento divulgado no dia de sua fundação, o PEA tinha como
meta ―substituir os grupos desconexos e sem ligação com outros do Território (...) nada
mais representando do que pequenos aglomerados de sympathias pessoaes‖ 51. A
matéria parecia fazer referência indireta aos membros do Partido Autonomista do Juruá.
Desde seu primeiro momento o PEA foi um aliado fiel do governador Epaminondas
Jácome, pois no ato de sua fundação, foi divulgada uma moção de solidariedade ao
governador em virtude dos ―ataques‖ que estes sofria da oposição. A composição de
seus quadros era majoritariamente de militares, alguns profissionais liberais e
comerciantes da elite política, econômica e social local52.
De acordo com Costa (1992), em um estudo sobre os partidos no Acre, após
1945, surgiu no Território ―um sistema partidário que sempre excluiu os trabalhadores
de participação, tanto no nível de direção quanto de participação como candidatos em
pleitos eleitorais‖. Se nos anos 40 prevalecia esta prática excludente, podemos fazer
uma ilação mais aguda da situação nos anos 20, —momento da unificação —, quando
se formaram de fato as primeiras agremiações partidárias no Acre.
Quando ocorre a unificação departamental em 1921, no Território já haviam
sido instalados os seguintes órgãos públicos federais, todos em Rio Branco: Justiça
Federal; Tribunal de Apellação; Mesa de Rendas Federaes; Capitania do Porto;
Collectoria Federal; Assistência Pública; Agência Postal; Estação Rádio-telegráphica e
Quartel da Força Policial. Nesta situação, ―o mais comum é o poder central dar a sua
população os órgãos de sua administração‖ (Oliveira Vianna, 1987, p. 221).
Foi o que ocorreu: uma forte presença do Estado Nacional e o poder político
nas mãos de pessoas com pouco ou nenhum compromisso com a administração pública
e sim, mais preocupados em agradar quem lhes nomeou e voltarem ao fim do mandato
para ―merecidas‖ férias na capital federal. Era o que acontecia com todos os
governadores e a maioria dos seus secretários, que ao chegar um novo governador
nomeado, com sua troupe, os que aqui estavam faziam imediatamente o caminho
inverso dos adventícios.
Assim, todos mais pareciam aves de arribação que ao Acre chegavam
somente para se acasalarem com o poder e garantir uma gorda aposentadoria em função
de servirem em local tão ermo e rarefeito de ―civilização‖, como alguns afirmavam.
Assumir qualquer compromisso no Acre era um meio de ―consertar as avarias
financeiras, um estágio para promoção de oficiais com o soldo dobrado pelo doloroso
sacrifício de viver entre os índios‖ (Craveiro Costa, ibidem, p. 148). Mas o sonho de
todos, quando acabava o prazo da nomeação era baixar o rio 53.
A partir da nomeação de Epaminondas Jácome54, tornou-se norma o
governador trazer consigo o restante do corpo administrativo auxiliar, que lhe
acompanhava desde o Rio de Janeiro até ao Acre. Aos governadores competia ainda,
nomear e expedir licenças para os praças e oficiais da Força Policial do Território.
Este tipo de ação remonta à época do poder descentralizado, quando os
prefeitos tinham a prerrogativa de exercício amplo do poder político. Era comum o
conflito entre o poder judiciário e poder executivo no Acre Território, que advinha do
fato de em alguns momentos o prefeito ou governador não aceitarem submeter-se aos
ditames da lei. Um prefeito, segundo Craveiro Costa (1974), era no Acre uma
autoridade maior do que aquela que a nomeava — o presidente da república —, ―pois
enfeixava em suas mãos os três poderes soberanos‖ (P. 140) e, como já foi visto no
exemplo de Sena Madureira, no Acre nada significavam os aludidos poderes soberanos.
Esta afirmativa é corroborada por um prefeito local da época, que em seu relatório
enviado ao ministro da justiça, assume categoricamente: ―os prefeitos enfeixam em suas
derrotados remonte esta época, já que aqueles que deixavam o poder desciam o rio para retornarem de onde
vieram.
54Todos os governadores, nomeados pelo presidente da república e empossados no Rio de Janeiro, estavam
57Governador do Acre entre 1927 e 1930. Na sua administração foram construídos diversos prédios públicos,
como o mercado municipal, o quartel da FPTA e o atual palácio Rio Branco. Antes de assumir, foi deputado
federal pelo Ceará e superintendente da cidade de Manaus (AM).
58Folha do Acre, n ° 660, 20/09/28 e n° 661, 23/09/28.
59 ―A queda de um régulo‖. Folha do Acre, n° 531, 10/06/26. Este jornal, a partir de 1925, passou a ser
administrado pelo coronel Sérvulo do Amaral e Flávio Batista, membros do PEA. Este último, em 1926, foi
37
governador, intimando-o a desocupar o posto que diziam não mais lhe pertencer e
delegam os poderes governativos do Território ao desembargador José Martins de
Souza Ramos, presidente do Tribunal de Appellação. O desembargador assumiu
imediatamente o posto, em caráter provisório, e exigiu que não acontecesse nenhum tipo
de solenidade de posse, fato único dentre todos que assumiram o poder executivo no
Acre. 60
teve como conseqüências políticas a liquidação da hegemonia política da burguesia mercantil agro-
exportadora; instauração de uma crise no interior das classes dominantes e orientação de uma política
econômica e social pelo Estado nacional.
62
“Para substituir os „carcomidos‟ e governar os estados, os interventores tiveram de firmar coalizões com facções das oligarquias
estaduais, o que enfraqueceu o ímpeto revolucionário das novas administrações”. Nunes (1997, p. 51).
63Para Craveiro Costa (1974), “prefeitos desfrutáveis e perdulários apresentam relatórios pomposos (...) para justificar seus
64Denominado o ―imperador do norte‖ (ou vice-rei do norte, conforme o escritor Márcio Souza, [1994]), pela
influência que tinha para nomear e indicar seus amigos de confiança para cargos nos Estados e Territórios da
Amazônia e do nordeste, em geral militares. Iglésias, (1993, p. 234).
65O Acre, 1930.
66O Acre, n° 280, 09/06/35.
39
Republicano Progressista – PRP; Partido Social Progressista – PSP; União Democrática nacional - UDN e
Partido Comunista do Brasil - PCB. Cf. Costa (1992).
70 Major, depois promovido a coronel, governou o Acre entre fevereiro de 1946 e junho de 1950, depois foi
eleito deputado federal por três mandatos (1951/1962) e senador eleito em 1962 e 1970, em 1978 foi
escolhido senador biônico e faleceu em 1982. Ou seja, ficou no poder durante 36 anos. Foi o autor do
Projeto de Lei que elevou o Acre a Estado.
71Oscar Passos nasceu no Rio Grande Sul e era militar. Quando veio para o Acre assumir o cargo de
governador (agosto de 1941 a agosto de 1942) tinha a patente de coronel. Após deixar o governo, ficou cerca
de sete anos fora do Acre e retorna em 1949 para candidatar-se a deputado federal. Eleito, dedica-se ao
parlamento federal de 1950 a 1962. Foi eleito senador em 1962 e posteriormente presidente nacional do
MDB. Em 1970 não é eleito e desiste da vida partidária. Irá ser durante cerca de duas décadas o principal
adversário político de Guiomard Santos e a figura central do PTB acreano.
40
No Acre, esta característica sempre foi uma marca constante durante toda
sua vida territorial, tanto entre governadores e interventores, quanto entre prefeitos e
intendentes. Entre 1921 e 1964 a regra era encontrar tais homens exercendo os mais
diversos cargos na vida administrativa territorial, suas ausências eram exceções
72Confira artigo de Guiomard Santos, intitulado “O Estado socialista do Acre” e reproduzido parcialmente no
capítulo II.
73Logo que assumiu o governo, Hugo Carneiro imprimiu uma série de medidas para ordenamento do espaço
urbano da cidade de Rio Branco, capital do Território. Construiu vários prédios públicos em alvenaria, adotou
um código de posturas para o município e procurou ―higienizar‖ a cidade com suas medidas profiláticas. Sua
meta era exatamente circunscrever, ordenar, classificar e delinear a vida em sociedade. Durante seu governo,
foi criada a agência local do Banco do Brasil. A partir daquele momento, o governador passou a controlar de
forma direta os recursos enviados pela União. Outro acontecimento importante no seu governo foi a criação
do Tribunal de Contas local, livrando o governador de ser fiscalizado pelo Tribunal de Contas do Amazonas.
Assim, passa o governador a enfeixar um poder muito maior do que seus antecessores. Sobre estas
afirmações, agradeço as conversas que tive com o professor e historiador Sérgio Roberto Gomes de Souza
(2002), que escreve dissertação de mestrado, intitulada Fábulas da modernidade: a utopia modernista de Hugo
Carneiro – 1927/1930, onde aprofunda estas questões.
42
Este mesmo jornal, afirmava ainda, que o povo ao receber carnes, cigarros e
pães, ―bendiziam o nome do benemérito governador‖, com louvor e entusiasmo. Era
comum também, o envolvimento da Associação Comercial através de seus dirigentes e
da própria Igreja Católica nos festejos, esta última também uma ―eterna‖ aliada do
poder político.
silenciosos e buscar tê-los sob controle. É ainda, a busca de introjetar nos governados, e
levá-los a acreditar nisso, que eles devem gratidão àqueles que têm atos ―generosos‖
para com eles.
Ou ainda, como na época de Guiomard Santos (46/50). Toda vez que este
chegava de viagem ao sul, desembarcava com sua comitiva e atravessava o rio Acre até
o Porto do bairro Quinze, e seguiam todos caminhando pelas ruas do Segundo Distrito 78
até ao antigo centro comercial na proximidade da Tentamem79 e do Cine Recreio
(antigo Cine Éden). Daí, atravessavam novamente para o Primeiro Distrito, em direção
ao Palácio Rio Branco, onde o ritual de sempre era repetido.
margem esquerda, o Primeiro Distrito, antigamente denominado de Penápolis, fica o centro administrativo e
para onde a cidade mais se expandiu. No Segundo Distrito, ficava o antigo centro comercial e foi onde cidade
se originou a partir do antigo seringal Empresa, depois elevado a condição de vila e posteriormente, Rio
Branco.
79Clube social fundado nos anos 20 e freqüentado pela elite acreana da época.
80Eram realizados torneios de futebol, festas dançantes e distribuição de brindes. “Tais manifestações revelam que
Guiomard Santos tinha o apoio dos coronéis seringalistas e dos altos comerciantes”. ―A herança dos caciques‖, Varadouro,
n° 06, p. 03, dezembro de 1977.
44
Governador do Acre‖. Neste dia, jogava o time dos funcionários do Território contra a
equipe da Guarda Territorial. O troféu em disputa, confeccionado no Rio de Janeiro, era
de posse transitória e sempre entregue após o jogo pelo governador, que o assistia como
―convidado‖ ilustre81.
carne seca e bananas. Para a junta, lanches mais refinados. Tudo isso financiado pelos comerciantes de
45
Tudo isso me leva a concordar com Balandier (1981), quando afirma que o
mundo político comanda o real através do imaginário social, por meio de um teatro que
regula a vida cotidiana e aproxima a arte de governar, que Maquiavel preconizava, da
arte da encenação. Pois, ―o poder só se realiza e se conserva pela transposição, pela
produção de imagens, pela manipulação de símbolos e sua organização em um quadro
cerimonial‖ (idem, p. 07). Ou seja, o poder só adquire sentido se for exercido, mostrado
e divulgado.
Manaus, que deram apoio logístico à empreitada de Luiz Galvez. Cf. Tocantins (1979, p. 280).
46
85Oficialmente, a data de fundação da Polícia Militar do Acre – PMAC é 25 de maio de 1916, quando são
formadas as chamadas Companhias Regionais – CR’s, localizadas em cada Departamento e subordinadas aos
Intendentes. Em 1921, com a unificação departamental, as CR`s dão origem a FPTA. Cf. Aguiar (1998).
86O primeiro comandante da FPTA foi o major Duarte de Menezes, designado pelo general Silva Pessoa para
―Quanto mais um poder dura, maior é a parte irreversível com a qual terão de contar
aqueles que conseguirem derrubá-lo‖. Pierre Bourdieu.
93Examinado o conjunto da lista que compunha estas 78 assinaturas, existem nada menos 49 militares de altas
patentes, 42 seringalistas, 38 comerciantes, 01 capitalista, 03 advogados, 01 tabelião, 01 agrimensor e 02
industriais. O número evidentemente excede as 78 assinaturas e se explica devido ao fato de muitos se auto-
intitularem como pertencentes a mais de uma categoria profissional e/ou social. Folha Official, p. 04, abril de
1910. (este jornal era o órgão oficial da prefeitura do Alto Acre).
50
01º de junho de 1910, quando uma Junta Governativa 94 toma o poder e declara criado o
Estado do Acre. Este movimento teve seu estopim quando chega à Cruzeiro do Sul, o
novo prefeito nomeado pelo governo federal, João Cordeiro, ―que a população recebeu
com desagrado, acirraram os ânimos dispostos à insuflação de idéias subversivas‖
(Craveiro Costa, 1974, p. 164). Diante do quadro de animosidade que se instaurou, o
prefeito, que só existiu formalmente no papel, embarcou de volta para o Rio de Janeiro.
O movimento era composto basicamente por seringalistas e comerciantes
locais, ligados ao chamado Partido Autonomista do Juruá – PAJ. Teve inclusive o apoio
inicial da Força Policial Federal, comandada pelo então capitão Fernando Guapindaia.
O movimento contou ―com apoio de todos os proprietários, dirigidos pelo venerado
Francisco Freire de Carvalho‖ (ibidem, p. 164), presidente da Associação Comercial
do Alto Juruá. Para tentar ganhar apoio do Departamento do Alto Purús, os insurretos
do Alto Juruá propuseram nomear Sena Madureira capital do ―Estado do Acre‖ e ainda,
o coronel Antônio Antunes de Alencar, então prefeito do Alto Acre, governador do
aludido Estado. Este, encontrava-se em viagem à Manaus e se mostra pouco interessado
em assumir a cadeira de governador que lhe ofereceram, preferindo ficar ao largo do
movimento juruaense. Com esses entraves iniciais, provocados pela indiferença dos
outros Departamentos, o movimento cruzeirense começou natimorto, pois fragmentado
e sem o apoio dos dois co-irmãos era impossível lograr êxito nos seus intentos
autonomistas. Mesmo assim, levaram-no adiante isoladamente.
Abaixo está transcrito fragmentos do intitulado Manifesto Autonomista,
apresentado pela Junta Governativa em 01º de junho de 1910:
94A Junta Governativa foi formada pelos coronéis Francisco Freire de Carvalho, João Bussons e Mâncio
Lima. Tinha como suplentes o major Francisco Borges de Aquino, coronel Alfredo Teles de Menezes e o
major Glicério de Vasconcellos Pessoa (Cf. Craveiro Costa, 1974, cap. 18).
51
Este levante durou cerca de três meses, com intensas negociações entre os
segmentos políticos dos Departamentos acreanos. Causou ainda fortes preocupações
junto aos comerciantes de Belém e Manaus, que se manifestaram contrários ao
movimento96 após a interrupção do envio da produção de borracha 97 dos seringais
acreanos para estas praças, um duro golpe ao sistema de aviamento 98. De acordo com
um conhecido comerciante e seringalista da época chamado Gentil Norberto99, residente
no Alto Acre, esta ―revolução visa escangalhar o fabrico e dar enorme prejuízo às
praças do Pará e Manaus‖ (apud Craveiro Costa, p. 170).
O governo federal, preocupado com os acontecimentos, através do
presidente da República Nilo Peçanha, envia à Manaus um telegrama datado de 13 de
julho e endereçado ao prefeito destituído do cargo, com o seguinte teor: ―o governo da
República está disposto a agir resolutamente no sentido de fazer respeitar a autoridade
federal e manter as leis vigentes. Convém aconselhar nossos compatriotas, cessarem o
Genericamente era baseado numa pirâmide de relações e compromissos que envolvia de forma descendente
grandes empresas européias que importavam a borracha amazônica, as casas comercias e exportadoras de
Belém e Manaus, que supriam os seringais com as mercadorias, o seringalista e por último, o seringueiro,
imprescindível para a extração do látex e quem menos se beneficiava dele.
99Formado em engenharia, Gentil Tristão Norberto veio para o Acre em 1900, fazendo parte da famosa
―expedição Floriano Peixoto‖, patrocinado pelo governo do Amazonas para dar combate aos bolivianos.
52
movimento insurrecional com o qual o governo não transigirá‖ (ibidem, p. 170). Esta
questão só chegou ao fim na primeira semana de setembro, quando o movimento foi
sufocado pela Força Policial Federal, que no início tinha dado apoio aos chamados
autonomistas. Mais uma vez, a força se sobrepôs ao consenso e a fugaz autonomia, sem
alicerces sólidos, ruiu ao primeiro confronto. Ruiu porque, do ponto de vista
econômico, estava causando um enorme prejuízo ao comércio local e regional pela
interrupção da comercialização da borracha. Pelo viés político, causava intranqüilidade
ao governo federal, que não poderia acatar movimentos de cizânia que colocassem em
xeque sua autoridade.
Pouco tempo depois, o exemplo vindo do Alto Juruá reaparece no Alto
Purús, cuja sede era a cidade de Sena Madureira. Em 1912 cerca de 350 pessoas,
segundo relatos da época, se insurgiram contra o prefeito Tristão de Araripe,
incendiaram a prefeitura, depuseram-no e proclamaram o Estado Livre do Acre. A
insurgência contra a municipalidade foi deflagrada pelos ―coronéis‖ e homens de poder
da localidade, que forneceram todo apoio logístico para tal intento, mas o movimento
logo foi sufocado e os insurretos foram obrigados a se refugiarem no seringal
Oriente100. Este embate terminou com dois soldados mortos, um tenente e nove
soldados feridos (Barros, 1981, p. 71). Mais uma vez, as aspirações autonomistas,
isoladas e esparsas, foram reprimidas e momentaneamente controladas.
Com estes acontecimentos, a questão acreana ganha cada vez mais
amplitude. No âmbito legislativo, em 1921, o deputado amazonense Aristides Rocha
apresentou um Projeto na Câmara Federal, onde visava anexar o Acre ao Amazonas. O
deputado Juvenal Antunes, do Rio Grande do Norte, apresentou parecer favorável ao
referido Projeto. É o estopim para a fundação em 17 de novembro daquele ano da Liga
contra a anexação do Acre101, composta pelos chamados homens de bens e dignos
representante das classes ―conservadoras‖, como se auto-denominavam. Frente a esta
oposição, o referido Projeto não foi adiante. Este procedimento reforça mais ainda a
idéia de que o governo federal não queria abrir mão do controle sobre o Território do
Acre, dando lhe a autonomia.
De acordo com esse jornalista udenista, por mais paradoxal que possa
parecer — já que todos governadores anteriores eram forâneos — somente um
governador com total desvinculação com as questões políticas locais poderia romper
com uma ordem de coisas que foi construída ao longo dos anos, por esses mesmos
governadores em consonância com grupos locais. Para mudar, era preciso continuar
aquele modelo. Naquela conjuntura, talvez um udenista de inteira confiança de Jânio
Quadros, recém eleito presidente.
Na mesma época, em Cruzeiro do Sul, o jornal O Juruá110 reproduziu uma
reportagem originária do jornal carioca Tribuna da Imprensa cujo título era: ―porque
ainda é cedo para o Acre ser Estado‖. Mas divergia deste em alguns pontos do referido
artigo, principalmente no tocante a honestidade dos ex-governantes vindos para o Acre,
pois segundo a Tribuna ―era difícil apontar qual governador menos roubou‖ e ainda,
―as verbas que o governo federal enviava para o Acre nunca chegavam lá‖. O Acre era
para o Diário de Noticias, um outro jornal carioca, retratado como ―um Marrocos mal
disfarçado‖, talvez para fazer alusão ao aspecto colonizador e tendo no Acre uma
situação semelhante111 com a existência de governos intermitentes, quase rotativos e,
vindos de fora.
Em editorial, o jornal O Juruá concordava com a tese da inconveniência do
Acre ser elevado a Estado, pois segundo sua avaliação não haviam ainda condições para
alcançar tal objetivo se não fosse modificada a forma de administração territorial. De
acordo com o artigo, o Acre deveria ser dividido 112 em dois governos regionais devido
as suas peculiaridades geográficas: Bacia do Juruá–Tarauacá e Bacia do Acre– Purús.
Administrativamente os juruaenses requeriam uma atenção maior, sentiam-se
diminuídos em relação ao Vale do Acre–Purús, região mais beneficiada devido
facilidade de acesso e por ser a sede do governo territorial.
Preconizavam que ao se bipartir administrativamente o Acre, cada
Departamento teria dois municípios com seus respectivos prefeitos e Câmara de
vereadores, e o Território passaria a ter representantes nas duas casas do Congresso
Nacional. Defendiam que todos os cargos administrativos fossem preenchidos a critério
110O Juruá foi fundado no ano de 1953 em Cruzeiro do Sul. Seu proprietário era João Mariano da Silva. Na
Tribuna da Imprensa a matéria foi publicada dia 10/04/61 e n’ O Juruá dia 28/06/61, n° 116, pp. 01/03/04.
111Diário de Noticias, 28/03/56.
112Esta proposta tardia soava como café requentado. Em 24 de maio de 1927, o coronel Mâncio Lima, então
Intendente de Cruzeiro do Sul (1927/1934), envia telegramas ao Senado e à Câmara Federal, pedindo a
57
do Ministério da Justiça, com pessoas residentes há pelo menos dois anos no Acre e,
após decorridos dois anos da implementação desse sistema, os Departamentos se
tornariam Estados federados da República brasileira (Barros, 1981). Como se percebe,
não houve interesse nenhum da União de atender tal proposta.
Em Cruzeiro do Sul, um sujeito chamado Aluísio de Carvalho e alcunhado
de Lulu Parola113, fez em forma de versos nas páginas de O Cruzeiro do Sul114 uma
crítica ao intento da autonomia. Dizia o seguinte, o verso Cantando e Rindo:
divisão do Acre em duas administrações (Alto Tarauacá e Alto Juruá/Alto Acre e Alto Purús).
113 Parola vem do verbo parolar e significa sujeito falastrão, tagarela.
114Órgão oficial do Departamento do Alto Juruá, criado na administração do marechal Gregório
certamente ocorreu após a revolta do Juruá, provavelmente entre os anos 1912 e 1915.
116Pelos cálculos de Euclides da Cunha a estrada teria 29.040.000m² (726 mil metros de extensão com 40
quando a natureza ainda estava arrumando o seu luxuoso e vasto salão” (idem, p. 66).
118Bezerra {(coord.) 1993, p. 50}.
119O Jornal, 10/02/57.
120Datada de 03/03/57, apud Bezerra, 1992, p. 77.
60
de sua oposição ao Projeto. Para João Mariano, Guiomard Santos deveria insistir na
saída mais sensata para aquele momento: elevar a região do Acre-Purús a Estado e que
o Juruá em separado formasse um outro Território. Para sustentar sua opinião, afirma
textualmente: ―seria oportuno que se fizesse o Território do Juruá, uma vez que nossa
condição não nos permite continuar unificados a Rio Branco, nem como Estado, nem
como Território‖.
Em Cruzeiro do Sul esta concepção também foi adotada pela Associação
Comercial do Juruá, Associação dos Seringalistas, Centro Operário e Associação Rural,
que criam em 1957 o Comitê Pró Território do Juruá para rivalizar com o Comitê Pró
Autonomia do Acre, este último ligado à defesa do Projeto de Guiomard Santos. Os
juruaenses inclusive, mandam uma carta ao presidente da República e outra ao relator
do Projeto na Comissão de Constituição e Justiça, deputado Tarso Dutra. Ambas as
cartas121, com o mesmo teor e, intituladas ―Memorial das classes conservadoras do
Juruá Federal‖, estavam assinadas pelos presidentes122 das organizações classistas e
patronais acima citadas, onde estes expressavam suas preocupações com a possível
autonomia acreana e dos problemas advindos dela.
Os comerciantes e seringalistas, tanto do vale do Acre quanto do Juruá
tinham um receio em comum, que fazia sua grande maioria ser contra ou ver com certa
desconfiança a possibilidade do Acre ser elevado a categoria de Estado. Este receio era
em relação a um possível aumento dos impostos sobre as mercadorias que
comercializavam e sobre a industria extrativa da borracha. Em um evento ocorrido em
Rio Branco, patrocinado através da Associações Comercial e Associação dos
Seringalistas, que reuniu os dois grandes opositores políticos — Guiomard Santos e
Oscar Passos, — isto fica patente quando os dois grupos patronais manifestam suas
preocupações diante de ambos deputados.
O próprio presidente da Associação Comercial, Abrahim Isper Júnior, ao
abrir a solenidade ressaltava que
Como fica evidente nesta fala, o maior temor para a maioria dos
comerciantes e seringalistas era que o Estado traria novos ordenamentos fiscais e
jurídicos através de órgãos reguladores e burocráticos. Isto iria alterar de sobremaneira
toda estrutura na qual se assentavam os procedimentos comerciais e as relações de
trabalho não formalizadas em contrato. Além da diminuição da suas margem de lucros,
bem como a possibilidade de uma fiscalização sobre suas atividades econômicas, que
durante longo tempo permaneceram ao largo de qualquer injunção estatal de caráter
regulatório. Liberdade era ficar livre de qualquer ingerência do poder público que
pudesse ―prejudicar‖ seus negócios.
123 Este debate aconteceu no ano de 1957, não sabemos precisar o dia. Apud Bezerra (1992, pp. 290/291).
62
124Apego ao passado.
125Idem, ibidem, pp. 313/320.
126Idem, ibidem, p. 344.
63
127Ouso deste termo remete a Weber (1998). Para ele, a dominação tradicional ocorre quando a legitimidade
repousa nos poderes senhoriais em virtude de regras tradicionais não inclusas em estatutos universalizantes,
impessoais e abstratos. Neste caso, não existe a figura do ―funcionário‖, mas do ―servidor‖ (idem, p. 148).
64
elemento naquele período para tentar colocar adversários em descrédito. Oscar Passos
era acusado ainda de ser favorável ao divórcio, tese combatida principalmente por
grupos conservadores e pela Igreja Católica através do jornal ―Mensageiro cristão‖.
Com as eleições finalizadas, mais uma vez estavam eleitos Guiomard Santos e Oscar
Passos131.
Mas os acordos entre os dois grupos políticos132 também eram comuns,
principalmente quando era para conformar certos arranjos políticos que beneficiavam
um e outro. Em 1953, o PSD e o PTB pactuam um acordo amplo que visava a
nomeação do novo governador que substituiria João Kubitschek, que pedira exoneração
do cargo.
O próprio presidente do PTB acreano, Wagner Eleutério, em entrevista 133
confirmou de forma detalhada as bases dessa combinação, que estava estruturada da
seguinte maneira: o PSD indicaria o governador 134 e teria ainda ao seu dispor os
Departamentos de Obras e Viação, Educação e Cultura, Produção, Chefia do Gabinete e
as prefeituras de Cruzeiro do Sul, Tarauacá e Brasiléia. Com a partilha acertada em
comum acordo, coube ao PTB a Secretaria Geral, os Departamentos de Saúde,
Administração, Geografia e Estatística e ainda, as prefeituras de Rio Branco, Feijó,
Xapuri e Sena Madureira. Era a explicitação do chamado ―Estado de compromisso‖
originado no Brasil a partir do período Vargas, caracterizado pelo fato de nenhum ator
ou facção política ter uma supremacia clara sobre os outros e não poder sobreviver
isoladamente e sem dispor da corretagem estatal (Nunes, 1997, p. 26). Desta forma,
constituía-se um círculo fechado e restrito, que embora marcado por contradições
internas, se mantinha no poder através de acordos e compromissos.
Após aparar as arestas e feito os acertos locais, era a vez de Guiomard
Santos e Oscar Passos usarem de suas influências e bom trânsito junto ao MJNI para a
concretização daquilo que beneficiava além de ambos, os dois maiores grupos políticos
131Pela chapa de Guiomard Santos, este obteve 4.178 votos, frei Peregrino 1.185 e o coronel Fontenele 1.755.
Já Oscar Passos teve 3.998 votos, Adalberto Sena 1.174 e Ruy Lino 234. Votaram ao todo 12. 551 eleitores. O
Juruá, ano 02, n° 35, p. 03, 01/01/55.
132Em âmbito nacional também ocorriam acordos semelhantes entre esses partidos. Nunes (1997) ao analisar
o governo de Juscelino Kubitschek neste mesmo período afirma que: “João Goulart (vice-presidente) controlava
a política trabalhista através do Ministério do Trabalho e de uma rede corporativista que unia sindicatos, institutos de
previdência social. O PSD controlava outras redes clientelistas na administração, através de ministérios como Viação e Obras
Públicas, Justiça, Agricultura e Fazenda” (p. 109).
133―Acordo amplo‖. O Acre, nº 1119. P. 01, 03/05/53.
134O PSD indicou o nome do major Adolfo Barbosa Leite, como segunda opção tinha o do coronel Manoel
Fontenele de Castro. Getúlio Vargas acabou indicando Abel Pinheiro para o cargo (vide em Apêndices,
69
do Acre que estavam sob seus domínios. O próprio Guiomard Santos comentou de
forma clara este conluio político ao dizer que ―fez-se apenas um esquema inter-
partidário visando os cargos em comissão‖135. Afirmava ainda de maneira incisiva que o
esquema ―não envolve compromissos eleitorais futuros (...) mas reforça muito a
autoridade dos partidos e o nobre gesto do governador (indicado por eles!) em
conceder aos partidos de expressão eleitoral no Território, o direito natural de
pleitearem os altos posto políticos, está sendo mal interpretado pelos saudosistas‖ 136.
Eis a admissão de um poder centralizado nas mãos de grupos restritos, que vêem com
uma ―naturalidade orgânica‖ o enfeixamento e a partilha do poder sob seus domínios.
Com isto, estes acordos pragmáticos e momentâneos, procuram colocar à margem
outras forças políticas, que ficam impossibilitadas de emergirem diante de tal quadro.
Por sua vez, Oscar Passos corrobora o que Guiomard Santos dissera e
coloca a questão da seguinte forma: ―não há nada de indecoroso e humilhante no
acordo para governador (...) esses acordos incluem, obrigatoriamente, cláusulas de
distribuição equitativa de postos de governo, para evitar o que se passava
anteriormente, quando um só partido monopolizava todos os cargos‖ 137. Formava-se
assim um rede ampla de ―corretagem política‖ 138 que se espraiava por toda máquina
governamental e prefeituras dos municípios acreanos, pautada na distribuição de cargos
entre partidários do PTB e PSD.
É evidente que além dos cargos de comissão no primeiro escalão, haviam
também acertos para cargos do segundo escalão, bem como os cargos nas prefeituras.
Era a cristalização da utilização da máquina pública ―com bastante eficácia nas
disputas eleitorais do mercado político para garantir a continuidade dos detentores do
poder‖ (Schwartzman, 1982, p. 67). ―Governo‖ e ―oposição‖ eram termos sem grandes
significados de conteúdos que indicassem e demarcassem campos claros de ação
política ou consistência ideológica, o que importava antes de tudo era o ―controle das
agências governamentais para o exercício do clientelismo‖ (idem, p. 136), que ocorria
uniformemente em todo o Território. Sem sombra de dúvida, o que existia era uma teia
ampla de acomodações políticas e compromissos que eram essenciais existirem para
Tabela V). No entanto, isto não redundou em nenhum empecilho para o acordo previamente estabelecido.
135―Exploração em torno do acordo político no Acre‖. O Acre, nº 1134, p. 01. 06/09/53.
136 Ibidem. Os grifos são meus.
137 ―Desmascaramento‖. O Acre, nº 1135, p. 04. 13/09/53.
138Termo cunhado por Nunes (1997).
70
―Não há forma de poder que não se baseie em último recurso no domínio físico‖.
Hans Ulrich Gumbrecht.
3.1 – Eleição e queda do governo José Augusto: luta pelo poder e a busca frustrada
de uma nova de hegemonia.
140
Antes, só haviam eleições para a escolha dos deputados federais.
141
Formalmente, para votar era preciso ser alfabetizado. Na prática, para obter o Título eleitoral era só
preciso ―saber assinar‖ o nome, declarar a profissão e o local de residência.
142
Cerca de 20 mil eleitores, dos quais cerca de 15 mil votaram (vide Tabela V em Apêndices).
73
143
Cf. in Max Weber, (1998, pp. 142/148).
74
Essas práticas eram mais incisivas ainda, entre os membros das categorias
intermediárias, expressas na figura dos servidores públicos. Estes além de simples
eleitores lhe deviam o emprego adquirido na máquina administrativa e, em épocas
eleitorais, eram convocados a trabalhar para determinados candidatos. E como já foi
ressaltado antes, o emprego na máquina pública do Estado era uma espécie de
―vocação‖ de todos, onde um funcionalismo geralmente inerte e apegado à redes de
lealdades, se encastelava no aparelho estatal. Formava-se assim uma rede corporativa,
limitada em certas categorias hierárquicas dentro da burocracia do estatal, ―que são
permitidas e subsidiadas pelo Estado‖ (Nunes, 1997, p. 37).
Este fator faz com que a candidatura de José Augusto passe a ser defendida
pelos seus partidários como um embate entre um acreano de fato, contra um outro
candidato — Guiomard Santos, que embora há muito tempo no Acre exercendo cargos
públicos e sendo autor do Projeto de Lei que elevou o Acre à categoria de Estado, não
era acreano ―autêntico‖, ou seja, de nascimento. Talvez este fator tenha influenciado de
alguma forma no resultado eleitoral, pois no imaginário local estava posto de maneira
incisiva, ao longo de décadas, a questão de jamais um acreano 144 ter exercido o poder
144
Esta questão foi colocada, entre outros, por Eloy Abud, membro do antigo PSD e do movimento
autonomista. Foi eleito deputado estadual em 1962 e se pautava por uma ferrenha oposição a José
Augusto, tornou-se defensor imediato do golpe de 1964. Por ironia do destino, teve seu mandato cassado
pelos militares. Entrevista realizada pelo autor em 24/08/01.
75
145
Cf.: Mendes (1996).
146
Os números percentuais foram realizados a partir de dados levantados por Mendes (1996). Nos cálculos
76
executivo simultaneamente. Este resultado deixa transparecer que os dois partidos, por
uma longa tradição segmentada durante quase duas décadas, eram as únicas
agremiações hegemônicas na política acreana.
José Augusto ao ser eleito e tomar posse, teve sua administração marcada
por conflitos dentro e fora de seu partido, onde jamais encontrou neste o apoio
necessário para realizar seus intentos governamentais. Internamente os empecilhos se
davam, principalmente, entre os ―históricos‖ do PTB, ligados a Oscar Passos e a
Goldwasser Santos, este último derrotado por José Augusto na convenção do partido
antes do pleito eleitoral para governador. Parecia haver um certo ressentimento,
originado pelo surgimento de uma nova liderança no interior do PTB, que
indubitavelmente colocava em xeque o poder de Oscar Passos. Essas eleições parecem
ter sido o começo do fim do apogeu de Oscar Passos e Guiomard Santos, que embora
tenham conseguido mandatos parlamentares, foram os grandes derrotados nestes dois
processos eleitorais.
direitos‖ (p. 89). Estes direitos geralmente não são conquistados e sim, outorgados
pelas classes dirigentes — através de um poder público paternalista — como um favor
àqueles que estão a margem do processo político, social e econômico. De acordo com
Marcos Aurélio Nogueira (1998, p. 55), o populismo brasileiro visava de maneira geral
incluir os trabalhadores, — embora passivamente, — dando-lhes ares de atores
relevantes da política brasileira e fundar utopicamente uma pretensa democracia política
e social. O intuito político de José Augusto parecia estar voltado para uma nova relação
com a denominada sociedade civil, por isso o interesse em se voltar para novos
objetivos e demandas até então esquecidas, e a tentativa de implementá-las via Estado.
147
Rádio estatal pertencente ao governo do Estado do Acre.
148
Em entrevista concedida ao autor, Hélio Khoury afirmou que ele antes de vir para o Acre fez um curso
sobre o método Paulo Freire na cidade de São Paulo. Ao chegar ao Acre, assessorou a SEC neste projeto.
Entrevista concedida no dia 21/10/2001.
78
149
Era Diretor da SUPRA e foi indicado para o cargo através de J. Augusto. Era ainda dirigente do
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Branco, sindicato este criado e instrumentalizado pelos
dirigentes de esquerda do PTB na época.
150
Quem confirmou isto foi Hélio Khoury. Entrevista citada.
151
Segundo Hélio Khoury, pelo acordo a SEC ficaria com o deputado Omar Sabino de Paula (PSD) e a
SEJUSP com o também deputado, Aluízio Queiroz (PSD). Entrevista citada.
79
152
José Augusto tomou posse em 01º/03/63 e foi deposto em 08/05/64. Cf. Mendes op.cit.
153
Para maiores informações cf.: Mendes (1996).
154
Cerqueira governou o Acre de 08/05/64 até 14/08/66. Cf. Silva (1998).
80
Pouco mais de um mês após o golpe que derrubou João Goulart, na tarde do
dia 08 de maio, às 14:35 horas, o então governador José Augusto, que de antes já vinha
sofrendo acusações perante os setores militares, feitas principalmente por seus
opositores na ALEAC, envia um telegrama 156 ao comandante da 8ª Região Militar em
Belém (PA), general Orlando Ramagem, se dizendo sabedor das denúncias feitas pelos
deputados estaduais Aluízio Queiroz (PSD) e Eloy Abud (PSD) 157, que acusavam-no de
comunista. Na sua defesa, o governador atribui as denúncias ao ódio político cultivado
pelos seus adversários e afirma que se dispõe a um exame minucioso dos seus atos
frente à administração pública acreana. Este telegrama talvez represente a última
tentativa institucional do governador, junto às autoridades militares, para buscar reverter
ou adiar o que se mostrava cada vez mais como inevitável: o abreviamento do seu
mandato e sua conseqüente substituição frente ao executivo acreano.
155
Atestados médicos do Fundo documental de José Augusto de Araújo (códigos de identificação nº
JA064 e nº JA067).
156
Telegrama nº 290, 08/04/64 (JA077).
157
Estes dois deputados eram também militares de carreira (o primeiro do exército, o segundo da polícia).
158
Os horários foram extraídos das Atas das referidas sessões legislativas, constantes no Diário Oficial da
81
ALEAC.
159
Entrevista citada.
82
160
Estavam presentes em ambas sessões extraordinárias os deputados José Akel Fares (PTB), Geraldo
Fleming (PTB), Augusto Hidalgo (PSD), Benjamin Ruella (PTB), Carlos Afonso (PSD), Francisco
Taumaturgo (PTB), Aluízio Queiroz (PSD), José Fonseca (UDN), Joaquim Cruz (PSD), Eloy Abud
(PSD), Omar Sabino (PSD), Adonay Santos (PTB), José Chaar Filho (PSD) e Antônio de Barros (PTB).
O único ausente em todas as sessões foi o deputado Guilherme Zaire (PTB).
161
Candidata-se a deputado pelo PSD e fica como primeiro suplente. Com a morte do deputado Milton de
83
emenda como faz loas ao golpe militar recém instalado no país. Diz o deputado que não
poderia se furtar em cooperar naquele momento com as forças revolucionárias, para que
o Acre tivesse dias melhores. Como diz um velho ditado na política brasileira: ―em
tempo de murici, cada um por si‖. Às 13:55 horas, após estas três manifestações, o
presidente colocou novamente em votação a matéria, que foi aprovada outra vez por
unanimidade162.
Matos Rocha, assume e muda-se em seguida para o PTB. Era próximo ao governador José Augusto. Este,
junto com sua esposa Maria Lúcia, era padrinho de uma de suas filhas.
162
Note-se que o Telegrama de José Augusto para o comandante da 08ª Região Militar é enviado as 14:35
horas. Ou seja, depois de encerrada a aprovação da Emenda nº 03 na ALEAC. Nestas alturas, não havia
mais possibilidade de mudar o quadro que se encaminhava para interrupção de seu mandato.
163
Ofício nº 180/64, 08/0564, (JA113).
84
164
Era suplente do deputado Nabor Telles da Rocha Júnior, que se afastou inexplicavelmente do
legislativo acreano naquele momento conturbado.
85
instauração da moralidade e da justiça. Encerrou seu discurso dando vivas ―ao Brasil, ao
Acre e a democracia cristã‖ (Diário Oficial, p. 06, 1964).
165
Estes telegramas, bem como os demais documentos citados, encontram-se sob guarda do Centro de
Documentação e Informação Histórica – CDIH e fazem parte do Fundo Documental pertencente ao ex-
governador José Augusto de Araújo, doado pela sua família para UFAC. Neste texto utilizo apenas os
87
171
Telegrama nº 519, 12/11/65, (JA079).
172
Secção militar do Exército brasileiro situada na cidade Rio Branco - AC.
89
Abud, Carlos Simão, Chaar Filho, Omar Sabino, Joaquim Cruz, Aluízio Queiroz e
Gesner Lemos, eleitos pelo PSD e membros recentes da Arena, agremiação política
criada para apoiar a ditadura militar.
173
Telegrama nº 521, 12/11/65, (JA075).
174
Telegrama nº 591, 16/11/65, (JA074).
175
Telegrama nº 595, 16/11/65, (JA084).
90
176
Telegrama nº 593, 16/11/65, (JA089).
177
Telegrama s/n, 12/11/65, (JA085).
178
Telegrama s/n, 13/11/65, (JA091/091a).
91
179
Em discurso na Câmara Federal no ano de 1952, ao defender a autonomia acreana, Guiomard Santos
afirmava que a diferença entre Estado e Território era que neste o poder executivo era nomeado sem
consentimento público. O Povo, nº 02, p. 03, 28/12/52.
92
180
Cf.: Costa Sobrinho (1992).
181
O Estado, nº124, ano VI, pp. 03/04, 19/07/64. Este jornal, de linha conservadora e pertencente a
pessoas ligadas ao PSD, tinha como proprietário José Guiomard Santos. Os redatores eram Omar Sabino,
Augusto Hidalgo, Joaquim Cruz, Chaar Filho e Elóy Abud, personalidades políticas que faziam oposição
ferrenha a José Augusto e que mais tarde, no bipartidarismo, se alojaram na Arena.
93
182
O Estado, nº 116. Ano VI, 26/04/64.
183
Ariosto Miguéis, junto com Hélio Khoury, foi preso quando embarcava em direção a Brasiléia, portava
passaporte e pretendia ir para a Bolívia. Lá, seu contato seria com Eliseo Aguillar (Palomita). Entrevista
realizada pelo autor no dia 14/08/01.
94
O golpe militar, por parte das forças que o implementaram, foi designado
como ―revolução‖ e José Augusto, de vítima, passou a ser réu diante dos golpistas
184
O Estado, ano VI, nº 116, p.01, 26/04/64.
185
Idem, 26/04/64, p.03.
95
locais. Isto está retratado nas páginas d’O Estado186, que afirmava ter José Augusto
trazido para o Acre ―um bom número de comunistas‖. dando à eles polpudos cargos na
administração pública e hospedado-os às custas do erário público. Segundo a tese do
referido Jornal, o ex-governador ao se aliar aos ―comunistas‖, intencionava dar um
golpe e permanecer no governo após o término do seu mandato constitucional. Tendo
inclusive o apoio de Carlos Lacerda e da UDN, que no Acre estava coligada com o
PTB.
186
―Golpe do Governador José Augusto‖. O Estado, 26/04/64, p.04.
187
―Juiz de Xapuri fora do Acre‖. O Estado, ano VI, nº 120, 14/06/64, p.01.
188
Estanislau Siqueira era ligado ao PC e as Ligas Camponesas de Francisco Julião. ―Comunista recolhido
ao xadrez‖. O Estado, nº 139/ano VI, 14/11/64, p.01.
96
189
Em entrevista, Hélio Khoury confirmou que antes de vir para o Acre passou alguns meses em uma
fazenda de maracujá, no Estado de Alagoas. Idem.
190
Em meu trabalho de campo, procurei por estas pessoas nas cidades de Brasiléia (Brasil) e Cobija
(Bolívia), no entanto sem lograr êxito, pois todos já estão falecidos. Segundo informações dos familiares
de Eliseo Aguillar, que moram Cobija, este pertencia ao Partido Comunista Boliviano, tendo inclusive
passado algum período na então URSS.
191
Esta carta, datada de 06/0164, foi enviada para Hélio Khoury aos cuidados de Guido Saucedo e
Geraldo Giralles, também identificados pela imprensa e pelos militares como ligados a atividades
comunistas. ―Agitação e subversão‖. O Estado, nº 124, ano VI, p. 03-04, 19/07/64.
97
Como se pode perceber, o teor das cartas a luz de hoje não contém
elementos que resultassem em ações de tamanha dimensão. Mas levando em
consideração o contexto político nacional e a correlação das forças políticas locais na
luta pelo poder, pela busca de espaços e de influências, qualquer elemento acusatório
que pudesse enfraquecer o inimigo era usado com ênfase e rigor, como ficou
demonstrado, em muitos atos implementados pelos militares e o seus aliados nos
âmbitos dos poderes executivos, legislativos e judiciários. Esta intencionalidade era
clara: quando convenientes, estas medidas eram divulgadas pela imprensa como atitudes
exemplares contra aqueles que procuravam trilhar um caminho diferente daquele
defendido pelas forças conservadoras que se estabeleceram no poder após o golpe
militar.
192
―Licença para processar‖. O Estado, nº 136, ano VII, p. 01. 24/10/64.
98
combatendo corruptos e comunistas (...) pois a obra ainda não foi concluída e aqui no
Acre há ainda muito o que fazer193‖.
193
―A revolução não parou‖. O Estado, ano VII, nº 137, p. 01. 31/10/64.
194
―Balança aferida‖. O Estado, nº 140, ano VII, p.01. 21/11/64.
99
acordo com Abrahim Farhat Neto195, só vai ocorrer uma repressão mais incisiva quando
o Serviço Nacional de Informação - SNI e a Polícia Federal se instalam no Acre. O
jornal Varadouro, alguns anos depois, em matéria intitulada ―quem são os ‗secretas‘ no
Acre‖, traça mais detalhadamente quem eram e como agiam os órgãos de repressão no
Estado do Acre. Segundo o jornal, atuavam no Estado os seguinte órgãos: SNI, Polícia
Federal - PF, Exército, Polícias Civil e Militar, e Assessorias de Informações de alguns
órgãos federais. Sendo os setores mais visados a Igreja, os Sindicatos Rurais e a
Universidade.196 Exatamente onde as forças de contraposição e resistência procuraram
abrigo e para se organizarem de forma coesa contra o arbítrio estabelecido pelos
militares.
Todos esses componentes, dependendo do viés que se queira analisar,
indicam um feixe inesgotável de caminhos e campos analíticos diferenciados. Como
bem afirma Anderson (1988) com propriedade, os golpes militares foram medidas de
prevenção para colocar freios nos movimentos de esquerda no continente e eliminar a
perspectiva socialista, deter o populismo em suas formas pré-socialistas.
No caso acreano, esses elementos foram usados como subterfúgio para
resolver uma disputa de poder oriunda da fraqueza política dos grupos em luta e
competição, onde nenhum conseguia predominar e imprimir um poder hegemônico
sobre os demais, instalando-se um vazio conciliatório onde foi impossível pactuar a
partir das normais institucionais vigentes.
O golpe militar veio servir para isso: funcionou como um catalisador, que
abreviou uma disputa entre duas frentes que se mostravam extremamente fragilizadas
no arcabouço institucional implementado pelo Projeto autonomista. Somente o
surgimento de um terceiro elemento — externo e militar—, consegui estabelecer o
195
Abrahim Farhat Neto é militante antigo das lutas populares no Acre. Foi um dos fundadores do Partido
dos Trabalhadores no Acre. Fez parte do 01º Diretório Nacional do PT e foi candidato ao senado nas
eleições de 1982. Entrevistado pelo autor em 28/10/97.
196
Varadouro, ano IV, n.º 21, p.04, dezembro de 1981.
100
De antemão, vale ressaltar que em cada um desses países que passaram por
experiências ditatoriais, estas variaram e adquiriram especificidades próprias em relação
às outras, que aqui não cabe pormenorizá-las por não ser o intento, pois são irrelevantes
no esboço traçado ao longo do trabalho. Mas como característica básica de todas as
ditaduras latino americanas, pode-se afirmar de forma resumida, que elas apresentaram
certos pontos homogêneos entre si: os espaços governamentais que antes eram ocupados
197
Na Argentina, Onganía ascende ao poder em 1966 e após um breve intermezzo peronista, ocorre um
novo golpe militar em 1976 que se alonga até 1983; Na Bolívia Ovando Candiá sobe ao poder em 1969 e
é sucedido por Torres (70/71), Banzer (71/78) e Meza (79/82); No Uruguai o golpe é dado em 1973 e
perdura até 1984; No Chile, em 1973, Allende é derrubado pelo general Pinochet que governa até 1988;
No Paraguai, sobe ao poder Alfredo Stroessner em 1974 e governa até 1989. Cf. Borges (1999).
101
por civis eleitos de forma direta, passaram a dar lugar a sucessivos governos militares,
que durante boa parte das décadas de 60 e posteriores, implementaram uma nova ordem
interna respalda pelo uso arbitrário da força e de expedientes contestáveis do ponto de
vista democrático-institucional.
198
Sobre esta temática ver, entre outros, a interpretação dos seguintes autores: Przeworski (1984); Stepan
(1975); Dreifuss (1981) e Zaverucha (2000).
199
O "vazio conciliatório" surge quando a possibilidade de pactuar deixa de existir entre os atores sociais
em conflito.
200
A idéia de baixo custo refere-se a ação dos setores golpistas das Forças Armadas brasileiras, que
aproveitaram o momento de crise para surgirem como guardiões de uma ordem que estaria em xeque.
Figueiredo (ibidem) afirma que o golpe militar foi tentado em 1961, mas como o vazio conciliatório não
102
201
Embora a obra de Poulantzas (1976) tenha sido lançada no Brasil posterior a de Cardoso (1975), a obra
do primeiro era conhecida na França, onde Cardoso se auto-exilou, desde a segunda metade dos anos 60.
202
No Brasil o pluripartidarismo foi extinto por força do AI-2 em 27/10/65.
203
Para Poulantzas (1977), o bloco de poder constitui uma unidade contraditória de classes politicamente
dominantes, que se efetiva sobre a égide da sua fração hegemônica na sua relação com uma forma
104
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Isto se evidenciava de forma incisiva como algo constante nos atos das autoridades
públicas durante este período abordado, que na sua totalidade eram indicações externas.
E como é sabido, quanto maior um poder, mais perigoso é o seu abuso.
República. Estas práticas têm forte semelhança com algumas questões analisadas por
Schwartzman (1982), quando ele aborda a mesma temática em âmbito nacional e afirma
que esses mandatos executivos eram espécies de degraus que os homens públicos
compartilhavam e que não dependiam, no caso do executivo, acreano, de ―bases locais
de sustentação para subsistir e se firmar‖ (idem, p. 106).
Com a elevação do Acre a Estado, a idéia era que ele passasse de objeto a
sujeito — ou de tutelado a autônomo — construtor da sua própria história. Ao adquirir a
ansiada autonomia, se pensara que o filho problemático e enjeitado da nação ganharia
liberdade. Foi uma breve liberdade interrompida pelo golpe militar, que novamente lhe
outorgou governos indicados. Gerou-se, de fato, como bem afirmou o pensador Karl
Marx, ―uma sociedade atormentada pelos vivos e pelos mortos, presa de um passado
que não se consome, porque continua‖ (in Nogueira, 1998, p. 12). Parecer haver um
encadeamento não linear de coisas que emergem hora ou outra, colocando sempre
diante de todos velhos problemas que parecem recentes, porque ressurgem geralmente
com uma nova roupagem e adquirem o caráter de novidade.
Durante todas suas trajetórias política, — Brasil e Acre — houve esta marca
que imprimiu de maneira indelével um rosto pouco julgado, geralmente visto como
glorioso, ufanizante e aceitável pelo orgulho que pretensamente causa a todos. De
sermos diferentes e, em grande medida, melhores que o ―outro‖.
De uma maneira geral, talvez isso tenha ocorrido porque é comum não
olharmos de maneira crítica para nossas imperfeições, preferimos sempre ver no outro
aquilo que negamos e discordamos. Somos narcisistas, inclusive no campo da história,
com datas comemorativas, heróis e passados gloriosos. Ao falar isto, não quero e nem
pretendo silenciar estes eventos e personagens, mas ter a possibilidade de questioná-los.
conhecer e amar, é preciso que nos afastemos pelo menos uma vez na vida, pois ―é
somente ao sairmos da cidade que veremos a que altura se elevam suas torres‖. Ou seja,
procurar ver estas novas perspectivas nos incute a necessidade de movimentar-se, não se
engessar, inclusive nos julgamentos e nas leituras que fazemos dos outros e de nós
mesmos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
a) Obras gerais
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e golpe de classe. Petropólis-RJ. Vozes.
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brasileiro. Volume II. 10ª edição. São Paulo. Globo/Publifolha.
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FREYRE, Gilberto. (1973), Casa grande e Senzala: formação da família brasileira sob
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FIGUEIREDO, Argelina Chebuib. (1993), Democracia ou reformas? Alternativas
democráticas à crise política: 1961-1964. Tradução de Roberto Aguiar. São Paulo. Paz
e Terra
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Luíza X. de A. Borges. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editores.
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_____, Octávio. (1989), A formação do Estado populista na América Latina. 2ª edição.
São Paulo. Ática.
IGLÉSIAS, Francisco. (1993), Trajetória política do Brasil - 1500/1964. 2ª edição. Rio
de Janeiro. Companhia das Letras.
LEAL, Victor Nunes. (1997), Coronelismo, enxada e voto. 3ª edição. Rio de Janeiro.
Nova Fronteira.
MARX. Karl. (1997), O 18 brumário de Luís Bonaparte e cartas a Kugelmann. 6ª
edição. Rio de Janeiro. Paz e Terra.
MORAES, João Quartim de. (1986), ―Ideólogos autoritários e teorias sobre o
autoritarismo: uma síntese crítica‖. pp. 195/216. Porto Alegre. L & PM.
112
b) Bibliografia regional
c) Periódicos/Revistas/Relatórios/vídeos
d) Jornais
Folha Official;
O Juruanse;
O Varadouro;
O Acre;
Tribuna do Povo;
O Rio Branco;
O Liberal;
O Estado;
O Rebate;
O Juruá;
O Norte;
Folha do Acre;
A Capital;
Diário do Rio;
Diário Official;
Estado do Acre;
A Gazeta do Purús;
Jornal do Povo.
c) Entrevistados
d) Acervos consultados
APÊNDICES
Tabela I – Governadores nomeados – 1ª fase (1921/1930)
Nome Função Formação/ocupação Nascimento Período206 Tempo de governo
206
O período refere-se a data que cada governante assumiu e deixou efetivamente o governo, pois antes disso existia a nomeação pelo presidente da república e em
seguida a posse se dava no Ministério da Justiça em Negócios Interiores, só após estes dois atos é que a viagem para o Acre era empreendida.
207
No período de 26/05/22 à 23/06/22, realizou viagem ao Alto Juruá via Manaus e foi substituído por Duarte de Menezes. Posteriormente, pediu licença do cargo e
empreendeu uma viagem à capital federal que se estendeu até o fim do seu mandato, neste período foi substituído por Oliveira Conde.
208
Foi presidente do Tribunal de Apellação em Sena Madureira (Alto Purus) em 1908.
209
No dia 16/12/26 parte para o Rio de Janeiro no intuito de buscar sua família. Chegando a capital federal pede renúncia do cargo, que não é aceita pelo ministro da
justiça. Sua volta ao Acre estava programada para junho de 1927, mas em 08/03/27 pede novamente renúncia do cargo em caráter irrevogável, desta vez aceita. (Folha
do Acre, nº 563, 14/03/27).
119
210
Pediu exoneração do cargo devido a demissão do Ministro da Justiça e Negócios Interiores, Vicente Rao; seu amigo particular.
211
Era secretário-geral de Martiniano Prado.
120
212
Afastou-se do governo para assumir a direção do Banco de Crédito da Borracha – BCB.
213
Era secretário geral do governador Amílcar Menezes e irmão do deputado federal Joaquim de Paula Gonçalves (AM).
214
Irmão de Juscelino Kubitschek, foi diretor do Departamento de Imprensa e Propaganda – DIP, no Rio de Janeiro, até 1945.
215
Embora ligado ao PSD, foi indicado para o cargo após Getúlio Vargas ter vetado os nomes indicados por Oscar Passos e Guiomard Santos. No dia da posse se declarou apolítico.
216
Como militar, participou da campanha da FEB na Itália.
217
O atual Estado de Roraima chamava-se à época Território do Rio Branco.
218
Entre 02/07/58 e 10/11/58 foi governador substituto, posteriormente foi efetivado no cargo.
219
Ex-prefeito de Rio Branco e ex-presidente da Associação Comercial do Acre.
220
Exerceu o mandato em caráter provisório até a promulgação da Constituição estadual e da posse do novo governador. Nas eleições de 1963, foi eleito prefeito de Rio Branco .
ANEXOS