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Título: A prostituta e a amante de Júpiter

Autor: Prudêncio Miguel Kiempava

Correio eletrónico:
prudenciomiguekiampava@gmail.com

WhatsApp: + 244 951 072 284

Produção Editorial

Grossular Fields Company

Gerência Editorial

Prudêncio Miguel Kiempava

Grossular Field Company, Luanda • Angola


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Os contos sobre “ARNÍBIA” e “Diário de um vagabundo”, baseiam-se nos famosos


livros de ficção científica da Ex-União Soviética: Cuidado com o canguru de Victor
FIRSOV, Poção de Marte de Kir BULITCHEV e Planeta que nada tem pra dar de
Olga LARIONOVA.

Dedico à Lineth Ventura, Nayara da Silva, Maria Manuel, Júlia Van-Dúnem, Tamires
Afonso, Nicolau de Sousa, Nzola Kiampava e Estanislúcia Bambi, pessoas lindas, por dentro
e por fora.
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SUMÁRIO

Arníbia: A Verdadeira História.............................................. 05

Arníbia: Longe da Imaginação............................................... 28

Diário de um Vagabundo....................................................... 43

A Prostituta e a Amante de Júpiter...................................... 54

O Inferno de uma Fugitiva.................................................... 64

Naufrágio............................................................................... 75
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Prudêncio Miguel Kiempava

ARNÍBIA: A VERDADEIRA
HISTÓRIA
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Jovens com grandes capacidades penetraram nos segredos da ciência.

— Desconhecido

Eu era ainda miúdo quando chegou à Arníbia a primeira nave espacial do


Eta de Lira com seres bizarros a bordo. Que sensação de arrepio! Todos
diziam: "Fronteiras além! Fronteiras além! Viajantes de mundos!

Actualmente conhece-se já um oceano de planetas habitados, todavia


ninguém se admirava de nada. Arníbia era um local que em qualquer parte
poderia se encontrar alienes de mãos-asas e globóides, anfíbios, cristalóides,
insectiformes, cirenes, cilazontes, virados do avesso e, dedilinguados (estes,
coisas inexplicáveis, com os dedos ns línguas).

Compreende-se que todos esses extraarnibianos ou alienes, habitantes da


nossa galáxia, chegaram à Arníbia não para passear pelo luvre ou visitar o
vale dos geiseres arnibianos. Custou-lhes muito adaptarem-se às condições do
planeta: alguns tiveram que transportar consigo tubos de amoníaco ou de
aldeidofórmico para não se asfixiar na nossa atmosfera; os habitantes de
Albireo não saíam sequer dos enormes frigoríficos construídos especialmente
para eles, pois uma temperatura superior a – 120ºC, os desgraçados
simplesmente evaporavam-se.

Pois, foi com essa toda confusão na Arníbia que conheci a Irina, uma jovem
que vivia numa zona montanhosa do hemisfério sul da Arníbia.

Visto no amplo e luminoso écran do receptor de comunicação exterior, a


cidade arnibiana de Kabul parecia ainda mais miserável, especialmente a
parte que se estendia pelo sopé da colina de trideu, onde Irina morava. Aqui
já não se viam templos com imponentes colunatas e praças calcetadas de
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pedra de cor de Marte do sistema solar da Via Láctea, situadas mais acima.
Era também aí que se encontrava um dos lugares mais sódicos da cidade: A
praça.

O comandante da nave onde eu estava, fez um esgar de nojo:

— Porque diabo haviam ido para a praça?

A multidão de Kabul agitava-se caoticamente, parecendo extravasar o écran.

— Mas para quê tanta agitação? – Uma pergunta retórica minha.

Era Irina. Era tão linda que os arnibianos de Kabul pensavam que quando a
vissem vezes e vezes, o planeta seria destruído pelos extraarnibianos de
outros sistemas solares ou então, ocorreria a destruição divinal.

Andava vagarosamente e deixava as pessoas ultrapassarem-na, dando-lhe


encontrões. Todos quanto cruzavam o olhar com o dela, ficavam
surpreendidos e viravam-se para a examinar melhor.

O que a torna tão diferente das outras mulheres? Talvez ela própria nem se
dê conta disso.

Na aurora da era cósmica, vários escritores da Arníbia costumavam a


descrever guerras interplanetárias, invasões monstruosas dos Canopeus da
Via Láctea, conquistas de uns planetas por outros. Pensar-se-ia que toda a
galáxia e além-fronteiras estivesse habitado por quadrilhas de bandidos,
vândalos sanguinários que sonhavam apenas com a escravatura ou o
extermínio uns dos outros. Tudo isso são patranhas! Qualquer ser racional
(mesmo que tenha dedos na língua ou asas como as borboletas) quer viver
em paz e amizade, e ninguém intenciona agredir outrem.
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Na praça dizia-se:

“Amigos da Arníbia, temos produtos de mercadorias de todos os cantos da


galáxia e além-fronteiras. Vendei-nos os vossos e vender-vos-emos os nossos
também".

— Óbvio que, entre os extraarnibianos e arnibianos de Kabul apareciam


aldrabões, mas isso está sempre presente no comércio. Como se diz, mete-te
em negócios, mas não abras a boca.

II

Irina foi salva pelo comandante. Entrou na nave e ficou a olhar para mim
com uma túnica arníbica na cabeça, como se já nos conhecêssemos. Parecia
irritada com a minha presença (pelo menos assim eu achava). Quanto ao
resto ela era pacífica e correta; resistia passivelmente sem dar muito nas
vistas. Parecia uma boa altura para o sombra intervir: sim, ele alcançou-nos
e, fazendo se passar por cego, empurrou o velho Alii, de barba ruiva. Este dá
um trambolhão e, antes que se levante, Irina escapa por uma brecha do
muro metálico da sala de controlo da nave.

Saímos da praça em direcção à Kil-kabul, uma ilha habitada por arnibianos


centauros.

Mas a pergunta que me seguia sempre era: por que razão Irina era o motivo
da destruição de Arníbia? Tenho a sensação de nunca me esquecer daquele
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estado de alegria alarmante que se apoderou de mim quando ela olhou pra
mim irritada.

Irina levantou-se cedo e disse: “o fim está próximo e Arníbia será destruída
se eu continuar aqui convosco.

— Porque é que dizes isso? – perguntei.

— A minha visita aos monumentos da praça foi pura casualidade. –


respondeu ela.

Não entendi absolutamente nada. Baixei a cabeça para olhar no chão negro
da nave. Tinha que prosseguir com a conversa mas sem mencionar mais nisso
de “destruição”:

— Hã! É isso. Então, me fazes companhia hoje? – perguntei.

— Claro. Sabes, sou arnibiana de ascendência geana. Minha mãe era de Gea e
meu pai arnibiano. Meu pai nasceu no décimo mês do calendário arnibiano,
no penúltimo dia, e minha mãe, também nasceu no décimo mês do calendário
geano, no antepenúltimo dia: há uma profecia muito antiga que diz, filhos de
pais do mesmo mês e ano interstelar da galáxia, são sinais de destruição em
massa de qualquer planeta do nosso sistema solar, do qual Gea também faz
parte. – disse ela.

— Sim. – respondi num tom amedrontado. Tudo isso era incrível! Acho que
ela não se cansa de falar, apenas pedi uma companhia. – pensei.

— O comandante mandou-nos até à sala de controlo 2.1. – disse o velho Alii


num tom de bêbado. Parecia ter bebido cinquenta garrafas de vinho de
Kil-kabul.
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O comandante “dirigia” na altura o departamento de identificação da


divisão cósmica adjunto ao TERMEN (digo “dirigia” porque depois daquele
sarilho com a Irina, ele infelizmente teve de deixar o cargo).

Saudou-nos e começou a contar umas histórias esquisitas, flamejava os


olhos só de recordações, deduzia-se à descida do elbrus do TERMEN, era a
impressão mais forte de sua vida. O comandante deixou-se cair na poltrona
e abriu a pasta com as amostras. Se tivesse direito a sentir-se cansado,
confessaria a si próprio que estava realmente exausto. Toda a sua vida fora
uma sucessão de reveses, a começar pelos grandes empreendimentos
fracassados (nenhuma das expedições sob o seu comando dera resultados
positivos) até ao azar que o perseguia diariamente.

Sombra (animal de pelo espesso e preto) entrou na sala: as suas garras


arranhavam o revestimento metálico produzindo sons estridentes. Erguido
sobre as patas traseiras, teria a estatura de um arnibiano. Avançou para a
Irina, abanando compassadamente a cauda e deixando cair gotas de saliva
no chão reluzente. Ao acercar-se da rapariga, estacou sem se dignar de
levantar o focinho. O comandante permanecia em silêncio,
contemplando-os. Uma sensação vaga de angústia que emergia súbita e
inesperadamente do fundo do seu subconsciente invadiu-o todo.

Depois do episódio vivido, Irina, eu, o sombra e mais o velho Alii, saímos da
nave. Saímos de noite para que nenhum arnibiano centauro notasse a nossa
presença na ilha. Ao chegarmos numa aldeia, quatro soldados corriam atrás
da Irina. O seu tropel semelhante ao bater dos cascos de um cavalo,
aumentava ouvindo-se cada vez mais perto. O medo vinha de longe, de todos
os lados ao mesmo tempo, como se tivesse subido do horizonte e cingido,
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num ápice, o espaço à volta da Irina como um campo de força que


utilizavam para se defender. Mas desta vez nada a protegia e, pelo contrário,
sentia o cérebro paralisado e o sangue estagnado nas veias; algo a impedia
fazer qualquer coisa de inconcebível, irracional. Por exemplo, gritar, ou
atirar-se ao chão. De repente, lembrou-se da própria palavra —uma simples
combinação de sons — e a sensação de pânico que experimentava
extinguiu-se, pondo fim ao caos na sua cabeça. Recuperou a serenidade e
sentiu-se mesmo um pouco envergonhada com o facto de se ter rebaixado a
reagir como se fosse uma arnibiana, igual àqueles selvagens, cujo
comportamento obedecia não à razão, mas a instintos irracionais. Aquilo que
se sucedera parecia-lhe incompreensível com a mentalidade de uma geana.

Era o medo, o medo animal gerado pelo instinto de conservação que a fazia
fugir em pânico –medo dos passos pesados nas suas costas, medo do tinir das
espaçadas, medo da respiração sibilante dos soldados arnibianos que sorviam
sofregamente ao ar húmido da noite. Enquanto corria pelo caminho sinuoso,
riscando pelas sombras das árvores, não era nem uma geana, nem uma
arnibiana, mas sim uma pequena menina assustada.

De repente Alii apareceu com uma arma paralisadora de raios gama e atingiu
os quatro soldados. E agora com os soldados paralisados e ofegantes tudo
estava sob controlo. A respiração é bem visível nos arnibianos. Normalmente
dilata-se apenas um pouco a parte superior do torso e entreabrem-se os
lábios. Mas estes respiravam com o corpo todo: o ar escapa-se-lhes da
garganta com um gorgolejar rouco e espasmos nervosos sobem da
extremidade dos membros até à barriga. Depois, o peito dilata-se
subitamente e o queixo quadrado descai. De quatro em quatro sorvos
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sibilantes todo o corpo desfalece numa expiração dolorosa e os músculos


quase descaem da estrutura óssea.

Serão mesmos guerreiros, arnibianos treinados para suportar sobrecarga?


Talvez tenham corrido mais depressa do que era necessário.

— Eles te magoaram? – perguntou Alii.

— Não, nem por isso! Obrigada pela ajuda. – respondeu Irina.

Lembrou-se com desgosto do animal de pelo preto que a acompanhava.


Quando ela entrou numa taberna, o sombra ficara a sua espera na rua
fracamente iluminada de pirita acesa de Kil-Kabul. Não o encontrou ao sair.
Devia ter se escondido algures, pois não muito longe dos outros arnibianos
que tinham armado uma cena de pancadaria, atingindo uns aos outros tudo
o que calhava: pedra, lama, ossos apanhados numa lixeira que, por azar, se
encontrava ali perto. Ao repararem na Irina, cessaram de brigar e
puseram-se a correr ao seu encalço. Depois de terem percorridos algumas
vielas escuras, acabaram por sair da aldeia. A Irina via-se obrigada a fugir
para o lado do mar. O sombra não aparecia.

Porque razão a tinham perseguido se não se atreviam a aproximar-se?

— Que fazer: tentar com eles? Voltar-lhes as costas e recomeçar de novo a fuga,
ou, melhor, ligar o levitor (nave) e elevar-se no ar? – Sentia-se indecisa quanto
à solução a escolher, mas continuar imóvel tornar-se-lhe-ia cada vez mais
impossível. Afinal de contas, era estúpido.

Eu e o velho Alii andávamos a procura de pistas para saber o motivo daquela


perseguição. Logo depois, deparamo-nos com o sombra e com a Irina.
Abraçou e beijou-me à boca. Parecia esquisito, mas me deixei levar!
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Os arnibianos voltaram-se subitamente, mas já era tarde demais: o sombra


deu um salto e foi parar ao pé da Irina. Os quatro soldados caíram por terra,
estendendo-se ao comprimido e tremendo convulsivamente. Por cima do
ruído do entre chorar dos seus dentes ouvia-se a pronunciar hékame, palavra
desconhecida para nós. Depois, a agitação dos membros converteu-se em
movimentos nervosos e lentos: recuavam de rastos, sem levantar as cabeças,
na direcção de um bosque próximo.

Uma nuvem cobria a lua e na escuridão que se seguia ouviam-se o tropel da


de bandada geral. Os papéis tinham-se invertido: eram agora os
perseguidores que fugiam. Momentos depois, a lua voltara a aparecer,
embora lentamente, muito mais lentamente do que quando se escondera.

Os dois que haviam ficado na praia quebraram finalmente a imobilidade. A


rapariga baixou a cabeça e olhou para o sombra. Prontos, acabara-se, o
regulamento não fora infringido e podíamos regressar à nave e apresentar o
relatório ao comandante.

Sombra ergueu o focinho e estremeceu num arrepio de nojo. O seu pelo


eriçara-se e perdera o brilho. O perigo passara, mas o preço de quantas
asneiras! E não havia maneira de silenciar o que acontecera.

Quando chegámos à porta da nave, Alii entrou piscando-me o olho e chamou


o sombra. Este, entrou velozmente. Eu e a Irina ficámos. Perdidamente
apaixonei-me por ela e ela por mim, mas me faltou coragem de confessar os
meus sentimentos. Avançou em minha direcção e disse que começara a
gostar de mim. O comandante escutava tudo o que ela me dizia atentamente,
deixando pender a cabeça… ele estava farto daquele planeta absurdo e
caótico. Hahah!
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III

Irina era tão linda, ficava sem jeito sempre que metia conversa comigo.
Como soavam bem aquelas palavras: “a imensidão do espaço, o seu lar e sentir
que ela me amava!” Mas não era ainda altura para ceder a tais desejos.

No dia seguinte, cedinho, o chefe mandou-nos chamar. Perguntou o que se


sucedera no dia anterior. Explicámo-lo tudo. Mais tarde levantámos o voo e
saímos de Kil-kabul. Fomos para Nii-Naa, um outro continente, situado no
hemisfério norte da Arníbia. A viagem durou cerca de quatro dias, chegámos
de noite. Na manhã seguinte, Alii acordara muito bem-disposto. Estava de
bom humor porque ia descer pela última vez para as terras de Nii-Naa.
Terras desvairadas, mas encantadoras.

Alii era velho e experiente. Por uma questão de hábito, tomava sempre por
modelo um aborígene de idade avançada e corpo débil. Se o planeta que
explorávamos houvesse aborígenes, havia possibilidades de imitar o seu
aspecto. Alii sabia perfeitamente que era tido por um dos melhores
exploradores do TERMEN e ria-se disto dissimuladamente. De resto, ria-se
consigo absolutamente de tudo, e em primeiro lugar dos seus companheiros.
Não tomava a sério o comandante, exigente e extremo em relação a si mesmo
e aos outros. Quando todos levantaram, o comandante mandou ir para a
região de Remizâng à procura da aranha-azul. Como era natural, o velho Alii
tinha a reputação de perito na psicologia dos racionais que encontrara
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noutros mundos. Acrescenta-se ainda que não lhe custava nada sustentar a
reputação.

Do que pude ouvir sobre Arníbia, é que noutrora existia uma guerra entre
Shyrak e seu meio-irmão Pôum. ambos foram criados para manter a ordem e
tranquilidade nas noites de Arníbia. O primeiro, representava a lua maior e o
segundo, a lua metade de sangue.

Pôum teve uma noiva em Gea, mas da qual ninguém sabia. Num dia
daqueles, sua noiva visitou Arníbia. Concebera e dará luz à Irina.
Passaram-se meses e o conselho de deuses da Arníbia e de Gea soube do
sucedido. Disso, Shyrak irritou-se bastante. Envergonhado, mandou destruir
Gea por completo. Ora, quando o seu meio irmão soube da destruição,
procurou vingança. Foi então o início das derradeiras guerras entre os dois
deuses-guardiões da noite.

A lenda dizia ainda que a menina de que a noiva de Pôum dera luz, seria a
causa da salvação e destruição da Arníbia. Pôum, muitas vezes vencera as
batalhas, mas nunca chegou a conhecer Irina. Envergonhado pelas derrotas,
Shyrak desaparecera da galáxia e até hoje ninguém sabe do seu paradeiro.
Mas há quem diga que um dia ele volte e roube a paz e a tranquilidade da
Arníbia.

— Irina, ele sabe da sua existência? O seu pai. – perguntei.

— Sim. Ele sabe. – respondeu Irina.

— E porque é que não te vem procurar? – insisti.


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— Porque no dia em que ele me encontrar, reza a profecia que Shyrak


retome ao planeta e, isso ninguém quer. – disse ela.

Naquilo, chegou o sombra, uivando...

— Desgraçados e infelizes, encontrei a aranha azul. – Berrou o tarado Alii.

Alii era a sabedoria e experiência da nave tripulada pelo comandante.


Todavia, era ele quem realmente mandava, até ao comandante ele mandava
quando quisesse.

Encontrámos a aranha-azul, a nave veio a nossa busca e montes de relatórios


foram dados ao comandante. Pôum acompanhava tudo a distância, inclusive
todos os passos da Irina e da tripulação; enquanto Shyrak espera com
expectativas um reencontro entre pai e filha.

Por enquanto, tudo corria bem. Era agora necessário ter muita paciência e
esperar que um ciber-transportador da nave abrisse a porta. Do lado de fora
ouvia-se um ligeiro ruído.

Houve uma vez em que Alii e Irina enganaram o comandante. Surpreendeu a


facilidade com que fez o comandante cair na armadilha. Foi tão fácil como se
alguém tivesse ensinado de antemão, como devia proceder. Extraordinário!
Era uma coisa insólita, inacreditável, que um explorador enganasse o seu
comandante, mais tarde o comandante apercebeu-se do que sucedera.

Sempre gostei de aventuras, explorar Arníbia enquanto tripulante me fez


crescer imenso, aprendi a valorizar este mundo apesar do seu povo e
costume; não tenho a certeza se quero ficar aqui para sempre, mas e se eu
partir?! Voltarei a sentir a mesma euforia de sempre?
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Conhecer Arníbia fez-me lembrar que todo ser vivo merece uma casa. Uma
vez ouvi dizer que os impérios do futuro seriam impérios da mente. Logo
isso! Vim a pensar durante o trajeto da nave para aqui. Está certo quem
assim o disse, de certeza que foi alguém de grande valor para o seu povo.
Arníbia pode ser com certeza o centro do universo, mas falta muito para isso
acontecer.

Irina é perigo não só para a tripulação como também para mim, em


particular. Se ela encontrar o pai tudo de belo que há nesse mundo some num
piscar e abrir de olho. É necessário prudência, muita prudência!

Donde eu venho, o dinheiro é muito valorizado. Certa noite estando eu numa


das cidades de Arníbia, entrei num café pequeno para comer um pouco. Um
jovem arnibiano barbudo, vestido com um traje azul de terylax, tocava
violão e cantava uma canção antiga da qual chegaram aos meus ouvidos as
seguintes palavras: "dinheiro, dinheiro, dinheiro por todas as partes..."
aguardei até que as raparigas terminassem de aplaudir o cantar e dirigi-me a
ele:

— Acaba de cantar sobre o dinheiro. Queira explicar-me o que é isso para si?

O jovem encolheu os ombros surpreendido:

— Não faço uma ideia bem clara. Ouvi dizer que noutros planetas e noutras
galáxias havia gente que utilizava, antigamente, tais estimulantes de bom
humor. Fabricavam-nos em forma de bolachas pequenas, um corpo de prata
ou de ouro. O campo psíquico de tal aparelho era muito fraco, por isso cada
pessoa procurava a maior quantidade possível delas e levava-os sempre
consigo.
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— E depois deixaram de produzi-los. – Interveio uma das arnibianas. Uma


saskit de olhos café, vestida de sari vermelho. – A gente aprendeu a criar o
bom humor sem quaisquer estimulantes.

— E eu ouvi dizer que existia dinheiro leve, em esquemas impressas. – disse


outra rapariga.

Todos eles eram muitos novos, sadios e felizes. Para o bom humor não
precisavam de estimulantes. Mas a sua ignorância absoluta numa questão
em que o tempo era vital para eles deixou-me atônito. Esforcei-me por
explicar-lhes o problema, mas deram-me pouco crédito.

— Jamais acreditarei que uma pessoa não tivesse o direito de comer e vestir
o que quisesse apenas por não possuir certos papeluchos. – Sentenciou a loira
da túnica dourada e, zangada, bateu no chão o pé bronzeado. – Jamais
acreditarei.

— E se ela tivesse uma fome canina? – perguntou o rapaz de Marte da Via


Láctea.

— Podia mesmo morrer de fome, mas era-lhe impossível comer sem dinheiro.
E aquela gente que tentava apanhar algo grátis, era encerrada vários anos
nuns quartos especiais ou mesmo morta.

— Você conta coisas inverosímeis. – responderam os jovens arnibianos que


estavam ao pé de mim. — Estamos com sorte de já não existir esse maldito
dinheiro!

Na verdade, já houve dinheiro na Arníbia, mas já havia dez séculos que não
existia dinheiro nenhum. Contudo devido ao fomento impetuoso do comércio
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interplanetário, impunha-se inventá-lo de novo. Certeza absoluta, a tarefa


não foi nada fácil.

Saindo do café dirigi-me até a floresta aonde encontrámos a aranha azul,


olhei as estrelas do céu claro, e sorrateiramente Irina apareceu à minha
destra e riu -se!

— Tudo bem? – perguntou.

— Estou bem. Como te sentes sabendo que eu posso ser o passaporte da tua
salvação aqui? — perguntei em forma de quem não quer saber de nada.

Espantada, olhou-me profundamente nos olhos e disse: donde vens e para


onde vais?

— De onde eu venho não interessa saber, mas para onde eu vou, te quero
levar comigo.

— Sabes que é quase impossível sair da Arníbia sem a autorização do


comandante, não sabes?

— Sei sim. Mas por ti sou capaz de tornar o impossível possível.

— Quem ensinou-te a falar assim tão lindamente?

— Aprendi com os sábios. – respondi.

— É mais fácil obter o que se deseja com um sorriso do que a ponta da


espada.

Ri–me daquilo e disse assim bem baixinho para ela: se um dia tiver que
escolher entre o mundo e o amor lembre-se que se escolher o mundo, ficará
sem amor, mas se escolher o amor, com ele, conquistará o mundo.
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— Se quiser muito, muito mesmo, algo, deixe ir. Se voltar para você é porque
é seu para sempre. E se não voltar, é porque nunca foi seu.

— O que queres dizer?

— Quero dizer que a liberdade absoluta se conquista pelo amor: só o amor


liberta o homem da sua natureza e expulsa o animal e o demónio. – Irina,
amo-te.

– Conquiste-me; não adquira; quero ser teu bem; não um dos teus bens. O teu
sonho de amor, não de consumo.

— Irina, não existe amor impossível. Só existe amores difíceis de conquistar.

— Kir, o amor conquista todas as coisas.

— Se o meu amor não for o suficiente para te conquistar, não deixes que
meus lábios toquem os seus, pois, estes sim serão impetuosos e hão de
cegar-lhe de paixão.

Ela sorrindo e distraída, aproveitei provar seus lábios, que por aí não
encontrei até agora!

— Afinal! É esse o trabalho que fazem?! – Gritou Alii. (Que tarado! Um


velho destes sem nada a fazer e vivendo a espionar os outros como se fosse o
007!).

— O que está a se passar. – chegou o comandante.

Provavelmente o nosso castigo seria limpar toda a nave! Que honra


horrorosa!
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Na manhã seguinte, todos estavam felizes. Aproveitei a ocasião para falar ao


comandante sobre os dois deuses. O sombra não parava de uivar; saltitando,
ia de um canto para outro. Alii com suas maluquices, tropeça num
dispositivo e misteriosamente aparece um holograma:

“… se estiverem a ver isso é porque estão perto de terminar a vossa missão na


Arníbia... (e um monte de blá-blá-blá) ... Para isso têm que encontrar Pôum e
pedir a chave do planeta.”

— Prontos para a missão? – dirigiu-se ao comandante procurando


desembaraçar-se de Tubir–tsiop.

Sombra sacudiu a cabeça, produzindo com a goela um grunhido ininteligível


e contraiu nervosamente uma pata dianteira (isso significava sinal de
armadilha e perigo).

— Não, ninguém irá para esta missão! – disse o comandante. – É claro que
isso é uma armadilha, pois, se chegarmos perto de Pôum, Shyrak aparecerá.

— Faz todo o sentido. – concordou Irina.

— Tenho um plano. – riu Alii. — Se é isso que o holograma quer, então


façamos o que ele quer, mas do nosso jeito!

— Como assim? – perguntei

— Faremos um vídeo em que o comandante far-se-á passar de Pôum.


Daremos um disfarce perfeito e enviaremos a partir deste link aqui que
aparece junto do dispositivo. – disse Alii.

Durante a noite, viajámos sem parar e gravámos cenários importantes em


cada local exótico até chegarmos à ilha de Tubir–tsiop, aí se situava a floresta
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de Merghil e no seu interior encontrava-se o grande templo de Merephy, de


Pôum. Quando chegámos tivemos de manipular os guardas e atrair Pôum à
uma armadilha que o fez sair de Tubir–tsiop.

Tudo estava indo conforme planeado. Tudo foi gravado. Irina acedeu ao link
do holograma e enviou o vídeo. No momento estávamos a correr um grande
perigo porque de certeza, cedo ou tarde, o TERMEN descobriria o plano e
seríamos mortos.

Abandonámos Tubir–tsiop. Finalmente sairíamos daquele planeta!

Na Arníbia o amanhecer era sempre muito rápido, o dia nasceu num ápice.
As aves domésticas se ouviam em vários pontos da ilha–cidade, anunciando
a alvorada. Na Arníbia tudo era diferente. Logo no primeiro dia da sua
permanência no planeta, Irina compreendera que os seus habitantes
necessitavam uns dos outros, procuravam-se mutuamente, guardando-se na
sua escolha por um livre critério. Mas não era só isso que lhe excitava a
curiosidade. Cada arnibiano que lhe de parava pelo caminho mostrava-se
desejoso de possuí-la. Quando fez esta descoberta ficou estupefacta e chegou
até a pensar em procurar um refúgio, guiada pelo instinto de conservação.

IV

Na nave existia um ciber-computador que recolhia informações sobre os


arnibianos para que os tripulantes pudessem imitá-los afim de sair em
missões. Irina observou uma estátua arnibiana e propôs ao comandante
escolhe–la como modelo. Não! Pensando bem, era uma suposição
improvável: se quiséssemos sair de lá, o ciber-computador tinha que
programar uma imagem explícita. O programa deles era bastante explícito:
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na base de dados sobre as mulheres da cidade, se utilizara imagem duma


jovem, cujo aspecto satisfaça requisitos dos arnibianos. Desse modo, o
modelo elaborado pelo ciber- computador não era uma média entre muitas
arnibianas concretas. Aquilo que os indígenas consideravam um defeito, uma
imperfeição física, não se levava em conta no processo de síntese de modelo.
Por essa razão, Irina surgia a um arnibiano como a rapariga mais bonita que
ele podia imaginar. Igualmente pela mesma razão o sombra era um cão
exemplar, e o Alii, o mendigo mais miserável de toda a cidade.

O plano de Alii e do comandante funcionava, logo o TERMEN nunca


notaria o nosso sumiço. Para isso tive que programar bem o
ciber-computador para que os nossos clones fossem impecáveis. Foi então
que viera o comandante com um novo discurso sobre a Arníbia. Reparou
logo que a Irina tinha feito um novo vestuário, mas esta recusou-se a dar-lhe
a melhor explicação para o facto.

O comandante discursava sobre mundos dominados e conquistados pelo


TERMEN, sobre a imensa vastidão do espaço, todavia, frases como aquelas
só despertavam nele o desejo de sair da Arníbia.

O dia nascera. O sol devia estar a despontar os cumes das montanhas mais
próximas. Lá fora, do outro lado do muro, alguém começou a gritar numa
voz estridente. Ela não percebeu as palavras, devia ser um forasteiro.
Tínhamos de nos apressar.

— Ouvi vozes estranhas lá do outro lado do muro. – disse Irina.

— Quem será? – perguntou Alii.


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— Não faço a mínima ideia. Mas penso que temos de sair já daqui. – outra
vez disse Irina.

De certo que estava na hora de partir. Às três e um quarto da tarde, a nave


estava pronta para levantar o voo. Mas aonde se metera o sombra?

Fui à sua procura pelo outro lado do muro e apercebi-me que ele estava
transformado num ser bípede, um lobisomem (esta era a sua forma original).
Veio ter comigo:

— Não te assustes Kir. – disse ele.

— Não estou assustado, apenas, um pouco perplexo. Nunca me passou pela


cabeça que falasses. – respondi-lhe.

— Claro que falo. Mas agora não tenho tempo para explicar. Vamos sair
daqui. – disse ele.

— Porquê? – impetuosamente perguntei.

— O TERMEN está aqui a nossa procura e temos de colocar já os clones


naquela nave naufragada aí ao lado para que os empatemos e tenhamos
tempo de fugir. – disse ele.

— 'Bora lá!

A tripulação veio ajudar-nos e todos em conjunto remodelámos a nave e,


colocámos nela os clones. Depois disso, fomos para a nossa nave e pusemos o
modo da invisibilidade para que ninguém notasse a nossa fuga e nem o som
da nave.
25

Estávamos na atmosfera da Arníbia. O motor roncava, o vento estava menos


forte, aqui de cima dá para reparar a beleza de toda a Arníbia, o sol
mostrava os seus raios diagonais de cima de pinheiros azuis. É uma tarde de
um raro silêncio. Pela frente, dois dias de descanso – pode-se não pensar em
nada, só se alegrar com o sol e o murmurar abafado das ondas.

Poder-se-á julgar um vencedor? Pois, se houver êxito, será não um


sucedâneo, mas sim um sentimento autêntico– omniconquistador.

Aqui me apanho numa mentira primitiva. O egoísmo de um namorado e a


jactância de um investigador– eis o que me estimula. E todos os meus
raciocínios servem-me apenas como um biombo com que pretendo encobrir,
de mim próprio, algumas qualidades minhas não muito atraentes...

Todos nós olhávamos para as janelas e sentíamos dentro de nós mesmos a


força misteriosa que há bem pouco não nos inspirava.

Finalmente, saímos do planeta 0450789AB – Arníbia, tal como era conhecido


pelo TERMEN; não sabemos ao Certo o que realmente nos acontecera lá,
mas foi misterioso. Tivemos de conviver durante quatro anos com seres de
diferentes partes da galáxia que comercializavam nas cidades e nos mercados
da Arníbia.

No espaço vastuoso, olhei fixamente para a Irina e pensei: o amor é a maior


felicidade doada exclusivamente ao homem, mas muitos passam toda a vida
sem conseguirem prová-lo. Não falo do problema "ama – não ama", do amor
não correspondido, infeliz porque mesmo assim se trata de amor.
26

Naturalmente o amor correspondido é sempre melhor. Mas refiro-me aos que


passam toda a vida sem terem sabido que existe algo maior que a realização
das variadas necessidades do homem, tanto fisiológicos como espirituosos:
comer, beber, dar à luz filhos, praticar desportos, colecionar selos ou obter
êxitos na carreira. Tais pessoas são míopes espirituais. Para estas não
existem as cores do amor e nem supõem que tudo pode ser diferente.

Depois daqueles todos pensamentos, abri meus olhos e ganhei a coragem de


falar com Irina. Fiquei sem palavras e procurava em mim formas e frases
para não parar de falar na frente dela. Ela sugeriu que fôssemos dar um
passeio pelos compartimentos da nave... fomos a um lugar chamado Arnip
Liberum, em português é "viver livre".

— Porque é que estás calado? – perguntou ela em voz baixa, passando um


milhão de anos, o seu rosto já não sorri. Senti um aperto no coração ao ouvir
tais palavras.

— Nada! Vais compreender assim.– disse eu.

Ri-se Irina e o seu sorriso parecia um alegre gotejar de primavera. O universo


de fora, parecia misterioso, e estando com ela, ao pé de mim, parecia ser o
homem mais feliz naquele momento. De um jeito mágico, houve o beijo de
cinema!

Óbvio que ela me amava.

Alii como sempre observava tudo e desta vez, o velho tarado não estava
sozinho: o comandante, o sombra e toda a tripulação espreitavam-nos!

— Desculpem por interromper o momento dos pombinhos, mas agora quero


todos na sala de reunião. – disse o comandante.
27

A nossa missão na Arníbia terminara e quanto a mim, a Irina, ao Alii, ao


comandante, ao sombra e companhia, estávamos prestes a entrar no livro de
piratas espaciais procurados pelo TERMEN. Ninguém se importava com o
título, nosso desejo era agora explorar a galáxia e além fronteiras e, seus
tesouros. Planeta a planeta, lua a lua, buraco negro a buraco negro. Era esse
o nosso desejo, explorá-los a todos sem a autorização do TERMEN.

É disso que nos ocupamos. Os nossos laboratórios estudavam o místico como


uma forma especial de atitude para com os objetos e os fenómenos da
realidade, condicionada pela correspondência ou não às necessidades
galácticas.

Não se pode dizer que a aventura na Arníbia acontecera por casualidade.

Fim
28

Prudêncio Miguel Kiempava

ARNÍBIA: LONGE DA
IMAGINAÇÃO
29

“Requer prática para se chegar à experiência."


— Desconhecido

Ter a plena certeza de que tudo não passa duma ficção, de um romance ou de
uma aventura épica... Se assim for, então a minha jornada até aqui terá sido
em vão?

Ter a plena certeza de que estamos vivendo num mundo onde quem tem
mais é quem manda e quem pouco tem sofre ou rouba de quem mais tem,
num mundo onde as pessoas são o que querem ser e não o que suas origens as
definem. A mais cruel das maldades está instalada no nosso ego, lá bem no
fundo. Ego este que nos torna tão fortes por fora e tão fracos e vazios por
dentro.

O colapso de uma nação anfitriã, mãe das civilizações modernas. O colapso


de um centro cultural. O colapso do berço da tecnologia! A existência somos
nós e não as coisas que criamos. Se não existíssemos, elas seriam irrelevantes.

Uma palavra! Uma palavra estranha. Talvez Arníbia. Parece lógico! Existe?

Talvez exista. Todavia é um nome estranho.

Queria que pensassem como eu, agora, do jeito que encaro a realidade. Não
essa realidade — uma realidade para além do espaço e do tempo.

Mais uma vez uso a mesma palavra "Arníbia".

— O que se passa? Porque é que a repito vezes e vezes?

Um conto sucedâneo daquela que parecia ser uma civilização. Uma


civilização evoluída e igual a Roma antiga. Uma civilização que exista para
30

além da imaginação. Uma civilização que nem sei se de facto foi erguida com
ouro. Ouro e prata.

Ao entrar pelas portas da minha imaginação, vejo uma estrada vermelha que
atravessa as constelações e cinturas de asteroides... uma estrada que me
conduz à Arníbia. O planeta. O planeta Arníbia. Parece um local calmo,
calmo demais para o meu gosto. Arníbia. Falo sem querer este nome e
sempre que não quero, imagino-me na linha de frente defendendo-a, a si e a
grande civilização.

Estou na Terra e não na Arníbia. Estou a mil milhões de anos – luz da


Arníbia. Estou na Terra e o normal já se tornou costume. A ficção científica
estimula a minha mente, o romance o meu coração e a aventura o meu
espírito.

— Tenho tanto que fazer amanhã! Tenho uma palestra na agência Espacial e
quando penso que o normal é o costume, quanto mais penso nisso, mais
distante fico da Arníbia.

Mas a ficção científica tem características mais cativantes, é a negação da


mesquinhez e a grandeza dos gestos e actos. Ela ajuda o homem a transpor a
fronteira do quotidiano, indo ao encontro da sua vontade de executar arrojadas
empresas e projetos de grande envergadura. A ficção científica é um poderoso
incentivo para a imaginação, na medida em que destrói os estereótipos, habitua
as pessoas a não temer a palavra << impossível >>, ensinando a ver as coisas
numa perspectiva inabitual. Essa ideia já obteve a sua confirmação
experimental. Uma série de testes efetuados por cientistas permitiu comprovar o
seguinte: os engenheiros que leem regularmente obras de ficção científica
assimilam e aplicam melhor os métodos heurísticos.
31

A ciência moderna tornou-se extraordinariamente abstrata. Por exemplo, é


impossível dar contornos ao movimento do eletrão ou habituá-lo à ideia de um
tempo variável. Transformando as fórmulas e equações em imagens frescas e
palpáveis, o escritor de ficção científica torna-os mais acessíveis aos leigos e leva
os leitores a comungar de importantes ideias da ciência.

Há necessidade de ordem emocional que só a ficção científica pode satisfazer.


Quem não se imagina no lugar dos seus heróis que vivem empolgantes aventuras
em planetas remotos, dando provas de grande valentia e capacidade
extraordinária? As pessoas parecem ter uma propensão natural para o romântico
e é por isso que mergulham com tanto gosto na leitura de obras do gênero. Não
será correto, a meu ver, considerar infantil esse desejo de praticar proezas e
desvendar mistérios, identificando-se com as personagens da ficção científica.
Além do mais, os homens são curiosos e sempre sonharam penetrar no futuro
longínquo. Claro que essa curiosidade não pode ser saciada em termos práticos.
Todavia, há um meio de resolver a contradição. Um futuro que ainda é
insondável para a ciência já se vai materializando nas páginas da ficção
científica graças àquilo que os cientistas denominam por experiência mental.

Em qualquer coisa, na prática podemos começar por reproduzir mentalmente as


condições de experimentos e chegar a uma conclusão prévia. É o que fazem os
escritores que descrevem o mundo futuro, insuflando-lhe vida com esforço de sua
imaginação.

Entrando novamente pelas portas da minha imaginação, vem a palavra


Arníbia. Talvez seja um equívoco ou talvez esteja a delirar, não sei ao certo a
que realidade pertenço! Será o universo tão místico? Bem, se assim for o
vazio completa a minha existência.
32

Foi uma loucura visitar a agência espacial, um sonho tornado realidade. A


euforia de ver aquelas naves em filas ordeiras, suscitou e espantou a minha
imaginação e compreensão a cerca do cosmo.

Quatro anos se passaram desde que visitei a agência espacial; há um ano que
estou nessa nave, vagando no vazio do cosmo. Não era o único lá.

Quando nos aproximamos da cintura de asteroides de Júpiter, fomos sugados


por um buraco negro até a uma outra galáxia. Digamos que existe
teletransporte, rápido, ágil, mas dificilmente seguro. Vagamos por diferentes
pontos daquela galáxia. A Via Láctea está para além da nossa imaginação,
nem a comparo com a Andrômeda e tampouco com as demais galáxias
próximas a ela.

A galáxia recém-descoberta possuía um par de sistemas solares distintos e


uma central, formada por diferentes planetas rochosos e gasosos. Arníbia,
Arníbia. Era no que mais pensava e por tão pouco tempo, estava prestes a
tocá-lo.

«"O que é o princípio da Pátria? É um desenho no teu abecedário..." E o que é o


princípio da vida de um homem? Talvez o primeiro olhar que lança a um mundo
totalmente desconhecido, descobrindo a cara de alguém que se inclina para ele.
Ou o som das vozes, ainda ininteligíveis, que ouve em resposta ao seu primeiro
grito».

Navegámos e navegámos até ao ponto mais brilhante daquela nova galáxia.


Era o sistema solar do Planeta da minha imaginação (Arníbia).
33

Eu apanhava tudo admiravelmente e gravava novos conceitos na memória


de uma vez para sempre. Só a falta de método e de experiência tratava a
minha instrução.

Um planeta estranho, mas igualzinho à terra...


Aterramos nela. Tudo nos era diferente e novo, havia gente habitando o
planeta –os arnibianos. Estes eram seres bípedes que possuíam
características idênticas a dos humanos, mas muito mais evoluídos
mentalmente, dominando a telepatia e possuindo uma linguagem estranha e
antiga, semelhante ao grego antigo.

Claro que é possível ensinar um idioma sem recorrer à tradução para a língua
materna. Mas a língua materna desempenha sempre um papel de um valioso
ajudante, impossível e inaudível, pois a pessoa já tem todos os conceitos
definidos, embora formados com outras combinações de sons.

Passados dois meses, dominávamos bem a língua.

Arníbia era um planeta quase impossível para mim enquanto terráqueo e


lógico, em dedução de conceitos de evolução. Mas que existia algures na
minha imaginação. Este talvez seja um novo conceito, tudo quanto
imaginamos existe, não na terra, mas algures nesse vasto universo.

A memória era para mim a maior dádiva do destino associada à imaginação e


ao mesmo tempo um instrumento com o qual explorava a Arníbia.

II
34

A civilização Mapir-kir tal como o Império romano, dominava a maior parte


da Arníbia e estávamos à 12 horas de lá. Miliça, Chris, Zöe e eu, Kir, éramos
os primeiros vialacteanos a chegar até Keizer, a galáxia da Arníbia.

O passar do tempo não me pesava, era talvez, porque o medisse com outros
valores. Fosse como fosse, cheguei a dominar facilmente oito línguas
arnibianos e acumular milhões de páginas de textos sagrados arnibianos na
memória.

Mapir-kir era uma civilização em que o comércio era o principal sector de sua
economia. Faziam-se trocas e havia diferentes seres de vários cantos da
galáxia. Todos possuíam etiquetas especiais na parte superior das orelhas
que permitissem aos soldados identificar suas origens. Pensavam como
romanos, o governador Kir–Truk igual ao César, agia como bárbaro. Quase
todos agiam como bárbaros.

Bárbaro, era o termo que os romanos utilizavam para se referirem às pessoas


tidas como não civilizadas.

Todos da cidade possuíam um dispositivo elétrico no pé esquerdo que quando


ligado a partir do palácio de Kir–Truk, descarregava choques a fim de que a
população pagasse tributos.

Tenho pena, não do mundo em que vivem, mas sim dos verdadeiros
arnibianos e extraarnibianos que são aterrorizados pelo imperador.

Em meus pensamentos enquanto terráqueo, imaginava-me a defender toda


aquela gente dos agressores vindo de outros planetas vizinhos, mas agora
penso que tenho de defende-los do seu grande vilão (o seu soberano).
35

Na cidade o calor sufocava as ideias, ali não era capaz de raciocinar, ficava a
olhar o termómetro tekir com desespero de um moribundo. Por isso a Miliça
levava-nos às escondidas dos soldados para a floresta. Parecia-me que a
elevação da temperatura em mais de quatro ou seis graus seria fatal para
mim.

Quando éramos pegos em flagrante, usávamos subterfúgios, transformando


tudo em brincadeira e... Resultava!

A medida que o tempo ia passando tudo parecia mais difícil e complicado


para nós, pois, os soldados já sabiam das nossas proezas e tínhamos a cabeça
a prémio. O desejo de lutar pelas necessidades dos habitantes era inevitável,
uma vez que todas as armas vindas de viagens e de comércios clandestinos
paravam em nossas mãos, não havia motivo algum para se estar preocupado.
Contudo, a ponderação e a prudência eram essenciais para sobreviver como
rebelde.

Arníbia é uma palavra estranha, uma palavra que talvez exista, mas que
ninguém saiba o seu significado; portanto não existe para a maioria! Mas
existe, porque é uma palavra que revela mistérios místicos e dá sobriedade a
percepção de determinados factos, lugares ou acontecimentos. Arníbia é na
verdade uma experiência pessoal, uma experiência que acabava de chegar
até mim e trouxera uma carta de aventuras, onde aventureiros como eu
puseram-se nela.

III

Em seu livro “Poção de Marte", Kir BULITCHEV escreve:


36

“.... Será a juventude eterna necessária aos homens? É uma coisa que custa
habituar-se."

No entanto, quanto mais o tempo passava na Arníbia nós também


crescíamos a uma velocidade considerável.

O sol ia morrendo, seus raios batiam de chapa nas janelas da nave. O ar


estava sufocante. Precisávamos de sair e elaborar um plano ou uma
estratégia.

— O que pensas agora? – perguntou Miliça.

— Já é tarde demais para se elaborar um plano. – respondi.

— Então, o que fazemos hoje? – Insinuou o Chris.

— Deixa–o em paz Chris! – disse Zöe.

— Não devemos ter pressa. Se agirmos sem pensar iremos fracassar e o


exército de Kir-Truk matar-nos-á. – mais uma vez disse Zöe.

— É verdade! Tudo o que disseste até agora é lógico. E amanhã teremos mais
motivos para verificar as armas. – adicionou Miliça.

— Não te aflijas Chris. – disse eu ao Chris.

— Isso não é problema. – respondeu-me.

Invadia-o por vezes um desejo quase irresistível de soar o alarme geral e


mandar atacar os inimigos. Chris era mui impulsivo, por isso, era o último
sempre a saber das missões secretas que a gente pretendesse realizar sempre
que houvesse possibilidades.
37

Na manhã seguinte, ele saiu muito cedo, indo ao encontro de Kir-Truk.

— Lá vem ele, o nosso rebelde! Não resistiu a tentação de voltar à grande


cidade! – disse Kir-Truk. E acresceu mais: – Guardas capturem-no!

Ele foi capturado! Ele foi capturado! Diziam uns aos outros os nossos aliados.
Ninguém se atrevia a afastar-se do assunto.

O olhar da Miliça perdeu qualquer expressão– não via nada a sua volta. Foi
um golpe cruel. Todos nós estávamos arrasados, naquele momento só
pensávamos no pior.

— É um facto incontestável, como ele se atreveu a arriscar-se desse jeito? –


questionou desamparadamente Zöe.

— Ah! É isso! Ele é um fraco que não tem nada a oferecer. Esqueçamo-lo e
vamos seguir em frente. – disse um dos aliados arnibianos que comercializava
armas.

— Cala! Cala e fica quieto sua criatura egoísta e insuportável! – Imperei-o de


forma audaz.

De repente lembrei que a Miliça tinha um aparelho que permitia ler todas as
plantas da grande cidade, isto é, a chave para penetrarmos no centro do
grande império e salvar o nosso amigo!

— Miliça, lembras-te daquele aparelho que roubaste da agência espacial? –


Perguntei.

— Sim, lembro-me. Porque perguntas?

— Vamos precisar dele! – apercebeu-se Zöe e exclamou.


38

Pusemo-nos a trabalhar naquela manhã para que de noite déssemos vida à


“Operação Regaste".

O comércio de armas é um negócio extremamente complicado. O mercado


negro é ilimitado e as suas necessidades, imprevisíveis. Por isso é que os
comerciantes eram muito exigentes!

“Tudo se inicia, inevitavelmente, por uma ideia, uma fantasia, um conto de


fadas. Segue-se-lhe o cálculo científico– e, enfim, a realização, que coroa o
pensamento." Aprendi essa frase uma vez com um senhor. Não com o dono
da frase, mas com o fã do dono da frase (K. Tsiolkovski). Essa frase era a
nossa esperança para derrubar os monarcas do grande império e resgatar
Chris.

A duas horas da meia-noite na floresta, o silêncio prolongava-se e estava na


hora da operação. As nossas naves estavam camufladas e adquiriam
qualquer tonalidade de objetos arnibianos.

Chegámos ao portão! Isso!

O portão dava acesso ao centro do grande império. Mas nele, estavam oito
super guardas do tamanho de rinocerontes adultos. Foi fácil passar por eles,
pois, de noite não enxergavam tão bem e reconheciam perfeitamente o cheiro
de tsanryu pasmado grelhado (sabia a frango assado). Distraíram-se e
entrámos!

A grande civilização se parecia mesmo com o grande império romano! Numa


outra história e época, quiçá!

O rosto do meu interlocutor apagava-se na penumbra do observatório do


grande palácio. Entrei, entrei, entrei.... Dizia e repetia isso bem baixinho no
39

fundo do meu pensar. E entrei mesmo! Pareceu fácil, mas consegui na


mesma. Enquanto estava dentro, Miliça, Zöe e os aliados estavam colocando
detonadores a todos os cantos da fortaleza que circundava o palácio. Não
podíamos destruir e nem detonar a cidade inteira, porque havia gente
inocente e oprimida sob o jugo do terrível imperador tirano.

Com efeito, estava numa situação complexa. Chegou finalmente a hora em


que podia tirar a máscara e obter algumas informações úteis da fortaleza, e
depois, libertar o Chris que estava preso na sala de tortura cerebral.

Pensava eu: <<tudo em que se empenhara ao longo de muitos anos ia


voltar-se, agora, contra ele>>. É um fraco verso. Digamos francamente–
uma coisa sem talento. O bom senso para o compreender não me faltava.

— Dormiu muito tempo. Estava inconsciente. A dor era insuportável. —


Ouvi falar disso, é assim que costuma ser. A dor que ele sentia parecia
embotar-se, recuava lentamente. Via-o a mexer-se com dificuldades. Na
cama da esquina, puseram-lhe tintura de iodo na ferida. Chris rugiu de tanta
dor. O braço foi atado.

Naquele momento recebi o sinal da Miliça para que o pudesse libertar.


Esperei até que todos os cientistas saíssem da sala. Entrei então.

Encontrei–o quase sem vida, felizmente levava comigo um líquido vermelho


da floresta que revigorava a alma e o estado físico. Apesar de ser temporário,
fazia grande efeito principalmente para os humanos. Pus o interlocutor nele e
assim passámos desapercebidos aos olhos dos soldados da guarda da
fortaleza.
40

Foi naquele momento que nos apercebemos que "O tempo é tão poderoso.
Ele trás felicidades, amores, conquistas, orgulho. Só que ele passa e leva tudo
com ele", mas nunca destrói o poder da verdadeira amizade, não importa o
planeta em que se está!

O cuco do relógio da parede disparou um alarme. Alguma coisa brilhava a


alguns passos de nós. Via-se lá bem no fundo um montão de pessoas e luzes.
Era a nossa nave com os aliados!

Os aliados guerrilheiros atravessaram um barranco e desceram por uma


encosta íngreme para um outro e estavam dentro da fortaleza. A guerra
estava a poucos segundos de acontecer.

— Alto lá! Venham até cá com uma maca. – disse Miliça, pedindo auxílio
para socorrer o Chris. .... Perdeu os sentidos.

Uma bomba explodiu! Todos detonadores detonavam a fortaleza... Todos


estavam incrédulos e naquela confusão de explosões e de detonações, fugimos
e connosco os aliados também. A fortaleza estava destruída e não se pode
dizer que isso aconteceu por casualidade.

Os habitantes da cidade pegaram nas armas e todos eles em grande número


de milhares, entravam e destruíam os monarcas da corte, e todos seus
cavaleiros e aliados. Mas faltava alguém... O imperador Kir-Truk.

— Ele fugiu. – gritavam as mulheres arnibianas da cidade.

Sim, ele havia fugido. Mas não iria para muito longe.
41

Apesar do sucedido, todos os habitantes da Arníbia podiam circular


novamente pela cidade e pelo planeta sem medo. Ele fugiu. Poderia reunir
novamente tropas e regressar a ribalta, mas até então não o fez.

O que aconteceu que o deixou estático e no esquecimento? Isso ninguém sabe


ao certo.

E quanto aos nossos aliados? Tudo estava bem. Arníbia não seria o mesmo
daí por diante.

Após arrumarmos as coisas, resolvemos sair do planeta e procurar uma


maneira de regressar à Terra. O imperador mesmo que voltasse, não teria
hipóteses!

Chris recuperou-se rapidamente. A Miliça e a Zöe deram os últimos retoques


à nave e logo de imediato partimos.

O povo da Arníbia veio despedir-se de nós e levámos algumas lembranças de


lá. Foi espetacular abandonar Arníbia. E certamente os nossos nomes
ficariam marcados na história daquele planeta castanho-bebê.

IV

O caminho da sabedoria é enxergar o desnecessário da mesma maneira que se


enxerga grandes envergaduras da vida...

De momento não temos mapa espacial nenhum ou uma bússola sequer que
nos mostre o caminho de volta à casa. Já se passaram cerca de sete anos
desde que saímos da Arníbia. Ficámos vagando na odisseia do cosmos. Até
42

então me passa pela cabeça que o meu lugar é aqui, longe de tudo e de todos
que duvidavam dos meus pensamentos e imaginações.

A nave estava intacta como nunca antes. Pensámos em ir para Andrômeda


2! É muito fácil de se dizer... Apesar da nossa inexperiência, conduzimos a
nave como se fôssemos verdadeiros alienígenas.

O mercado negro em Keizer crescia a cada segundo, mete-te em negócios e


não abras a boca. Era o que os Nebbliesters andavam a dizer. Uma vez vimos
um arnibiano idêntico ao Kir-Truk. Custa acreditar, não é! Mas o que estaria
ele a fazer em Nebbliested?

Chegámos a segui-lo até a sua nave, mas desaparecera do nada e


repentinamente.

A Miliça tentou localizá-lo em todos os mercados de Nebbliested, mas de


nada adiantou. Simplesmente ele havia evaporado da superfície do cometa.

For o que for que esteja a planejar, nós estaremos de olhos nele. Arníbia
estava a viver a verdadeira liberdade e eu nunca deixaria que alguém o
colonizasse novamente a mão-de-ferro.

Estava na hora de cada aliado separar-se de nós. E quanto a Terra, não sei se
há alguém que sinta a nossa falta, mas seja lá o que for, um dia a voltaremos
a ver assim como a conhecemos, através de histórias contadas pelo homem
ao longo das gerações... A imaginação é o passe da aventura... Arníbia!

Fim.
43

Prudêncio Miguel Kiempava

DIÁRIO DE UM VAGABUNDO
44

“Não há nada de bom ou de mau, a não ser que o pensamento o torne assim"
— Shakespeare

Faltava-lhe coragem para reclamar da má qualidade do comando defeituoso.


Foi chamar o vizinho ao lado em seu socorro. Marcos, ao saber de que se
tratava, desatou às gargalhadas. Rio muito, mas acabou por anuir ao pedido
e até parecia estar contente com incumbência.

Para Jonas, o futuro parecia um longo caminho:

– Estou satisfeito com a minha vida. – declarou ele numa voz firme.

Jonas e Marcos foram até a loja. O armazém ocupava a antiga zona de


comércio da Maianga, ao qual na véspera da guerra civil foi conferida o título
de nobre e um brasão de três Palancas que simbolizavam audácia,
persistência e prosperidade.

No interior do armazém, Jonas deslocou-se vagarosamente, como se andasse


na água. Dione, empregada de balcão, esperava intervalo para o almoço,
entretendo-se a ler um livro religioso meio esquisito de um autor muito
famoso da década de 70, traduzida do Francês.

Dione sonhava ser geóloga e tinha frequentado durante três anos um grupo
de geologia orientado pelo Dr. Francisco Alpina, então diretor do museu da
cidade.
Embora tivesse terminado a escola com boas notas, não foi logo à
Universidade para tentar entrar na Faculdade de ciências naturais. O
dinheiro não abundava em casa, razão pela qual resolveu ir trabalhar um
ano como empregada de balcão. Porém não desistiu de seus planos. Nos seus
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18 anos incompletos, Dione era tão atraente que muitos homens vinham ao
armazém comprar coisas sem nexos e de valor apesar de não terem a quem
oferecê-los.

Dione ouvia pessoas a entrar, mas não desprendeu o olhar do livro – naquele
momento lia um comentário sobre os erros do autor. Só quando Jonas e
Marcos estavam já bem perto dela, levantou a cabeça, compôs o seu cabelo
negro e perguntou: "Que desejam?" Mentalmente, porém, continuava nas
imediações da cidade da Babilônia, preocupada com sorte dos seus
habitantes.

— Boa tarde! — disseram os dois.

Com a cara de quem está a sofrer, Jonas tirou o comando e mostrou.

— Oh! – Exclamou Dione. — O que foi que lhe aconteceu?

— Troque-me este brinquedo por outro. – Ordenou Jonas. — é defeituoso.

— Como assim? – Dione colocou o livro no balcão e varreu Babilônia do


espírito.

— Então não vê? – Inquiriu Marcos num tom severo.

A rapariga não sabia que Jonas falava assim por ser tímido e por conhecer as
suas pretensões como destituídas de fundamento. Respondendo-os, houve
um tremer de terra. Da rua provinha um ruído surdo. Dir-se-ia que a terra
jazia de baixo dos pés.

— Um desabamento. – disse Jonas numa voz apagada, tirando o chapéu da


cabeça e dobrando-a com cuidado.
46

Depois do tremer de terra, a loja estava totalmente destruída. Marcos havia


morrido, e Dione estava gravemente ferida. Tudo ocorria de maneira
estranha até o próprio Jonas não entendia.

Narração de Jonas:

— Fomos socorridos? Não.

Dione e eu ficámos quase sete meses soterrados no armazém. A cidade toda


estava desabitada, parecia uma invasão extraterrestre.

Pouco a pouco fomos nos ajeitando. Dione adormecera, quando acordou


estávamos fora da cidade e ela nem sabia quem eu era. Parecia uma
realidade como naqueles filmes de ficção-científica e mistério, onde tudo era
a preto e branco.

Saímos da cidade... Estávamos próximo da fronteira com o Bengo. Os


desabamentos ocorriam com certa frequência, pois, a cidade era mui antiga e
rica em caves e galerias subterrâneas, construídas para casos de emergência.

— Tiveste outra vez azar, Jonas! – dizia Dione acordada e dando largas ao
seu ressentimento. – Agora tens entre mãos um caso bem mais grave.

Onde íamos, eu também nem sequer sabia. Havia animais estranhos e


nevoeiro esquisito todos os dias.

Encontrámos um carro...
47

Narração de Dione:

O carro só aparecia de noite. Que estranho!

Encontrámos uma caravana próximo da fronteira, apesar de eu estar


desacordada, Jonas cuidava bem de mim e quando recuperei as forças
pareceu que nos tivéssemos conhecido durante uma vida.

A caravana era espaçosa, parecia uma casa. No meio da sala encontravam-se


garrafas vazias – duas de cerveja, uma de vinho e uma de vodka como
gargalho desbeiçado-e dois outros frascos, igualmente vazios – um de
perfume e outro, de maionese, muito sujo.

Um ar quente e fluido penetrava na sala, derramando um doce cheiro a tílias.


Jonas deitou-se na única cama que havia na caravana... Continuei dirigindo
e parei próximo de um lago porque sentia sono. Pensei: aonde vou dormir?

Sabia que Jonas se sentia atraído por mim e quanto mais eu dormir na
mesma cama que ele?

Não pensei duas vezes, e procurei um jeito de dormir na cama sem ele notar.
No dia seguinte, tive que acordar bastante cedo para que não notasse,
contudo nada resultou.

Narração de Jonas:

— Tudo começa com as emoções. Naturalmente começamos pelos "centros de


prazeres". – Era uma gravação do piloto durante um ensaio de corrida
próxima à sala de condução.
48

Eu sabia muito bem que a Dione estava cansada e resolveu deitar-se na cama
para descansar, mas tive de acordar muito antes do que ela para não parecer
preguiçoso.

Dione faz-me lembrar a fria rainha das neves e a dona do monte de cobre
dum conto de fadas. Sei que a comparação não é justa, mas ela é muito
atraente.

Estávamos já fora da cidade aniquilada através do terremoto, junto de um


lago ela aproximou a caravana e às doze horas da tarde fez o almoço: peixe
do lago, que horror! Mas tive de comer para agradá-la. Ao certo parecia que
ela gostava de mim e eu dela, mas nos faltava coragem de expressar o que
sentíamos um pelo outro. O milagre fácil da criação também se submete às
leis. Quando um homem ama, é capaz de fazer milagres.

Narração de Dione:

Na calada da noite...

— Queres passear? – propôs Jonas, sentindo de algum modo culpado e


preocupado.

— Sim, quero.

O amuo do corvo durou mais de um minuto. Por fim, saltou para o peitoril,
esvoaçou e fugiu.

— Muito bem. – Jonas, enfiou a camisola nas calças. Andámos e falámos


junto à praia fluvial que o lago fazia. Jonas estava contente com a sua
49

existência. A vida não lhe exigia nada e deixava-lhe bastante tempo para
fruir prazeres inocentes e dedicar-se noutras artes.

Ocorreu tudo lindamente, mas a caravana estava avariada. Não podíamos


ficar muito no lago por causa dos animais estranhos que apareciam e
desapareciam por ali.

Narração de Jonas:

Dione faz feitiços no seu reino de fadas. Sei que se espera longas semanas de
trabalho, que o aperfeiçoamento da realização impedirá o voo da fantasia, e
que haverá ainda mágoas e decepções, possivelmente lágrimas às escondidas
– tudo isto é natural. No entanto deve-se passar por tudo se é de todo
realmente uma falha de talento. Isto não é fácil, mas sou capaz de aliviar
esse caminho.

Narração de Dione:

O caos tornar-se-á uma outra obra de arte. Este processo na linguagem


científica chama-se enfadonhamente "atenuação da entropia". Ele pode ser
determinado com altíssima precisão. Mas parece-me um sacrilégio
considerado um prodígio. Quero apenas uma coisa: que se realize. E está em
meu poder ajudar a fazê-lo.

Assim nem sei porque vim aqui tão tarde. Nada tenho a fazer. Há muito que
foram feitos os cálculos, analisados os quilómetros de hemogramas,
50

sintonizado o oscilador. Como sempre, tudo depende finalmente do juiz


supremo: a experiência.

Narração de Jonas:

Alguns dias, semanas e pronto. Podemos voltar a conduzir a caravana


novamente.
Jonas e Dione sabiam que a tarefa seria difícil, mas continuaram confiando
um no outro até saírem à beira do lago.

A manhã de sábado começou com o barulho de uma lancha a motor na baía


de Lobito. Os raios do sol, penetrando nas janelas da caravana. O sono ainda
não me deixara e continuei imóvel, vários minutos com olhos fechados,
prestando ouvidos aos sons habituais da mata.

Um bichinho arrastava-se pelo meu rosto, mas tinha preguiça de me mexer


para o espantar. Fiquei no saco de dormir e enquanto os olhos estavam ainda
fechados, a noite continuou. Por isso aguentei para afugentar os restos de
sono. Mas naquele instante sentia cócegas insuportáveis no nariz e dei um
espirro estrondoso e por bem ou por mal, abri os olhos. Perto de mim estava
Dione, segurando na mão um talo.

— Oh, meu soberano, já veio amanhã. – diz ela meio cantando. – Os teus
súbditos famintos esperam por ti.

Súbditos? Mas só existíamos nós os dois naquela caravana. Será que...? Será
que estava grávida?
51

Certamente significava que teria de me levantar. Era o responsável pelo


pequeno almoço:

— Declara ao meu povo que em breve o seu coração e estômago se encherão


de gratidão. – disse altamente.

Nos seus cabelos negros brilhavam gotinhas de água. Já tomara banho na


baía.

Saí rastejando do saquinho o de dormir, com olhos semicerrados e vi um


quadro agradável: uma panela a ferver sobre a fogueira fora da caravana.

Dione toda contente, deu um sorriso:

— Nunca tentaste fazer um hemograma da tua preguiça? –pergunta. –


Terias um padrão maravilhoso.

Logo...

Narração de Dione:

... Logo depois do pequeno-almoço, pegámos nos esquis aquáticos e


apressámo-nos a ir para à baía.

Sei lá, mas novas paixões absorvem-nos, a todos, de uma vez.

Narração de Jonas:

O motor roncava, o cabo surgia impetuosamente na água e Dione


ziguezagueando corria pela água em cima de uma onda espumante.
52

Sentei-me sem pressa, no estreado, seguindo com o olhar o belo corpo em fato
de banho vermelho-azul que fugia através de reflexos do sol. Os meus esquis
roçavam de leve à água e as ondas acariciadoras refrescavam
agradavelmente os meus pés.

No final de tudo, o amor que eu sentia por ela era maior que tudo, enxergava
tudo de uma maneira tão linda e diferente. A Dione era a mulher da minha
vida.

Narração de Dione:

Posso dizer que depois de ter deixado de ter receio de me deitar na mesma
cama que Jonas, descobri que os meus sentimentos estavam no auge e cada
nervo, bem afinado e ajustado. Pouco a pouco, cá dentro, começava a ferver
de paixão por Jonas.

Narração de Jonas:

Dione, amo – te! A sua mão levantava-se num gesto de recusa e os meigos
olhos cinzentos, um pouco tristes, encaram-me através dos óculos
retangulares à moda, num ar de leve reprovação. Fico amargurado, mas não
baixo os olhos, porque estes segundos, são meus e tão fugidos.

Narração de Dione:
53

Não fales isso...

Sinto que tu és meu e sei que sou a dona de teu coração. Amo–te imenso
Jonas!

Fim
54

Prudêncio Miguel Kiempava

A PROSTITUTA E A AMANTE
DE JÚPITER
55

“Quando penso que pra te ver tenho que perder o juízo, eu sinto que estás por dentro...”

— Margareth Do Rosário

O dia estava quase a morrer quando as estrelas do abismo invadiam o céu,


mostrando todo o seu esplendor diante dos olhos daqueles seres covardes que
se chamavam deuses de Júpiter.

A mulher com o rosto angelical persuadia a nossa mente, seu corpo esbelto
dava-nos prazer, muito prazer! A noite nem sempre é má naquele sítio, a
escuridão se calhar é a melhor forma que se tem para adquirir fortuna –
fortuna de fortunas é o que se quer. A mulher pode ser um instrumento de
troca, uma moeda de saída para alcançarmos a liberdade. Júpiter e seus
deuses

Parece mais um daqueles contos de novela!

Arriscar a vida por causa de um olhar, de uma atracção momentânea, é como


ser possuído por inúmeras donzelas daquele lugar. A mulher nem sempre é o
centro das disputas, por vezes queremos exagerar na força para deixar boa
impressão.

A razão de buscarmos paz neste vasto meio, é a forma como a sua fama se
estende ao longo do sistema solar. É claro que Júpiter acolhe o maior grupo
de terroristas do Sistema solar, mas a forma como o governo da Mancha
aplica seus métodos de defesa é impressionante.

A terra já não podia suportar mais tais atrocidades de corrupção. Estávamos


a um passo do colapso mundial, sem dizer que os Estados Unidos de América
56

haviam declarado guerra contra a China, Rússia e contra a Coreia do Norte.


Todos os países não aliados estavam empenhados em manter-se neutros e
procurar meios de conseguir o sistema universal de teletransporte marciano.
As pessoas que saiam da Terra em direcção à Marte corriam riscos, pois,
cruzar o espaço no seio de uma guerra interna era sinónimo de suicídio, nem
o mais maluco dos malucos pensava em abandonar a Terra e se aventurar no
espaço.

Um lugar hostil é sempre melhor. O príncipe da Mancha estava convencido


de que Júpiter e Saturno seriam novamente grandes potências do Sistema
solar com o colapso da Terra. O dinheiro era abundante e, mais escravos
cresciam ano após ano, parecia uma megaestrutura que renascera das cinzas.
Durante a segunda metade da segunda guerra interstelar, a galáxia toda
estava de acordo que os deuses de Júpiter não possuíam mais motivos para
colonizar os planetas internos do sistema solar, a comissão de respostas e
operações da Via-láctea proibia a troca de mercadorias entre Saturno e
Vênus, levando assim a destruição total do único Sistema de transporte
espacial alguma vez construído sobre o sistema solar que contornava todos
os recantos da cintura de asteroides… Foi um feito e tanto que deixou
completamente a Terra nas mãos dos marcianos, e todas as outras pequenas
potências da galáxia aproveitavam desse domínio para traçar rotas em
direção à ela.

A Terra foi sempre tida como o planeta mais pacífico muito antes do
surgimento dos primeiros seres humanos, alguns marcianos até diziam que o
planeta possuía um campo de proteção divino. Apenas eram façanhas! A
57

evolução da vida inteligente na Terra foi tão lenta que os humanos nem se
apercebem que são considerados como os últimos excrementos do universo.

Andamos procurando por razões inexistentes que possam explicar nossas


emoções e reações. Sem pensar, levitamos num mar de escuridão que invade
o pensamento, que põe tudo à prova e instantaneamente, sentimo-nos como
fantoches da ilusão e dos sentidos. É inevitável não dar créditos à realidade –
pressuponho que esteja na natureza humana ir além dos sentidos físicos e
experimentar novas experiências e armadilhas que a mente cria. A questão
não é de pensar ou de não pensar, mas trata-se da compreensão dos
fenómenos a nossa volta, que estejam diretas ou indiretamente relacionadas
às formas de suicídio, de cometer crimes insignificantes ligadas à
mesquinhez, de falso altruísmo e da manipulação.

Foi pouco menos de três mil anos para se descobrir a verdadeira origem dos
soldados de Saturno. O capitão, que na altura dirigia o comité de boas vindas
de Saturno não apresentava quaisquer sinais de arrogância, apesar de ocupar
um posto de sol, olhava com os olhos de humildade. E quem quisesse ter
sucesso na carreira, tinha que buscar com sacrifícios…
Buscar um mar de trevas por vezes é melhor do que buscar uma enchente de
luzes, talvez a escuridão seja tanto boa quanto a luz, nela não se vê e, nem se
sente o que é possível ou impossível. É uma imensidão de pesadelos, em que
talvez, o pior dos homens se torne num herói. Ou, talvez, uma metáfora sem
sentido.
Faz tempo que este mundo deixou de ter sentido, é tudo tão entediante e não
se faz nada de jeito. O tédio é um veneno para com aqueles que têm a mente
fraca – pode resultar em suicídio!
Atenção! Ninguém quer morrer!
58

A vida é muito mais bela quando se sabe viver. Pensar talvez ocupe um
tempo precioso que não sei exatamente encaixar dentro dos padrões
convencionais. Quando estava na Terra, os humanoides não possuíam
pensamentos coerentes, eram seres primitivos sem quaisquer intenções de
levar uma vida cientificamente ativa, me senti atraído através da forma
como tudo ia e, num gotejar sonoro da idade, a terra toda estava em
equilíbrio e harmonia.

Pegámos em nossas armas e continuámos a marcha para a cidade proibida.


Toda a noite a tortura continuava e os bravos guerreiros já estavam
acabados, sem contar com a fome e com a chuva que caía sem parar.
Descrever os momentos da guerra interplanetária, junto dos aliados
vampiros e fantasmas que se apoderavam de almas dos inocentes, dava-me
uma sensação de enjoo.

Era preciso muito mais coragem de erguer uma simples espada e um


machado manchado de sangue viking. Em uma crônica que escrevi no ano
quinhentos e sete da era comum, o juiz supremo do tribunal de Trípoli, na
Líbia de Marte, pediu-me que tirasse todas as atrocidades que os árabes
invasores de Marte haviam feito à população local.

Logo, à volta da cidade, travei conhecimento com a amante do meu destino.


Destemida e bela, em meus pensamentos repousou até aos dias de hoje.
Como as ondas, era assim a sua personalidade, levava e trazia a minha
memória à compreensão daquilo que mais temia e do medo diante a
escuridão onde minha alma mergulhava. Falar dela é um capítulo que nem
59

mesmo os grandes sábios da Terra poderiam entender, é uma coisa sem


talento!

Para cada guerreiro havia uma presa para abater, e para cada aventureiro
que quisesse tirar o proveito da guerra, havia a morte sem rodeios.
Sobrevivemos àquilo com coragem e bravura. A cidade proibida! Nem sei ao
certo o porquê desse título! As coisas lá eram tão normais e um pouco fora do
comum – é claro, tirando os habitantes banido das catacumbas de Vênus que
por acidente, rodeavam com o rosto desfigurado (sentia pena daqueles seres
muito antes de serem expulsos de Vênus). Tomámos a cidade e devolvemo-la
às mãos do conselho interplanetário de Júpiter.

Nessa prisão nem mesmo o perdão ajuda a se manter firme e ter o desejo de
não querer pecar jamais. Deixei os meus pecados num mundo sangrento,
minha alma e meu corpo estavam fatigados. Pensei em recomeçar, porém o
que fizera não me parava de atormentar.

Talvez a calma ainda resida no coração de cada homem e mulher que cruza
comigo na estrada. Seus habitantes carnívoros e sem noção do amor ao
próximo deixaram-me pisar no solo gasoso de JÚPITER pelos meus feitos.
Contentava-me com o pouco e com o pouco e do pouco, as minhas ambições
iam crescendo e a paixão de viver novas aventuras longe de sangue de
inocentes, vinha ter comigo, naquele solo imaculado.

– Não tenhas medo, nunca fui perfeita, mas ainda te tenho. – disse a minha
amante destemida e bela.
60

– Alguém tem que me salvar de mim mesmo, não posso ser quem tu queres
que eu seja. – respondi. Noite de quinta-feira, observando os morcegos
voando sob o teto do imbondeiro, observando a escuridão que acolhe e
esconde uma legião de demónios dementes, e um clarão de luz que esconde
anjos, um batalhão deles, bem de fronte da fenda que separa o inferno do
Céu e a Terra no meio deles. A noite de agosto com o seu frio miúdo não
param. Continuam e continuam… e os espíritos famintos sem corpos
vagueiam pela Terra à busca de triunfos e, eu continuo aqui, perto de ti,
falando e agindo que nem um louco e observando bem de perto todas essas
atividades sem interesse de levantar questão. – Aumentei.

– Não mereço ouvir isso. Nossas almas são diferentes e o teu desejo e
vontade é estar na Terra, sentado na praia de uma ilha tropical equatorial,
perto de um silêncio quebrantador. Enquanto, o meu desejo e vontade é
seguir o ritmo do batimento do teu coração. – disse ela.

– Neste céu de imensas estrelas, quem se importa com um simples pecado?


Um momento de carinho é o que tu precisas. – disse eu sorrindo.

Parece estranho e enfadonho ter o controlo de tudo, saber como controlar


uma cidade, uma colônia, um planeta e por fim, uma mulher que julgava ser
a dona do meu destino pecador. Aventuras inacabadas soavam sempre
melhor nas histórias que meu avô ia- me contando quando ainda era muito
pequeno e inocente – achava tudo tão diferente e fantástico até que por um
pouco achava que fosse exagero da parte dele. As antigas histórias de
diversas formas de vidas que assumiam controlo em mundos hostis e novos,
61

seres esses que dominavam a telepatia e sem querer ser charlatão, eles
viajavam no tempo!
Meu avô conhecia muito bem Júpiter e seus deuses, a sua prostituta e
também a sua amante. Mas ele me segredava quanto a amante ou a
prostituta, dizia que tinha que descobrir por mim mesmo. Pois é! E então foi
aí que meti na cabeça que um dia iria aventurar-me no sistema solar,
deixando a Terra, meu lar e meu amor.

Via sangue na janela – quero voar e sentir a presença do mal, sentir o último
suspiro da rebelião deles. Somos mercenários, caçadores de recompensas,
procuramos uma aventura a fora, e não é Júpiter que nos vai impedir de
cruzar meio sistema solar para chegar à Neptuno e então Ceres, mais
adiante, Plutão.

Eu achava que a prostitua não era uma pessoa. Mas por quê raio o meu avô
e os soldados de Saturno não se cansavam de dizer isso?
Posso até parar para relaxar, mas a ideia de saber a origem e o segredo da
grande potência do sistema solar não me deixava.

— O que tu procuras afinal? Zeus? Ou Afrodite? – disse a dona do meu


destino, quando me recolhia aos meus aposentos espaciais.

— Tu bem sabes o que procuro. Então, perguntas porquê? – respondi.

— Meus pais sempre diziam que Zeus viviam nas estrelas, e destemia de
bravura. E não é por acaso que nós estamos nesse planeta. – Continuou ela.

— Concentra-te. – disse eu as gargalhadas.


62

A ideia de dominar mundos após renascer das cinzas era superficial, o


príncipe da Mancha não era nada mais do que um monarca obcecado pelas
conquistas, apesar da sua fama terrível correr pela galáxia, ele era sábio e
agia com prudência. Mantive contacto com ele nas primeiras vinte e cinco
luas (isso é esquisito! O planeta possuía muitos satélites naturais, o que
acabou de certa forma destorcer meus cálculos quanto a duração dos dias e
das noites).

Os dias foram passando e sem mais nada a conspirar, decidi abdicar-me de


tudo e tirar tempo para conhecer e amar a dona do meu destino, ela era
prudente e sua voz meiga chegava até às partículas subatómicas do meu
corpo.

— Então isso é um adeus? - disse ela. Vais abandonar a sua investigação e


voltar para aquele pontinho azul pálido?

— Há momentos em que não sabemos ao certo se estamos entre a espada e a


coroa, entre o céu e o inferno ou entre a amante e a prostituta – ainda mais
nesse planeta diferente e gigante. – respondi. Quero sair daqui e voltar para
casa. A terra é mais minha do que Júpiter, é o paraíso disso. E sabes… eu
não vou assim, de mãos a abanar. Vou levar-te comigo. Sim. Tu és o meu
destino e o meu pensar é todo teu. Amo-te, no agora e no porvir.

— Sempre soube, e sempre o meu destino cruzará o teu, por isso, vou
contigo. Disse ela.
63

Quanto ao resto, não sei… cada um tem em sua vida uma prostituta e uma
amante, um céu e um inferno. Eu segui o meu caminho e a Terra, apesar dos
apesares continua a ser a minha casa e a dona do meu destino, é com ela, e eu
no meio delas.

Fim.
64

Prudêncio Miguel Kiempava

O INFERNO DE UMA
FUGITIVA
65

“Fique quieto quando não tiver nada a dizer; mas quando a paixão genuína tomar
conta de você, diga o que tem a dizer, e diga com paixão.”

— D. H. Lawrence

Não era de todo inteligente, não lhe faltava necessidade em casa. Viveu uma
infância mediana. Crianças comuns brincavam com ela. Cresceu com pessoas
honestas e sinceras. A sua vida era maravilhosa mesmo com certos deslizes
que a pregara ainda na tenra idade. O medo que sentia do desconhecido ia
sumindo aos poucos e a luz da verdade pousava nos seus pensamentos.

Conseguia enxergar o interior da memória dela.

Tinha uma memória forte. Apenas havia uma coisa que deveria saber.
Depositou toda a confiança naquilo, no final nada significou e foi parar onde
hoje está.

Alguém talvez a pergunte “Qual é o significado da pátria?” ou “Qual é o


sentido de viver sem ser feliz?”. Eu me ponho à mesa da questão e com o
mais prenúncio tento saber a resposta.

Um episódio semelhante ocorreu enquanto estávamos nos lagos da Uganda.


Poderia dizer nos da Roménia, mas a experiência e o orgulho africano não
me deixavam prosseguir para locais ideais da Europa:

Enquanto pescávamos a tardinha, no período das 17 horas, dois estranhos


apareceram. Estavam armados dos pés aos dentes. Eram negros, altos e
muito musculados – gordos, super gordos.
66

A conversa deles era sobre uma vida feliz a ser vivida depois da morte.
Acreditavam que a sua pátria os mantinha presos a uma ideia antiga de
entrega total ao regime. Questionavam-se um ao outro como seria a vida
deles se pudessem nascer numa terra distante, longe daquele país em que
viviam. A pátria para eles era a infância linda que tiveram, onde a inocência
ainda imperava nos seus olhos e nas suas almas.

Via uma profunda frustração nos seus olhos. – sem chances! Estávamos
feitos!

Eles aproximaram-se de nós com tamanho desplante.

— Ora viva, o que temos aqui?! – perguntou o mais novo dos dois.

— Somos apenas estrangeiros, senhor. Não queremos confusão. – respondeu


ela. Mas de jeito algum, sairíamos na boa.

— O que quer que estejam fazendo nos nossos lagos, larguem! Eu vos
ordeno! – O mais velho dos dois disse.

— Acabo de escutar o que conversavam a pouco, antes de se aproximarem e,


com todo o respeito, gostaria de saber o que tanto vos aflige? – perguntou ela
sem medo das consequências. Juro, achei que ela era doida e passada
completamente da cabeça. Quem ousava fazer esse tipo de pergunta no meio
de sarilhos? Quem, meu Deus?

Entretanto, os dois homens atónitos pensaram e disseram em coro:

— És doida?

O clima frio e húmido ia se instalando. Um frio no estômago tomava conta


de mim.
67

— Fiz uma pergunta simples. Os senhores acham que estou de brincadeira?!


Não, não estou. Há tempo que venho sabendo dessa infelicidade que vocês
sentem. – respondeu ela.

— Não temos tempo para dizer muito a cerca de nós, mas mostras ser uma
mulher sem medo do perigo. Gosto disso. – disse o mais novo dos dois.

— Desejamos sumir desse lugar. Não somos nada felizes. A vida é já uma
miséria aqui e, quanto mais viver o melhor dela? Somos obrigados a seguir
ordens sem ao menos contestar. Parecemos fortes mas somos totalmente o
oposto disso. Estes músculos não têm bom uso. Ferimos e matamos. De noite
ouvimos vozes de pessoas que... melhor não continuar mais a falar. – disse o
mais velho dos dois.

— Entendo. Agora vamos embora! Obrigada por serem gentis. – Respondeu


ela sorrindo com os olhos semicerrados.

Demos uns passinhos largos e de seguida corremos longe daí.

— o que há de errado contigo, mulher? – perguntei todo assustado.

— Aprenda a ser inteligente e não medricas.

— Tu já não vais mudar. Estou cansado de correr riscos desnecessariamente.


Tens que parar com isso. É sério! Senão me vou embora!

— Não preciso de ti mesmo. Se estás cansado, vai-te logo e deixa-me


terminar o que comecei.

— Mas... Começaste o quê? Desde que estou contigo, ainda não vi nada de
importante ou sei lá o que! Tu só sabes falar e aprontar. Queres saber!?
Vou-me embora mesmo!
68

A situação e o clima estavam tão pesados. A discussão era o meio pelo qual
poderíamos botar pra fora toda a raiva que sentíamos um do outro.

— Não serás o primeiro a abandonar-me. Estou acostumada a ser deixada


quase sempre que estou perto de terminar a missão.

— Agora me estás a chantagear? Se queres que eu realmente fique tens que


confiar mais em mim e seguir as instruções como deve ser. Nada de sarilhos e
nem nada mesmo. Dize-me a verdade, dize-me o que pensas e o que te abala.
Vamos tentar conversar como dois adultos, como duas pessoas normais.
Tenho dez bilhões de certezas que você não é normal, mas, comigo ao menos
tente ser. É pedir muito?

— Não, agora que penso nisso...:

«... Uma caminhada sob o oceano, mar, lago e sei lá o que – tudo menos um rio,
era agonizante. Havia trevas na superfície. O barco mal se aguentava, mas o
motor roncava, fazendo com que fôssemos lançados de canto em canto naquele
quintal… por pouco imaginei a minha escola do ensino fundamental. Não!
Para ser sincera, não sei! A memória que tenho daquele sítio é semelhante a uma
linha fina. Tão fina ao ponto de ser confundida com fios de uma teia. Por
fragmentada que pareça, ainda consigo reuni-la na palma da minha mão. Mas é
diferente, é negócio. Sou uma máquina assassina concebida para matar e devorar
a alma de quem ousar enfrentar o meu amo. Sou cruel. Não tenho piedade e nem
coração. Meus sentimentos não passam de ecos que soam do mais profundo
abismo oceânico ».

— Tens medo de entrar em pânico? – perguntei.


69

— Todos os dias da minha vida. E isso começa como uma bomba, é terror
negro. Não esqueço de quem eu sou, vejo a minha alma num mar de chamas.
Clamo por socorro, não sei se consigo escapar desse pânico. Estou em pânico,
perdida e ao mesmo tempo confusa. Espíritos imundos me cercam,
pandemias e vómitos! Minha insanidade já não importa mais. Alguém me
salve!

Ela não se importava, apenas dizia o que sentia. Seu semblante arrepiava.

— Do que mais sentes falta?

— Do silêncio. Sinto-me tão distante e falsa. É tão difícil controlar tudo


daqui. Estou com medos escondidos. A escuridão sempre me persegue. Não
posso deixar ir essa última esperança que tenho para escapar. Era tão bom
aquele silêncio... Tudo dentro de mim, não está mudando por ti. É tão difícil.
Vivo a minha vida do jeito que escolheste, me situando na fronteira do
medo. As minhas palavras parecem que deixaram de fazer sentido, estou
mudando de forma. Clamo alto: Socorro, socorro! Mas o clamor por socorro
não é a única coisa que sei fazer. Consigo instantaneamente perceber quando
as coisas não passam de propagandas enganosas.

— Sangraste por mim, agora é a minha vez de fazer isso por ti. – disse eu
acompanhando a sua linha de pensamento.

— “Estou perdendo muito sangue”. Cansada e sem vontade de continuar esse


exercício. Dentro do espaço que há entre a luz e as trevas, estou tramada.

A voz na minha cabeça está se tornando na minha melhor amiga. Ela diz:
pega nisso, acabe logo com a sua vida, prima o gatilho. Não quero começar
70

com isso, não quero obedecer. O que vou fazer!? — Lacrimejava ela
enquanto dizia essas palavras.

O que une as pessoas talvez não seja só isso. Talvez seja algo muito além da
compreensão e, pensar sobre isso às vezes ocupa a minha mente: sobre o que
quero e o que devo fazer... O que pretendo alcançar enquanto o tempo ainda
é favorável.

Talvez seja necessário pôr os detalhes à mesa.

II

Pensamentos de Nay:

«Fechar os olhos porque até mesmo o mais meticuloso dos demónios consegue
desvendar uma pedra. Ahhh! Porquê raios o tal demónio continua a minha traz?
Como se estivesse escondendo um medo antigo e antes que eu me vá, quero
recordar esses minutos de sustos e medo que a minha alma esconde, não posso
simplesmente deixar ir tudo assim».

— É tão difícil controlar... é tão difícil controlar o pensamento. – disse eu


para ela

— Como sempre tu atrás de mim ouvindo os disparates que eu digo em voz


alta. Preste atenção: Vejo cerca de 12 pessoas entrando e saindo daquela
casa, a cada cinco minutos, seis saem e outros seis ficam dentro e assim
sucessivamente. Não tenho a absoluta certeza, mas parece que há algo de
estranho com os seus olhos, mãos e dorso. – Disse ela.
71

— Podes estar certa. Faz tempo que estamos aqui mas hoje o movimento
está atípico. Queres-te aproximar?

— Porque eu? E, antes que prossigamos com isso, temos problema no carro.

— Problema... Já vi; vou dar uma olhada.

Esse lugar e seus mistérios. Primeiro o lago e agora a casa branca no meio do
bosque. À minha frente, tenho um problema dos céus com este maldito carro– os
demónios dela começam a afetar a minha concentração. Essa mulher parece viver
um inferno. É estranho a forma como consegue saber exactamente o número de
pessoas que entram e saem daí. O laboratório fez-lhe mal... acredito que isso não
passam só de façanhas.

— Problema resolvido, o carro está como novo e por favor, mulher, evita
mencionar esses tais demónios de que estás sempre a falar, estão a dar cabo
dos meus miolos! Agora se não te importas suba no carro e vamos
aproximar-nos da casa mais um pouco. Pode ser?

— Tudo bem. – respondeu ela.

Algumas horas depois...

— Consegues sentir o cheiro de enxofre no ar? – perguntou assustada ao


longo do trajeto.

— Enxofre?! Queres dizer: Cheiro de ovos podres? – questionei de seguida.


72

— Sim, isso mesmo! Acho que devem estar a cozer tripas de javali do bosque.
E... vês aquelas cascas de ovos ali?! Pois, eles estão usando isso para
disfarçar e afastar civis dessas redondezas. – continuou falando.

— Não percebo nada do que dizes! E caso tudo isso que acabaste de falar
faça algum sentido, como sabes e porquê estariam eles a fazer isso aqui? –
perguntei.

— Simplesmente sei. No laboratório, eles faziam-nos chegar a conclusões de


casos através de pistas deixadas aleatoriamente e que ninguém mais
percebia. Porém, não passavam de façanhas.

«... Passei metade da minha vida trancada, nunca nem ninguém conversou
comigo sobre as minhas deduções. Sentia-me magoada por não perguntarem, por
ignorarem... Hoje tudo muda. Tudo está diferente. Ele, por mais que de forma
forçada, tenta pôr conversa comigo. Acredita (pelo menos) nas “minhas
façanhas...”».

— Estás distante, mulher. Algum problema? – perguntei, pois, ela estava um


pouco perdida nos seus próprios pensamentos e com um olhar de tristeza.

— Raios! Olha a volta!

«Parece que o bosque está vivo! Os homens e as mulheres, em torno de 12, que
entravam e saíam da casa parecem nus agora, saltitando de árvore em árvore.
Parecem estra num ritual de acasalamento... Estão olhando diretamente para
nós enquanto fazem sexo. Vejo a história de uma vida em cada olhar: os
momentos de tristezas e de felicidades. Vejo vícios e escravatura ancestral...
África, pessoas de África dos primórdios... Vejo o princípio».
73

— Eles estão acasalando como animais. – dizia eu enquanto ela mergulhava


de novo nos seus pensamentos mais negros. Seu olhar parecia um tribunal.
Fixava atentamente o olhar. Dava-me a entender que via um filme adulto,
parece “gozar” enquanto troca olhares com eles. Estou condenado! Essa
mulher é louca!

«Escravo... Estou-me tornando escravo dela. Do seu olhar e de sua maneira.


Estou amando. Quero possuí-la!».

— Tu me queres possuir?! – perguntou ela enquanto olha para duas


mulheres despidas ao lado de um homem alto, estreito e também despido.

— Quero! Agora e já! – respondi.

Aquela sensação de desejo que se apoderou de mim...

O cheiro de enxofre era uma barreira. Na verdade, era de um hidrocarboneto


aromático misturado com ervas afrodisíacas da região.

Era viciante. Não! Era hipnose do mais alto nível.

Ela fugia e o inferno a seguia. A tentação a seguia. Eu estava seguindo-a


também durante esse tempo todo. O corpo dela dava-me prazer– prazer de
prazeres.

— Agora chega! – ordenou para que eu parasse depois de teros acasalados


como os demais selvagens que saltitavam de árvore em árvore.

— Estás satisfeito? – perguntou ela.

— Talvez. – respondi.
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Nossos olhares não conseguiam escapar um do outro – diziam e mostravam o


nosso “eu” mais profundo, insano e também inocente. Nossas almas
encontravam-se nesses olhares que por segundos a minutos fixos um no
outro, pareciam rumar a eternidade. Uma vida desde a Genesis.

Continua...
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Prudêncio Miguel Kiempava

NAUFRÁGIO
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Fantasia Temporal

Escrevi uma carta linda de amor


Uma carta, quase inimaginável quanto tu
A tua ausência me faz lembrar do terror
Sou louco?! Porventura sou mesmo
As tuas lágrimas sequei
Os teus lábios beijei
E da tua cama partilhei
Achas que ainda sou louco?
Se sou, apenas provei um pouco dessa loucura
Essa loucura foi a razão do nosso amor
Sentes saudades?! Então me procura
Porque jamais cairei nessa tua aventura
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Energia do meu viver

Naquela noite era só tu e eu


Tu e eu formávamos nós os dois
O silêncio era a nossa fronteira
Nem acreditava que estávamos a sós
A noite passou
O dia veio e passou
Mas nós ficámos
Agarrados que nem as sanguessugas
Talvez repitamos a magia
Mas dessa vez sem fantasias
Porque de ti vem a energia
… A energia do meu viver
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Boomerang

Mudei a minha forma de ser


Será que voltarás?
Estou aqui onde me deixaste
Serei o homem que sempre sonhaste ter
Quantas vezes esse falso amor continuou?!
Onde iremos com essas mentiras?!
Quantas lágrimas derramarei?!
Será que és o meu boomerang?
Eu sei que amanhã te verei
Meu boomerang, meu amor
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Ao certo, tento perceber se há alguém que tenha viajado em sua consciência e


desfrutar de uma viagem tranquila e serena, ou também, d' uma viagem
perturbadora e infernal, dentro de si. Impossível não parece, mas possível é para
os mais corajosos.
— Prudêncio Miguel Kiempava

Há três coisas no mundo incompreensíveis para mim, e uma quarta que não
concebo: o curso de uma águia no céu, de uma víbora rastejando pela rocha, de
um barco no mar alto e o caminho de um homem ao coração de um a mulher.
— Alexandre Kuprin, "sulamita"
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SOBRE O AUTOR

PRUDÊNCIO MIGUEl, é estudante de Geologia pela Faculdade de Ciências


Naturais da Universidade Agostinho Neto, Vice-presidente do Geoclube
(2022-2023), Wild explorer, CEO da Grossular Field e Membro do JM1
(Jornal Mural U.A.N) da Faculdade de Ciências Naturais da Universidade
Agostinho Neto. Sua paixão pela escrita iniciou em 2011, mas só foi em 2018
que começou a escrever sobre contos de Ciência-Ficção, aventuras e
romance. Atualmente vive em Luanda.
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