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Correio eletrónico:
prudenciomiguekiampava@gmail.com
Produção Editorial
Gerência Editorial
Dedico à Lineth Ventura, Nayara da Silva, Maria Manuel, Júlia Van-Dúnem, Tamires
Afonso, Nicolau de Sousa, Nzola Kiampava e Estanislúcia Bambi, pessoas lindas, por dentro
e por fora.
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SUMÁRIO
Diário de um Vagabundo....................................................... 43
Naufrágio............................................................................... 75
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ARNÍBIA: A VERDADEIRA
HISTÓRIA
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— Desconhecido
Pois, foi com essa toda confusão na Arníbia que conheci a Irina, uma jovem
que vivia numa zona montanhosa do hemisfério sul da Arníbia.
pedra de cor de Marte do sistema solar da Via Láctea, situadas mais acima.
Era também aí que se encontrava um dos lugares mais sódicos da cidade: A
praça.
Era Irina. Era tão linda que os arnibianos de Kabul pensavam que quando a
vissem vezes e vezes, o planeta seria destruído pelos extraarnibianos de
outros sistemas solares ou então, ocorreria a destruição divinal.
O que a torna tão diferente das outras mulheres? Talvez ela própria nem se
dê conta disso.
Na praça dizia-se:
II
Irina foi salva pelo comandante. Entrou na nave e ficou a olhar para mim
com uma túnica arníbica na cabeça, como se já nos conhecêssemos. Parecia
irritada com a minha presença (pelo menos assim eu achava). Quanto ao
resto ela era pacífica e correta; resistia passivelmente sem dar muito nas
vistas. Parecia uma boa altura para o sombra intervir: sim, ele alcançou-nos
e, fazendo se passar por cego, empurrou o velho Alii, de barba ruiva. Este dá
um trambolhão e, antes que se levante, Irina escapa por uma brecha do
muro metálico da sala de controlo da nave.
Mas a pergunta que me seguia sempre era: por que razão Irina era o motivo
da destruição de Arníbia? Tenho a sensação de nunca me esquecer daquele
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estado de alegria alarmante que se apoderou de mim quando ela olhou pra
mim irritada.
Irina levantou-se cedo e disse: “o fim está próximo e Arníbia será destruída
se eu continuar aqui convosco.
Não entendi absolutamente nada. Baixei a cabeça para olhar no chão negro
da nave. Tinha que prosseguir com a conversa mas sem mencionar mais nisso
de “destruição”:
— Claro. Sabes, sou arnibiana de ascendência geana. Minha mãe era de Gea e
meu pai arnibiano. Meu pai nasceu no décimo mês do calendário arnibiano,
no penúltimo dia, e minha mãe, também nasceu no décimo mês do calendário
geano, no antepenúltimo dia: há uma profecia muito antiga que diz, filhos de
pais do mesmo mês e ano interstelar da galáxia, são sinais de destruição em
massa de qualquer planeta do nosso sistema solar, do qual Gea também faz
parte. – disse ela.
— Sim. – respondi num tom amedrontado. Tudo isso era incrível! Acho que
ela não se cansa de falar, apenas pedi uma companhia. – pensei.
Depois do episódio vivido, Irina, eu, o sombra e mais o velho Alii, saímos da
nave. Saímos de noite para que nenhum arnibiano centauro notasse a nossa
presença na ilha. Ao chegarmos numa aldeia, quatro soldados corriam atrás
da Irina. O seu tropel semelhante ao bater dos cascos de um cavalo,
aumentava ouvindo-se cada vez mais perto. O medo vinha de longe, de todos
os lados ao mesmo tempo, como se tivesse subido do horizonte e cingido,
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Era o medo, o medo animal gerado pelo instinto de conservação que a fazia
fugir em pânico –medo dos passos pesados nas suas costas, medo do tinir das
espaçadas, medo da respiração sibilante dos soldados arnibianos que sorviam
sofregamente ao ar húmido da noite. Enquanto corria pelo caminho sinuoso,
riscando pelas sombras das árvores, não era nem uma geana, nem uma
arnibiana, mas sim uma pequena menina assustada.
De repente Alii apareceu com uma arma paralisadora de raios gama e atingiu
os quatro soldados. E agora com os soldados paralisados e ofegantes tudo
estava sob controlo. A respiração é bem visível nos arnibianos. Normalmente
dilata-se apenas um pouco a parte superior do torso e entreabrem-se os
lábios. Mas estes respiravam com o corpo todo: o ar escapa-se-lhes da
garganta com um gorgolejar rouco e espasmos nervosos sobem da
extremidade dos membros até à barriga. Depois, o peito dilata-se
subitamente e o queixo quadrado descai. De quatro em quatro sorvos
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— Que fazer: tentar com eles? Voltar-lhes as costas e recomeçar de novo a fuga,
ou, melhor, ligar o levitor (nave) e elevar-se no ar? – Sentia-se indecisa quanto
à solução a escolher, mas continuar imóvel tornar-se-lhe-ia cada vez mais
impossível. Afinal de contas, era estúpido.
III
Irina era tão linda, ficava sem jeito sempre que metia conversa comigo.
Como soavam bem aquelas palavras: “a imensidão do espaço, o seu lar e sentir
que ela me amava!” Mas não era ainda altura para ceder a tais desejos.
Alii era velho e experiente. Por uma questão de hábito, tomava sempre por
modelo um aborígene de idade avançada e corpo débil. Se o planeta que
explorávamos houvesse aborígenes, havia possibilidades de imitar o seu
aspecto. Alii sabia perfeitamente que era tido por um dos melhores
exploradores do TERMEN e ria-se disto dissimuladamente. De resto, ria-se
consigo absolutamente de tudo, e em primeiro lugar dos seus companheiros.
Não tomava a sério o comandante, exigente e extremo em relação a si mesmo
e aos outros. Quando todos levantaram, o comandante mandou ir para a
região de Remizâng à procura da aranha-azul. Como era natural, o velho Alii
tinha a reputação de perito na psicologia dos racionais que encontrara
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noutros mundos. Acrescenta-se ainda que não lhe custava nada sustentar a
reputação.
Do que pude ouvir sobre Arníbia, é que noutrora existia uma guerra entre
Shyrak e seu meio-irmão Pôum. ambos foram criados para manter a ordem e
tranquilidade nas noites de Arníbia. O primeiro, representava a lua maior e o
segundo, a lua metade de sangue.
Pôum teve uma noiva em Gea, mas da qual ninguém sabia. Num dia
daqueles, sua noiva visitou Arníbia. Concebera e dará luz à Irina.
Passaram-se meses e o conselho de deuses da Arníbia e de Gea soube do
sucedido. Disso, Shyrak irritou-se bastante. Envergonhado, mandou destruir
Gea por completo. Ora, quando o seu meio irmão soube da destruição,
procurou vingança. Foi então o início das derradeiras guerras entre os dois
deuses-guardiões da noite.
A lenda dizia ainda que a menina de que a noiva de Pôum dera luz, seria a
causa da salvação e destruição da Arníbia. Pôum, muitas vezes vencera as
batalhas, mas nunca chegou a conhecer Irina. Envergonhado pelas derrotas,
Shyrak desaparecera da galáxia e até hoje ninguém sabe do seu paradeiro.
Mas há quem diga que um dia ele volte e roube a paz e a tranquilidade da
Arníbia.
Por enquanto, tudo corria bem. Era agora necessário ter muita paciência e
esperar que um ciber-transportador da nave abrisse a porta. Do lado de fora
ouvia-se um ligeiro ruído.
Conhecer Arníbia fez-me lembrar que todo ser vivo merece uma casa. Uma
vez ouvi dizer que os impérios do futuro seriam impérios da mente. Logo
isso! Vim a pensar durante o trajeto da nave para aqui. Está certo quem
assim o disse, de certeza que foi alguém de grande valor para o seu povo.
Arníbia pode ser com certeza o centro do universo, mas falta muito para isso
acontecer.
— Acaba de cantar sobre o dinheiro. Queira explicar-me o que é isso para si?
— Não faço uma ideia bem clara. Ouvi dizer que noutros planetas e noutras
galáxias havia gente que utilizava, antigamente, tais estimulantes de bom
humor. Fabricavam-nos em forma de bolachas pequenas, um corpo de prata
ou de ouro. O campo psíquico de tal aparelho era muito fraco, por isso cada
pessoa procurava a maior quantidade possível delas e levava-os sempre
consigo.
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Todos eles eram muitos novos, sadios e felizes. Para o bom humor não
precisavam de estimulantes. Mas a sua ignorância absoluta numa questão
em que o tempo era vital para eles deixou-me atônito. Esforcei-me por
explicar-lhes o problema, mas deram-me pouco crédito.
— Jamais acreditarei que uma pessoa não tivesse o direito de comer e vestir
o que quisesse apenas por não possuir certos papeluchos. – Sentenciou a loira
da túnica dourada e, zangada, bateu no chão o pé bronzeado. – Jamais
acreditarei.
— Podia mesmo morrer de fome, mas era-lhe impossível comer sem dinheiro.
E aquela gente que tentava apanhar algo grátis, era encerrada vários anos
nuns quartos especiais ou mesmo morta.
Na verdade, já houve dinheiro na Arníbia, mas já havia dez séculos que não
existia dinheiro nenhum. Contudo devido ao fomento impetuoso do comércio
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— Estou bem. Como te sentes sabendo que eu posso ser o passaporte da tua
salvação aqui? — perguntei em forma de quem não quer saber de nada.
— De onde eu venho não interessa saber, mas para onde eu vou, te quero
levar comigo.
Ri–me daquilo e disse assim bem baixinho para ela: se um dia tiver que
escolher entre o mundo e o amor lembre-se que se escolher o mundo, ficará
sem amor, mas se escolher o amor, com ele, conquistará o mundo.
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— Se quiser muito, muito mesmo, algo, deixe ir. Se voltar para você é porque
é seu para sempre. E se não voltar, é porque nunca foi seu.
– Conquiste-me; não adquira; quero ser teu bem; não um dos teus bens. O teu
sonho de amor, não de consumo.
— Se o meu amor não for o suficiente para te conquistar, não deixes que
meus lábios toquem os seus, pois, estes sim serão impetuosos e hão de
cegar-lhe de paixão.
Ela sorrindo e distraída, aproveitei provar seus lábios, que por aí não
encontrei até agora!
— Não, ninguém irá para esta missão! – disse o comandante. – É claro que
isso é uma armadilha, pois, se chegarmos perto de Pôum, Shyrak aparecerá.
Tudo estava indo conforme planeado. Tudo foi gravado. Irina acedeu ao link
do holograma e enviou o vídeo. No momento estávamos a correr um grande
perigo porque de certeza, cedo ou tarde, o TERMEN descobriria o plano e
seríamos mortos.
Na Arníbia o amanhecer era sempre muito rápido, o dia nasceu num ápice.
As aves domésticas se ouviam em vários pontos da ilha–cidade, anunciando
a alvorada. Na Arníbia tudo era diferente. Logo no primeiro dia da sua
permanência no planeta, Irina compreendera que os seus habitantes
necessitavam uns dos outros, procuravam-se mutuamente, guardando-se na
sua escolha por um livre critério. Mas não era só isso que lhe excitava a
curiosidade. Cada arnibiano que lhe de parava pelo caminho mostrava-se
desejoso de possuí-la. Quando fez esta descoberta ficou estupefacta e chegou
até a pensar em procurar um refúgio, guiada pelo instinto de conservação.
IV
O dia nascera. O sol devia estar a despontar os cumes das montanhas mais
próximas. Lá fora, do outro lado do muro, alguém começou a gritar numa
voz estridente. Ela não percebeu as palavras, devia ser um forasteiro.
Tínhamos de nos apressar.
— Não faço a mínima ideia. Mas penso que temos de sair já daqui. – outra
vez disse Irina.
Fui à sua procura pelo outro lado do muro e apercebi-me que ele estava
transformado num ser bípede, um lobisomem (esta era a sua forma original).
Veio ter comigo:
— Claro que falo. Mas agora não tenho tempo para explicar. Vamos sair
daqui. – disse ele.
— 'Bora lá!
Alii como sempre observava tudo e desta vez, o velho tarado não estava
sozinho: o comandante, o sombra e toda a tripulação espreitavam-nos!
Fim
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ARNÍBIA: LONGE DA
IMAGINAÇÃO
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Ter a plena certeza de que tudo não passa duma ficção, de um romance ou de
uma aventura épica... Se assim for, então a minha jornada até aqui terá sido
em vão?
Ter a plena certeza de que estamos vivendo num mundo onde quem tem
mais é quem manda e quem pouco tem sofre ou rouba de quem mais tem,
num mundo onde as pessoas são o que querem ser e não o que suas origens as
definem. A mais cruel das maldades está instalada no nosso ego, lá bem no
fundo. Ego este que nos torna tão fortes por fora e tão fracos e vazios por
dentro.
Uma palavra! Uma palavra estranha. Talvez Arníbia. Parece lógico! Existe?
Queria que pensassem como eu, agora, do jeito que encaro a realidade. Não
essa realidade — uma realidade para além do espaço e do tempo.
além da imaginação. Uma civilização que nem sei se de facto foi erguida com
ouro. Ouro e prata.
Ao entrar pelas portas da minha imaginação, vejo uma estrada vermelha que
atravessa as constelações e cinturas de asteroides... uma estrada que me
conduz à Arníbia. O planeta. O planeta Arníbia. Parece um local calmo,
calmo demais para o meu gosto. Arníbia. Falo sem querer este nome e
sempre que não quero, imagino-me na linha de frente defendendo-a, a si e a
grande civilização.
— Tenho tanto que fazer amanhã! Tenho uma palestra na agência Espacial e
quando penso que o normal é o costume, quanto mais penso nisso, mais
distante fico da Arníbia.
Quatro anos se passaram desde que visitei a agência espacial; há um ano que
estou nessa nave, vagando no vazio do cosmo. Não era o único lá.
Claro que é possível ensinar um idioma sem recorrer à tradução para a língua
materna. Mas a língua materna desempenha sempre um papel de um valioso
ajudante, impossível e inaudível, pois a pessoa já tem todos os conceitos
definidos, embora formados com outras combinações de sons.
II
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O passar do tempo não me pesava, era talvez, porque o medisse com outros
valores. Fosse como fosse, cheguei a dominar facilmente oito línguas
arnibianos e acumular milhões de páginas de textos sagrados arnibianos na
memória.
Mapir-kir era uma civilização em que o comércio era o principal sector de sua
economia. Faziam-se trocas e havia diferentes seres de vários cantos da
galáxia. Todos possuíam etiquetas especiais na parte superior das orelhas
que permitissem aos soldados identificar suas origens. Pensavam como
romanos, o governador Kir–Truk igual ao César, agia como bárbaro. Quase
todos agiam como bárbaros.
Tenho pena, não do mundo em que vivem, mas sim dos verdadeiros
arnibianos e extraarnibianos que são aterrorizados pelo imperador.
Na cidade o calor sufocava as ideias, ali não era capaz de raciocinar, ficava a
olhar o termómetro tekir com desespero de um moribundo. Por isso a Miliça
levava-nos às escondidas dos soldados para a floresta. Parecia-me que a
elevação da temperatura em mais de quatro ou seis graus seria fatal para
mim.
Arníbia é uma palavra estranha, uma palavra que talvez exista, mas que
ninguém saiba o seu significado; portanto não existe para a maioria! Mas
existe, porque é uma palavra que revela mistérios místicos e dá sobriedade a
percepção de determinados factos, lugares ou acontecimentos. Arníbia é na
verdade uma experiência pessoal, uma experiência que acabava de chegar
até mim e trouxera uma carta de aventuras, onde aventureiros como eu
puseram-se nela.
III
“.... Será a juventude eterna necessária aos homens? É uma coisa que custa
habituar-se."
— É verdade! Tudo o que disseste até agora é lógico. E amanhã teremos mais
motivos para verificar as armas. – adicionou Miliça.
Ele foi capturado! Ele foi capturado! Diziam uns aos outros os nossos aliados.
Ninguém se atrevia a afastar-se do assunto.
O olhar da Miliça perdeu qualquer expressão– não via nada a sua volta. Foi
um golpe cruel. Todos nós estávamos arrasados, naquele momento só
pensávamos no pior.
— Ah! É isso! Ele é um fraco que não tem nada a oferecer. Esqueçamo-lo e
vamos seguir em frente. – disse um dos aliados arnibianos que comercializava
armas.
De repente lembrei que a Miliça tinha um aparelho que permitia ler todas as
plantas da grande cidade, isto é, a chave para penetrarmos no centro do
grande império e salvar o nosso amigo!
O portão dava acesso ao centro do grande império. Mas nele, estavam oito
super guardas do tamanho de rinocerontes adultos. Foi fácil passar por eles,
pois, de noite não enxergavam tão bem e reconheciam perfeitamente o cheiro
de tsanryu pasmado grelhado (sabia a frango assado). Distraíram-se e
entrámos!
Foi naquele momento que nos apercebemos que "O tempo é tão poderoso.
Ele trás felicidades, amores, conquistas, orgulho. Só que ele passa e leva tudo
com ele", mas nunca destrói o poder da verdadeira amizade, não importa o
planeta em que se está!
— Alto lá! Venham até cá com uma maca. – disse Miliça, pedindo auxílio
para socorrer o Chris. .... Perdeu os sentidos.
Sim, ele havia fugido. Mas não iria para muito longe.
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E quanto aos nossos aliados? Tudo estava bem. Arníbia não seria o mesmo
daí por diante.
IV
De momento não temos mapa espacial nenhum ou uma bússola sequer que
nos mostre o caminho de volta à casa. Já se passaram cerca de sete anos
desde que saímos da Arníbia. Ficámos vagando na odisseia do cosmos. Até
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então me passa pela cabeça que o meu lugar é aqui, longe de tudo e de todos
que duvidavam dos meus pensamentos e imaginações.
For o que for que esteja a planejar, nós estaremos de olhos nele. Arníbia
estava a viver a verdadeira liberdade e eu nunca deixaria que alguém o
colonizasse novamente a mão-de-ferro.
Estava na hora de cada aliado separar-se de nós. E quanto a Terra, não sei se
há alguém que sinta a nossa falta, mas seja lá o que for, um dia a voltaremos
a ver assim como a conhecemos, através de histórias contadas pelo homem
ao longo das gerações... A imaginação é o passe da aventura... Arníbia!
Fim.
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DIÁRIO DE UM VAGABUNDO
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“Não há nada de bom ou de mau, a não ser que o pensamento o torne assim"
— Shakespeare
– Estou satisfeito com a minha vida. – declarou ele numa voz firme.
Dione sonhava ser geóloga e tinha frequentado durante três anos um grupo
de geologia orientado pelo Dr. Francisco Alpina, então diretor do museu da
cidade.
Embora tivesse terminado a escola com boas notas, não foi logo à
Universidade para tentar entrar na Faculdade de ciências naturais. O
dinheiro não abundava em casa, razão pela qual resolveu ir trabalhar um
ano como empregada de balcão. Porém não desistiu de seus planos. Nos seus
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18 anos incompletos, Dione era tão atraente que muitos homens vinham ao
armazém comprar coisas sem nexos e de valor apesar de não terem a quem
oferecê-los.
Dione ouvia pessoas a entrar, mas não desprendeu o olhar do livro – naquele
momento lia um comentário sobre os erros do autor. Só quando Jonas e
Marcos estavam já bem perto dela, levantou a cabeça, compôs o seu cabelo
negro e perguntou: "Que desejam?" Mentalmente, porém, continuava nas
imediações da cidade da Babilônia, preocupada com sorte dos seus
habitantes.
A rapariga não sabia que Jonas falava assim por ser tímido e por conhecer as
suas pretensões como destituídas de fundamento. Respondendo-os, houve
um tremer de terra. Da rua provinha um ruído surdo. Dir-se-ia que a terra
jazia de baixo dos pés.
Narração de Jonas:
— Tiveste outra vez azar, Jonas! – dizia Dione acordada e dando largas ao
seu ressentimento. – Agora tens entre mãos um caso bem mais grave.
Encontrámos um carro...
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Narração de Dione:
Sabia que Jonas se sentia atraído por mim e quanto mais eu dormir na
mesma cama que ele?
Não pensei duas vezes, e procurei um jeito de dormir na cama sem ele notar.
No dia seguinte, tive que acordar bastante cedo para que não notasse,
contudo nada resultou.
Narração de Jonas:
Eu sabia muito bem que a Dione estava cansada e resolveu deitar-se na cama
para descansar, mas tive de acordar muito antes do que ela para não parecer
preguiçoso.
Dione faz-me lembrar a fria rainha das neves e a dona do monte de cobre
dum conto de fadas. Sei que a comparação não é justa, mas ela é muito
atraente.
Narração de Dione:
Na calada da noite...
— Sim, quero.
O amuo do corvo durou mais de um minuto. Por fim, saltou para o peitoril,
esvoaçou e fugiu.
existência. A vida não lhe exigia nada e deixava-lhe bastante tempo para
fruir prazeres inocentes e dedicar-se noutras artes.
Narração de Jonas:
Dione faz feitiços no seu reino de fadas. Sei que se espera longas semanas de
trabalho, que o aperfeiçoamento da realização impedirá o voo da fantasia, e
que haverá ainda mágoas e decepções, possivelmente lágrimas às escondidas
– tudo isto é natural. No entanto deve-se passar por tudo se é de todo
realmente uma falha de talento. Isto não é fácil, mas sou capaz de aliviar
esse caminho.
Narração de Dione:
Assim nem sei porque vim aqui tão tarde. Nada tenho a fazer. Há muito que
foram feitos os cálculos, analisados os quilómetros de hemogramas,
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Narração de Jonas:
— Oh, meu soberano, já veio amanhã. – diz ela meio cantando. – Os teus
súbditos famintos esperam por ti.
Súbditos? Mas só existíamos nós os dois naquela caravana. Será que...? Será
que estava grávida?
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Logo...
Narração de Dione:
Narração de Jonas:
Sentei-me sem pressa, no estreado, seguindo com o olhar o belo corpo em fato
de banho vermelho-azul que fugia através de reflexos do sol. Os meus esquis
roçavam de leve à água e as ondas acariciadoras refrescavam
agradavelmente os meus pés.
No final de tudo, o amor que eu sentia por ela era maior que tudo, enxergava
tudo de uma maneira tão linda e diferente. A Dione era a mulher da minha
vida.
Narração de Dione:
Posso dizer que depois de ter deixado de ter receio de me deitar na mesma
cama que Jonas, descobri que os meus sentimentos estavam no auge e cada
nervo, bem afinado e ajustado. Pouco a pouco, cá dentro, começava a ferver
de paixão por Jonas.
Narração de Jonas:
Dione, amo – te! A sua mão levantava-se num gesto de recusa e os meigos
olhos cinzentos, um pouco tristes, encaram-me através dos óculos
retangulares à moda, num ar de leve reprovação. Fico amargurado, mas não
baixo os olhos, porque estes segundos, são meus e tão fugidos.
Narração de Dione:
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Sinto que tu és meu e sei que sou a dona de teu coração. Amo–te imenso
Jonas!
Fim
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A PROSTITUTA E A AMANTE
DE JÚPITER
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“Quando penso que pra te ver tenho que perder o juízo, eu sinto que estás por dentro...”
— Margareth Do Rosário
A mulher com o rosto angelical persuadia a nossa mente, seu corpo esbelto
dava-nos prazer, muito prazer! A noite nem sempre é má naquele sítio, a
escuridão se calhar é a melhor forma que se tem para adquirir fortuna –
fortuna de fortunas é o que se quer. A mulher pode ser um instrumento de
troca, uma moeda de saída para alcançarmos a liberdade. Júpiter e seus
deuses
A razão de buscarmos paz neste vasto meio, é a forma como a sua fama se
estende ao longo do sistema solar. É claro que Júpiter acolhe o maior grupo
de terroristas do Sistema solar, mas a forma como o governo da Mancha
aplica seus métodos de defesa é impressionante.
A Terra foi sempre tida como o planeta mais pacífico muito antes do
surgimento dos primeiros seres humanos, alguns marcianos até diziam que o
planeta possuía um campo de proteção divino. Apenas eram façanhas! A
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evolução da vida inteligente na Terra foi tão lenta que os humanos nem se
apercebem que são considerados como os últimos excrementos do universo.
Foi pouco menos de três mil anos para se descobrir a verdadeira origem dos
soldados de Saturno. O capitão, que na altura dirigia o comité de boas vindas
de Saturno não apresentava quaisquer sinais de arrogância, apesar de ocupar
um posto de sol, olhava com os olhos de humildade. E quem quisesse ter
sucesso na carreira, tinha que buscar com sacrifícios…
Buscar um mar de trevas por vezes é melhor do que buscar uma enchente de
luzes, talvez a escuridão seja tanto boa quanto a luz, nela não se vê e, nem se
sente o que é possível ou impossível. É uma imensidão de pesadelos, em que
talvez, o pior dos homens se torne num herói. Ou, talvez, uma metáfora sem
sentido.
Faz tempo que este mundo deixou de ter sentido, é tudo tão entediante e não
se faz nada de jeito. O tédio é um veneno para com aqueles que têm a mente
fraca – pode resultar em suicídio!
Atenção! Ninguém quer morrer!
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A vida é muito mais bela quando se sabe viver. Pensar talvez ocupe um
tempo precioso que não sei exatamente encaixar dentro dos padrões
convencionais. Quando estava na Terra, os humanoides não possuíam
pensamentos coerentes, eram seres primitivos sem quaisquer intenções de
levar uma vida cientificamente ativa, me senti atraído através da forma
como tudo ia e, num gotejar sonoro da idade, a terra toda estava em
equilíbrio e harmonia.
Para cada guerreiro havia uma presa para abater, e para cada aventureiro
que quisesse tirar o proveito da guerra, havia a morte sem rodeios.
Sobrevivemos àquilo com coragem e bravura. A cidade proibida! Nem sei ao
certo o porquê desse título! As coisas lá eram tão normais e um pouco fora do
comum – é claro, tirando os habitantes banido das catacumbas de Vênus que
por acidente, rodeavam com o rosto desfigurado (sentia pena daqueles seres
muito antes de serem expulsos de Vênus). Tomámos a cidade e devolvemo-la
às mãos do conselho interplanetário de Júpiter.
Nessa prisão nem mesmo o perdão ajuda a se manter firme e ter o desejo de
não querer pecar jamais. Deixei os meus pecados num mundo sangrento,
minha alma e meu corpo estavam fatigados. Pensei em recomeçar, porém o
que fizera não me parava de atormentar.
Talvez a calma ainda resida no coração de cada homem e mulher que cruza
comigo na estrada. Seus habitantes carnívoros e sem noção do amor ao
próximo deixaram-me pisar no solo gasoso de JÚPITER pelos meus feitos.
Contentava-me com o pouco e com o pouco e do pouco, as minhas ambições
iam crescendo e a paixão de viver novas aventuras longe de sangue de
inocentes, vinha ter comigo, naquele solo imaculado.
– Não tenhas medo, nunca fui perfeita, mas ainda te tenho. – disse a minha
amante destemida e bela.
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– Alguém tem que me salvar de mim mesmo, não posso ser quem tu queres
que eu seja. – respondi. Noite de quinta-feira, observando os morcegos
voando sob o teto do imbondeiro, observando a escuridão que acolhe e
esconde uma legião de demónios dementes, e um clarão de luz que esconde
anjos, um batalhão deles, bem de fronte da fenda que separa o inferno do
Céu e a Terra no meio deles. A noite de agosto com o seu frio miúdo não
param. Continuam e continuam… e os espíritos famintos sem corpos
vagueiam pela Terra à busca de triunfos e, eu continuo aqui, perto de ti,
falando e agindo que nem um louco e observando bem de perto todas essas
atividades sem interesse de levantar questão. – Aumentei.
– Não mereço ouvir isso. Nossas almas são diferentes e o teu desejo e
vontade é estar na Terra, sentado na praia de uma ilha tropical equatorial,
perto de um silêncio quebrantador. Enquanto, o meu desejo e vontade é
seguir o ritmo do batimento do teu coração. – disse ela.
seres esses que dominavam a telepatia e sem querer ser charlatão, eles
viajavam no tempo!
Meu avô conhecia muito bem Júpiter e seus deuses, a sua prostituta e
também a sua amante. Mas ele me segredava quanto a amante ou a
prostituta, dizia que tinha que descobrir por mim mesmo. Pois é! E então foi
aí que meti na cabeça que um dia iria aventurar-me no sistema solar,
deixando a Terra, meu lar e meu amor.
Via sangue na janela – quero voar e sentir a presença do mal, sentir o último
suspiro da rebelião deles. Somos mercenários, caçadores de recompensas,
procuramos uma aventura a fora, e não é Júpiter que nos vai impedir de
cruzar meio sistema solar para chegar à Neptuno e então Ceres, mais
adiante, Plutão.
Eu achava que a prostitua não era uma pessoa. Mas por quê raio o meu avô
e os soldados de Saturno não se cansavam de dizer isso?
Posso até parar para relaxar, mas a ideia de saber a origem e o segredo da
grande potência do sistema solar não me deixava.
— Meus pais sempre diziam que Zeus viviam nas estrelas, e destemia de
bravura. E não é por acaso que nós estamos nesse planeta. – Continuou ela.
— Sempre soube, e sempre o meu destino cruzará o teu, por isso, vou
contigo. Disse ela.
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Quanto ao resto, não sei… cada um tem em sua vida uma prostituta e uma
amante, um céu e um inferno. Eu segui o meu caminho e a Terra, apesar dos
apesares continua a ser a minha casa e a dona do meu destino, é com ela, e eu
no meio delas.
Fim.
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O INFERNO DE UMA
FUGITIVA
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“Fique quieto quando não tiver nada a dizer; mas quando a paixão genuína tomar
conta de você, diga o que tem a dizer, e diga com paixão.”
— D. H. Lawrence
Não era de todo inteligente, não lhe faltava necessidade em casa. Viveu uma
infância mediana. Crianças comuns brincavam com ela. Cresceu com pessoas
honestas e sinceras. A sua vida era maravilhosa mesmo com certos deslizes
que a pregara ainda na tenra idade. O medo que sentia do desconhecido ia
sumindo aos poucos e a luz da verdade pousava nos seus pensamentos.
Tinha uma memória forte. Apenas havia uma coisa que deveria saber.
Depositou toda a confiança naquilo, no final nada significou e foi parar onde
hoje está.
A conversa deles era sobre uma vida feliz a ser vivida depois da morte.
Acreditavam que a sua pátria os mantinha presos a uma ideia antiga de
entrega total ao regime. Questionavam-se um ao outro como seria a vida
deles se pudessem nascer numa terra distante, longe daquele país em que
viviam. A pátria para eles era a infância linda que tiveram, onde a inocência
ainda imperava nos seus olhos e nas suas almas.
Via uma profunda frustração nos seus olhos. – sem chances! Estávamos
feitos!
— Ora viva, o que temos aqui?! – perguntou o mais novo dos dois.
— O que quer que estejam fazendo nos nossos lagos, larguem! Eu vos
ordeno! – O mais velho dos dois disse.
— És doida?
— Não temos tempo para dizer muito a cerca de nós, mas mostras ser uma
mulher sem medo do perigo. Gosto disso. – disse o mais novo dos dois.
— Desejamos sumir desse lugar. Não somos nada felizes. A vida é já uma
miséria aqui e, quanto mais viver o melhor dela? Somos obrigados a seguir
ordens sem ao menos contestar. Parecemos fortes mas somos totalmente o
oposto disso. Estes músculos não têm bom uso. Ferimos e matamos. De noite
ouvimos vozes de pessoas que... melhor não continuar mais a falar. – disse o
mais velho dos dois.
— Mas... Começaste o quê? Desde que estou contigo, ainda não vi nada de
importante ou sei lá o que! Tu só sabes falar e aprontar. Queres saber!?
Vou-me embora mesmo!
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A situação e o clima estavam tão pesados. A discussão era o meio pelo qual
poderíamos botar pra fora toda a raiva que sentíamos um do outro.
«... Uma caminhada sob o oceano, mar, lago e sei lá o que – tudo menos um rio,
era agonizante. Havia trevas na superfície. O barco mal se aguentava, mas o
motor roncava, fazendo com que fôssemos lançados de canto em canto naquele
quintal… por pouco imaginei a minha escola do ensino fundamental. Não!
Para ser sincera, não sei! A memória que tenho daquele sítio é semelhante a uma
linha fina. Tão fina ao ponto de ser confundida com fios de uma teia. Por
fragmentada que pareça, ainda consigo reuni-la na palma da minha mão. Mas é
diferente, é negócio. Sou uma máquina assassina concebida para matar e devorar
a alma de quem ousar enfrentar o meu amo. Sou cruel. Não tenho piedade e nem
coração. Meus sentimentos não passam de ecos que soam do mais profundo
abismo oceânico ».
— Todos os dias da minha vida. E isso começa como uma bomba, é terror
negro. Não esqueço de quem eu sou, vejo a minha alma num mar de chamas.
Clamo por socorro, não sei se consigo escapar desse pânico. Estou em pânico,
perdida e ao mesmo tempo confusa. Espíritos imundos me cercam,
pandemias e vómitos! Minha insanidade já não importa mais. Alguém me
salve!
Ela não se importava, apenas dizia o que sentia. Seu semblante arrepiava.
— Sangraste por mim, agora é a minha vez de fazer isso por ti. – disse eu
acompanhando a sua linha de pensamento.
A voz na minha cabeça está se tornando na minha melhor amiga. Ela diz:
pega nisso, acabe logo com a sua vida, prima o gatilho. Não quero começar
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com isso, não quero obedecer. O que vou fazer!? — Lacrimejava ela
enquanto dizia essas palavras.
O que une as pessoas talvez não seja só isso. Talvez seja algo muito além da
compreensão e, pensar sobre isso às vezes ocupa a minha mente: sobre o que
quero e o que devo fazer... O que pretendo alcançar enquanto o tempo ainda
é favorável.
II
Pensamentos de Nay:
«Fechar os olhos porque até mesmo o mais meticuloso dos demónios consegue
desvendar uma pedra. Ahhh! Porquê raios o tal demónio continua a minha traz?
Como se estivesse escondendo um medo antigo e antes que eu me vá, quero
recordar esses minutos de sustos e medo que a minha alma esconde, não posso
simplesmente deixar ir tudo assim».
— Podes estar certa. Faz tempo que estamos aqui mas hoje o movimento
está atípico. Queres-te aproximar?
— Porque eu? E, antes que prossigamos com isso, temos problema no carro.
Esse lugar e seus mistérios. Primeiro o lago e agora a casa branca no meio do
bosque. À minha frente, tenho um problema dos céus com este maldito carro– os
demónios dela começam a afetar a minha concentração. Essa mulher parece viver
um inferno. É estranho a forma como consegue saber exactamente o número de
pessoas que entram e saem daí. O laboratório fez-lhe mal... acredito que isso não
passam só de façanhas.
— Problema resolvido, o carro está como novo e por favor, mulher, evita
mencionar esses tais demónios de que estás sempre a falar, estão a dar cabo
dos meus miolos! Agora se não te importas suba no carro e vamos
aproximar-nos da casa mais um pouco. Pode ser?
— Sim, isso mesmo! Acho que devem estar a cozer tripas de javali do bosque.
E... vês aquelas cascas de ovos ali?! Pois, eles estão usando isso para
disfarçar e afastar civis dessas redondezas. – continuou falando.
— Não percebo nada do que dizes! E caso tudo isso que acabaste de falar
faça algum sentido, como sabes e porquê estariam eles a fazer isso aqui? –
perguntei.
«... Passei metade da minha vida trancada, nunca nem ninguém conversou
comigo sobre as minhas deduções. Sentia-me magoada por não perguntarem, por
ignorarem... Hoje tudo muda. Tudo está diferente. Ele, por mais que de forma
forçada, tenta pôr conversa comigo. Acredita (pelo menos) nas “minhas
façanhas...”».
«Parece que o bosque está vivo! Os homens e as mulheres, em torno de 12, que
entravam e saíam da casa parecem nus agora, saltitando de árvore em árvore.
Parecem estra num ritual de acasalamento... Estão olhando diretamente para
nós enquanto fazem sexo. Vejo a história de uma vida em cada olhar: os
momentos de tristezas e de felicidades. Vejo vícios e escravatura ancestral...
África, pessoas de África dos primórdios... Vejo o princípio».
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— Talvez. – respondi.
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Continua...
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NAUFRÁGIO
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Fantasia Temporal
Boomerang
Há três coisas no mundo incompreensíveis para mim, e uma quarta que não
concebo: o curso de uma águia no céu, de uma víbora rastejando pela rocha, de
um barco no mar alto e o caminho de um homem ao coração de um a mulher.
— Alexandre Kuprin, "sulamita"
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SOBRE O AUTOR