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Integração

AM I 2023-2024
Luı́s Ferrás - M215
FEUP - DEMec - Secção de Matemática

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 1 / 88


Integração

5.1 Introdução e motivação

5.2 Definição de integral

5.3 Propriedades do integral

5.4 Condições suficientes de integrabilidade

5.5 Teorema fundamental do cálculo

5.6 Teoremas clássicos do cálculo integral

5.7 Aplicações do integral

5.8 Integral impróprio

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 2 / 88


5. Integração

Neste capı́tulo vamos apresentar a noção de integral segundo Riemann, estudar


algumas das suas propriedades e referir algumas das suas aplicações.

Começamos com uma motivação intuitiva clássica, baseada na noção de área de


uma região plana e no chamado “método da exaustão”.

5.1 Introdução e motivação


Classicamente, o conceito de integral aparece associado à noção intuitiva de área
de uma região plana. Nós vamos seguir a via clássica para motivar a nossa
exposição.
Considere-se uma função contı́nua f : [a, b] −→ R e sejam

m = min f (x) e M = max f (x).


x∈[a,b] x∈[a,b]

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5.1 Introdução e motivação

Suponhamos que f (x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, b], e consideremos a região plana (cf. a


Figura 1)
D = (x, y ) ∈ R2 : a ≤ x ≤ b ∧ 0 ≤ y ≤ f (x)


Figura 1: Região D limitada pelo gráfico de f , pelo eixo OX e pelas rectas x = a e


x = b.

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5.1 Introdução e motivação
Suponhamos que pretendemos determinar o valor da área da região D:

área(D)

Em geral, a forma geométrica de D é pouco “regular”, pelo que as fórmulas da


geometria elementar não são aplicáveis.

Podemos pensar então em recorrer ao chamado “método da exaustão”,


aproximando sucessivamente a área de D pela área de figuras simples, quer
inscritas em D, quer circunscritas a D, e considerar depois as melhores
aproximações.

Consideraremos apenas regiões rectangulares. Com as regiões inscritas em D


formaremos aproximações por defeito, e com as regiões circunscritas a D
formaremos aproximações por excesso.

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5.1 Introdução e motivação

Primeiras aproximações para a área de D

Figura 2: Aproximações para a área de D; por defeito (esquerda) e por excesso (direita).

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5.1 Introdução e motivação

É fácil reconhecer que

m(b − a) ≤ área(D) ≤ M(b − a)

já que m(b − a) dá a área da região rectangular de base b − a e altura m, inscrita
em D, enquanto que M(b − a) dá a área da região rectangular de base b − a e
altura M, circunscrita a D.

Então poderı́amos encarar os números m(b − a) e M(b − a) como aproximações


do valor da área de D, por defeito e por excesso, respectivamente.

É claro que, em geral, o erro cometido nestas aproximações é bastante grande,


sendo também possı́vel melhorá-las significativamente.

Podemos aproximar a área de D pela área de figuras simples, compostas por


regiões rectangulares justapostas.

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5.1 Introdução e motivação
Para melhorar estas aproximações, podemos proceder da seguinte forma.
Estratégia:
1. Decompomos o intervalo [a, b] num número finito de subintervalos, determinados
pelos pontos x0 , x1 , x2 , . . . , xn−1 , xn , tais que
a = x0 < x1 < x2 < · · · < xn−1 < xn = b,
s s s s s
a ≡ x0 x1 x2 ··· ··· ··· xn−1 xn ≡ b

a que chamamos partição P de [a, b] nos subintervalos


[x0 , x1 ] , [x1 , x2 ] , . . . , [xn−2 , xn−1 ] , [xn−1 , xn ];
2. Em cada subintervalo genérico, Ji = [xi−1 , xi ] , fixamos arbitrariamente um ponto,
digamos
y1 ∈ [x0 , x1 ] , y2 ∈ [x1 , x2 ] , yn−1 ∈ [xn−2 , xn−1 ] , yn ∈ [xn−1 , xn ]
e consideramos o correspondente valor de f ,
f (y1 ), f (y2 ), . . . , f (yn−1 ), f (yn ).

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5.1 Introdução e motivação

3. Aproximamos a área da porção Dk da região D que assenta no subintervalo


[xk−1 , xk ] (Figura 3 à esquerda) pela área da região rectangular Rk de base
xk − xk−1 e altura f (yk ) (Figura 3 à direita)

área Dk ≃ f (yk )(xk − xk−1 ) .

Figura 3: Aproximação da área de Dk pela área de uma região rectangular.

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5.1 Introdução e motivação
4. A área da região D será aproximada pela soma das áreas das subregiões
rectangulares Rk (Figura 4)
área D ≃ área R1 + área R2 + · · · + área Rn
≃ f (y1 )(x1 − x0 ) + f (y2 )(x2 − x1 ) + · · · + f (yn )(xn − xn−1 ),
ou seja, abreviando a notação,
n
X
área D ≃ f (yk )(xk − xk−1 ).
k=1

Figura 4: Aproximação da área de D pela área de uma região poligonal


(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 10 / 88
5.1 Introdução e motivação

5. É intuitivo que:
(a) a aproximação obtida para a área de D será tanto melhor quanto maior for o
número de pontos considerados para a decomposição do intervalo [a, b];
(b) a aproximação óptima será obtida com um número infinitamente grande de
pontos (n → ∞ ), ou seja, com subintervalos de amplitude infinitamente
pequena (∆xk → 0)

6. Assim, obtém-se uma definição para a área de D através da passagem ao limite na


expressão anterior:
n
X
área D = lim f (yk )(xk − xk−1 ).
n→+∞
k=1

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5.2 Definição de integral

Passemos agora à exposição rigorosa deste assunto.

A área da região D vai dar lugar ao integral de f em [a, b]. Também se diz
integral definido de f em [a, b].

Apresentaremos a definição de integral segundo Riemann, recorrendo às


chamadas somas de Riemann.

Apresentaremos a definição de integral segundo Riemann, para uma função


f : [a, b] −→ R, limitada, não necessariamente contı́nua nem necessariamente
positiva.

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5.2 Definição de integral
Definição(Amplitude da partição)
Dada uma partição P do intervalo [a, b] , chamamos amplitude de P à maior
das amplitudes dos subintervalos [xk−1 , xk ],

||P|| = max {xk − xk−1 : k = 1, 2, . . . , n} ,

pelo que, considerar o número de subintervalos a tender para +∞, equivale a


considerar ||P|| a tender para 0.

Definição (Soma de Riemann)


Seja f : [a, b] −→ R , uma função limitada, não necessariamente contı́nua nem
necessáriamente positiva. Seja P uma partição do intervalo [a, b] e ck um
ponto qualquer de cada subintervalo [xk−1 , xk ] , k = 1, 2, . . . , n .
À expressão matemática
Xn
S(f ; P) = f (ck )(xk − xk−1 )
k=1

chama-se soma de Riemann de f em [a, b] para a partição P e escolha arbitrária


dos pontos c1 , c2 , . . . , cn
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5.2 Definição de integral
Observações
[Significado geométrico atribuı́do à soma de Riemann]

Para cada parcela do Soma de Riemann pode concluir-se o seguinte:


se f (ck ) > 0 então f (ck )∆xk representa o valor da área do rectângulo Rk , cujo
comprimento da base é ∆k = xk − xk−1 e cuja a altura é f (ck )

área Rk = f (ck )∆xk

se f (ck ) < 0 então f (ck )∆xk é simétrico do valor da área do rectângulo Rk , cujo
comprimento da base é ∆k = xk − xk−1 e cuja a altura é −f (ck )

área Rk = −f (ck )∆xk

Assim geometricamente , uma Soma de Riemann de uma função f em [a, b] para


a partição P é numericamente igual à diferença entre a soma das áreas dos
rectângulos que estão acima do eixo OX e a soma das áreas dos rectângulos que
estão abaixo do eixo OX .
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5.2 Definição de integral
Definição (Integrabilidade de f )
Segundo Riemann, dizemos que uma função f : [a, b] −→ R limitada é
integrável no intervalo [a, b] e que o correspondente integral é igual a I
quando, independentemente da partição P e da escolha dos pontos ck , se tiver
lim S(f ; P) = I
|P|→0

ou seja
n
X
lim f (ck )(xk − xk−1 ) = I.
n→+∞
k=1

Ao valor I chama-se integral de f em [a, b] e representa-se por


Z b
f (x) dx = I,
a
onde f é a função integranda, a é o limite inferior do integral, b é o limite
superior do integral, [a, b] é o intervalo de integração e x é a variável de
integração. O sı́mbolo dx representa uma partı́cula formal que fixa a variável de
integração.
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5.2 Definição de integral
Observações
Só se define integral de uma função limitada, mas nem toda a função limitada é
integrável. Mais adiante, identificaremos algumas classes de funções limitadas que
são integráveis.

[Significado geométrico atribuı́do ao integral]


Seja f uma função limitada, não necessariamente contı́nua nem necessáriamente
positiva, integrável em [a, b].
Geometricamente , Z b
f (x) dx
a
é numericamente igual à diferença entre a soma das áreas das regiões planas que
estão acima do eixo OX
n o
D = (x, y ) ∈ R2 : a ≤ x ≤ b ∧ 0 ≤ y ≤ f (x) ,

e a soma das áreas dos regiões planas que estão abaixo do eixo OX
n o
D = (x, y ) ∈ R2 : a ≤ x ≤ b ∧ f (x) ≤ y ≤ 0 .

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5.3 Propriedades do integral
Nesta secção vamos apresentar algumas propriedades do integral que se revelarão
extremamente úteis.

Propriedade 1
[Aditividade do integral a respeito do intervalo de integração]
Sejam f limitada em [a, b] e c ∈ ]a, b[ . Então f é integrável em [a, b] se e só se
f integrável separadamente em [a, c] e [c, b], tendo-se
Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c

No sentido de estender esta propriedade a todos os reais a, b, c, adoptamos as


seguintes convenções clássicas
Z a
f (x) dx = 0, para todo a ∈ R,
a
Z a Z b
f (x) dx = − f (x) dx , para todos a, b ∈ R.
b a
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5.3 Propriedades do integral

Propriedade 2
[Linearidade do integral]
Sejam f e g funções integráveis em [a, b]. Então:
(a) a soma f + g é integrável em [a, b] e
Z b Z b Z b
[f (x) + g (x)] dx = f (x) dx + g (x) dx ;
a a a

(b) o produto fg é integrável em [a, b]; em particular, se α é uma constante real


arbitrária, o produto αf é integrável em [a, b] e
Z b Z b
αf (x) dx = α f (x) dx.
a a

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5.3 Propriedades do integral

Propriedade 3
Sejam f e g funções integráveis em [a, b]. Se |g (x)| ≥ k > 0, ∀x ∈ [a, b], então
a função 1/g é limitada e o quociente f /g é integrável.

Propriedade 4
[Monotonia do integral]
Se f e g são integráveis em [a, b] e g (x) ≤ f (x), ∀x ∈ [a, b], então
Z b Z b
g (x) dx ≤ f (x) dx;
a a
Z b
em particular, se f (x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, b], então f (x) dx ≥ 0.
a

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5.3 Propriedades do integral

Propriedade 5
Se f é integrável em [a, b] então a função |f | é integrável em [a, b] e
Z b Z b
f (x) dx ≤ |f (x)| dx .
a a

Propriedade 6
(a) Se f é limitada em [a, b], anulando-se em todos os pontos de [a, b] excepto,
eventualmente, num número finito de pontos de [a, b], então
Z b
f (x) dx = 0;
a

(b) se f é integrável em [a, b] e g é uma função que difere de f apenas num


número finito de pontos [a, b], então
Z b Z b
g (x) dx = f (x) dx.
a a

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5.4 Condições suficientes de integrabilidade

Nesta secção enunciaremos alguns resultados que estabelecem condições


suficientes para a integrabilidade de uma função num intervalo, a partir dos quais
identificaremos três classes de funções integráveis .

Teorema 1
[Integrabilidade das funções contı́nuas]
Se f : [a, b] −→ R é contı́nua então f é integrável em [a, b].

Observação
Este teorema estabelece que a continuidade de uma função garante a sua
integrabilidade. No entanto, é conveniente reter que existem funções descontı́nuas que
são integráveis.

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5.4 Condições suficientes de integrabilidade

Teorema 2
[Integrabilidade das funções monótonas]
Se f : [a, b] −→ R é monótona então f é integrável em [a, b].

Observação
Deste teorema, podemos concluir que, ainda que uma função não seja contı́nua, se for
monótona, então é também integrável. Mais uma vez, chama-se a atenção para o facto
de existirem funções que não são monótonas (nem contı́nuas) e, mesmo assim, são
integráveis.

Teorema 3
[Integrabilidade das funções com um número finito de descontinuidades]
Se f : [a, b] −→ R é limitada possuindo um número finito de descontinuidades
então f é integrável em [a, b].

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5.4 Condições suficientes de integrabilidade

Exemplos
1. A função 
1 se x ∈ [0, 1]
f (x) =
2 se x ∈ [2, 4]
é integrável por ser contı́nua.

2. A função 
 2x se x ∈ [0, 1]
g (x) = −x se x ∈ ]1, 3]
 2
x se x ∈ ]3, 5]
é integrável por possuir um número finito de descontinuidades.

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5.5 Teorema fundamental do cálculo
Um dos resultados mais notáveis do Cálculo está patente no teorema que agora
iremos apresentar. Nele estabelece-se uma ligação crucial entre os conceitos de
derivada e de integral, a partir da qual é possı́vel obter um processo
extremamente eficaz para o cálculo do integral, dispensando o recurso à definição
apresentada anteriormente.

Consideremos uma função limitada f : [a, b] −→ R que é integrável. Para cada


x ∈ [a, b], f é integrável em [a, x], pelo que podemos definir uma nova função,
F : [a, b] −→ R, a partir da função f , pondo
Z x
F (x) = f (t) dt, x ∈ [a, b].
a

A função F acabada de definir possui uma caracterı́stica importante, relacionada


com a função inicial f .

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5.5 Teorema fundamental do cálculo

Teorema
[Teorema Fundamental do Cálculo]
Seja f : [a, b] −→ R uma função contı́nua. Então a função F : [a, b] −→ R é
derivável em [a, b], tendo-se

F ′ (x) = f (x), ∀x ∈ [a, b].

A partir deste Teorema, podemos concluir que a função F é uma primitiva de f ,


pelo que se obtém o seguinte resultado.

Corolário
Toda a função contı́nua f : [a, b] −→ R possui primitiva em [a, b].

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5.5 Teorema fundamental do cálculo
Observação
Quando f não é contı́nua, mantendo-se integrável, define-se na mesma a função
F como referido atrás. Contudo, F pode não ser derivável, ou então, até ser
derivável mas a sua derivada não coincidir com f nos pontos de descontinuidade
de f .
Exemplo
y
y 6
6
f ppp p p p p p p t F
t pt 2 pp
1 pp pp
p p
pp pp
p p
p - t p -
2 x 2 x
f é contı́nua, logo integrável e primitivável.
Define-se a função F , que é derivável. Além disso,
Z x
f (x) = 1 =⇒ F (x) = 1 dt = x, ∀x ∈ [0, 2].
0
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5.5 Teorema fundamental do cálculo
Exemplo
y y
f F
6 6
p p p p p p p p p pt pt p p p p p p p p p p p p p p p p p p pt
1 pp pp 1 pp
p p p
pp pp pp
p pp p
t pe - t p -
1 2 x 1 2 x
f é limitada mas possui uma descontinuidade de salto no ponto 1.
Logo f é integrável mas não é primitivável. Define-se novamente a função F ,
tendo-se Z x
x ∈ [0, 1[ =⇒ f (x) = 0 =⇒ F (x) = 0 dt = 0,
0
Z x
x ∈ [1, 2] =⇒ f (x) = 1 =⇒ F (x) = 1 dt = x − 1,
1
atestando a continuidade de F . No entanto F não é derivável em 1.

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5.5 Teorema fundamental do cálculo

Do ponto de vista do cálculo do integral de uma função, a consequência mais


relevante que se extrai do Teorema Fundamental do Cálculo é a que se apresenta
a seguir.

Teorema
[Fórmula de Barrow]
Sejam f : [a, b] −→ R contı́nua e F uma primitiva de f em [a, b]. Então
Z b
f (t) dt = F (b) − F (a).
a

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5.5 Teorema fundamental do cálculo

Notação
Usamos a notação
Z b h ib
f (t) dt = F (x) .
a a

O Teorema fornece um processo extremamente útil para o cálculo do integral de


uma função num intervalo, onde ela possua primitiva. Basta fazer a diferença
entre os valores da primitiva nos extremos de integração.

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5.5 Teorema fundamental do cálculo
Exemplo
Z π h iπ
(a) sen x dx = − cos x = − cos π + cos 0 = 2 .
0 0

(b) Se 
1 se x ∈ [0, 1]
f (x) =
3 se x ∈ ]1, 2]
então

Z 2 Z 1 Z 2
f (x) dx = 1 dx + 3 dx
0 0 1
h i1 h i2
= x + 3x = (1 − 0) + (6 − 3) = 4 .
0 1

(c)
Z 3 Z 0 Z 3 h i0 h i3
|x| dx = (−x) dx + x dx = − 21 x 2 + 21 x 2
−5 −5 0 −5 0
25 9
= 2 + 2 =7
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5.5 Teorema fundamental do cálculo
Z 5
x 1h i5 1 √
(d) dx = ln(x 2 + 1) = (ln 26 − ln 1) = ln 26 .
0 x2 +1 2 0 2

(e) Se
x2

 se 0 ≤ x ≤ 1
f (x) = 2 se 1 < x ≤ 3
x −3 se 3 < x ≤ 6

então, vem
Z 6 Z 1 Z 3 Z 6
2
f (x) dx = x dx + 2 dx + (x − 3) dx
0 0 1 3
1 6
x3 x2
 h i3 
= + 2x + − 3x
30 1 2 3
 
1 9 53
= + (6 − 2) + 0 + = .
3 2 6

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5.6 Teoremas clássicos do cálculo do integral
Do Teorema Fundamental do Cálculo saem outras consequências que passamos a
apresentar.

Consequência1
[Fórmula do valor médio para integrais]
Se f : [a, b] −→ R é contı́nua então existe c ∈ ]a, b[ tal que
Z b
f (x) dx = (b − a)f (c) .
a

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5.6 Teoremas clássicos do cálculo do integral

Exemplo
Z b
Seja f : [a, b] −→ R tal que f (x) dx = 0. Vejamos que, se f é contı́nua,
a
então f possui pelo menos um zero em ]a, b[.
Pela Fórmula do valor médio,
Z b
f (x) dx = f (c)(b − a),
a

para algum c ∈ ]a, b[. Como este integral é nulo, vem

f (c)(b − a) = 0,

para algum c ∈ ]a, b[, ou seja,


f (c) = 0,
para algum c ∈ ]a, b[.

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5.6 Teoremas clássicos do cálculo do integral

Consequência2
[Integração por partes]
Sejam f ,g : [a, b] −→ R com f contı́nua, F uma primitiva de f e g de classe
C 1 [a, b] . Então
Z b h ib Z b
f (x)g (x) dx = F (x)g (x) − F (x)g ′ (x) dx .
a a a

Exemplo
Z 2 h i2 Z 2 h i2
(a) xe x dx = e x x − e x dx = 2e 2 − e x = e 2 + 1 .
0 0 0 0

e e 1
√ e
√ √ e
Z Z Z
 2 x e 1 e 1 e 1
(b) ln x dx = x ln x 1 − x √ dx = − dx = − [x]1 = .
1 1 x 2 1 2 2 2 2

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5.6 Teoremas clássicos do cálculo do integral
Consequência3
[Integração por substituição]

Sejam f : [a, b] −→ R contı́nua e g : [c, d] −→ [a, b] de classe C 1 [c, d] tal que
g (c) = a e g (d) = b. Então
Z b Z d
f g (t) g ′ (t) dt .

f (x) dx =
a c

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 35 / 88


5.6 Teoremas clássicos do cálculo do integral
Exemplo
Z 2 √
(a) Calculemos agora x x − 1 dx, efectuando a mudança de variável
1
2
x −1=t .
Pondo g (t) = t 2 + 1, vem g ′ (t) = 2t.
Atendendo a que g (0) = 1 e g (1) = 2, resulta
Z 2 √
Z 1 √ Z 1
2
t 2 + t 4 dt

x x − 1 dx = (1 + t ) t2 2t dt = 2
1 0 0

2 h 3 i1 2 h 5 i1 2 2 16
= t + t = + = .
3 0 5 0 3 5 15

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 36 / 88


5.6 Teoremas clássicos do cálculo do integral
Z e
(b) Calculemos f (x) dx para
−1
 p
 1 − x2 se − 1 ≤ x < 0,
f (x) = 2 se 0 ≤ x < 1,
se 1 ≤ x ≤ e .

ln x

Vem
Z e Z 0 Z 1 Z e
p π
f (x) dx = 1 − x 2 dx + 2 dx + ln x dx = +2+1
−1 −1 0 1 4
onde o primeiro integral se calcula por substituição fazendo, por exemplo, x = sin t,
o segundo é imediato e o terceiro calcula-se por partes.
(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 37 / 88
5.6 Teoremas clássicos do cálculo do integral
Exemplo
Sejam a ∈ R+ e f : [−a, a] −→ R uma função contı́nua. Vejamos que:
Z a Z a
(a) se f é par então f (x) dx = 2 f (x) dx;
−a 0

Sendo f par, tem-se f (x) = f (−x), ∀x ∈ [−a, a], e então


Z a Z 0 Z a Z 0 Z a
f (x) , dx = f (x) dx + f (x) dx = f (−x) dx + f (x) dx.
−a −a 0 −a 0
| {z }
J
Fazendo a mudança de variável x = −t no integral J, vem

Z a Z 0 Z a
f (x) dx = f (t)(−1) dt + f (x) dx
−a a 0
Z a Z a Z a
= f (t) dt + f (x) dx = 2 f (x) dx.
0 0 0

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5.6 Teoremas clássicos do cálculo do integral
Z a
(b) se f é ı́mpar então f (x) dx = 0.
−a

Sendo f ı́mpar, tem-se f (x) = −f (−x), ∀x ∈ [−a, a], e então


Z a Z 0 Z a Z 0 Z a
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx = − f (−x) dx + f (x) dx.
−a −a 0 −a 0
| {z }
J

Fazendo a mudança de variável x = −t no integral J, vem


Z a Z 0 Z a
f (x) dx = − f (t)(−1) dt + f (x) dx
−a a 0
Z a Z a
=− f (t) dt + f (x) dx= 0.
0 0

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 39 / 88


5.7 Aplicações do integral
Algumas aplicações geométricas do integral estão relacionadas com a área de um
domı́nio plano, o comprimento de uma curva e o volume de um sólido de
revolução.

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 40 / 88


5.7.1 Área de um domı́nio plano

Vamos retomar o problema que nos serviu de motivação à definição de integral.


Em particular, no caso em que f : [a, b] −→ R é uma função contı́nua tal que
f (x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, b], definimos a área do domı́nio

D = (x, y ) ∈ R2 : a ≤ x ≤ b ∧ 0 ≤ y ≤ f (x)


pela fórmula
Z b
área(D) = f (x) dx.
a

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 41 / 88


5.7.1 Área de um domı́nio plano
Daqui extraem-se as seguintes consequências.
(a) Por um lado, se f (x) ≤ 0, ∀x ∈ [a, b] então, por simetria em relação a OX , a
área da região plana
D = (x, y ) ∈ R2 : a ≤ x ≤ b ∧ f (x) ≤ y ≤ 0


coincide com a área de


D∗ = (x, y ) ∈ R2 : a ≤ x ≤ b ∧ 0 ≤ y ≤ −f (x)

Z b
e, portanto, área(D) = − f (x) dx.
a
(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 42 / 88
5.7.1 Área de um domı́nio plano
Neste caso (a), mas também no caso em que f é não negativa, temos
Z b
área(D) = |f (x)| dx.
a

(b) Por outro lado, se f , g : [a, b] −→ R são contı́nuas e tais que


0 ≤ g (x) ≤ f (x), ∀x ∈ [a, b], então, a área da região plana
D = (x, y ) ∈ R2 : a ≤ x ≤ b ∧ g (x) ≤ y ≤ f (x)


(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 43 / 88


5.7.1 Área de um domı́nio plano

pode ser calculada como área(D) =área(D1 )−área(D2 ), onde D1 é a região


plana sob o gráfico de f e D2 é a região plana sob o gráfico de g .
Então Z b Z b
área(D) = f (x) dx − g (x) dx
a a
ou seja,
Z b
área(D) = [f (x) − g (x)] dx.
a

Repare-se que, também neste caso (b), poderı́amos escrever


Z b
área(D) = f (x) − g (x) dx.
a

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 44 / 88


5.7.1 Área de um domı́nio plano
(c) Por translacção segundo um vector oportuno orientado no sentido positivo de
OY , seria fácil concluir que, dadas f , g : [a, b] −→ R contı́nuas e tais que
g (x) ≤ f (x), ∀x ∈ [a, b], independentemente do sinal de f ou de g , a área da
região plana
D = (x, y ) ∈ R2 : a ≤ x ≤ b ∧ g (x) ≤ y ≤ f (x)


poderia ser dada também pelo integral


Z bh i
área(D) = f (x) − g (x) dx.
a
(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 45 / 88
5.7.1 Área de um domı́nio plano
(d) Mais em geral, se f , g : [a, b] −→ R são contı́nuas, a área da região plana D
limitada pelos gráficos de f e de g e pelas rectas verticais x = a e x = b

seria dada por


Z c h i Z b h i
área(D) = f (x) − g (x) dx + g (x) − f (x) dx,
a c

onde c é a abcissa do ponto de intersecção das duas curvas.


Z b poderı́amos exprimir a área de D pelo
Consequentemente, também neste caso,
integral área(D) = f (x) − g (x) dx.
a
(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 46 / 88
5.7.1 Área de um domı́nio plano

Exemplo
A área do domı́nio plano D limitado pelas curvas de equações y = x 2 e
y = 2 − x 2 , que se intersectam para x = −1 e para x = 1,

2
y!x^2

y!2"x^2

é dada por
Z 1 h 2 i1 2 2 8
área D = (2 − 2x 2 ) dx = 2x − x 3 =2− +2− = .
−1 3 −1 3 3 3

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 47 / 88


5.7.1 Área de um domı́nio plano
Exemplo
A área do domı́nio plano D limitado pelas curvas de equações y = sin x,
y = cos x, x = 0 e x = π/2,
y

x
Π Π
"""" """"
4 2

é dada por
Z π/2
área D = cos x − sin x dx
0
Z π/4 Z π/2
= (cos x − sin x) dx + (sin x − cos x) dx
0 π/4
h iπ/4 h iπ/2 √
= sin x + cos x + − cos x − sin x = 2 2 − 2.
0 π/4

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 48 / 88


5.7.2 Comprimento de curvas

Seja f : [a, b] −→ R uma função de classe C 1 [a, b] . Designemos por C o arco
de curva y = f (x), com x ∈ [a, b].
Vamos dar uma definição para o comprimento do arco C, recorrendo à definição
de integral em termos das somas de Riemann.

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 49 / 88


5.7.2 Comprimento de curvas
Para tal, consideremos uma partição P de [a, b] definida por pontos x0 = a, x1 ,
. . ., xn−1 , xn = b . Sejam P0 , P1 , . . . , Pn os pontos correspondentes sobre a
curva e consideremos a linha poligonal LP , , definida pelos segmentos de recta
Pi−1 Pi , com i = 1, 2, . . . , n.

Quando os pontos Pi são considerados cada vez mais próximos uns dos outro, ou
seja, quando o amplitude |P| da partição tende para zero, a linha poligonal LP
tende a confundir-se com o arco .
Então, por definição, pomos
comp C = lim comp LP .
|P|→′

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 50 / 88


5.7.2 Comprimento de curvas

Por outro lado,


comp LP = P0 P1 + P1 P2 + · · · + Pn−1 Pn
e, para cada segmento de recta Pi−1 Pi , tem-se
q 2 2
Pi Pi+1 = xi+1 − xi + f (xi+1 ) − f (xi ) .

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 51 / 88


5.7.2 Comprimento de curvas

No entanto, como f é derivável, o teorema do valor médio de Lagrange dá

f (xi+1 ) − f (xi )
= f ′ (ci+1 )
xi+1 − xi

para algum ci+1 ∈ ]xi , xi+1 [, resultando


q 2 2 2
Pi Pi+1 = xi+1 − xi + f ′ (ci+1 ) xi+1 − xi
q 2 
= 1 + f ′ (ci+1 ) xi+1 − xi .

Consequentemente, o comprimento da linha poligonal LP é dado por


n−1 q
X 2 
comp(LP ) = 1 + f ′ (ci+1 ) xi+1 − xi .
i=0

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 52 / 88


5.7.2 Comprimento de curvas

No segundo membro da igualdade anterior, mais não temos do que uma soma de
Riemann para a função g : [a, b] −→ R definida por
p
g (x) = 1 + (f ′ (x))2 ,
que é integrável.
Logo, tomando o limite quando |P| → 0 vem
Z b Z b p
lim comp(LP ) = g (x) dx = 1 + (f ′ (x))2 dx.
|P|→0 a a

Da definição apresentada para comprimento do arco C sai


Z b q 2
comp(C) = 1 + f ′ (x) dx .
a

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 53 / 88


5.7.2 Comprimento de curvas

Exemplo
O comprimento do arco da curva de equação y = ch x, entre os pontos
(−1, ch(−1)) e (2, ch 2) é dado por
Z 2 p Z 2 h i2
comp(C) = 1 + sh2 x dx = chx dx = sh x = sh 2 + sh 1 .
−1 −1 −1

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 54 / 88


5.7.3 Volume de um sólido de revolução
Quando uma região plana roda em torno de uma recta r do mesmo plano,
obtém-se um sólido dito de revolução. A recta r diz-se o eixo de rotação.
Nesta secção, estamos interessados nos sólidos de revolução S gerados pela
rotação em torno do eixo OX de uma região plana D definida a partir de uma
função contı́nua f : [a, b] −→ R, com f (x) ≥ 0, x ∈ [a, b].

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 55 / 88


5.7.3 Volume de um sólido de revolução
Vamos dar uma definição para o volume do sólido S, recorrendo novamente à
definição de integral em termos das somas de Riemann.
Para tal, consideramos uma partição P de [a, b] definida pelos pontos
x0 , x1 , . . . , xn . Em cada subintervalo [xi−1 , xi ], fixamos arbitrariamente um
ponto ci .
Tomamos a região poligonal RP definida pelas n regiões rectangulares de altura
f (ci ) que se erguem sobre esses subintervalos.

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 56 / 88


5.7.3 Volume de um sólido de revolução

Observamos que, quando o amplitude |P| da partição tende para zero, a região
poligonal RP tende a confundir-se com o domı́nio D e o sólido SP gerado por
RP tende a confundir-se com o sólido S gerado por D.

Sólido S à esquerda e sólido SP à direita

Então, por definição, pomos


vol S = lim vol SP .
|P|→0
(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 57 / 88
5.7.3 Volume de um sólido de revolução
No entanto, reparando que cada região elementar Ri gera um cilindro “achatado”
Si de volume
 2
vol(Si ) = π f (ci ) (xi − xi−1 )
obtemos
n
X  2
vol(SP ) = π f (ci ) (xi − xi−1 ).
i=1

No segundo membro desta equação temos precisamente uma soma de Riemann


para a função g : [a, b] −→ R definida por
2
g (x) = π f (x) ,
que é integrável. Logo, tomando o limite quando |P| → 0 , vem
Z b Z b
2
lim vol(SP ) = g (x) dx = π f (x) dx.
|P|→0 a a

Da definição de volume de vol(S), saiZ b 2


vol(S) = π f (x) dx .
a
(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 58 / 88
5.7.3 Volume de um sólido de revolução
Exemplo
O volume do sólido S gerado pela rotação em torno de OX da região

D = (x, y ) ∈ R2 : −1 ≤ x ≤ 1 ∧ 0 ≤ y ≤ x 2 + 1


é dado por
1 h x5 2x 3
Z i1 1 2 
vol S = π(x 2 + 1)2 dx = π + +x = 2π + +1 .
−1 5 3 −1 5 3

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 59 / 88


5.7.3 Volume de um sólido de revolução
Exemplo
A fórmula para o volume de uma esfera S de raio r pode ser obtida pensando na
esfera como o sólido gerado pela rotação em torno de OX da região plana

D = (x, y ) ∈ R2 : x 2 + y 2 ≤ r 2 ∧ y ≥ 0.


Atendendo à simetria da esfera, vem


Z r p 2 Z r
vol S = 2 π 2
r −x 2 dx = 2π r 2 − x 2 ) dx
0 0
 r 2π  3 r
= 2πr 2 x 0 − x 0
3
4
= πr 3 .
3

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 60 / 88


5.7.3 Volume de um sólido de revolução

À semelhança do que fizemos em relação ao conceito de área, podemos obter


fórmulas mais gerais para o cálculo do volume de sólidos de revolução.
Por exemplo, no caso em que f , g : [a, b] −→ R são contı́nuas e
0 ≤ g (x) ≤ f (x), ∀x ∈ [a, b], então, o volume do sólido S gerado pela rotação em
torno de OX da região plana
D = (x, y ) ∈ R2 : a ≤ x ≤ b ∧ g (x) ≤ y ≤ f (x)


é dado por Z b
π f 2 (x) − g 2 (x) dx.
 
vol(S) =
a
(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 61 / 88
5.7.3 Volume de um sólido de revolução

Exemplo
O volume do sólido S gerado pela rotação em torno de OX da região plana

B = (x, y ) ∈ R2 : |x − 2| + 1 ≤ y ≤ 3


é dado por (tendo em conta a simetria)


Z 2 Z 2
  56π
vol S = 2 π 32 − (−x + 3)2 dx = 2π − x 2 + 6x) dx = .
0 0 3

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 62 / 88


5.8 Integral impróprio
Neste capı́tulo apresentámos a definição de integral segundo Riemann , para uma
função limitada que está definida num intervalo limitado.

A extensão desta definição aos casos em que o intervalo de integração é não


limitado ([a,+∞[, ] − ∞, a], ] − ∞, +∞[) ou em que a função integranda se
torna não limitada nas vizinhança de um ponto do intervalo de integração ,
conduz à noção de integral impróprio .

Assim, por exemplo, os integrais


Z +∞ Z 1 Z +∞
1 1
x 2 dx, dx e dx
0 0 x −1 x2

são todos impróprios.

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 63 / 88


5.8.1 Intervalo de integração ilimitado
Neste caso, o integral impróprio diz-se de primeira espécie ou de tipo I.

Exemplo
Consideremos os integrais

Z +∞ Z +∞
1 1
I = dx e J= dx.
1 x 1 x2

Do ponto de vista geométrico, os integrais I e J estão relacionados com a


medida da área das regiões não limitadas situadas à direita da recta x = 1, acima
do eixo OX , sob o gráfico de cada uma das curvas.

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 64 / 88


5.8.1 Intervalo de integração ilimitado

y!1!x2

"
1" " " "

"
y!1!x
x
1

Por se tratar de regiões com “largura” infinita e “altura” que se torna


infinitamente pequena, poderá ser possı́vel atribuir uma medida à área em causa.

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 65 / 88


5.8.1 Intervalo de integração ilimitado
Para decidir se esta possibilidade se verifica, estudamos os limites
Z b Z b
1 1
lim dx e lim dx,
b→+∞ 1 x b→+∞ 1 x 2

para os quais vem, respectivamente,


Z b
1 h ib 
lim dx = lim ln x = lim ln b − ln 1 = +∞,
b→+∞ 1 x b→+∞ 1 b→+∞

Z b
1 h 1 ib  1 
lim 2
dx = lim − = lim − + 1 = 1,
b→+∞ 1 x b→+∞ x 1 b→+∞ b

donde se depreende que apenas fará sentido atribuir significado à área da região
relacionada com o integral J, podendo dizer-se que a medida dessa área é igual a 1.

Passemos agora a expor a teoria geral.

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 66 / 88


5.8.1 Intervalo de integração ilimitado: [a, +∞[
Caso A

Seja f : [a, +∞[−→ R, integrável em todo o intervalo limitado do tipo [a, x] tal
que [a, x] ⊂ [a, +∞[.
Z +∞
Dizemos que o integral impróprio f (x) dx é convergente , ou que a
a
função f é integrável em sentido impróprio, se existir o correspondente limite,
Z b
lim f (x) dx,
b→+∞ a

caso em que escrevemos


Z +∞ Z b
f (x) dx = lim f (x) dx .
a b→+∞ a

No caso contrário, em que aquele limite não existe, dizemos que o integral
impróprio é divergente ou que a função f não é integrável em sentido
impróprio.
(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 67 / 88
5.8.1 Intervalo de integração ilimitado: [a, +∞[
Propriedade 1
[Linearidade]
Sejam α, β ∈ R . Se f e g são integráveis em sentido impróprio em [a, +∞[
então αf + βg é integrável em sentido impróprio em [a, +∞[ e
Z +∞ Z +∞ Z +∞
[αf (x) + βg (x)] dx = α f (x) dx + β g (x) dx.
a a a

Propriedade 2
[Aditividade]
Sejam a, b ∈ R. Se f é integrável em sentido impróprio em [a, +∞[ então f é
integrável em sentido impróprio em [b, +∞[ e
Z +∞ Z b Z +∞
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a b

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 68 / 88


5.8.1 Intervalo de integração ilimitado: [a, +∞[
Exemplo
Z +∞
1. e x dx é divergente.
0

De facto, estudando o correspondente limite, vem


Z b
b
lim e x dx = lim [e x ]0 = lim (e b − 1) = +∞.
b→+∞ 0 b→+∞ b→+∞

exp b

y ! exp x

!
b

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 69 / 88


5.8.1 Intervalo de integração ilimitado: [a, +∞[
Z +∞
2. e −x dx é convergente e igual a 1.
0

Para o correspondente limite, vem


Z b
b
e −x dx = lim −e −x 0 = lim (−e −b + 1) = 1.

lim
b→+∞ 0 b→+∞ b→+∞

y ! exp!"x"

exp!"b"

#
b

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 70 / 88


5.8.2 Intervalo de integração ilimitado: ] − ∞, b]

Caso B

Seja f :] − ∞, b] −→ R, integrável em todo o intervalo limitado do tipo [x, b] tal


que [x, b] ⊂] − ∞, b].
Z b
Neste caso, o estudo do integral impróprio f (x) dx é semelhante,
−∞
baseando-se no
Z b
lim f (x) dx.
a→−∞ a

Para este caso, valem resultados semelhantes aos das Propriedades 1 e 2, com as
adaptações necessárias.

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 71 / 88


5.8.2 Intervalo de integração ilimitado: ] − ∞, b]
Exemplo
Z 0
cos x dx é divergente.
−∞

De facto, estudando o limite correspondente, vemos que


Z 0 h i0
lim cos x dx = lim sin x = − lim sin a,
a→−∞ a a→−∞ a a→−∞

que não existe porque, sendo a função seno periódica, podemos exibir duas restrições do
seno com limites diferentes. Por exemplo, pondo
 
n π o 3π
A = x ∈ R : x = + 2kπ, k ∈ Z− , B = x ∈ R : x = + 2kπ, k ∈ Z− ,
2 2

tem-se x ∈ A =⇒ sin x = 1 e x ∈ B =⇒ sin x = −1, pelo que

lim sin x = 1 e lim sin x = −1.


x→−∞ x→−∞
x∈A x∈B

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 72 / 88


5.8.2 Intervalo de integração ilimitado: ] − ∞, b]

Não seria difı́cil antecipar esta conclusão a partir da Figura:

y ! cos x

A5 A3 A1

7Π 5Π 3Π Π
" $$$$$$$$ " $$$$$$$$ " $$$$$$$$ " $$$$
2 2 2 2
A4 A2

Por um lado, se cada Ai representar a área de uma parte da região da Figura, então

A1 = A5 = 1 e A2 = A3 = A4 = 2.

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 73 / 88


5.8.2 Intervalo de integração ilimitado: ] − ∞, b]

Por outro lado, como a área de cada região Ai se pode exprimir como um integral de
cos x ou de − cos x , consoante estiver em causa um intervalo onde o cosseno seja
positivo ou negativo, temos por exemplo

Z 0
cos x dx = A5 − A4 + A3 − A2 + A1 = 0,
−4π
Z 0
cos x dx = −A4 + A3 − A2 + A1 = −1,
−7π/2
Z 0
cos x dx = A3 − A2 + A1 = 1,
−5π/2

o que, de imediato, nos leva a intuir que não será possı́vel atribuir um valor ao integral
apresentado.

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 74 / 88


5.8.3 Intervalo de integração ilimitado: ] − ∞, +∞[
Caso C

Seja f :] − ∞, +∞[−→ R, integrável em todo o intervalo limitado do tipo [x, y ].


Z +∞
Para analisar o integral impróprio f (x) dx escolhe-se arbitrariamente um
−∞
ponto c ∈ R (em geral, considera-se c = 0) e estuda-se separadamente cada um
dos integrais Z c Z +∞
f (x) dx e f (x) dx,
−∞ c

como descrito anteriormente.

Pela aditividade do integral impróprio (Propriedade 2 e correspondente adaptação


ao caso B), a convergência destes integrais não depende da escolha do ponto c.

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 75 / 88


5.8.3 Intervalo de integração ilimitado: ] − ∞, +∞[
Z +∞
Assim, dizemos que o integral impróprio f (x) dx é convergente , ou que a
−∞
função f é integrável em sentido impróprio , se e só se os integrais indicados são
convergentes. Escrevemos
Z +∞ Z c Z +∞
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
−∞ −∞ c

Por outro Zlado, se algum dos integrais é divergente, então dizemos que o integral
+∞
impróprio f (x) dx também é divergente .
−∞

Para este caso, valem também resultados semelhantes aos das Propriedades 1 e 2,
com as adaptações necessárias.

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 76 / 88


5.8.3 Intervalo de integração ilimitado: ] − ∞, +∞[

Exemplo
Z +∞
1. e x dx é divergente.
−∞
Basta atender à definição apresentada e ao que vimos num exemplo anterior.
Z +∞
1
2. dx é convergente e igual a π.
−∞ 1 + x2

De facto, por um lado,


Z b
1 π π
lim dx = lim (arctg b − arctg 0) = − 0 = .
b→+∞ 0 1 + x 2 b→+∞ 2 2
e, por outro lado,
Z 0
1  π π
lim dx = lim (arctg 0 − arctg a) = 0 − − = .
a→−∞ a 1 + x2 a→−∞ 2 2

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 77 / 88


5.8.3 Intervalo de integração ilimitado: ] − ∞, +∞[

Atendendo ao gráfico da função integranda, e à sua simetria em relação ao eixo OY


bastaria ter estudado o integral impróprio estendido a um dos intervalos [0, +∞[ ou
] − ∞, 0].
y

y!1!"1"x2 #

x
a b

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 78 / 88


5.8.4 Função integranda ilimitada

No caso em que a função integranda se torna ilimitada numa vizinhança de algum


ponto do intervalo de integração – um extremo ou um ponto interior – o integral
impróprio diz-se de segunda espécie ou de tipo II .

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 79 / 88


5.8.4 Função integranda ilimitada: ]a,b]
Caso A
Seja f : ]a, b] −→ R ilimitada, mantendo-se integrável em qualquer intervalo [c, b]
com [c, b] ⊂ ]a, b].
Z b
Dizemos que o integral impróprio f (x) dx é convergente , ou que a função f
a
é integrável em sentido impróprio , se existir o limite
Z b
lim+ f (x) dx,
c→a c
caso em que escrevemos
Z b Z b
f (x) dx = lim+ f (x) dx .
a c→a c

Quando este limite não existe, dizemos que o integral impróprio é divergente ou
que a função f não é integrável em sentido impróprio .
Também para este tipo de integral impróprio valem resultados semelhantes aos das
Propriedades 1 e 2, com as adaptações necessárias.
(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 80 / 88
5.8.4 Função integranda ilimitada: ]a,b]

Exemplo
Z 1
1
1. 2
dx é divergente.
0 x
A função integranda torna-se ilimitada à direita da origem. Calculamos
Z 1 h 1 i1
1  1
L = lim+ dx = lim − = lim − 1 + = +∞,
c→0 c x2 c→0+ x c c→0+ c

donde se conclui que o integral impróprio apresentado diverge para +∞.

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 81 / 88


5.8.4 Função integranda ilimitada: ]a,b]
Z 1
1
2. √ dx é convergente .
0 x
A função integranda torna-se ilimitada à direita da origem. Calculamos
Z 1 h √ i1
1  √ 
L = lim+ √ dx = lim+ 2 x = lim+ 2 − 2 c = 2,
c→0 c x c→0 c c→0

Z 1
1
pelo que o integral converge, tendo-se √ dx = 2.
0 x
y

"###
y!1! x

x
1

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 82 / 88


5.8.5 Função integranda ilimitada: [a,b[

Caso B
Z b
O estudo do integral impróprio f (x) dx, quando f : [a, b[ −→ é ilimitada,
a
mantendo-se integrável em todo o intervalo [a, c], com [a, c] ⊂ [a, b[, é
perfeitamente análogo, baseando-se no estudo do

Z c
lim− f (x) dx.
c→b a

Valem novamente resultados semelhantes aos das Propriedades 1 e 2, com as


adaptações necessárias.

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 83 / 88


5.8.6 Função integranda ilimitada: ]a,b[
Caso C
O caso em que f : ]a, b[ −→ R é ilimitada, mantendo-se integrável em todo o
intervalo [x, y ], com [x, y ] ⊂ ]a, b[, reduz-se aos casos anteriores, escolhendo
arbitrariamente um ponto c ∈ ]a, b[ e estudando separadamente os integrais
impróprios Z c Z c
f (x) dx e f (x) dx,
a a

como descrito anteriormente (casos A e B). Dizemos que o integral impróprio


Z b
f (x) dx é convergente , ou que a função f é integrável em sentido impróprio
a
, se e só se os integrais indicados são convergentes. Escrevemos
Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c

Por outro lado, se algum dos integrais indicados é divergente, então dizemos que
Z b
o integral impróprio f (x) dx também é divergente .
a
(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 84 / 88
5.8.7 Função integranda ilimitada: [a, c[∪]c, b]
Caso D
Consideremos agora a, b, c ∈ R, tais que a < c < b, e seja f : [a, c[ ∪ ]c, b] −→ R
uma função ilimitada em pelo menos um dos intervalos [a, c[ ou ]c, b], que se
mantém integrável em qualquer intervalo [a, x] com [a, x] ⊂ [a, c[ e em qualquer
intervalo [y , b] com [y , b] ⊂ ]c, b].

Neste caso, estudamos separadamente os integrais impróprios


Z c Z b
f (x) dx e f (x) dx,
a c

como descrito anteriormente.

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5.8.7 Função integranda ilimitada: [a, c[∪]c, b]
Z b
Dizemos que o integral impróprio f (x) dx é convergente , ou que a função f
a
é integrável em sentido impróprio , se e só se estes dois integrais são
convergentes, caso em que escrevemos
Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c

Por outro lado, se algum daqueles integrais é divergente, então dizemos que o
Z b
integral impróprio f (x) dx também é divergente .
a

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5.8.7 Função integranda ilimitada: [a, c[∪]c, b]

Exemplo
Z 2
1
dx é divergente.
0 (x − 1)2

A função integranda torna-se ilimitada em torno do ponto x = 1. Estudamos


separadamente os integrais
Z 1 Z 2
1 1
I= dx e J= dx .
0 (x − 1)2 1 (x − 1)2

Para o primeiro, calculamos


Z c   c   
1 1 1
lim dx = lim− − = lim− − − 1 = +∞,
c→1− 0 (x − 1)2 c→1 x −1 0 c→1 c −1

donde se conclui que o integral proposto é divergente (independentemente da


natureza do integral J).

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5.8.7 Função integranda ilimitada: [a, c[∪]c, b]

y!1!"x"1#2

1
x
1 2 3

(DEMec, FEUP) Integração Setembro 2023 88 / 88

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