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Reflexões Atuais
Março, 2014
Bibliografia.
14-01307 CDU-343:331(81)
Autores
Aline Virgínia Medeiros Nelson. Advogada. Professora de Direito Penal da UERN. Especialista e Mestra
em Direito pela UFRN. Doutoranda em Direito pela UFPB. Email: aline_nelson@hotmail.com.
Angelo Antonio Cabral. Mestrando em Direito do Trabalho e da Seguridade Social e pós-graduado em
Direito do Trabalho pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (Largo São Francisco). Ba-
charel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade de Taubaté. Advogado e professor.
Fábio André Guaragni. Promotor de Justiça no Estado do Paraná. Doutor e Mestre em Direito das Re-
lações Sociais (UFPR). É Professor de Direito Penal Econômico do Programa de Mestrado em Direito
Empresarial e Cidadania do Centro Universitário Curitiba – UNICURITIBA. É Professor de Direito Penal
de UNICURITIBA, FEMPAR, ESMAE, CEJUR e LFG.
Janaína Elias Chiaradia. Mestranda em Direito Empresarial e Cidadania pelo Centro Universitário Curi-
tiba – UNICURITIBA. Graduada em Direito pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB)
tendo estagiado no Ministério Público de Santa Catarina. Especialista MBA em Direito Empresarial e
Processual Civil no Centro Universitário de Jaraguá do Sul (UNERJ) e Pós-Graduanda em Didática do En-
sino Superior pela Faculdade SENAC. Integrante da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG).
Advogada no ramo empresarial e professora universitária em Jaraguá do Sul/SC e Curitiba/PR. Autora de
obras jurídicas, capítulos e artigos científicos.
João Henrique de Andrade. Discente do Curso de Direito da Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Membro
do Laboratório de Ciências Criminais da UNIFOR (LACRIM). E-mail:joaohenriquedeandrade@hotmail.com
6 Direito Penal do Trabalho
Eduardo Milléo Baracat/Guilherme Guimarães Feliciano
Por ocasião do lançamento da obra coletiva Direito Penal do Trabalho: Reflexões Atuais (Editora Fó-
rum, 2010), a Escola de Administração Judiciária do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região realizou,
em Curitiba, o 1º Seminário de Direito Penal do Trabalho, com o objetivo de reunir estudiosos do Direito
Penal e do Direito do Trabalho para debater a pertinência da criminalização de ilícitos trabalhistas.
Dentre esses estudiosos, destacaram-se os Professores René Ariel Dotti, Guilherme Guimarães Feli-
ciano, Luiz Eduardo Gunther, Rodrigo Sánchez Rios, Wilson Ramos Filho, Reginaldo Melhado e Marco
Antônio Cézar Villatore.
Em que pese os palestrantes tenham apresentado com profundida e competência suas opiniões – mui-
tas delas divergentes –, permaneceu um único consenso: o tema precisava ser mais debatido e explorado.
Em 2012, foi a vez da Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região promover, em
Campinas, o 2º Seminário de Direito Penal do Trabalho, no qual a discussão se travou em torno da au-
tonomia – ou não – do Direito Penal do Trabalho, como disciplina autônoma, e da competência material
para julgar os ilícitos penais trabalhistas.
Apesar de as dúvidas não terem sido completamente solvidas com o 2º Seminário – ao contrário,
parecem ter aumentado –, outra ideia mostrou-se consensual: a necessidade de outra publicação que
permitisse expor a evolução das reflexões suscitadas desde o 1º Seminário.
Os Professores e Juízes do Trabalho Guilherme Guimarães Feliciano (da 15ª Região e USP) e Eduar-
do Milléo Baracat (da 9ª Região e UNICURITIBA) debruçaram-se sobre a tarefa de reunir e organizar os
trabalhos que refletissem esse debate.
Ao contrário da primeira obra coletiva, nesta percebe-se a necessidade da formulação de uma justifi-
cativa ao Direito Penal do Trabalho. Por isso, a primeira parte, intitulada “Propedêutica do Direito Penal
do Trabalho”, reúne quatro textos que tratam da fundamentação e conceito do Direito Penal do Trabalho.
O segundo tema de alta relevância e indagação, abordado pelos estudiosos, é o da tutela penal da
pessoa do trabalhador. A pessoa, enquanto trabalhadora, é vítima de crime cometido por patrão ou do
superior hierárquico. Assim, na segunda parte, agruparam-se textos sobre os aspectos penais do assédio
moral, da redução análoga à de escravo e da prostituição.
A terceira parte reúne textos sobre a histórica relação entre o direito de greve e o direito penal, des-
de a greve, enquanto delito, com o objetivo exclusivo de tutela da atividade econômica, até ser erigida a
direito humano fundamental, por ser essencial para que o trabalhador possa obter os meios necessários à
melhoria de sua condição de vida.
A quarta e última parte confirma o interesse dos estudiosos, já manifestado na primeira compilação,
de explorar doutrinalmente os ilícitos tributários e previdenciários cometidos em razão da relação em-
pregatícia e os crimes cometidos no imo do processo do trabalho. Subsumem-se, pois, uns e outros, ao
conceito lato de Direito Penal do Trabalho que se encaminha à construção. Nessa esteira, a “ultima ratio”
8 Direito Penal do Trabalho
Eduardo Milléo Baracat/Guilherme Guimarães Feliciano
penal-trabalhista não se pode cingir, em perspectiva sistêmica, às condutas típicas que atentam gravemen-
te contra a dignidade social do trabalhador, concebido como indivíduo ou como coletividade. Alcança,
ainda, as condutas típicas que obstaculizam o seu instrumento maior de efetividade – i.e., o processo
do trabalho – e, bem assim, aquelas condutas típicas que defraudam a dimensão tributária do trabalho
remunerado, notadamente quando ameaçam ou lesam os sistemas públicos de proteção social (como, no
Brasil, o Sistema Nacional de Seguridade Social).
Para mais, releva registrar que a proposição de um Direito Penal do Trabalho renascido, que seja ao
mesmo tempo garantista e efetivo, não é necessariamente utópico. Propor essa rediscussão é oferecer ao
juslaboralista – sobretudo a ele, porque o penalista já a teve a modo e tempo – a oportunidade de pensar
as consequências jurídicas últimas da sonegação de direitos sociais, já não na perspectiva da reparação,
mas na perspectiva da ressocialização. E, para tanto, não haverá ninguém melhor que o juslaboralista
para identificar o perfil sociológico do delinquente habitual; as razões socioeconômicas do delinquir; as
possibilidades de intervenção saneadora da jurisdição penal nas estruturas de empresa; ninguém melhor,
em síntese, para integrar concretamente a categoria da responsabilidade penal (C. ROXIN), tendo por um
lado a culpabilidade do agente e, por outro, as necessidades preventivas da sanção penal.
Essa nova vereda é longa e sinuosa. E mal começamos a trilhá-la. Decerto haverá, deste Direito Penal do
Trabalho: Reflexões Atuais, ainda outros volumes. E, para um melhor debate, que venham mais debatedores.
Dos espaços temáticos hodiernos para a aplicação da teoria penal, não teremos outro melhor para a crítica
dos seus próprios pressupostos dogmáticos. Não por outra razão, Alessandro Baratta pensou a instituição
penitenciária a partir do paradigma da fábrica. Ao debate, então. Quem mais se habilita?
Parte I
Propedêutica do Direito Penal do Trabalho
Parte II
Tutela Penal da Pessoa Trabalhadora
Parte III
Greve: Do Delito ao Direito Fundamental
A Greve como Delito, como Liberdade e como Direito Humano Fundamental:
Um Percurso Histórico e Jurídico e suas Consequências Sociais e
Econômicas – A Situação do Brasil
Luiz Eduardo Gunther
Marco Antonio Cesar Villatore............................................................................................................... 133
1 Introdução............................................................................................................................... 133
Direito Penal do Trabalho 13
Sumário
2. Uma Pequena História da Greve como Delito, como Liberdade, como Direito
e como Direito Humano Fundamental.................................................................................... 136
2.1. A Greve como Delito (Proibição).................................................................................. 136
2.2. A Greve como Liberdade (Tolerância).......................................................................... 138
2.3. A Greve como Direito (Regulamentação)..................................................................... 140
2.4. A Greve como Direito Humano Fundamental.............................................................. 142
3. O Percurso Histórico e Jurídico do Instituto da Greve no Brasil no Período Anterior
à Constituição de 1988............................................................................................................ 145
4. Considerações Finais............................................................................................................... 148
5. Referências.............................................................................................................................. 149
Parte IV
Crime Tributário e Previdenciário na Relação de Emprego
Propedêutica do
Direito Penal do Trabalho
Por Um Direito Penal do Trabalho
René Ariel Dotti
1. O Código Penal
O Código Penal (Dec.-lei n. 2.848, de 07.12.1940) dispõe sobre os crimes contra a organização
do trabalho, prevendo 11 hipóteses de ilícitos fundamentais (arts. 197 a 207). Estão aí descritas as mo-
dalidades de atentado contra a liberdade de trabalho; contra a liberdade de contrato trabalhista; contra a
liberdade de associação; a paralisação de trabalho, seguida de violência ou perturbação da ordem; a para-
lisação de trabalho de interesse coletivo; a invasão de estabelecimento industrial, comercial ou agrícola; a
sabotagem; a frustração do direito assegurado por lei trabalhista; a frustração de lei sobre a nacionalização
do trabalho; o exercício de atividade infringindo decisão administrativa; o aliciamento para fim de imi-
gração e o aliciamento de trabalhadores de um local para outro do território nacional.
de Direito, como: a) a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III); b) o valor social do trabalho (art. 1º,
IV); e c) a garantia de acesso à jurisdição e o consequente direito de ação (art. 5º, XXXV e art. 7º, XXIX).
Segundo o principal redator do diploma penal vigente, Ministro Nelson Hungria, o Código, “ao
cuidar dos fatos lesivos da organização do trabalho, não atendeu a radicalismos doutrinários ou políticos.
Não se afeiçoou incondicionalmente ao laissez faire, laissez passer da economia liberal, nem ao interven-
cionismo irrestrito da economia dirigida ou planificada. Ficou em ponto de equidistância. De acordo,
aliás, com preceito constitucional, preferiu o que Ansiaux denomina ‘intervencionismo conservador’, não
excluindo a iniciativa individual e assegurando o quadro sindical livre. Aceitou a intervenção do Estado
na vida econômica, mas tão somente para impedir o êxito da vis ou da fraus ou como medida indeclinável
de defesa do interesse coletivo ou da ordem jurídica. O legislador de 40 entendeu que não há incompatibi-
lidade entre liberdade política e intervencionismo temperado, ou que é possível a coexistência, no campo
econômico, de setores livres e setores controlados; note-se que não dizemos dirigidos, a exemplo, aliás,
do que ocorre na França e nos Estados Unidos, países de clima democrático por excelência. O controle
impõe-se, no próprio seio do regime demoliberal, para evitar o despejado sacrifício do bem geral em holo-
causto a interesses individuais hipertrofiados, inteiramente desprovidos de sentimento de solidariedade,
de espírito público ou de compreensão da liberdade jurídica do trabalho”.(3)
Também discorrendo a respeito do objetivo jurídico de proteção penal, Heleno Fragoso sustenta
que o princípio da autonomia da vontade – defendido na elaboração do Código Penal de 1890 – “é pura-
mente ilusório se o contrato se celebra entre o forte e o fraco. O contrato se transforma virtualmente num
sistema de poder tornando-se a expressão da lei do mais forte. Por isso mesmo, como mostra Josserand, a
evolução dos contratos degenerou em revolução notadamente em matéria trabalhista, com a intervenção
da lei para proteger o economicamente mais fraco”.(4)
Nas últimas décadas, o sistema positivo brasileiro foi alcançado pelo florescimento dos microssiste-
mas oriundos da expansão extraordinária das leis especiais que passaram a circular em torno dos códigos
Civil, Penal, Comercial, etc. A propósito de crimes contra as relações de trabalho, a Constituição Federal
em mais de uma oportunidade contém normas caracterizadoras de mandados de criminalização.(5) Um
dos exemplos se contém no inciso X do art. 7º, que regula direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, ao
estabelecer que o salário é protegido na forma da lei, “constituindo crime a sua retenção dolosa”. Também
outros mandatos repercutem no campo das atividades laborais para a proteção do empregado, como o
previsto no art. 5º, XLI, nos seguintes termos: “– a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos
e das liberdades fundamentais”.
Anteriormente, a prática de atos resultantes de preconceitos de raça ou de cor constituía simples
contravenção penal, definida pela Lei n. 1.390, de 3 de julho de 1951 e consistente na recusa, por parte
de estabelecimento comercial ou de ensino de qualquer natureza, de hospedar, servir, atender ou receber
cliente, comprador ou aluno por preconceito de raça ou de cor, sancionada com penas irrisórias.
A imensa difusão de uma nova cultura social nas relações humanas a partir do marco declaratório
do Estado Democrático de Direito ampliou a proteção de bens morais e espirituais que se condensam na
pessoa humana.
(3) Comentários ao Código Penal, Rio de Janeiro: Revista Forense, 1956, vol. VIII, p. 26,27. (Grifos do original.)
(4) Lições de Direito Penal – Parte Especial, Rio de Janeiro: Forense, 1986, vol. I, p. 551, 552.
(5) A expressão “mandados constitucionais de criminalização” é utilizada para indicar disposições do art. 5º, incisos, XLI, XLII,
XLIII, XLIV; do art. 7º, inciso X; do art. 225, § 3 e do art. 227, § 4º. Vide MENDES, Gilmar Ferreira; MÁRTIRES COELHo, Inocên-
cio e GONET BRANCO, Paulo Gustavo. Curso de Direito Constitucional, 2ª ed., São Paulo: Editora Saraiva/Instituto Brasiliense de
Direito Público (IDP), 2088, p. 582 e s.
Parte I – Propedêutica do Direito Penal do Trabalho
19
Por Um Direito Penal do Trabalho
Antes do advento dos Códigos chamados decimonónicos,(6) regia-se a sociedade pelas consolidações.
Estas procuravam reproduzir o Direito sem modificá-lo, visando somente a sua conservação e melhoria
em um proceder histórico. As obras legislativas totalizadoras constituíam inventários da regulação exis-
tente, como as da Índia, ou uma seleção de textos escolhidos como no Digesto. O Código, ao contrário,
não é continuidade, é ruptura. Procura criar uma nova regulação, substitutiva; “ao invés de compilar,
ordena, baseando-se na racionalidade. Tem um caráter constituinte do Direito Privado”, como ensina
Lorenzetti.(7)
Mestres de notável prestígio e, por coincidência, redatores de anteprojetos de Código Civil, a exem-
plo de Orlando Gomes, no Brasil (1963), e Antunes Varella, em Portugal (1966), reconheceram a invia-
bilidade dos monossistemas. O primeiro admitiu que a multiplicação das leis especiais está causando a
agonia do Direito Civil em face da quebra do sistema que, assim, deixou de condensar e exprimir os prin-
cípios gerais do ordenamento. E o segundo conclui que “o novo jurista, sob a pressão dos fatos, passou a
venerar as lei especiais, como uma espécie de deuses domésticos, mais próximas das realidades concretas
da vida, mais acessíveis às preces de cada cenáculo político, mais permeáveis às ideias-forças do mundo
contemporâneo”.(8)
Pode-se falar que na atualidade há um desprestígio da codificação como instrumento de segurança.
Não se poderá mais afirmar, como seria possível no começo do século, que os códigos (civil, penal, comer-
cial, etc.) caracterizam meios jurídicos de segurança dos cidadãos. Essa é a lúcida conclusão de Lorenzetti
ao afirmar que “a idéia de ordenar a sociedade ficou sem efeito a partir da perda do prestígio das visões
totalizadoras; o Direito Civil se apresenta antes como estrutura defensiva do cidadão e de coletividades
do que como ‘ordem social’.” (...) “A explosão do Código produziu um fracionamento da ordem jurídica,
semelhante ao sistema planetário. Criaram-se microssistemas jurídicos que, da mesma forma como os
planetas, giram com autonomia própria, sua vida é independente; o Código é como o sol, ilumina-os,
colabora com suas vidas, mas já não pode incidir diretamente sobre eles. Pode-se também referir a famosa
imagem empregada por Wittgenstein aplicada ao Direito, segundo a qual, o Código é o centro antigo da
cidade, a que se acrescentaram novos subúrbios, com seus próprios centros e características de bairro.
Poucos são os que se visitam uns aos outros; vai-se ao centro de quando em quando para contemplar as
relíquias históricas”.(9)
Essas certeiras observações e comparações decorrem do surgimento dos microssistemas em todos
os ramos jurídicos. Relativamente ao sistema penal, a diversificação dos interesses populares e as fran-
quias constitucionais e legais de um regime autenticamente democrático, assim como ocorre em nosso
país, criaram núcleos com identidades e características próprias. Eles compreendem, isolada ou simulta-
neamente, vários aspectos como: a) o bem jurídico tutelado (vida humana, liberdade, solidariedade social,
patrimônio, probidade administrativa, meio ambiente, qualidade de vida, segurança no trânsito, regu-
laridade do processo eleitoral, ordem econômica, tributária e financeira, relações de consumo, etc.); b)
alguns tipos de destinatários protegidos, sejam eles pessoas naturais ou jurídicas (a criança, o adolescente,
o consumidor, o diferenciado em consequência da raça, cor, etnia, religião ou origem; a mulher traba-
lhadora, a previdência social, a fazenda pública, etc.; c) alguns tipos de acusado (motorista, empresário,
banqueiro, racista, traficante, sequestrador e variações do crime hediondo, etc.).
(6) O adjetivo, em espanhol, significa pertencente ou relativo ao século XIX. (Diccionario da la lengua española, 19ª edição, Madri:
Real Academia Espanhola, 1970, p. 423).
(7) LORENZETTI, Ricardo Luis. Fundamentos do Direito Privado, tradução de Vera Maria Jacob de Fradera da edição em espanhol
Las normas fundamentales de derecho privado, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1998, p. 42.
(8) Em Caio Mário, “Reforma do Código Civil”, Ensaios Jurídicos, p. 249/250. E enfatiza, com a longa caminhada de professor
e advogado: “Por essas razões é que me mantenho fiel ao princípio da descodificação do Direito Civil, da qual tenho sido um quase
pioneiro no Direito brasileiro”. (Ob. e loc. cit.).
(9) Ob. cit., p. 45.
Direito Penal do Trabalho
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Eduardo Milléo Baracat/Guilherme Guimarães Feliciano
Em análise do sistema do Direito Civil mas que tem inteira aplicação no campo penal, Antunes
Varella conclui que o Código “deixou de constituir o centro geométrico de toda a ordem jurídica cons-
tituída. O primado da legislação passou para a Constituição, ao lançar as bases de uma nova sociedade,
ideologicamente comprometida”. E acentua que a nova legislação especial se caracteriza por uma signi-
ficativa alteração no quadro de seus destinatários. Vale invocar suas próprias palavras: “A lei deixou de
constituir em numerosos casos o comando coercitivo emanado da vontade soberana do Estado e dirigido
ao cidadão indeferenciado que integra a comunidade nacional ou habita o seu território. Muitas das leis de
maior expressão social nascem da luta entre o poder público e os grupos de pressão de certos extratos so-
ciais dirigindo-se apenas aos membros destes núcleos mais ou menos poderosos de pessoas.” E reconhece,
com grande precisão, o fenômeno ocorrente não apenas em seu país como também entre nós, brasileiros:
“As leis deixaram em grande parte de constituir verdadeiras normas gerais para constituírem estatutos
privilegiados de certas classes profissionais ou de determinados grupos políticos”.(10)
(10) “O Movimento de descodificação do Direito Civil”, em Estudos Jurídicos em Homenagem ao Professor Caio Mário da Silva Pereira,
Rio de Janeiro: Editora Forense, 1984, p. 508/509. (Grifos do original.)
(11) “Etimologicamente, o vocábulo extravagante deriva da raiz latina extra vacare, isto é, vagar à margem. Em linguagem jurídica,
tais leis vivem fora da coluna vertebral do ordenamento positivo. Assim, enquanto ao Código Penal (Dec.-lei 2.848, de 07.12.1940)
é uma lei geral ou fundamental, existem as leis especiais ou extravagantes. Entre muitos exemplos podem ser mencionados os se-
guintes: Lei 1.521, de 16.12.1951 (Lei de Economia Popular); Lei 4.737, de 15.07.1965 (Código Eleitoral)...” DOTTI, René Ariel.
Curso de Direito Penal - Parte Geral, 4ª ed.,rev., atual.e ampl.com a colaboração de Alexandre Knopfholz e Gustavo Britta Scandelari,
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012,p. 81. (Os itálicos são do original.)
(12) Tratado de Direito Penal Allemão, trad. de José Hygino Duarte Pereira, Rio de Janeiro: F. Briguiet & C. – Editores, 1899, tomo
I, p. 93/94. (Mantidas a ortografia e a acentuação originais.)
(13) CARRION, Valentim. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho, 38ª ed., atual. por Eduardo Carrion, São Paulo: Editora
Saraiva, 2013, p. 27.