Lá na mata, a arara estava sempre chamando as amigas, Um dia, o papagaio é que respondeu, rindo: -Erera! Erera! Erera! -Erera, não! Arara! – corrigiu ela. E ele explicou: - É uma história: erera uma vez uma arara... - Então, conta – pediu ela. O papagaio contou. Está história aqui. Era – ou erera – uma vez uma arara. Bem colorida, com muita pena vermelha e algumas azuis e amarelas. Parecia um grito de cor no meio da mata verde. E adorava tudo o que fosse colorido. Gostava das florestas, das borboletas, dos tiês, das saíras, dos periquitos, de tudo quanto é passarinho cheio de cor. Mas, mais do que tudo, ela gostava de guaraná. Não desses guaranás em garrafa ou lata que a gente toma na cidade. Mas do guaraná da mata, uma frutinha redonda, bem vermelha e brilhante. Como o guaraná era vermelho e brilhante que nem ela, a arara achava que tinha de ser todo dela. Não deixa ninguém chegar perto sem fazer um escarcéu e chamar as amigas: - Arara! Arara! Arara! Mas um dia ela se distraiu e, quando viu, o caxinguelê – que é uma espécie de esquilo – já estava comendo uma porção de guaraná. Ficou furiosa. - Arara! Arara! Larga esse guaraná! Jacaré largou? Nem o caxinguelê. Continuou comendo. - Sai daí, seu caxinguelê guloso! Larga meu guaraná... - Seu, coisa nenhuma. Guaraná está no mato, e de quem pegar... - É meu, sim senhor, é da minha cor.... – insistiu a arara. - Deixa disso, arara boba. Cor de fruta não é camiseta de time de futebol, isso não quer dizer nada. E continuou comendo. A arara ficou mesmo furiosa. Para que aquilo não acontece nunca mais, resolveu esconder todos os guaranás da mata. Ela e as amigas. Voavam para um lado e para o outro e, toda vez que viam um cacho de guaraná, tiravam da árvore e escondiam. Sabe onde? Enterravam onde bicho nenhum pudesse achar... Daí a mais alguns dias, não se via mais guaraná na mata. E, quando as araras quiseram, quem disse que encontravam? Jacaré achou? Nem as araras. É que elas não tinham marcado os lugares onde enterraram as frutas e esqueceram. Foi uma gritaria, cada uma jogando a culpa na outra: - Arara! Arara! Onde você guardou meu guaraná? Arara! Mas não acharam. E o tempo passou, passou. Veio a época da chuva, veio o tempo do sol. E, em vários lugares da mata, as sementes enterradas dentro das frutas começaram a brotar, as folhas foram apontando no chão, as plantas foram crescendo. Daí a um tempo, tinha tanto guaraná na mata que dava pra tudo quanto é arara comer, tudo quanto é caxinguelê, tudo quanto é bicho. Nunca mais foi preciso brigar por causa de guaraná. - Por isso, comadre arara, é que hoje a senhora não tem que criar casa quando alguém come guaraná – disse o papagaio, terminando a história. - Por isso, comadre arara, é que hoje a senhora não tem que criar caso quando alguém como guaraná – disse o papagaio, terminando a história. - Bobagem, compadre, isso é só história inventada, não é verdade? - Tem razão, comadre, é história mesmo – disse o papagaio. – Mas tem um lugar onde ela acontece de verdade. É nas matas lá do Sul... - E lá tem guaraná? – quis saber a arara. - Não tem, não. Mas tem gralha-azul e tem pinhão. E tanto elas enterram as castanhas do pinhão, que acaba nascendo pinheiro em todo canto. E, se um dia as gralhas pararem de plantar pinhão, vão acabar os bosques de pinheiro. - E acabou a história. -Acabou – confirmou o papagaio. - Então tem que dizer assim: “entrou pelo pé do pato, saiu pelo pé do pinto, quem quiser que conte cinto” – ensinou a arara. Mas o papagaio corrigiu: - Nada disso, a história é minha, eu acabo do jeito que eu quiser. E o jeito que eu quero é assim: “entrou pelo pé da arara, saiu pelo pé da gralha, quem não trabalha só atrapalhar”. E, como a história é sua também, invente o final que mais lhe convém.