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Matemática I

Funções Reais de Variável Real

Anabela Pereira

Departamento de Matemática

Anabela Pereira (Departamento de Matemática) Funções Reais de Variável Real 1 / 25


Generalidades de f.r.v.r.

Domínio e contradomínio

Zeros e sinal

Paridade e bijectividade (injectividade e sobrejectividade)

Monotonia e extremos

Concavidades e pontos de in‡exão

Funções limitadas

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Ponto de acumulação e ponto interior

De…nições
Seja A subconjunto de R e a 2 R.
Diz-se que a é um ponto interior de A se existir pelo menos um
valor ε > 0, no intervalo ]a ε, a + ε[ (vizinhança de a com raio ε)
contido ou igual a A. Ao conjunto de todos os pontos interiores de A
dá-se o nome de interior de A, e representa-se por intA.
Diz-se que a é um ponto de acumulação de A se, qualquer que
seja o valor ε > 0, no intervalo ]a ε, a + ε[ (vizinhança de a com
raio ε), existe pelo menos um elemento de A diferente de a. O
conjunto de todos os pontos de acumulaçao representa-se por A0 .

Observações:
- O ponto de acumulação a pode pertencer ao conjunto A ou não.
- Se a 2 A e a é um ponto isolado, então não é ponto de acumulação A.
- Seja A R. Então, intA A0 .
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Ponto de acumulação ponto interior

Problema
Considere os conjuntos

A1 = (x, y ) 2 R2 : x 0 ^ y 1
q 2

A2 = (x, y ) 2 R2 : (x 1)2 + (y 1)2 2


A3 = n(x, y ) 2 R2 : x 1 ^ y 1o
p
A4 = (x, y ) 2 R2 : x 2 + y 2 1
A5 = n(x, y ) 2 : x 1^yR2 1
2 o
p
A6 = (x, y ) 2 R : x 2 + y 2
2 2

Represente-os gra…camente e indique o seu interior e o conjunto dos


pontos de acumulação.

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Limites Finitos
De…nição (Limite segundo Cauchy)
Sejam a um ponto de acumulação de Df e b 2 R. Diz-se que f tende
para b quando x tende para a, isto é,

lim f (x ) = b sse
x !a
8 δ > 0 9 ε > 0 8 x 2 Df n f a g : j x a j < ε ) j f ( x ) b j < δ
ou
8δ > 09ε > 08x 2 Df n fag : a ε < x < a + ε ) b δ < f (x ) < b + δ

Lê-se:
qualquer que seja o número real δ > 0,
existe um número real ε > 0
tal que, para qualquer x 2 Df n fag ,
se x se aproxima de a numa vizinhança de raio ε, jx aj < ε ,
então f aproxima-se de b numa vizinhança de raio δ, jf (x ) b j < δ.
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Limites Laterais

Observações:

Se lim f (x ) = lim+ f (x ) = b então lim f (x ) = b;


x !a x !a x !a

Se lim f (x ) 6= lim+ f (x ) = b então não existe lim f (x ).


x !a x !a x !a

Proposição (Unicidade de Limite): O limite de uma função num ponto,


quando existe, é único.

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Propriedades dos limites …nitos
Proposição: Se f e g são f.r.v.r. com limite …nito em a (para a …nito ou
in…nito) e k 2 R, então:

lim kf (x ) = k lim f (x );
x !a x !a

lim [(f + g ) (x )] = lim f (x ) + lim g (x );


x !a x !a x !a

lim [(f g ) (x )] = lim f (x ) lim g (x );


x !a x !a x !a

lim [(f g ) (x )] = lim f (x ) lim g (x );


x !a x !a x !a

lim jf (x )j = lim f (x ) .
x !a x !a
(nota: j f j pode ter limite no ponto a e a função f não ter)
se lim g (x ) 6= 0, então
x !a
h i lim f (x )
f x !a
lim g (x ) = lim g (x )
.
x !a x !a

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Propriedades dos limites …nitos

Teorema (do Encaixe)


Sejam f , g e h f.r.v.r., de…nidas num intervalo I , e a pertencente ao
interior de I . Se

f (x ) g (x ) h (x ), 8x 2 I e

lim f (x ) = lim h(x ) = b,


x !a x !a
então
lim g (x ) = b.
x !a

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Propriedades dos limites in…nitos

Sejam f , g f.r.v.r e a …nito ou in…nito, então:


Para a soma:

1. se lim f (x ) = +∞ e lim g (x ) = +∞, lim [(f + g ) (x )] = +∞;


x !a x !a x !a

2. se lim f (x ) = ∞ e lim g (x ) = ∞, lim [(f + g ) (x )] = ∞;


x !a x !a x !a

3. sendo b 2 R,

se lim f (x ) = +∞ e lim g (x ) = b, lim [(f + g ) (x )] = +∞;


x !a x !a x !a

se lim f (x ) = ∞ e lim g (x ) = b, lim [(f + g ) (x )] = ∞.


x !a x !a x !a

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Propriedades dos limites in…nitos
Para o produto:
4. sendo b 2 R+ ,
se lim f (x ) = +∞ e lim g (x ) = b, então lim [(f g ) (x )] = +∞;
x !a x !a x !a
se lim f (x ) = ∞ e lim g (x ) = b, então lim [(f g ) (x )] = ∞;
x !a x !a x !a

5. sendo b 2 R ,
se lim f (x ) = +∞ e lim g (x ) = b, lim [(f g ) (x )] = ∞;
x !a x !a x !a
se lim f (x ) = ∞ e lim g (x ) = b, lim [(f g ) (x )] = +∞;
x !a x !a x !a

6.
se lim f (x ) = +∞ e lim g (x ) = +∞, então lim [(f g ) (x )] = +∞;
x !a x !a x !a
se lim f (x ) = ∞ e lim g (x ) = +∞, então lim [(f g ) (x )] = ∞;
x !a x !a x !a
se lim f (x ) = ∞ e lim g (x ) = ∞, então lim [(f g ) (x )] = +∞.
x !a x !a x !a

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Propriedades dos limites in…nitos

Para o inverso e o quociente: seja g não nula numa vizinhança de a


(excepto, eventualmente em a).

7. se lim g(x)=∞ então lim g (1x ) = 0;


x !a x !a

8. se lim g (x ) = 0 então lim g (1x ) = ∞;


x !a x !a

f (x )
9. se lim g (x ) = ∞ e lim f (x ) é …nito, então lim g (x ) = 0;
x !a x !a x !a

10. se lim g (x ) = 0 e lim f (x ) é in…nito ou …nito e diferente de zero,


x !a x !a
f (x )
lim g (x ) = ∞. (dependendo do sinal de f e g , poderemos averiguar se este
x !a
limite é +∞ ou ∞)

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Propriedades dos limites
Observações complementares:

Diz-se que f é um in…nitésimo quando x tende para a se

lim f (x ) = 0.
x !a

Proposição: Se f é um in…nitésimo quando x tende para a e g é uma


f.r.v.r. limitada. então f g é um in…nitésimo quando x tende para a.

Os símbolos seguintes são designados por símbolos de indeterminação:

(+∞) (+∞) (+∞) + ( ∞) 0 (+∞)



0 ( ∞) 0
0 ∞
00 ∞0 1∞

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Limites notáveis

Alguns limites notáveis ou de referência:


ex
lim senx
x =1 lim x k = +∞ (k 2 R)
x !0 x !+∞

x
lim e x
1
=1 lim lnkx =0 (k > 0)
x !0 x !+∞ x

ln (x +1 ) k x
lim x =1 lim 1+ x = ek (k 2 R)
x !0 x !+∞

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Funções Contínuas
Consideremos f : Df R ! R uma função real de variável real (f.r.v.r.)
e a um ponto de acumulacão de Df que pertence a Df .

Diz-se que f é contínua em a se lim f (x ) = f (a).


x !a

Diz-se que f é contínua à esquerda em a se lim f (x ) = f (a).


x !a

Diz-se que f é contínua à direita em a se lim+ f (x ) = f (a).


x !a

Diz-se que a f é contínua no intervalo [a, b ] se f é contínua em


qualquer ponto de ]a, b [, contínua à direita em a e contínua à
esquerda em b.

Diz-se que f é contínua se f é contínua em qualquer ponto do seu


domínio.
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Funções Contínuas
Nota: São consideradas contínuas em todo o seu domínio as seguintes
funções:
polinomiais,
racionais,
com raízes,
trigonométricas,
exponenciais e
logarítmicas.

Proposição: Se f , g são funções contínuas em a e k 2 R, então:


as funções kf , f + g , f g, f g e j f j são contínuas em a;
1 f
se g (a) 6= 0, as funções g e g são contínuas em a.

Proposição: Se f é uma função contínua em a e g é contínua em f (a),


então g f é contínua em a.
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Prolongamento por Contínuidade
Sendo f e g duas funções com domínios Df e Dg , diz-se que g é um
prolongamento de f (ou que f é uma restrição de g ) se

Df & Dg e 8 x 2 Df , f (x ) = g (x ).

Proposição: Seja f : Df R ! R e a um ponto de acumulação de Df ,


com a 2
/ Df .
f é prolongável por continuidade a a sse existe (e é …nito) lim f (x ).
x !a
Neste caso, o prolongamento por continuidade de f a a é a função

g : Df [ f a g ! R

de…nida por (
f (x ) , se x 2 Df
g (x ) = lim f (x ) , se x = a
x !a

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Teoremas Fundamentais

Teorema (de Bolzano)


Seja f : Df R ! R uma função contínua em [a, b ], com a < b. Então,
para qualquer k estritamente compreendido entre f (a) e f (b ), existe pelo
menos um c 2]a, b [ tal que f (c ) = k, isto é, 9c 2]a, b [: f (c ) = k.

Corolário (1)
Se f é contínua no intervalo [a, b ] e não se anula em algum ponto de
[a, b ], então em todos os pontos de [a, b ] a função f tem o mesmo sinal.

Corolário (2)
Se f é contínua no intervalo [a, b ] e f (a) f (b ) < 0 então f tem pelo
menos um zero em ]a, b [, isto é, 9c 2]a, b [: f (c ) = 0

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Teoremas Fundamentais

Teorema (de Weierstrass)


Qualquer função contínua num intervalo [a, b ] (fechado e limitado) tem
máximo e mínimo nesse intervalo.
Observação: Em qualquer um destes resultados, as condições são apenas
condições su…cientes; não são condições necessárias.

Teorema (continuidade da função inversa)


Se f : I R ! R é uma função contínua e estritamente monótona em I ,
então:
f é invertível em I ;
f 1 é estritamente monótona;
f 1 é contínua.
Observação: O facto de f ser estritamente monótona em I garante que f é
injectiva em I .
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Funções Trigonométricas Inversas
Função Seno e sua inversa Arco Seno
Considere-se a função seno, de…nida por:

f : R ! [ 1, 1]
x ! sen x

1
/1 2

−2π 2π
−3π −π 0 π 3π
/−
12

−1

Esta função é contínua em R mas não é injectiva. Para a inverter vamos


π π
considerar a sua restrição principal 2 , 2 onde a função seno é
contínua e estritamente crescente.
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Funções Trigonométricas Inversas
Função Seno e sua inversa Arco Seno
y y
π/2
y = arcsenx

y = senx
1 1

−π/2 −1 0 −1 0
x x
1 π/2 1

−1 −1

−π/2

f : π π
! [ 1, 1] 1 [ 1, 1] ! π π
2, 2 f : 2, 2
x ! sen x x ! arcsen x
é contínua é contínua
é estritamente crescente é estritamente crescente
é impar é impar
tem zero em x = 0 tem zero em x = 0
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Funções Trigonométricas Inversas
Função Coseno e sua inversa Arco Coseno
Considere-se a função coseno, de…nida por:

f : R ! [ 1, 1]
x ! cos x
y
1
/1 2

−3π −2π −π/2 π/2 3π/2 2π x


0
−π /−
12 π

−1

Esta função é contínua em R mas não é injectiva. Para a inverter vamos


considerar a sua restrição principal [0, π ] onde a função coseno é contínua
e estritamente decrescente.
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Funções Trigonométricas Inversas
Função Coseno e sua inversa Arco Coseno

π
y = arccos x
1
y = cos x

π/2 π π/2

−1
−1 1

! [ 1, 1] 1 [ 1, 1] !
f : [0, π ] f : [0, π ]
x ! cos x x ! arccos x
é contínua é contínua
é estrit. decrescente é estrit. decrescente
tem zero em x = π2 tem zero em x = 1

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Funções Trigonométricas Inversas
Função Tangente e sua inversa Arco Tangente
Considere-se a função tangente, de…nida por:
tg : Rnfx : x 6= π
2 + kπ, k 2 Zg ! R
sen x
x ! tg x = cos x

10

−3π/2 −π −π/2 0 π/2 π 3π/2

−5

−10

Para a inverter a tangente vamos considerar a sua restrição principal


π π
2 , 2 onde a função é contínua e estritamente crescente.
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Funções Trigonométricas Inversas
Função Tangente e sua inversa Arco Tangente

10

5
π/2

− π/2 0 π/2 0

−π/2
−5

− 10

f : π π
2, 2 ! R f 1 : R ! π π
2, 2
x ! tg x x ! arctg x
é contínua é contínua
é estrit. crescente é estrit. crescente
tem zero em x = 0 tem zero em x = 0

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Fórmulas Trigonométricas

Algumas fórmulas trigonométricas:

sen2 α + cos2 α = 1

1
sen2 α = 2 (1 cos (2α))

1
cos2 α = 2 (1 + cos (2α))

sen (α β) = sen α cos β cos α sen β

cos (α y ) = cos α cos β sen α sen β

1
tg2 α = 1 sec2 α (com sec α = cos α )

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