Você está na página 1de 81

MATEMÁTICA I

Funções Reais de Variável Real - Limites e Continuidade

Paula Reis

Departamento de Matemática - ESTSetúbal

Ano lectivo 2023/24

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 1 / 81


Algumas Noções Topológicas

De…nição (Distância): dados x, y 2 R, a distância entre x e y de…ne-se


por d (x, y ) = jx y j .

De…nição (Bola aberta): seja a 2 R e ε > 0, chama-se bola aberta


de centro a com raio ε, e representa-se por Bε (a), o conjunto de todos os
números reais cuja distância ao real a é menor do que ε :

Bε ( a ) = f x 2 R : j x a j < ε g = fx 2 R : ε<x a < εg


= ]a ε, a + ε[ .

Exemplos: B4 (0) = ] 4, 4[ ; B1 (2) = ]1, 3[ ; B1 ( 1) = ] 2, 0[


B0,01 (1) = ]0.99, 1.01[ .

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 2 / 81


Algumas Noções Topológicas
De…nição: dados A R e a 2 R, diz-se que a é ponto interior de A se
existir pelo menos uma bola aberta de centro a toda contida em A, isto é,

9ε > 0, Bε (a) A.

Chama-se interior de A e representa-se por int (A), o conjunto de todos


os pontos interiores de A.
Exercício: determine o interior dos seguintes subconjuntos de R :

A = ] 3, 1[ [ ]1, 6] ; B= n 1
,n 2 N .

De…nição: dados V R e a 2 V , diz-se que V é uma vizinhança de a


se V contém uma bola aberta de centro a.
Exemplos: V = 1, 23 é uma vizinhança de 1, pois por
exemplo V B0,01 (1) ; R é vizinhança de qualquer número real.
Observação: Como Bε (a) Bε (a) então Bε (a) é uma vizinhança de a.
Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 3 / 81
Algumas Noções Topológicas
De…nição: dados A R e a 2 R,diz-se que a é ponto de acumulação
de A se e só se qualquer bola aberta de centro em a intersecta An fag ,
isto é,
8ε > 0, Bε (a) \ An fag 6= ∅.
O conjunto dos pontos de acumulação de A designa-se por conjunto
derivado e representa-se por A0 .
Observações:
Intuitivamente, podemos a…rmar que a é ponto de acumulação de A,
se nos podemos aproximar de a, tanto quanto pretendermos, por
valores do conjunto A diferentes de a.
a é ponto de acumulação de A sse qualquer bola aberta de centro a
contém in…nitos elementos do conjunto A.

Exercício: determine o derivado dos seguintes subconjuntos de R :


A = ] 3, 1[ [ ]1, 6] ; B = n 1 , n 2 N .
Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 4 / 81
Noção de Limite Finito

Exemplo: Seja a função f de…nida por

x2 1
f (x ) =
x 1
com Df = Rn f1g e 1 ponto de acumulação de Df . Factorizando o
numerador da expressão analítica de f , temos

x2 1 (x + 1) (x 1)
f (x ) = = = x + 1, para todo x 6= 1
x 1 x 1

Obs.: A função f não está de…nida em 1, mas está de…nida para qualquer
x "próximo"de 1 .

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 5 / 81


Noção de Limite Finito

Vamos observar o que acontece com o valor de f (x ) à medida que x se


aproxima de 1:
Através de alguns valores de x inferiores a 1:

Através de alguns valores de x superiores a 1:

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 6 / 81


Noção de Limite Finito
No grá…co de f observa-se o seguinte:

O valor de f (x ) aproxima-se de 2 quando x se aproxima de 1.


Deste modo, dizemos que o limite de f (x ) quando x se aproxima de 1 é 2,
e escreve-se simbolicamente:
lim f (x ) = 2
x !1
Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 7 / 81
Noção de Limite Finito
De…nição (Limite num ponto segundo Cauchy)
Seja a um ponto de acumulação de Df , diz-se que a função f tende para
um limite b 2 R, quando x tende para a se e só se, qualquer que seja o
número real δ > 0, existir um número real ε > 0, tal que, para qualquer x
2 Df n fag que veri…ca a condição jx aj < ε, se tenha jf (x ) b j < δ.
Simbolicamente escreve-se
0 1
B C
8δ > 0 9ε > 0, 8x 2 Df n fag : @jx aj < ε =) jf (x ) b j < δA .
| {z } | {z }
x 2B ε (a ) f (x )2B δ (b )

e representa-se por
lim f (x ) = b,
x !a

Obs.: o símbolo 8 designa-se por quanti…cador universal e lê-se "qualquer


que seja"ou "para todo". O símbolo 9 designa-se por quanti…cador
existencial e lê-se "existe pelo menos um".
Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 8 / 81
Noção de Limite Finito

A …gura seguinte ilustra o conceito de limite. Têm-se valores de f (x ) tão


próximos de b quanto se pretenda (dado δ > 0), desde que x esteja
su…cientemente próximo de a (existe ε > 0).

Propriedade (unicidade do limite): O limite de uma função quando


existe é único.
Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 9 / 81
Limites Laterais

lim f (x ) = b representa o limite lateral de f à direita de a e


x !a +
lê-se f tende para b, quando x tende para a por valores
superiores ou à direita de a.

lim f (x ) = b representa o limite lateral de f à esquerda de a e


x !a
lê-se f tende para b, quando x tende para a por valores inferiores
ou à esquerda de a

Propriedade: lim+ f (x ) = lim f (x ) = b , lim f (x ) = b.


x !a x !a x !a

Obs.: Se lim+ f (x ) 6= lim f (x ) então não existe lim f (x ) .


x !a x !a x !a

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 10 / 81


Limites Laterais
Exemplo: Considere-se a função f de domínio R de…nida por
x , x 2
f (x ) = .
x +1 , x > 2

Do grá…co de f facilmente se reconhece que,


lim f (x ) = lim+ (x + 1) = 3 e lim f (x ) = lim x = 2
x !2 + x !2 x !2 x !2

pelo que não existe lim f (x ) .


x !2
Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 11 / 81
Limites Laterais
Exemplo: Considere-se a função f de domínio R cujo esboço grá…co é

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 12 / 81


Limites Laterais
Para os limites laterais de f em 1, tem-se:
lim f (x ) = 0
x !1
e
lim f (x ) = 0
x !1 +
Como,
lim f (x ) = lim+ f (x ) = 0 então lim f (x ) = 0.
x !1 x !1 x !1
Para os limites laterais de f em 3, tem-se:
lim f (x ) = 4
x !3
lim f (x ) = 2
x !3 +
Como
lim f (x ) 6= lim+ f (x ) então não existe lim t (x ) .
x !3 x !3 x !3

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 13 / 81


Propriedades dos Limites Finitos
Proposição: sejam c 2 R, n 2 N, f e g funções reais de variável real (
f.r.v.r) com limite …nito no ponto a 2 R. Então:
lim k = k, com k 2 R, (limite de uma constante é a própria
x !a
constante).
lim x = a, (limite da função identidade).
x !a
lim x n = an . (limite da n-ésima potência de x)
x !a
Existem e são …nitos os limites das funções cf , f + g , f g, f g,
tendo-se
lim [f (x ) g (x )] = lim f (x ) lim g (x )
x !a x !a x !a

lim [f (x ) g (x )] = lim f (x ) lim g (x )


x !a x !a x !a

lim [cf (x )] = c lim f (x )


x !a x !a

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 14 / 81


Propriedades dos Limites Finitos

p
n f
Existem e são …nitos os limites de f n , de f e de g tendo-se
h in
lim f n (x ) = lim [f (x )]n = lim f (x )
x !a x !a x !a

p q
n
lim f (x ) = n lim f (x ), (se n for par, f (x ) 0) .
x !a x !a

h i lim f (x )
f (x ) x !a
lim g (x )
= lim g (x )
, se lim g (x ) 6= 0.
x !a x !a x !a

Obs.: Se lim f (x ) = lim g (x ) = 0, estamos perante uma


x !a x !a
indeterminação da forma 00 .

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 15 / 81


Propriedades dos Limites Finitos
Exemplos:

lim 3 = 3. lim x = 1.
x !1 x! 1

lim (3x 1) = lim (3x ) lim 1 = 3 2 1 = 5.


x !2 x !2 x !2

lim (2 5x ) = lim 2 lim (5x ) = 2 (5 3) = 30.


x !3 x !3 x !3

lim (3x 1 )
3x 1 x! 1 3 ( 1) 1
lim = = = 4.
x ! 1 x +2 lim (x +2 )
x! 1
1 +2

2
lim (3x )2 = lim (3x ) = [3 ( 1)]2 = ( 3)2 = 9.
x! 1 x! 1
q q r q q p
lim 1
1 2
lim x 2 +1
= lim 21 = x !1
lim (x 2 +1 )
= 1
1 2 +1
= 1
2 = 2 .
x !1 x !1 x +1 x !1

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 16 / 81


Propriedades dos Limites Finitos

De…nição: Diz-se que uma dada função f é um in…nitésimo em a se


lim f (x ) = 0.
x !a
Proposição: Sejam f e g duas funções tais que lim f (x ) = 0 e g é uma
x !a
função limitada. Então,

lim [f (x ) g (x )] = 0,
x !a

isto é, o produto de um in…nitésimo por uma função limitada é um


in…nitésimo.
Exemplo: Calcular lim x 2 sen( x1 ) .
x !0
Como lim x 2 = 0 e a função seno é limitada entre 1 e 1, tem-se
x !0

1
lim x 2 sen( ) = 0.
x !0 x

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 17 / 81


Propriedades dos Limites Finitos
Teorema do Encaixe (ou do enquadramento): Sejam f , g e h funções
reais de variável real tais que, para todo x 2 Bε (a) = ]a ε, a + ε[,
(excepto, eventualmente em a), veri…ca
g (x ) f (x ) h (x )
e
lim g (x ) = lim h(x ) = b
x !a x !a
então
lim f (x ) = b.
x !a

Obs.: Resulta da de…nição de limite


lim f (x ) = b , lim [f (x ) b ] = 0 , lim jf (x ) b j = 0,
x !a x !a x !a

o que se utiliza frequentemente quando se aplica o Teorema do Encaixe.

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 18 / 81


Propriedades dos Limites Finitos
Exemplo: Provar que lim x 2 sen( x1 ) = 0. Atendendo a que se tem
x !0

1 1
1 sen( ) 1 , x2 x 2 sen( ) x 2,
x (x 2 >0 ) x
e
lim x 2 = lim x 2 = 0,
x !0 x !0

vem pelo teorema do encaixe

1
lim x 2 sen( ) = 0.
x !0 x

p
Exercício: Mostre que lim 3
x cos( x1 ) = 0.
x !0

Exercício: Mostre que lim senx x = 1.


x !0
Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 19 / 81
Limites In…nitos e no In…nito

Exemplo: Seja a função g de…nida por g (x ) = 2 1


x, com Dg = Rn f0g.

Analisando a tabela e o grá…co de g , para valores de x próximos de 0,


tem-se lim f (x ) = +∞ e lim+ f (x ) = ∞.
x !0 x !0
A função f diz-se um in…nitamente grande positivo (negativo), quando
x tende para a, se lim f (x ) = +∞ (respectivamente ∞), para a …nito
x !a
ou in…nito. A função f diz-se um in…nitamente grande quando x tende
para a, se lim f (x ) = ∞.
x !a

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 20 / 81


Limites In…nitos e no In…nito

Exemplo: para a função exponencial, f (x ) = c x de domímio R, tem-se

lim f (x ) = lim c x = +∞
x !+∞ x !+∞

lim f (x ) = lim c x = 0
x! ∞ x! ∞
para c > 1

lim f (x ) = lim c x = 0
x !+∞ x !+∞

lim f (x ) = lim c x = +∞
x! ∞ x! ∞
para c < 1

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 21 / 81


Limites In…nitos e no In…nito
Exemplo: para a função logaritmo, f (x ) = logc x, de domínio
Df = R+ , tem-se

lim f (x ) = lim logc x = +∞


x !+∞ x !+∞

lim f (x ) = lim+ logc x = ∞


x !0 + x !0

para c > 1

lim f (x ) = lim logc x = ∞


x !+∞ x !+∞

lim f (x ) = lim+ logc x = +∞


x !0 + x !0

para c < 1
Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 22 / 81
Limites In…nitos e no In…nito
Propriedade: Sejam f e g funções reais de variável real, a …nito ou
in…nito, tais que, para todo o x numa vizinhança de a (excepto,
eventualmente, em a), se tem

g (x ) f (x ) .

Se lim f (x ) = +∞, então lim g (x ) = +∞.


x !a x !a

Se lim g (x ) = ∞, então lim f (x ) = ∞.


x !a x !a
Obs: As propriedades para a soma, produto e quociente dos limites
…nitos de funções, são válidas para os limites in…nitos, excepto se o
limite da soma ou da diferença dá ∞ ∞, o limite do produto dá 0 ∞ e

o limite do quociente dá ∞ , situações a que chamamos de
indeterminação. Isto signi…ca que, a existência ou não de limite, bem
como o seu valor, depende das funções envolvidas e não resulta
imediatamente de uma propriedade das operações.
Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 23 / 81
Limites In…nitos e no In…nito
Numa notação abreviada, tem-se a seguinte tabela para o cálculo de
limites in…nitos:
f
lim f (x ) lim g (x ) lim (f + g ) (x ) lim (f g ) (x ) lim g
x !a x !a x !a x !a x !a
b>0 ∞ ∞ ∞ 0
b<0 ∞ ∞ ∞ 0
0 ∞ ∞ 0 ∞ 0
∞ b>0 ∞ ∞ ∞
∞ b<0 ∞ ∞ ∞
∞ 0 ∞ 0 ∞ ∞

+∞ +∞ +∞ +∞ ∞

+∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞

∞ +∞ ∞ ∞ ∞ ∞

∞ ∞ ∞ +∞ ∞

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 24 / 81


Limites no In…nito e Limites In…nitos
Exemplos: Calcule
1 lim x 3 + 3x 2 = (+∞) + (+∞) = +∞.
x !+∞
2 lim 2x 3 = 2 ( ∞) = +∞.
x! ∞
3 lim 22 = 2
+∞ = 0.
x! ∞x
4 lim 1
x +1 = 1
0+ = +∞.
x ! 1+
5 lim 1
x 2 = 0
1
= ∞.
x !2
x
6 lim (e ) = 0.
x !+∞
7 lim (e x + e x
) = lim (e x ) + lim (e x
) = (+∞) + 0 = +∞
x !+∞ x !+∞ x !+∞
8 lim ln x = +∞.
x !+∞
9 lim 4 = +4∞ = 0.
x !+∞ ln x
+ ∞
10 lim lnxx = 0 ∞ = 0; lim+ lnxx = 0+ = ∞.
x !0 + x !0
Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 25 / 81
Indeterminações - Exemplos

Indeterminação 00 : em geral, resulta do limite de uma fracção redutível.


O valor para o qual o x tende, é raíz do numerador e do denominador e
normalmente consegue-se levantar a indeterminação, factorizando os
termos e simpli…cando a fracção.

x2 9
Exemplo: Calcular lim .
x ! 3 x +3

x 2 9 ( 00 )
lim =
x! 3 x + 3
(x + 3) (x 3)
= lim =
x! 3 x +3
= lim (x 3) = 6.
x! 3

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 26 / 81


Indeterminações - Exemplos
Indeterminação do tipo 00 :
p
x 2
Exemplo: Calcular lim x 4 .
x !4
Simpli…ca-se
p a fracção
p multiplicando o conjugado da expressão irracional
x 2 , que é x + 2 , por ambos os termos da fracção:
p
x 2 ( 00 )
lim =
x !4 x 4
p p
x 2 x +2
= lim p =
x !4 (x 4) x +2
p 2
x 22
= lim p =
x !4 (x 4) x +2
x 4 1 1
= lim p = lim p = .
x !4 (x 4) x +2 x !4 x + 2 4

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 27 / 81


Indeterminações - Exemplos

Indeterminação do tipo ∞ ∞ : De um modo geral esta indeterminação


resulta de calcularmos o limite de uma função racional (quociente entre
polinómios), e o valor do limite vai depender da relação entre os graus dos
polinómios do numerador e do denominador.

O grau do polinómio do numerador é igual ao do denominador

x 2 +3x 2
Exemplo: Calcular lim 2 .
x !+∞ 3x 5

x 2 + 3x 2 ( ∞∞ ) x 2 1 + 3x
x2
2
x2
1+ 3
x
2
x2
lim = lim 5
= lim
x !+∞ 3x 2 5 x !+ ∞ 2
x 3 x2
x !+∞3 x52
1+0+0 1
= = .
3 0 3

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 28 / 81


Indeterminações - Exemplos

Indeterminação do tipo ∞:

O grau do polinómio do numerador é menor do que o do denominador


x 2 3x +2
Exemplo: Calcular lim x3 4
.
x! ∞
3 2 3 2
x2 3x + 2 ( ∞∞ ) x2 1 x + x2
1 x + x2
lim = lim 4
= lim 4
x! ∞ x3 4 x! ∞ x3 1
x3
x! ∞ x 1 x3
1
= = 0.

O grau do polinómio do numerador é maior do que o do denominador
x 5 +2x
Exemplo: Calcular lim 3 .
x! ∞ x 4
2 2
x 5 + 2x ( ∞∞ ) x5 1 + x4
x2 1 + x4
lim = lim 4
= lim 4
x! ∞ x3 4 x! ∞x3 1 x! ∞ 1
x3 x3
= +∞.
Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 29 / 81
Indeterminação do tipo 0 ( ∞): Neste caso, sabe-se que sendo

lim f (x ) = ∞ e lim g (x ) = 0 ,
x !a x !a

então
f (x )
lim [f (x ) g (x )] = lim 1
,
x !a x !a
g (x )

que se traduz pela indeterminação ∞ apresentada anteriormente.
1
Exemplo: Calcular lim x3 + 1 .
x! ∞ x

1 (0 ∞ ) x 3 +1 3
lim x3 + 1 = lim = lim xx + 1
x! ∞x x! ∞ x x! ∞ x
= lim x2 + 1
x = + ∞ + 0 = +∞.
x! ∞

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 30 / 81


Indeterminações - Exemplos
Indeterminação do tipo ∞ ∞: De um modo geral este tipo de
indeterminação surge em situações em que a expressão analítica da função
é uma função polinomial ou uma função irracional.

Caso em que a expressão analítica da função é uma função polinomial:

Exemplo: Calcular lim x2 5x + 3 .


x !+∞

(∞ ∞)
lim x2 5x + 3 =
x !+∞
5x x2 3
= lim x2 + 2 =
x !+∞ x 2 x2x
5 3
= lim x 2 1 + 2 =
x !+∞ x x
= +∞ (1 0 + 0) = +∞.
Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 31 / 81
Indeterminações - Exemplos

Indeterminação do tipo ∞ ∞:
Caso em que a expressão analítica da função é uma função irracional:
p p
Exemplo: Calcular lim x x 1 .
x !+∞

p p (∞ ∞)
lim =
x x 1
x !+∞
p p p
p
x x 1 x+ x 1
= lim p p =
x !+∞ x+ x 1
p 2 p 2
x x 1 x (x 1)
= lim p p = lim p p =
x !+∞ x+ x 1 x !+∞ x + x 1
1 1
= lim p p = = 0.
x !+∞ x + x 1 +∞

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 32 / 81


Indeterminações - Exemplos

Indeterminação do tipo ∞ ∞: Outros casos:

1 4
Exemplo: Calcular lim+ x 2 x2 4
.
x !2

1 4 (∞ ∞)
lim+ =
x !2 x 2 x2 4
14
= lim+ =
x !2 x 2 (x + 2) (x 2)
(x + 2) 4 x 2
= lim+ = lim+ =
x !2 (x + 2 ) (x 2) x !2 (x + 2 ) (x 2)
1 1 1
= lim+ = = .
x !2 x + 2 2+2 4

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 33 / 81


Limites Notáveis

Há limites cuja indeterminação não é possível resolver pelos métodos


tradicionais. Os limites notáveis são um método auxiliar nestes casos.
Vejamos alguns dos limites notáveis:

lim senx x
=1
x !0
ex 1
lim =1
x !0 x
ln (1 +x )
lim x =1
x !0
ax
lim = +∞
x !+∞ x
lim ln x = 0
x !+∞ x
x
lim 1 + kx = e k
x !+∞

para a > 1, p 2 N e k 2 R.

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 34 / 81


Limites Notáveis

sen(3x )
Exemplo: Calcular lim x .
x !0

sen (3x ) ( 00 ) sen (3x )


lim = 3 lim =3 1 = 3,
x !0 x x !0
| {z3x }
=1

pois como x ! 0 então 3x ! 3 0 = 0.


ex e2
Exemplo: Calcular lim .
x !2 x 2

ex e 2 ( 00 ) e2 ex 2 1 ex 2 1
lim = lim = e 2 lim = e2,
x !2 x 2 x !2 x 2 x !2 x 2
| {z }
=1

pois como x ! 2 então x 2!2 2 = 0.

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 35 / 81


Limites Notáveis
ln (1 +5x )
Exemplo: Calcular lim 2x .
x !0

ln (1 + 5x ) ( 00 ) 1 ln (1 + 5x ) 5 ln (1 + 5x ) 5
lim = lim = lim = ,
x !0 2x 2 x ! 0 x 2|x ! 0
{z5x } 2
=1

pois como x ! 0 então 5x ! 5 0 = 0.


1 +ln x
Exemplo: Calcular lim .
x !+∞ x +2

limite notável
z}|{
1 ln x
1 + ln x ( ∞∞ ) x x1 + lnxx +
x
lim = lim = lim x
x !+∞ x + 2 x !+∞ x 1 + 2 x !+∞ 1 + x2
x
0+0 0
= = = 0.
1+0 1
Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 36 / 81
Limites Notáveis

ex x3
Exemplo: lim 3 = +∞; lim x = 0.
x !+∞ x x !+∞ e

e x +x 2
Exemplo: Calcular lim x .
x !+∞ e +1

e x + x 2 ( ∞∞ ) e x 1 + exx 2
ex
lim = lim 1
x !+∞ e x + 1 x !+∞ ex 1 + ex
0 0
z}|{ z}|{
x 2
1+ x x
= lim e e = 1.
x !+∞ 1
1+ x
e
|{z}
,!0

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 37 / 81


Limites Notáveis
Obs.: O limite notável que envolve o número de Neper e, está
associado à indeterminação 1∞ e enquadra-se no estudo dos limites para
a exponenciação de funções.
1 x
Exemplo: lim 1+ x =e limite notável.
x !+∞

1 x (1 ) 1 x
Exemplo: lim 1 x = lim 1+ x =e 1 = e1 .
x !+∞ x !+∞
2 3x
Exemplo: Calcular lim 1+ x .
x !+∞
2 33

2 3x
(1 ∞ ) 2 x 3 6 2 x7
6 7
lim 1+ = lim 1+ = 6 lim 1 + 7
x !+∞ x x !+∞ x 4x !+∞ x 5
| {z }
=e 2
2 3 6
= e =e .

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 38 / 81


Limite para a exponenciação de funções

Propriedade: Sejam f e g f.r.v.r, com f (x ) > 0 para qualquer x 2 Df ,


a …nito ou in…nito, tais que

lim f (x ) = c 2 Rn f0g e lim g (x ) = b 2 R,


x !a x !a

lim [f (x )]g (x ) = c b .
x !a

p
x
Exemplo: lim+ 1 + x 2 = (1 + 0)0 = 10 = 1.
x !0
4 3x +7
Exemplo: lim 2+ x = ( 2)4 = 16.
x! 1
1
4
Exemplo: lim 2+ x
x2 = 20 = 1.
x! ∞

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 39 / 81


Limite para a exponenciação de funções
2
1 x +1
Exemplo: Calcular lim 2+ x .
x !+∞

Neste caso como lim x 2 + 1 = +∞, então a propriedade anterior já


x !+∞
não é válida. No entanto é intuitivo que o limite deverá ser +∞, pois
x 2 +1
lim 2 + x1 = 2, pelo que a função 2 + x1 deverá ter um
x !+∞
comportamento semelhante ao de uma função exponencial de base 2,
quando x ! +∞. Para calcularmos este tipo de limites, recorre-se a uma
transformação que resulta da aplicação das propriedades do produto de
funções e das funções exponencial e logarítmo. Recordando que para
c > 0,
b
c = e ln c e c b = e ln c = e b ln c ,
então para f (x ) > 0,
g (x )
f (x )=e ln (f (x )) e [f (x )]g (x ) = e ln (f (x )) = e g (x ) ln (f (x ))

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 40 / 81


Limite para a exponenciação de funções
2
1 x +1
Exemplo: Calcular lim 2+ x .
x !+∞
1
usando a transformação anterior tem-se que 2 + 1
x = e ln (2 + x ) e
x 2 +1 x 2 +1
1 1
) ln (2 + x1 ) ,
= e ln (2 + x ) = e (x
2 +1
2+
x
consequentemente,
x 2 +1
1 lim (x
) ln (2 + x1 ) = e x !+
2 +1
) ln (2 + x1 )
lim e (x
2 +1
lim 2+ = ∞
x !+∞ x x !+∞

= e +∞ = +∞,

pois lim x 2 + 1 = +∞ e lim ln 2 + 1


x = ln 2.
x !+∞ x !+∞

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 41 / 81


Limite para a exponenciação de funções

A transformação anteriomente indicada é bastante útil para levantar


inderderminações da forma 1∞ , 00 e ∞0 .

1
Exemplo: Calcular lim (1 + x ) x .
x !0
usando a transformação anterior tem-se

1 1∞
h i x1 1
lim (1 + x ) x = lim e ln (1 +x ) = lim e x ln (1 +x )
x !0 x !0 x !0
ln (1 +x )
lim
= e x !0 x
= e 1 = e,
ln (1 +x )
pois lim x = 1 (limite notável).
x !0

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 42 / 81


Limite para a exponenciação de funções

1
1 x
Exemplo: Calcular lim x .
x !+∞

1
1
h i x1
x
00 1 lim [ x1 ln ( x1 )]
lim = lim e ln x = e x !+∞ = e 0 = 1,
x !+∞ x x !+∞

uma vez que,

1 1 0 ( ∞) 1 1
lim ln = lim ln x
x !+∞ x x x !+∞ x
1 ln x
= lim ln x = lim = 0,
x !+∞ x x !+∞ x

ln x
e lim = 0 (limite notável).
x !+∞ x

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 43 / 81


Limite para a exponenciação de funções
1 sen x
Exemplo: Calcular lim x .
x !0 +

1 sen x h isen x lim [sen x ln ( x1 )]


+ ∞0 1
lim+ = lim+ e ln ( x ) = e x !0 +
x !0 x x !0

e 0 = 1,

uma vez que,


1
1 0 (+∞) sen x ln x
lim+ sen x ln = lim+
x !0 x x !0 x. x1
1
sen x ln x
= lim+ lim+ 1
=1 0 = 0,
x !0 x x !0
x

ln y
e lim+ senx x = 1, lim = 0, para y = 1
! +∞ se x ! 0+ (limites
x !0 y !+∞ y x
notáveis).
Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 44 / 81
Continuidade num ponto
De…nição: Dada uma função f : Df R ! R e um ponto a 2 Df ,
diz-se que f é contínua em a se

lim f (x ) = f (a) ,
x !a

pela defnição de Cauchy,

8δ > 0 9ε > 0, 8x 2 Df : (jx aj < ε =) jf (x ) f (a)j < δ)

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 45 / 81


Continuidade num ponto
Exemplo: Seja f a função de…nida por
sen x
x , x 6= 0
f (x ) = .
1 ,x = 0

Como
sen x
= 1 = f (0)
lim f (x ) = lim
x !0 x x !0
conclui-se que f é contínua no ponto x = 0, como podemos observar no
grá…co de f :

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 46 / 81


Continuidade num ponto
Exemplo: Seja g a função de…nida por

x2 1 , x 6= 0
g (x ) = .
1 ,x = 0

Como
lim g (x ) = lim x 2 1 = 1 6 = g (0) = 1
x !0 x !0

conclui-se que g não é contínua no ponto x = 0, como podemos observar


no grá…co de g :

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 47 / 81


Continuidade num ponto
De…nição: Dada uma função f : Df R ! R e um ponto a 2 Df ,
diz-se que
f é contínua à direita de a se 9 lim+ f (x ) = f (a) (…nito).
x !a
f é contínua à esquerda de a se 9 lim f (x ) = f (a) (…nito).
x !a
Obs.: Se lim+ f (x ) = lim f (x ) = f (a), então f é contínua em a.
x !a x !a
Exemplos: A função h é contínua à direita do ponto x = 1, embora seja
descontínua nesse ponto. A função j, descontínua no ponto x = 0, é
contínua à esquerda desse ponto.

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 48 / 81


Continuidade num ponto
Exemplo: Seja h a função de…nida por
ex 1 ,x 1
h (x ) = 1 .
x2 1
,x > 1
Como
1 1
lim+ h (x ) = lim+ = +∞, =
x !1 1 0+
x !1 x 2
então h não será contínua para x = 1. No entanto, como
lim h (x ) = lim e x 1
= e0 = 1
x !1 x !1
conclui-se que h é contínua à esquerda em 1, como podemos observar no
grá…co de h:

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 49 / 81


Continuidade num intervalo

De…nição: Dada uma função f : Df R ! R, diz-se que:

f é contínua no intervalo aberto ]a, b [ Df se for contínua em


todos os pontos de ]a, b [;

f é contínua no intervalo fechado [a, b ] Df se for contínua em


]a, b [, contínua à direita de a e contínua à esquerda de b.

Exemplo: A função h do exemplo anterior é contínua em Rn f1g.

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 50 / 81


Continuidade num intervalo
Exemplo: Dada uma função f de…nida em Df = [ 4, 0[ [ ]2, 4], por
x , 4 x <0
f (x ) = .
5 ,2 < x 4
e representada pelo grá…co seguinte

podemos observar que é contínua no intervalo [ 4, 0[, uma vez que é


contínua em todos os pontos do intervalo aberto ] 4, 0[ e é contínua à
direita de 4,
lim f (x ) = lim x = 4 = f ( 4) .
x ! 4+ x ! 4+

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 51 / 81


Continuidade num intervalo

Por outro lado f é contínua em todos os pontos do intervalo ]2, 4], por ser
contínua em todos os pontos do intervalo aberto ]2, 4[ e contínua à
esquerda de 4, pois

lim f (x ) = lim 5 = 5 = f (4)


x !4 x !4

pelo que f é contínua em Df .

Obs.: Visto que a função não está de…nida no intervalo [0, 2], a
interrupção no grá…co da função não se traduz por uma descontinuidade
em Df . Como [0, 2] 2
/ Df o estudo da continuidade de f no intervalo ]0, 2[
não faz sentido.

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 52 / 81


Continuidade num intervalo
Exemplos:
p
1 A função f de…nida por f (x ) = x com o grá…co seguinte

é contínua em Df = [0, +∞[ , pois é contínua em ]0, +∞[ e é


contínua à direita de ponto zero:
p
lim+ f (x ) = lim+ x = 0 = f (0) .
x !0 x !0
2 A função g de…nida por g (x ) = x1 , é contínua em Dg = Rn f0g

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 53 / 81


Propriedades das Funções Contínuas

Proposição (Propriedades operatórias das funções contínuas): se f e


g são funções contínuas num ponto a e k 2 R, então também são
contínuas em a as funções
f
f g , kf , f g, (se g (a) 6= 0) e jf j.
g

Proposição (Continuidade da função composta): se f é contínua num


ponto a e g é contínua em f (a) então (g f ) é contínua em a.

Proposição: as funções polinomiais, racionais (quociente entre


polinómios), irracionais (raízes de índice n), exponenciais, logarítmicas,
trigonométricas são contínuas nos seus domínios.

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 54 / 81


Prolongamento por Continuidade
De…nições:
Sendo f e g duas funções com domínios Df e Dg respectivamente,
diz-se que g é um prolongamento de f (ou que f é uma restrição de
g ) se e só se
Df Dg
e
8 x 2 Df , f ( x ) = g ( x ) .
Seja f : Df R ! R, e a um ponto de acumulação de Df tal que
a2/ Df . A função f é prolongável por continuidade ao ponto a se
e só se existe e é …nito o limite
lim f (x ) ,
x !a
neste caso, o prolongamento por continuidade de f ao ponto a é a
função g : Df [ fag ! R de…nida por
(
f (x ) , x 2 Df
g (x ) = lim f (x ) , x = a .
Paula Reis (ESTSetúbal) Limitesxe! a
Continuidade Matemática I 55 / 81
Prolongamento por Continuidade

Exemplo: A função
ln (1 + x )
f (x ) =
x
é contínua no seu domínio,

Df = fx 2 R : 1 + x > 0 ^ x 6= 0g = ] 1, +∞[ n f0g .

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 56 / 81


Prolongamento por Continuidade
Sendo 0 um ponto de acumulação de Df e como

ln (1 + x )
lim =1
x !0 x
a função
( (
f (x ) , x 2 Df ln (1 +x )
,x > 1 ^ x 6= 0
g (x ) = lim f (x ) , x = 0 = x
x !0 1 ,x = 0

é um prolongamento por continuidade da função f ao ponto 0.


Obs.: Apesar do ponto x = 1 ser um ponto de acumulação de Df , a
função f não é prolongável por continuidade aquele ponto, pois não é
…nito o limite
ln (1 + x ) ln 0+ ∞
lim + = = = +∞
x! 1 x 1 1

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 57 / 81


Teoremas Fundamentais das Funções Contínuas

Teorema de Bolzano (ou dos Valores Intermédios)


Seja f : [a, b ] R ! R uma função contínua em [a, b ] com a < b.
Então para qualquer k, estritamente compreendido entre f (a) e f (b )
existe pelo menos um ponto c 2 ]a, b [ tal que f (c ) = k.
Obs.: A ideia fundamental deste teorema pode exprimir-se dizendo que
uma função contínua num intervalo não passa de um valor a outro
sem passar por todos os valores intermédios.

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 58 / 81


Teoremas Fundamentais das Funções Contínuas
Corolários do Teorema de Bolzano
1 Se f é contínua no intervalo [a, b ] e não se anula em algum ponto de
[a, b ], então em todos os pontos x 2 [a, b ], f (x ) tem o mesmo sinal.

2 Se f é contínua no intervalo [a, b ] e f (a) f (b ) < 0 (f (a) e f (b )


têm sinais contrários), então f tem pelo menos um zero em ]a, b [,
i.e.,
9c 2]a, b [: f (c ) = 0.

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 59 / 81


Teoremas Fundamentais das Funções Contínuas
Exemplo: Mostre que a equação

3x 5 + 15x + 8 = 0

tem uma solução real no intervalo [ 1, 0].


Considerando
f (x ) = 3x 5 + 15x + 8
contínua em [ 1, 0], veri…camos que

f ( 1) = 10 < 0 e f (0) = 8 > 0.

Como se tem
f ( 1) f (0) < 0
pelo 2o corolário do Teorema de Bolzano podemos garantir a existência de
um ponto pertencente ao intervalo ] 1, 0[ onde f se anula, isto é,
9c 2] 1, 0[: f (c ) = 0, o que garante que a equação dada tem uma
solução real.
Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 60 / 81
Teoremas Fundamentais das Funções Contínuas
Exemplo: Seja f uma função de domínio R contínua no intervalo [ 2, 2]
tal que f ( 2) = 1 e f (2) = 3. Mostre que a equação
x= f (x )
tem pelo menos uma solução em ] 2, 2[.
Como
x = f (x ) , x + f (x ) = 0
e considerando g uma soma de funções contínuas em [ 2, 2]
g (x ) = x + f (x )
também contínua em [ 2, 2], veri…camos que
g ( 2) = 2 + f ( 2) = 2+1 = 1<0
e
g (2) = 2 + f (2) = 2 + 3 = 5 > 0
então pelo 2o
corolário do T. de Bolzano 9c 2] 2, 2[: g (c ) = 0, pelo
que a equação dada tem uma solução real.
Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 61 / 81
Teoremas Fundamentais das Funções Contínuas
Teorema de Weierstrass
Qualquer função contínua num conjunto fechado e limitado tem máximo e
mínimo nesse conjunto.
Exemplo: A função f (x ) = ln x é contínua no intervalo fechado e
limitado [1, e ], pelo que tem máximo e mínimo nesse intervalo.

min f = ln 1 = 0 e max f = ln e = 1
Obs.: Se não é satisfeita alguma das condições do teorema:
função contínua,
conjunto fechado,
conjunto limitado,
não se pode garantir a existência de máximo e de mínimo da função.
Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 62 / 81
Teoremas Fundamentais das Funções Contínuas
Exemplos:
1 A função f (x ) = 1 de…nida no intervalo ]0, 1[, não tem máximo nem
x
mínimo neste intervalo. Embora f seja contínua neste intervalo, o
teorema de Weirstrass não se pode aplicar, uma vez que o intervalo
não é fechado.

2 A função f (x ) = x 2 não tem mínimo no intervalo ] ∞, +∞[.


Apesar de f ser contínua neste intervalo, o teorema de Weirstrass não
se pode aplicar, pois o intervalo não é limitado.

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 63 / 81


Teoremas Fundamentais das Funções Contínuas

Teorema da Continuidade da função inversa: Seja f uma função


contínua e estritamente monótona num intervalo I R. Então,

f é invertível em I ;
f 1 é estritamente monótona no seu domínio;
f 1 é uma função contínua.

Exemplo: f (x ) = e x é contínua e estritamente crescente em R, a sua


inversa f 1 (x ) = ln x, é contínua e estritamente crescente em R+ .

Aplicando o este teorema, iremos estudar algumas propriedades das


funções trigonométricas inversas das funções trigonométricas sen x,
cos x, tg x e cotg x.

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 64 / 81


Funções Trigonométricas senx e arcsenx

Relembremos que a função seno de…ne-se por

f : R ! [ 1, 1]
x 7! y = sen x

sendo o seu grá…co:

É contínua em R, mas não é injectiva e por tal não é estritamente


monótona ao longo do domínio.

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 65 / 81


Funções Trigonométricas senx e arcsenx
π π
Quando se restringe a função seno ao intervalo I = 2, 2 , obtém-se a
chamada restrição principal do seno:
h π πi
sen jI : , ! [ 1, 1]
2 2

Trata-se de uma função contínua e estritamente crecente neste


intervalo, logo invertível e a sua inversa é contínua e estritamente
crescente no intervalo [ 1, 1] .
Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 66 / 81
Funções Trigonométricas senx e arcsenx
A inversa da função seno é a função arco-seno e é de…nida por
f 1 : [ 1, 1] ! π π
2, 2
x 7! y = arcsen x
onde h π πi
y = arcsen x , x = sen y , para y 2 , .
2 2

Note-se que
π π
arcsen ( 1) = 2 arcsen 0p = 0 arcsen 1p = 2
2 3
arcsen 12 = π
6 arcsen 2 = π
4 arcsen 2 = π
3
Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 67 / 81
Funções Trigonométricas senx e arcsenx

Exemplo: Considerando a restrição principal do seno, determinar o


domínio, contradomínio e a expressão da inversa da função

x +π
f (x ) = 2 sen
4

Domínio: Por estar de…nida na restrição principal do seno, tem-se:


π x +π π
, 2π x +π 2π ,
2 4 2
, 3π x π

logo Df = CDf 1 = [ 3π, π ].

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 68 / 81


Funções Trigonométricas senx e arcsenx

Contradomínio: Sabendo que a função seno tem contradomínio


[ 1, 1], então para x 2 Df tem-se

x +π x +π
1 sen 1,1 sen 1,
4 4
x +π
, 1 sen 1,
4
x +π
, 2 1 2 sen 2+1 ,
4
, 1 f (x ) 3

logo CDf = Df 1 = [1, 3].

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 69 / 81


Funções Trigonométricas senx e arcsenx

Expressão da função inversa de f :

x +π
f (x ) = y ,2 sen =y
4
x +π x +π
, sen =2 y , = arcsen (2 y )
4 4
, x + π = 4 arcsen (2 y ) , x = π + 4 arcsen (2 y) ,

logo
1
f (x ) = π + 4 arcsen (2 x) ,
ou seja

f 1 : [1, 3] ! [ 3π, π ]
x 7! y = π + 4 arcsen (2 x) .

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 70 / 81


Funções Trigonométricas senx e arcsenx
Exemplo (continuação): Resolva a equação f (x ) = 2.
1a resolução:

x +π
f (x ) = 2,2 sen =2
4
x +π x +π
, sen =0, = arcsen 0
4 4
, x +π = 0 , x = π

2a resolução: como 2 2 CDf = [1, 3] então existe x tal que


f (x ) = 2 e tem-se

x = f 1 (2) = π + 4 arcsen (2 2) =
= π + 4 arcsen 0 = π.

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 71 / 81


Funções Trigonométricas cosx e arccosx

Relembremos que a função cosseno de…ne-se por

f : R ! [ 1, 1]
x 7! y = cos x

cuja representação grá…ca é dada na …gura seguinte:

É contínua em R, mas não é injectiva e por tal não é estritamente


monótona ao longo do domínio.

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 72 / 81


Funções Trigonométricas cosx e arccosx

Quando se restringe a função cosseno ao intervalo I = [0, π ] , obtém-se a


chamada restrição principal do coseno:

cos jI : [0, π ] ! [ 1, 1]

Trata-se de uma função contínua e estritamente crecente neste


intervalo, logo invertível e a sua inversa é contínua e estritamente
crescente no intervalo [ 1, 1] .

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 73 / 81


Funções Trigonométricas cosx e arccosx
A sua inversa designa-se por função arco-cosseno, sendo de…nida por
f 1 : [ 1, 1] ! [0, π ]
x 7! y = arccos x
onde
y = arccos x , x = cos y , para y 2 [0, π ] .

Notar que
π
arccos (p 1) = π arccos 0p = 2 arccos 1 = 0
3 2
arccos 2 = π
6 arccos 2 = π
4 arccos 12 = π
3
Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 74 / 81
Funções Trigonométricas cosx e arccosx
Exemplo: Considerando a restrição principal do coseno, determinar o
domínio, contradomínio e a expressão da inversa da função
π
f (x ) = + 3 arccos (x 1)
6
Domínio: Por estar de…nida na restrição principal do coseno, tem-se:
1 x 1 1,0 x 2
logo Df = CDf 1 = [0, 2].
Contradomínio: Para x 2 Df tem-se
0 arccos (x 1) π , 0 3 arccos (x 1) 3π ,
π π π
, + 3 arccos (x 1) 3π + ,
6 6 6
π 19π π 19π
, f (x ) , logo CDf = Df 1 = ,
6 6 6 6

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 75 / 81


Funções Trigonométricas cosx e arccosx
Expressão da função inversa de f :
π
f (x ) = y , + 3 arccos (x 1) = y ,
6
π
, 3 arccos (x 1) = y , 18 arccos (x 1) = 6y π ,
6
6y π 6y π
, arccos (x 1) = , x 1 = cos ,
18 18
6y π y π
, x = 1 + cos , x = 1 + cos
18 3 18
logo
1 x π
f (x ) = 1 + cos ,
3 18
Ou seja
1 π 19π
f : 6, 6 ! [0, 2]
x π
x 7! y = 1 + cos 3 18

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 76 / 81


Funções Trigonométricas tgx e arctgx
Relembremos que a função tangente é de…nida por
sen x
f (x ) = tg x = ,
cos x
com domínio Df = fx 2 R : cos x 6= 0g = Rn π
2 + kπ, k 2 Z e grá…co

É contínua em Df , mas não é injectiva e por tal não é estritamente


monótona no seu domínio.
Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 77 / 81
Funções Trigonométricas tgx e arctgx
π π
Na restrição principal 2 , 2 , a função tangente é contínua e
estritamente crecente, logo invertível. A sua inversa, designada por
arco-tangente, é a função de…nida por
f 1 : R ! π π
2, 2
x 7! y = arctg x
tal que, i π πh
y = arctg x , x = tg y , para y 2 ,
2 2

.
Notar que:
π π
arctg ( 1) = 4 arctg 0 = 0 arctg 1 = 4

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 78 / 81


Funções Trigonométricas tgx e arctgx
Exemplo: Considerando a restrição principal da tangente, determinar o
domínio, contradomínio e a expressão da inversa da função
f (x ) = 3 + 2 tg (x π)
Domínio:
π π π π
< x π< , +π < x < +π
2 2 2 2
π 3π π 3π
, <x < , Df = CDf 1 = ,
2 2 2 2
Contradomínio: Para qualquer x 2 Df tem-se CDf = Df 1 = R.
Expressão da função inversa:
y 3
f (x ) = y , 3 + 2 tg (x π ) = y , = tg (x π )
2
y 3 y 3
, x π = arctg , x = π + arctg ,
2 2
1 x 3
logo f (x ) = π + arctg 2 .
Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 79 / 81
Funções Trigonométricas cotgx e arccotgx
Relembremos que a função cotangente é de…nida por
1 cos x
f (x ) = cotg x =
= ,
tg x sen x
com domínio Df = fx 2 R : sen x 6= 0g = Rn fkπ, k 2 Zg e grá…co

É contínua em Df , mas não é injectiva e por tal não é estritamente


monótona.
Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 80 / 81
Funções Trigonométricas cotgx e arccotgx
Na restrição principal ]0, π [, a função da cotangente é contínua e
estritamente decrescente, logo invertível. A sua inversa, designada
por arco-cotangente, é a função de…nida por,

f 1 : R ! ]0, π [
x 7! y = arccotg x

tal que,
y = arccotg x , x = cotg y , para y 2 ]0, π [ .

Notar que
π π
arccotg 0 = 2 arccotg 1 = 4

Paula Reis (ESTSetúbal) Limites e Continuidade Matemática I 81 / 81

Você também pode gostar