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A LEI DO REMIDOR

Todo país tem suas leis, seus costumes e suas tradições, porém nada se compara
aos países do oriente, cujas leis de usos e costumes muitas vezes não estão no
papel e nem precisam, posto que ocupem o coração do povo, que é especialmente
fiel a tais regras sociais.

Dentre tantas leis judaicas a do remidor talvez seja a mais bela e também a mais
difícil de entender com nossa mente ocidental. Começando pelo começo, remidor é
o mesmo que redentor, libertador, resgatador. O desejo do homem judeu era ter
uma grande prole, que garantisse a perpetuação de seu nome no meio dos filhos
de Israel e para uma mulher judia, não ter filhos era desonroso.

Para contemplar o desejo da família judaica, foi elaborada uma lei que determinava
que todo homem casado tinha direito de ter um filho, uma descendência. À primeira
vista isso parece inacreditável, afinal, não há lei humana que possa obrigar um
casal gerar filhos, isso é com Deus, não é?
Pois bem. Sabendo que não se pode obrigar Deus a dar filhos a quem quer que
seja, a lei do remidor dizia que se um homem morresse sem deixar filhos, então um
de seus parentes mais próximos estaria obrigado a casar com a viúva e o primeiro
filho homem que nascesse do novo casal, seria considerado (para todos os efeitos)
filho do falecido. O parente que casasse com a viúva era chamado de remidor.

O remidor também ficava com as propriedades do falecido, mas somente para


administrá-las, porque um dia elas passariam para o descendente do falecido. Era
uma legislação bem bolada e que funcionava a contento. Foi assim que Boaz
entrou na vida de Rute e de sua sogra Noemi.

Noemi, seu marido e seus dois filhos saíram de Israel durante um período de fome
e foram morar em Moabe. Depois de um tempo Elimeleque, marido de Noemi
morreu e ela ficou com seus dois filhos, Malom e Quiliom, que casaram com as
moabitas Orfa e Rute, só que depois ambos morreram e ficaram somente as
viúvas. Nenhum deles deixou filhos e Noemi voltou para Israel, despedindo suas
noras para que voltassem à casa de seus pais.

Orfa chorou muito, mas foi embora para sua casa. É vida que segue! Rute não
aceitou se separar da sogra e foi com Noemi de volta à terra de Israel. Naquele
momento Rute fez sua profissão de fé no Deus dos judeus e seguiu sua sogra.

Naquele tempo não existia nenhuma proteção social para as viúvas e órfãos e Rute
saiu para batalhar pelo sustento delas cumprindo outra lei judaica, que dizia que
num campo, na hora da colheita, o que caísse no chão não podia ser juntado pelos
segadores, pois serviria de sustento para as viúvas, órfãos e estrangeiros.

Rute foi colher espigas nos campos de Boaz sem saber que ele era parente
próximo de seu falecido sogro e, portanto, um possível remidor dela. Boaz se
encantou por Rute, também sem saber quem era aquela moça bonita que,
humildemente, colhia as espigas que caiam no chão.

Deu tudo certo e Boaz remiu Rute, se casou com ela, amparou a velhice de Noemi
e teve um filho chamado Obede. Rute e Raabe são as únicas “estrangeiras” que
têm o privilégio de ter seus filhos na genealogia de Jesus. Obede, o filho de Rute
com Boaz (mas oficialmente filho de seu falecido marido) gerou a Jessé e Jessé a
Davi, ou seja, o filho de Rute veio a ser o avô do rei Davi.

O remidor é um tipo de Jesus, que veio nos resgatar, nos libertar do jugo do pecado
e nos readquirir como propriedade exclusiva de Deus. O homem natural não é filho
de Deus, pois o pecado nos separou Dele, mas através de Jesus somos adotados
como Seus filhos, por isso não há salvação em nenhum outro, porque somente
Jesus tem a autoridade de ser nosso Remidor.
Jesus, o remidor

ALei da remissão, entregue por Deus à Moisés no Sinai, está escrita em Levítico
25:32-55. Essa Lei previa que se alguém do povo empobrecesse, e tivesse que vender
suas propriedade para sanar suas dívidas, seu parente mais próximo, se tivesse
condições financeiras para isso, deveria remir, comprar de volta as terras, para manter
os bens dentro da linhagem familiar. E se em casos mais extremos essa pessoa tivesse
que se vender como escrava, seu parente deveria fazer o possível para comprar de
volta sua liberdade. O remidor também era o “Vingador do sangue”, se alguém da
família fosse assassinado, o remidor deveria ir atrás do homicida, para executá-lo e
vingar o sangue de seu parente. A figura do remidor caracteriza-se por sua bondade,
amor, compaixão e lealdade à família. Ele precisava ser um parente próximo,
precisava ter condições financeiras de pagar o resgate, e precisa estar disposto à isso.

A história mais conhecida na bíblia sobre a lei da remissão está registrada no livro de
Rute. Noemi, muda-se com seu esposo e dois filhos para Moabe num tempo de fome, e
em Moabe seus filhos se casam com Rute e Orfa. Ali, em terra estrangeira, seu esposo
e filhos morrem a deixando sozinha. Decidida a voltar para sua terra natal, Noemi
dispensa suas noras, e as manda retornar para a casa de seus pais; mas Rute assume
uma posição irredutível decidindo acompanhar sua sogra onde quer que ela vá, e
tornando o Deus de Israel o seu Deus (Rute 1:16-17). Chegando em Judá, Boaz, o
parente mais próximo de Noemi, se apresenta como remidor da família, compra de
volta as propriedades, e casa-se com Rute.

Redenção significa libertar pagando um preço.

Amar é pertencer. Pertencer é entregar. Entregar é renunciar. Renunciar é padecer


dores. Não se pode ter o amor sem a dor. Amar é abandonar coisas que o nosso ego
não está pronto para deixar ir. Amar é escolher o benefício do outro em detrimento do
nosso. Amar é possuir o trono e escolher a cruz. O amor não é gratuito porque não tem
valor, mas porque alguém já pagou o preço. O remidor do antigo testamento é uma
tipologia do Messias. O remidor tinha a tarefa de pagar a dívida que seu parente não
tinha condições de quitar. Quando o homem pecou no Éden, ele assumiu para si uma
dívida que ele nunca seria capaz de sanar, pois o salário do pecado é a morte (Rm
6:23), e sem o derramamento de sangue não há perdão (Hb 9:22). Quando Adão e Eva
comem do fruto, eles tornaram todas as gerações vindouras escravas do pecado, pois
pela desobediência de um só, todos nos tornamos pecadores (Rm 5,9). Por centenas de
anos, os sacrifícios de animais no tabernáculo e no templo apontaram para o sacrifício
de Cristo, porém, o sangue dos cordeiros não conseguia remir aqueles que os
apresentavam ano após ano. Cristo então, o nosso Remidor, o único digno o suficiente,
o único santo, o único que conseguiria assumir tamanha dívida, se dispõe a entregar
sua vida em troca da nossa (Jo 10:18), Ele se fez carne para nos resgatar pagando o
preço que era alto demais para nós. É simples, uma vida por outra vida.

Jesus também é o nosso vingador, que vingará o sangue inocente de nossos irmãos que
foi, e ainda será derramado até o retorno de Cristo. Isso é mostrado em Apocalipse 6
com a abertura do quinto selo. João descreve que em sua visão ele contempla debaixo
do altar as almas daqueles que foram mortos por causa da Palavra de Deus. E essas
almas clamam em alta voz pedindo o julgamento e vingança de seu sangue que o
Soberano irá trazer sobre a terra. Haverá um momento, após a grande tribulação, que
Jesus como nosso remidor, vingará o sangue daqueles que morreram pela causa de
Cristo.

Na história de Rute, Boaz quita as dívidas da família, e toma Rute, uma gentia como
sua esposa. Semelhantemente Cristo no calvário, ao se apresentar como o perfeito
sacrifício, ao derramar seu puro sangue sobre o madeiro, pagou o preço da nossa
liberdade, pagou o preço para o nosso perdão. Ele é o nosso redentor, ele nos libertou
pagando o preço de sangue. E como se não bastasse ele ser o nosso remidor, assim
como Boaz, ele também tomou para si uma noiva gentia: a Igreja. A morte de Cristo
possibilitou que nós, gentios, aqueles que são descendentes de Abraão pela fé e não
pelo sangue (Gl 3:7), pudessem se tornar particípios da manifestação de sua glória. A
morte de Cristo nos tornou sua noiva, e, agora, esperamos ansiosamente pelas Bodas
do Cordeiro, quando nos tornaremos um com Ele por toda a eternidade.

Como eu poderia carregar a cruz? Como suportaria os pregos em minhas mãos ? Como
sobreviveria ao profundo sofrimento e as gotas de sangue escorrendo em meu rosto?
Como eu poderia carregar os meus pecados? Como suportaria a injusta acusação?
Como enfrentaria a profunda solidão? Simples, eu não seria capaz; ninguém além dEle
seria. O Remidor vem porque o devedor já não pode mais fazer nada. Jesus, o
Remidor, o nosso Remidor. Aquele que se compadeceu de nossa situação, que em sua
bondade se dispôs a derramar o seu sangue em nosso favor. Cristo, o único digno, o
único puro, o único Santo. Ele é Aquele que nos redimiu da escravidão do pecado, e
agora nos conduz à vida eterna. Sim, o que começou no Sinai, teve seu fim na cruz.

“Nele, temos a redenção, o perdão dos nossos pecados pelo seu sangue, segundo as
riquezas da graça de Deus“

Efésios 1:7

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