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Infiltração 6-1

6 INFILTRAÇÃO

6.1 Introdução

A água precipitada tem os seguintes destinos:


 Parte é interceptada pelas vegetações;
 Parte é retida nas depressões;
 Parte é infiltrada;
 O resto escoa superficialmente.

Figura 6.1 – Componentes do escoamento dos cursos de água.

6.2 Conceitos Gerais

Infiltração é o fenômeno de penetração da água nas camadas do solo próximas à


superfície do terreno.
Fases da infiltração:
 Intercâmbio - ocorre na camada superficial de terreno, onde as partículas de água estão
sujeitas a retornar à atmosfera por aspiração capilar, provocada pela ação da
evaporação ou absorvida pelas raízes das plantas;
 Descida – dá-se o deslocamento vertical da água quando o peso próprio supera a
adesão e a capilaridade;
 Circulação – devido ao acúmulo da água, o solo fica saturado formando-se os lençóis
subterrâneos. A água escoa devido à declividade das camadas impermeáveis.

Grandezas características:
Infiltração 6-2

1) Capacidade de infiltração – é a quantidade máxima de água que um solo, sob uma dada
condição, é capaz de absorver na unidade de tempo por unidade de área. Geralmente é
expressa em mm/h.
2) Distribuição granulométrica – é a distribuição das partículas constituintes do solo em
função das suas dimensões, representada pela curva de distribuição granulométrica.
3) Porosidade – é a relação entre o volume de vazios e volume total, expressa em
porcentagem.
4) Velocidade de filtração – é a velocidade média com que a água atravessa um solo
saturado.
5) Coeficiente de permeabilidade - é a velocidade de filtração em um solo saturado com
perda de carga unitária; mede a facilidade ao escoamento.

Fatôres que intervêm na capacidade de infiltração


1) Tipo de solo – a capacidade de infiltração varia diretamente com a porosidade,
tamanho das partículas e estado de fissuração das rochas.
2) Grau de umidade do solo – quanto mais seco o solo, maior será a capacidade de
infiltração.
3) Efeito de precipitação – as águas das chuvas transportam os materiais finos que, pela
sua sedimentação posterior, tendem a reduzir a porosidade da superfície. As chuvas
saturam a camada próxima à superfície e aumenta a resistência à penetração da água.
4) Cobertura por vegetação – favorece a infiltração, já que dificulta o escoamento
superficial da água.

6.3 Determinação da quantidade de água infiltrada

a) Medição direta da capacidade de infiltração

Infiltrômetro:

Figura 6.1 – Infiltrômetro.

 com aplicação de água por inundação:


São constituídos de dois anéis concêntricos de chapa metálica, com diâmetros variando
entre 16 e 40 cm, que são cravados verticalmente no solo de modo a restar uma pequena
altura livre sobre este. Aplica-se água em ambos os cilindros mantendo uma lâmina
líquida de 1 a 5 cm, sendo que no cilindro interno mede-se o volume aplicado a intervalos
Infiltração 6-3

fixos de tempo. A finalidade do cilindro externo é manter verticalmente o fluxo de água


do cilindro interno, onde é feita a medição da capacidade de campo.
 com aplicação de água por aspersão ou simulador de chuva:
São aparelhos nos quais a água é aplicada por aspersão, com taxa uniforme, superior à
capacidade de infiltração no solo, exceto para um curto período de tempo inicial.
Delimitam-se áreas de aplicação de água, com forma retangular ou quadrada, de 0,10 a 40
m2 de superfície; medem-se a quantidade de água adicionada e o escoamento superficial
resultante, deduzindo-se a capacidade de infiltração do solo.

b) Método de Horton

A capacidade de infiltração pode ser representada por:

f = fc + (f0 - fc)e-kt (6.1)

onde f0 é a capacidade de infiltração inicial (t=0), em mm/h;


fc é a capacidade de infiltração final, em mm/h;
k é uma constante para cada curva em t-1;
f é a capacidade de infiltração para o tempo t em mm/h.

Figura 6.2 – Curvas de infiltração segundo Horton.

Integrando-se a equação 6.1, chega-se à equação que representa a infiltração acumulada,


ou potencial de infiltração, dada por:

F = fc . t + ((f0 - fc)/k).(1 - ek*t) (6.2)


Infiltração 6-4

onde F é a quantidade infiltrada (ou a quantidade que iria infiltrar se houvesse água
disponível), em mm.

140

120

F - Potencial de infiltração (mm) 100

80

60

40

20

0
0 1 2 3 4 5 6
Tempo (horas)

Figura 6.3 – Curva de potencial de infiltração.

b) Método de Soil Conservation Service

Fórmula proposta pelo SCS:


( P  0.2  S ) 2
Pe  (6.3)
( P  0.8  S )
para P  0.2S
onde
Pe - escoamento superficial direto em mm;
P - precipitação em mm;
S - retenção potencial do solo em mm.
S despende do tipo de solo
0.2S é uma estimativa das perdas iniciais (interceptação e retenção).

Relação entre S e CN (“número de curva”):


1000
CN  (6.4)
 S 
10   
 25.4 
ou rearranjando a equação 6.4:
25400
S  254 (6.5)
CN
CN depende de 3 fatores:
- umidade antecedente do solo;
Infiltração 6-5

- tipo de solo;
- ocupação de solo.
6.4 Tipos de solo e condições e ocupação

O SCS distingue em seu método 5 grupos hidrológicos de solos.


Grupo A – Solos arenosos com baixo teor de argila total, inferior a 8 %.
Grupo B – Solos arenosos menos profundos que os do Grupo A e com menor teor de
argila total, porém ainda inferior a 15 %.
Grupo C – Solos barrentos com teor total de argila de 20 a 30 % mas sem camadas
argilosas impermeáveis ou contendo pedras até profundidades de 1,2 m.
Grupo D – Solos argilosos (30 – 40 % de argila total) e ainda com camada densificada a
uns 50 cm de profundidade.
Grupo E – Solos barrentos como C, mas com camada argilosa impermeável ou com
pedras.

6.5 Condições de umidade antecedente do solo

O método do SCS distingue 3 condições de umidade antecedente do solo:


CONDIÇÃO I – solos secos – as chuvas nos últimos 5 dias não ultrapassam 15 mm.
CONDIÇÃO II – situação média na época das cheias – as chuvas nos últimos 5 dias
totalizaram entre 15 e 40 mm.
CONDIÇÃO III – solo úmido (próximo da saturação) – as chuvas nos últimos 5 dias
foram superiores a 40 mm e as condições meteorológicas forma desfavoráveis a altas
taxas de evaporação.
A Tabela 6.1 permite converter o valor de CN para condição I ou III e a Tabela 6.2 mostra
os valores de CN para diferentes tipos de solo na condição II de umidade antecedente.
Tabela 6.1 – Conversão das curvas CN para as diferentes condições de umidade do solo.
Infiltração 6-6

Tabela 6.2 – Valores de CN (“curve number”) para diferentes tipos de solo (Condição
II de umidade antecedente).
Infiltração 6-7

EXERCÍCIOS-EXEMPLOS

6.1 Em uma bacia hidrográfica, com a predominância de solo tipo B, ocorreu a


seguinte chuva:
Intervalo de tempo (h) 0–1 1-2 2-3 3-4 4-5
Precipitação (mm) 5 15 20 25 15

Determinar a parcela infiltrada e a chuva execedente (chuva que escoa superficialmente),


utilizando o método de Horton.
Solução:
Solo tipo B: f0 = 200 mm/h; fc = 12 mm/h; k = 2 h-1
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Potencialidade de infiltração:

F  fc  t 
1
 f 0  f c   1  e kt   12t  1 200  121  e 2t   12t  94  1  e 2t 
k 2
t = 1  F = 12 x 1 + 94 x (1 – e-2x1) = 93,3 mm
t = 2  F = 12 x 2 + 94 x (1 – e-2x2) = 116,3 mm
t = 3  F = 12 x 3 + 94 x (1 – e-2x3) = 129,8 mm
t = 4  F = 12 x 4 + 94 x (1 – e-2x4) = 142,0 mm
t = 5  F = 12 x 5 + 94 x (1 – e-2x5) = 154,0 mm

(1) (2) (3) (4) (5) (6)


Intervalo Tempo Total Potencialidade Potencialidade Quantidade Chuva
de tempo (h) precipitado de infiltração: de infiltração Infiltrada Excedente
em
(h) (mm) F (mm) cada Dt (mm) (mm)
(mm)
0-1 1 5 93,3 93,3 5,0 0
1-2 2 15 116,3 23,0 15,0 0
2-3 3 20 129,8 13,5 13,5 6,5
3-4 4 25 142,0 12,2 12,2 12,8
4-5 5 15 154,0 12,0 12,0 3,0

Procedimento de cálculo:
Coluna 3  Calcular com a equação de F, conforme mostrado acima;
Coluna 4  Fazer a diferença entre a potencialidade de infiltração (F) do instante atual e
a do instante anterior;
Coluna 5  Comparar os valores da coluna 2 com os da coluna 4 e preencher com o
menor deles;
Coluna 6  Fazer a diferença entre os valores da chuva (coluna 2) e os da potencialidade
de infiltração em cada intervalo de tempo (coluna 5).
30

Chuva infiltrada
25
Altura pluviométrica (mm)

Chuva execdente

20

15

10

0
1 2 3 4 5
Tempo (h)

6.2 Para a mesma chuva do exercício 6.1, calcular a chuva excedente utilizando o
método de Soil Conservation Service (SCS). Adotar o valor 70 como número de
curva (CN).
Solução:
(1) (2) (3) (4) (5)
Infiltração 6-9

Intervalo de Chuva em cada Chuva Chuva exceden- Chuva excedente


tempo (h) t acumulada te acumulada em cada t
(mm) (mm) (mm) (mm)
0–1 5 5 0 0
1–2 15 20 0 0
2–3 20 40 2,6 2,6
3–4 25 65 12,3 9,7
4–5 15 80 20,3 8,0
Procedimento de cálculo:
Coluna 3  Acumular a chuva de cada intervalo de tempo;
Coluna 4  Calcular a partir da chuva acumulada, conforme mostrado abaixo:
25400
S  254
CN
( Pac  0,2  S ) 2
Pe ac  para Pac > 0,2.S
Pac  0,8  S

Peac = 0 para Pac  0,2.S


25400 25400
S  254   254  108,9 mm
CN 70
0,2.S = 0,2 x 108,9 = 21,8 mm
Intervalo 0 – 2: Pac = 5,0 < 21,8  Peac = 0
Intervalo 1 – 2: Pac = 20,0 < 21,8  Peac = 0
(40  0,2  108,9) 2
Intervalo 2 – 3: Pac = 40,0 > 21,8  Pe ac   2,6 mm
40  0,8  108,9
(65,0  0,2  108,9) 2
Intervalo 3 – 4: Pac = 65,0 > 21,8  Pe ac   12,3 mm
65,0  0,8  108,9
(80,0  0,2  108,9) 2
Intervalo 4 – 5: Pac = 65,0 > 21,8  Pe ac   20,3 mm
80,0  0,8  108,9
Coluna 5  Fazer a diferença entre a chuva excedente acumulada do instante atual e a do
instante anterior.
30

Chuva infiltrada
25
Altura pluviométrica (mm)

Chuva execdente

20

15

10

0
1 2 3 4 5
Tempo (h)

EXERCÍCIOS PROPOSTOS
Infiltração 6-10

E6.1 Dada a chuva abaixo, determine a parcela infiltrada e excedente, utilizando os


métodos de:
a) Horton, considerando que predomina o solo tipo C na bacia;
b) Soil Conservation Service, adotando CN = 75.

Intervalo de tempo (min) 0 – 12 12 - 24 24 - 36 36 - 48 48 - 60


Precipitação (mm) 6,4 9,6 8,8 8,0 4,0

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