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3.

Potencial Elétrico

- Diferença de potencial e potencial elétrico.


- Diferenças de potencial num campo elétrico uniforme.
- Potencial elétrico e energia potencial de cargas pontuais.
- Potencial dum condutor carregado em equilíbrio eletrostático.
- Superfícies equipotenciais

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Potencial eléctrico é a capacidade que um corpo tem de realizar
trabalho, ou seja, atrair ou repelir outras cargas eléctricas.

Forças conservativas  energia potencial

Exemplos: Força da gravidade, Potencial Elétrico Lei da conservação


força elástica duma mola, (grandeza escalar) da energia
força eletrostática ... (grande valor prático)

A voltagem que se mede entre dois pontos


dum circuito elétrico é a diferença do
potencial elétrico entre os pontos.

Uma vez que a força eletrostática dada pela lei de Coulomb é conservativa, podemos
descrever os fenómenos eletrostáticos em termos de uma energia potencial.

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3.1. Diferença de Potencial e Potencial Elétrico
• A força gravitacional é conservativa (Lei da gravitação universal)

• A força eletrostática (Lei de Coulomb) tem a mesma forma, também é


conservativa  É possível definir uma função energia potencial
associada a essa força.

• Carga de prova q0 colocada num campo eletrostático E
  Soma vectorial de todas as forças
F  q0 E
individuais  conservativa.


• O trabalho feito pela força q0 E é simétrico do trabalho feito por

uma força externa que deslocasse essa carga no campo E

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• O trabalho efetuado pela força elétrica q0 E , sobre a carga de prova, num

deslocamento infinitesimal ds é:
   
dW  F  ds  q0 E  ds
• Por definição, o trabalho feito por uma força conservativa é igual ao
simétrico da variação da energia potencial, -dEp ( WFcons   E p  E pi  E pf )
 
dE p   q0 E  ds
• No caso de um deslocamento finito de carga de prova, entre os pontos A e
B, a variação da energia potencial é:
B  
E p  E p B  E p A   q0  E  ds
A

Integral Não depende do percurso


de linha seguido entre A e B
Força Conservativa

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• Por definição, a diferença de potencial, VB - VA, entre os pontos A e B é
igual à variação da energia potencial dividida pela carga de prova q0.

EpB  Ep A  W A B B  
VB  VA      E  ds
1
q0 q0 A

-Diferença de potencial  energia potencial. (diferença de potencial elétrico=voltagem)


- Proporcionais Ep = q0.V
- Ep  escalar  V escalar E p  W   Ec
- Ep = simétrico do trabalho (W) feito sobre a carga pela força elétrica dessa carga,
sendo também igual ao simétrico da variação da energia cinética (Ec).
 VA - VB igual ao trabalho, por unidade de carga, que uma força externa
deve efetuar para deslocar uma carga de prova, no campo elétrico, de A
até B, sem alterar a energia cinética (Ec) da carga.

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- A equação 1 define somente a diferença de potencial  somente as
diferenças de V têm sentido.

- Por conveniência, a função V é tomada muitas vezes como nula num


determinado ponto. Usualmente escolhemos um ponto no  como o
ponto de potencial nulo  Com essa escolha: O potencial elétrico num
ponto arbitrário é igual ao trabalho necessário, por unidade de carga,
para trazer uma carga de prova positiva do infinito até o ponto
considerado.

VA = 0 no  

Na realidade VP representa a diferença de potencial entre P e um ponto


no infinito.

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• Diferença de potencial é uma medida de energia por unidade de carga (SI)
1 V (Volt) = 1 J/C

• A diferença de potencial também tem as unidades de campo elétrico vezes


distância  a unidade SI de campo elétrico (N/C) também pode ser expressa
como Volt por metro: 1 N/C = 1 V/m

• Unidade de energia usualmente usada em física atómica e nuclear é o eletrão-


volt [def.: energia que um eletrão (ou um protão) adquire ao deslocar-se através
de uma diferença de potencial de 1V].
1 eV = 1,6×10-19 C·V = 1,6×10-19 J
Exercício: Calcule a diferença de potencial necessária para acelerar um eletrão num
feixe de um tubo de TV a partir do repouso, sabendo que a sua velocidade final é de
5x107 m/s.
Ec = ½(mv2) – 0 = 0,5·9,11x10-31 · (5x107)2 = 1,14x10-15 J
V= Ep/q=-Ec/(-e) = -1,14x10-15/-1,6×10-19  V = 7,1 kV

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3.2. Diferenças de Potencial num Campo Elétrico Uniforme e superfícies
equipotenciais.
• A diferença de potencial não depende da trajetória entre esses dois pontos;
isto é, o trabalho de levar uma carga de prova, do A até B, é sempre o mesmo,
ao longo de qualquer trajetória.  Um campo elétrico uniforme, estático, é

conservativo. E

A B

VB – VA= (EpB - EpA)/q= -WA→B/q = - E.d.cos(0º)= - E.d


  
F  q0 E  ma E = cte VB < VA

• Linhas do campo apontam segundo o potencial decrescente.

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• Se uma carga de prova q0 se deslocar de A para B  a variação da sua
energia potencial vai ser:

Ep  q0 V   q0 Ed
  
F  q0 E  ma
• Se q0 > 0  Ep < 0  Uma carga positiva (+) perde energia
potencial elétrica quando se desloca no mesmo sentido do campo.

• q0 é acelerada no sentido de E  ganha energia cinética (Ec) e perde
igual quantidade de energia potencial (Ep).
• Se q0 < 0  Ep > 0  Uma carga negativa (-) ganha energia
potencial elétrica (Ep) quando se move no mesmo sentido do campo

elétrico ( a tem sentido oposto ao sentido do campo).
• Quando uma partícula carregada é acelerada, ela perde na realidade,
energia, pela radiação de ondas eletromagnéticas.
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B
VB < VA
d´ VB = VC
A θ C
Caso geral:
VB – VA= - E.d´.cos(θ)
 
 Ep  q0 V  q0 E  d
 Todos os pontos sobre um plano perpendicular a um campo elétrico uniforme
estão num mesmo potencial: B e C estão ao mesmo potencial (VB = VC) 
VB - VA = VC - VA
 Superfície equipotencial é qualquer superfície constituída por uma
distribuição contínua de pontos que possuam o mesmo potencial.
 Sendo W= -Ep = -q0·V, não há trabalho para se deslocar a carga de prova
entre dois pontos sobre uma mesma superfície equipotencial (V=0).
 O ponto B está a um potencial inferior ao de A.
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Exercício:
Entre as placas metálicas paralelas de dois condutores eletrizados existe um campo elétrico
uniforme de intensidade E = 100 N/C. Uma partícula de carga q = 10 mC e massa m = 1 g
penetra na região perpendicularmente às linhas de força do campo, com uma velocidade v0
= 10 m/s, de acordo com a figura, atingindo, depois de certo tempo, a placa negativa.
Admitindo que a única interação sobre a partícula é elétrica, determine:
a) a aceleração da partícula;
b) o intervalo de tempo que a partícula leva para
ir de uma placa à outra;
c) a energia cinética da partícula imediatamente
antes de atingir a placa negativa;
d) o trabalho da força elétrica no deslocamento
da partícula de uma placa à outra.
e) A diferença de potencial entre as placas
  qE
a) Fe  ma  a   a  1 m/s 2
m
1 2 c) v yf  v 0y  a y t  v yf  2 m/s
b) y at  t  2s
2 1 2 1 2
E cf  mv x  mv y  E cf  5,2x10 2 J
2 2
d) W   qEd  W -  2 x 10-3 J
e) V+ - V- = Ed = 100 x 2 = 200 V

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Exercício:

No esquema estão indicadas as linhas de força de um campo


elétrico uniforme e as respetivas superfícies equipotenciais.
Considerando AB= 0,1 m e B´C= 0,2 m, determine: A B
a) o campo elétrico na região indicada B´ C
b) o trabalho realizado pela força elétrica para levar uma carga
q=10 μC de A para B 80V 60V
c) o potencial elétrico no ponto C

a) VB – VA= - E.d 60 – 80 = - E x 0,1 E = 200 N/C

b) WA→B = -(EpB - EpA )= -q(VB – VA) = -10x10-6x(60-80)= 2x10-4 J

ou WA→B = q.E.d cos(0º) = 10x10-6 x 200 x 0,1 = 2x10-4 J

c) VC – VB´ = - E.d VC – 60 = -200x0,2 VC = 20 V

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3.3. Potencial elétrico devido a uma carga pontual

• Carga q pontual positiva isolada. E radial, para fora
B   O trabalho realizado não
VB  VA    E  ds depende da trajetória
A
 efetuada para levar Q de
ds dr  q A para B, em virtude da
Q
E  k 2
rˆ força elétrica ser
r
conservativa.
C
  q  WAB = WAC + WCB
E  ds  k 2 r  ds
ˆ
q r WAC = 0

WAB = WCB

1 1
VB  VA  kq   
 rB rA 

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VB - VA é independente da trajetória entre A e B, como deve ser.

• VB - VA só depende das coordenadas radiais rA e rB

• É comum escolher como zero o potencial em rA= 


1
(naturalmente V α ; rA    V  0 )
rA
 Com esta escolha, o potencial elétrico de uma carga pontual, a uma

distância r da carga, é:
q
V k
r
 V = constante sobre uma superfície esférica de raio r. As superfícies
equipotenciais são superfícies esféricas concêntricas com a carga.

Recorde que uma superfície equipotencial é perpendicular em cada ponto a


uma linha do campo elétrico.

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• Potencial elétrico de duas ou mais cargas pontuais
 princípio da sobreposição.

q2 r2
P qi
r1 Potencial total em P: V  k 
r3 i ri

q1 q3 tomamos V = 0 no , e ri é a distância do ponto P à carga qi

q1 q2 q3
V  V1  V2  V3 V k k k
r1 r2 r3

é uma soma algébrica de escalares

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Trabalho realizado para levar a carga Q de A para B na presença da carga q

Q WFelect   E p  E pi  E pf
q

Qq Qq
WFelect  E pA  E pB  Q(VA  VB )  k  k
dA dB

O trabalho realizado não depende da trajetória efetuada para ir de A para B, em


virtude da força elétrica ser uma força conservativa.

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Exercício:
Duas cargas pontuais, Q1 = 4x10-8 C e Q2 = -4x10-8 C,
criam um campo elétrico, como mostra a figura. Determine:
a) o potencial elétrico total no ponto a;
b) o potencial elétrico total no ponto b;
c) o trabalho realizado pela resultante das forças elétricas,
no deslocamento de uma carga q= 1x10-10 C, desde o ponto
a até ao ponto b.
kQ1 kQ 2
a) Va1   Va1  3,6x103 V Va2   Va2  3,6x103 V
d1 d2
Va  Va1  Va2  Va  0
kQ1 kQ 2
b) Vb1  '
 Vb1  6x10 3
V Vb2  '
 Vb2  9 x10 3
V
d1 d2
Vb  Vb1  Vb2  Vb  3x103 V

c) Wa b  qVa  Vb   Wab  3 x 10-7 J

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3.4. Energia potencial de interação de um sistema de partículas carregadas
V1 = potencial da carga q1 no ponto P  o trabalho necessário para trazer q2,
do  até P, sem aceleração, é dado por -q2 (V1 - V) = -q2V1
• Por definição, esse trabalho = -ΔEp, é o simétrico da energia potencial de
interação do sistema de 2 partículas separadas por uma distância r12.
P q2 q1
W P  E p  q2 V VP  k
 r12
r12
q1q2
q1 E p  q2 V  q2 VP  V   q2VP  k
r12
 q1 e q2 mesmo sinal  Ep > 0
q1 e q2 repelem-se e efetuou-se trabalho sobre o sistema para aproximar uma
carga da outra.
 q1 e q2 sinais opostos  Ep < 0
q1 e q2 atraem-se e o sistema cede trabalho quando as cargas se aproximam.

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Se o sistema tiver mais de duas partículas carregadas
q2
Interpretação: Suponhamos q1
r12 r23 fixa (numa posição dada) e q2 e q3
no .
q1 r13 q3
q1q2
-1xTrabalho para trazer q2 do  à k
sua posição na vizinhança de q1 é: r12

-1xTrabalho para trazer q3 do  à sua qq qq


k 1 3 k 2 3
posição na vizinhança de q1 e q2 é: r13 r23
Cálculo de Ep para todos os pares de cargas, e soma algébrica dos resultados.
Para 3 cargas, por exemplo, teremos a energia potencial de interação entre as cargas:
 q1q2 q1q3 q2 q3 
E p  k    
 r12 r13 r23 
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Exemplo:

a) Calcular o potencial elétrico em (4.00; 0) m.

 2  10  6  6  10  6 
V P  9  10 
9
   -6300
6290 V
 4 5  q qq qq q q 
V k E p  k  1 2  1 3  2 3 
r  r12 r13 r23 
b) Determinar a energia potencial de interação do sistema de partículas carregadas.

ou

  6 9 10  2 10
9 6

U    6 10 6300  3 10 6   5.48 10  2 J
 6290
 3 

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Condutores em Equilíbrio Eletrostático
• Um bom condutor elétrico (ex: cobre) contém cargas (e-) que não estão ligadas
a nenhum átomo e podem deslocar-se no seu interior.
• Condutor em equilíbrio eletrostático: quando não há um movimento líquido de
 do metal.
cargas no interior 
E E 
Ed

O campo interno opõe-se ao


campo externo
  
E  Ed  0
Os eletrões movimentan-se de modo a que no interior do condutor o campo
elétrico seja nulo
Como não pode haver carga líquida no interior do condutor  qualquer excesso de
carga, num condutor em equilíbrio eletrostático, deve estar na superfície do condutor.

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O Potencial dum condutor carregado em equilíbrio eletrostático.
O condutor em equilíbrio:
• excesso
 de carga está localizado na superfície externa.
• E na face externa é perpendicular à superfície.

• E = 0 no interior do condutor.
• Todos os pontos sobre a superfície dum condutor carregado,
em equilíbrio, têm o mesmo potencial (superfície equipotencial).
Sobre qualquer curva, na superfície
 
E  ds
 
E  ds  0
B  
VB  VA    para todo
E  ds  0
A AeB
O campo elétrico é perpendicular à superfície equipotencial
(se o campo elétrico tivesse uma componente tangencial, as cargas livres deslocar-
se-iam sobre a superfície, criariam correntes, e o condutor não estaria em equilíbrio).
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 A superfície de qualquer condutor carregado, em equilíbrio eletrostático, é
uma superfície equipotencial.

E  0 no interior  o potencial é constante P no interior do condutor, é
igual ao valor que tem na superfície do condutor.
 Não há trabalho para deslocar uma carga de prova do interior até a sua
superfície, um condutor carregado e em equilíbrio eletrostático.

Esfera metálica maciça R


de raio R, carga Q Potencial elétrico
em função da
Q V
V k r  R (V = 0 no ) KQ KQ distância r, a partir
r
R R do centro da esfera
Q r
V k rR
r E Intensidade do
KQ campo elétrico em
E=0, r<R r2
função da distância
r r, a partir do centro
Q R
E k rR da esfera
r2

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Propriedades de um condutor em equilíbrio eletrostático:

1. O campo elétrico é nulo em qualquer ponto no interior do condutor.


2. Qualquer excesso de carga, num condutor isolado, deve estar, necessária
e inteiramente, na superfície do condutor.
3. O campo elétrico na face externa da superfície de um condutor é
perpendicular à superfície do condutor e tem o módulo igual a E=σ/ε0,
onde  é a carga por unidade de área no ponto da superfície.
4. Num condutor com forma irregular, a carga tende a acumular-se nos
locais onde o raio de curvatura da superfície é pequeno, isto é, onde a
superfície é pontiaguda.

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Exemplo (Gaiola de Faraday) - blindagem eletrostática
O campo elétrico externo induz a mobilidade de cargas na superfície da gaiola cujo
campo elétrico vai cancelar o campo elétrico externo no interior da superfície da gaiola.
As cargas espalham-se uniformemente na superfície externa da gaiola. Esta estrutura
previne que sinais elétricos muito fortes, por exemplo provenientes de um relâmpago,
criem campo elétricos muito intensos dentro da gaiola.

Os corpos dentro da gaiola estão protegidos dos Os passageiros de automóveis e aviões


raios externos, mesmo ao tocarem a parte ficam protegidos dos raios em dias de
interior da gaiola. tempestade.

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Superfícies equipotenciais.

• Uma superfície diz-se equipotencial se todos os


pontos desta estão ao mesmo potencial.

• O potencial elétrico é constante para qualquer


deslocamento perpendicular ao campo

• Como numa superfície equipotencial ∆V=0, então


as linhas de campo elétrico devem ser
perpendiculares às superfícies equipotenciais,
apontando no sentido das superfícies equipotenciais
com menor potencial.

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