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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO ARAGUAIA


INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
CURSO DE AGRONOMIA

UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS AGRÍCOLAS PARA O


CULTIVO DE Pleurotus ostreatus NA REGIÃO DE BARRA DO
GARÇAS-MT

Aline Ferreira Ramos

BARRA DO GARÇAS/MT
Março/2022
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO ARAGUAIA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
CURSO DE AGRONOMIA

UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS AGRÍCOLAS PARA O


CULTIVO DE Pleurotus ostreatus NA REGIÃO DE BARRA DO
GARÇAS-MT

ACADÊMICA: Aline Ferreira Ramos


ORIENTADORA: PROFA. DRA. SUZANA PEREIRA DE MELO
COORIENTADOR: PROF.DR. PAULO AFONSO FERREIRA

Trabalho de Curso
(TC) apresentado ao Curso de
Agronomia do ICET/CUA/UFMT,
como parte das exigências para a
obtenção do Grau de Bacharel em
Agronomia.

BARRA DO GARÇAS/MT
Março/2022
i
ii

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO


CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO ARAGUAIA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
CURSO DE AGRONOMIA

TERMO DE APROVAÇÃO DE TRABALHO DE CURSO

TITULO DO TRABALHO: UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS AGRÍCOLAS PARA O CULTIVO


DE Pleurotus ostreatus NA REGIÃO DE BARRA DO GARÇAS-MT

ACADÊMICA: Aline Ferreira Ramos


ORIENTADORA: Profa. Dra. Suzana Pereira de Melo

APROVADA PELA COMISSÃO EXAMINADORA:

______________________
Profa. Dra. Suzana Pereira de Melo
Orientadora

Prof. Dr. Paulo Afonso Ferreira


Membro

Prof. Dr. Milton Ferreira de Moraes


Membro

Data da defesa: 11/03/2022


iii

Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Deus por ter permitido concluir o curso, aos


meus pais Aristides Ferreira Santana e Girlane Ramos D’abadia Ferreira e ao meu
irmão Plínio Ferreira Ramos por terem me dado todo suporte financeiro e
emocional, sempre me motivando e apoiando minhas decisões acadêmicas.
Gostaria de agradecer ao meu pai por sempre estar ao meu lado ajudando
a construir meus sonhos profissionais, e mesmo morando em outra cidade nunca
poupou esforços para ajudar com as coisas que eu precisava, ele sempre
acreditou nos meus sonhos e me motivou a conquista-los.
Gratidão ao professor Márcio Andrade, que acreditou em mim e teve papel
fundamental na minha formação acadêmica e profissional.
Gostaria de agradecer também a orientadora professora Suzana Pereira de
Melo e professor Paulo Afonso Ferreira, pela disponibilidade e boa vontade em
me ajudar e auxiliar a realizar esse trabalho.
Agradeço a todos os professores do curso de agronomia que contribuíram
com minha formação acadêmica, e aos meus amigos e colegas que de alguma
forma contribuíram com meu aprendizado no decorrer dessa caminhada.
iv

Sumário

1 Introdução............................................................................................................3

2 Referencial teórico..............................................................................................5

2.1 Resíduos agrícolas .........................................................................................5

2.2 Cultivo de Pleurotus .......................................................................................5

2.3 Temperatura ....................................................................................................6

2.4 Umidade ...........................................................................................................6

2.5 Luminosidade ..................................................................................................7

2.6 Concentração de Oxigênio e CO2 ...................................................................7

2.7 pH ......................................................................................................................8

2.8 Etapas de produção.........................................................................................8

2.9 Substrato ..........................................................................................................10

2.9.1 Silagem de milho ..........................................................................................10

2.9.2 Capim Mombaça ...........................................................................................10

2.9.3 Bagaço de cana de açúcar ..........................................................................11

2.9.4 Casca de arroz ..............................................................................................11

2.10 Tratamento dos substratos ..........................................................................11

3 Material e métodos ............................................................................................12

3.1 Local do experimento ....................................................................................12

3.2 Aquisição dos inóculos de Shimeji ..............................................................12

3.3 Obtenção e preparo do substrato ................................................................12


v

3.4 Relação C/N do material................................................................................14

3.5 Condução experimental ...............................................................................15

3.6 Variáveis analisadas .....................................................................................15

3.7 Análise estatística .........................................................................................16

4 Resultados e discussão...................................................................................17

4.1 Crescimento do micélio ...............................................................................17

4.2 Cogumelos frescos ......................................................................................20

4.3 Eficiência biológica ......................................................................................21

4.4 Considerações finais ...................................................................................22

5 Conclusão ........................................................................................................23

6 Referências Bibliográficas..............................................................................23
vi

Lista de Tabelas

Tabela 1 - Umidade (%), Carbono (%), nitrogênio (%) e relação C/N de diversos
materiais para o substrato de cultivo ..................................................................9

Tabela 2 - resultados da relação C/N dos materiais utilizados em experimentos


...........................................................................................................................15

Tabela 3 - Valores de F da análise de variância para o crescimento dos micélios,


para a quantidade de cogumelos frescos, e para a eficiência biológica, em função
dos substratos utilizados no desenvolvimento do Shimeji cultivado em Barra do
Garças-MT....................................................................................................... 17
vii

Lista de Figuras

Figura 1 - Representação estrutural de cogumelos (filo Basidiomycota)


............................................................................................................................ 7

Figura 2 - Pasteurização a frio para eliminação de microrganismos contaminantes


............................................................................................................................ 13

Figura 3 - Embalagens perfuradas para realização de trocas gasosas .............14

Figura 4 - Experimentos suspensos em cordões de nylon ................................14

Figura 5 - Desenvolvimento de Pleurotus em substrato de capim Mombaça ... 18

Figura 6 - Desenvolvimento do micélio em resíduo de silagem de milho ...........18

Figura 7 - Desenvolvimento de micélio em resíduo de bagaço de cana ............19

Figura 8 - Desenvolvimento de hifas em resíduos de casca de arroz ...............19

Figura 9 - Desenvolvimento de cogumelos a partir dos primórdios até a formação


do chapéu 3-6 cm ..............................................................................................20

Figura 10 - Quantidades de cogumelos desenvolvidos de acordo com cada


substrato............................................................................................................21

Figura 11 - Eficiência biológica de acordo com cada substrato


.......................................................................................................................... 22
RESUMO

O consumo de cogumelos comestíveis são excelentes fontes de


proteínas, aminoácidos essenciais, diversas vitaminas e minerais, além de teores
baixos de gorduras, ácidos nucléicos, açúcares e calorias. Seu cultivo enquadra-
se muito bem na agricultura sustentável e possuem várias vantagens como a
reutilização de produtos residuais agrícolas, geração de valor de subprodutos que
antes seriam descartados, utilização do substrato residual como condicionador de
solo além de ser fonte de renda para agricultores familiares. Objetivou-se avaliar
a produtividade do Pleurotus ostreatus (Shimeji branco) cultivado em quatro
substratos: silagem de milho, capim Mombaça, bagaço de cana e casca de arroz
(todos utilizados de forma pura). A escolha dos substratos justifica-se pela fácil
aquisição dos resíduos na região de Barra do Garças e no estado de Mato Grosso
O experimento foi realizado nas dependências da empresa Solo Líquido em Barra
do Garças - MT, em salas climatizadas, com ambiente controlado de temperatura
e umidade do ar. Os substratos foram submetidos a pasteurização a frio por 12
horas consecutivas e então escorridos por mais 12 horas. Após esse
procedimento foram inoculados com o micélio de Shimeji branco e então
embalados em sacos de polietileno de 1 kg e perfurados com agulha de 3,5 mm
após foram colocados na sala de incubação por 15 dias consecutivos (360 horas).
As embalagens inoculadas foram levadas para frutificarem na sala de frutificação
através da abertura da extremidade superior. Foram analisadas as variáveis:
tempo de desenvolvimento dos primórdios (pequenas estruturas com
aproximadamente 2 mm que darão início a formação do corpo de frutificação);
quantidade de cogumelos produzidos por embalagem e eficiência biológica
(considerando-se o melhor peso do produto in natura). Para a melhor
produtividade a silagem de milho foi a mais indicada para o cultivo de Shimeji
branco, atingindo 152,8 g no primeiro fluxo de produção.

1
ABSTRACT

The consumption of edible mushrooms are excellent sources of protein,


essential amino acids, several vitamins and minerals, and low in fat, nucleic acids,
sugars and calories. Its cultivation fits very well in sustainable agriculture and has
several advantages such as the reuse of agricultural waste products, generation
of value from by-products that would previously be discarded, use of the residual
substrate as a soil conditioner, besides being a source of income for family
farmers. The productivity of Pleurotus ostreatus (White Shimeji) cultivated in four
substrates was evaluated: corn silage, mombaça grass, sugar cane bagasse and
rice husk (all used in pure form). The choice of the substrates tested is justified by
the easy acquisition of residues in the region of Barra do Garças and in the state
of Mato Grosso. The substrates were submitted to cold pasteurization for 12
consecutive hours and then drained for another 12 hours. After this procedure,
they were inoculated with mycelium of white Shimeji and then packed in 1kg
polyethylene bags, perforated with a 3.5 mm needle, and placed in the incubation
room for 15 consecutive days (360 hours). The following variables were analyzed:
development time of the primordia (small structures of approximately 2 mm that
will start the formation of the fruiting body); quantity of mushrooms produced per
package and biological efficiency (considering the best weight of the product in
natura). To obtain the best productivity the corn silage was the most indicated for
the cultivation of white Shimeji, reaching 152.8 g in the first production flow.

2
1. Introdução
O mercado de cogumelos movimenta 35 bilhões de dólares em todo o
mundo, o maior consumo de cogumelos comestíveis se concentra
principalmente em países europeus e regiões asiáticas como China e Japão com
consumo médio de aproximadamente oito quilos anuais por habitante (GOMES,
2018). A cadeia produtiva de cogumelos Shimeji branco tem se popularizado no
Brasil com o aumento de restaurantes japoneses no país, advindos com
inúmeros benefícios nutricionais, os cogumelos são ricos em proteínas,
vitaminas B, C, fibras, sais minerais além de serem muitos saborosos. Devido a
fatores como a globalização e a troca de informações culturais, a preocupação
com a saúde alimentar e a busca por alternativas para melhorar a qualidade de
vida por meio de consumo de alimentos mais nutritivos, possibilitaram o aumento
do mercado consumidor para cogumelos comestíveis no Brasil, desse modo,
pesquisas apontam um crescimento de 9% a 12% de volume comercializado no
ano de 2021 no país (EIRA, 2020).
Segundo a FAO, as agroindústrias brasileiras produzem toneladas de
resíduos agroindustriais anualmente, parte desses resíduos são utilizados na
ração animal, outra parte é descartada ao solo, ao qual necessita de certo tempo
para que ocorra a mineralização desses compostos. Dado esse contexto, novas
utilizações podem ser dadas a esses resíduos orgânicos, agregando assim valor
comercial além de ser alternativa para resolver problemas ambientais
relacionados ao descarte e acúmulo de resíduos diretamente ao solo.
O Mato Grosso é o terceiro maior estado do Brasil, com pilares
econômicos principalmente na agricultura e pecuária, com aproximadamente
140 mil agricultores familiares (EMBRAPA, 2014). Esses números revelam o
potencial mercado para a produção já que a matéria prima para produção de
substrato de cogumelos Shimeji são provenientes de resíduos agrícolas.
Segundo a Associação Brasileira de Produtores de Cogumelos (ABPC, 2020), o
Brasil importa cogumelos de alguns países como China, Itália e Holanda, esses
dados revelam um importante mercado promissor em crescimento no Brasil, que
ainda pode diversificar as atividades no campo gerando mais renda
principalmente para a agricultura familiar.
Visto que se trata de uma atividade econômica é importante apresentar
valores referentes a custo de produção, produtividade e retorno de investimento

3
que são esperados para o cultivo de Shimeji no estado de Mato Grosso. A
produtividade do cogumelo fresco é feita com base no substrato úmido, sendo
que a maioria dos substratos apontam produção de 20% do resíduo úmido, ou
seja, para cada lote produzido de 1 kg de substrato, 200 gramas de cogumelos
serão produzidos durante todo o ciclo de desenvolvimento. Sendo assim,
considerando uma produção em área de 12 metros quadrados, com capacidade
de produção de 600 kg de substrato úmido, ao final do ciclo de desenvolvimento
do cogumelo (60 dias) serão produzidos aproximadamente 120 kg de Shimeji
fresco. Realizando bom manejo de produção e colheitas escalonadas, em 8
semanas o produtor terá produção de 15 kg semanais. Caso o produtor
comercialize a produção por R$ 50,00 o quilograma fresco de cogumelo, sua
renda bruta semanal será de R$ 750,00, considerando que os custos de
produção sejam aproximadamente 40%, o produtor terá uma renda liquida
mensal de R$ 1.800,00.
Objetivou-se avaliar a produtividade do Pleurotus ostreatus cultivado em
quatro tipos de substratos: silagem de milho, capim Mombaça, bagaço de cana
e casca de arroz, todos utilizados sem suplementação e de forma pura.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Resíduos agrícolas

A produção de Shimeji iniciou-se no Brasil a partir dos anos 70, a


princípio de forma artesanal e principalmente da espécie de coloração salmão
(BONONI et al.,1999). Segundo a Associação Nacional de Produtores de
cogumelos (2018), a produção in natura de cogumelos foi de 12 mil toneladas no
ano de 2017. Os cogumelos mais comuns consumidos no Brasil são:
champignon (Agaricus bisporus), shiitake (Lentinula edodes) e Shimeji
(Pleurotus) (PELCZER, CHAN, KRIEG, 1997) e segundo Gomes (2018) a
demanda tem ultrapassado os limites de produção nacional, sendo necessário
importar o produto principalmente da China. Até os anos 2000 cogumelos eram
difíceis de serem produzidos devido ao alto custo de produção e baixa
produtividade, a partir de então novas técnicas passaram a ser desenvolvidas
buscando minimizar os custos de produção além de serem fonte de renda de
famílias (ALVES; SÁ, 2020).

2.2 Cultivo de Pleurotus Ostreatus

Os cogumelos do filo Basidiomycota (Figura 1), pertencem ao reino


fungi, desse modo seu organismo necessita de outros seres para se
alimentarem, absorvendo, por meio da matéria orgânica, ao qual residem, os
nutrientes necessários à sua sobrevivência. Os cogumelos Shimeji são fungos
saprófitos, ou seja, eles são decompositores da matéria orgânica já morta,
podem ser cultivados em inúmeros materiais residuais que contenham lignina e
celulose em sua composição (PETER OEI, 2006). Os fungos necessitam para
seu desenvolvimento estrutural de macronutrientes como: fósforo (P), potássio
(K), cálcio (Ca), magnésio (Mg), enxofre (S) e nitrogênio (N), e de
micronutrientes: ferro (Fe), cobre (Cu), manganês (Mn), zinco (Zn), boro (B),
molibdênio (Mo) e cloro (Cl), os cogumelos são capazes de realizar bioconversão
dos compostos presentes em substratos transformando-os em alimentos com
alto valor proteico que dão energia para o desenvolvimento estrutural das hifas
(KIEHL, 1985).

5
Os fungos se propagam por meio de estruturas chamadas esporos, que
por sua vez ao adaptar-se em um ambiente ele se ramificará e formará uma
espécie de teia de coloração esbranquiçada e passará a se chamar micélio, o
qual dará origem aos corpos de frutificação (RAJARATHNAM; SHASHIREKA;
BANO, 1997). No cultivo de cogumelos utiliza-se o micélio como parte
vegetativa, e assim dar procedência a perpetuação de uma determinada
linhagem; os esporos não são utilizados pois são estruturas minúsculas e de
difícil manuseio. Segundo Oei (2006), para ocorrer o processo de colonização
micelial, o micélio deve ser colocado em material estéreo (geralmente sementes,
grãos ou gramíneas) ao qual irá se nutrir até esgotar as reservas energéticas
disponíveis, a partir de então se iniciará outra fase, a reprodução. A quantidade
e a qualidade dos corpos de frutificação vão depender do ambiente em que foram
inseridos, alguns fatores como umidade, temperatura, quantidade de luz
incidente e concentração de CO2 no ar são essenciais para determinar a
qualidade dos corpos de frutificação (DIAS et al., 1999).

2.3 Temperatura

Segundo Bellettini (2016) a temperatura ideal para o crescimento do


micélio em substrato varia de 26 ºC a 28 ºC, sendo que para frutificação varia de
15 ºC a 30 ºC. Para indução da frutificação do cogumelo a temperatura deve ser
abaixo de 5 a 10 º referente a temperatura de incubação (PETER OEI, 2006).
Nessa fase de produção, a temperatura influencia diretamente na coloração do
cogumelo, com a seguinte relação, quanto mais baixa a temperatura
recomendada, mais escuro será o chapéu (PETER OEI, 2006).

2.4 Umidade

O cogumelo é composto por aproximadamente 80% de água, para uma


boa elaboração do substrato, deve-se manter a umidade do composto entre 60%
a 75% (PETER OEI, 2006). De acordo com Bellettini (2016) a umidade do ar
deve-se manter entre 50% a 75%, sendo essa suficiente para o bom
desenvolvimento dos corpos de frutificação dos cogumelos. Altos teores de
umidade no substrato podem diminuir a disponibilidade de oxigênio. Alta
umidade na sala de produção do Pleurotus pode ocasionar desenvolvimento de

6
fungos e bactérias nos substratos, por outro lado, a falta de umidade dificulta o
transporte de nutrientes nas hifas.

Figura 1: Representação estrutural de cogumelo (filo Basidiomycota).


Fonte: htt://docplayer.net/23839833-Murshroom-structure-teacher-s-notes.html

2.5 Luminosidade

Durante o período de incubação do cogumelo Shimeji, o processo pode


ser realizado na ausência total ou parcial de luz, já para o desenvolvimento de
corpos de frutificação a luminosidade é essencial para ocorrer o
desenvolvimento, sendo que para emissão das primeiras estruturas emergentes
no micélio, chamadas de primórdios, é necessário incidência indireta entre 200
a 640 lux, por períodos entre 8 a 12 horas por dia. A falta de luz pode ocasionar
o alongamento do estípite e impossibilitar a formação do píleo. Caso a incidência
luminosa seja intensa, pode ocasionar mudança na coloração do píleo além de
possíveis deformações nos cogumelos (BELLETTINI et al., 2016).

2.6 Concentração de O2 e CO2

Durante o preparo de substrato para cultivo de Shimeji não é


recomendado encharcar o material, pois deve-se manter a umidade ideal e
garantir a oxigenação no interior do composto, permitindo então a presença da

7
flora microbiana e fermentação do material (RAJARATHNAN & BANO, 1987). A
presença do O2 e CO2 são de extrema importância para o desenvolvimento dos
cogumelos comestíveis, o requerimento por O2 é maior durante a fase de
frutificação, pois nesse período há aumento na intensidade do metabolismo para
a produção dos corpos de frutificação. Algumas espécies de cogumelos Shimeji
exigem concentrações maiores de CO2 (cerca de 22%) para bom
desenvolvimento metabólico, isso torna-se uma vantagem em relação a fungos
competidores que precisam de maiores concentrações de oxigênio para se
desenvolverem (RAJARATHNAN et al., 1992).

2.7 pH

Valores de pH possuem interferência direta na frutificação, sendo que na


maioria das espécies o desenvolvimento é adequado em pH neutro ou levemente
ácido 6-7, a diminuição do pH no substrato favorece o desenvolvimento de
contaminantes e fungos competidores (WOOD & SMITH 1987).

2.8 Etapas de produção


A cadeia da fungicultura é composta por 5 etapas de produção, são elas:

a) Preparo do substrato: corresponde a todas condições necessárias


para o correto desenvolvimento do micélio dentro de embalagens
plásticas de polipropileno de alta densidade, desde a obtenção e
preparo do substrato, com temperaturas e umidade adequadas, além
de substrato com relação C/N entre 20:1 a 50:1 (PHILIPPOUSSIS et
al., 2001) para que o fungo tenha boa colonização do substrato e
assim tenha boa produtividade. Na Tabela 1 é apresentada a
umidade, carbono, nitrogênio e relação C/N de alguns materiais
usados para cultivar Shimeji;

b) Inoculação do substrato: essa etapa corresponde a mistura dos


inóculos de cogumelo que nada mais são que grandes quantidades
de micélio desenvolvidos em serragem ou grãos de trigo. Esses
inóculos devem ser adicionados de acordo com a quantidade de

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substrato preparado, sendo de 7% a 10% ao volume do substrato
(PETER OEI, 2006);

c) Colonização: nessa fase o bloco de substrato deve ser armazenado


em local com pouca ou sem luminosidade para induzir o
desenvolvimento do micélio por todo o substrato colonizado, durante
períodos de 15 a 20 dias (YAMAUCHI et al., 2018) criando teias de
ramificações com coloração esbranquiçada no material preparado;

d) Frutificação: passado os 20 dias de colonização, o Shimeji encontra-


se na fase de frutificação, a partir de então os blocos colonizados
devem ser expostos a luminosidade solar indireta ou artificial, para
que ocorra a frutificação, ou seja, serão formados corpos de
frutificação do cogumelo para fora do plástico, por meio de pequenos
furos que são feitos no corpo da embalagem;

e) Colheita e pós colheita: os cogumelos estão aptos a serem colhidos


dentro de 3 a 5 dias, a colheita pode continuar enquanto o micélio
manter-se de coloração branca, podendo produzir de três a quatro
fluxos (PETER OEI, 2006).

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2.9 Substratos

2.9.1 Silagem de milho


O milho é uma das gramíneas mais utilizadas para produção de silagem,
alguns fatores como alto teor energético, facilidade de cultivo, produção
adequada de massa de matéria seca e facilidade de fermentação fazem com
que esse material seja muito utilizado para nutrição animal (EVANGELISTA;
LIMA, 2002).
Os talos do milho e as folhagens possuem 65% de polissacarídeos, 30%
de lignina, e relação C/N de 21/1(HELTAY et al., 1957), características ótimas
para o cultivo de Shimeji com rendimentos satisfatórios (KHAN et al., 1989).

2.9.2 Capim Mombaça


O Brasil possui ampla diversidade em gramíneas que podem ser
utilizadas como substratos potenciais para a produção de Shimeji. Os fungos
cultivados em gramíneas apresentam maiores produtividades que os cultivados
em serragem por exemplo (ZHANXI; ZHANHUA, 2002). Para utilização de
palhadas como substrato, deve-se utilizar a técnica de “Jun-Cao”: tecnologia
chinesa (jun= cogumelos e Cao= gramíneas) utiliza gramíneas como substrato
para produção de cogumelos. Em 1995 a Embrapa realizou estudos capazes de
adaptar a tecnologia chinesa a realidades brasileiras, com implementações de
variedades de gramíneas adicionando-se farelos como de soja, trigo ou arroz,
com objetivo de diminuir relação C/N do substrato e consequentemente
aumentar a produtividade do cogumelo, além disso adiciona-se gesso com
finalidade de enriquecer o material, dessa forma pequenos e médios
fungicultores podem competir com os produtos vindo de fora (URBEN et al.,
2006).
Outra vantagem da técnica JunCao adaptada pela Embrapa refere-se à
praticidade em máximo aproveitamento do espaço físico, pois o material pode
ser colocado em prateleiras em áreas pequenas de cultivo como 54 m 2. Outro
ponto positivo refere-se à facilidade em encontrar gramíneas para preparo do
substrato, pois esse material é de fácil adaptabilidade em diversos biomas
brasileiros, são espécies de rápido crescimento e boa produtividade (URBEN et
al., 2006).

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2.9.3 Bagaço de cana-de-açúcar
Segundo a Agência paulista de promoção de investimentos e
competitividade (2016), o Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar,
disponibilizando assim resíduos que podem ser utilizados tanto para geração de
energia, como podem ser utilizados como substrato para produção de
cogumelos. O bagaço de cana é um resíduo pobre nutricionalmente, geralmente
possui relação C/N de 90:1, alto teor de celulose, responsável por disponibilizar
glicose para o crescimento do fungo (REGINA, 2001). A desvantagem é que
pode ser utilizado com fonte de energia para outros fungos competidores
contribuindo para possíveis contaminações.

2.9.4 Casca de arroz


O arroz é um vegetal da família das gramíneas, cuja espécie mais
comum no Brasil é a Oryza sativa, um dos cereais mais consumidos no mundo,
e no Brasil é produzido em praticamente todo território. Segundo a Conab (2021)
(Companhia Nacional de abastecimento) a produção de arroz no Brasil no ano
de 2021/2022 está sendo projetada em 11,5 milhões de toneladas. A palha de
arroz é um resíduo agrícola muito utilizado na produção de cogumelos Shimeji
(BONONI et al., 1999). Segundo Bernardi et al. (2007) a casca de arroz é
composta por 37% de celulose, 19% de lignina, 3% de proteína e 20% de
hemicelulose, o que torna esse resíduo um ótimo composto volumoso para a
produção de Shimeji (FURLAN; 2000).

2.10 Tratamento dos substratos


O substrato deve ser tratado antes de ser inoculado com o micélio do
cogumelo. O tratamento térmico é o mais utilizado para eliminação de
microrganismos, insetos e fungos competidores, sendo os tratamentos mais
comuns: a esterilização e a pasteurização. A esterilização é realizada a 121ºC
por tempo variado (dependendo do tipo de material, quantidade e tamanho dos
blocos), já a pasteurização é realizada de 60ºC a 100ºC em tempos variados
(OEI; NIEUWENHUIJZEN, 2006).

11
Segundo Gomez (1990) o cultivo através da fermentação submersa é
um dos meios utilizados para esterilização a frio de compostos para Pleurotus,
obtendo ao final do processo um material rico em proteína e carboidratos de alta
digestibilidade, com baixos teores finais de lignina. Soluções como hidróxido de
cálcio podem ser utilizadas como método alternativo de pasteurização de
substrato, promovendo a inativação de fungos e bactérias por meio da variação
brusca no pH, além da eliminação de organismos aeróbicos.

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Local do experimento


A pesquisa foi realizada na cidade Barra do Garças – MT, cujas
coordenadas geográficas são 15º52’25” S e 52º18’51” O, sob condições de
temperatura de umidade controladas. No período de julho a agosto de 2021.

3.2 Aquisição dos inóculos a base de micélio de Shimeji


A linhagem comercial do gênero Pleurotus utilizada no experimento foi da
espécie Shimeji branco, obtida a partir de matrizes fúngicas, da linhagem
FCPOBR1, desenvolvidas por empresas localizadas no município de Valinhos
no estado de São Paulo. O micélio foi adquirido em preparo de grãos de trigo
cujo vigor é assegurado pela empresa por meio de constantes testes em
substrato de cultivo. Os inóculos foram produzidos em grãos de cereais cozidos
onde são acondicionados em sacos de polipropileno de alta densidade e então
foram submetidos a autoclavagem a 121 ºC por uma hora e meia, após esse
procedimento o substrato foi inoculado com o “spawn” (veículo de dispersão do
micélio) do fungo desenvolvido em meio de cultura BDA (ágar batata dextrose),
sob condições assépticas.

3.3 Obtenção e preparo do substrato


Foram utilizados os seguintes materiais como substrato para o
crescimento do Shimeji: 5 kg de silagem de milho, adquirido nas proximidades
da cidade de Bom Jardim de Goiás GO; 5 kg de bagaço de cana, doados por
produtores na cidade de Barra do Garças MT; 5 kg de capim Mombaça

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adquiridos em uma propriedade rural da cidade de Barra do Garças e; 5 kg de
casca de arroz, doados por uma propriedade rural em Aragarças GO.
Inicialmente o local de preparo foi devidamente higienizado com álcool
70%, assim como os tambores de 200 L onde foi realizado a pasteurização. Para
a esterilização dos substratos utilizou-se o método de pasteurização a frio: foram
diluídos 500 gramas de óxido de cálcio (CaO) em 100 litros de água, os
substratos foram submersos nessa solução por 12 horas. Posteriormente o
substrato foi escorrido com o auxílio de uma peneira por um período de 12 horas
(Figura 2). Esse método de pasteurização permitiu que os substratos
mantivessem a umidade ideal além de eliminar a maior parte das bactérias
aeróbicas e anaeróbicas, diminuindo assim a presença de microrganismos
competidores.

Figura 2: Pasteurização a frio para eliminação de microorganismos contaminantes.


Fonte: Foto arquivo da autora.

Após esse procedimento os substratos foram colocados em embalagens


de polietileno de 1 kg de forma individual, perfuradas com o auxílio de uma
agulha de couro de forma aleatória para promover as trocas gasosas do interior
da embalagem (Figura 3). Após esse procedimento as extremidades foram
vedadas com arames encapados (amarrilho) e dispostas em delineamento
casualizados com cinco repetições, suspensos em cordões de nylon na sala de
incubação (Figura 4).

13
Figura 3: Embalagens perfuradas para realização de trocas gasosas.
Fonte: Foto arquivo da autora.

Figura 4: Experimentos suspensos em cordões de nylon.


Fonte: Foto arquivo da autora.

3.4 Relação C/N do material


Uma baixa relação carbono/nitrogênio, assim como em cultivos de
plantas, com cogumelos não é diferente, é muito importante na mineralização
dos nutrientes presentes no material pois interfere de forma direta na utilização
dos compostos presentes nos substratos afetando na colonização e frutificação
dos cogumelos (PHILIPPOUSSIS et al., 2001). Foram realizadas as análises

14
químicas de carbono e nitrogênio dos materiais utilizados para os experimentos
(Tabela 2) (EMBRAPA, 2017).

Tabela 2. Teor de nitrogênio, carbono orgânico e relação C/N dos materiais


utilizados como substratos.
Relação C/N dos substratos utilizados
Bagaço de cana Capim Mombaça Silagem de milho Casca de arroz
N% 0,6 0,8 1,0 0,3
C.Org. 49,3 53,4 54,7 57,1
Relação C/N 82,2 66,8 54,7 190,3

3.5 Condução experimental


Após a pasteurização do material, realizou-se a inoculação do “Spawn”.
Os substratos foram colocados em embalagens e separados em quatro lotes,
cada um contendo cinco repetições, com 1 kg de material dispostos em
camadas, levemente compactado, com o inóculo de Shimeji distribuída entre
eles. Os sacos preenchidos com os substratos foram levados a sala de
incubação com baixa ou quase nenhuma incidência luminosa, a temperatura de
28 ºC e umidade do material a 60%. Foram organizados verticalmente, segundo
cada lote, para que iniciasse o desenvolvimento micelial.
Após 15 a 20 dias, com o micélio já desenvolvido, com aparência
esbranquiçada da embalagem, os tratamentos foram transferidos para outra sala
com temperatura de 26 ºC, umidade do ar em 75% (BELLETTINI, 2016) e
incidência luminosa de 2000 lux. Essa temperatura era controlada com auxílio
de climatizadores e umidificadores ultrassônicos ligados 24 horas dentro da sala
de frutificação com fotoperíodo de 12 h d-1. Os cogumelos foram colhidos com a
mesma quantidade de dias correspondentes a cada lote, após o
desenvolvimento do micélio.

3.6 Variáveis analisadas


Após a colonização dos substratos, os materiais foram levados a sala de
frutificação para avaliação do crescimento do primórdio (formação de pequenas
estruturas de centenas de cogumelos com aproximadamente 2 mm), essa
análise foi realizada por observação de forma direta, onde cada embalagem com

15
os distintos substratos apresentava diferentes colonização pelo fungo. Como
descrito por Montini (1997) o processo de frutificação do Shimeji é bastante
irregular, sendo assim, o critério avaliado para padronizar período de cada lote
ocorreu da seguinte maneira: O tempo gasto pelo primeiro cogumelo a ter
abertura do chapéu de 3 a 6 cm, demarcou o ponto de colheita para o restante
da parcela, dessa forma o tempo de desenvolvimento a partir da sala de
frutificação foi padrão para todos os tratamentos.
Para quantificar os cogumelos frescos, após o tempo de desenvolvimento
dos primórdios, os cogumelos foram colhidos e pesados.
A eficiência biológica é um parâmetro quantitativo utilizado para avaliar
a produção de cogumelos (TISDALE et al., 2006; Das & MUKHERJEE, 2006) e
pode ser calculada por meio da formula:

𝐌𝐅𝐂
𝐄𝐁 = 𝐱 𝟏𝟎𝟎
𝐌𝐒𝐒

Onde:
EB: Eficiência biológica (%)
MFC: Massa fresca de cogumelo (g)
MSS: Massa seca de substrato (g)

3.7 Análise estatística


Os dados foram submetidos a análise estatística de variância, quando
significativo pelo teste de F, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a
5% de probabilidade. Para realizar essa análise utilizou-se o programa SISVAR®
(FERREIRA, 2008).

16
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após o crescimento dos micélios os tratamentos foram transferidos para


a sala de frutificação. A partir daí foi analisado o tempo para o desenvolvimento
das primeiras estruturas (primórdios) assim como para o corpo de frutificação de
cada lote em um mesmo período.
As variáveis crescimento dos micélios em dias, a quantidade de
cogumelos frescos em kg, e a eficiência biológica em % apresentaram
significância estatística para os quatro substratos utilizados (Tabela 3).

Tabela 3 – Valores de F da análise de variância para o crescimento dos micélios, para


a quantidade de cogumelos frescos, e para a eficiência biológica, em função dos
substratos utilizados no desenvolvimento do Shimeji cultivado em Barra do Garças-MT.
F valor
FV GL Desenvolvimento Cogumelos Eficiência
dos primórdios frescos biológica
dias kg %
Substrato 3 3,11* 6,17* 5,89*
Repetição 4 1,87n.s. 2,57 n.s. 2,34 n.s.
Resíduo 12
CV (%) 13,54 35,27 13,54

4.1 Desenvolvimento dos primórdios

O desenvolvimento do micélio em resíduo de capim Mombaça apresentou


melhor desempenho para desenvolvimento do micélio (Figura 5). Resíduos de
gramíneas geralmente apresentam alta relação C/N, fator importante para o
desenvolvimento inicial do micélio (STURION, 1994).
Os tratamentos de silagem de milho (Figura 6), e tratamento de bagaço
de cana (Figura 7) apresentaram desenvolvimento intermediário. Esses
substratos levaram três dias para dar início a formação dos primórdios.
Assim como em estudos realizados por Bernardi et al. (2007), apesar da
casca de arroz ter proporcionado rápido desenvolvimento do micélio, o mesmo
não apresentou vigor suficiente para o desenvolvimento dos primórdios, fator
observado na baixa densidade das hifas (Figura 8), essa característica não é

17
apreciada por fungicultores, pois não apresenta bom desenvolvimento dos
cogumelos, o que influencia diretamente na baixa eficiência biológica se utilizada
de forma pura.

Figura 5: Desenvolvimento de Pleurotus em substrato de capim mombaça.


Fonte: Foto arquivo da autora.

Figura 6: Desenvolvimento do micélio em resíduo a base de silagem de milho.


Fonte: Foto arquivo da autora.

18
Figura 7: Desenvolvimento de micélio em resíduo de bagaço de cana.
Fonte: Foto arquivo da autora.

Figura 8: Desenvolvimento de hifas em resíduo de casca de arroz.


Fonte: Foto arquivo da autora.

19
Figura 9: Desenvolvimento dos cogumelos shimeji a partir dos primórdios até formação
do chapéu de 3-6 cm.

O substrato de capim Mombaça apresentou melhor resultado com relação


período de desenvolvimento, ou seja, assim que o lote foi transferido para a sala
de frutificação, o processo de formação do primórdio foi iniciado, obtendo assim
maior período para abertura do chapéu de 3-6 cm (Figura 9). Os substratos de
silagem de milho e bagaço de cana não apresentaram diferenças estatísticas
entre si.
Apesar do crescimento micelial do resíduo a base de casca de arroz ter
ocorrido de forma satisfatória, o micélio não apresentou vigor suficiente para
padronização na formação dos primórdios, obtendo dessa maneiro o pior
resultado em desenvolvimento.

4.2 Cogumelos frescos

Na Figura 10 estão relacionados os substratos testados em experimentos


com produção na primeira colheita. Após a colheita foram pesados
individualmente de acordo com cada substrato para avaliação da produção de
primeiro fluxo, os parâmetros avaliados variaram de acordo com o início da
emissão dos primórdios. Como observado no gráfico, o resíduo de silagem de
milho obteve melhor produção, com média de 152,8 g cogumelos desenvolvidos.
Os resíduos de bagaço de cana e capim Mombaça não apresentaram diferenças
estatísticas entre si, já o substrato a base de casca de arroz apresentou pior
frutificação entre os lotes.

20
Primerio fluxo de cogumelso 0,18
a
0,16
0,14
ab
frescos (kg)

0,12 ab
0,10
0,08
0,06 b
0,04
0,02
0,00
Casca de Campim Bagaço de Silagem de
arroz mombaça cana milho

Figura 10: Primeiro fluxo de cogumelos shimeji desenvolvidos em cada substrato.

4.3 Eficiência biológica

A eficiência biológica é o método de avaliação quantitativa da produção


de cogumelos, já que na maioria das vezes estes são comercializados in natura.
A eficiência biológica é analisada imediatamente na colheita dos cogumelos
frescos, ela é calculada em função do peso dos cogumelos em relação ao peso
do substrato seco. O melhor desempenho foi dado ao substrato a base de
silagem de milho, os resíduos de bagaço de cana e capim mombaça não
diferenciaram estatisticamente entre si, já o substrato de casca de arroz obteve
o pior resultado para eficiência biológica (Figura 11).

21
18
16 a
14
Eficiência biológica (%)
12 ab ab
10
8
6 b
4
2
0
Casca de arroz Campim Bagaço de Silagem de
mombaça cana milho

Figura 11: Eficiência biológica (%) dos cogumelos shimeji de acordo com cada
substrato.

4.4 Considerações finais

Para a produção comercial de cogumelos Shimeji é imprescindível um


bom substrato afim de obter alta produtividade e baixo custo de produção. A
pecuária é uma das bases da economia da cidade de Barra do Garças MT, desse
modo a obtenção de insumos para produção do substrato é de fácil acesso. Os
resultados obtidos nesse trabalho acadêmico mostraram que a silagem de milho
é mais eficiente para o desenvolvimento do fungo, tal fator deve-se
principalmente a relação C/N do material. A cultura do milho apresenta grande
translocação de nitrogênio nas folhas e colmo, partes que são utilizadas como
substrato para o cultivo de Shimeji, por esse motivo é provável que a relação
carbono nitrogênio do resíduo possua valor mediano e propício para o
desenvolvimento dos cogumelos. Segundo (EIRA, 2004) a relação
carbono/nitrogênio influencia de forma direta na colonização pois o carbono é
fundamental para a estruturação das células fúngicas, a eficiência biológica com
a produção de massa de matéria fresca e até mesmo contaminações do
substrato, caso essa relação seja desbalanceada.
O bom desempenho do resíduo a base de capim Mombaça pode ser
explicado devido a porosidade do material, os desenvolvimentos de hifas de

22
cogumelo possuem melhor desempenho em substratos aerados, as trocas
gasosas são importantes para que o micélio se desenvolva de forma adequada
à medida que absorva os nutrientes presentes no composto.
Apesar do resíduo a base de casca de arroz não apresentar bom
desempenho, sendo utilizado de forma pura devido à alta relação C/N, é
recomendado a suplementação com farelos de cereais ao composto, visto que
irão atuar como fonte de nitrogênio, buscando dessa maneira diminuir a relação
C/N e aumentar a eficiência biológica e produtividade (MODA et al., 2005).

5. CONCLUSÃO

Todos os resíduos avaliados podem ser utilizados como substratos. No


entanto, a silagem de milho utilizada nas condições do experimento, sem
aditivos, promoveu melhores condições para o desenvolvimento do fungo,
obtendo maiores produtividades.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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