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O pessimismo do amor

Uma história que não se trata de finais felizes, momentos alegres, ou de que tudo iria dar
certo no final como esperado em várias outras, ou das quais gostaríamos de acreditar por mais
temíveis se tornem. Apesar de tudo, trata-se de reencontros, não numa mesma vida, porém diversas
formas das quais não teríamos a capacidade de imaginá-las ou prevê-las como um todo ou até como
um próprio nada.

Me chamo Leonardo Oliveira, sou apenas um jovem apaixonado pela literatura como um
todo, desde pequeno apesar de uma infância conturbada e agitada, a arte e os livros se tornaram
meu ponto para escapar da realidade em que vivemos. E pudendo vivenciar agora, um dos recentes
movimentos trazidos da Europa e que se estende até então, o conhecido como Romantismo.

Nasci no Brasil, minha terra natal da qual sinto saudades. Apesar disso, ainda prefiro onde
estou cá apesar de todas as diferenças, Portugal o meu novo segundo lar. Como eu vim parar aqui?
Isso é uma longa história, porém darei um jeito de resumir da melhor forma. Meus pais sempre
foram muito influentes e conhecidos, donos de terras, prêmios e bons negócios.

Minha mãe cuidará de mim durante a infância e a adolescência, ela sempre foi uma mulher
bastante elegante, uma beleza que era de invejar. Seus cabelos longos e encaracolados, escuros que
cintilavam nas mais belas noites, assim como seus olhos, nariz afilado, lábios bem feitos, pele
morena, altura média e possuía uma doce voz que trazia a calma do universo. Outra amante da
leitura, assim como eu, ela me incentivava e até lia para mim para com que eu pegasse no sono.
Acabava nem dando certo devido minha imensa curiosidade e só dava sossego quando ela acabará a
história.

Já meu pai, não me dará tão bem com ele, mas mantínhamos certa proximidade, ele era um
grande médico, fascinado pela ciência e as descobertas que se tinha dia após dia. Além disso, era
muito dedicado em seus afazeres e seus serviços, admirava isso da sua parte. Também era brasileiro,
apesar de possuir traços fortes de sua descendência europeia. Ele tem olhos claros, assim como os
cristais, cabelos ruivos que reluziam no sol, lábios finos, nariz grande, altura alta e fechado.

Eu sou uma mistura de um pouco de ambos, puxei a cor dos cabelos do meu pai e os
caracóis de minha mãe, cabelos na altura dos ombros, a cor dos olhos da minha mãe, mas o formato
de minha avó materna, minhas bochechas e os lábios também puxei da parte materna. Sou quase da
altura do meu pai, acabei ficando mais baixo por poucos centímetros, sou pardo e ambivertido, as
vezes extrovertido e outras introvertido, depende muito também com as pessoas e o local em que
estou.

Quando menos me dei conta, acabei terminando a escola, já tinha ideia que queria ser um
escritor, peguei algumas brigas com meu pai por isso como se não fosse ter nenhum tipo de futuro
seguindo por esse caminho, mesmo com os piores comentários, não desisti desse meu sonho.
Continuei insistindo e insistindo, até que consegui o “convencer” disso, garantiu que arcaria com
minha viagem e no que precisasse dos estudos. Portanto, que também os mantivesse informados de
tudo como poderia.

Acabei enfrentando uma viagem turbulenta, mas que ocorreu bem como devido. Consegui
trazer comigo alguns livros dos quais não os solto por nada e o restante das coisas das quais
precisaria de início. Cheguei a faculdade de Coimbra, uma das mais famosas e procuradas, terminei
minha matrícula e o que ainda faltava para assinar e confirmar. E tive uma vantagem de estar em um
alojamento perto daqui, seria mais prático e dinâmico para chegar.
Nem tudo são flores é claro, às vezes, recebo alguns comentários ou ofensas nada
agradáveis das quais ignoro do que perder meu tempo ou arranjar confusão por aqui. Ser imigrante
é um grande desafio por aqui, porém vou lidando da melhor forma possível. Quando comecei as
aulas, tudo era bem diferente do convívio que já tinha, sem contar na comida dos refeitórios e
restaurantes que era o maior para mim.

A princípio, fui me enturmando com o restante dos calouros, nas aulas ficava mais focado,
nas chances dos intervalos e nas saídas conseguia conversar mais. Ou em até algumas festas e
reuniões que costumam fazer. Até que entre muitos, um acabou ganhando meu foco em sua
totalidade, seu nome é Sebastian Johann. Nascido aqui em Portugal, e assim como eu, tendo uma
história e tanto parecida com a minha. A única diferença é que ele tinha alguns irmãos, enquanto eu
filho único.

Ele tem cabelo curto e ondulado, tanto os olhos, as sobrancelhas e os seus fios no tom sobre
tom, pele clara, olhos afilados dos quais sempre observará tudo ao seu redor com tamanha atenção
e que também intimidava quando queria. Era mais baixo que eu, acho que por volta de uns dez
centímetros, nessa faixa mesmo. E também uma das maiores marcas dele, andava de acordo com
vários estilos e na moda, tenho certeza que seria imbatível com qualquer modelo.

Em minha visão, era o melhor da sala, não apenas por amizade, mas como também em seu
desempenho extraordinário que havia por si só. Fui puxando assunto aos poucos com o mesmo,
depois de tanto tempo tentando criar coragem, tem vezes que fico meio travado para iniciar até um
assunto por mais simples que aparente por conta da vergonha.

Sem contar que eu acabei demorando mais para dialogar com o mesmo antes de fato
conhecer, meu apreço e minha admiração era muito grande o que acabara criando uma barreira
devido a minha timidez. Porém, tudo agora é diferente, nos aproximamos mais e sentamos na sala
em lugares próximos para que possamos quando não estiver em momento de fato aula, trocarmos
ideias como sobre parte de textos e poesias abordadas ou até mesmo nossas. Assim, como em nosso
momento atual.

— Novas poesias começaram a ser citadas, já estavam sendo, mas ganhou mais força
durante esses meses. – Comento para Sebastian.

— Oh sim! O melhor de tudo que também são os temas dos quais escrevemos e já
escrevíamos antes de fato aparecerem.

— Pressinto que não vá se estender tanto talvez, são temas considerados bem obscuros e
acho que nem todos os outros terão de fato psicológico para o mesmo. – Acrescento preocupado.

— Reconheço isso, não terão mesmo, podem ser o modo de escapismo atual, porém vai
custar caro para todos nós escritores se caso percamos em nossos caminhos.

— Perigo do qual será administrado, embora vamos ver como será levado essa nossa nova
poesia. Vai se tornar um marco e tanto no movimento, por mais breve que o mesmo possa a vir se
tornar. A prosa também tem ganhado sucesso, por isso talvez esqueçam um pouco o agora.

— Esquecidos ou não, vamos fazer arte e história. – Ele usava as melhores informações e
ideias que surgia. Era um escritor nato, apesar de ainda estarmos só iniciando essa fase.

— Faremos sim com toda a plenitude da qual ainda temos. – Tivemos que parar nosso
diálogo por conta do professor acabou retomando suas explicações. Dei uma piscada ao mesmo,
tínhamos alguns códigos e conversávamos muito também por olhares o que facilitava nossa
comunicação mesmo se não pudéssemos a verbalizar ou por preferência em si.

A comunicação por olhar se tornava até frequente, quando o mesmo conseguia ler meus
olhos onde ninguém mais sabia como os decodificar. Foi uma das habilidades que mais me
impressionou, tudo me impressiona por um todo, mas essa foi a que me surpreendia sem igual.
Conhecera assim a mim e a minha alma mesmo que acabada, tornou-se novos descobrimentos. E
sim escondido ainda, os portugueses me aguardem para eu caçar todas as riquezas deles que
roubaram da gente, vingança gigante está para vir. Como se eu fosse muito capaz disso, não é claro?

Quando as aulas se acabaram, combinamos para nos encontrarmos num dos cemitérios dos
quais mais se frequentavam naquele momento. Cada um tinha o seu modo de fuga, alguns se
reuniam para beber, para simplesmente se pegarem com garotas que moram na região, usarem
drogas que tivessem a sua disposição, até mesmo já é presenciado atos não adequados dos quais
sempre afastamos dali. Geralmente, vamos explorando o local até encontrarmos algum mais
tranquilo de toda aquela baderna.

Sinceramente, nem eu e Sebastian recorremos a esses métodos de fugas que os outros


jovens e adultos faziam, preferimos nossas escritas ou até mesmo fazermos vários nada, como se o
nada fosse ter algo a ser feito. E não tínhamos também interesses no que faziam, apenas seguimos
outro jeito do qual inventamos, acho que somos a melhor dupla de todos os tempos.

Quando cheguei ao alojamento, tratei logo de arranjar meu pequeno-almoço junto com o
próprio almoço, porque acabei acordando mais tarde que o devido. Alguns testes e trabalhos me
fizeram com que eu dormisse mais tarde que o habitual, não que eu dormisse cedo, contudo dormir
fora do próprio costume já sugava o restante das energias que um dia viria a ter.

As horas se passariam rápido, porque eu ainda precisava atualizar algumas coisas perdidas
durante alguma explicação ou situado nesse contexto. Afinal, também queria escrever algo para não
ir apenas à toa e como também escrever em meu diário. Embora, não tivesse como levá-lo comigo
para todos os ares, eu escrevia todos os dias, nem que fosse até uma pequena linha só para deixar
meu canto.

Porque talvez nunca chegue a publicar meus pensamentos ou conseguir ao menos, escrever
nos jornais, porém vão ter uma pequena parte de mim mesmo se caso não seja lida. No final,
morrerei tranquilo sabendo que fiz o que deveria ser necessário. E assim, retomei a meus estudos e
intermináveis cadernos e folhas flutuando como se fossem as verdadeiras nuvens daquele céu de
bagunças.

Quando a lua tomou conta da escuridão, já sabia que era a hora de ir, gostávamos de ser
pontuais nessas pequenas rotas que nos levava aos caminhos mais curiosos. Até criávamos alguns
desafios do qual o apelidamos de labirinto, onde ou criava novas rotas de caminhada ou com nossos
poemas, misturávamos alguns versos e tentava-se adivinhar suas ordens.

Comecei a me organizar, só estava me arrumando mais por ordem de Sebastian, porque eu


parecia mais desarrumado do que um mendigo. Por isso, comecei a me arrumar melhor e tentar
andar adequado as suas dicas. Tanto que marcamos que assim que derem uma pausa maior de tanta
matéria, combinamos que iremos comprar mais algumas roupas e até mesmo costurar.

Minha mãe não entendia quase nada de costura, porém eu curtia essa ideia e era outra
forma que aprendi a passar mais um tempo. Sofri no início porque mal conseguia pegar numa
agulha, e botar a linha é sempre uma aventura nova até nos dias atuais (muito milimetricamente).
Comecei tentando consertar pequenos furos nas almofadas ou rasgões em roupas. Fui aprimorando
com o tempo e comecei a criar moldes e até alguns modelos próprios que a moda ainda não
inventará.

Mas com toda a correria ainda não consegui costurar nada e nem criar muito nesse
determinado momento, mas quem sabe futuramente consiga um tempo para me dedicar a essa arte
também. Quando já estava tudo pronto peguei meu caderno e sai do alojamento. Saímos em
escondido para que não desse problema para geral, então cada grupo se organizava as saídas.

Se um fosse descoberto, o restante do grupo pagava e digo que já presenciei uma vez. Um
de nossos colegas acabou não se atentando pelo horário devido e acabou alarmando. Para que não
viesse uma problemática maior, ficamos alguns dias sem ser encontrar e sair em conjunto. Só foi
uma questão de tempo até a faculdade esquecer desse momento e retomamos a sair em segredo.
Tomei todas as medidas necessárias e comecei a caminhar em direção ao cemitério.

Gostava durante a caminhada, olhar o movimento ao redor para analisar alguns fatores.
Além disso, acho que outras vivências fizeram com que ficasse assim. Minha sorte que era próximo
do meu alojamento, por volta de uns quinze minutos no máximo. Tinha lugares que ficavam
extremamente distantes, então isso é considerável perto. O ruim são as calçadas, malditas pedras
portuguesas que me perseguem por aqui. De qualquer modo, não tenho como fugir delas, só as
vezes que eu ando pela pista porque fica no limite da dor nos pés.

Não sei o que poderia botar em comparação com essas calçadas, na verdade, apenas uma
coisa que pode combater com ela. O maior pesadelo para mim, é ir na praia, e sujar o pé todo de
areia, e não ter nenhum pingo de água para lavar logo após. Logo, tinha que aguentar o caminho de
casa com o pé todo sujo, isso era o terror da meia-noite. Nem as lendas eram tão assustadoras
quanto isso, estou sendo realmente dramático.

Dizem até que poderia virar um ator com tanta das atuações, falas e até contos que acabo
dando vida com encenações pequenas. Nada grandioso, tanto que só apresentava para os mais
próximos, assim como Sebastian gostava de participar comigo. Ele também é outro grande ator nato
diria assim e também habilidoso, apesar da dificuldade que ainda tem de se expressar fora da
escrita, tenho o ajudado como posso para que se sinta mais adequado e confortável.

E admito que também tenho aprendido a expressar melhor com ele, tornou-se meu porto
seguro em tão pouco tempo. E tudo bem se perguntarem como isso seria tão rápido, mas possível?
Sou franco, não tenho uma resposta concreta ainda para tal, é um estranho inovador em minha vida.
Um dos mistérios de casos não solucionados até o determinado momento. Entretanto, sinto-me
como se a paz estivesse connosco quando estamos juntos, eu gosto tanto de desfrutar a sua
companhia.

Mesmo de longe e no escuro, conseguia ver sua silhueta perambulando nas entradas do
local, por mais tenebroso que fosse, começara a ganhar vida em meio de tanta desventura. É como
se a morte estivesse em união com a vida, por mais solitária que aparentasse, ambas teriam seus
momentos juntas. Diria que seriam um par de amores em meio de tantos segredos ou talvez
inimigas até o fim de seus caminhos, seja lá onde isso vá dar de fato.

Apressei o meu passo, estava ansioso para o encontrar, como se eu não tivesse o visto
durante a manhã. Acho que acabei me pegando a sua presença, por mais que não soubesse o nome
do que sinto, gosto de escrever sobre isso nas altas madrugadas que posso. Principalmente, em
noites longas de chuvas e trovões que não dão descanso, mas torna de algum jeito reconfortante
para continuar escrevendo.

Ele já havia me notado quando cheguei ao portão, gesticulou para me chamar para o redor
do grupo. Ficará num canto mais afastado, ele preferia ouvir os outros a falar mais abertamente. Só
em ocasiões que fossem levar todos para a beira do fundo do mar, então ele intervirá o quanto
antes para que fosse evitado uma catástrofe maior. Me aproximei enquanto terminavam de dialogar
com o que cada um iria seguir ou fazer e determinarem o local de reencontro para voltarmos aos
nossos alojamentos.

E lá se iniciava a fama e as comédias românticas da vida. Para vista, não tinha tantos quanto
em noites passadas que tinha previsto e bom, alguns dos poucos sumiram totalmente e bem isso
não terminava nada bem. Infelizmente, alguns morrem por causa da saúde desestabilizada, ou por
overdose, ou por excesso de bebida sem controle do que tem se ouvido falar. Não sei se é bem isso,
não me aparenta por ser algo supostamente “natural” ou apenas por acidente como tem se falado.
Creio que seja algo muito maior do que poderia se esperar e isso era alarmante.

Mas como só se via de outra maneira, difícil era a investigação ou ir a fundo sobre o tema.
Acho que sabiam da realidade que se passará, mas como ainda também são pouquíssimos casos vai
ser complicado alarmarem para o país. Sem contar, que ainda tem uma chance grande de acabarem
omitindo e escondendo, para que ninguém chegue a verdade ou desestabilize os governos ou a
política que eles impunham aqui, bendito sejam esses reinados que parecem nunca ter um
encerramento. Ao menos, reparamos ainda e eu me pergunto se isso tem ocorrido em outras áreas
ou partes do mundo. E creio que vão agir da mesma maneira caso esteja de fato ocorrendo.

— Você parece distante. - Disse Sebastian, também depois de eu olhar para o nada
fixamente por um tempo era mais do que compreensível.

— Não sei bem. - Dou um pequeno suspiro. — Parece que tem algo que não se encaixa no
quebra-cabeça ou estou com a peça errada para o finalizar. Às vezes, é tudo tão enigmático, sabe?

— É realmente um tanto, seria um triângulo das bermudas? Ou em busca dos tesouros


escondidos do mundo inteiro durante décadas? - Me devolvia com suas questões bastante
históricas, também vinha muito do meu incentivo de conversar sobre história e ficávamos nessa.

— Era nesse ponto que estava à espera, só cada um deles sabe a sua real razão dos quais
foram levados pela arte da morte. - Comento minha hipótese.

— Foram devidas suas crenças do que se acreditavam do que seria a vida para os mesmos,
não tem mais soluções, questionamentos ou oportunidades por fim. - Acrescentou.

— Espero que apesar de não sabermos as suas motivações ou o por que morreram assim,
quero que eles tenham novas oportunidades.

— Novas oportunidades? - Indagou perplexo. — Como funcionaria isso?

— Não entendo muito sobre as religiões, questiono até a existência de tudo o que falam ou
o que demonstram, porém algo me diz sobre novas vidas ou a famosa reencarnação como dita
também.

— Não que eu compreenda também, tanto que me considero ateu, mas é uma boa
suposição, até porque nossa convivência pode ter vindo de vidas passadas e não sabemos disso. - Ele
dá uma leve risada quando escuta essa ideia. Ele assim como eu, gostamos de acreditar que isso
tenha sido possível e explicaria muita coisa das quais não sabemos explicá-las até então.

— Tenho essa sensação como já o comentei, será mesmo que já nos conhecemos de outra?

— Você ainda tem dúvidas? Já comentamos como se fossem centenas de vezes, parece até
que dialogamos muito mesmo com tão poucas frases no geral, Leo.

— Isso já responde o que vivo indagando. - Falo o analisando. — E nossa, tem algum dia que
você fique fora de tendência?

— Nunca fora de nenhuma, só quando eu me for que não vou ter mais oportunidades, ao
menos quero que me enterrem elegante como eu sempre fui. Sou muito lindo para estar
desajeitado até na minha despedida.

— Que deprimente atraente ao mesmo tempo, Sebastian.

— Ora ora! Tenho de ser, estranho se eu não fosse aí poderia acreditar que eu havia sido
trocado por uma cópia minha.

— Como irei saber que você é você mesmo? Já pode ter sido trocado e eu estaria falando
com o Sebastian trocado.

— Faça alguma pergunta que apenas eu saiba responder. Conseguirá saber se trata de mim
ou de um fictício.

— Qual é o meu salgado favorito? Valendo três chances! Vou contar.

— Esse aí é tão fácil que eu poderia responder sem nenhuma palavra e apenas por mimica. É
pastéis de queijo certeza, você já pediu algumas vezes. - Ele falou de uma forma tão convincente que
até eu estava me convencendo que seria.

— Ihhh, passou bem longe...

— Quando a primeira não vai à segunda é certeira repara bem. O seu salgado favorito são os
pães de queijo, agora, sei que estou perto.

— Errou novamente! - Dei uma risada estridente.

— Acho que estou sem rumo, já sei que não vai dar dicas devido a “desconfiança”, já que
não foi nenhum desses anteriores, só podem ser aquelas benditas bolachas.

— É o meu verdadeiro Sebastian que está aqui mesmo.

— EU FALEI QUE EU IA ACERTAR! TOMA ESSA! - Ele fazia uma dança comemorando.

— Muito pelo contrário, você errou novamente. - Voltava a rir, do jeito que estava eu ia
começar era a chorar de rir e me desmontar no chão. — Fiz proposital, uma pergunta da qual você
não acertaria de modo algum.

— Você trapaceou de novo... - Ele franziu a testa e cruzou os braços para me encarar. — Vai
ao menos me dizer qual é a resposta certa?

— Não trapaceei e não vou te contar, um dia por aí você descobre.

— Eu só não te mato, porque ainda tenho amor pela minha vida e não quero ser preso.
— Você me ama muito, tampa de garrafa. Não faria uma coisa dessas comigo.

— Depois eu viro um assassino em série, ninguém vai saber o porque foi.

Começamos a caminhar pelo cemitério, já sabíamos o caminho de cabo a rabo, porém ainda
sim era como se ainda não tivéssemos habituados ao mesmo. Olhar aquelas inúmeras sepulturas, às
vezes, paramos para até ver quem se foi e criarmos histórias do que poderiam ter sido algum dia. Só
ficávamos entristecidos quando era de alguma criança e então trazíamos flores para prestar
homenagem. Elas são verdadeiros anjos na terra, num mundo tão terrível e cheio de conflitos.

Chegamos em nosso cantinho, onde ninguém podia intervir ou incomodar, não gostamos
tanto de agitações ou que acabem desprendendo nossa atenção. Era único o fato de quando o via,
tudo parecia sumir ao meu redor, problemas, questões, dúvidas lunáticas, pessoas, basicamente
tudo. Começamos a organizar nossos papéis e cadernos em nossa volta, a princípio combinamos de
cada um trouxermos enxertos ou poemas que remetessem um ao outro e vice-versa.

— Quero ver qual você tenha trazido hoje, estou realmente interessado. - Sebastian dizia
enquanto pegava suas folhas e colocava em ordem.

— Trouxe um de quais tem chamado a atenção e gosto também de sua escrita


ultrarromântica. Camilo Castelo Branco, tem feito grande polêmica por aqui.

— Já ouvi falar dele e suas obras, Amor de perdição que romance tão buscado e procurado
nas livrarias. Eu trouxe mais um pouco do poema de Edgar Allan Poe por hoje.

— Você realmente adora o Edgar, é um escritor fantástico e gosto da sua fascinação por tal.
Mas gostaria ele de ser tão bom quanto você escreve todos os dias, inúmeras artes que se tornam a
verdadeira poesia.

— Quem diria ser como ele, estás sonhando muito, Leonardo.

— Não como igual, mas como sempre o melhor, um dia você enxergará Sebastian que a
verdadeira obra é você mesmo.

— Talvez, acho impossível mesmo assim...

— Não será impossível, será tão brevemente que você irá se surpreender. - Sorrio
levemente.

— E como você tem tanta certeza disso? - Ele estava realmente sem certezas.

— Tive mais um pressentimento, ficará marcado em nossa história inteira.

— Como você é praticamente um visionário vou confiar nisso, mais alguma informação
sobre?

— Só o momento o dirá, porque não pude dimensionar isso.

— Vou me relembrar dessas palavras se acontecer esse momento. Agora, solta os versos
pelo ar que temos muito a serem discutidos.

— Trouxe o poema Comédia humana. - Segurei firme e comecei a recitar.

“Literatos! Chorai-me, que eu sou digno

Da vossa gemebunda e velha tática!


Se acaso tendes crimes em gramática,

Farei que vos perdoe o Deus benigno”

“Demais conheço a prosa inflada, enfática

Com que chorais os mortos; e o maligno

Desafeto aos que vivem... Não me indigno...

Sei o que sois em teoria e em prática."

“Quando o avô desta vã literatura

Garret, era levado á sepultura,

Viu-se a imprensa verter prantos sem fim”

“Pois seis dos literatos mais magoados,

Saíram nessa noite embriagados

Da crapulosa lasca do Penim.”

— Uau! Ele é difícil e sensato na mesma proporção, gosto da temática, das métricas e dos
diversos significados que se pode ter. Fico lisonjeado por ser lembrado mais uma vez através dos
vastos poemas. Seus significados são imensos e por isso tenho um grande apreço, imaginai-me dessa
maneira tão notória é algo a se pensar. - Ele fez uma breve pausa. — Isso é especial para mim como
já conhece, prosseguindo, te trago hoje um pouco mais da continuação que havia trazido na noite
passada, o corvo.

“Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.

Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,

Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,

Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,

Foi, pousou, e nada mais.”

“E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura

Com o solene decoro de seus ares rituais.

“Tens o aspecto tosquiado”, disse eu, “mas de nobre e ousado,

Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!

Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais.”

Disse o corvo, “Nunca mais”.

“Profeta”, disse eu, “profeta — ou demônio ou ave preta!

Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.

Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida

Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,


Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!”

Disse o corvo, “Nunca mais”

— Isso parece um diálogo entre eu e você. - Comentei. — Parece até verídico.

— Sim, isso mesmo do qual já esperava. Viesse como o corvo nesses trechos consigo ver em
tamanha proporção e exatidão.

— Mas sobre a amada, nunca mais. - Tentei imitar uma voz de passarinho e saiu como a de
uma buzina desenfreada.

— AH NÃO LEONARDO! SOCORRO. - A risada dele era tão legal, vê-lo rir era a melhor cena
de todas. — VOCÊ NÃO FEZ ISSO, ERA PARA SER SÉRIO, EU ATÉ ESTAVA CONCENTRADO CITANDO
VERSO A VERSO E VOCÊ FAZ DE NOVO ISSO? - Sua pequena ira e revolta em forma de graça era bom
de se ver.

— Eu fiz sim e faço de novo, seu abestado.

— O único bobão aqui é você. - Ele aponta para mim. —O dia que você não transforma algo
em graça não seria você.

— Minha marca registada, meu pequeno poeta! Amo cada vez mais quando traz sobre essa
obra tão impecável.

— Depois eu trago mais dela, ainda tem mais capítulos para serem vistos, eu já li a obra toda
já tem tempo.

— Você constate mais à frente em qualquer obra literária. – Ele antenado nos livros e nos
jornais, quando estava para lançar alguma obra, ele era o primeiro a saber e vinha me contar.
Vivíamos em biblioteca se deixar, os livros nossa real casa. Não vivemos em apenas em uma história,
vivemos em inúmeras realidades.

— Pois bem, mal posso esperar para pegar em mais obras dele.

— Acredito assim, também me traga mais notícias e resumos delas. Gosto de acompanhar
consigo, ainda que eu não possa estar no mesmo parâmetro.

— Melhor que apenas um resumo, vamos ler ambos assim que eu tiver, prometo não ler
tudo de uma vez.

— Faria isso por mim? - Indaguei sem acreditar.

— Faria, como também farei. - E foram aquelas palavras que me fizeram sorrir.

— Mas isso não o atrapalharia? Não quero que gaste seu tempo. - Odiava incomodar quem
fosse e não gostaria de empatar principalmente Johann.

— Nunca, ler em conjunto seria algo diferente e pode ser realmente bom. E como tem ido
seus processos de escritas e já arranjou uma amada por aí?

Falar sobre o amor, era até algo comum afinal, porém era ainda uma barreira para ambos os
lados. Sebastian havia tido alguns amores que não foram nada fáceis assim como eu também, é
difícil criar um vínculo romântico com alguém. Sem contar que em últimas relações eu me forcei
mais para estar com minha suposta amada, não sei se tem algo errado comigo, porém não consigo
estar dessa maneira com alguma mulher até agora.
Eu já tentei de tudo, não parece funcionar como deveria ser, talvez seja apenas um
momento que eu ainda não tenha encontrado algum ideal. Ou seja, lá o que venha um dia significar.
Me sinto diferente e me vejo assim também, vejo a maioria já com suas namoradas e algumas já
noivas dos mesmos, porém aparenta que isso nunca vá chegar para mim. E eu também sei que
provável seja falta de esforço da minha parte.

Meus pais também almejam tanto que eu encontre logo alguma, até para que possa
prestigiar a nossa família e que um dia poderia vir até uma. Sonham com netos e ficam sempre
nesse mesmo circuito, como se estivesse tentando forçar naquela mesma tecla de uma máquina de
escrever enferrujada. Não sei o que vai me acontecer caso não siga o que eles tanto desejam e o que
a sociedade também.

E isso me assustava e me atormentava um pouco, por mais que se tente ignorar, ainda é
uma pedra no caminho que eu estaria castigado como o próprio Sísifo. Além do mais, os julgamentos
e as cobranças, creio que se um dia vir a me casar eu sinto que não seria de maneira real quase
como se algo me arrastasse para o altar. E eu sei eu estaria traindo e enganando a mim e não apenas
aos demais.

— Leo? - ele estrala os dedos a frente do meu rosto. — Você está aí?

— Desculpe a dispersão, apenas alguns pensamentos vieram em mente num pequeno


relance. Respondendo a sua pergunta, na escrita tenho fluído mais, no amor estou sem sorte e
você?

— Na escrita tenho tido mais uma dedicação consegui escrever mais, vou alternando os
temas como posso. E no amor, meio complicado, como já era de se esperar, pregando peças e mais
peças.

— Então temos alguém ou algumas em questão! - Gostava de aparentar que estava feliz com
esses assuntos apesar de tudo para que eu o deixasse feliz em contar, porém ele parecia cabisbaixo.

— Bem, desde o último relacionamento, não gostaria de entrar em outro tão cedo, mas...
ando em dúvidas sobre isso. Sabe quando você gosta de uma pessoa, porém as chances dela te
corresponder são literalmente nulas? Ou quando você ama alguém que parece não enxergar nada e
fica tratando mal, aparenta que eu nunca seja suficiente sabe?

— Passei por alguns como você já tem conhecimento, mas não fique com alguém que o
maltrate novamente, Sebastian, isso eu o suplico. Não quero o ver sofrer e nem chorar por longas
noites sejam por comentários ou a falta do reconhecimento de todo seu esforço. Mesmo que a
outra pareça nula, ela o trata bem?

— Me trata o melhor do mundo, nem parece que um dia eu poderia ter isso. Tão
desacreditado na vida e no amor que eu já não sei se sou digno de tal.

— Você será, assim como merece muito ser amado independente de quem ou de qual seja,
alguém que realmente esteja ao seu lado e permaneça consigo. Ainda mais, o cuide como único e do
jeito que você precisa, você é o melhor de todos e ainda não percebeu também.

Era difícil falar tão claramente o que sentia, porém agora, eu senti um medo misturado com
tranquilidade. Não sei a razão desse medo, ainda não consigo ver o motivo disso, mas sentia esse
aperto tem uns dias. Até ele conseguirá pessoas e isso me assustava, será que ele me esqueceria
logo após? Eu poderia ter quem fosse em minha volta, embora nenhum deles seria Johann.
Ele virou o rosto para baixo, geralmente, ficava assim quando tentava processar alguma
informação do qual não teria certeza ou que fosse algo que o deixasse sem jeito e não conseguia
olhar diretamente aos olhos. E nisso acabava ficando calado e pensativo por um tempo pequeno.
Quando eu elogiava, ele fica de vez em quando dessa maneira, não o julgo porque seus elogios são
brutais de belos.

— Não me vejo dessa forma como me ver, mas só de saber que me olhe e consiga ver dessa
maneira é tão simbólico. - Falava como um sussurro e percebi que estava começando a chorar. — Eu
só não compreendo como isso foi acontecer, eu amo tanto e não consigo ser amado de volta na
mesma intensidade.

— Fique tranquilo, eu estou aqui contigo. - Me aproximei do mesmo e eu envolvi no meu


abraço. — Talvez ainda só não seja o momento agora, mas vai chegar e você viverá de forma única. -
Secava suas lágrimas calmamente. — Não tenha pressa, sem agonia, melhor que demore um tempo
do que se antecipar demais.

— Não tenho como ficar muito calmo, não é comum para os demais e eu acho que nunca vai
ser. Não é aceito e muito menos tolerado, visto como aberrações ou pecaminosos, porque é dessa
maneira que tratam desde o princípio.

— Se apaixonará por um garoto? - Perguntei baixo como se tivesse alguém em volta e


pudesse ouvir, mas para garantir também seu conforto, já estava estressado e um pouco agitado
com isso.

— … - Seus olhos arregalaram, como se tivesse revelado algo que não deveria. — Acho que
não tem mais volta. - Ele me deu um leve sorriso confuso. — Sim, acabei me apaixonando por um do
qual não poderia o ter. Você não vai se afastar de mim ou me deixar por isso, não se vá.

— Aí Sebastian, pensei que você ia me contar que havia matado umas trinta pessoas e havia
jogado num matagal e ia pedir minha ajuda para esconder. Realmente o ajudaria a esconder, mas
não vai ser por isso que vai me afastar, vai ter que fazer muito para tentar conseguir que eu saia de
cena.

— Espera, espera... é sério essa sua reação, quem vai parar num matagal vai ser você se
continuar assim. - Ele finalmente riu com essa bobagem.

— Eu fico orgulhoso e também feliz que você tenha compartilhado isso comigo é de muita
coragem. É de tamanha pena que não se tenha liberdade para demonstrar ao mundo, também de
aceitarem e eu não entendo porque uma polémica inteira.

A vida e suas injustiças diárias, nos sabíamos o que se acontecia quando vinha a público, por
isso era mantido tão em segredo. Quando posto era um perigo para quem amava fora do que seria
considerado o “certo” para eles, tornava-se insuportável e uma aflição enorme. Não se havia
direito, leis, era basicamente a sorte e o terror, cada um por si em sua jornada.

E acho que agora, o entendo melhor e até os meus próprios medos e se afinal eu fosse e não
soubesse. Na verdade, não que eu não sabia, mas a questão de aceitação era um caminho sem fim,
era pior do que um beco sem saída onde se tornaria mais “fácil”. E tentar ser o perfeito para eles,
mais uma marionete eu parecia, mas quando eu me posiciono por si só eles acham ruim.

— Eu também não entendo, nem as pessoas e nem as razões de agirem assim.


— Francamente, eu muito menos Sebastian. Acho que o entendo mais do que eu deveria
entender e acabo compreendendo tudo isso.

— Como assim, me entender mais? – Ele questionou em pura dúvida. — Acho que já saquei.

— São só algumas dúvidas das quais não as tenho resposta e depois dessa conversa, acho
que algumas coisas estão mudando em mim. Estou conseguindo enxergar em meio a escuridão, por
mais que não tenha uma luz que me direcione ou me mostre o que de fato está acontecendo.

— Vamos descobrindo juntos, por mais impossível que pareça e conseguiremos essas
respostas de uma vez por todas. Eu estou aqui para você, assim como você estará para mim, sempre
estivemos juntos em qualquer hipótese ou circunstância.

E eu sabia que podia contar com o mesmo nessa longa jornada, não sei vai ser longa porque
não faço ideia do dia de amanhã, mas alguma coisa deva significar. Já estava realmente, muito tarde
quando demos conta do horário. Caso não estivéssemos com nossos relógios de bolso, guiávamos
pela lua e pelo céu, quando estava perto de amanhecer já corríamos para nossas casas ou
alojamentos. Eu achava Sebastian engraçado como eu era a lua para ele, mas admito, ele era meu
amado sol.

Começamos a arrumar nossos cadernos e folhas, toda vez revisamos se esquecemos algo
para que não acabassem deixando para trás algo de suma importância. Depois que olhamos mais
uma vez, começamos a caminhar para um outro portão do cemitério. Tinha gente que até escalava
os murros ou as grades, deixo esses pros corajosos ou aqueles que ficam na beira de levar uma
espetada no meio da barriga e ser servido no churrasco.

Seguimos o restante do percurso em silêncio, pensativos e também com uma pitada de


cansaço e de sono. Nós despedimos brevemente e tomamos nossas rotas, voltei pensando em tudo
que havia vivenciado com ele durante aquela madrugada. Não se tratava de apenas cantos e
escritas, tratava-se de perguntas, de descobertas e de medos. Das quais, tocava o nosso ser parte a
parte.

Isso ficaria um bom tempo para que fosse processado, mas só pensava mesmo em
adormecer. Com pouco tempo, cheguei ao meu alojamento andando o mais disfarçadamente
possível. Acabou dando certo, peguei as chaves e destranquei a porta a trancando logo a seguir com
cuidado para não fazer nenhum barulho alarmante.

Coloquei minhas anotações guardadas em meu cofre trancado a sete chaves, literalmente, a
primeira gaveta que eu vi. Me troquei rapidamente de roupa e acabará me deitando, acho que
estava realmente o verdadeiro pó de todos. Apesar disso, ainda havia ficado acordado durante um
tempo até cair num sono profundo. Não o da morte até então, mas o que realmente poderia ser
daqueles da qual eu acordaria daqui uns 10 anos.

Os dias se passaram ligeiramente, foram tantas das ocupações que a faculdade nos trouxe
que mal tínhamos tempo sobrando para ter um descanso. Quando amenizaram, respiramos mais um
pouco e pudemos pensar em novas saídas já que acabamos ficando bastante ocupados desde então.
E até que enfim tivemos uma oportunidade para escapar desse mundo estudantil.

E depois de muito esforços e tentativas, consegui um espaço no jornal do bairro para


escrever alguns contos. Para alguns, seria como qualquer coisa ou até mesmo uma falta do que ter a
que fazer. A mim, significava muito, já era uma conquista enorme para mim e era tão importante.
Sebastian quando leu e soube que havia tido escrito para tal, ficará tão feliz quanto eu próprio. Ele
era meu real apoio e conforto que eu poderia ter em todo esse universo.

Nessa nova saída, vamos fazer diferente do que em outras que tivemos. Combinamos que
passearíamos na cidade e também olharmos alguns monumentos históricos próximos. Uma pena
que não se podia ir muito distante devido as aulas no dia seguinte. Mas planejava de irmos em
algum final de semana, para alguma outra área de Portugal, até porque a relação com a Espanha
estava bem complexa. Sinceramente, são assim desde que mundo é mundo aposto eu.

Estava bastante eufórico para sair hoje, tanto que acabei me arrumando mais cedo e
esperando as horas passarem. Acho que com tudo que acabou acontecendo nessas semanas me
deixou um pouco mais motivado. Nosso local de encontro seria na porta do meu alojamento já que
ficava mais próximo de onde iríamos. Quando deu o horário, desci a pequena escadaria e fui de
encontro.

— Impressionante, você morando aqui ainda tem a capacidade de se atrasar um minuto do


que foi marcado. - Johann mostrava seu relógio e fingia uma feição séria para demonstrar que
estava tentando provar que eu estaria errado.

— Povo pontual até demais, pensei que estivesse até contando os segundos também. Com
certeza acabará de cometer o crime do maior atraso histórico, conte isso para a Europa. - Ele me deu
um pequeno empurrão com o ombro.

— Pensei em irmos logo para a Catedral de Santa Maria também conhecida como Sé velha
como anda sendo nomeada, ainda não visitei por lá. - Comenta pensativo. — A estrutura é bem
diferente e ajeitada, conhecendo a ti, eu sei que vai gostar;

— E ainda temos sorte que como vão em breve vão começar alguns reajustes, creio que não
está em seu devido funcionamento. - Apesar de não ter visitado, busquei informações de alguns
pontos e isso daria mais liberdade. — Depois seguiremos ao Mosteiro de Santa Cruz.

— Amo o fato de irmos visitarmos catedrais e igrejas, para apreciarmos as artes e nada mais
do que isso. - Ele deu um leve riso. — Isso torna cada vez a gente mais hipócrita, mas originais. -
Tudo que fosse meramente inventado por um de nós, gostávamos de mostrar que eramos de fato os
pioneiros. Pensando assim, acabamos sendo colonizadores de ideias.

— Vamos apreciar os barrocos e os renascentistas também! E depois fazer a parada mais


importante de todas, a biblioteca Joanina.

— Na verdade, a nossa biblioteca, ela não é qualquer biblioteca como as outras. - Isso era
pura verdade, perder em meio aquelas enormes sessões, era tudo que temos ainda e em tempo.

— Quando ficarmos famosos, vamos montar uma com nossos codinomes e só quem de fato
lerem nossos livros, vão entender o porque da mesma.

— Não havia pensado em nada disso até agora, vou me lembrar futuramente e vamos ser os
mais famosos da cidade.

Ao menos sonhar era de graça, mas seria interessante se conseguiremos por na prática, nada
é impossível. Começamos a seguir nossos caminhos, o bom que levamos alguns poucos minutos,
daqui para a Catedral é por volta de oito minutos no máximo. O melhor era passear junto com
Sebastian e fingirmos que somos turistas e não faríamos ideia sobre a região.
E o melhor que quem de fato nunca tinha nós vistos jurava de pé junto, depois saímos um
tanto convencidos que podíamos ser uma dupla de disfarces (já somos). Além do mais, indo
reclamar novamente das calçadas, mas quando eu ia começar a dizer, ele me deu foi um chute na
minha canela. E como não somos dramáticos, íamos convencer a seus e terras que realmente foi
uma morte brutal ou que seria necessária uma amputação para a minha sobrevivência.

As ruas continuavam agitadas, turbulências rotineiras e o que tornava nossa caminhada uma
aventura. Basicamente, sendo atropelados, os vendedores ambulantes fazendo de tudo para que
comprássemos suas mercadorias e quase criando asas para sair voando. E sobre a Sé, ainda havia
outra que era a concatedral, também conhecida como Sé nova, mas que alguns tempos atrás era o
colégio dos jesuítas e relembrado dessa maneira.

— É impressionante e também diferente como se apresenta a estrutura externa. - Disse


Johann quando chegamos na entrada. — Uma mistura de pequeno Castelo e também de fortaleza,
eles realmente tinham um grande espírito de demonstrar suas aquisições.

— Sem contar também sobre outras influências que tiveram para essa e outras construções.
- Acrescento. — E o estilo gótico sempre se apoderando, é bastante presente e creio que na Sé nova
também tenha um pouco do estilo dessa.

— Acho que bem menos, como uma presença sutil ou uma relembrança digamos dessa
forma. Só de pensar que foi uma das primeiras edificações dos traços do estilo gótico da época, a
qual em que estamos visitando é uma riqueza.

Entramos na Catedral, sendo formada por três naves e cincos tramos, transepto ligeiramente
saliente, torre lanterna sobre o cruzeiro e cabeceira tripartida. Sendo também marca de uma rutura
com esquema das outras catedrais, assim como Sebastian havia dito a pouco. Suas colunas aqui no
interior tendo uma presença muito forte de capitéis decorados com três temas. Conhecidos como
geométricos, vegetalistas ou animalistas. Os de geometria chamava um pouco mais minha atenção,
acho que por conta da mistura de figuras.

Já as janelas da torre-lanterna e o janelão da fachada era onde havia a presença de luz


natural. Além das lamparinas que eram precisas durante as noites e também quando realizavam
algum evento por aqui. Passando para outra área que era o Claustro, localizado no lado sul, ele
ocupa uma área quadrangular a partir do terceiro tramo da nave e possuindo cinco arcos quebrados
envolvendo um par de arco geminados, assentes em finos colunelos geminados e com óculo
superior. Também constituído por um piso abobadado, dando um destaque local. Nas naves laterais,
subsistem vários túmulos tendo algumas figuras bem notáveis.

— Como você acha eles foram capazes de construir isso tudo, Leo?

— Vou te contar tudo, veja essa devera explicação. Na minha opinião, era um correndo atrás
do outro em busca de muito cimento e tijolo. - Comecei a encenar. — Aí eles diziam “quem vai ser
hoje a pegar os vossos elementares materiais na quinta do tio Manoel?” era processo, porque na
quinta era brabo, era tanto do bicho e tanta da coisa que eu nem te conto. Na hora de construir era
tanta da conversa alheia, até de fato começarem a fazer alguma coisa e ficar jogando cimento no ar.
Os artistas tudo já lelé da cabeça com o rei e a caralhada toda, ficavam só no pânico.

— Tio Manoel vai lembrar de você após essa magnifica descrição histórica que você fez de
todo o contexto. Vou até pegar meu lenço, estou muito tocado com tudo isso. - Ele limpava suas
lágrimas falsas.
— Foi muito revolucionária minha versão, preciso ganhar o prêmio como contador de fatos
históricos mesmo sem estar na faculdade de história.

— Quando você for premiado, vou estar lá na primeira fila aplaudindo essa versão da quinta
do tio Manoel. E chorando horrores de orgulho gritando lá.

— Que emoção sem igual. - Sorrimos com essas besteiras que criamos. — Acho que já
passamos por todas as áreas, o Mosteiro de Santa Cruz nos aguarda.

— Vou chamar os mortos ali nos túmulos para te assombrar de noite. - Ele bem pacífico.

— Os de verdade eu sei quem são...

Saímos da Sé velha e prosseguimos o caminho, o próximo ponto não era tão distante
também, tínhamos essa vantagem de proximidade e menos sofrimento para nossos pés. Porém
antes de irmos a outra igreja, resolvemos dar uma pausa para almorçamos em um dos restaurantes
da região. Enquanto eu pedindo o prato da qual sempre como, Sebastian inovando toda vez. Eu
literalmente, quando vício em uma comida, eu só permaneço comendo até eu enjoar. Ele come de
tudo um pouco, se derem veneno ele também come sem hesitar, tinha que ser ele mesmo.

Vou dar um croque se um dia ele sonhar em beber veneno, vou estar em alerta. Após
continuamos nossa divina caminhada, passando pela rua Praça 8 de Maio, chegamos em nosso
próximo destino.

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