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Comunicação e

Expressão
Professora Esp. Lucimari de Campos Monteiro

EduFatecie
E D I T O R A
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

M775c Monteiro, Lucimari de Campos


Comunicação e expressão / Lucimari de Campos Monteiro.
Paranavaí: EduFatecie, 2021.
69 p. : il. Color.

ISBN 978-65-87911-36-6

1. Língua portuguesa - Gramática. 2. Linguagem e línguas - uso.


I. Faculdade de Tecnologia e Ciências do Norte do Paraná - UniFatecie.
II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título.

CDD : 23 ed. 469.798


Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577

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e Diagramação edufatecie@fatecie.edu.br
AUTORA

Professora Lucimari de Campos Monteiro

● Pós-graduada em Docência do Ensino Superior (Faveni – ES)


● Especialista em Marketing, Novas Mídias e Redes Sociais (UNIARA - SP)
● Licenciada em Letras Português-Inglês (FIRA – SP)
● Professora Conteudista – UniFatecie

Link do Currículo Lates: http://lattes.cnpq.br/3060516310351242

Possui experiência como docente no Ensino Fundamental II e Médio nas disciplinas


de Gramática, Literatura e Redação. No ensino superior atuou como docente nos cursos de
Letras, Agronomia, Engenharia Civil, Jornalismo, Publicidade e Administração, nas discipli-
nas de Comunicação Empresarial, Linguística, Mídia, Análise e Produção de texto, e outras
da área da comunicação e educação, no interior de São Paulo. Atuou, ainda, em Agências
de Publicidade no Paraná como redatora de peças publicitárias. Possui experiência com
correção das Redações do ENEM, revisão de textos acadêmicos em geral e Trabalhos de
Conclusão de Curso.
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL

Seja muito bem-vindo(a)!

Prezado(a) aluno(a), se você é alguém que gosta de estudar a língua portuguesa em


todos os seus aspectos, isso já é o início de uma grande caminhada que vamos fazer juntos
a partir de agora. Proponho, junto com você, construir nosso conhecimento sobre caracterís-
ticas da comunicação e formas de expressão abrangendo os mais variados âmbitos.
Na Unidade I começaremos a nossa jornada pelo conceito de comunicação baseado
nas relações humanas, depois, ainda na mesma unidade falaremos sobre Comunicação e
interação pela linguagem e apontaremos os elementos de interação para que seja possível
o ato comunicativo.
Já na Unidade II vamos ampliar nossos conhecimentos sobre os elementos de co-
municação e vamos conhecer os aspectos socioculturais da fala e da escrita. Apontaremos,
ainda, as relações e distanciamento entre oralidade e escrita, evidenciando características
pertinentes aos aspectos do texto oral e do texto escrito, bem como sua utilização e dife-
renças evidentes.
Já nas Unidades III e IV vamos dar continuidade aos conceitos, mas focando nas ques-
tões formais do uso da língua portuguesa, trazendo a Frase como unidade de composição, o
Texto como unidade de sentido e o Gênero discursivo como produto da interação verbal.
Na unidade IV finalizaremos nosso assunto sobre comunicação e expressão com
o foco em produção textual, principiando pelos Critérios de textualidade, para que seja
possível entender como se dá a construção textual, e depois partindo para os aspectos
gerais de textos escritos e orais da esfera acadêmica, evidenciando suas características e
respectivas diferenças.
Aproveito para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer esta jornada
de conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados em
nosso material. Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal e profissional.

Muito obrigada e bom estudo!


SUMÁRIO

UNIDADE I....................................................................................................... 3
Conceitos de Comunicação

UNIDADE II.................................................................................................... 18
Linguagem Oral X Linguagem Escrita

UNIDADE III................................................................................................... 33
Questões Formais no Uso da Língua Portuguesa

UNIDADE IV................................................................................................... 51
Produção Textual
UNIDADE I
Conceitos de Comunicação
Professora Esp. Lucimari de Campos Monteiro

Plano de Estudo:
● Comunicação nas relações humanas;
● Comunicação e interação pela linguagem;
● Elementos da interação pela linguagem.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar as várias maneiras de comunicação;
● Compreender como se dá o processo comunicativo.

3
INTRODUÇÃO

Prezado(a) aluno(a), a partir de agora vamos embarcar em uma viagem pelo


conhecimento.
Nesta unidade vamos conhecer o conceito de comunicação e linguagem, passando
pelos caminhos das funções da linguagem e embarcando nos estudos de Jakobson,
linguista do século XX.
Por meio dos seus estudos pudemos conhecer os elementos essenciais do processo
de comunicação e nos aprofundarmos no que temos hoje sobre referência na temática.

Bons estudos e vamos nessa!

UNIDADE I Conceitos de Comunicação 4


1. COMUNICAÇÃO NAS RELAÇÕES HUMANAS

Comunicação pode ser entendido como todo o processo em que há troca de infor-
mações entre duas ou mais pessoas. Temos comunicação em todos os lugares, seja por
meio de publicidades expostas nas ruas, nos smartphones, na internet de modo geral, na
tv, enfim, respiramos comunicação.
Mas quando pensamos em comunicação entre pessoas que convivem ou que
estabelecem algum vínculo de contato, temos as relações humanas, ou interpessoais, que
pode ser no ambiente de trabalho, escolar, acadêmico, familiar, amoroso etc.
O processo comunicativo mostra que para que haja interação e reconhecimento
da mensagem, é necessário relação. Quando se fala em relação pode-se apontar as mais
variadas formas de se relacionar e de se fazer entendido em um ato comunicativo, afinal,
relação é o reflexo de interação que há entre pessoas, e pessoas possuem as mais variadas
formas de se expressar.
As relações interpessoais podem ser entendidas como aquelas em que se esta-
belecem trocas, sejam de experiências, de mensagens, de atos, de diálogos e de todo e
qualquer canal e forma de emitir e receber informação. Mantém-se relação afetiva, amorosa,
profissional e pessoal, e entre todas não há como classificar o grau de importância, todas
são, em algum momento, importantes nas suas devidas proporções e intensidades.
Por isso, manter uma relação é viajar no interior do outro, é tentar se fazer enten-
dido quando o processo de conhecimento do lado de lá está apenas em seu início e para

UNIDADE I Conceitos de Comunicação 5


que a comunicação se estabelece é necessário, segundo Sabino (2017, on-line), a empatia,
entre outras coisas:
As principais diretrizes para a comunicação eficiente são empatia, para isso o
emissor precisa entrar ‘inteiro’ no processo comunicativo e o mesmo também
precisa ser sensível ao comportamento do receptor. O processo de comuni-
cação necessita, no mínimo, de seis elementos: emissor, mensagem, recep-
tor, referência, canal e um código conhecido por ambos.

O caminho, então, para o sucesso das relações interpessoais é entendido quando


o processo comunicativo consegue desenvolver-se do início ao fim sem que haja quebra
ou ruídos que o impeçam de acontecer, assim, a mensagem será passada de forma clara
e eficaz.
Entendamos como ruído tudo o que for capaz de atrapalhar o processo comuni-
cativo. Podem ser situações simples, como barulho, conversas, trânsito, música alta, ou
algo mais grave, como defeitos em aparelhos eletrônicos, ou mesmo problemas auditivos.
Em qualquer uma das situações apresentadas há ruídos, há algo que está atrapalhando o
sucesso da mensagem, por isso, ela não chega com eficiência ao seu destino final.
Pensando no âmbito corporativo, é preciso entender que as camadas e setores
de uma empresa precisam estar sempre em harmonia para que essa relação interpessoal
seja feita de forma natural e positiva, afinal todas elas são formadas por colaboradores com
intenções e opiniões diversas e é aí que o trabalho em equipe deve acontecer de forma que
beneficie a todos.
Quando os colaboradores se sentem bem no ambiente em que trabalham, têm acesso
aos seus superiores de forma respeitosa e mantêm a hierarquia em funcionamento, tudo se
estabelece de maneira saudável, pois a comunicação não foi afetada e é possível avaliar onde
os erros estão acontecendo e traçar estratégias para que os problemas sejam resolvidos.
Nas suas devidas proporções, cada empresa deve manter esse ato comunicativo e
essa abertura de diálogo entre seus colaboradores, para que problemas maiores e futuros
sejam resolvidos ainda na sua origem.

UNIDADE I Conceitos de Comunicação 6


2. COMUNICAÇÃO E INTERAÇÃO PELA LINGUAGEM

A comunicação por meio da linguagem pode acontecer das mais variadas maneiras.
Primeiramente, vamos conceituar linguagem: tudo o que fazemos com o objetivo de emitir
uma informação, pode ser gesto, palavra, sons, imagens etc.
Se temos vários tipos de linguagem, significa que temos várias opções de comuni-
cação ou várias maneiras de estabelecer essa comunicação, tudo vai depender do contexto
inserido.
Vamos pensar na língua portuguesa como se fosse uma roupa. Se você está se
preparando para uma festa de gala, vai trajar as peças necessárias para tal evento, mas se
o seu evento for casual, você usará peças que correspondam com a realidade do que você
participará.
Assim também acontece com a nossa forma de comunicar e de se expressar, se
você está em uma conversa entre amigos, se sentirá mais à vontade, já em um local que
exija um discurso formal, sua postura será diferente.
Em língua portuguesa temos o estudo das funções da linguagem, tais funções
existem para que sejam analisados o ponto de partida de quem produz a mensagem e cada
uma delas possui um objetivo.
No tópico seguinte vamos conhecer um pouco sobre os elementos essenciais do
processo de comunicação, tais elementos estão diretamente ligados às funções da lingua-
gem que vamos conhecer agora. Vejamos:

UNIDADE I Conceitos de Comunicação 7


A nível de curiosidade (pois o aprofundamento se dará a seguir) os elementos
essenciais são: emissor, receptor, mensagem, código, canal e referente.
As funções da linguagem são:
● Função referencial: tem como objetivo informar, seu foco está no contexto da
situação;
● Função emotiva: está diretamente ligado ao emissor, pois é ele quem produz a
emoção do que será dito;
● Função apelativa: como o próprio nome diz, apela para algo, tenta convencer
sobre alguma coisa;
● Função poética: é a escolha das palavras certas para produzir o efeito poético
nos textos;
● Função metalinguística: tenta explicar o código através dele mesmo, o melhor
exemplo é o dicionário... palavras falando de palavras;
● Função fática: é a conversa “de elevador”, “de fila do banco”, aquela rápida e
que fazemos por educação no dia a dia.

Cada uma das funções está associada com os elementos da comunicação que
vimos. Vejamos na figura a seguir de forma mais clara:

FIGURA 1 - FUNÇÕES DA LINGUAGEM X ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO

Função Referencial:
Referente

Função Emotiva: Função Poética: Função Apelativa:


Emissor Mensagem Receptor

Função Metalinguística:
Código

Função Fática: Canal

Fonte: a autora.

Fica evidente, portanto, que as funções da linguagem estão diretamente ligadas


aos elementos da comunicação, por isso, usamos todos os dias e a todo o momento sem
perceber.

UNIDADE I Conceitos de Comunicação 8


O que não se pode deixar de analisar, na verdade, é a forma como cada uma
dessas funções da linguagem estão sendo usadas no dia a dia. Ouvir com calma o que
o outro tem a dizer antes de responder é sempre uma boa alternativa para que não haja
problemas na comunicação e nenhum tipo de equívoco de interpretação.
Podemos tomar como lição, ainda, a antiga brincadeira infantil “telefone sem fio”
para entender como os ruídos podem atrapalhar também o processo comunicativo. Por
isso, é sempre bom manter a calma, falar devagar e tentar passar para frente apenas o que
você tem certeza que é verdade.

UNIDADE I Conceitos de Comunicação 9


3. ELEMENTOS DA INTERAÇÃO PELA LINGUAGEM

Falar em comunicação é sempre uma atividade de reflexão e busca por conceitos, afi-
nal encontramos informações o tempo todo, em todos os lugares e das mais variadas maneiras.
Mas já parou para pensar como se dá esse processo de troca de informações?
Para que você receba uma mensagem é preciso que alguém tenha enviado esse conteúdo.
Isso acontece tão automaticamente desde que nascemos que, possivelmente, você nunca
tenha parado para analisar de onde vem esse processo comunicativo ou como ele funciona
de fato.
Antes de nos aprofundarmos no assunto vamos ver o que o dicionário on-line
Michaelis nos traz como definição para a palavra linguagem: “qualquer meio sistemático
de comunicar ideias ou sentimentos por meio de signos convencionais, sonoros, gráficos,
gestuais etc.” ou ainda “Conjunto de sinais falados, escritos ou gesticulados de que se
serve o homem para exprimir esses pensamentos e sentimentos”.
Diante das definições que acabamos de saber fica evidente que linguagem é tudo
o que podemos usar para nos comunicar, emitir e receber mensagens.
No final da década de 1960, um linguista russo chegou ao Brasil e começou seu
contato com a Língua Portuguesa, Roman Jakobson deixou um legado importantíssimo de
estudos e é considerado um dos mais importantes nomes da linguística do século XX. A
partir de seus estudos foi possível identificar como se organizava esse processo comunica-
tivo e principalmente como as funções da linguagem seriam estabelecidas.

UNIDADE I Conceitos de Comunicação 10


Para estabelecer as funções da linguagem, Jakobson tomou por referência
três funções básicas da língua propostas por Karl Buhler - função expressiva;
função conativa; função de representação -, e também os fatores constitu-
tivos do ato de comunicação verbal. Como fatores constitutivos, o linguista
apresenta: 1) remetente (codificador); 2) mensagem; 3) destinatário (decodi-
ficador); 4) contexto (ao qual se faz referência durante a comunicação e deve
ser de possível compreensão ao destinatário); 5) código (deve ser parcial ou
totalmente comum ao remetente e ao destinatário); e, 6) contato (canal físico
a partir do qual se estabelece a comunicação; envolve também uma conexão
psicológica entre remetente e destinatário) (WINCH; NASCIMENTO, 2012,
p. 221).

Vamos agora conhecer com mais detalhes cada um desses seis itens estabelecidos
por Jakobson:

1. O remetente ou emissor (codificador)


Entende-se remetente como o indivíduo, grupo ou até mesmo organização que
deseja se comunicar, em outras palavras é aquele que vai, de fato, emitir uma
mensagem. Essa preparação da mensagem, inserção no meio correto, forma como
ela se organizará e todos os elementos que a compõe diz respeito somente ao
remetente, ou seja, a quem vai se pronunciar a respeito de algo.
2. Mensagem
A codificação é mais um dos elementos essenciais, é por meio dela que a mensa-
gem, através de códigos e símbolos, é elaborada, podendo ser transmitida. Vale
lembrar que quando se fala em códigos e símbolos fala-se em tudo que pode ser
passível de entendimento, nisso inclui-se: palavras, números, imagens, sons ou
gestos e movimentos físicos.
É nesse momento que o emissor codifica, ou seja, transforma a mensagem em
símbolos que o receptor seja capaz de decodificar, que é o entender de forma
correta e adequadamente – emissor e receptor devem atribuir o mesmo sentido
aos símbolos.
3. Destinatário ou receptor (decodificador)
Já a decodificação é o processo pelo qual aquele que recebe a mensagem, chama-
do de destinatário ou receptor, interpreta, ou seja, decodifica os símbolos existentes
que dão origem à mensagem.
Ele utiliza seu conhecimento a sua experiência para entender os símbolos
da mensagem; em alguns casos, pode consultar uma autoridade, como um
dicionário ou um livro de códigos. É somente no estágio da decodificação
que o receptor se torna mais ativo. O significado que ele atribui aos símbolos
pode ser igual ou diferente daquele planejado pelo emissor. Se os significa-
dos diferirem, a comunicação é quebrada e a má interpretação, provável.
(LACOMBE, 2005, p. 15).

É ele que de fato recebe a mensagem, esse recebimento pode ser intencional ou não.

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4. Contexto ou referente
O referente é tudo o que está em torno da mensagem e deve ser de conhecimento
de destinatário e remetente. A mensagem só será de fato completa se os dois
compartilharem do mesmo entendimento.
5. Código
É a maneira pelo qual a mensagem se organiza, ou seja, pode ser através de
palavras (escritas ou faladas), gestos, expressões faciais ou corporais, mímica etc.
6. Canal
Outro fator determinante no processo comunicativo é a transmissão que, em termos
gerais, pode ser entendido como o processo pelo qual os símbolos que representam
a mensagem são mandados ao seu receptor.
Há ainda a possibilidade de denominar transmissão como canal, ou seja, trata-se
do meio em que a mensagem se organizará para chegar ao seu receptor. O canal pode
ser entendido como as mais variadas formas de caminho com diferentes capacidades de
transmissão de informações, como exemplo: bilhete de papel, mensagem em rede social,
mensagem via SMS, diálogo, conversa em grupo etc. Veja na Figura 2 como esses elemen-
tos se relacionam:

FIGURA 2 - ELEMENTOS ESSENCIAIS DO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO

Referente

Emissor Mensagem Receptor

Código

Canal

Fonte: a autora.

Fica evidente, portanto, que para que seja possível uma comunicação completa
e eficaz todos os seis elementos estipulados por Jakobson precisam estar em harmonia.
Quando um deles não se encaixa no todo há uma quebra no processo comunicativo e a
mensagem é quebrada, chegando de forma equivocada, causando ambiguidade, interpre-

UNIDADE I Conceitos de Comunicação 12


tações erradas, entre tantos outros problemas sérios que podem acontecer por falta de uma
comunicação eficaz.
Por isso, é extremamente importante que a comunicação nas relações pessoais,
principalmente familiar e profissional, se estabeleça adequadamente evitando prejuízos
dos mais variados.

SAIBA MAIS

Comunicação: publicidade ou propaganda?

Já parou para pensar qual é a diferença entre os dois termos?


É notório que o tempo todo a sociedade está exposta a um bombardeio de informações,
e quando se fala em informação pode-se citar os mais variados meios e formas para que
esta se propague.
A propaganda existe para propagar uma ideia e a publicidade tem o objetivo de fazer
com que um produto ou serviço seja vendido. Baseado nesses conceitos é possível
perceber como dia após dia há uma exposição exacerbada de fotos, vídeos, textos,
imagens e todo e qualquer tipo de conteúdo que é possível compartilhamento.
Tudo é comunicação, mas cada um deles cumpre com o seu objetivo. Enquanto a pro-
paganda visa passar informações, a publicidade visa a venda, o lucro.

Fonte: a autora.

REFLITA

“O mais importante na comunicação é ouvir o que não foi dito”


(PETER DRUCKER).

UNIDADE I Conceitos de Comunicação 13


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade conhecemos os conceitos de comunicação e linguagem e pudemos


aprender também sobre a teoria de Jakobson e como sua contribuição para aos estudos da
comunicação foi importante.
As funções da linguagem estão diretamente ligadas com os elementos essenciais
do processo de comunicação, cada um deles faz referência a um elemento e se completa
de alguma forma no ato comunicativo.
Espero que este tenha sido um tempo de bons estudos e aprendizado.

Até mais!

UNIDADE I Conceitos de Comunicação 14


LEITURA COMPLEMENTAR

É importante saber o nome das coisas. Ou, pelo menos, saber comunicar o que
você quer. Imagine-se entrando numa loja para comprar um... um... como é mesmo o
nome?
“Posso ajudá-lo, cavalheiro?”
“Pode. Eu quero um daqueles, daqueles...”
“Pois não?”
“Um... como é mesmo o nome?”
“Sim?”
“Pomba! Um... um... Que cabeça a minha. A palavra me escapou por completo. É uma
coisa simples, conhecidíssima.”
“Sim senhor.”
“O senhor vai dar risada quando souber.”
“Sim senhor.”
“Olha, é pontuda, certo?”
“O quê, cavalheiro?”
“Isso que eu quero. Tem uma ponta assim, entende? Depois vem assim, assim, faz uma
volta, aí vem reto de novo, e na outra ponta tem uma espécie de encaixe, entende? Na
ponta tem outra volta, só que está e mais fechada. E tem um, um... Uma espécie de,
como é que se diz? De sulco. Um sulco onde encaixa a outra ponta, a pontuda, de sorte
que o, a, o negócio, entende, fica fechado. É isso. Uma coisa pontuda que fecha. Enten-
de?”
“Infelizmente, cavalheiro...”
“Ora, você sabe do que eu estou falando.”
“Estou me esforçando, mas...”
“Escuta. Acho que não podia ser mais claro. Pontudo numa ponta, certo?”
“Se o senhor diz, cavalheiro.”
“Como, se eu digo? Isso já é má vontade. Eu sei que é pontudo numa ponta. Posso não
saber o nome da coisa, isso é um detalhe. Mas sei exatamente o que eu quero.”
“Sim senhor. Pontudo numa ponta.”
“Isso. Eu sabia que você compreenderia. Tem?”
“Bom, eu preciso saber mais sobre o, a, essa coisa. Tente descrevê-la outra vez. Quem
sabe o senhor desenha para nós?”
“Não. Eu não sei desenhar nem casinha com fumaça saindo da chaminé. Sou uma nega-
ção em desenho.”

UNIDADE I Conceitos de Comunicação 15


“Sinto muito.”
“Não precisa sentir. Sou técnico em contabilidade, estou muito bem de vida. Não sou um
débil mental. Não sei desenhar, só isso. E hoje, por acaso, me esqueci do nome desse
raio. Mas fora isso, tudo bem. O desenho não me faz falta. Lido com números. Tenho
algum problema com os números mais complicados, claro. O oito, por exemplo. Tenho
que fazer um rascunho antes. Mas não sou um débil mental, como você está pensando.”
“Eu não estou pensando nada, cavalheiro.”
“Chame o gerente.”
“Não será preciso, cavalheiro. Tenho certeza de que chegaremos a um acordo. Essa coisa
que o senhor quer, é feito do quê?”
“É de, sei lá. De metal.”
“Muito bem. De metal. Ela se move?”
“Bem... É mais ou menos assim. Presta atenção nas minhas mãos. É assim, assim, dobra
aqui e encaixa na ponta, assim.”
“Tem mais de uma peça? Já vem montado?”
“É inteiriço. Tenho quase certeza de que é inteiriço.”
“Francamente...”
“Mas é simples! Uma coisa simples. Olha: assim, assim, uma volta aqui, vem vindo, vem
vindo, outra volta e clique, encaixa.”
“Ah, tem clique. É elétrico.”
“Não! Clique, que eu digo, é o barulho de encaixar.”
“Já sei!”
“Ótimo!”
“O senhor quer uma antena externa de televisão.”
“Não! Escuta aqui. Vamos tentar de novo...”
“Tentemos por outro lado. Para o que serve?”
“Serve assim para prender. Entende? Uma coisa pontuda que prende. Você enfia a ponta
pontuda por aqui, encaixa a ponta no sulco e prende as duas partes de uma coisa.”
“Certo. Esse instrumento que o senhor procura funciona mais ou menos como um gigan-
tesco alfinete de segurança e...”
“Mas é isso! É isso! Um alfinete de segurança!”
“Mas do jeito que o senhor descrevia parecia uma coisa enorme, cavalheiro!”
“É que eu sou meio expansivo. Me vê aí um... um... Como é mesmo o nome?”

Fonte: Veríssimo (1982, p. 35-37).

UNIDADE I Conceitos de Comunicação 16


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: O corpo fala
Autor: Pierre Weil e Roland Tompakow
Ano: 2015
Editora: Vozes
Sinopse: O livro tenta desvendar a comunicação não-verbal do
corpo humano, primeiramente analisando os princípios subterrâ-
neos que regem e conduzem o corpo. A partir desses princípios
aparecem as expressões, gestos e atos corporais que, de modos
característicos estilizados ou inovadores, expressam sentimentos,
concepções, ou posicionamentos internos. Acompanham 350
ilustrações.

FILME/VÍDEO
Título: Cidadão Kane
Ano: 1941
Sinopse: O longa narra a ascensão de Charles Foster Kane, um
mito da comunicação norte-americana. De garoto pobre do interior
a magnata mundial de um império do jornalismo e da publicidade,
a história da personagem é contada a partir da sua morte. Um jor-
nalista recebe a tarefa de investigar qual era, afinal, o significado
da última palavra proferida por Kane: “Rosebud”. Inspirado na vida
do milionário William Randolph Hearst, é um filme obrigatório para
qualquer profissional da área. Uma referência sobre como criar
uma narrativa eficaz.

UNIDADE I Conceitos de Comunicação 17


UNIDADE II
Linguagem Oral X
Linguagem Escrita
Professora Esp. Lucimari de Campos Monteiro

Plano de Estudo:
● Aspectos socioculturais da fala e da escrita;
● Relações e distanciamento entre oralidade e escrita;
● Aspectos do texto oral e do texto escrito.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar as várias maneiras de comunicação;
● Compreender como se dá o processo comunicativo.

18
INTRODUÇÃO

Prezado(a) aluno(a), a partir de agora vamos embarcar em uma viagem pelo


conhecimento.
Nesta unidade vamos conhecer o conceito de comunicação e linguagem e também
a diferença da linguagem oral e escrita, bem como entender a origem da escrita e como ela
está diretamente relacionada à fala no processo comunicativo.
Pensar em comunicação e expressão é pensar e analisar como as linguagens
verbais e não verbais se relacionam e como essa aplicação acontece em sala de aula. Por
isso, teremos nesta unidade dicas de como analisar textos da oralidade e textos escritos.
É importante, portanto, lembrar que essa mistura dos gêneros textuais é
importantíssima para que o processo de ensino e aprendizagem seja ainda mais completo.

Bons estudos e vamos nessa!

UNIDADE II Linguagem Oral X Linguagem Escrita 19


1. ASPECTOS SOCIOCULTURAIS DA FALA E DA ESCRITA

A origem da escrita é datada em 3500 anos a.C. e seus primeiros registros podem
ser encontrados na Mesopotâmia com a escrita cuneiforme, como ficou conhecida. Um
emaranhado de símbolos e figuras que deram início à escrita e que foi fundamental para
os registros da época. Sua principal função era registrar tudo que estava relacionado à
administração e contabilidade, e seus mais de dois mil símbolos eram fundamentais para
tais registros.
Um pouco depois da escrita cuneiforme, é inventada a escrita egípcia, os
hieróglifos. Hieróglifo (ηιερογλυφικοσ) quer dizer, literalmente, gravura sagra-
da. A escrita nasce, no Egito, não a serviço do comércio, como aconteceu
com outras escritas, mas de um poder onde o religioso e o político são in-
dissociáveis; lá, é considerada como um dom de Deus e uma vocação que
garante a ordem do mundo (ROJO, 2006, p. 12).

Tempos depois, a escrita egípcia nasce com o objetivo religioso, não comercial
como se tinha até então. Essa transformação da história da humanidade foi um verdadeiro
divisor de águas, afinal o que temos de registros mais precisos hoje foram aqueles que
passaram a ser registrados pós-escrita.
Já a escrita como transcrição ou representação da fala se deu ao longo dos tempos
com a tentativa de representar aquilo que se queria dizer, essa evolução no processo de
comunicação foi, obviamente, sendo modificada e se alterando ao longo dos anos.
O que de fato nos interessa aqui é a forma como a escrita acontece no processo
de ensino aprendizagem e como a fala está aliada em todo esse contexto comunicacional.

UNIDADE II Linguagem Oral X Linguagem Escrita 20


Tudo se passa como se a escrita já tivesse sido inventada antes de ser posta
em relação com a língua, antes de ser fonetizada: o advento da escrita é o
advento de algo que já é a escrita (considerando que a sua característica
fundamental é o isolamento de um traço significante através da grafia) e que,
depois de uma evolução lenta e descontínua, acaba por poder servir de su-
porte ao som (BARTHES; MARTY, 1987, p. 32).

Em termos gerais podemos dizer que a fala e a escrita são elementos da comuni-
cação que se estabelecem da seguinte maneira:
● Modalidade oral e escrita;
● Registro formal e informal;
● Variedade padrão e não-padrão.
Por meio das modalidades podemos identificar a linguagem expressa da seguinte
maneira:
● Oral: linguagem falada (espontânea);
● Escrita: linguagem que se utiliza de signos (planejada).

Quando falamos sobre registros estamos nos referindo ao:


● Formal: normalmente utilizado na escrita, mas há casos em que se utiliza a
formalidade, como um discurso presidencial, por exemplo;
● Informal: a conversa do dia a dia, a troca de informações com pessoas que você
convive e que não há exigência de formalidade.

Já sobre a variedade, temos:


● Padrão: que é aquele estabelecido pela gramática e chamado também de norma
culta, possuindo maior prestígio social;
● Não padrão: que é a linguagem do dia a dia e que não se remete à gramática
para as construções.

Outra forma de conhecermos os aspectos socioculturais da língua é entendendo


algumas variações que ela tem. Vejamos:
● Variação histórica: como o próprio nome sugere, é aquela que sofreu variações
e se transformou ao longo do tempo. Temos vários exemplos desse acontecimento, como
as palavras: pharmácia/farmácia; vosmecê/você; entre tantas outras;
● Variação Regional: de acordo com determinada região é possível identificar
diferença no uso de algumas palavras, como, por exemplo: a palavra mandioca, que em
certas regiões é usada como macaxeira; e abóbora, que é conhecida como jerimum;

UNIDADE II Linguagem Oral X Linguagem Escrita 21


● Variação Social: pertence a um grupo seleto e específico de pessoas, ou seja,
corresponde às gírias e costumes de um determinado grupo, e também pode ser uma
linguagem utilizada pelas pessoas de maior prestígio social. Nesse aspecto da variação
encontramos os jargões, que pertencem a uma classe profissional mais específica, como,
por exemplo, os médicos, os profissionais da informática, policiais etc.

É válido ressaltar que a linguagem escrita e a linguagem falada se difere quanto ao


seu uso, ou seja, enquanto uma é individual (fala) a outra é social (escrita), mas veremos
tais informações com maior precisão nos próximos tópicos.

UNIDADE II Linguagem Oral X Linguagem Escrita 22


2. RELAÇÕES E DISTANCIAMENTO ENTRE ORALIDADE E ESCRITA

Falar em oralidade e escrita é muito bom para que seja possível identificar o que é
característica de um tipo de texto e de outro. Primeiramente, vamos definir a oralidade e a
escrita enquanto comunicação:
● Oralidade: forma de se comunicar por meio da fala, expondo opiniões, argu-
mentos e considerações sobre um determinado assunto e em um determinado contexto
comunicativo. É espontânea, requer domínio apenas da fala e é preciso que o receptor da
mensagem esteja dentro do contexto da mensagem para que haja entendimento;
● Escrita: no contexto comunicativo a escrita é tudo aquilo que se utiliza de pala-
vras escritas, seja um bilhete, um texto maior, uma narração ou qualquer elemento que faça
uso de palavras. A combinação de várias palavras dá origem a uma frase/oração, várias
frases a um parágrafo e vários parágrafos em um texto.

A principal diferença, então, da linguagem oral e da linguagem escrita é que na


oralidade usamos a fala e na escrita usamos palavras para que haja comunicação.
Pensando no contexto escolar, em que há o aprendizado de tipos de textos e lin-
guagens, as linguagens oral e a escrita se distanciam pelas suas características, mas se
unem no ato comunicativo.
Temos, então, dois tipos de linguagem: a verbal e a não verbal:

UNIDADE II Linguagem Oral X Linguagem Escrita 23


● Linguagem verbal: é aquela em que se utilizam palavras para o ato comunica-
tivo, pode ser expressada através da fala ou da escrita, por um diálogo ou por um bilhete,
enfim, tudo o que se utiliza palavras como principal meio de comunicação;
● Linguagem não verbal: já a linguagem não verbal é aquela em que há o pro-
cesso comunicativo, há contexto e referente, mas não há utilização de palavras como forma
de transmissão de informação. A linguagem não verbal acontece muito quando:
● Não é viável a escrita em determinadas situações, como as placas de trânsito e
o semáforo;
● Expressões faciais;
● Gestos;
● Mímicas;
● Fotos;
● Imagens;
● Desenhos.

Ou seja, a linguagem não verbal pode ser utilizada em situações em que não é
recomendado o uso de palavras ou mesmo quando não há condições de seu uso, seja por
qual motivo for.
Portanto, a relação entre a oralidade e a escrita se estabelece em determinadas
situações. Se o foco do estudo e da análise for uma situação de comunicação, como um
diálogo, por exemplo, será possível identificar o uso da linguagem oral e verbal através das
palavras, bem como em momentos específicos o uso da linguagem não verbal através de
expressões e gestos. Pode acontecer ainda, e é muito comum durante um diálogo, que haja
mistura dos dois tipos de linguagem, enquanto se fala algo, se representa com mímica ou
enfatiza com gestos e expressões durante a fala.
Já quando o foco de estudo e de análise for textual, pensando agora em um contex-
to escolar, o que se deve sempre levar em consideração é que os textos escritos possuem
suas características voltadas para a gramática tradicional ou a gramática normativa.
Nessa gramática, as regras que se exigem na construção do texto se baseia nor-
malmente em:
● Coesão;
● Coerência;
● Intertextualidade;
● Denotação;

UNIDADE II Linguagem Oral X Linguagem Escrita 24


● Conotação;
● Figuras de linguagem;
● Figuras de pensamento.

Esses itens são imprescindíveis para a construção correta do seu texto, seja de
qual gênero ou tipo for. É válido ressaltar que temos:
Tipos textuais:
● Narração;
● Descrição;
● Dissertação;
● Injuntivo.
Gêneros textuais:
● Artigo de opinião; ● Conto maravilhoso;
● Autobiografia; ● Conto;
● Biografia; ● Curriculum vitae;
● Carta de leitor; ● Diário;
● Carta de solicitação; ● Editorial;
● Conto de fadas; ● Ensaio;
● Entrevista; ● Fábula;
● Relato de viagem; ● Lenda;
● Relato histórico; ● Ficção científica;
● Relatório científico; ● Palestra;
● Resenhas críticas; ● Piada;
● Romance; ● Regulamento.

Percebe-se, portanto, que os tipos são apenas quatro, mas os gêneros são infinitos
e estão diretamente relacionados aos tipos, por exemplo, a Fábula é um gênero textual que
pertence ao tipo “narração”.

UNIDADE II Linguagem Oral X Linguagem Escrita 25


3. ASPECTOS DO TEXTO ORAL E DO TEXTO ESCRITO

Estudar os gêneros textuais e os tipos de textos na escola é sempre um grande


desafio, afinal são inúmeras opções e formatos que podemos trabalhar em sala de aula e
abordar os seus mais variados aspectos.
Mas quando falamos em texto, talvez a primeira ideia que nos venha à mente são as
características do texto narrativo, que acaba sendo um dos mais usados, de fato, em sala.
Mas e os textos orais? Você tem proximidade com os gêneros que pertencem a essa esfera?
Muitas vezes o material que nos é proposto para trabalhar em sala nos engessa e
não permite muitas aberturas, mas quando há possibilidades de incorporar outros gêneros
textuais, ou mesmo realizar uma boa mistura do verbal e do não verbal, certamente teremos
um resultado no mínimo interessante.
O texto oral é aquele do dia a dia, é a conversa, a troca de informações, as histórias
que as crianças – principalmente as do ensino fundamental I – adoram contar, aquilo que
vivenciaram e aquilo que gostam de compartilhar. Mas enquanto tipos de texto, temos o
seminário, por exemplo, como um texto da oralidade. O que não se pode em momento
algum é desprezar os tipos de textos que existem da linguagem oral e achar que, por serem
exatamente da oralidade, não depreende regras ou ao menos instruções.
Outro fator importantíssimo e que merece nossa atenção é sempre levar em consi-
deração o conhecimento empírico, prévio, a bagagem que seu aluno traz de casa, sua forma
de pensar, agir e, consequentemente, transposto no seu falar e maneira de se expressar.

UNIDADE II Linguagem Oral X Linguagem Escrita 26


Por isso, temos a realidade da escola em que:
[...] O uso, pelos alunos provenientes das camadas populares, de variantes
linguísticas social e escolarmente estigmatizadas provoca preconceitos lin-
guísticos e leva a dificuldades de aprendizagem, já que a escola usa e quer
ver usada a variante-padrão socialmente prestigiada (SOARES, 1989, p. 17).

Há aqui um delicado e tênue limite entre o que é “certo e errado”. Essa concepção
se dá através do estudo da Gramática normativa que temos no ambiente escolar. Tais
regras se estabelecem para que a forma padrão da língua portuguesa seja aprendida pelos
alunos e colocada em prática na construção de textos escritos, normalmente tudo o que é
padrão e formalizado, como documentos, redações, processos de seleção de vestibulares
e concursos.
O que acontece, de fato, é que os alunos têm acesso durante sua vida escolar, a
partir das regras gramaticais, às divisões em classes e todas às características e pré-requi-
sitos que a língua exige na construção textual.
Com o surgimento dos estudos do texto, o enfoque vai deixando de fixar- se
apenas no produto e se desloca para o processo. A linguagem deixa de ser
vista como mera verbalização e passa a ser incorporada, nas análises tex-
tuais, a observação das condições de produção de cada atividade interacio-
nal. A elaboração do texto escrito – assim como do oral – envolve um objetivo
ou intenção do locutor. Contudo, o entendimento desse texto não diz respeito
apenas ao conteúdo semântico, mas à percepção das marcas de seu proces-
so de produção. Essas marcas orientam o interlocutor no momento da leitura,
na medida em que são pistas linguísticas para a busca do efeito de sentido
pretendido pelo produtor (PAULA, 2018, on-line).

Portanto, fica evidente que os aspectos dos textos orais se diferenciam dos textos
escritos. Enquanto na oralidade temos alguns tipos de textos mais voltados para o público,
na escrita essas características aumentam. Vejamos alguns tipos de gêneros orais:
● discussão em grupo: coloca-se um tema em discussão e os integrantes do
grupo expõem sua opinião baseados em argumentos;
● exposição oral: normalmente acontece de forma individual e há a exposição so-
bre um assunto que foi estudado previamente, pode ser utilizado em ambiente corporativo
ou acadêmico;
● seminário: muito utilizado na apresentação de trabalhos acadêmicos ou escola-
res, o seminário possui características específicas em que são avaliados: postura, tom de
voz, organização do conteúdo pelo grupo etc.;
● entrevista oral: perguntas e respostas, elas podem se dividir em espontâneas
ou direcionadas através de perguntas previamente formuladas pelo entrevistador;
● debate regrado: com um mediador sempre à frente, o debate possui temática
específica e tem o objetivo de expor um assunto de interesse coletivo.

UNIDADE II Linguagem Oral X Linguagem Escrita 27


Já os textos escritos são vários e as características mudam de acordo com a finali-
dade e o objetivo de cada um deles. Vejamos alguns:
● Narração: os textos narrativos podem se subdividir em romance, novela, conto,
crônica, fábula, parábola, entre outros. Cada um deles possui características distintas, mas
a base é a narração, é o contar algo;
● Descrição: detalhamento de um personagem, de um cenário ou mesmo de um
acontecimento. Essa descrição pode ser ainda física ou psicológica, tudo depende de quem
conta e de qual ângulo está observando os acontecimentos;
● Injuntivo: e o texto instrucional, normalmente encontrado em bulas de remédios,
manuais de produtos novos, editais etc.;
● Dissertação: argumentativo ou expositivo, é o tipo de texto mais solicitado em
vestibulares e no ENEM. Dissertar é o mesmo que “falar sobre”, seja apenas expondo ou
argumentando sobre a temática.

Os textos orais e escritos se diferem por terem objetivos distintos, mesmo dentro das
características de um ou de outro, os objetivos são muito específicos e a sua utilização também.
Portanto, os gêneros e tipos textuais são muito diferentes e usados para finalidades
específicas, tudo depende do seu objetivo.

SAIBA MAIS

Língua falada e língua escrita

Não devemos confundir língua com escrita, pois são dois meios de comunicação dis-
tintos. A escrita representa um estágio posterior de uma língua. A língua falada é mais
espontânea, abrange a comunicação linguística em toda sua totalidade. Além disso, é
acompanhada pelo tom de voz, algumas vezes por mímicas, incluindo-se fisionomias.
A língua escrita não é apenas a representação da língua falada, mas sim um sistema
mais disciplinado e rígido, uma vez que não conta com o jogo fisionômico, as mímicas
e o tom de voz do falante.
No Brasil, por exemplo, todos falam a língua portuguesa, mas existem usos diferentes
da língua devido a diversos fatores. Dentre eles, destacam-se:

UNIDADE II Linguagem Oral X Linguagem Escrita 28


Fatores regionais: é possível notar a diferença do português falado por um habitante
da região nordeste e outro da região sudeste do Brasil. Dentro de uma mesma região,
também há variações no uso da língua. No estado do Rio Grande do Sul, por exemplo,
há diferenças entre a língua utilizada por um cidadão que vive na capital e aquela utili-
zada por um cidadão do interior do estado.
Fatores culturais: o grau de escolarização e a formação cultural de um indivíduo tam-
bém são fatores que colaboram para os diferentes usos da língua. Uma pessoa escolari-
zada utiliza a língua de uma maneira diferente da pessoa que não teve acesso à escola.
Fatores contextuais: nosso modo de falar varia de acordo com a situação em que nos
encontramos: quando conversamos com nossos amigos, não usamos os termos que
usaríamos se estivéssemos discursando em uma solenidade de formatura.
Fatores profissionais: o exercício de algumas atividades requer o domínio de certas
formas de língua chamadas línguas técnicas. Abundantes em termos específicos, es-
sas formas têm uso praticamente restrito ao intercâmbio técnico de engenheiros, quí-
micos, profissionais da área de direito e da informática, biólogos, médicos, linguistas e
outros especialistas.
Fatores naturais: o uso da língua pelos falantes sofre influência de fatores naturais,
como idade e sexo. Uma criança não utiliza a língua da mesma maneira que um adulto,
daí falar-se em linguagem infantil e linguagem adulta.

Fonte: Só Português (2020, on-line).

REFLITA

“Morre lentamente quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou
não conversa com quem não conhece”

(MARTHA MEDEIROS).

UNIDADE II Linguagem Oral X Linguagem Escrita 29


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade pudemos conhecer um pouco sobre a diferença da linguagem oral e


escrita, bem como entender a origem da escrita e como ela está diretamente relacionada à
fala no processo comunicativo.
Pensar em comunicação e expressão é pensar e analisar como as linguagens
verbais e não verbais se relacionam e como essa aplicação acontece em sala de aula.
Trabalhar gêneros textuais orais requer atenção quanto as características, afinal os
gêneros voltados para a escrita sempre foram os mais comuns e trabalhados no dia a dia
escolar.
Por isso, é importante fazer essa mistura dos gêneros textuais para que o processo
de ensino e aprendizagem seja ainda mais completo.

UNIDADE II Linguagem Oral X Linguagem Escrita 30


LEITURA COMPLEMENTAR

Características da oralidade:
● Ideia de maior proximidade entre locutor e receptor;
● Relação direta entre falantes;
● Contexto interfere;
● Uso de recursos extralinguísticos, tais como: gestos, expressões faciais,
postura, entonação;
● Possibilidade de refazer a mensagem, caso não seja interpretada adequadamente;
● Transmissão maior de ideias, reflexões e emoções;
● Preocupação maior com a assimilação da mensagem do que a forma que ela
será transmitida.

Características da escrita:
● Segue as normas cultas de linguagem padrão do idioma;
● Objetividade e clareza nas ideias;
● Registro documental;
● Rigor gramatical;
● Apuração do vocabulário;
● Exigência de elaboração e esforço de apresentação;
● Busca evitar a ambiguidade;
● Prevê questionamentos e explora abrangência nas ideias para sanar dúvidas.

Fonte: Cegalla (2008).

UNIDADE II Linguagem Oral X Linguagem Escrita 31


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Oralidade na Educação Básica. O que Saber, Como Ensinar
Autor: Robson Santos de Carvalho e Celso Ferrarezi Junior
Ano: 2018
Editora: Parábola
Sinopse: Oralidade na educação básica: o que saber, como ensi-
nar é o último tomo de uma trilogia sobre o que seria a prática de
uma pedagogia da comunicação. Depois de discutir as deficiências
do ensino de língua materna no país e as consequências que delas
decorrem na vida de milhões de estudantes silenciados, extorqui-
dos de sua língua e dos direitos de saber ler e escrever compe-
tentemente, não poderíamos deixar de apresentar caminhos para
sanar tais problemas. Os tomos precedentes são produzir textos
na educação básica: o que saber, como fazer (2015) e de alunos a
leitores: o ensino da leitura na educação básica (2017), todos pela
parábola editorial. Agora, com esta obra sobre o ensino da oralida-
de (ouvir e falar), completamos nossa proposta de possibilidades
concretas de desenvolvimento das competências comunicativas
na educação básica brasileira. A grande quantidade de atividades
práticas e progressivas sugeridas permitirá o desenvolvimento da
oralidade nas crianças e adolescentes desde os primeiros contatos
com a escola, de forma planejada, sistemática e eficiente.

FILME/VÍDEO
Título: Os inconfidentes
Ano: 1972
Sinopse: Lançado por Joaquim Pedro de Andrade, Os Inconfiden-
tes é uma coprodução entre Brasil e Itália que narra a história da
Inconfidência Mineira. Um grupo de intelectuais e membros da alta
elite brasileira se juntam para libertar o país da opressão portugue-
sa. De todos, Tirandentes (José Wilker) é aquele que está disposto
a ir até o fim, custe o que custar.
O filme foi baseado nos livros Os Autos da Devassa e Romanceiro
da Inconfidência. Apresenta a reconstrução do período e influen-
ciou diversas produções literárias.
Além de ilustrar um importante momento da história brasileira, a
obra também é interessante por contar acontecimentos políticos
que influenciaram fortemente o trabalho de autores como Santa
Rita Durão, Tomás Antônio Gonzaga e Basílio da Gama. Também
vale a pena conferir o roteiro de Cecília Meireles, Eduardo Escorel
e do próprio Joaquim Pedro de Andrade!

UNIDADE II Linguagem Oral X Linguagem Escrita 32


UNIDADE III
Questões Formais no Uso
da Língua Portuguesa
Professora Esp. Lucimari de Campos Monteiro

Plano de Estudo:
● A frase como unidade de composição;
● Texto como unidade de sentido;
● Gênero discursivo como produto da interação verbal.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar as várias maneiras de comunicação;
● Compreender como se dá o processo comunicativo.

33
INTRODUÇÃO

Prezado(a) aluno(a), a partir de agora vamos embarcar em uma viagem pelo co-
nhecimento.
Nesta unidade vamos conhecer o conceito de frase, oração e período, bem como
entender como essas diferenças são fundamentais na construção do sentido.
Veremos ainda sobre o texto e o sentido no que diz respeito aos critérios de cons-
trução textual, o que usar e não usar, como e quando aplicar algumas características. Os
vícios de linguagem, denotação, conotação, ambiguidade entre tantos outros elementos
pertinentes à construção textual.
Por fim, vamos conhecer os conceitos de Mikhail Bakhtin e suas definições sobre
os gêneros do discurso, bem como sua aplicabilidade na prática.

Bons estudos e vamos nessa!

UNIDADE III Questões Formais no Uso da Língua Portuguesa 34


1. A FRASE COMO UNIDADE DE COMPOSIÇÃO

O estudo da língua é dividido em partes e cada uma delas é responsável por uma
característica específica na estrutura do todo. A língua se organiza em cinco áreas, sendo:
a fonética, fonologia, morfologia, sintaxe e semântica. A fonética se divide em três partes,
que estudam: o aparelho fonador, onde o som é produzido; a variedade de sons que podem
ser produzidos e o significado desses sons. Já a fonética é o conjunto da anatomia humana
com os sons dos signos.
A fonologia, por sua vez, estuda o valor que o som tem para a sociedade, é fun-
cional. A morfologia estuda o processo de formação das palavras, a divisão das classes
gramaticais.
A sintaxe é responsável pelo estudo da organização das frases, em outras palavras
é a parte da língua que se apropria das combinações entre as classes gramaticais. E a
semântica estuda o significado de cada palavra no processo de comunicação, mas nos
aprofundaremos sobre tais questões mais adiante.
Unidades de composição podem ser entendidas como tudo aquilo que se agru-
pa para a construção do texto, em outras palavras, podemos definir como os itens que
constituem e constroem o texto pouco a pouco. Temos, então, nessa construção a frase,
a oração e o período que, juntos, compõem o todo de um texto. Veremos a seguir suas
características.

UNIDADE III Questões Formais no Uso da Língua Portuguesa 35


1.1 Frase
A frase pode ser entendida como um enunciado que tem a capacidade de transmitir
um sentido, um significado diante de um determinado contexto comunicativo, que chama-
mos de interação verbal.
Observe alguns exemplos de frases curtas:
– Ai!
– Socorro!
– O quê?
– Silêncio
– Pare!
– Que tragédia!
– Como assim?
– Fogo!

Essas frases, em sua grande maioria, são formadas por uma ou duas palavras.
Portanto, podemos definir frases como uma unidade mínima de significação e contexto.

1.1.1 Principais características das frases


● É marcada por pontuação no final, às vezes ponto final, exclamação ou interrogação;
● A entonação na oralidade é muito importante para que haja entendimento;
● A expressividade que se coloca na frase faz toda diferença de interpretação;
● Pode apresentar verbo ou não.

Listamos aqui características bem abrangentes apenas para entendimento.

1.1.2 Classificação das frases


● Frases interrogativas: é a pergunta que fazemos nos mais variados contextos,
normalmente é finalizada com ponto de interrogação (?). Exemplo: Está gostando do passeio?
● Frases exclamativas: é aquela bem expressiva e que demonstra uma reação
exaltada. Normalmente esse tipo de frase finalizamos com ponto de exclamação ou reticên-
cias (! …). Exemplo: Que susto!
● Frases declarativas: conhecidas também como afirmativas, as declarativas são
aquelas marcadas pela entonação expressiva ou intencional e são finalizadas com o ponto
final (.). Exemplo: Hoje iremos ao cinema.
● Frases imperativas: é um tipo de ordem ou comando e é finalizado pelos pontos
de exclamação e final (! .). Exemplo: Coma tudo!

UNIDADE III Questões Formais no Uso da Língua Portuguesa 36


1.2 Oração
A oração, em Língua Portuguesa, pode ser entendida como uma unidade sintática,
ou seja, é um enunciado (curto ou longo) que tem obrigatoriamente a presença de um
verbo.
Normalmente, na construção de uma oração temos:
● um sujeito;
● termos essenciais;
● integrantes ou acessórios.

Observe alguns exemplos de orações:


– Venha!
– Esse bolo parece muito gostoso.
– Chove muito na minha cidade.

Perceba que a diferença básica entre a frase e a oração é que na oração há pre-
sença de um verbo, por obrigatoriedade, enquanto nas frases não há. Em termos gerais, se
há sentido é frase, se há sentido e um verbo é oração. Veja:

Menina linda (sem verbo = frase)


A menina é linda (há verbo = oração)

1.3 Período
O período em um texto é constituído por uma unidade sintática com uma ou mais
orações com sentido completo. Ou seja, na oralidade marcamos o início dos períodos pela
entonação, já na escrita o início dos períodos é marcado pela letra maiúscula no começo
da oração e a pontuação específica que demarca sua extensão.
Os períodos podem se dividir em dois: simples ou compostos.

1.3.1 Período simples


Os períodos simples são aqueles em que apresentam apenas uma oração, ou seja,
há apenas um trecho com apenas um verbo (ou uma locução verbal) e sentido completo.
Exemplos:
Minha gatinha dorme muito! (verbo dormir)
Minha gatinha está dormindo muito! (está dormindo = locução verbal)

UNIDADE III Questões Formais no Uso da Língua Portuguesa 37


A locução verbal se caracteriza por possuir dois verbos ou mais, normalmente um
principal e um auxiliar, mas juntos eles exercem a função, o sentido de um verbo só, por
isso, é considerado período simples, pois o entendimento é de uma única situação.

1.3.2 Período composto


Os períodos compostos são aqueles que possuem mais de uma oração, ou
seja, dois ou mais verbos.
Exemplo:
Julia me chamou para ir ao cinema mais tarde. (Período composto por duas ora-
ções: verbos chamar e ir).

UNIDADE III Questões Formais no Uso da Língua Portuguesa 38


2. TEXTO COMO UNIDADE DE SENTIDO

Pensar em texto é, antes de tudo, pensar em linguagem como meio de comu-


nicação, afinal é através dos textos que nos comunicamos, e quando falamos em texto
podemos apontar modalidades orais e escritas.
A semântica é a parte da língua portuguesa responsável por estudar o significado
das palavras, de uma frase ou mesmo de um contexto comunicativo, é por meio dela que
temos acesso às características do que “se quis dizer” em um determinado momento e meio.
É válido ressaltar que a semântica também leva em consideração aspectos geográficos, de
tempo e de espaço para que haja melhor compreensão da significação.
Portanto, a definição e a constituição básica de texto na unidade linguística comu-
nicativa básica é:
Texto é a unidade linguística comunicativa fundamental, produto da atividade
verbal humana, que possui sempre caráter social: está caracterizado por seu
estrato semântico e comunicativo, assim como por sua coerência profunda
e superficial, devida à intenção (comunicativa) do falante de criar um texto
íntegro, e à sua estruturação mediante dois conjuntos de regras: as próprias
do nível textual e as do sistema da língua (BERNÁRDEZ, 1982, p. 35).

É notório que o texto se qualifica como interação humana e o que vamos nos ater
aqui nesta unidade é o texto enquanto modalidade escrita e unidade de sentido. Para isso,
separamos algumas das principais características de como construir um texto com seu
sentido estruturado, veja na sequência.

UNIDADE III Questões Formais no Uso da Língua Portuguesa 39


2.1 Coesão
Para que haja uma construção textual coesa é necessário que os elementos do
texto se comuniquem, em outras palavras, a coesão textual pode ser entendida como a
aplicação dos conectivos nas orações. Essa relação entre as palavras escolhidas para a
construção do texto (de todas as classes gramaticais) é que nos traz a coesão dos elemen-
tos, mas para que isso aconteça é preciso escolher corretamente os conectivos (sejam as
conjunções, os pronomes ou os advérbios).
Exemplo: Nós não sabemos quem é o sortudo, mas ela sabe.

2.2 Coerência
A coerência é marcada em relação ao texto como um todo. A relação que se estabe-
lece entre os parágrafos e o que está explicitado no contexto, seja ele com as informações
internas ou externas do texto em si. Para que não haja confusão, vamos a uma explicação
bem simples: a coesão diz respeito aos elementos internos do parágrafo, a coerência diz
respeito ao texto como um todo e às referências que existem dentro e fora do texto, ou seja,
o contexto.
Exemplo de falta de coerência: Peru, panetone, rabanada e nozes. Tudo pronto
para a Páscoa! (entende-se que tais alimentos são característicos do Natal, não da Páscoa).

2.3 Denotação
O sentido denotativo de um texto se refere ao seu sentido literal, ou seja, quando usa-
mos uma expressão ou termo no seu sentido real, quando queremos dizer exatamente aquilo.
Exemplo: Ela é uma mulher baixa (pouca estatura).

2.4 Conotação
Diferente do sentido denotativo, o sentido conotativo é aquele em que usamos as
palavras no seu sentido figurado, quando dizemos uma coisa querendo dizer outra, ou seja,
é o tipo de sentido muito utilizado na literatura ou quando queremos enfatizar algo.
Exemplo: Ela é uma mulher baixa (no sentido de ser sem modos, que gosta de
baixaria, barraco etc.)

2.5 Intertextualidade
A intertextualidade acontece quando nos referimos a algo já existente no texto que
estamos construindo. Para que haja entendimento, o receptor dessa mensagem precisa

UNIDADE III Questões Formais no Uso da Língua Portuguesa 40


estar por dentro do assunto que foi abordado, ou seja, precisa saber do contexto que ali foi
empregado.
Exemplo: O Rei do futebol será homenageado na próxima semana. (Rei do futebol =
Pelé. É preciso que haja conhecimento dessa informação para haver sentido a frase toda).

2.6 Ambiguidade
A ambiguidade ocorre quando uma frase ou expressão gera duplo sentido de
interpretação. Ela pode acontecer propositalmente ou não, quando a construção gera am-
biguidade sem que haja intenção é preciso ler com calma o texto produzido e substituir as
palavras ou termos que foram escolhidos e geraram essa ambiguidade. Já se a construção
foi intencional, ótimo! Agora é deixar a imaginação do leitor o levar.
Exemplo: A polícia perseguiu o bandido até a sua casa. (A casa era da polícia ou
do bandido?)

2.7 Vícios de Linguagem


Os vícios de linguagem podem ser entendidos como elementos utilizados na
construção do texto para enfatizar algo ou acontecem sem que o autor perceba, de forma
equivocada. Vejamos:

2.7.1 Pleonasmo vicioso ou redundância


O pleonasmo vicioso acontece quando há repetição desnecessária de uma infor-
mação na frase.
Exemplos:
Entrei para dentro da loja quando começou a chover.
Acharemos outra alternativa para essa situação.

2.8 Barbarismo
É um desvio da norma gramatical, ela pode ocorrer como erro de pronúncia ou na escrita:
Exemplos:
Solicitei à cliente sua rúbrica. (rubrica)
Vamos andar de bicicreta. (bicicleta)
Eu advinhei quem ganharia o sorteio. (adivinhei)
Sou a filha mais maior de casa. (maior)

UNIDADE III Questões Formais no Uso da Língua Portuguesa 41


2.9 Estrangeirismos
Quando se usa sem necessidade uma palavra de outra língua:
Exemplos:
O show é hoje! (espetáculo)
Vamos tomar um drink? (drinque)

2.10 Solecismo
É o desvio de sintaxe e pode ocorrer:
Concordância
Exemplo: Haviam muitas pessoas naquela sala. (Havia)
Regência
Exemplo: Eu assisti o filme no cinema. (ao)
Colocação:
Exemplo: Pulei tanto na festa das crianças que não aguentei-me em pé no dia
seguinte. (não me aguentei em pé)

Tais elementos são importantes para uma construção adequada do texto, portanto
é imprescindível que seja feita uma correção após a escrita para verificar se há ou não
falhas na concordância dos elementos escolhidos.

UNIDADE III Questões Formais no Uso da Língua Portuguesa 42


3. GÊNERO DISCURSIVO COMO PRODUTO DA INTERAÇÃO VERBAL

Para que o ensino de línguas a partir dos gêneros discursivos fosse normalizado
no Brasil, criou-se os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Tais parâmetros é que
norteiam os educadores de todo país e estabelecem o que, de fato, os alunos aprenderão.
Nos PCNs é possível encontrar algumas informações sobre o trabalho com os gê-
neros discursivos, veja:
Todo texto se organiza dentro de determinado gênero em função das inten-
ções comunicativas, como parte das condições de produção dos discursos,
as quais geram usos sociais que os determinam. Os gêneros são, portanto,
determinados historicamente, constituindo formas relativamente estáveis de
enunciados, disponíveis na cultura. São caracterizados por três elementos:
o conteúdo temático: o que é ou pode tornar-se dizível por meio do gênero;
a construção composicional: estrutura particular dos textos pertencentes ao
gênero; o estilo: configuráveis específicas das unidades de linguagem deriva-
das, sobretudo, da posição enunciativa do locutor; conjuntos particulares de
sequências que compõem o texto etc. (BRASIL, 1998, p. 21).

Portanto, é imprescindível que os professores de língua portuguesa estejam sem-


pre por dentro do que os PCNs dizem e a forma como vão aplicar os conteúdos em sala.
Mas, além das políticas educacionais, e não menos importantes que estas, está o
conceito estabelecido sobre gêneros discursivos. Antes de se aplicar de fato uma atividade
em sala ou analisar um texto do gênero discursivo vamos ao que propõe Mikhail Bakh-
tin (2009) a respeito da organização de nosso discurso por meio dos gêneros discursivos.
De origem russa, Bakhtin foi um importante nome dos estudos da linguagem, ele
postula que, no momento da interação, seja ela oral ou escrita, os sujeitos recorrem a deter-

UNIDADE III Questões Formais no Uso da Língua Portuguesa 43


minados gêneros discursivos. Tais escolhas, como ele classifica, estão diretamente ligadas
às necessidades dos falantes/escritores. Em termos gerais, podemos dizer que os gêneros
discursivos são determinados pelo discurso e surgem em todo ato comunicativo humano.
Bakhtin classifica os gêneros discursivos como primários e secundários.
Os primários são os mais simples, relacionados, sobretudo, com o campo
da oralidade, como o diálogo, o qual é considerado a forma mais clássica de
comunicação, conferindo importância singular às ideologias cotidianas. Já
os secundários são os mais complexos, como o romance, o conto, a crônica,
o artigo de opinião, os manuais de instrução, os textos científicos, oficiais,
publicitários, a Redação escolar, entre outros (ARAÚJO, 2018, on-line).

Fica evidente, portanto, que Bakhtin traz um conceito sobre o que são os gêneros
discursivos e como eles podem ser aplicados em sala. O estudioso mostra ainda que o
texto em si não é uma estrutura fechada, afinal trata-se do estudo da língua e a língua é viva
e social, capaz de explanar as mais variadas características e formas.
Essa relativa estabilidade de que fala o estudioso significa que não existe um
modelo imutável de texto, uma estrutura predeterminada e canônica; pelo
contrário, os gêneros discursivos são tipos relativamente estáveis de enun-
ciados justamente porque eles constantemente evoluem para atender às ne-
cessidades imediatas dos sujeitos em qualquer situação comunicativa, como
é o caso da carta e do e-mail (ARAÚJO, 2018, on-line).

Portanto, os gêneros discursivos podem ser entendidos como qualquer manifes-


tação verbal que se organiza em um dado contexto comunicativo, como uma conversa
informal entre amigos, uma tese de doutorado, seja linguagem oral ou escrita. Tudo o que
envolve o discurso pode ser classificado como gênero discursivo. Temos, então, vários
gêneros discursivos:
● anúncio; ● relatório;
● conferência; ● repente;
● conto (literário, popular, maravilhoso, ● reportagem;
de fadas, de aventuras…); ● romance;
● cordel; ● seminário;
● crônica; ● tese;
● fábula; ● verbete.
● relatório; ● monografia;
● repente; ● notícia;
● reportagem; ● palestra;
● romance; ● parlenda;
● seminário; ● poema;
● tese; ● receita médica
● verbete. ou culinária;

UNIDADE III Questões Formais no Uso da Língua Portuguesa 44


Entre tantos outros que podemos encontrar no nosso dia a dia e fazem parte do
cotidiano da população em geral.
Fica claro, portanto, que todos os gêneros discursivos, sejam eles orais ou escritos,
fazem parte da interação verbal humana, pois são eles que nos levam ao ato comunicativo,
independente do contexto em que estão inseridos e utilizados.

SAIBA MAIS

Tipos e gêneros textuais


Tipos e gêneros textuais são duas categorias diferentes de classificação textual. Os ti-
pos textuais são modelos abrangentes e fixos que definem e distinguem a estrutura e os
aspectos linguísticos de uma narração, descrição, dissertação e explicação.

Exemplos de tipos textuais:


● Texto narrativo;
● Texto descritivo;
● Texto dissertativo expositivo;
● Texto dissertativo argumentativo;
● Texto explicativo injuntivo;
● Texto explicativo prescritivo.

Os aspectos gerais dos tipos de texto concretizam-se em situações cotidianas de co-


municação nos gêneros textuais, textos flexíveis e adaptáveis que apresentam uma
intenção comunicativa bem definida e uma função social específica, adequando-se ao
uso que se faz deles.

Gêneros textuais pertencentes aos textos narrativos:


● romances;
● contos;
● fábulas;
● novelas;
● crônicas, entre outros.

● Gêneros textuais pertencentes aos textos descritivos:


● diários;
● relatos de viagens;
● folhetos turísticos;

UNIDADE III Questões Formais no Uso da Língua Portuguesa 45


● cardápios de restaurantes;
● classificados, entre outros.

Gêneros textuais pertencentes aos textos expositivos:


● jornais;
● enciclopédias;
● resumos escolares;
● verbetes de dicionário, entre outros.

Gêneros textuais pertencentes aos textos argumentativos:


● artigos de opinião;
● abaixo-assinados;
● manifestos;
● sermões, entre outros.

Gêneros textuais pertencentes aos textos injuntivos:


● receitas culinárias;
● manuais de instruções;
● bula de remédio, entre outros.

Gêneros textuais pertencentes aos textos prescritivos:


● leis;
● cláusulas contratuais;
● edital de concursos públicos, entre outros.

Fonte: Neves (2007).

REFLITA

“Na realidade não são palavras o que pronunciamos ou escutamos, mas verdades ou
mentiras, coisas boas ou más, importantes ou triviais, agradáveis ou desagradáveis,
etc. A palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou
vivencial”

(MIKHAIL BAKHTIN).

UNIDADE III Questões Formais no Uso da Língua Portuguesa 46


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade pudemos conhecer um pouco sobre a diferença entre frase, oração
e período, bem como entender como essas diferenças são fundamentais na construção do
sentido.
Após, vimos sobre o texto e o sentido no que diz respeito aos critérios de construção
textual, o que usar e não usar, como e quando aplicar algumas características.
Por fim, conhecemos os ensinamentos de Mikhail Bakhtin e suas definições sobre
os gêneros do discurso, bem como sua aplicabilidade na prática.

UNIDADE III Questões Formais no Uso da Língua Portuguesa 47


LEITURA COMPLEMENTAR

Do gênero discursivo ao gênero textual

Do gênero discursivo ao gênero textual Marcuschi (2008) apresenta algumas


perspectivas de estudo, tanto no contexto mundial como no brasileiro, sobre as diferentes
abordagens relacionadas ao estudo dos gêneros. Ele destaca que um consenso existente
entre essas perspectivas é que, para comunicar-se, o indivíduo recorre aos gêneros, como
uma forma de se adequar a determinado contexto. Ele acrescenta ainda que os textos e/ou
discursos circulam através dos gêneros. Ora, se os textos e/ou discursos circulam através
de gêneros, por que então o uso de termos distintos como gênero do discurso ou gênero
discursivo e gênero textual? Para alguns autores, a exemplo de Marcuschi (2008, p. 154),
essa distinção não é tão relevante, como é possível se observar em uma nota de rodapé
em que o autor justifica o uso do termo escolhido por ele:
Não vamos discutir aqui se é mais pertinente a expressão “gênero textual”
ou a expressão “gênero discursivo” ou “gênero do discurso”. Vamos adotar a
posição de que todas essas expressões podem ser usadas intercambialmen-
te, salvo naqueles momentos em que se pretende, de modo explícito e claro,
identificar algum fenômeno específico.

Em outro momento, Marcuschi (2008, p. 58) acrescenta:


A tendência é ver o texto no plano das formas linguísticas e de sua organi-
zação, ao passo que o discurso seria o plano do funcionamento enunciativo,
o plano da enunciação e efeitos de sentido na sua circulação sociointerativa
e discursiva envolvendo outros aspectos. [...] São muito mais duas maneiras
complementares de enfocar a produção linguística em funcionamento

Percebe-se aqui uma tendência de se conceber o gênero como um artefato textual


discursivo, sendo analisado tanto em seu aspecto organizacional interno como em seu
funcionamento sociointerativo. Isso porque, para se produzir um gênero textual, existem
normas que não são rígidas, mas necessárias, caso se pretenda a compreensão e a intera-
ção por parte de todos os envolvidos no processo comunicativo. A título de exemplo tem-se
o ofício, um gênero que faz parte da correspondência oficial: quando o indivíduo faz uso
desse gênero deve se adequar às exigências impostas pela situação comunicativa.
Assim, o que se deve dizer ou não, o como e o quanto dizer, dependerá de inter-
locutores definidos e dos contextos nos quais os textos poderão circular. Nesse sentido,
Marcuschi (2008) lembra que uma das tendências atuais é a de se estudarem as relações
e não a distinção entre texto e discurso, pois estes podem ser considerados aspectos com-
plementares da atividade enunciativa. E acrescenta:

UNIDADE III Questões Formais no Uso da Língua Portuguesa 48


Entre o discurso e o texto está o gênero, que é aqui visto como prática social
e prática textual-discursiva. Ele opera como a ponte entre o discurso como
uma atividade mais universal e o texto enquanto a peça empírica particulari-
zada e configurada numa determinada composição observável. Gêneros são
modelos correspondentes a formas sociais reconhecíveis nas situações de
comunicação em que ocorrem. Sua estabilidade é relativa ao momento histó-
rico-social em que surge e circula (MARCUSCHI, 2008, p. 84).

Para apoiar a concepção de tratar os gêneros textuais como elementos tipicamente


discursivos, Marcuschi (2008) apresenta a proposta de uma releitura que inclua o texto no
contexto das práticas discursivas sem dissociá-lo de sua historicidade e de suas condições
de produção. Para Adam (1999, apud MARCUSCHI, 2008, p. 83), o gênero textual pode ser
entendido como “a diversidade socioculturalmente regulada das práticas discursivas hu-
manas” e “a separação do textual e do discursivo é essencialmente metodológica”. Assim,
reforçando esse aspecto, Marcuschi (2008, p. 81-82) comenta:
Trata-se de “reiterar a articulação entre o plano discursivo e textual”, conside-
rando o discurso como o “objeto de dizer” e o texto como o “objeto de figura”.
O discurso dar-se-ia no plano do dizer (a enunciação) e o texto no plano da
esquematização (a configuração). Entre ambos, o gênero é aquele que con-
diciona a atividade enunciativa.

Para sintetizar essa concepção do gênero textual com foco na relação entre os
aspectos textuais e discursivos, podemos destacar algumas características apresentadas
por Marcuschi (2008). Para ele, o gênero apresenta dois aspectos importantes: a gestão
enunciativa, que inclui a escolha dos planos de enunciação, modos discursivos e tipos tex-
tuais, e a composicionalidade, que diz respeito à identificação de unidades ou subunidades
textuais. Assim, o domínio de um gênero textual não significa o domínio de “uma forma
linguística e sim uma forma de realizar linguisticamente objetivos específicos em situações
sociais particulares” (MARCUSCHI, 2008, p. 154).

Fonte: Farias (2013, on-line).

UNIDADE III Questões Formais no Uso da Língua Portuguesa 49


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: 1001 dicas de português: Manual descomplicado
Autor: Dad Squarisi e Paulo José Cunha
Ano: 2015
Editora: Contexto
Sinopse: Você está escrevendo aquele texto que pode mudar sua
vida, mas fica em dúvida se está utilizando a palavra correta, se
não cometeu nenhuma gafe na última frase. O que fazer? Encontre
seu tira-dúvidas neste 1001 dicas de português. De fácil consulta, é
perfeito para quem precisa de respostas rápidas para “brancos” ou
“pegadinhas” que nossa língua nos prega. E não enrola o leitor, vai
direto ao ponto, sem teoria desnecessária. Quando usar “ao invés
de” e “em vez de”? Qual a diferença, se há alguma, entre “aonde”
e “onde”? “Água-de-colônia” se escreve com hífen mesmo? Aliás,
por que tem esse nome? Para essas e muitas outras questões, o
leitor encontrará aqui respostas claras, diretas e divertidas. Como
estão em ordem alfabética, é fácil encontrar o que você precisa.

FILME/VÍDEO
Título: Escritores da Liberdade
Ano: 2007
Sinopse: Uma jovem e idealista professora chega a uma esco-
la de um bairro pobre, que está corrompida pela agressividade
e violência. Os alunos se mostram rebeldes e sem vontade de
aprender, e há entre eles uma constante tensão racial. Assim, para
fazer com que os alunos aprendam e também falem mais de suas
complicadas vidas, a professora Gruwell (Hilary Swank) lança mão
de métodos diferentes de ensino. Aos poucos, os alunos vão reto-
mando a confiança em si mesmos, aceitando mais o conhecimento
e reconhecendo valores como a tolerância e o respeito ao próximo.

UNIDADE III Questões Formais no Uso da Língua Portuguesa 50


UNIDADE IV
Produção Textual
Professor Esp. Lucimari de Campos Monteiro

Plano de Estudo:
● Critérios de textualidade;
● Aspectos gerais de textos escritos da esfera acadêmica;
● Aspectos gerais de textos orais da esfera acadêmica.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar as várias maneiras de comunicação;
● Compreender como se dá o processo comunicativo.

51
INTRODUÇÃO

Prezado(a) aluno(a), a partir de agora vamos embarcar em uma viagem pelo co-
nhecimento.
No primeiro tópico vamos conhecer os critérios de textualidade e como tais ele-
mentos são importantes para a construção do seu texto, bem como enfatizar a utilização da
coesão e da coerência, vista na unidade III desta apostila.
Depois, veremos as características dos textos da esfera acadêmica dividida entre os
da oralidade e os da escrita. Cada um com sua particularidade requer atenção e o momento
certo de produção. Esperamos que seja um passo a mais na construção do conhecimento.

Bons estudos e vamos nessa!

UNIDADE IV Produção Textual 52


1. CRITÉRIOS DE TEXTUALIDADE

A produção de texto é uma das maneiras que temos de nos expressar. Indepen-
dente do contexto em que o texto será veiculado, produzir algo é a melhor forma de expor
pensamentos, argumentar e colocar o seu ponto de vista sobre determinado assunto.
Quando pensamos em produção de texto no âmbito acadêmico temos várias op-
ções e estilos, e até mesmo a divisão entre os modelos da oralidade e os modelos escritos.
Aqui vamos enfatizar alguns critérios de textualidade, ou seja, são as condições de
produção textual que devem ser entendidas para que a sua comunicação seja completa.
Em termos gerais são elementos que compõe a sua construção de produção e que devem
estar facilmente delimitados. Vamos a eles:

1.1 Intencionalidade
Todo texto precisa fazer sentido para alguém, por isso a intenção que se coloca
na produção é aquela que o seu leitor terá contato, mas é válido lembrar que os recursos
utilizados para convencer o leitor ou fazê-lo acreditar em algo que se diz é o que faz toda
diferença durante a produção. O que eu quero dizer? Para quem eu quero dizer? Estou
sendo claro nos meus argumentos escolhidos? Os exemplos que utilizei foram suficientes
para exemplificar?
Esses são alguns questionamentos que podem ser feitos para que seja possível
identificar se a intencionalidade atingiu seu objetivo.

UNIDADE IV Produção Textual 53


1.2 Intertextualidade
A intertextualidade está diretamente ligada ao exterior do texto, fazer uma intertex-
tualidade requer muito cuidado, afinal é preciso se perguntar se é importante para o texto
que você traga elementos ou ideias de outros autores, e se essas ideias realmente vão
contribuir para a construção da sua produção.
Se você perceber que a intertextualidade vai reforçar o seu ponto de vista e embasar
melhor os seus argumentos é muito interessante usá-las, mas se não forem necessárias, é
melhor contar apenas com a ideia original.

1.3 Informatividade
O primeiro passo para a construção da sua produção textual é o esboço, pois é
nesse primeiro momento que você vai afunilar as ideias e as informações que têm em mãos
para colocar no seu texto.
O tempo todo somos bombardeados de informações, por isso é preciso dosar a
quantidade e principalmente a qualidade das informações que você tem para que a sua pro-
dução textual seja rica e clara. Lembre-se de que muita informação nem sempre é sinônimo
de qualidade, portanto selecione o que de fato é relevante para o seu texto.

1.4 Aceitabilidade
Aquela famosa costura textual pode ser também chamada de aceitabilidade, ou
seja, organizar bem as informações, ser persuasivo e convincente, fazendo um encadea-
mento lógico das ideias, leva o leitor a aceitar o que você está dizendo. Afinal, é o desejo do
escritor que o seu leitor entenda a mensagem que deseja passar por meio das informações
e dos argumentos escolhidos.
Por isso, é muito importante que no seu esboço seja programado o que você deseja
colocar no texto e em que momento essas ideias vão se complementar durante a sua
produção.
Lembre-se de que o seu leitor não sabe o que você está pensando, ele apenas
sabe o que está escrito ali e para que a sua mensagem seja transmitida corretamente é
necessário que não haja ambiguidade e nem confusão nas informações que foram trans-
mitidas.

UNIDADE IV Produção Textual 54


1.5 Situacionalidade
Aqui vamos falar sobre o contexto, ou seja, tudo aquilo que faz referência ao texto e
que traz à produção uma situação favorável para quem o lerá ou ainda para quem fará uso
dessa produção para trabalho etc.
Lembre-se de que o contexto é parte fundamental da sua produção, por isso, desde
o começo é necessário que estejam bem delimitadas as informações e elementos que
mostrem exatamente o contexto, por exemplo:
● Datas;
● Fatos;
● Citações;
● Entrevistas;
● Números;
● Fontes;
● Imagens;
● Fotos.

Ou seja, qualquer elemento que remeta ao contexto do texto será bem-vindo para
que o leitor esteja pronto para entender a mensagem que se quer passar.
Vale ressaltar ainda que para a produção textual ser ainda mais completa e intei-
ramente correta é preciso que haja coesão e coerência, elementos esses que vimos na
Unidade III da nossa apostila, e que devem ser sempre colocados em prática durante a
construção textual.

UNIDADE IV Produção Textual 55


2. ASPECTOS GERAIS DE TEXTOS ESCRITOS DA ESFERA ACADÊMICA

Os textos acadêmicos são produções textuais científicas baseadas em pesquisas,


observações e análises. Eles são muito importantes para que o estudo de determinado
tema seja desenvolvido e com o tempo as pesquisas avancem.
Mas, antes de conhecermos alguns deles, vamos observar qual é a estrutura básica
dessas produções acadêmicas.

2.1 Estrutura Organizacional dos Textos Acadêmicos


Os textos acadêmicos possuem características específicas, que devem ser segui-
das à risca, mas é bom lembrar que a estrutura organizacional deles está baseado em três
partes: introdução, desenvolvimento e conclusão.
● Introdução: na introdução é o momento de apresentar o tema escolhido, aqui
as ideias centrais serão apresentadas de forma sutil, sem muito aprofundamento, porém é
preciso deixar bem claro o que se pretende tratar no texto como um todo;
● Desenvolvimento: no desenvolvimento é o momento de aprofundar os conhe-
cimentos sobre a produção, aqui são elencadas informações e argumentações escolhidos
pelo autor para confirmar o que foi levantado como hipóteses na introdução;
● Conclusão: como o próprio nome diz é aqui que as ideias serão concluídas,
o fechamento do pensamento deve acontecer nessa parte final do texto e as perguntas e
hipóteses respondidas ou, ao menos, mostrar que há possibilidades de soluções para os

UNIDADE IV Produção Textual 56


problemas. É ainda na conclusão que o seu texto deve conversar com a sua introdução, fazendo
uma costura das ideias apontadas nos primeiros parágrafos e fechando as lacunas que porventura
hajam.
Depois de conhecermos a estrutura básica dos textos acadêmicos, vamos ver alguns dos
aspectos gerais de textos escritos da esfera acadêmica.

2.2 Artigo Científico


Os artigos científicos ou artigos acadêmicos, como são também chamados, têm de 12 a
15 páginas, digitadas em fonte Times New Roman, tamanho 12, com espaçamento simples ou um
e meio. Eles são mais simples e podem ser solicitados como trabalho para congressos científicos
ou ainda de conclusão de curso de graduação e em algum curso que exija a produção acadêmica.
De modo geral, a formatação dos trabalhos acadêmicos segue o padrão ABNT - Associa-
ção Brasileira de Normas Técnicas, tanto nos artigos quanto nos demais modelos de trabalhos que
veremos a seguir.

2.3 Monografia
O termo monografia refere-se a qualquer trabalho científico que visa aprofundar um as-
sunto específico, por isso é chamado de monografia: a escrita sobre um tema específico. Ela é
solicitada em sua grande maioria como trabalho de conclusão de curso na graduação ou em cursos
de especialização e MBA, mas varia muito de Instituição de Ensino.
As regras de formatação seguem as mesmas da ABNT, a diferença é que a monografia
possui mais páginas por ser dividida em capítulos. Sua estrutura básica é:

QUADRO 1 - ESTRUTURA DA MONOGRAFIA

Elementos pré-textuais Elementos textuais Elementos pós-textuais


Folha de rosto Introdução Referências
Errata Referencial teórico Glossário
Folha de aprovação Material e métodos Apêndices
Dedicatória Resultados e discussão Anexos
Agradecimentos Considerações finais Índice
Epígrafe ** **
Resumo em língua vernácula ** **
Resumo em língua estrangei- ** **
ra (abstract)
sumário ** **
Lista de ilustrações ** **
Lista de tabelas ** **
Lista de abreviaturas e siglas ** **
Lista de símbolos ** **

Fonte: a autora.

UNIDADE IV Produção Textual 57


Os elementos que foram destacados no quadro são opcionais, os demais são
obrigatórios.

2.4 Dissertação
Já a dissertação é um tipo de produção acadêmica para um segundo momento,
quando decidimos ingressar no mestrado. Dissertação é, portanto, um tipo de trabalho
muito parecido com a monografia, porém mais aprofundada e bem mais detalhada e ex-
tensa do que a produção da graduação. Requer mais pesquisas e um mergulho no tema
escolhido, ela normalmente é dividida em capítulos, além da estrutura padrão de introdução
e conclusão, durante os quais o autor disserta sobre diferentes aspectos do tema proposto.

2.5 Tese
A tese é outro tipo de produção acadêmica escrita, mas para ao doutorado. Aqui,
a diferença básica é que a análise precisa ser original, por isso, é importante que não se
tenha na área uma proposta de estudo parecida àquela escolhida durante o doutorado.
Em todos os textos acadêmicos a formatação é parte fundamental, mas vale lem-
brar que a ABNT possui regras padrões básicas e que as instituições de ensino possuem
flexibilidade em fazer pequenas alterações na sua formatação, por isso, é possível encontrar
diferenças mínimas de uma instituição para outra.

UNIDADE IV Produção Textual 58


3. ASPECTOS GERAIS DE TEXTOS ORAIS DA ESFERA ACADÊMICA

Assim como os textos escritos acadêmicos, os orais acadêmicos também são es-
truturados dentro de um modelo e merecem nossa atenção. Muitas vezes não nos damos
conta de que um determinado tipo de texto faz parte da esfera acadêmica e como tal deve
receber sua estrutura fidedigna.
[...] A relação entre gêneros orais e gêneros escritos não é uma relação de
dicotomia. É antes uma relação de continuidade e de efeito mútuo, isto é, gê-
neros orais podem sustentar gêneros escritos; gêneros escritos podem sus-
tentar gêneros orais. Eles estão em mútua interdependência, cada gênero
oral que entra na escola, em geral, pressupõe a escrita, assim como cada
gênero escrito trabalhado na escola pressupõe o oral (SCHNEUWLY; ROJO,
2006, p. 467).

Vamos conhecer alguns dos gêneros da oralidade da esfera acadêmica e suas


respectivas características:

3.1 Seminário
O gênero seminário é um dos mais conhecidos no âmbito acadêmico. Segundo Se-
verino (2008, p. 90), o seminário é “um método de estudo e atividade didática específica de
cursos universitários e seu objetivo principal é levar todos os participantes a uma reflexão
aprofundada de determinado problema, a partir de textos e em equipe”.
Esse gênero oral requer pesquisa e muita atenção, normalmente é avaliado aqui
o conjunto da apresentação: voz, postura, domínio de conteúdo, tempo estipulado para a
apresentação, divisão da temática entre os participantes etc.

UNIDADE IV Produção Textual 59


3.2 Exposição oral
Outro gênero bem comum no ambiente acadêmico é o da exposição oral, que Costa
(2008, p. 97) define como:
Discurso em que se desenvolve um assunto (conteúdo referencial), ou trans-
mitindo-se informações, ou descrevendo-se ou, ainda, explicando-se algum
conteúdo a um auditório de maneira bem estruturada. Trata-se de um gênero
público pelo qual um expositor especialista faz uma comunicação a um au-
ditório que se dispõe a ouvir e aprender alguma coisa sobre o tema desen-
volvido.

O gênero exposição oral tem como objetivo: informar; preparar uma reflexão; pre-
parar uma discussão.
Podemos ainda dividir esse viés acadêmico em três fases:
● a primeira corresponde ao que antecede a apresentação, que é o momento de
pesquisa e organização de informações e materiais;
● a segunda corresponde ao momento durante a apresentação e como o apre-
sentador se posicional, voz, postura, domínio do tema etc.;
● a terceira, ao momento final, que é quando a plateia pode fazer questionamen-
tos e abre-se um momento para um pequeno debate de ideias.

A diferença básica entre o seminário e a exposição oral é que o seminário é apenas


uma apresentação sobre o tema e normalmente é realizado em grupo, já a apresentação
oral é na maioria das vezes individual e ao final há um momento para reflexão da temática
abordada.

3.3 Debate
O debate é um gênero da oralidade que requer organização. Debater sobre deter-
minado tema é sempre uma boa maneira de conhecer o pensamento do outro.
Mas é válido lembrar que todo debate precisa de regras. Normalmente essas re-
gras são básicas, mas podem variar de contexto para contexto. É preciso que haja um
mediador conduzindo o debate e dando voz a um ou ao outro debatedor e tempo para cada
argumento exposto.
Os temas debatidos sempre apontam vários posicionamentos e mostram diferentes
pontos de vista, por isso, sempre há divergência nas argumentações.

UNIDADE IV Produção Textual 60


SAIBA MAIS

Diferenças entre gênero literário, tipo textual e gênero textual


Por Débora Silva

Gênero literário – Os gêneros textuais abrangem todos os tipos de texto, ao contrário


dos gêneros literários que, como o próprio nome já indica, aborda apenas os literários.
O gênero literário é classificado de acordo com a sua forma, podendo ser do gênero
dramático, lírico, épico, narrativo etc.
Tipo textual – É a forma como um texto se apresenta. Pode ser classificado como nar-
rativo, argumentativo, dissertativo, descritivo, informativo ou injuntivo.
gêneros textuais - Os gêneros textuais são inúmeros e cada um deles possui o seu
próprio estilo de escrita e de estrutura. Confira alguns deles a seguir:
Conto maravilhoso;
Conto de fadas;
Fábula;
Carta pessoal;
Lenda;
Telefonema;
Poema;
Narrativa de ficção científica;

Fonte: Silva (2018, on-line).

REFLITA

“A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não
necessariamente certo. Por exemplo: dizer ‘escrever claro’ não é certo, mas é claro,
certo?”

(Luís Fernando Veríssimo)

UNIDADE IV Produção Textual 61


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade pudemos conhecer os critérios de textualidade e quais são os elemen-


tos importantes no momento da construção textual. Demos início ao processo de escolha das
informações e sugestões de como estruturar o seu texto antes de escrevê-lo de fato.
Nos tópicos dois e três foi possível conhecer os gêneros textuais da esfera acadê-
mica, divididos entre orais e escritos, e conhecer as características de cada um deles.
Esperamos que tenha sido um momento de grande aprendizado e contribuição para
a sua formação. Refaça a leitura do que gerou dúvidas e anotações na hora de estudar.

Bons estudos e boa aplicação.

UNIDADE IV Produção Textual 62


LEITURA COMPLEMENTAR

Produção acadêmica relevante para quem?


Jean Von Hohendorff

Em 2015, foi publicado, na revista Nature, o Manifesto Leiden. Esse Manifesto,


escrito por Diana Hicks, Paul Wouters, Ludo Waltman, Sarah de Rijcke e Ismael Rafols,
apresenta 10 princípios para avaliação de pesquisas (acesse o Manifesto aqui). Esse grupo
de cientometristas, cientistas sociais e administradores de pesquisa considera preocupante
o que eles intitularam de má aplicação dos indicadores de performance acadêmica (e.g.,
fator de impacto, índice h). O grupo não se opõe a estes indicadores, porém defende que
não sejam utilizados isoladamente, em detrimento de avaliações qualitativas das pesquisas
realizadas. Assim, avaliações quantitativas devem subsidiar avaliações qualitativas.
Particularmente, um dos princípios do Manifesto - o de número 3, “Protect excellen-
ce in locally relevant research” (Proteger a excelência de pesquisa relevante em nível local)
- captou minha atenção. Esse princípio indica que a excelência em pesquisa é equacionada
pelo número de publicações em língua inglesa, inclusive com diversos países instituindo
metas de publicação em journals norte-americanos de alto fator de impacto. Porém, isso
é problemático nas ciências sociais e humanas, uma vez que muitas pesquisas realizadas
nessas áreas possuem maior vinculação com demandas locais. A pluralidade e a relevância
social das pesquisas realizadas nas ciências humanas e sociais tende a ser suprimida em
detrimento da produção de artigos que sejam aceitos em journals com alto fator de impacto,
sendo a maioria deles do norte global. É necessário, portanto, que se invista em métricas
que considerem publicações de pesquisas de excelência em nível local.
Desde 2015, quando o Manifesto Leiden foi publicado, pouco parece ter se avançado
em modificar o modo como se avalia produção científica mundialmente. Isto foi abordado, no
início de fevereiro, num texto, também publicado pela Nature, intitulado “Let’s move beyond
the rhetoric: It’s time to change how we judge research”, de autoria de Stephen Curry - um
professor do Imperia College London. Nesse texto, Curry cita o Manifesto Leiden e demais
declarações favoráveis à mudança nas métricas de produção científica e enfatiza: “It is time
to shift from making declarations to finding solutions”, ou seja, está na hora de avançar, de
encontrar soluções. Quais seriam essas soluções? Difícil de responder a essa pergunta.
Curry, no texto publicado pela Nature, indica que é necessário identificar e publicizar bons
exemplos de avaliação de pesquisas e produções acadêmicas. Parece que seguimos em
busca desses exemplos.
Aqui no Brasil, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) é a fundação, vinculada ao Ministério da Educação, que estabelece critérios para

UNIDADE IV Produção Textual 63


a avaliação dos programas de pós-graduação stricto sensu e, consequentemente, para
a avaliação das pesquisas realizadas no país. De acordo com o Relatório de Avaliação
Quadrienal 2017, são utilizados cinco critérios para a avaliação dos programas: proposta
do programa; corpo docente; corpo discente, teses e dissertações; produção intelectual e;
inserção social.
Embora se reconheça os esforços da CAPES em tornar a avaliação menos quan-
titativa, o quesito produção intelectual ainda é baseado em itens quantitativos, como o
número de publicações e o Qualis CAPES ou Fator de Impacto dos periódicos nos quais
tais publicações foram realizadas. Ou seja, ainda não avançamos ao ponto de avaliar a
relevância local da pesquisa. Isso porque, pesquisas com relevância local podem não ser
de interesse de periódicos mais bem colocados no Qualis CAPES e/ou com maior Fator
de Impacto. Vale ressaltar, ainda, que muitos periódicos mais bem colocados no Qualis
CAPES têm publicado seus artigos em inglês com o objetivo de internacionalização. Não
se trata de desconsiderar publicações em periódicos com Qualis CAPES e/ou Fator de
Impacto maiores. Se trata, no entanto, de não considerar exclusivamente tais publicações
como parâmetro de relevância da produção científica.
A busca de consideração de atividades locais relevantes é verificada no critério 5
da avaliação CAPES - Inserção social -, que consiste, “para a Área de Psicologia, […] às
ações dos Programas […] na disseminação, transferência e/ou aplicação de conhecimen-
tos e tecnologias produzidas pelos programas em benefício de diferentes setores sociais,
visando minimizar ou solucionar problemas socialmente relevantes.” Veja bem: “problemas
socialmente relevantes” e não pesquisas relevantes em nível local!
Exemplos de atividades consideradas no quesito inserção social são consultorias e
assessorias para implantação de políticas públicas, cursos de extensão para profissionais
e público em geral, programas de intervenções junto a instituições (e.g., escolas, hospitais,
conselho tutelar) e eventos de divulgação científica para público técnico e geral. É percep-
tível, portanto, o esforço em se considerar a aplicação e a transferência do conhecimento
obtido com pesquisas para as comunidades locais. E isso é excelente! A ciência precisa
se aproximar cada vez mais do cotidiano! Porém, parece que ainda não se encontrou uma
forma de avaliar especificamente a pesquisa relevante em nível local. Isso porque o quesito
inserção social avalia outras atividades desenvolvidas em nível local, que podem (ou não)
ser produto de pesquisas.
O que fazer, então? Sou defensor da ideia de que devemos iniciar grandes mudan-
ças com pequenos passos, que conduzirão ao objetivo final. E devemos começar por nós
mesmos!

Fonte: Hohendorff (2017, on-line).

UNIDADE IV Produção Textual 64


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Uma outra escrita acadêmica: ensaios, experiências e
invenções
Autor: Cristiana Callai e Anelice Ribetto
Ano: 2016
Editora: Lamparina
Sinopse: Se há um fascínio que aprecio no exercício da escrita
é essa indefinível atração para transfigurar a vida, expandindo e
deslocando fluxos de pensamento, em uma produção existencial
e coletiva. Se esses movimentos não desprezam heranças, tidas
por muitos como perdidas, eles também não correm atrás de res-
postas certeiras, capazes de ir matando minutos, horas e dias,
por buscarem, principalmente, nas entre palavras e entrelinhas, o
que mais faísca, como perplexidades e perguntas, acendendo a
mais importante das artes: a de viver, recriando-nos e recriando a
vida em interligações viscerais, sempre efêmeras e incessantes,
sempre potentes para nos destruir, sem eliminar a possibilidade
de nos propor recomeços. Importa ressaltar que esses intervalos
e questões que levantam poeiras e instalam desassossegos e
esperanças não se deixam acomodar com equações e respostas
silogísticas e tranquilizadoras. Pelo contrário, uma vez postas em
movimento, essas interpelações à vida, à linguagem e à educação
desconhecem os caminhos de retorno às quietudes de um ponto
final e tanto podem subir espiraladas pelo tempo, como se perder
nos desertos arenosos da vida, ou, em um momento qualquer, sem
maiores anúncios, estourar em reminiscências indagadoras: o que
é escrever? Como escrever sem nos deixarmos acimentar pelos
padrões da escrita acadêmica? Como potencializar a vida e sua
capacidade de diferir e criar enquanto pensamos, conversamos,
escrevemos, vivemos? (Prefácio de Célia Linhares)

FILME/VÍDEO
Título: Sem limites
Ano: 2011
Sinopse: Eddie Morra (Bradley Cooper) sofre de bloqueio de
escritor. Um dia, ele reencontra na rua seu ex-cunhado, Vernon
(Johnny Whitworth), que lhe apresenta um remédio revolucionário
que permite o uso de 100% da capacidade cerebral. O efeito é
imediato em Eddie, pois ele passa a se lembrar de tudo que já leu,
ouviu ou viu em sua vida. A partir de então ele consegue apren-
der outras línguas, fazer cálculos complicados e escrever muito
rapidamente, mas para manter este ritmo precisa tomar o remédio
todo dia. Seu desempenho chama a atenção do empresário Carl
Van Loon (Robert De Niro), que resolve contar com sua ajuda para
fechar um dos maiores negócios da história.

UNIDADE IV Produção Textual 65


REFERÊNCIAS

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ros-discursivos-na-sala-aula.htm. Acesso em: 18 fev. 2020.

BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. Problemas fundamentais do método so-


ciológico na ciência da linguagem. 13. ed. São Paulo: Hucitec, 2009.

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BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro


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repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/24475/1/Sandra%20Aparecida%20Lima%20Silveira%20
Farias.pdf. Acesso em: 12 fev. 2020.

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do ensino médio. 2013. 167 f. Dissertação (Mestrado em Língua e Cultura) – Universidade
Federal da Bahia, Salvador, 2013.

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WINCH, P. G.; NASCIMENTO, S. S. Estudos da Língua(gem). Vitória da Conquista: , 2012.

68
CONCLUSÃO GERAL

Prezado(a) aluno(a),

Neste material, busquei trazer para você os conceitos de comunicação e formas


de expressão em vários âmbitos e aplicações. Para isso, apontei as definições do que é
comunicação e como ela ocorre nas relações interpessoais, depois, nas unidades finais,
vimos sobre a comunicação e as formas de construção de texto, seja na oralidade ou na
escrita. Espero que as dúvidas tenham sido sanadas e que todas as informações tenham
chegado até você de maneira didática e possível de compreensão.
Além desses conceitos, falamos sobre Comunicação e interação pela linguagem
e apontamos os elementos de interação para que seja possível o ato comunicativo. Vimos
ainda os elementos de comunicação e conhecemos os aspectos socioculturais da fala e da
escrita. Além dos aspectos teóricos, que contribuíram profundamente para o entendimen-
to dos assuntos aqui abordados, trouxemos exemplos para que fosse possível a melhor
compreensão de como a comunicação é importante e como fazê-la corretamente faz toda
a diferenta no contexto situacional.
As unidades III e IV nos mostraram as questões formais do uso da língua portugue-
sa, trazendo a Frase como unidade de composição, o Texto como unidade de sentido e o
Gênero discursivo como produto da interação verbal.
Finalizaremos nosso assunto sobre comunicação e expressão com o foco em
produção textual, principiando pelos Critérios de textualidade, para que fosse possível
entender como se dá a construção textual, e depois partindo para os aspectos gerais de
textos escritos e orais da esfera acadêmica, evidenciando suas características e respecti-
vas diferenças.
A partir de agora acreditamos que você já está preparado(a) para seguir em frente
e aplicar os conceitos aprendidos de comunicação, expressão e produção textual, seja na
oralidade, na escrita acadêmica ou não.

Até uma próxima oportunidade. Muito obrigada!

UNIDADE IV Produção Textual 69


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