Focus 02abr2024

DITADURA
NUNCA MAIS
Há seis décadas, militares lideraram um golpe de Estado e tomaram

o poder após a deposição de João Goulart. Ali se deu início um dos
períodos mais nefastos da história da República: a ditadura militar,
perdurou por 21 anos, período em que a tortura e a censura
foram institucionalizadas como políticas de Estado
focus BRA SIL

Fundação Perseu Abramo 02 de Abril de 2024 Nº 135
DataFolha: 63% são contra anistia a golpistas
FPA inicia ciclo de debates sobre o golpe de 1964
Dia D: iniciativa petista prepara pré-candidatos
Entrevista: Lúdio Cabral

O renascimento de Marx
ORGANIZADO POR MARCELLO MUSTO
adquira seu exemplar em: autonomialiteraria.com.br
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NESTA EDIÇÃO
Paulo Pinto/Agência Brasil

OS 60 ANOS DO GOLPE
No dia primeiro de abril de 1964, começava no Brasil um dos períodos mais
tenebrosos de sua história, a Ditadura Militar impetrada após o golpe de Estado
que depôs o presidente João Goulart, Jango, e o exilou. O país mergulhou em
duas décadas de repressão violenta, perseguições, censura, torturas e sucessivas
escaladas autoritárias
Página 06
CARTA AO LEITOR Mácula MANIFESTO Fundações para consumo

na História brasileira repudiam ditadura avança no país
Página 05 Página 14 Página 21
SEM ANISTIA 63% DIA D PT se prepara para as

FPA Começa o ciclo
são contra perdão eleições
de debates sobre a
a golpistas Página 23
Página 09 ditadura
Página 18
ENTREVISTA Lúdio Cabral
GUERREIRA “Manter a fala sobre a disputa em
memória”, escreve Dilma ARTIGO Líder do PT na
Página 10 Câmara escreve sobre os Cuiabá
Página 25
anos de chumbo
ARTIGO A democracia Página 20
OBITUÁRIO Morre Liana
trêmula 60 anos depois Padilha aos 60 anos
Página 11 ECONOMIA Crédito
Página 32
4 Focus Brasil, 02 de Abril de 2024

CARTA AO LEITOR
Reprodução
O Golpe de 1964: a mácula
na História brasileira
Alberto Cantalice Castello Branco. chamavam o povo para o apressa-
O
O papel da UDN, União De- mento da aplicação das Reformas
golpe civil-militar de 1964 mocrática Nacional, e de setores de Base.
ficará para sempre como do antigo PSD, Partido Social De- A derrota histórica do povo bra-
nódoa incrustada na his- mocrático, principalmente entre sileiro não foi uma derrota passa-
tória do Brasil. Além da fazendeiros como “vivandeiras de geira. Foi o apagar da chama da
ruptura da ordem demo- quartel”, e da imprensa foi determi- democracia por longos 21 anos.
crática, o que por si só é nante para criar a crise institucional Repito ser a ausência de uma
de gravidade ímpar, obs- que derivou na ruptura. justiça de transição, à exemplo das
truiu a aplicação das chamadas que ocorreram nos países sul-a-
Reformas de Base. O caráter rea- As cassações mericanos como Argentina, Chile
cionário e antinacional do golpe Instaurado o golpe de Estado, e Urugua. A manutenção dessa
ficou claro com a apresentação da seus perpetradores no dia 09 de verdadeira “espada de Dâmocles”
primeira lista de cassações do regi- abril de 1964 soltaram a primeira sobre a democracia brasileira, o fa-
me, bem como com a nomeação lista de inimigos do novo regime. migerado artigo 142 da Constitui-
de sua equipe econômica onde Os 10 primeiros já davam uma di- ção de 1988, que mal interpretado
pontificava Roberto Campos, co- mensão do que adviria com a con- - ou dolosamente interpretado -,
nhecido como Bob Fields (pelo tinuidade do golpismo. Eram eles: coloca as Forças Armadas como
pró americanismo) e avô do atual 1-Luis Carlos Prestes; 2- João Bel- uma espécie de Poder Moderador.
presidente do Banco Central brasi- chior Marques Goulart; 3- Jânio da O que é uma mentira.
leiro, indicado pelo Capitão. Tudo Silva Quadros; 4- Miguel Arraes; A falta de punição aos golpis-
a ver. 5- Darcy Ribeiro; 6-Waldir Pires; 8- tas de 1964 não poderá se repetir
A ação da “Vaca Fardada”, como General Luiz Gonzaga de Oliveira agora.
era chamado o general Olímpio Leite; 9- General Sampson da Nó- Os filhotes da ditadura que
Mourão Filho, ao pôr as tropas nas brega Sampaio; 10- Leonel Brizola. tentaram golpear a democracia
ruas em Juiz de Fora, foi o corolário Pela lista inicial percebe-se que tendo à frente o Capitão, alguns
de uma conspiração que envolvia o intuito era desmontar os setores Chefes militares, empresários, po-
empresários, setores da Igreja, a democráticos nas Forças Armadas liciais, entre outros, têm que ser
Embaixada americana e parte dos e quebrar a espinha dorsal do PTB severamente punidos. Não basta
generais egressos da antiga Força e do PCB, setores que pela pre- a captura das sardinhas. E sim, dos
Expedicionária Brasileira, a FEB, sença nos sindicatos e nas demais tubarões.
cujo prócer maior era o general organizações da sociedade civil Ditadura Nunca Mais!
Focus Brasil, 02 de Abril de 2024 5

CAPA

60 anos do Golpe de 1964:
Ditadura Nunca Mais
Há 60 anos, no dia primeiro de abril de 1964, começava
no Brasil um dos períodos mais tenebrosos de sua história,
a Ditadura Militar impetrada após o golpe de Estado que
depôs o presidente João Goulart, Jango, e o exilou. O
governo militar teve início com eleições indiretas, colocando
o general Humberto Castelo Branco como presidente do
Brasil.

Com a posse de Castelo Bran-
Reprodução
co no dia 15 de abril daquele
ano, a ruptura democrática ga-
nhava vestes de patriotismo,
uma luta contra o movimento
comunista, com apoio de gran-
de parte do empresariado, da
imprensa e até mesmo de igre-
jas. O país, então, mergulhou em
duas décadas de repressão vio-
lenta, perseguições, censura, tor-
turas, assassinatos e sucessivas
escaladas autoritárias.
Apesar do auge da repres- EM NOME DE DEUS - Marcha da Família com Deus pela Liberdade: classe
são ser comumente associado média foi às ruas pedir a queda do presidente João Goulart
ao período posterior ao final de
1968, quando foi implementado
violência praticada pelo Estado são desaparecidas.
o Ato Institucional nº 5, o AI-5,
militar. Editado em dezembro de No documento, a CNV traz a
pelo ditador Costa e Silva, a po-
1968, o ato deu ao ditador que comprovação da ocorrência de
lítica linha dura começou desde
ocupasse o cargo de presidente graves violações de direitos hu-
sempre, era o projeto. O caráter
da República o poder de cassar manos. “Essa comprovação de-
autoritário se manifestava, cla-
mandatos, suspender direitos correu da apuração dos fatos que
ro, desde o golpe, e teve início
políticos de qualquer pessoa, in- se encontram detalhadamente
imediato no pós-golpe, especial-
tervir em estados e municípios, descritos no relatório, nos quais
mente a partir do AI-2.
suspender Habeas Corpus para está perfeitamente configurada a
Em outubro de 1965, o AI-2
crimes políticos, decretar reces- prática sistemática de detenções
implementou eleições indire-
so do Congresso e assumir suas ilegais e arbitrárias e de tortura,
tas para a presidência, suprimiu
funções legislativas, censurar assim como o cometimento de
partidos políticos, revogou os
jornais, livros, músicas e outras execuções, desaparecimentos
direitos políticos de oposito-
obras artísticas e intelectuais. Foi forçados e ocultação de cadáve-
res do governo e adotou outras
o auge da repressão e violência res por agentes do Estado brasi-
medidas. O ato pegou os desa-
do regime militar. leiro” diz o texto.
visados de “surpresa”, apesar da
A tortura e o assassinato sis- Mais de 300 pessoas, entre
grande resistência alertar, e lutar,
temático de militantes políticos militares, agentes do Estado e
desde o início, para avisar do
por órgãos de repressão políti- até mesmo ex-presidentes da
perigo que se avizinhava. O AI-2
ca, como o DOI-Codi (Departa- República, foram responsabili-
foi o primeiro a acabar com a ilu-
mento de Operações Internas zadas por essas ações ocorridas
são da classe média brasileira,
do Exército), o Cisa (Aeronáuti- no período que compreendeu a
de parte do empresariado que
ca) e o Cenimar (Marinha), além investigação. O documento diz
apoiou o golpe e acreditou que
dos DEOPS (Departamentos de ainda que as violações registra-
seria um governo de transição.
Ordem Política e Social dos esta- das e comprovadas pela CNV
Os militares chegaram para
dos), passaram a ser uma política foram resultantes “de ação ge-
ficar – e ficaram. O objetivo era
de Estado. neralizada e sistemática do Esta-
claro: interromper os avanços
Em 2014, a Comissão Nacio- do brasileiro” e que a repressão
sociais, nominar o inimigo com o
nal da Verdade, instalada pela ocorrida durante a ditadura foi
fantasma do comunismo, como
então presidenta Dilma Rousseff, usada como política de Estado
se um dia de fato o Brasil tenha
entregou ao Planalto o relatório “concebida e implementada a
passado perto de uma revolução
final que apontava e registrava partir de decisões emanadas da
aos moldes de Cuba, o grande
o tamanho dos danos ao país, Presidência da República e dos
bode expiatório até hoje. A vio-
especialmente aos Direitos Hu- ministérios militares”.
lência começou pela persegui-
manos. O relatório confirmou Outro ponto de destaque
ção política, com a perseguição
434 mortes e desaparecimentos das conclusões do relatório é
a opositores.
de vítimas da ditadura militar no que muitas das violações com-
O AI-5 de Costa e Silva coroa
país. Entre essas pessoas, 210 provadas durante o período de
e verbaliza, institucionalizando, a
Reprodução
investigação ainda ocorrem atu- janeiro, movimento que pedia a limitada. Isso resultou na impu-
almente, apesar da existência de deposição do presidente eleito nidade dos agentes públicos
um contexto político diferente. Lula, e os flagrantes episódios de responsáveis por atos de tortura
Segundo o texto, “a prática de aparelhamento, vigilância clan- e assassinato. Apesar disso, os
detenções ilegais e arbitrárias, destina e trama golpistas reve- membros do "porão" sentiram-
tortura, execuções, desapareci- lados recentemente pela Polícia -se insatisfeitos e passaram a rea-
mentos forçados e mesmo de Federal nos dão o norte de que lizar atos terroristas, culminando
ocultação de cadáveres não é o esquecimento e o apagamento na frustrada tentativa de explo-
estranha à realidade brasileira só podem condenar o país a re- são do Riocentro em 1981.
contemporânea” e crescem os petir a História. Embora a ditadura tenha
números de denúncias de casos chegado ao seu fim em 1985,
de tortura. É preciso estar atento os setores conservadores que a
Seis décadas depois, a me- apoiaram, embora enfraqueci-
mória segue viva, tanto em atos Desde o final da ditadura em dos inicialmente, continuaram
de resistência, quanto na prática 1985, não foi realizado um pro-
presentes no cenário político do
política diária. Recentemente, o cesso definitivo de reconciliação
país. Eles se opuseram aos pri-
Brasil viveu mergulhado em um com o passado. Isso implica que
meiros governos dos presiden-
governo militar, advindo de um não foram adotadas medidas
tes Lula e Dilma Rousseff, que
projeto que derrubou a presi- consistentes e eficazes relacio-
retomaram a agenda reformista
denta Dilma Rousseff em 2023, nadas à Justiça de Transição para
iniciada por Jango.
colocou em seu lugar Michel Te- reparar as violações perpetradas
Esses setores retornaram ao
mer e elegeu Bolsonaro, levando pelos militares. Além disso, indi-
poder em 2018 com a eleição de
os militares novamente ao Pla- ca a ausência de uma reflexão
nalto. ampla sobre o impacto danoso Jair Bolsonaro, que tentou minar
Primeiro presidente a perder que o regime teve na sociedade. a democracia em 8 de janeiro
uma disputa à reeleição, reve- Na segunda metade dos anos de 2023. Graças à mobilização
la-se, agora, que o Brasil este- 1970, sob pressão da crise eco- da sociedade civil e dos movi-
ve perto de, novamente, de um nômica, protestos estudantis em mentos populares, essa tentativa
golpe envolvendo militares, crescimento e greves de traba- fracassou. No entanto, esse epi-
empresários e políticos. Depois lhadores na região do ABC pau- sódio evidenciou que as forças
dos atentados às sedes dos Três lista, a ditadura revogou o AI-5 reacionárias mantêm uma postu-
Poderes em Brasília no dia 8 de e concedeu uma anistia política ra golpista.
Joedson Alves/Agência Brasil
Datafolha: 63% são contra anistia
a responsáveis pelos ataques de 8 de janeiro
PT defende punição de “todos, desde seu comandante,
Jair Bolsonaro, aos generais e chefes militares golpistas,
empresários e demais envolvidos na conspiração”
A
anistia aos responsá- participantes dos atos crimino- Jair Bolsonaro, aos generais e
veis pelos ataques às sos, com 116 pessoas já conde- chefes militares golpistas, em-
sedes dos Três Pode- nadas. Desse total, 1.113 ações presários e demais envolvidos na
res, em 8 de janeiro foram suspensas para a PGR ava- conspiração”.
de 2023, é rejeitada liar possíveis acordos para cri- “O PT reforça a mobilização
por 63% dos brasilei- mes de menor gravidade. contra a anistia aos golpistas, exi-
ros. Esta é a conclusão Em nota do Diretório Nacional, ge punição de todos que plane-
de levantamento divulgado pelo divulgada nesta terça-feira, 26, o jaram, financiaram e organizaram
Instituto Datafolha nesta sexta- PT defende a punição exemplar a conspiração golpista e os aten-
-feira (29). de todos que atentaram contra tados de 8 de janeiro, sejam civis
Até o momento, foram instau- a democracia. “Todos”, destacou ou militares”, afirmou ainda o DN
radas 1.354 ações penais contra a nota, “desde seu comandante, do partido.
Dilma Rousseff: manter a memória
para que a tragédia não se repita
Manter a memória e a verdade histórica sobre o golpe militar que ocor-
reu no Brasil há 60 anos, em 31 de março de 1964, é crucial para assegu-
rar que essa tragédia não se repita, como quase ocorreu recentemente,
em 8 de janeiro de 2023. Como tentaram agora, naquela época, infe-
lizmente, conseguiram. Forças reacionárias e conservadoras se uniram,
rasgaram a Constituição, traíram a democracia, e eliminaram as conquis-
tas culturais, sociais e econômicas da sociedade brasileira. O presidente
João Goulart, legitimamente eleito, foi derrubado e morreu no exilio.
No passado, como agora, a História não apaga os sinais de traição à de-
mocracia e nem limpa da consciência nacional os atos de perversidade
daqueles que exilaram e mancharam de sangue, tortura e morte a vida
brasileira durante 21 anos. Tampouco resgata aqueles que apoiaram o
ataque às instituições, à democracia e aos ideais de uma sociedade mais
justa e menos desigual. Ditadura nunca mais!

A democracia trêmula:
1º de abril de 1964, 60 anos depois
A revista Teoria & Debate, tradicional publicação da Fundação
Perseu Abramo, terá publicação impressa com o tema “Uma
Radiografia do Golpe de 1964”. A publicação traz artigos de
José Dirceu, Tarso Genro, Milton Temer, Marilena Chauí, Marly
Viana, Raul Pont, Frei Chico, Ivo Lebauspin, Matilde Ribeiro entre
outros. Confira abaixo, com exclusividade, um dos artigos da
edição, de Emiliano José e Hamilton Pereira (Pedro Tierra).
N
ão há como obscure- vertemos as recordações indi- desenvolvimento soberano. Fora
cer os vínculos diretos viduais ou de grupos em ação isso, é condenar-se a repetir a
entre os fatos de 8 de coletiva. Portanto, em Política. tragédia circular da submissão
janeiro e os defenso- Em ação cultural permanente colonial que nos persegue há
res e herdeiros diretos voltada para esculpir, em todas cinco séculos.
do golpe de 1º de abril as linguagens, valores que dialo- Diante do silêncio do Estado,
de 1964 guem com as gerações presen- os segmentos democráticos da
A memória se constitui como tes e futuras. Assim se desenha sociedade brasileira não podem
fato relevante na história e nas a fisionomia de uma nação. Com renunciar ao seu direito de re-
culturas dos povos quando con- objetivos definidos e projeto de cuperar a trajetória dos movi-
mentos sociais e populares que absorveram a noção do “inimi- Social, os DOPS, as Divisões de
resistiram à ditadura de todas as go interno”,disseminada pela Segurança e Informações nos
formas e em todas as frentes. Essa estratégia do Império no marco Ministérios (DSIs), os Serviços
é uma tarefa indispensável para da guerra fria, que polarizou o de Informações de cada uma
romper o cerco do neofascismo mundo do pós-guerra, os milita- das Forças Armadas (CIEx, CISA
e do neoliberalismo que nos si- res brasileiros passaram a se per- e CENIMAR), o sistema dos DOI-
tiam – um e outro são incompa- ceber como tropa de ocupação -CODIs, coordenados todos pelo
tíveis com a democracia – e dar num território hostil. Serviço Nacional de Informações
o passo seguinte na reconstrução Quem eram as forças hostis? (SNI).
democrática. Quem era o inimigo? Era o povo. Aqui está esboçada de forma
A punição – em curso – dos Eram as classes trabalhadoras panorâmica a estrutura material
responsáveis pelo 8 de janeiro, assalariadas, eram os campone- que deu suporte ao exercício
não pode ser compreendida e ses mobilizados nas Ligas, mais do arbítrio e da violência, das
executada como uma operação aquele imenso contingente de torturas, dos assassinatos e de-
cirúrgica que em si mesma se excluídos de qualquer oportu- saparecimentos forçados contra
encerra. Nunca foi tão oportuno nidade na competição desigual cidadãs e cidadãos brasileiros
recuperar a reflexão de Nabuco estabelecida pelo capitalismo in- ao longo dos anos de chumbo e
se referindo à escravidão: “Aca- dustrial em ascensão. não foi desfeita essa teia, pelos
bar a escravidão, não basta. É Essas forças sociais, à medida regimes democráticos a partir de
preciso acabar com a obra da es- em que se organizaram nos seus 1988.
cravidão”. Esse crime continuado sindicatos e associações, foram É conhecido o relato de um
que deixou marcas profundas, in- vestidas cuidadosamente pelo educador popular na periferia
deléveis, nas relações sociais do discurso conservador com a fan- de uma grande cidade brasileira,
Brasil. tasia do “comunismo” que ame- depois de uma chacina, sobre a
Não basta, portanto, punir os açava deus, a família, a proprie- monstruosidade do AI-5 e seus
planejadores, executores, man- dade e a civilização ocidental. efeitos na época da ditadura, sua
dantes e financiadores do 8 de Suficiente para justificar o golpe duração por dez anos e a respos-
janeiro, perpetrado pelas hordas de Estado que rasgou a Consti- ta contundente de um dos seus
neofascistas. É necessário abolir a tuição de 1946, depôs o Presi- interlocutores: “Aqui ele nunca
cultura golpista, que deitou raízes dente legítimo João Goulart pela foi revogado”. A militarização
profundas no estamento militar força das armas e se atribuiu a le- das polícias estaduais constituiu
brasileiro, cultivada ao longo do gitimidade da boca dos canhões. um modelo de “forças auxilia-
século 20. Não é compreensível E permaneceu por mais de vinte res”equipadas e treinadas para
que a redemocratização do país, anos no poder. reprimir os negros, os pobres, os
após a Constituição de 1988, não Entre 1964 e 1988, quando vulneráveis, esse imenso contin-
tenha produzido uma profunda o país novamente pode escre- gente de marginalizados, expe-
reforma curricular nas Escolas Mi- ver uma nova Constituição pelas lidos pelo mercado de trabalho
litares. Elas foram os mecanismos mãos dos seus escolhidos, a dita- formal.
responsáveis pela formação dos dura civil-militar havia instituído Esse modelo herdado da di-
quadros dirigentes do golpe de o mais capilar sistema de infor- tadura civil-militar se perpetua
estado que pôs abaixo o governo mações, controle social e repres- até hoje em cada chacina contra
democrático do Presidente João são que o Brasil já conhecera. a juventude negra das periferias,
Goulart. A partir de 1968, com o Ato contra os negros e os pobres do
O 1o de abril de 1964, os Atos Institucional no 5, o regime con- Brasil. Como se vê, a obra da di-
Institucionais, em particular o Ato solidou o Estado Policial, cen- tadura permanece e se aprimora:
Institucional Nº 5, de 13 de de- tralizando no Sistema Nacional é um passado que se recusa a se
zembro de 1968, cristalizaram a de Informação – SISNI, ligado afastar de nós.
cultura autoritária que permeia diretamente ao gabinete do co- Diferentemente dos nossos vi-
a historicamente a ação do Esta- mando do Exército, todo o apa- zinhos mais próximos, alvos das
do até o último guichê, no último rato repressivo: desde os alca- sangrentas ditaduras comanda-
município do Brasil em sua re- guetes recrutados dentro das das pelo Departamento de Esta-
lação com as cidadãs e os cida- prefeituras dos mais longínquos do, que assolaram o continente
dãos, na prestação dos serviços municípios, os Rotary Clubes, os durante os anos 1960/70, não po-
públicos do dia a dia. Lions Clubes, as salas de aula, as demos afirmar que o Brasil viveu
A partir do momento em que Delegacias de Ordem Política e um efetivo processo de Justiça
de Transição. A conciliação pelo lançaram luz, por exemplo, so- te da Comissão Especial sobre
alto, mais uma vez não permitiu. bre a participação direta de tipos mortos e Desaparecidos Políti-
Lá, na Argentina, no Uruguai, no como o general da Reserva do cos, 2006).
Chile os generais foram para a Exército Augusto Heleno Ribei- A lúcida reflexão de Marco
cadeia. Aqui para aposentadoria. ro, o mesmo esbirro que era aju- Antônio Barbosa converge com
Insinua-se, sempre que se dante de ordens de Sylvio Frota, o desafio da sociedade brasi-
apresenta essa cobrança, feita quando da tentativa de golpe leira no momento dos sessen-
pelos diretamente atingidos pela derrotada por Ernesto Geisel em ta anos do golpe de estado de
repressão da ditadura – e os fami- outubro de 1977 e Chefe do Ga- 1ode abril de 1964. Trata-se de
liares de mortos e desaparecidos binete Institucional da Presidên- um exercício indispensável para
políticos – que houve um pacto cia da República, durante o man- que possamos encarar o espe-
para que se consumasse a tran- dato do energúmeno. lho do passado como uma nação
sição para a democracia. Nesse É preciso que se diga: se o madura e incorporar as áreas de
momento é sempre oportuno 1o de abril de 1964 foi a tragé- sombra no rosto que moldamos
lembrar Mandela: “Prisioneiros dia para o país que todos conhe- naquelas duas décadas. E para
não fazem pactos”. Trata-se de cemos, que travou por mais de entendermos sua solução como
uma falácia. Tratou-se, na rea- duas décadas o projeto de de- Política de Estado. Um conjunto
lidade, de uma imposição que senvolvimento soberano do país, de critérios e procedimentos pe-
permitiu aos fardados a retirada ao preço do sangue dos que re- renes capazes de transcender as
da cena política sem perdas, ar- sistiram em nome dos interesses contradições inevitáveis deste ou
rastando consigo sob o manto nacionais e da democracia, o 8 daquele mandato.
verde-oliva para a impunidade, a de janeiro de 2023 encenou a Não seria compreensível nem
escória de torturadores, assassi- farsa que hoje está sendo expos- tolerável, que a reconstrução da
nos, estupradores, responsáveis ta pelas instituições, aos olhos da democracia alemã depois da
por crimes imprescritíveis contra cidadania. derrota do nazismo, convivesse
a humanidade. Os desafios da reconstrução no pós-guerra com o silêncio ou
Ninguém está interessado em democrática sob o cerco do ne- a cumplicidade com figuras si-
remoer o passado. Ao contrário, ofascismo não nos permitem nistras como Martin Boormann,
o que exigem os setores demo- inventar atalhos. A sombra pro- Joseph Mengele, Klaus (Altman)
cráticos da sociedade é a efeti- jetada pela ditadura civil-militar Barbie, Rudolf Hess, Eichmann e
vação das medidas cabíveis, per- sobre nós, interpela de diversas com os crimes que cometeram
tinentes ao Estado. Elas não são formas a sociedade brasileira. A contra os judeus, os ciganos, os
muitas. As 29 recomendações marca da violência que define as comunistas, os homossexuais,
da Comissão Nacional da Verda- relações entre Estado e Socie- etc. Lá, eles foram responder
de (CNV), entre elas a conclusão dade e se dissemina de forma diante dos tribunais, aqui para a
das buscas dos mortos e desa- assustadora nas relações interso- reserva remunerada, celebrados,
parecidos, já seriam um avanço ciais – nos discursos de ódio – nos emprestando seus nomes às no-
considerável, que permitiria ao impõe a necessidade de refletir vas turmas de cadetes.
país “virar a página”. E, a partir sobre o que poderíamos definir Herdeira de um império es-
daí, reconstruir o caminho da De- como “a banalidade da tortura”, cravocrata, a sociedade brasilei-
mocracia, liberto de uma vez por parafraseando Hannah Arendt. ra alcança o século XXI com uma
todas dos fantasmas que o ator- “A tortura é um crime hedion- república inconclusa, empareda-
mentam sempre que a oportuni- do, não é ato político nem con- da por uma cultura oligárquica e
dade se ofereça, como ocorreu tingência histórica e afeta toda a uma democracia trêmula, sitiada
no 8 de janeiro de 2023. humanidade, na medida em que por um passado que se recusa a
Não há como obscurecer os a condição humana é violentada ser passado e atormenta o cére-
vínculos diretos entre os fatos de na pessoa submetida a esse cri- bro dos vivos.
8 de janeiro e os defensores e me. Quando alguém é torturado, Brasília, 1º de abril de 2024.
herdeiros diretos do golpe de 1º somos todos atingidos dupla-
Pedro Tierra, poeta. Ex-presidente da Fun-
de abril de 1964. mente: em nossa humanidade dação Perseu Abramo. Militante da Resistência à
Além de todas as evidências e em nossa cidadania. A prática ditadura (1964-1988) e ao neofascismo contem-
ostentadas por seus promoto- da tortura é inaceitável e seus porâneo.
Emiliano José, jornalista e escritor, autor de
res, as investigações conduzidas executores deverão ser punidos Lamarca: O Capitão da Guerrilha com Oldack
pela Polícia Federal, pelo Minis- a qualquer tempo”.(Marco Antô- de Miranda, Carlos Marighella: O Inimigo
Número Um da Ditadura Militar, Waldir Pires –
tério Público e pelo Judiciário nio Barbosa, Jurista, ex-Presiden- Biografia (v. I), entre outros
Agência Senado
1964-2024: Ditadura Nunca Mais!
Posição do Observatório da Democracia de abril de 2024
Porque devemos seguir lutando para que o Brasil seja
efetivamente democrático para todo o povo brasileiro
Assinam as Fundações do PT, processo de transformação que, Getúlio cerca de dez anos antes.
PCdoB, PDT e PSB naquele momento, estava sen-
4. Além disso, a 15 março
Fundação Perseu Abramo do levado adiante pelas Refor-
de 1964, depois de haver decre-
Fundação João Mangabeira mas de Base do presidente João
tado a encampação das refina-
Fundação Leonel Brizola - Alberto Goulart.
rias de petróleo, encaminhou ao
Pasqualini
3. Apesar de seu curto perí- Congresso mensagem em que
Fundação Maurício Grabois
odo de governo, Jango sancio- detalhava o conjunto das Refor-
Fundação Instituto Claudio
nou as leis que criaram a Eletro- mas de Base, destacando-se a
Campos
bras e o Estatuto do Trabalhador Reforma Agrária, destinada ao
Rural - que estendia os direitos fortalecimento do mercado in-
1. No próximo dia 1º abril,
trabalhistas e previdenciários terno para as indústrias e a tornar
completam 60 anos do golpe
ao campo - e a que limitavAa produtivas áreas inexploradas ou
que implantou uma ditadura mi-
aBremResIsLa d/e2lu0cr2o 4 subutilizadas e submetidas ao
litar no país.
para o exterior, cujos projetos comércio especulativo, com o
2. A ditadura interrompeu o haviam sido encaminhados por objetivo de abastecer as popu-

lações urbanas, conforme Jango (Ibad). Em entrevista, o general e que iria implantar uma “ditadu-
explicitou na mensagem ao Con- reformado Hélio Ibiapina revelou ra comunista” no país, que seria
gresso. que o Ibad possuía ligações com convertida em “satélite da União
a Agência Central de Inteligência Soviética”.
5. O golpe militar execu-
(CIA). CPI do Congresso à época
tado em 1964 foi construído ao 14. Para respaldar esse fes-
comprovou o financiamento por
longo dos embates que ocorre- tival de mentiras, que só perde
empresários estadunidenses, o
ram durante os dez anos anterio- para o espalhamento de “fake
que levou a seu fechamento.
res, com a direita udenista ten- news promovido pelos bolsona-
tando, em várias ocasiões, tomar 10. A conspiração nos meios ristas, inventaram que a bandeira
o governo de assalto. militares tinha como ponta de da Reforma Agrária era uma pro-
lança o general Golbery do Cou- posta comunista. Obviamente os
6. A reação do udenista Car-
to e Silva, autor do livro que, ins- comunistas defendiam a reforma
los Lacerda, quando foi montada
pirado na Doutrina de Contra-In- agrária, assim como defendem
a chapa para suceder Getúlio,
surgência, surgida para legitimar outras bandeiras que nem por
com Juscelino Kubistchek como
a “guerra fria”, formulou os funda- isso são “comunistas”. Na mesma
candidato a presidente e o prin-
mentos para a famigerada dou- linha, os golpistas se diziam os
cipal herdeiro político do getulis-
trina da segurança nacional, que verdadeiros representantes da
mo, João Goulart, como candida-
cria a fantasia de que haveria um democracia no país, acusando a
to a vice, foi repetir o que já havia
“inimigo interno”, cujo combate esquerda comunista e trabalhista
dito sobre Getúlio nas eleições
caberia às Forças Armadas do de ser “golpista”.
de 1950: “Juscelino não pode ser
país. O “inimigo externo”, supos-
candidato. Se for, não pode ga- 15. Para o general golpista
tamente a União Soviética, seria
nhar, se ganhar, não pode assu- Golbery do Couto e Silva, o ob-
combatido pelos Estados Uni-
mir, se assumir, não pode gover- jetivo desse arsenal de menti-
dos.
nar”, revelando o ranço golpista ras era criar o clima psicossocial
da direita brasileira. 11. Qualquer corrente políti- para o golpe.
ca que contrariasse os interesses
7. A UDN, principal agre- 16. Jango deixou claro, por
dos EUA na região era imedia-
miação da direita brasileira na exemplo no discurso feito em
tamente qualificada de “comu-
época, participou de todas as 13 de março de 1964, por que
nista” ou de agente interno da
eleições desde a redemocra- defendia a reforma agrária: criar
União Soviética.
tização de 1946 e perdeu to- mercado para a indústria e, ao
das, sempre tendo um militar 12. Para promover essa luta mesmo tempo, fornecer ali-
como candidato (exceto quando política e ideológica, o general mentos e matérias primas para
apoiou Jânio Quadros, em 1960), Golbery do Couto e Silva mon- a cidade; em suma, fortalecer o
revelando uma simbiose entre as tara o Instituto de Pesquisas e capitalismo no Brasil, mas não o
lideranças da direita civil e uma Estudo Sociais (Ipes) que, com capitalismo dependente adora-
parcela da cúpula militar. apoio dos EUA, pregava a defe- do por seus críticos, mas um ca-
sa da moral e dos bons costumes pitalismo autônomo, com base
8. Encabeçando a prepara-
da família brasileira, do direito no mercado interno.
ção golpista na área civil, estavam
à propriedade privada e à livre
os governadores dos Estados da 17. O general Humberto de
iniciativa empresarial, sem es-
Guanabara (Carlos Lacerda), de Alencar Castelo Branco, depois
quecer, evidentemente, uma das
São Paulo (Adhemar de Barros) marechal, então chefe do Esta-
principais bandeiras da direita,
e de Minas Gerais (o banqueiro do maior das Forças Armadas,
que era a defesa do capital es-
Magalhães Pinto). foi o comandante da conspira-
trangeiro.
9. Como aconteceu e segue ção, mas submisso às orienta-
13. O Ipes produzia os mate- ções emanadas da embaixada
acontecendo em outros lugares,
riais divulgados pela mídia e os dos EUA. Lincoln Gordon, em-
os Estados Unidos participaram
parlamentares financiados pela baixador, comentou que Castelo
da conspiração golpista desde
entidade anticomunista coirmã, Branco era “muitas vezes dema-
o início. Um dos seus principais
o Ibad. A equipe do general siadamente a favor dos Estados
instrumentos de intervenção
Golbery adotou a linha de dis- Unidos”.
foi o financiamento de campa-
seminar a mentira de que João
nhas eleitorais de candidatos ao 18. Articulado pelo gover-
Goulart era o representante in-
Congresso por meio do Instituto nador Magalhães Pinto, o gene-
terno do “comunismo soviético”
Brasileiro de Ação Democrática ral Olímpio Mourão Filho, que
comandava a 4ª Região Militar/ de lucro e o fim da estabilidade outra forma, com as Reformas de
Divisão de Infantaria, em Minas no emprego estão entre as pri- Base.
Gerais, precipitou o golpe. Cas- meiras medidas adotadas pelo
22. Rapidamente a ditadura
telo Branco tentou dissuadi-lo, novo regime, que deflagrou um
cancelou as eleições presiden-
alegando que não chegara o mo- processo violento de arrocho sa-
ciais previstas para 1965. Mante-
mento e que suas tropas seriam larial, para isso intervindo em sin-
ve as estaduais para governador,
massacradas pela força militar dicatos, prendendo e torturan-
mas, com a vitória da oposição
sediada no Rio de Janeiro, mas do líderes sindicais, muitos dos
no Rio de Janeiro e em Minas Ge-
ele continuou. O governo dos quais tiveram de se exilar.
rais, o regime cancelou as elei-
EUA, enquanto isso, montava a
21. Também mandatos de ções diretas para governador e
Operação Brother Sam, que con-
parlamentares foram cassados, fechou os partidos políticos, de-
sistiu na utilização da Marinha e
os estudantes perseguidos, pre- terminando que poderiam existir
da Força Aérea daquele país em
sos e torturados, inclusive com o apenas dois partidos. Foi assim
apoio ao golpe de 1964.
fechamento da União Nacional que surgiram a Aliança Renova-
19. Tratava-se, então, de um dos Estudantes (UNE) e do Cen- dora Nacional (Arena) e o Mo-
golpe civil-militar, mas, tão logo tro Popular de Cultura da UNE vimento Democrático Brasileiro
chegaram ao poder, os líderes (CPC-UNE); foi fechado o Insti- (MDB). A primeira para apoiar o
militares passaram por cima dos tuto Superior Estudos Brasileiros governo e o regime e o segundo
civis e implantaram uma ditadura (ISEB), considerado a oficina do poderia até criticar o governo,
militar. pensamento nacional-desenvol- mas não o regime.
vimentista. Nas Forças Armadas,
20. Para favorecer os interes- 23. No primeiro triênio do
a sanha persecutória da ditadura
ses do grande capital, especial- regime, sob o comando do trio
se abateu sobre os oficiais e pra-
mente o estrangeiro, a revoga- monetarista Octavio Gouveia de
ças que se identificavam, de uma
ção da lei que limitava a remessa Bulhões, Roberto Campos e Má-
rio Henrique Simonsen, a econo- podia criticar o governo – co- a campanha das Diretas-Já, que
mia esteve em crise. meçou a mudar a partir do sur- mobilizou milhões de brasileiros
gimento do “grupo autêntico” e e brasileiras, exigindo eleições
24. Nesse período de crise
da decisão do deputado Ulysses diretas para presidente da Re-
econômica, realizou-se intensa
Guimarães, presidente da sigla, pública com a votação da Emen-
resistência democrática. Houve
de aceitar disputar, em 1973, a da Dante de Oliveira. A emenda
uma crescente mobilização es-
Presidência da República com o conquistou maioria de votos na
tudantil, que culminou com as
general Ernesto Geisel, no Colé- Câmara (62%), mas não foi apro-
manifestações de 1968; os tra-
gio Eleitoral. vada devido à exigência consti-
balhadores igualmente viven-
ciaram um processo de mobili- 28. A campanha de Ulysses tucional de dois terços dos votos.
zação que culminou nas greves contribuiu para a importante vi- 34. Entretanto, Tancredo Ne-
de Contagem e Osasco, também tória da oposição nas eleições ves, então governador de Minas
em 1968. No MDB, vários parla- de 1974 para o senado. O MDB Gerais e um dos principais di-
mentares denunciavam o regime elegeu então 16 senadores das rigentes do MDB, foi indicado
e por isso eram cassados. 22 vagas em disputa. para disputar a Presidência da
25. Reagindo a isso, a ditadu- 29. O embate com a ditadu- República, tendo como vice o se-
ra editou o AI-5 (Ato Institucional ra avançou bastante a partir de nador José Sarney, recém-rompi-
número 5), um golpe dentro do então. Isso levou o general Er- do com o PDS, base do regime
golpe, produzindo um endure- nesto Geisel, que implementava militar. A chapa teve ampla maio-
cimento do regime, tornando-o o II Plano Nacional de Desen- ria de votos no Colégio Eleitoral
mais repressivo ainda, não dei- volvimento, a iniciar um progra- (72%), reunido em 15 de janeiro
xando muito espaço para a luta ma de “abertura lenta, gradual e de 1985.
política legal. Várias organiza- segura”, ainda que mantivesse o
35. Tancredo de Almeida Ne-
ções empreenderam a resistên- assassinato seletivo de “inimigos
ves, que fora ministro da Justiça
cia democrática sob a forma de do regime”.
do último governo de Getúlio
luta armada.
30. Neste período o Brasil foi e primeiro-ministro no período
26. Coincidindo com esse fortemente atingido pela crise parlamentarista de João Goulart,
período mais duro da ditadura, da dívida externa. O arrocho sa- adoeceu às vésperas da posse,
ocorreu de 1968 a 1973 o cha- larial afetou a classe trabalhado- que seria no dia 15 de março,
mado “milagre brasileiro”. O PIB ra. A luta política no país passou vindo a falecer no dia no da 21
cresceu, em média, a 11,5% ao a se concentrar nessa questão. de abril de 1985. O vice José
ano, devido em primeiro lugar Aconteceu uma onda de lutas, Sarney assumiu a presidência em
a manutenção de alguns instru- inclusive, em julho de 1983, a seu lugar. Com isso se encerrava
mentos herdados do nacional- primeira greve geral no período o ciclo de presidentes militares.
-desenvolvimentismo, tais como da ditadura. Mas só em 1989 ocorreriam as
o investimento e o financiamen- eleições diretas para presidente
31. A economia brasileira
to públicos, empresas estatais, o da República.
mergulhou em uma profunda
protecionismo tarifário e não ta-
e duradoura crise. Uma de sua 36. Desde então, e até hoje,
rifário, compras governamentais;
causas estava naquilo que Leo-
em segundo, ao brutal arrocho seguem presentes inúmeras se-
nel Brizola chamava de perdas
salarial que alavancou a lucrati- quelas da nefasta ditadura mili-
internacionais.
vidade das empresas, particu- tar, assim como segue viva a luta
larmente aquelas que não de- 32. Em nível político, afas- pelas transformações estruturais
pendem do mercado interno de tou-se do regime parcela funda- em nosso país, pelas Reformas
massas, estimulando o ingresso mental de suas bases, levando-o de Base que o golpe e a ditadura
de empresas estrangeiras; e, por a uma séria crise política. Nesse bloquearam.
último, ao capital estrangeiro, contexto ocorrem a anistia, a le-
37. Devemos, portanto, ren-
que veio em grande volume de- galização dos partidos e a revo-
der nossas homenagens aos que
pois do golpe dentro do golpe e gação do AI5. Nas eleições de
lutaram contra o golpe e a dita-
da retomada da economia. 1982, os partidos de oposição
venceram, entre outros, nos Esta- dura; e aos que seguem lutando,
27. O MDB - cuja criação ha- hoje, para que o Brasil seja efeti-
dos de Minas-Rio-São Paulo.
via sido consentida, mas não de- vamente democrático para todo
veria se opor ao regime, apenas 33. Nesse contexto, ocorreu o povo brasileiro.
FPA: ciclo de debates
sobre os 60 anos do Golpe
tem lançamento no Rio
Para não esquecer e jamais permitir que se repita:
FPA dá início um ciclo de debates públicos sobre
os 60 anos do golpe empresarial-militar de 1964.
Primeiro encontro aconteceu no Rio, com lançamento
de documentário de Silvio Tendler
N
a última quarta-feira sa, rememora, é também uma “Promover este espaço é im-
(27), a Fundação Per- forma conjunturalmente dada. A portante para debatermos o gol-
seu Abramo realizou gente vive, lembra e pensa den- pe, o militarismo, os processos
(FPA), na sede do PT tro de um campo semântico que de transição e as fundamentais
do Rio de Janeiro, o é emocional, existencial, subjeti- lutas políticas e populares con-
debate “Ditaduras na vo” tra o autoritarismo. Lembrar para
América Latina”, com Valter Pomar, também histo- não esquecer, para honrar a me-
a participação da professora e riador e professor da UFABC, fez mória de todas e todos que luta-
pesquisadores da Universidade referência às vítimas de perse- ram pelo fim da ditadura, e para
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) guições a militantes e oposito- que nunca se repita em nosso
Maria Paula Araújo, dos diretores res, mas ressaltou que a grande país”.
da instituição, Valter Pomar e El- vítima da ditadura, em síntese, é Além do público presente, o
len Coutinho. a sociedade brasileira. “A grande debate contou com transmissão
Na ocasião, houve também vítima da ditadura é o povo, não ao vivo do PT do Rio de Janeiro
o lançamento de documentário quem lutava combatendo”, pon- e também no canal do YouTube
inédito do consagrado diretor tuou o diretor da FPA. da FPA.
de cinema Silvio Tendler, intitula- “Tudo que a gente tem de ne- A próximas mesa do Ciclo
do “Memória e Exílio”, com a pre- gativo no Brasil hoje, é herança de Debates terá como tema o
sença do cineasta, que também do que a ditadura nos deixou e o “Apoio dos meios de comunica-
participou do debate. Lançado oposto do que nós teríamos se o ção e empresariado”, dia 10 de
agora como curta, o filme será golpe não tivesse acontecido ou abril, em Salvador (BA), com pre-
exibido como longa-metragem se tivéssemos derrotado. Éramos sença de Emiliano José, Matilde
ainda este ano, segundo o dire- pra ser outro país.” Ribeiro, Luiz Dulci e Marcelino
tor. A obra pode ser assistida no Uma das organizadoras do Galo, no Sindae - Sindicato dos
canal da Fundação Perseu Abra- encontro no Rio, a diretora Elen Trabalhadores em Água, esgoto
mo no YouTube. Coutinho, diretora da FPA e res- e Meio Ambiente no estado da
O evento faz parte de uma ponsável pelo Centro de História Bahia, às 19h.
iniciativa da FPA e do Centro Ser- e Documentação Sérgio Buarque No dia 24 de abril, acontece
gio Buarque de Holanda (CSBH), de Holanda, afirma que o ciclo a mesa “Autoritarismo e repres-
coordenado pela diretora Ellen de debates faz parte da resistên- são”, Belém (PA), às 19h, na As-
Coutinho: um ciclo de deba- cia popular a todos os autoritaris- sembleia Legislativa do Estado
tes públicos sobre os 60 anos mos, velhos ou novos. do Pará. A quarta mesa, “Militares
do golpe empresarial-militar de “O ciclo busca contribuir com e política: golpismo e entraves à
1964. as discussões sobre o golpe mi- democracia no Brasil” acontece-
“Não é só que a gente lem- litar no Brasil e o cenário inter- rá em Olinda, em local ainda a
bra aquilo que viveu”, destacou nacional naquele período, abor- confirmar. O encerramento será
a professora e historiadora Maria dando os prejuízos políticos, em Porto Alegre, com a quinta
Paula Araujo, se referindo ao tra- econômicos e sociais causados e última mesa, que debaterá os
balho de memória da ditadura. pela ditadura, bem como a luta efeitos nefastos da ditatura mi-
“A forma como a gente lembra, a e conquista da democracia”, diz litar no Brasil em áreas sociais e
forma como a gente sente, pen- Ellen. econômicas.
ARTIGO DO LÍDER
Ontem e hoje: ditadura

nunca mais!
Odair Cunha caso mais emblemáti- mocráticas. A tentativa de golpe
O
co é o do assassinato ocorrida no dia 8 de janeiro de
s 60 anos do deputado federal 2023 enquadra-se nesse contex-
do golpe Rubens Paiva, após ser to. Felizmente, as instituições rea-
militar que submetido a prisão ile- giram rapidamente.
i n a u g u ro u gal e sessões de tortu- Do mesmo modo, é funda-
uma dita- ra. mental a recriação imediata da
dura de 21 A população brasi- Comissão Especial Sobre Mortos
anos nos leira, que hoje exerce e Desaparecidos Políticos, que
exige uma reflexão regularmente o direito funcionou plenamente nos pri-
profunda sobre os de escolher os mem- meiros governos Lula e no go-
seus significados bros de Executivos e verno Dilma, tendo sido extinta
para a sociedade Legislativos, foi tolhi- pelo governo passado. Trata-se
brasileira. É imperio- da, e, em duas déca- de instrumento essencial, uma
so recordar e repu- das, não pôde expres- ação de reparação eJjustiça.
diar o que ocorreu ao longo de sar plenamente a prerrogativa A história dos regimes demo-
duas décadas, período marcado democrática de exercer o voto. cráticos no mundo é indissociá-
por censura, violência, persegui- E isso se refletiu diretamente no vel dos avanços nos campos dos
ções, sequestros e execuções dia a dia da população. direitos e da justiça social. É por
cometidas por agentes públicos Com o centralismo do poder meio da democracia que se de-
do Estado brasileiro. A derruba- nas mãos de militares, oligar- senvolve a cidadania, com liber-
da de João Goulart, em 1º de quias e donos do grande capital dade para expressar posiciona-
abril de 64, inaugurou um triste aliados à casta militar, o resul- mentos e pontos de vista, bem
capítulo de nossa história, com a tado não podia ser pior. Dados como exercitar o protagonismo
supressão de direitos e das liber- da inflação foram mascarados, de cada sujeito de direito, com
dades democráticas. para iludir a população sobre o participação ativa nas definições
Como parlamentar, eleito pelo chamado “milagre econômico”. dos rumos da sociedade, na ela-
voto popular, o primeiro ponto O arrocho salarial, a carestia e boração de projetos, programas,
que destaco é o ataque que o a fome marcaram o período. A ações, bem como no desenvolvi-
regime promoveu contra o povo, censura impediu até a divulga- mento e na criação de leis, seja
ao suprimir ou manipular as elei- ção de epidemia de meningite. diretamente ou através do voto,
ções, inclusive com a criação dos Povos indígenas foram massacra- com a eleição de representantes.
agentes políticos biônicos como dos. Quem lutava por educação, A lição histórica sobre o ca-
prefeitos e senadores, indicados democracia, melhores salários, ia pítulo inaugurado por 1964 é
pelos ditadores de plantão para preso, podia ser torturado e até de que a democracia é um valor
exercer mandatos sem o voto do morto. Milhares de brasileiros fo- a ser preservado que nos exige
povo. Uma aberração. ram levados ao exílio. posicionamento firme e nítido
O Congresso Nacional foi fe- Deploravelmente, há ainda em sua defesa.
chado quatro vezes, em 1965, segmentos da sociedade brasi- Aprofundar e qualificar a de-
1966, 1968 e 1977, com a cassa- leira presentes no Estado brasi- mocracia brasileira: ditadura
ção de mandatos e perseguição leiro que sustentam uma cultura nunca mais!
a parlamentares, numa onda de de violência, truculência e auto-
violência que varreu o país sob ritarismo e seguem defendendo (*) *Deputado federal por Minas Gerais e
líder do PT na Câmara dos Deputados*
a égide de atos institucionais. O e conspirando para rupturas de-
ECONOMIA
Reprodução
Efeito Lula: crédito para consumo
avança mais e pode impulsionar PIB em 2024
Matéria do Valor Econômico diz que esse movimento
é causado por fatores como aumento dos empregos
e da renda e a queda da inadimplência
Agência PT ceu neste início de ano e pode mista-chefe do PicPay, entrevista-
E
dar uma contribuição importante do pelo jornal.
m meio à melhoria do ce- para o crescimento do Produto A notícia do Valor cita entre
nário econômico no país, Interno Bruto (PIB). as principais causas desse movi-
as concessões de crédito Segundo a matéria do Valor, mento o aumento da geração de
para o consumo de bens publicada nesta segunda-feira empregos e da renda e a queda
(veículos, por exemplo) (1), o crédito livre à pessoa físi- da inadimplência.
têm crescido a um ritmo ca associado ao consumo subiu Os fatores citados pelo jornal
mais forte do que as re- o dobro daquele ligado a dívi- são resultantes de diversas ações
lacionadas à contratação de dívi- das: 14,4%, contra 7,1%, ante governo Lula que contribuem
das – cartão à vista, parcelado e igual período de 2023. “Não são para o reaquecimento da econo-
arredamento, e como crédito de coisas apartadas, a divisão tem mia, como o fortalecimento dos
dívida, cheque especial, crédito intersecções. Mas é uma forma investimentos federais, a am-
pessoal não consignado, parce- de olhar linhas mais condizentes pliação de crédito pelos bancos
lado e rotativo. Para especialistas com a lógica de consumo e ou- públicos, a renegociação de dí-
ouvidos pelo jornal Valor Econô- tras ligadas a um endividamento vidas pelo programa Desenrola
mico, esse movimento se fortale- caro”, diz Marco Caruso, econo- Brasil, políticas de transferência

Reprodução
de renda, como o Bolsa Família;
ampliação da taxa de isenção do
Imposto de Renda até dois salá-
rios mínimos e a antecipação do
13° dos aposentados e pensio-
nistas que recebem benefícios
do Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS).
Aumento do saldo de
crédito em 2024
A matéria do Valor destaca

que o Banco Central aumentou
sua projeção de crescimento do
saldo de crédito em 2024 de
8,8% para 9,4%, segundo o Rela-
tório de Inflação (RI) trimestral de
março, divulgado na semana pas-
sada. O crescimento do crédito
livre para pessoas físicas passou
de 9% para 10%, enquanto para
as empresas subiu menos, de 7%
para 7,5%.
O texto acrescenta que, na ata
da reunião de março, divulga-
da também na semana passada,
o Comitê de Política Monetária Alta no consumo é resultado de medidas do governo Lula, como o
(Copom) do BC destacou que o aumento dos investimentos federais, a ampliação de crédito pelos bancos
crédito, além da renda, tem se públicos e a renegociação de dívidas
comportado de forma a atenuar
nomistas chamam de uma “boca mente por causa dos sinais vin-
a desaceleração da atividade no
de jacaré” em relação ao outro dos do crédito.
período recente e citou “o ciclo
indicador. O Itaú Unibanco, conforme o
de crédito em fase de retomada”
“É como se tivesse ocorrido Valor, incorporou uma perspecti-
como um dos fatores que devem
uma arrumação na casa, tanto va mais positiva para concessões
levar a um “consumo resiliente”.
por parte das famílias quanto de crédito, especialmente à pes-
dos bancos, e, agora, vemos um soa física e habitacional, na sua
Retomada do consumo
começo de volta da confiança de última revisão de PIB para 2024,
se tomar e ofertar crédito. Parece de 1,8% para 2%. Já segundo o
Ao longo de 2022, ambas as
uma condição melhor de contor- BTG Pactual, dados de crédito de
categorias de concessão de cré-
no do consumo e do crédito das janeiro sinalizam que a acelera-
dito estavam em queda, “seja
famílias”, diz o economista. ção projetada acontecerá mais
porque, do lado da demanda,
cedo do que o esperado. O BTG
as pessoas estavam muito endi-
vidadas, seja porque, do lado da
PIB projeta alta de 2,3% para o PIB
do Brasil em 2024.
oferta, os bancos colocaram um
A notícia destaca também “O crédito nunca salva o PIB
freio”, recorda Caruso, na matéria
que, em 2023, o PIB subiu 2,9% do Brasil, porque ele é pró-cícli-
do Valor.
e, para 2024, a expectativa é que co, ou seja, ele anda quando o
Desde meados de 2023, po-
avance 1,85%, segundo a me- PIB já começou a andar. Mas é
rém, enquanto a porção de cré-
diana das estimativas do Focus, um reforço, um propulsor para a
dito mais ligada à dívida seguiu
pesquisa do Banco Central com atividade. Se a pessoa ia consu-
em contração, a parte de consu-
agentes do mercado. Mas insti- mir ‘x’ sem crédito, com crédito
mo se estabilizou e, então, come-
tuições financeiras têm elevado ela pode consumir ‘2x’”, explica
çou a subir, abrindo o que eco-
suas projeções, em parte, exata- Caruso.
Reprodução
Dia D endossa luta do PT
para reconquistar
espaço nos municípios
Iniciativa, que acontece nos dias 6 e 7 de abril, pretende
mobilizar todas as pré-candidaturas do partido rumo às
Eleições Municipais; inscrições vão até o dia 5

Henrique Nunes
Reprodução
O
retorno de Lula ao Go-
verno Federal trouxe
paz e alento para a
maioria da população e
barrou o projeto autori-
tário e golpista de Jair
Bolsonaro. O próximo
desafio é reconquistar espaço
nos municípios e eleger o maior
número de candidatos e candi-
datas por todo o Brasil nas elei-
ções de 2024.
Para dar a largada na dispu-
ta, o Partido dos Trabalhadores,
com o apoio da Fundação Perseu
Abramo e da Escola Nacional de
Formação, convoca os Diretórios
Municipais para o “Dia D, Jorna-
da de Mobilização e Planejamen-
13. Cabe aos Diretórios Munici- didaticamente. Estará disponível
to”. A iniciativa, que ocorre entre
pais concluir as inscrições, tanto para acesso no site da Fundação
6 e 7 de abril, tem o objetivo de
de quem já tem mandato quanto Perseu Abramo
organizar as campanhas nas ci-
de quem se lançará na disputa Caso a pré-candidatura se
dades e iniciar um calendário de
após a realização das plenárias confirme, os nomes envolvidos
mobilização. As pré-candidatu-
do partido nos municípios. terão que montar uma agenda de
ras podem ser registradas até o
Todas as pré-candidaturas, mobilização, que será realizada
dia 5.
que serão analisadas interna- em datas definidas pelo partido.
Paulo Okamotto, presidente
mente, receberão material de Outra etapa é o lançamento das
da Fundação Perseu Abramo, co-
orientação para a disputa, com pré-candidaturas em todas as re-
mentou a iniciativa, que conside-
programas de governo alinhados giões da cidade, com o objetivo
ra o momento de virada de cha-
ao governo federal, sem excluir de conquistar o maior número de
ve para as eleições. “O Dia D será
demandas específicas da reali- eleitores e eleitoras possível.
o ponto de partida para uma sé-
dade de cada município.
rie de outras ações cujo objetivo
é ampliar a influência do partido,
Pelas redes sociais, o deputa- FPA nas Eleições
do federal e secretário Nacional
do eleitor e da eleitora que vi-
de Comunicação do PT, Jilmar Além de ajudar a formatar o
vem longe das capitais”, avaliou.
Tatto, lembrou que o Dia D terá Dia D, a Fundação Perseu Abra-
“A vitória de Lula freou, mas
a participação de diversas outras mo tem realizado diversas outras
não acabou com o projeto da ex-
áreas do partido. “Estaremos to- iniciativas por meio do projeto
trema-direita, que tem sua base
dos juntos, recebendo as orien- FPA nas Eleições. Uma delas foi a
eleitoral justamente no interior
tações de como nos preparar e criação de uma plataforma onde
do país. É urgente levar a nos-
disputar as Eleições em outubro é possível enviar propostas que
sa mensagem, que é em defesa
próximo”, resume. possam contribuir com melho-
da democracia e dos direitos da
classe trabalhadora, para todos rias na vida da população.
os cantos. Os nossos candidatos, O que fazer antes e depois A plataforma é administra-
tanto no Executivo quanto no do Dia D da pelos Núcleos de Acompa-
Legislativo, serão os porta-vozes nhamento de Políticas Públicas
dessa mensagem”, completou Quem pretende se candidatar (Napps) da Fundação, responsá-
Okamotto. precisa ter em mente questões veis também pela organização
como expectativas de votação, e validação das propostas rece-
Como se candidatar possíveis redutos eleitorais, ca- bidas. Nas últimas semanas os
pacidade de mobilização, entre Napps vêm realizando debates
As candidaturas poderão ser outros pontos. As informações temáticos com a participação de
inscritas até o dia 5 por meio da detalhadas podem ser encontra- lideranças políticas, especialistas
plataforma Candidate-se, dispo- das em uma cartilha, que foi ela- e representantes da sociedade
nível dentro da Área PT e da Casa borada de forma a se apresenta civil.
ENTREVISTA | LÚDIO CABRAL
“É ESSENCIAL QUE TENHAMOS O

CUIDADO DE CONSTRUIR NOSSO
PROGRAMA DE GOVERNO EM
DIÁLOGO COM A POPULAÇÃO”
Doze anos após minha primeira disputa eleitoral, o deputado
estadual Lúdio Cabral (PT-MT) Lúdio Cabral se prepara para
concorrer, à prefeitura de Cuiabá, capital do estado. Em entrevista
à Focus, Lúdio conversou sobre sua trajetória, a carreira como
médico e político e os desafios da corrida eleitoral. “Minha
militância na saúde e os ensinamentos da minha família me
trouxeram para a política. Sou filho de trabalhadores. É deles que
trago o importante ensinamento de dedicar-me ao estudo e às
pessoas, sem nunca esquecer o caminho que percorri”.
Fernanda Otero
L
údio Cabral, atualmente o sonho de estudar em uma uni- tradições”, já que o modelo de
deputado estadual em versidade pública, e tem um pro- exploração econômica presen-
segundo mandato pelo pósito bem definido de “fazer da te no território, com latifúndios,
estado do Mato Grosso, questão ambiental o ponto cen- monocultura, produção voltada
é o pré-candidato do Par- tral do debate eleitoral”. para a exportação sem contribui-
tido dos Trabalhadores a Economicamente, Cuiabá des- ção de impostos, uso excessivo
ocupar o cargo de pre- taca-se como um polo de grande de agrotóxicos e a destruição do
feito a partir de janeiro de 2025 riqueza, principalmente devido Cerrado, da floresta e do Panta-
em Cuiabá, a capital que com- à agropecuária, um setor forte nal, demandam atenção e aber-
bina uma rica história cultural na região e reconhecida como tura ao diálogo. Ele reflete que
com um expressivo crescimen- uma das maiores produtoras de este é "o paradoxo que nossos
to econômico. Casado e pai de soja, algodão e gado do Brasil. O governos sempre enfrentaram e
cinco filhos, o médico sanitarista médico ressalta que isso repre- continuam enfrentando".
escolheu a cidade para realizar senta “a maior de todas as con- Filiado ao PT desde a década

Divulgação BB
de 1990, ex-vereador e segundo assinada como bancário, função de saúde na periferia da cida-
colocado nas eleições munici- que exerci até meus 18 anos. Me de. Tenho 27 anos de militância
pais de 2012, Cabral também foi mudei para Cuiabá para realizar como médico e servidor públi-
candidato a governador do esta- o sonho que eu alimentava des- co na saúde pública, atuando
do em 2014. Ele está ciente dos de a infância: entrar em uma uni- na linha de frente do sistema de
desafios políticos e econômicos versidade pública e me formar saúde. Fui sindicalista e dirigen-
que terá de enfrentar para con- médico. Com felicidade e hon- te do movimento estudantil. Me
quistar a maioria nas urnas em ra, fui aprovado no vestibular de filiei ao PT em 1999 e, em 2004,
outubro de 2024. medicina na Universidade Fede- disputei minha primeira eleição
ral de Mato Grosso em 1990, gra- para vereador, permanecendo
- Para começarmos, o senhor duando-me em 1996. Ainda nos oito anos no cargo em Cuiabá.
poderia se apresentar aos nos- primeiros anos fiz uma escolha Apesar de não termos vencido
sos leitores, passando por suas profissional pela saúde pública. as eleições para prefeitura e go-
origens e formação? Como bolsista de iniciação cien- verno do estado, os resultados
- Sou Lúdio Cabral, médico tífica, estudei o início da implan- foram muito positivos. Em 2018,
sanitarista, nascido no interior tação do Sistema Único de Saúde assumi pela primeira vez o car-
de Goiás fui criado em uma ci- (SUS) na faixa de fronteira do es- go de deputado estadual, sen-
dade chamada Cachoeira Alta. tado de Mato Grosso entre 1990 do reeleito em 2022. Hoje, com
Vim para Mato Grosso menino, e 1992. Optei pela saúde pública muita honra, sou pré-candidato
em 1985, morar em uma cidade e concluí a residência médica em a prefeito pelo PT, 12 anos após
onde nasce o Pantanal, Cáceres, Medicina Preventiva e Social na minha primeira disputa. Come-
às margens do Rio Paraguai. Foi USP em Ribeirão Preto. Após ser cei com 4% nas pesquisas e ter-
lá que completei o meu segundo aprovado em um concurso pú- minei o primeiro turno com 42%,
grau e, aos 14 anos, obtive meu blico aqui em Cuiabá, comecei a quase vencendo as eleições. Fo-
primeiro emprego com carteira trabalhar em 1996 em um posto mos superados pelo poder do

dinheiro no segundo turno. Mi- meu primeiro mandato como tões conjunturais relacionadas
nha militância na saúde e os en- deputado estadual, no segundo ao atual mandato na prefeitura,
sinamentos advindos da minha ano, enfrentamos a pandemia da mas também existem problemas
família me trouxeram para a po- COVID-19. Sendo médico sanita- estruturais, antigos e crônicos no
lítica. Sou filho de trabalhadores; rista, a epidemiologia é uma fer- nosso sistema de saúde. O prin-
meu pai, semialfabetizado por ramenta essencial, e assim tive a cipal e mais grave problema é
escolha própria, e minha mãe, oportunidade de unir minha for- que nosso sistema de saúde não
professora primária. É deles que mação como médico ao traba- consegue prover atendimento
trago o importante ensinamento lho parlamentar para combater no tempo adequado, com os
de dedicar-me ao estudo e às a pandemia. Lutamos contra a recursos necessários e com um
pessoas, sem nunca esquecer o disseminação do negacionismo nível de qualidade superior. In-
caminho que percorri. Minha fa- que, infelizmente, contaminaram felizmente, essa situação não é
mília é católica, cresci nos ritos uma parte significativa dos go- nova e, a partir do aprendizado
do catolicismo, mas hoje, casa- vernantes, autoridades públicas obtido em mais de 27 anos de
do com uma mulher evangélica, atuação na saúde pública, como
frequento a igreja na qual ela médico lá na ponta do sistema
congregava, uma igreja Batista. de saúde, entendo que fortale-
Essas experiências influenciaram cer a atenção primária é essen-
todas as escolhas em minha vida cial. É vital promover o cuidado
profissional e política. básico da saúde da população
- Você continua atuando na MINHA ATUAÇÃO no local onde ela vive e trabalha.
Abrindo um parêntese, um terço
medicina? da população economicamente
- A medicina é uma vocação
permanente, pois você está sem-
NO PARLAMENTO, ativa e metade das pessoas com
mais de 50 anos sofrem de hiper-
pre a postos… Antes da nossa
entrevista, por exemplo, me vi
ESPECIALEMENTE tensão. Este problema, que pode
ser facilmente gerenciado, con-
examinando uma funcionária do
gabinete, que teve um episódio EM RELAÇÃO AO trolado e prevenido na atenção
primária à saúde, se negligen-
de hipoglicemia e eu estava ve- ciado, leva a complicações que
rificando a frequência cardíaca
para descartar qualquer arritmia.
SUS, ME MANTÉM demandam atendimentos de ur-
gência, emergência, internações
Uma vez médico, sempre médi-
co. Mas, desde que me formei
CONECTADO COM A e até UTI devido às complica-
ções que podem surgir. Portanto,
em 1996, este é o único período
em que estou afastado das ativi- MEDICINA fortalecendo a atenção primária,
asseguramos um cuidado de
dades médicas em uma unidade qualidade à nossa população,
de saúde, devido ao exercício do proporcionando atendimento
mandato como deputado esta- no tempo certo, com os recur-
dual. A legislação atual não me sos adequados, e promovendo
permite conciliar as duas fun- saúde ao prevenir ou controlar
ções, diferente de quando fui e, lamentavelmente, também problemas de forma eficaz. Além
vereador por oito anos, período uma parcela da população. disso, ao valorizarmos este nível
em que pude manter ambas as do sistema de saúde, empodera-
atividades. Embora oficialmente - A atual gestão municipal foi mos a ferramenta mais importan-
licenciado das minhas funções alvo de diversas operações poli- te para a saúde da população: o
médicas, nunca deixei de es- ciais, grande parte delas na área trabalho humano dos profissio-
tar próximo da medicina e dos da saúde. Qual a resposta a essa nais da saúde. Este trabalho na
inúmeros pacientes com quem situação? atenção primária não é exclusi-
mantenho laços há anos. A atu- - A saúde é um tema central, vidade de médicos, enfermeiros
ação no parlamento, especial- e a população exigirá dos can- ou técnicos de enfermagem, mas
mente em questões relacionadas didatos à prefeitura um posicio- envolve também o importante
ao SUS, me mantém conectado namento firme, pois representa papel de outras profissões, como
ao cotidiano da prática médi- o maior desafio enfrentado por nutrição, psicologia, educação fí-
ca. Coincidentemente, durante nossa população. Existem ques- sica e assistência social, criando
uma abordagem multidisciplinar tado de Mato Grosso, como de-
que eleva a qualidade e a com- monstrado pelas operações po-
plexidade tecnológica do cui- liciais decorrentes do desvio de
dado primário. Na minha visão, recursos também vinculados à
a saúde representa o principal terceirização indiscriminada das
problema e o caminho para su- atividades-fim na saúde, com-
perar os desafios da saúde passa
por priorizar esse campo do cui- CUIABÁ TERÁ A prometendo a qualidade da as-
sistência e o uso adequado dos
dado. Sem controle adequado e recursos públicos.
em tempo oportuno, os custos se
tornam exorbitantes, inviabilizan-
OPORTUNIDADE DE - O segundo tema é a rejeição
do orçamentos e impedindo a
obtenção de resultados positivos VIVENCIAR pelo tribunal das contas da pre-
feitura. Como a pré-campanha
no sistema de saúde. No caso es-
pecífico de Cuiabá, todos esses
problemas estão na raiz das ope-
UM GOVERNO tem tratado esse tema?
- A reprovação das contas mu-
nicipais é central nesta discussão,
rações policiais e estão relacio-
nados a um modelo de gestão
QUE REFLETE representando um sintoma e um
fato inédito. Ela sinaliza uma sé-
que pratica a terceirização indis-
criminada de atividades-fim no NOSSO PROJETO rie de problemas relacionados à
gestão financeira do município.
sistema de saúde. A contratação Nesta fase de pré-campanha, é
terceirizada, por meio de modali-
dades contratuais absolutamen-
HISTÓRICO essencial que tenhamos o cui-
dado de construir nosso progra-
te precárias, favorece desvios e ma de governo em diálogo com
o mau uso dos recursos públicos. a população. Nosso objetivo é
Este é um problema não apenas a produção de um diagnóstico
de Cuiabá, mas também do es- aprofundado das contas do mu-

nicípio, permitindo-nos gerir os aplicação de um volume signifi- - Você tem alguma priorida-
recursos de forma adequada e cativo de recursos, visto que não de, algum tema que receberá
assim maximizar a qualidade dos é barato construir redes de cole- mais atenção na construção do
serviços públicos oferecidos à ta e tratamento de esgoto. Esta programa de governo?
nossa população. Deste contex- é uma demanda que exigirá de - Precisamos fazer da questão
to, destaco duas preocupações nós muita atenção. Apesar dessa ambiental a questão central no
principais: a primeira é colocar a situação paradoxal que enfrenta- debate das eleições, dado que o
saúde no centro de nossas aten- mos, temos o desafio de abordar aumento do calor pode tornar a
ções; a segunda, ter um diag- este assunto durante o debate cidade inabitável. Precisamos de
nóstico detalhado da realidade do programa de governo. Atu- políticas públicas eficazes para
financeira do município. Isso almente, temos um sistema que enfrentar essa questão, e não é
fundamentará nosso programa é privatizado, resultado de uma suficiente apenas relembrar que
de governo, capacitando-nos a concessão da gestão do serviço Cuiabá já foi uma "cidade verde".
realizar aquilo que nos propuser- de saneamento para a iniciati- A necessidade de arborização, a
mos. descarbonização da cidade e a
construção de corredores verdes
- Segundo dados do Sistema são urgentes. Nosso programa
Nacional de Informações sobre deve englobar saneamento, ges-
Saneamento, SNIS, Cuiabá ficou tão de resíduos sólidos, agricul-
entre os 5 municípios com maior
variação negativa de investimen-
NOSSA REGIÃO tura nas proximidades da cidade,
questões hídricas, construções
tos em tratamento de esgoto em
2023. Como você pretende tra- ABRANGE sustentáveis e a matriz energéti-
ca. Dispomos da capacidade de
tar o assunto caso seja eleito? gerar energia solar descentrali-
- Esse é um sinal que demons-
tra a necessidade de cuidados,
TRÊS BIOMAS: zada por meio de cooperativas
populares, o que traria justiça cli-
pois em 2011, vivenciamos o
processo de privatização do sis-
AMAZÔNIA, mática à população trabalhadora
de Cuiabá, que suporta tempera-
tema de saneamento em nossa
cidade. Houve um período em CERRADO E turas de até 45 graus com trans-
porte precário, trabalho precário
que esse processo não avançou e desconforto. Os trabalhadores
e não resultou em melhorias para
o sistema de saúde. É importante
PANTANAL, QUE até conseguem comprar um apa-
relho de ar-condicionado, mas a
destacar que, até 2022, foi pos-
sível observar um volume sig-
JUNTOS COMPÕEM conta de luz é tão cara, que eles
não conseguem manter o apare-
nificativo de investimentos. No
entanto, do ano passado para O ECOSSISTEMA lho ligado durante a noite, por
exemplo, pois não conseguem
cá, percebe-se claramente uma pagar a conta de luz. O desafio
perda na qualidade do serviço
de saneamento em nosso muni-
ÚNICO DE CUIABÁ está em como enfrentar tais con-
dições, garantir conforto à popu-
cípio. Recentemente, há pouco lação, assegurar justiça climática
mais de uma semana, enfrenta- e gerar emprego e renda a partir
mos um desabastecimento no de uma matriz energética alter-
sistema de água que afetou uma va privada em 2011. Na época, nativa. Propomos a agricultura
parte importante da região cen- como vereador, lutamos para urbana e a compostagem para
tral da cidade, deixando dezenas evitar que isso acontecesse. Por- melhorar a alimentação escolar
de bairros sem acesso à água. O tanto, precisamos conduzir esse e promover uma dieta livre de
esgoto continua sendo um pro- debate, incluindo uma discus- agrotóxicos, posicionando Cuia-
blema crônico aqui em Cuiabá, são sobre o marco legal do sa- bá como um centro de produção
uma cidade localizada às mar- neamento no país e sobre como agroecológica. Nossa região
gens do rio Cuiabá, que é um pa- assegurar investimento público abrange três biomas: Amazônia,
trimônio natural e um dos mais para que possamos efetivar o di- Cerrado e Pantanal, que juntos
importantes rios que alimentam reito da população ao acesso à compõem o ecossistema único
o Pantanal Mato-Grossense. Re- água e a serviços de esgoto de de Cuiabá. Os gravíssimos incên-
solver isso implica a necessária qualidade. dios de 2020 e novamente no
ano passado são consequências étnica e cultural representa uma para a nossa cidade, e isso inclui
da seca no Pantanal, decorrente riqueza, mas, ao mesmo tempo, o atual ministro da Agricultura
do desequilíbrio nos outros dois impõe desafios às políticas públi- e presidente estadual do PSD.
biomas. Os rios que nascem no cas. Para efetivamente organizar Temos dialogado com a Rede
Cerrado e alimentam o Pantanal o sistema de saúde, a educação Sustentabilidade e outras perso-
estão ameaçados pela devasta- pública e pensar no desenvolvi- nalidades históricas, com políti-
ção prolongada para expansão mento econômico da cidade, é cos experientes, com o partido
agrícola. Isso afeta o ciclo de necessário estabelecer um diá- Cidadania. Estamos também em
chuvas, crucial para a manuten- logo que leve em consideração diálogo com o PSDB e o PSB.
ção do ecossistema do Pantanal. as características culturais dessas Isso significa uma visão amplia-
Com cada ano mais quente que variadas populações. Temos tra- da, incluindo a população, que
o anterior, estudos alertam que balhado neste sentido, com uma considero o mais vital de tudo. A
Cuiabá pode se tornar inabitá- preocupação de que em todas eleição em Cuiabá promete ser
vel em 10 a 20 anos se não alte- as políticas exige uma compre- bastante disputada, com candi-
rarmos essa dinâmica. Medidas daturas fortes representando a
devem ser tomadas não apenas extrema direita e a política tradi-
pela gestão municipal, mas tam- cional. Temos a oportunidade de
bém em colaboração com o go- construir uma candidatura pro-
verno estadual e federal. Temos gressista, alinhada com a aliança
uma dinâmica aqui de realização que governa o país. As pesquisas
de rodas de conversa, tendo vi-
venciado um período intenso de
TEMOS A já nos colocam em uma posição
promissora, o que destaca a im-
debates internos no PT no último
semestre. Após resolvermos as
OPORTUNIDADE portância de uma campanha de
debates intensos. Já estivemos
questões sobre a federação, pre-
tendemos levar o debate sobre DE CONSTRUIR perto de vencer em Cuiabá, mas
enfrentamos resistência ao PT.
o programa de governo direta- Compreender e superar essa re-
mente às ruas, para discutir com
a população. Isso é imperativo e
UMA CANDIDATURA sistência, com humildade, é cru-
cial para conquistarmos o gover-
ocorrerá.
PROGRESSISTA, no da cidade. Estou confiante de
que, estabelecendo um diálogo
- Cuiabá tem uma grande
concentração de comunidades ALINHADA AO positivo e de aprendizado com a
população, especialmente com
indígenas e outros grupos ét- aqueles resistentes ao nosso par-
nicos. Sua pré-candidatura tem
projetos para este grupo?
GOVERNO FEDERAL tido, Cuiabá terá a oportunidade
de vivenciar um governo que
- Sim, Cuiabá é detentora de reflete nosso projeto histórico,
uma riqueza étnica diversifica- enriquecido por diversas lide-
da em sua população. A cidade ranças, quadros técnicos, empre-
abriga uma expressiva comuni- sários, acadêmicos, a população
dade negra, além de povos in- ensão transversal, visando re- trabalhadora e entidades da so-
dígenas. Originalmente, o terri- conhecer, respeitar e acolher as ciedade civil. Um governo aberto
tório onde se encontra Cuiabá especificidades dessas diversas é essencial para superarmos os
era habitado por indígenas. Há, populações. desafios estruturais de saúde, sa-
inclusive, comunidades indíge- neamento, diversidade cultural e
nas significativas nos arredores - Considerando o provável étnica, entre outros, consideran-
da cidade e uma população de- cenário eleitoral, existe a possi- do também a pauta ambiental
saldeada vivendo em Cuiabá. bilidade de sua vice ser uma mu- como central para o futuro da
Recentemente, o cenário etno- lher? E, para encerrar, como o PT cidade. Somente com humilda-
gráfico da cidade se enriqueceu está preparado para assumir a de e colaboração construiremos
ainda mais com as migrações, prefeitura em 2025 um governo que proteja nossas
incluindo comunidades haitia- - Ainda é muito precoce falar águas, promova a agroecologia,
nas e venezuelanas, bem como em formação de chapa, mas es- explore o potencial turístico e
um povo indígena da Venezuela, tamos dialogando para construir cultural da cidade, beneficiando
o povo Warao. Essa diversidade um projeto muito interessante toda a população.
CULTURA
Cineclubes fortalecem a
cultura e ampliam o acesso
às obras matográficas
MinC publica
cartilha para
incentivar a
formação e
organização
Wilson Dias/Agência Brasil

dos espaços
pelo país
O
s cineclubes, espaços
de encontro e aprecia-
ção cinematográfica, de Divisão de Políticas para Ci- o dia 24 de abril, de forma des-
têm desempenhado um neclubismo e Pontos de Exibição centralizada e gratuita em todo o
papel fundamental na da SAV, os cineclubes desempe- país.
difusão e acesso à cul- nham um papel fundamental na “Nós habilitamos 257 pontos
democratização do acesso à cul- exibidores nas 27 Unidades Fede-
tura cinematográfica e
tura e na valorização da diversida- rativas. Boa parte desses pontos
na formação de plateias críticas
de cultural brasileira. não são cineclubes declarados.
em todo o país. Com o objetivo “Os cineclubes são espaços São pontos exibidores com po-
de orientar e incentivar a organi- onde toda a cultura audiovisual é tencial, vocação e estrutura de
zação de cineclubes pelo Brasil, o oxigenada. Possibilita ao espec- exibição audiovisual. A partir des-
Ministério da Cultura (MinC), por tador o acesso à pluralidade de sa perspectiva, a SAV entendeu
meio da Secretaria do Audiovisual obras de diferentes linguagens a importância de elaborar uma
(SAV), publicou, nesta quinta-feira cinematográficas. Isso também cartilha e disponibilizar mais infor-
(28), a cartilha ‘Cinema perto de se estende ao acesso ao nosso mação com o intuito de estimular
todos, cineclube em todo lugar!’. cinema brasileiro, se levarmos o movimento cineclubista”, expli-
A publicação reúne informa- em consideração que aproxima- cou.
ções sobre a história do cineclu- damente 13% de todo conteúdo Conforme a cartilha, os cine-
bismo no Brasil e como organizar brasileiro produzido chega às sa- clubes podem ser formais ou in-
um cineclube, desde a escolha do las comerciais”, disse. formais e, muitas vezes, são as-
espaço até a seleção de filmes e sociados a instituições culturais
a realização de debates. Além dis- Democratização ou educacionais, como escolas,
so, o material destaca a importân- universidades e movimentos so-
cia dos cineclubes como agentes A ideia da cartilha, conforme ciais. Geralmente, é organizado
de transformação social, capazes explica Thay Limeira, surgiu a par- por um grupo de pessoas interes-
de promover o diálogo e a refletir de um mapeamento da SAV sadas em cinema, que se reúnem
xão crítica, especialmente entre para a 13ª edição da Mostra Cine- regularmente para assistir a filmes
os jovens. ma e Direitos Humanos, que ini- e debater suas temáticas, lingua-
Segundo Thay Limeira, chefe ciou no dia 25 de março e vai até gens e estilos.

Liana Padilha pulsa, vive, eletriza
e se eterniza. A música não morre.
Luiz Dias
O
Baile de Peruas que en-
volve, sensualiza e en-
torpece as noites, ba-
ladas, conversas e até
mesmo a solitude de
dançar consigo mesmo,
nos deixa neste plano, e
segue vivo em nossos corações e
boas memórias.
Gleeson Paulino
Liana Padilha, metade do duo

“NoPorn” (junto a Lucas Freire)
com mais de 20 anos de correria
e carreira no duo, faleceu aos 60
NoPorn é conhecido por seu medo ou hesitação.
anos, no último mês de março,
estilo musical único, que incorpo- E assim, enquanto lamentamos
vítima de câncer de fígado, nos
ra uma mistura de eletrônica, am- a perda de sua presença física, en-
deixando as potentes mensagens
bientalismo e elementos visuais. contramos consolo na certeza de
sobre o desejo, o gozo e o ser mu-
Suas performances ao vivo são que sua música, sua arte, sua es-
lher, a liberdade sexual e do corpo
frequentemente descritas como sência, continuarão a ecoar nos re-
feminino.
experiências imersivas, que en- cantos mais profundos de nossos
O duo embalou noites emble-
volvem o público em uma jornada corações. Pois Liana não é apenas
máticas na cena noturna de São
sensorial e emocional. uma lembrança passageira, mas
Paulo e do mundo todo, em fes-
Agora, no tecido da eternida- sim uma inspiração eterna, uma
tivais de música como Burning
de, entre os ecos de melodias que chama que nunca se extinguirá.
Man, MECA, The Town, Coquetel
transcendem o tempo, encontra- Que sua jornada além desta
Molotov, além de galerias de arte
mos o brilho de uma estrela que vida seja tão extraordinária quan-
e eventos culturais. Com um som
agora ilumina o cosmos com sua to sua presença aqui na Terra. Que
envolvente, hedonista, caloroso,
presença inesquecível. Liana Padi- ela encontre paz, felicidade e re-
intimista e instigante faz com que
lha, uma alma vibrante, uma força alização em cada esquina do uni-
na pista você sue e num papo você
da natureza, uma criatura de luz verso, enquanto continua a tecer
reflita. É essa a ideia. Dançar com
que pulsa além das fronteiras do os fios da música e da poesia nos
a cabeça. E isso, sempre muito
espaço e do tempo. Não é nem vastos horizontes do infinito.
bem executado, tiveram como fru-
será tempo de lamentar uma par- Até nos encontrarmos nova-
to muitos sucessos na noite como
tida, mas para celebrar a jornada mente nos palcos do eterno, onde
Adoro DJ’s, Xingu, Baile de Peruas,
magnífica de uma artista que to- as estrelas dançam ao som de sua
Geleia de Morango e Cavalo.
cou nossas vidas de maneiras in- melodia imortal, saiba que sempre
Sua abordagem experimental e
deléveis. será amada, lembrada e reveren-
seu compromisso com a inovação
Liana não apenas nos encantou ciada por todos aqueles cujas vi-
continuam a atrair fãs e admirado-
com sua música, mas nos desafiou das ela tocou com sua graça, sua
res, consolidando-os como uma
a questionar, a refletir, a sonhar paixão e sua arte transformadora.
das duplas mais interessantes e
além dos limites impostos pelo
provocativas da cena musical con-
mundo ao nosso redor. Em sua
temporânea. “E meu olhar chegar a tempo
arte, encontramos uma expressão
Além de sua música, Liana Pa-
pura da alma humana, um espe- Eu estarei pronto
dilha também é reconhecida por
lho que reflete as complexidades, Vidas depois
seu trabalho como artista visual.
as paixões e os mistérios que ha- Instantes tonto
Ela cria arte que complementa a
bitam dentro de nós. Você nos Eu estarei atento
música de NoPorn, adicionando
ensinou que a verdadeira beleza Até meu olho rir
outra camada de profundidade e
reside na autenticidade, na cora-
significado às suas apresentações Da forma mais bonita”
gem de sermos quem somos, sem
ao vivo e lançamentos musicais.
INTERNACIONAL
Reprodução
O plano de ação entre Brasil e França existe desde 2006 e agora foi redefinido com uma série de ações de
parcerias, dentro de uma nova estratégia chamada Mapa do Caminho
Passagem de Macron pelo Brasil

amplia parceria do Brasil com a França
“O Brasil e a França estão decididos a trabalhar juntos
para promover, pelo debate democrático, uma visão
compartilhada de mundo”, afirmou Lula. Mais de 20 acordos
foram assinados
Agência PT retorna ao Brasil em novembro exaltou Macron que começou a
A
para a Cúpula do G20 e no ano agenda em Belém na terça-feira
assinatura de mais de que vem para a Conferência do e visitou também o Rio de Janei-
20 atos de cooperação Clima da ONU (COP 30) em Be- ro e São Paulo.
dentro do novo Plano lém, declarou que apoiará Lula No atual contexto de gran-
de Ação da Parceria Es- em “todos os projetos ambicio- de complexidade do cenário
tratégica Brasil França sos” para o G20 para a COP 30. internacional, o presidente Lula
marcou o último dos “A visita foi maravilhosa e as ressaltou que o diálogo entre
três dias da visita do discussões foram excelentes. os dois países “representa uma
presidente francês Emmanuel Hoje inauguramos uma nova pá- ponte entre o sul global e o
Macron ao Brasil. gina dessa parceria estratégica mundo desenvolvido em favor
Em solenidade no final da com decisões fortes que toma- da superação de desigualdade
manhã desta quinta-feira, 28, no mos. Estamos honrados de es- estruturais e de um planeta mais
Palácio do Planalto, Macron, que tar ao seu lado, presidente Lula”, sustentável”.

Em seu perfil na rede X, o transição ecológica e energética, 2025 para uma visita de estado
presidente Lula registrou que bioeconomia, agricultura, admi- à França, para que continuemos
a “verdadeira maratona” que o nistração pública, temas digitais, a manter essa amizade e festejar
presidente Macron está fazendo inteligência artificial e direitos os 200 anos de relações diplo-
no Brasil dá a dimensão da am- humanos e igualdade de gênero máticas dos dois países”, disse
plitude dos laços de cooperação passarão a ocupar a agenda bi- Macron ao final do discurso que
e amizade entre a França e o Bra- lateral. começou com o registro dos ata-
sil. “Dentre as potências tradicio- ques à Praça dos Três Poderes,
nais, nenhuma é mais próxima do Mapa do Caminho “que foi atacada pelos inimigos
Brasil do que a França”, postou o da democracia e destaco a ma-
presidente. O plano de ação entre Brasil e neira como o Brasil conseguiu
Os acordos assinados por Lula França existe desde 2006 e ago- reconstituir os equilíbrios da de-
e Macron alcançam diversas áre- ra foi redefinido com uma série mocracia”, exaltou.
as como de cooperação jurídica de ações de parcerias, dentro de “Ninguém está a salvo de for-
internacional em matéria penal, uma nova estratégia chamada ças muito extremas que vêm es-
declaração de intenções relativo Mapa do Caminho. Ele orienta as tremecer a democracia e a força
ao reforço da cooperação na luta principais ações, atualizadas de da democracia do Brasil resistiu
contra o garimpo ilegal, carta acordo com as novas necessida- a isso”, reconheceu Macron que,
de intenções sobre a coopera- des dos dois países e como ele ao descer do carro e antes de
ção entre o Parque Amazônico deverá ser implementado. subir a rampa do Palácio do Pla-
da Guiana e o Parque das Mon- Essa gama de assuntos se re- nalto, assistiu na Praça dos Três
tanhas de Tumucumaque e de- flete nos acordos assinados com Poderes a uma breve apresenta-
claração de intenções destinada a França, terceiro maior investi- ção da Orquestra Maré do Ama-
a reforçar a cooperação franco- dor no Brasil com forte presença nhã, que ensina música clássica
-brasileira, para garantir a integri- nos setores de hotelaria, energia e transforma a vida a crianças e
dade do espaço informativo. e defesa e de alta tecnologia. adolescentes do Complexo da
Como símbolo da renovação Para Macron, os muitos proto- Maré, no Rio de Janeiro.
da parceria entre os dois países, colos assinados vão marcar as
o presidente Lula afirmou que foi reações Brasil e França nos próxi- Reforma da governança
instituído um novo plano de ação mos anos, a serviço de uma ami- global
que estende a colaboração para zade recíproca.
áreas como financiamento da “O senhor está convidado em Ao reafirmar a necessidade
de resultados práticos na próxi-
ma reunião do G20 que será re-
alizada no Brasil em novembro,
o presidente Lula voltou a defen-
der mudanças em órgãos inter-
nacionais como o Conselho de
segurança da ONU e pediu o fim
dos conflitos na Faixa de Gaza.
“O Brasil e a França estão de-
cididos a trabalhar juntos para
promover, pelo debate demo-
crático, uma visão compartilhada
de mundo. Uma visão fundamen-
tada na prioridade da produção
sobre a finança improdutiva, da
solidariedade sobre o egoísmo,
da democracia sobre o totalita-
rismo, da sustentabilidade sobre
a exploração predatória”, assina-
lou.
“Concordamos que o G20
deve transmitir uma mensagem
inequívoca sobre a necessidade
de reforma da governança glo-
bal e de fortalecimento do mul- e que espera ser convidado para países do Mercosul de um lado
tilateralismo. É hora dos super discutir a paz. e a União Europeia com seus pa-
ricos pagarem sua justa contri- “A gente não quer guerra. A íses do outro”, afirmou Lula, ao
buição em impostos conforme gente tem que lutar muito con- salientar que o acordo proposto
a proposta de tributação inter- tra a desigualdade. É tanta desi- agora é muito mais promissor
nacional justa e produtiva que gualdade que não tenho tempo que o anterior. “Vamos continuar
o Brasil defende”, assinalou Lula de pensar em outra guerra. Eu conversando”, informou.
ao reiterar a Macron a crença ina- tenho muitas guerras nesse país
balável do Brasil no diálogo e na e, agora, uma nova guerra para Condecorações
defesa da paz. garantir o funcionamento das
A paralisia do Conselho de instituições democráticas e ga- Antes de falar com a impren-
Segurança frente a guerra na rantir a sobrevivência da demo- sa e após a assinatura dos atos,
Ucrânia e em Gaza são alarman- cracia, contra o autoritarismo, o o presidente Lula condecorou o
tes e inexplicáveis, avaliou Lula, totalitarismo, a extrema-direita e presidente francês com o Gran-
ao pontuar que o Brasil rechaça a barbárie”, assinalou. de Colar da Ordem Nacional do
categoricamente todas as mani- Lula disse ainda que é preciso Cruzeiro do Sul, originário da
festações de antissemitismo e is- criar condições de encontrar um extinta Ordem Imperial do Cru-
lamofobia. jeito de voltar à mesa de nego- zeiro, criada em 1932 para brasi-
“Não podemos permitir que ciação porque “a guerra só vai leiros e estrangeiros “dignos do
a intolerância religiosa se instale ter uma solução que vai ser a paz. reconhecimento da nação brasi-
entre nós. Judeus, muçulmanos Em algum momento eles vão ter leira”. Destinado exclusivamente
e cristãos sempre viveram em que sentar e chegar à conclusão a chefes de estado, o colar é a
perfeita harmonia no Brasil, aju- de que não valeu a pena o que mais alta condecoração brasilei-
dando a construir o país moder- foi feito até agora”, alertou. ra atribuída a estrangeiros.
no de hoje.” Sobre o Mercosul, Lula disse Em seguida, Macron conde-
que o Brasil não está negociando corou a primeira-dama Janja
Coletiva com a França. “O Mercosul está com a Insígnia da Ordem Nacio-
negociando com a União Euro- nal da Legião de Honra no grau
Perguntado pela imprensa so- peia. Não é um acordo bilateral de oficial. O presidente Lula foi
bre a guerra entre Ucrânia e Rús- entre Brasil e França, é um acor- nomeado na insígnia mais eleva-
sia, Lula avisou que é um pacifista do comercial de um conjunto de da dessa ordem anteriormente.
Gaza: com abstenção dos EUA,
Conselho de Segurança aprova cessar-fogo
Fernanda Otero jeitada por não alcançar o número O porta-voz de Segurança Na-
A
necessário de votos. cional da Casa Branca, John Kirby,
pós 171 dias de conflito A resolução exige um cessar-fo- em coletiva de imprensa, disse que
e tentativas para con- go imediato pelo mês do Ramadã, a Casa Branca estava "perplexa"
seguir uma trégua em um período sagrado para os mu- com o cancelamento da visita. Kir-
Gaza, o Conselho de çulmanos que começou em 10 de by também afirmou que a votação
Segurança das Nações março e termina em 9 de abril. O da ONU não representava "uma
Unidas aprovou uma re- Conselho enfatizou a necessidade mudança na política dos EUA".
solução de cessar-fogo urgente de expandir a assistência Kirby anunciou que Biden toma
imediato na região do conflito. A humanitária e fortalecer a prote- decisões com base nos interes-
resolução também exige a libera- ção dos civis em Gaza, além de ses de segurança nacional dos
ção imediata e incondicional de exigir a remoção de todas as bar- Estados Unidos, e que a decisão
todos os reféns, bem como a ga- reiras à assistência humanitária, de se abster da resolução estava
rantia de acesso humanitário para em conformidade com o direito alinhada com esses interesses e
atender às necessidades médicas humanitário internacional. com as preocupações de segu-
e humanitárias. O embaixador da França, Ni- rança nacional do povo de Israel e
A proposta foi apresentada cholas de Rivière, declarou que “o acrescentou que o texto final não
conjuntamente por 10 membros silêncio do Conselho de Seguran- continha a linguagem-chave que
do conselho: Argélia, Equador, ça sobre Gaza estava se tornando condenava o Hamas.
Guiana, Japão, Malta, Moçambi- ensurdecedor” e que era chegada
que, Coreia do Sul, Serra Leoa, a hora de o Conselho “finalmente Repercussão
Eslovênia e Suíça. A aprovação foi contribuir para encontrar uma so-
aplaudida antes mesmo do anún- lução para a crise”. O embaixador Para o Jornal The Guardian, do
cio do resultado, assim que perda China, Zhang Jun, disse que Reino Unido, a decisão dos EUA
ceberam a abstenção dos Estados “para as vidas que já se perderam, isolou Israel. O jornal publicou uma
Unidos. a resolução do Conselho chega reportagem apontando a crescen-
O Conselho de Segurança é tarde demais". te frustração em Washington com
composto por 15 membros, sen- O Observador Permanente do a insistência do primeiro-ministro
do 5 membros permanentes com Estado da Palestina, Riyad Man- israelense em levar adiante o ata-
poder de veto: Estados Unidos, sour, classificou a resolução como que a Rafah.
França, Reino Unido, Rússia e Re- um "voto tardio para a humanida- O site Jacobin dos EUA, publi-
pública Popular da China. O Japão de prevalecer". Segundo Mansour, cou um artigo do fundador do Voz
ocupa a presidência rotativa em é um momento decisivo para con- Judia pela Paz na Irlanda, Professor
março, representado pelo embai- duzir à salvação de vidas na região. Laurence Davis. O professor anali-
xador Yamazaki Kazuyuki. A resolu- sa que a mudança do presidente
ção em questão recebeu 14 votos Reação de Israel Biden deveria trazer preocupações
favoráveis. éticas e humanitárias, incluindo o
O representante da Rússia, A abstenção dos EUA provocou risco iminente de fome afetando
Vassily Nebenzia, propôs uma uma imediata resposta do primei- mais de um milhão de pessoas. Ele
emenda oral para inlcuir a pala- ro-ministro israelense, Benjamin ponderou que a abstenção indica-
vra “permanente”. “Qualquer coi- Netanyahu. Israel cancelou a visi- ria uma possível mudança, mas ain-
sa diferente pode significar per- ta a Washington de uma delega- da insuficiente, pois, apesar de de-
missão para Israel continuar seus ção de alto nível para discutir uma cisões judiciais e pressão popular,
ataques”, disse ele. Com os votos ofensiva israelense à cidade de Ra- Biden mantém seu apoio a Israel.
a favor da Argélia, China e Rússia; fah, localizada ao sul de Gaza. Os
o voto contra dos Estados Unidos EUA manifestaram sua objeção a Com informações da ONU, The White
House, The Guardian e Jacobin USA
e 11 abstenções, a emenda foi re- essa ação.

A semana na história 29 de março a 07 de abril
29 de março de 2010
PAC trouxe de volta à agenda nacional o planejamento
estratégico em infraestrutura
O Brasil atravessou três dé- saúde, cultura, esporte e lazer empresas estatais e R$ 638 bi-
cadas sem planejamento es- para enfrentar os problemas lhões, do setor privado.
tratégico em infraestrutura de das grandes cidades brasilei- Foram 11.912 km de rodo-
grande porte. A história co- ras. vias concluídos e 6.409 km em
meçou a mudar quando Lula Em março de 2010, o gover- obras, 3.470 km de ferrovias em
lançou o Programa de Acelera- no lançou o PAC 2. De 2007 até construção, 58 empreendimen-
ção do Crescimento (PAC), em junho de 2016, o PAC executou tos concluídos em aeroportos,
2007, retomando investimen- R$ 3,3 trilhões em investimen- 41.268 MW adicionados ao
tos em setores estruturantes, tos em valores corrigidos pela parque gerador de energia,
como energia, transporte, re- inflação para fevereiro de 2022. 28.460 km de novas linhas de
cursos hídricos, habitação, mo- Além de investimentos diretos transmissão.
bilidade urbana, urbanização, do Orçamento Geral da União O PAC tinha mais de 45 mil
saneamento, entre outros. (OGU), o PAC contou com re- ações em todo o Brasil. O valor
O PAC gerou emprego e ren- cursos de estados e municípios, em obras concluídas até junho
da e estimulou o investimento – em parte financiados pelo BN- de 2016 totalizou R$ 2,4 bi-
público e privado. A segunda DES – de empresas estatais e da lhões, ou seja, o equivalente ao
etapa do programa incorporou iniciativa privada. Do total de PIB de um país como a Áustria.
ações de infraestrutura social e investimentos executados pelo Em 2023, o governo federal
urbana nas áreas de educação, PAC, R$ 939 bilhões vieram das relançou o programa.
Centro Sérgio Buarque de Holanda
Fundação Perseu Abramo
31 de março de 1964
Golpe militar
depõe governo
constitucional
Na noite de 31 de março, o
general Olímpio Mourão Filho,
comandante da 4ª Divisão de In-
fantaria, sediada em Juiz de Fora
(MG), manda sua tropa marchar
em direção ao Rio, precipitando o
golpe que vinha sendo articulado
por generais, empresários e gover- 01 de abril de 1955
nadores de oposição ao governo
Jango. No dia seguinte, as tropas Construção de Brasília: uma capital
que partiram do Rio para garantir
a ordem confraternizaram-se com no interior
os rebeldes. O general golpista Brasília foi sonhada durante mais Constituição, cumpriria o artigo que
Arthur da Costa e Silva declarou- de dois séculos, com projetos esbo- previa a mudança da capital para o
-se titular do Ministério da Guerra çados ainda na fase colonial. Uma Planalto Central? Juscelino titubeou
(antigo nome do extinto Ministério capital no interior do país garantiria por um momento, mas assumiu o
do Exército), sem encontrar resis- a soberania nacional sobre os vastos compromisso. Os técnicos que ela-
tência por parte da oficialidade territórios despovoados e mal explo- boravam seu Plano de Metas foram
leal ao governo. rados, proporcionaria mais seguran- surpreendidos pela inclusão da cha-
A sede da União Nacional dos ça política e, principalmente, interio- mada meta-síntese, a construção de
Estudantes (UNE), onde se tenta- rizaria o desenvolvimento, até então Brasília em apenas quatro anos.
va articular a resistência ao golpe, restrito ao litoral. Eleito, o presidente deu início à
foi incendiada com a conivência O presidente Getúlio Vargas de- epopeia que seria uma das maiores
da polícia do governador da Gua- bruçou-se duas vezes sobre a ideia. provas da capacidade realizadora
nabara, Carlos Lacerda, da UDN. Primeiro no Estado Novo, quando dos brasileiros. Anos mais tarde, JK
Tropas reprimiram manifestações lançou, na década de 1940, a Marcha diria que o projeto só não foi bar-
em defesa do governo no Rio, em para o Oeste, mas acabou cedendo rado pela oposição porque a UDN
Porto Alegre e em outras capitais. a outras prioridades. A proposta re- apostava no fracasso da empreitada,
No dia 2 de abril, sem apoio apareceria no artigo 4º das Dispo- cujo efeito seria seu enterro político.
militar, Goulart saiu de Brasília e sições Transitórias da Constituição Brasília foi construída entre 1956
foi para o Rio Grande do Sul. A de 1946. Em 1953, Getúlio, já pre- e 1960. Durante quatro anos, a pai-
oposição consumou o golpe no sidente eleito, criou a “Comissão de sagem inóspita do Planalto Central
Congresso, declarando vaga a Localização”, presidida pelo general brasileiro foi radicalmente alterada
Presidência da República, embo- José Pessoa, que iria a campo no pela abertura de largas avenidas e
ra Goulart não tivesse renunciado turbulento ano de 1954, concluindo quadras e pela construção de palá-
ao cargo nem deixado o país. O seus trabalhos já no governo de Café cios e edifícios. Por trás dessa em-
presidente da Câmara dos Depu- Filho. preitada estavam vidas que para ali
tados, Ranieri Mazzilli, assumiu o Não foi acidental, portanto, o epi- afluíram dos quatro cantos do país
lugar de Jango, subordinando-se sódio apontado como decisivo para em busca de um objetivo comum:
a uma junta militar. A repressão foi a realização do velho sonho. Candi- participar de um projeto que muda-
generalizada e logo começaram as dato a presidente, Juscelino Kubits- ria o Brasil e suas vidas. Operários,
prisões em massa. Passados dois chek participava de um comício na engenheiros, arquitetos, mestres de
dias, Jango exilou-se no Uruguai. cidade goiana de Jataí, em 1955. Do obra, prostitutas, famílias inteiras,
Esta seção é fruto da parceria entre o Centro Sérgio Buarque
meio do povo, um popular o inter- todos com seus sonhos individuais,
de Holanda, da FPA, o Memorial da Democracia e o Instituto
Lula. Envie suas sugestões por e-mail para memoria@ rompeu com uma pergunta: já que o deram vida ao canteiro de obras e
memorialdademocracia.com.br fpabramo.org.br candidato falava tanto em cumprir a suas imediações.

CICLO DE DEBATES
SALVADOR
ANOS DITADURA 10.04 | 19H
DO GOLPE
NUNCA MAIS!
2º DEBATE
Apoio dos meios de comunicação
e empresariado ao regime militar brasileiro
PARTICIPANTES
Emiliano José Matilde Ribeiro Luiz Dulci
MEDIAÇÃO COMENTÁRIOS
Elen Coutinho Marcelino Galo
EVENTO HÍBRIDO TRANSMISSÃO : /FundacaoPerseuAbramo
SINDAE - SINDICATO DOS TRABALHADORES EM ÁGUA,

ESGOTO E MEIO AMBIENTE NO ESTADO DA BAHIA
R. Gen. Labatut , 65 - Barris

Focus 02abr2024

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DITADURA

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Coordenador de Comunicação: Pedro Camarão

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Presidente: Paulo Okamotto

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