Você está na página 1de 6

SOLIDÃO: SÓ DE IDA

SOMBRAS DA VIDA

Pense por um momento, pense em si Pense, ao menos

Nos caminhos que tomou

Nos copos em que bebeu Agora, pense, ao menos

Em si

Pense nos portões trancados Naquilo que bebe

Nas portas entreabertas No amargor que fica

Nos corredores vazios após a festa

Na futilidade da vida

Pense nas vidas palestinas Em todas as eras que foram perdidas

Nas crianças que caem no chão Em todas as formas de vida

E não darão fruto

Pense, ao menos!

Pense nas bombas que voam

Pelos céus de nossa vida

Pense, ao menos

Pense naqueles dias de domingo

Entre familiares

Entre pai e mãe

Nos discos que tocavam

Nos sobrinhos e sobrinhas

Que eram seus


SALAS VAZIAS

Hoje, um estado genocida Todos justificam

Compartilha com o mundo Religiosos justificam

A nossa mais bruta indiferença Políticos justificam

A direita justifica

Nas salas A esquerda assiste

Nos corredores

Nas mensagens Entretanto, nada para

Diante do morticínio

O time do coração é mais importante

Que crianças que caem todos os dias Choros ante escombros

E perdem-se na poeira da história Sangue que escorre

Meninos e meninas que não torcerão Não chega a tocar a bandeira

Times não terão Do time do coração

Não crescerão Pois somente esse que importa

Não mais viverão

O resto

Mas, o nosso time do coração É distração

É mais importante

Somos a epítome

Daquilo que não deu certo


BRINCANDO DE SER SÉRIO

Ando por aí

Nos confins do sem fim

Ouço muitas histórias

Muitas lutas e derrotas

Ando por aí

Busco por alguém

Que possa estar por perto

Quando tudo acabar

No calor dos dias

A promessa é de piora

Enquanto inflama

Florestas e sonhos

Derretem os meus cubos

No copo de destilado

Sinto o cheiro da falta

De saber

As salas de aula tornaram-se


armadilhas contumazes nas vidas de
docentes. Uma ratoeira que fora
montada tempos idos sob o manto do
amor ao trabalho, amor ao ato de
ensinar. De minha parte, sou
extremamente suspeito em se tratando
de analisar a sala como um lugar
diferente da armadilha montada, pois o
país que inventou uma história idílica
não cumpriu sua meta de ser o país
tropical, abençoado por Deus e bonito
por natureza. A sala não tem um
horizonte, mesmo que utópico, não tem
espaço para que a humanidade se
desenvolva. Os jovens perdem-se num
mundinho pequeno, cada vez mais
diminuto, quase limítrofe entre aqui e
sabe-se lá onde mais. Estão perdidos
em nossos diários defasados, nos SER BRASILEIRO.
inúmeros conteúdos que pouco
significam, no quadro negro que não
diz mais nada. A sala está fechada à SER BRASILEIRO É TER COMO
criatividade, à liberdade, ao amor entre ESTIGMA OS QUASE 400 ANOS DE
o conhecer e o desejo de saber. CRUEL ESCRAVIZAÇÃO. É VOTAR EM
Fechada à revolução! A sala tem a CADA PLEITO, BUSCANDO UMA
porta lacrada aos humanos que se SOLUÇÃO. É TER DE ECONOMIZAR OS
esquecem de si e de seus semelhantes. CENTAVOS PARA COMPRAR PÃO. É SER
Operam a realidade pela pequena tela TRATADO POR INDIGENTE VIA
como personagens kafkianos. A cruel TELEVISÃO. É NÃO TER O QUE COMER
realidade da escola aponta a um PELA INTEMPESTIVA INFLAÇÃO. É
horizonte obscuro e incerto. O país, CONSTRUIR O SEU BARRACO,
hoje, é a fotografia que velou ainda no SABENDO QUE DO DIA PRA NOITE
rolo. Ainda assim, tentamos tirar essa ESTARÁ NO CHÃO. É TER QUE VIVER À
foto, mas quando a objetiva está MÍNGUA QUASE SEMPRE SEM SABER
apontada para a sala de aula, a mão QUAL FIM LEVARÁ A LIÇÃO.
treme diante do obturador, pois com
um filme velado, dificilmente,
revelaremos uma sala que Freire
É TER TEMPESTADE DIA SIM OUTRO
sonhara quando em Angicos, viu seu
NÃO E, AINDA ASSIM, NÃO TER O
trabalho ser plantado e florescido.
MÍNIMO DE PROTEÇÃO.

É PÔR O FILHO NA ESCOLA SÓ PRA


NÃO PERDER O PÃO. É CONTAR COM
OS BOLSA FAMÍLIA DA VIDA SEM AO
MENOS UMA POLÍTICA DE INSERÇÃO.
É SER ALVO DE DEBATE SEM SER
CHAMADO À AÇÃO. É SER
ROMANTIZADO SEM ACREDITAR EM
EMANCIPAÇÃO. É TER TODO DIA A
ESPERANÇA DE VIVER COMO NAÇÃO.
É, AINDA ASSIM, PERCEBER QUE NÃO
É CIDADÃO. É VER EM DATENAS E
AFINS A FAVELA INVADIDA PELO
ESTADO E, APÓS SER MORTO,
VENDIDO COMO LADRÃO. É NÃO
EXPERIMENTAR, NEM UMA VEZ, O
DOCE SABOR DE VIVER SÃO. É TER A
EPÍTOME POVO SEM SER CIDADÃO. É
COSTUMAR RIR DE SI MESMO PARA
NÃO TOMAR UMA DECISÃO. É VER O PASSADO QUE SÓ SERVE AO PATRÃO.
FILHO NA ESCOLA SEM TER É VER OS NAZIFASCISTAS SURGINDO
EDUCAÇÃO. É PERCEBER QUE LÁ NA AOS MONTES PARA TOMAR O CHÃO. É
FRENTE SERÁ TUDO EM VÃO. É NÃO PERCEBER OS PRIVILÉGIOS DOS
ACREDITAR EM POPULISMO E FAKE DE CIMA CRENDO SEREM ANJOS DO
NEWS SEM PESQUISAR DE ONDE VÊM CORÃO.
PRA ONDE VÃO.

É VER CAVEIRÕES E METRALHAS


É, ENFIM, CULTIVAR EM SI A
LIMPANDO A CIDADE DE SI E DA
ESTRANHA MANIA DE COMER
FAMÍLIA DISPENSÁVEIS POR INAÇÃO.
ESPERANÇA NUM PRATO VAZIO
QUANDO DÓI A BARRIGA, QUANDO
CAI UMA LÁGRIMA E OUVE O CHORO
É TER COMO PRESIDENTE AQUELE
DO FILHO, MAS NÃO VÊ SOLUÇÃO. É
QUE DESEJA 30 MIL, MAS AO CABO E
SER BRASILEIRO COMO QUE
AO FIM MATOU MAIS DE MEIO
SOBREVIVENDO DIA A DIA SEM TER
MILHÃO. É NÃO TER POLÍTICA
PRA QUÊ, SEM DIREÇÃO.
PÚBLICA, PORQUE BRASIL É SÓ PRA
MEIA DÚZIA QUE NÃO VIVE NO CHÃO. 21/09/22
É LUTAR TODO DIA PRA NÃO MORRER
DE FOME E INANIÇÃO. É TER
MARIELES E AMARILDOS
DESAPARECIDOS POR NÃO SE
CURVAREM À NAÇÃO.

É TER COVID E VER SEU SOFRIMENTO


EMULADO SARCASTICAMENTE PELO
PRESIDENTE EM PLENA TELEVISÃO. É
VER OS FILHOS DESTE MESMO
COMENDO FILÉ MIGNON COM O
POBRE SEM PÃO. É SABER QUE
ELEGERAM POR MEDO DE FUTURO, UM

Você também pode gostar