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PROCURADORIA-GERAL
DO ESTADO
DE SÃO PAULO
Procedimentos Disciplinares
10 anos da Procuradoria de Procedimentos Disciplinares
95
JANEIRO/JUNHO 2022
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
RODRIGO GARCIA
Governador do Estado
PROCURADORIA-GERAL DO ESTADO
COORDENAÇÃO EDITORIAL
ISSN 0102-8065
Proc. Geral do Est. São Paulo São Paulo n. 95 p. 1-365 jan./jun. 2022
CENTRO DE ESTUDOS
PROCURADORIA-GERAL DO ESTADO DE SÃO PAULO
Rua Pamplona, 227 – 10o andar
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Assessoria
Emanuel Fonseca Lima, Claudia Aparecida Cimardi
Comissão Editorial
Presidência
Anna Candida Alves Pinto Serrano
Membros
Adalberto Robert Alves, Dr. Bruno Betti Costa, Cláudio Henrique Ribeiro Dias, Joyce Sayuri Saito,
Juliana Campolina Rebelo Horta, Luis Claudio Ferreira Cantanhêde, Mariana Beatriz Tadeu de
Oliveira, Rafael Issa Obeid, Thamy Kawai Marcos e Thiago Oliveira de Matos
Revista
Coordenação editorial desta edição: Eraldo Ameruso Ottoni
Permite-se a transcrição de textos nela contidos desde que citada a fonte. Qualquer pessoa pode
enviar, diretamente ao Centro de Estudos da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo, matéria
para publicação na Revista. Os trabalhos assinados representam apenas a opinião pessoal dos
respectivos autores.
1971-2021 (1-94)
CDD-341.336
CDU-342.922
Sumário
APRESENTAÇÃO.................................................................................. VII
O ILÍCITO DE INASSIDUIDADE...........................................................129
Eraldo Ameruso Ottoni
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:
EVOLUÇÃO PATRIMONIAL INCOMPATÍVEL......................................301
José Carlos Cabral Granado
E
m 2017, o Centro de Estudos da Procuradoria-Geral do Estado
editou a Revista nº 85, dedicada exclusivamente a assuntos relacio-
nados ao procedimento disciplinar. A Revista celebrava o primeiro
quinquênio de existência da Procuradoria de Procedimentos Disciplina-
res, nossa querida PPD, criada pela Lei Complementar nº 1.183, de 30
de agosto de 2012. A PPD agora completa seu segundo quinquênio, e,
para comemorar esse marco, o Centro de Estudos edita a Revista nº 95,
também dedicada exclusivamente aos procedimentos disciplinares.
Tive a honra de coordenar a Revista nº 85, honra que se renova e se
avulta com a coordenação e apresentação desta edição, que conta com
artigos de procuradoras e procuradores do estado que atuam em assun-
tos de natureza disciplinar em seu trabalho quotidiano.
Os artigos abordam temas atuais do Direito Disciplinar paulista, que
sofreu profundas modificações com a publicação da Lei Complementar
nº 1.361, de 21 de outubro de 2021, principalmente ao introduzir a con-
sensualidade na solução dos conflitos disciplinares, diante da possibilidade
de adoção de práticas autocompositivas, termo de ajustamento de conduta
e suspensão condicional da sindicância; houve também alteração nos ilíci-
tos relacionados à inassiduidade, que tem gerado uma série de controvér-
sias no âmbito da Administração Pública. Sobre essas alterações cuidam
os primeiros artigos: O Dr. Inacio de Loiola Mantovani Fratini escreve
sobre as bases teóricas para um programa sancionatório adequado, com
superação do paradigma exclusivamente punitivista; a Dra. Ana Paula
Vendramini Segura, com a experiência que acumulou à frente do Prac
(Programa de Resolução Adequado de Conflitos Disciplinares), discorre
sobre o papel da Procuradoria-Geral do Estado na regulamentação das
práticas autocompositivas; a Dra. Adriana Masiero Rezende faz apon-
tamentos sobre as inovações da Lei Complementar nº 1.361, trazendo
para a publicação sua experiência na Assessoria Técnico Legislativa; o
Dr. Ricardo Kendy Yoshinaga aprofunda pontos controvertidos relacio-
nados à suspensão condicional da sindicância, e o subscritor escreve sobre
as alterações nos ilícitos de inassiduidade.
A pandemia de Covid-19 e a restrições dela decorrentes trouxeram
uma nova realidade para a condução dos processos disciplinares, diante
da impossibilidade de realização de audiências presenciais. A nova reali-
dade impôs a realização de audiências virtuais para todos os casos em tra-
mitação, e sobre a implantação delas trata o artigo do Dr. Norberto Oya.
O Dr. René Zamlutti Júnior aborda o tema da independência das
instâncias administrativa e judicial, diante de recente julgado do Superior
Tribunal de Justiça; a Dra. Kristina Yassuko Iha Kian Wandalsen, as
cautelas na oitiva de crianças e adolescentes, comuns principalmente em
processos oriundos da Secretaria de Educação.
Há dois artigos sobre as alterações introduzidas na Lei de
Improbidade Administrativa pela Lei nº 14.230, de 25 de outubro de
2021: o escrito em conjunto pelas Dras. Melissa Di Lascio Sampaio
e Suzane Ramos Rosa Esteves, sobre os entendimentos vigentes na
Procuradoria-Geral do Estado acerca da irretroatividade de alterações
benéficas ao réu no âmbito do disciplinar, e o do Dr. José Carlos Cabral
Granado, analisando o combate à evolução patrimonial incompatível
com os vencimentos.
A Dra. Margarete Gonçalves Pedroso analisa o combate do assédio
assexual nas repartições públicas estaduais, sob a perspectiva da utiliza-
ção dos instrumentos do direito disciplinar.
Completando o arco procedimental, a Dra. Luciana R. L. Saldanha
Gasparini discorre sobre os meios legais de impugnação das decisões
administrativas tomadas em procedimentos disciplinares.
São raras as publicações de Direito Disciplinar que enfrentam temas
diretamente relacionados à interpretação e aplicação da legislação disci-
plinar paulista, razão da importância desta Revista que, além de suprir
uma lacuna da literatura jurídica, fornece uma fonte de consulta extre-
mamente útil para todos aqueles que atuam no procedimento discipli-
nar, desde o conhecimento do fato tido por irregular até a decisão final
da mais alta autoridade do Estado.
Boa leitura!
O “DEVIDO PROCESSO LEGAL
NO DIREITO DISCIPLINAR”
E A NECESSIDADE DE
IMPLEMENTAÇÃO DE UM PROGRAMA
SANCIONATÓRIO ADEQUADO
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1. INTRODUÇÃO
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uma das ferramentas dispostas pela lei ao gestor público e não mais como
o primeiro mecanismo a ser acionado, formando, desse modo, um arca-
bouço disciplinar mais fluido e menos custoso para o Estado.
E foi justamente com esse racional que o estado de São Paulo introduziu
no sistema disciplinar paulista um programa consensual sancionatório
envolvendo as práticas autocompositivas, o termo de ajustamento de con-
duta e a suspensão condicional da sindicância2.
É preciso ajustar as lentes e fortalecer o caráter instrumental
do poder punitivo estatal, para que seja possível substituir a cultura
de uma Administração Pública adversarial por uma concepção mais
moderna de dissuasão da prática infracional e que vise alcançar melhores
resultados na árdua tarefa de promover o desenvolvimento e a melhoria
do serviço público para os administrados.
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expressamente prevista na CF/88. Necessário será, portanto, partir de uma visão preliminar
desse importante princípio jurídico, percebendo o potencial alcance dessa cláusula constitucional
no ordenamento jurídico pátrio. Há que se proceder a uma análise fundamentada do Direito
Comparado e também na inserção e caracterização técnica do instituto no contexto normativo
nacional. Sem embargo, desde logo é possível assinalar que o devido processo legal resguarda
o campo das relações punitivas, direitos fundamentais em todas as direções possíveis e legítimas,
o que envolve a proteção dos direitos dos acusados e das vítimas em perspectiva equilibrada.
(OSÓRIO, Fábio Medina. Direito administrativo sancionador. 5. ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2015, p. 174-175).
5 BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 22 jun. 2022.
6 CARVALHO, Antonio Carlos Alencar. Manual de processo administrativo disciplinar
e sindicância à luz da jurisprudência dos tribunais e da casuística da administração pública.
5. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2016, p. 352.
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7 A apuração preliminar tem caráter inquisitivo, razão pela qual não há obrigatoriedade de
observância do contraditório que será diferido para a fase de instauração do procedimento
disciplinar. Não obstante, conforme se verifica da alteração trazida pela Lei nº 13.245/2016
ao Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil: “assistir a seus clientes investigados
durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório
ou depoimento e, subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probatórios
dele decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso da
respectiva apuração” (BRASIL. Lei nº 13.245, de 12 de janeiro de 2016. Altera o art. 7º
da Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, p. 1,
13 jan. 2016, art. 7º, inc. XXI).
8 No sistema disciplinar do estado de São Paulo coexistem três ritos procedimentais, a saber:
aos servidores estatutários e aqueles regidos pela Lei nº 500/1974, a sindicância com
incidência nos casos de mera violação de dever e falta grave, e o processo administrativo
disciplinar para os casos de infrações que levem à demissão e à demissão a bem do serviço
público. No caso dos empregados públicos regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho
aplica-se o processo sancionatório previsto nos artigos 62 e ss. da Lei nº 10.177/1998,
conforme entendimento exarado no parecer PA nº 39/2013, cuja ementa peço vênia
para transcrever: “SERVIDOR TRABALHISTA. PROCEDIMENTO DISCIPLINAR.
Lei Complementar estadual nº 1183, de 30/08/2012, que criou a Procuradoria de
Procedimentos Disciplinares e atribui-lhe competência para ‘realizar procedimentos
disciplinares punitivos’ em face de servidores autárquicos, inclusive submetidos ao regime
jurídico da CLT. Viabilidade de extensão analógica do art. 63 da Lei nº 10.177/1998 para
disciplinar processo a ser instaurado no âmbito da PPD, quando não houver a autarquia
disciplinado a matéria em regulamento. Viabilidade de enquadramento das condutas tidas
por irregulares no art. 482 da CLT. Desnecessidade de adequação formal dos regulamentos
disciplinares das autarquias à nova lei, eis que se operou ‘ex vi legis’. Condutas definidas
em lei como ‘falta grave’ são aptas a ensejar a rescisão contratual por justa causa, mesmo
quando não referidas expressamente no regulamento disciplinar” (SÃO PAULO. Parecer
PA nº 39/2013. Servidor Trabalhista. Procedimento disciplinar. São Paulo: Procuradoria-
Geral do Estado, 2013, p. 1).
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19 Conforme artigo 5º, inciso XLVII, “não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra
declarada, nos termos do art. 84, inciso XIX”. (BRASIL, 1988, art. 5º).
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23 Sobre essa questão não há como deixar de concordar com os argumentos apresentados pela
ilustre jurista Alice Voronoff quando trabalha sobre o tema da transposição de garantias penais
ao direito sancionador: “Assim, com a mesma naturalidade com que se maximizam garantias,
excepcionam-se garantias. Sem muito bem explicar por que nem como. De forma ad hoc. É como
se o direito administrativo sancionador se movesse por intuições, guiado pela sensação de que
aqui ou acolá, determinadas exigências não fazem sentido. Como num ciclo vicioso perverso,
propagam-se fórmulas nuançadas e construções excepcionais que buscam se legitimar a fórceps.
Pela repetição e pela prática, e não pelo direito” (VORONOFF, op. cit., p. 200).
24 A Constituição Estadual prevê em seu artigo 111 os princípios aplicáveis à Administração
Pública: “A administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes
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29 Mesmo no direito penal, há tipos penais que se classificam como normas penais em branco,
sendo aquelas que demandam complemento em outro ato normativo de competência diversa,
podendo ser da mesma espécie (lei) ou estar situado em ato infralegal (ato normativo do Poder
Executivo), como é o caso da Lei de Drogas, em que a listagem das substâncias entorpecentes
não se encontra na Lei nº 13.436/2006 e sim em portaria da Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária), recebendo, nesses casos, respectivamente a designação de norma penal
em branco homogênea e heterogênea.
30 A lei penal em branco indica a tipificação de crime que depende de norma posterior que lhe
dê conteúdo. Trata-se de hipótese em que a lei penal é imperfeita e exige a complementação
de outra norma jurídica, que irá integrar o próprio tipo penal. Em outras palavras,
são normas de conteúdo incompleto, vago, lacunoso, que necessitam de complementação
que, no geral, tem caráter extrapenal (cf. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito
penal: parte geral (arts. 1º a 120). 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 1, p. 192).
31 Lei nº 10.261/1968: “estar em dia com as leis, regulamentos, regimentos, instruções e ordens
de serviço que digam respeito às suas funções;” (SÃO PAULO, 1968, art. 241, inc. XIII).
32 Interessante destacar que o regulamento ou ato normativo pode derivar até mesmo de outra
esfera legislativa, como por exemplo a utilização de verba repassada pela União às escolas
que demandam por parte do Diretor do estabelecimento de ensino o conhecimento e
a observância das portarias e atos normativos exarados pelo Ministério da Educação.
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36 Nesse sentido, poder-se-ia citar como exemplo a infração de abandono de cargo que
estava prevista no §1º do artigo 256 da Lei nº 10.261/1968 e estabelecia que o servidor
estatutário praticaria a infração de abandono caso faltasse de maneira consecutiva ao
trabalho por mais de 30 dias e agora, com a nova previsão trazida pela Lei Complementar
nº 1.361, de 21 de outubro de 2021, passou a estabelecer que a infração de inassiduidade
(consecutiva) se caracteriza após 15 dias de faltas consecutivas ao trabalho. Nesse caso,
o prazo reduzido é considerado maléfico ao servidor público estatutário, de modo que não
pode retroagir para alcançar um servidor por faltas anteriores à entrada em vigor da nova
disciplina mais gravosa, sob pena de injusta e ilegítima retroação.
37 Sobre o princípio da confiança legítima aplicável à Administração Pública, interessante
ponderação feita por Francesco Caringella: (no original) “La tutela dell’affidamento legittimo
è l’incarnazione di un principio non scritto. Se si eccettua infatti l’ordinamento tedesco, che si
occupa ex professo (agli artt. 20 e 29 del Grundgesetz), del vertrauensschutz (così assurgendo
a principio dello Stato di diritto, ossia a Rechtsstaatsprinzip), le fonti comunitarie ed i sistemi
europei coniano il legittimo affidamento, ovvero la legittimate expectation o ancora la confiance
lègitime (figlia o parente della securité juridique) alla stregua di categoria naturale del diritto non
scritto. Nonostante l’assordante silenzio della legislazione, la Corte di Giustizia a tal punto non
dubita dell’esistenza e della baricentricità dell’istituto da non avere remore nell’affermare che
il principio di tutela dell’affidamento fa parte del diritto comunitario. Ad esso quindi fa rinvio
l’art. 1 della legge 241/1990, che, dopo la riforma di cui alla L. 15/2005, rinvia ai principi
generali dell’ordinamento comunitário ai fini della regolazione dell’azione amministrativa”.
(CARINGELLA, Francesco. Manuale di diritto amministrativo. 4. ed. Roma: Dike Giuridica
Editrice, 2011, p. 1062-1063).
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38 Rafael Munhoz de Mello diferencia o racional que demanda a retroação benéfica no direito
penal e no direito a partir do inciso XL, do art. 5º da Constituição Federal: “Peculiaridades essas
atreladas à existência de razões humanitárias que, no âmbito penal, justificariam a retroatividade
da lei mais benéfica, mas não no administrativo” (MELLO, op. cit., p. 154-155).
39 Nesse sentido, o entendimento exarado pela Procuradoria Administrativa nos pareceres
PA nº 257/2003 e 306/2003.
40 Por norma penal em branco tem-se o tipo penal cujo complemento se encontra em outro ato
normativo, de igual hierarquia (norma penal em branco homogênea) ou em ato normativo
de hierarquia inferior, e.g. Resolução (norma penal em branco heterogênea).
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44 Com a experiência adquirida nos últimos sete anos de atuação como Procurador do Estado
Assistente na Procuradoria de Procedimentos Disciplinares, foi possível identificar que
a resposta exclusivamente sancionatória encontrou seu ponto máximo de inflexão, exigindo
de maneira premente a construção de um conjunto de instrumentos complementares que
permita ao Administrador Público soluções mais adequadas aos conflitos, em especial,
em relação às situações cuja lesividade ao ordenamento jurídico não demandem aplicação da
pena expulsória ao servidor. Dessa maneira, não há dúvidas de que as medidas consensuais
introduzidas no ordenamento estadual pela Lei Complementar nº 1.361/2021 vieram
em boa hora, demandando agora uma postura proativa da Administração para tornar
a implementação dos institutos efetiva.
45 Ao analisar as falhas sancionatórias no campo das concessões do serviço público, Juliana
Bonacorsi de Palma aponta cinco axiomas que as explicariam, apontamentos que, embora
sejam dirigidos às concessões públicas, possuem perfeita aplicação ao sistema disciplinar:
“i) legalismo estrito, em que qualquer incompatibilidade normativa ou clausular enseja
automática responsabilização da concessionária (servidores), com absoluta insensibilidade ao
contexto e aos efeitos concretos sobre a prestação do serviço público; ii) enquadramento estático
da conduta reputada infracional, de forma descolada dos antecedentes e do grau de colaboração
da concessionária (servidores) com as autoridades públicas; iii) punitivismo, em que a sanção
é tida mais como retribuição à conduta reprovável que técnica regulatória (política sancionatória
adequada), razão pela qual deve ser obrigatoriamente aplicada diante da ocorrência de uma
infração ou irregularidade simples; iv) sobrevalorização do efeito simbólico da sanção pelo
pressuposto forte de que a simples reprimenda sancionatória enseja imediato ajustamento da
conduta da concessionária (servidores) e dos demais atores sem lastro em evidências, pesquisas
empíricas ou dados da ciência comportamental; v) imperatividade, seja pela desconfiança da
consensualidade ou seu completo afastamento no caso concreto” (PALMA, Juliana Bonacorsi.
Identidade das sanções administrativas nas concessões de serviço público. In: TAFUR, Diego
Jacome Valois; JURKSAITIS, Guilherme Jardim; ISSA, Rafael Hamze (coord.). Experiências
práticas em concessões e PPP: estudo em homenagem aos 25 anos da lei de concessões. São Paulo:
Quartier Latin, 2021. v. 1, p. 426, grifo nosso).
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46 VORONOFF, op. cit., p. 82. A autora prossegue, destacando que: “Coube a Gary Becker,
um dos expoentes da Escola de Chicago explorar esse enfoque de dissuasão ótima no campo
punitivo. Para o autor, o crime deve ser encarado como uma atividade economicamente
relevante. […] uma pessoa comete um crime se a utilidade esperada para ela exceda a
utilidade que ela poderia obter usando o seu tempo e outros recursos em outras atividades.
Algumas pessoas se tornam ‘criminosos’, portanto, não porque a sua motivação difira da de
outras pessoas, mas porque os seus benefícios e custos diferem […]”. Ibidem, p. 86.
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47 São reiterados os casos de servidores públicos que após obterem afastamentos por longos períodos
para tratar de problemas de saúde, passam a exercer atividade remunerada na iniciativa privada
em violação ao quanto disposto no artigo 187 da Lei nº 10.261/68, sujeitando-se à penalidade
de demissão. O prognóstico do benefício econômico nesses casos supera os riscos da descoberta
(na visão dos infratores), pois continuam percebendo integralmente suas remunerações durante
o período de licença saúde e ainda auferem renda pelo trabalho junto à iniciativa privada.
48 Esse pensamento de utilização de mecanismos responsivos e outras técnicas dissuasórias
antes da utilização das “grandes armas” estão bem apontados por Ian Ayres e John
Braithwaite em: AYRES, Ian; BRAITHWAITE, John. Responsive regulation: trancending
the deregulation debate. Oxford: Oxford University Press, 1992, p. 19-53.
49 O sistema do self report já possui larga utilização no direito penal com a delação premiada
(Art. 3º-A da Lei nº 12.850/2013, com a redação dada pela Lei nº 13.964/2019), prevendo
no artigo 4º a possibilidade de ser concedido pelo juiz o perdão judicial ou a redução
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da pena: “Art. 4º. O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial,
reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva
de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação
e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes
resultados” (BRASIL. Lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013. Define organização criminosa
e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais
correlatas e o procedimento criminal. Diário Oficial da União: edição extra, Brasília, DF,
p. 3, 5 ago. 2013). Podem ser também citados os acordos de leniência como o já consagrado
programa instituído há longa data pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica, que
traz no seu artigo 86 benefícios para a empresa que trouxer ao conhecimento da autoridade
antitruste acerca da existência do cartel, fornecendo provas para o desmantelamento da
organização, poderá ser beneficiado com a isenção de responsabilidade administrativa
e também penal: “Art. 86. O Cade, por intermédio da Superintendência-Geral, poderá
celebrar acordo de leniência, com a extinção da ação punitiva da administração pública
ou a redução de 1 (um) a 2/3 (dois terços) da penalidade aplicável, nos termos deste artigo,
com pessoas físicas e jurídicas que forem autoras de infração à ordem econômica, desde
que colaborem efetivamente com as investigações e o processo administrativo e que dessa
colaboração resulte” (BRASIL. Lei nº 12.529, de 30 de novembro de 2011. Estrutura
o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência; e dá outras providências. Diário Oficial
da União: seção 1, Brasília, DF, p. 1, 1 dez. 2011). Não existe instrumento similar no
sistema disciplinar paulista, o que pode ser um campo a ser explorado com a previsão
de um Acordo de Não Persecução Disciplinar, cuja proposta está sendo veiculada por este
articulista na tese de mestrado a ser apresentada perante a Fundação Getúlio Vargas.
50 Nesse sentido, cabe menção ao Artigo 5º, da Lei de Processo Administrativo Estadual:
“A norma administrativa deve ser interpretada e aplicada da forma que melhor garanta
a realização do fim público a que se dirige” (SÃO PAULO, 1998, art. 5º). E na tarefa de
bem fundamentar a decisão deve o gestor estar atento não somente ao texto legal, mas
igualmente às práticas e costumes administrativos, aos precedentes, inclusive, em relação
aos acordos anteriormente firmados, às súmulas administrativas, sob pena de que a escolha
pública possa ser invalidada de ofício ou em grau de reconsideração na via administrativa
no exercício da autotutela (Súmulas 346 e 473 do Supremo Tribunal Federal) ou por
meio do controle judicial por força do princípio da inafastabilidade do Poder Judiciário
(BRASIL, 1988, Art. 5º, inciso XXXV).
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51 Nesse ponto também a Lei nº 10.177/98 prevê: “A motivação indicará as razões que
justifiquem a edição do ato, especialmente a regra de competência, os fundamentos de fato
e de direito e a finalidade objetivada” (SÃO PAULO, 1998, art. 9º).
52 Importante destacar que a regulação responsiva foi criada para buscar resolver
os problemas que ocorriam entre Regulador e Regulado no campo no contexto da atividade
regulatória do Estado, portanto, a utilização da presente teoria para auxiliar na construção
de um adequado programa sancionatório se dá a partir de uma adaptação do modelo,
considerando as particularidades do sistema disciplinar.
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53 Como bem observa Alice Voronoff: “a regulação responsiva corresponde a um modelo teórico
desenvolvido por Ian Ayres e John Braithwaite na obra Responsive regulation: transcending the
deregulation debate, publicada em 1992”. VORONOFF, op. cit., p. 131-132.
54 A Procuradoria de Procedimentos Disciplinares possui a atribuição de prestar orientação
técnica sobre a aplicação da lei em matéria disciplinar para as unidades administrativas,
conforme inciso VI do artigo 1º da Lei Complementar estadual nº 1.183/2012, mister
esse que vem exercendo constantemente com a realização de seminários e palestras para
as Secretarias. Já houve ciclos de formação em apuração preliminar na Secretaria de
Administração Penitenciária, na Secretaria de Saúde e na Secretaria da Educação, cabendo
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60 No estado de São Paulo também poderia ser mencionado o Decreto nº 52.201/2007 como
um permissivo genérico para viabilizar a realização de acordos na seara disciplinar. Tendo
em vista que a análise mais aprofundada deste argumento fugiria do objeto do presente
artigo, sugere-se para tal finalidade a leitura do artigo de Sérgio Guerra e Juliana Bonacorsi
de Palma: GUERRA, Sérgio; PALMA, Juliana Bonacorsi. Art. 26 da LINDB – novo regime
jurídico de negociação com a administração pública. Revista Direito Administrativo,
Rio de Janeiro, Edição especial, p. 135-169, 2018, p. 140.
61 Os mecanismos consensuais na Lei nº 10.261/68 se encontram disciplinados, basicamente,
do artigo 267-A ao 267-P.
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INÁCIO DE LOIOLA MANTOVANI FRATINI
62 Conforme ensina Irene Nohara, a “Expressão inglesa que literalmente significa ‘assoprador
de apito’, em alusão à postura antiga da polícia na Inglaterra que usava o apito para acusar
em público uma prática delituosa e chamar a atenção da sociedade” (NOHARA, Irene.
O que é whistleblower. Direito Administrativo, São Paulo, 15 fev. 2020. Disponível em:
https://direitoadm.com.br/o-que-e-whistleblower/. Acesso em: 03 mar. 2022).
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INÁCIO DE LOIOLA MANTOVANI FRATINI
64 Na Lei nº 10.261/1968 o artigo 241 estatui os deveres dos servidores públicos do estado de
São Paulo, prevendo no inciso V: “representar aos superiores sobre todas as irregularidades
de que tiver conhecimento no exercício de suas funções;” (SÃO PAULO, 1968, art. 241,
inc. V). No âmbito federal a Lei nº 8.112/90 estabelece no inciso VI do artigo 116: “levar
as irregularidades de que tiver ciência em razão do cargo ao conhecimento da autoridade
superior ou, quando houver suspeita de envolvimento desta, ao conhecimento de outra
autoridade competente para apuração;” (BRASIL. Lei nº 8.112, de 11 de novembro de
1990. Dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias
e das fundações públicas federais. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, p. 1,
19 abr. 1991, art. 116, inc. VI).
65 Nesse sentido, bem lembrado por Juliana Bonacorsi de Palma o caso envolvendo a máfia dos
fiscais do ICMS: “Em 2015, fiscal de rendas do Estado de São Paulo relatou ao Ministério
Público a Máfia do ICMS. Trata-se de um esquema de corrupção maduro estruturado desde
2003 na Secretaria da Fazenda paulista envolvendo ao menos 12 agentes fiscais. A soma dos
desvios é multimilionária – em apenas uma empresa, o suborno chegou ao valor aproximado
de R$ 17 milhões entre 2006 e 2013. Em síntese, fiscais reduziam significativamente o valor
da multa pela inadimplência de pagamento do tributo – desproporcionalmente fixada – em
troca de propina. Apenas através do relato do fiscal reportante pôde ser deflagrada a Operação
Zinabre, que culminou na acusação pelo Ministério Público dos suspeitos e já levou ao
sequestro de mais de 90 imóveis e bloqueio de contas. Porém, não são apenas os fiscais
da Máfia do ICMS que respondem a processo: também o próprio reportante responde a
processo administrativo disciplinar instaurado pela Secretaria da Fazenda. Acusa-se quebra
do sigilo fiscal, pois teria repassado informações sigilosas a terceiros, já que as provas
apresentadas foram obtidas no sistema interno do órgão. […] O reportante impetrou
mandado de segurança que foi denegado em primeira instância, porém revertido em grau
de apelação pelo TJ-SP, em abril de 2019 que determinou o trancamento do processo
administrativo disciplinar.” (PALMA, Juliana Bonacorsi. O Brasil precisa de um programa
público de reportantes contra a corrupção? Juridicidade e proteção para relatos envolvendo
o poder público. In: CYRINO, André; MIGUEIS, Anna Carolina; PIMENTEL, Fernanda
Morgan (coord.). Direito administrativo e corrupção. Belo Horizonte: Fórum, 2020, p. 179).
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4. CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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INÁCIO DE LOIOLA MANTOVANI FRATINI
46
O PAPEL DA PROCURADORIA-GERAL DO
ESTADO NA REGULAÇÃO DAS PRÁTICAS
AUTOCOMPOSITIVAS INTRODUZIDAS
PELA LEI COMPLEMENTAR Nº 1.361,
DE 22 DE OUTUBRO DE 2021
47
Ana Paula Vendramini
1. INTRODUÇÃO
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3 SÃO PAULO. Relatório final do Grupo de Trabalho criado pela Resolução PGE nº 19, de 30
de junho de 2017. São Paulo: Procuradoria-Geral do Estado, 2018, p. 15, grifo nosso.
49
Ana Paula Vendramini
4 Ibidem, p. 19.
5 OLIVEIRA, Ana Sofia Schmidt. Superando o paradigma punitivo. Por um procedimento
disciplinar restaurativo. Revista da Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo, São Paulo,
nº 85, p. 67-138, 2017.
50
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6 Ibidem, p. 75.
7 Ibidem, p. 75.
51
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8 Ibidem, p. 88-89.
9 SÃO PAULO. Resolução Conjunta PGE-SE-SS-SAP-1, de 20 de julho de 2018. Diário Oficial
do Estado de São Paulo: seção 1, São Paulo, n. 135, p. 30, 24 jul. 2018.
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11 Ibidem, p. 10.
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16 SÃO PAULO. Relatório final do Grupo de Trabalho criado pela Resolução PGE nº 19, de
30 de junho de 2.017. São Paulo: Procuradoria-Geral do Estado, 2018, p. 19-20, grifo nosso.
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18 TAILLE, Yve de la. Moral e ética: dimensões intelectuais e afetivas. Porto Alegre: Artmed, 2006.
19 Ibidem.
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21 ZEHR, Howard. Justiça restaurativa: teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Palas Athena, 2017, p. 40.
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ou pode ser determinado que este adquira uma mesa inteiramente nova.
Para além do que se possa significar como reparo do dano no caso em
concreto, outros questionamentos podem ainda ser feitos como os se-
guintes: E quanto às garantias dos reparos? São ou não exigíveis? E as
marcas dos bens lesados? Pode a Administração se encarregar do reparo
e o servidor obrigar-se a efetuar um ressarcimento? Pode o servidor ofer-
tar algum reparo, serviço ou prestação alternativos como forma de com-
pensação pelo dano causado? Há fatores que devem ser considerados e
que estão por trás da conduta desse servidor? Sua equipe está, talvez, em
contexto de assédio moral?
Outro aspecto que certamente demandará participação da
Procuradoria-Geral do Estado nas práticas autocompositivas refere-
-se ao artigo 267-A, que determina que a autoridade e o Procurador
do Estado ficam autorizados, mediante despacho fundamentado, a pro-
por as práticas autocompositivas. Pois bem. As práticas autocompo-
sitivas, por serem menos gravosas ao servidor do que as penalidades,
configurar-se-ão como direito subjetivo, assim que regulamentadas.
A ausência de uniformização de critérios para a admissibilidade ou
não do caso às práticas, além de sujeitar servidores a situações injustas,
sujeita a Administração Pública a uma grande judicialização, nos casos
em que se entender que a resolução não admite a prática autocompo-
sitiva. Isso sem falar em possível atuação de Sindicatos e Associações
de servidores na matéria.
Assim, em tais encaminhamentos, o exercício de um papel ao menos
consultivo inequivocamente compete à Procuradoria-Geral do Estado –
este órgão já está implicado de outros modos no acompanhamento das
práticas autocompositivas.
Resta saber como se daria tal participação. A título de reflexão
podem ser levantadas ainda muitas outras questões sobre a participação
da Procuradoria-Geral do Estado nas práticas autocompositivas:
1. Seria adequado que a Procuradoria-Geral do Estado atuasse
como um órgão regulador, fiscalizador, executor das práticas
autocompositivas previstas na Lei?
2. São necessárias novas estruturas na Procuradoria-Geral do Estado
para a execução do previsto na nova legislação? Se sim, quais?
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Ana Paula Vendramini
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Isso porque o modelo que parece ser o mais adequado para essas
tarefas é o utilizado tanto pelo Poder Judiciário, como pelo Programa
de Solução Adequada de Controvérsias. Em ambos leva-se em conside-
ração a especialização necessária à boa condução da matéria. Em ambos
ainda, há um órgão gestor, estratégico – comumente denominado de
Comitê Gestor – e outro executor – como o Centro de Práticas ou um
Núcleo de Justiça Restaurativa.
A Resolução do CNJ de nº 225, de 31 de maio de 2016, determina a
instituição de um Comitê Gestor de Justiça Restaurativa em seu art. 27:
Art. 27. Compete à Presidência do CNJ, com o apoio da Comissão Perma-
nente de Acesso à Justiça e Cidadania, coordenar as atividades da Política
Judiciária Nacional no Poder Judiciário, assim como instituir e regulamen-
tar o Comitê Gestor da Justiça Restaurativa, que será responsável pela im-
plementação e acompanhamento das medidas previstas nesta Resolução.24
Referido Comitê, ainda conforme a mesma Resolução, além das
funções expostas, tem o papel de deliberar sobre os requisitos para a
formação dos facilitadores25.
Quanto a este modelo, é ainda importante esclarecer que o Comitê
Gestor de Justiça Restaurativa no âmbito do CNJ foi criado em 2016,
pela Portaria nº 91, de 17 de agosto de 2016. Tendo-se em vista que se está
aqui propondo que a participação da Procuradoria-Geral do Estado se
dê em termos tais quais vem o Poder Judiciário atuando há muitos anos,
é relevante transcrever os termos da Portaria, uma vez que esta explicita
em minúcia tanto as atribuições como a composição do Comitê Gestor:
Art. 1º Instituir o Comitê Gestor da Justiça Restaurativa, com as se-
guintes atribuições, sem prejuízo de outras necessárias ao cumprimento
dos seus objetivos:
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Pois bem. Para além dos Comitês Gestores, a legislação também pre-
vê órgãos diretamente executores, os núcleos de práticas – que podem ser
criados nas comarcas – e o centro de práticas do Prac (Programa de Solu-
ção Adequada de Conflitos), responsável pela facilitação dos casos. É de
se pensar se seria estratégico o estado de São Paulo criar duas modalidades
de órgãos para a consecução da grande massa de casos sujeitos à auto-
composição – um comitê gestor e centros de práticas – ou se seria mais
estratégico um órgão único, que tanto se responsabilizasse pela gestão
das práticas no sentido mais amplo, bem como pelos fluxos de encami-
nhamento de casos, designação de facilitadores, formação continuada e
estratégias de sensibilização.
Por um lado, a existência de mais órgãos pode responder às pecu-
liaridades de cada Pasta com maior assertividade. Além disso, a existên-
cia de órgãos locais pode favorecer uma maior participação e adesão
dos servidores. Por outro lado, um órgão central poderia atuar de for-
ma mais uniforme e isenta na condução das práticas autocompositivas.
Sendo esta a opção do estado de São Paulo, seria muito importante que
o Comitê Gestor tivesse representatividade das Secretarias e, nesse caso,
ele cumularia funções de gestão e execução.
Ainda, ao espelho do que ocorre sob a gestão do Tribunal de Justiça
de São Paulo, poderia ser interessante que comitês gestores locais pudes-
sem ser criados – com a aprovação e acompanhamento do Comitê Gestor
central. Comitês locais podem responder de forma mais precisa às necessi-
dades locais e construir rede de parcerias com órgão locais, como Unidades
de Saúde, Capes e assistência social.
Assim, em linhas bastante gerais, o artigo buscou ofertar uma re-
flexão sobre a participação da Procuradoria-Geral do Estado na conse-
cução das práticas autocompositivas na seara das infrações funcionais.
Tratou-se como vem o Poder Judiciário implementando a autocompo-
sição – especialmente a Justiça Restaurativa – e como o Prac também o
fez. O entendimento exposto é o de que essa participação se dará, de um
modo ou de outro, mas que seria efetiva se se concretizasse por meio de
órgãos especializados.
Esse aspecto é fundamental. Como se não bastassem os argumentos
até o momento explicitados, há que se rememorar toda a qualificação
77
Ana Paula Vendramini
5. CONCLUSÃO
O presente artigo teve como objeto central trazer elementos correlatos
às inovações trazidas pela Lei Complementar nº 1.361, de 22 de outubro
de 2021, que ampliou e tornou lei a utilização de práticas autocompositivas
nas hipóteses em que, em tese, o processo disciplinar não culmina no rom-
pimento do vínculo do servidor público com o estado de São Paulo.
Referida alteração é uma excelente oportunidade para o estado de
São Paulo tornar a gestão de conflitos e infrações mais eficiente. Ela tanto
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R. Proc. Geral Est. São Paulo, São Paulo, n. 95: 47-80, jan./jun. 2022
pode alcançar uma maior satisfação pessoal dos servidores públicos, com um
maior senso de justiça e reconhecimento, como bem acarretar reparações de
danos ao Estado mais assertivas e uma melhor prestação de serviço público.
Para que a nova Legislação realmente cumpra com seu potencial e
não desvirtue a utilização das práticas autocompositivas, é necessário
que a regulamentação por Decreto e implementação se faça com muita
segurança e a partir dos conhecimentos especializados já produzidos na
área há muitos anos.
Nesse sentido, o Poder Judiciário e a própria Procuradoria-Geral do
Estado já possuem experiências efetivadas com bastante sucesso.
De se ressaltar que dois aspectos que emergem como prioritários
nessa seara são: i) a participação da Procuradoria-Geral do Estado,
e ii) a criação de órgão especializado na matéria.
Um modelo que leve em consideração esses aspectos será mais efetivo,
dada a quantidade massiva de casos encaminhados às práticas autocom-
positivas que aportarão com a regulamentação da Lei. Será possível ainda,
com essa especialização, concretizar uma efetiva atuação preventiva e dota-
da da uniformidade necessária ao seu sucesso, calcado em uma verdadeira e
comprometida cultura de autocomposição e consensualidade.
Tendo-se em vista que há ainda a previsão de um Decreto para regu-
lamentar a implementação das práticas autocompositivas no Estado que
ainda não foi editado, é esta a oportunidade concreta para a adequada
implantação na consensualidade na seara das infrações disciplinares.
Assim, até o presente momento, a trajetória do estado de São Paulo
na utilização de metodologias autocompositivas na solução de contro-
vérsias mostra-se adequada, séria e absolutamente promissora, podendo
criar um exemplo a ser seguido nacionalmente.
6. AGRADECIMENTOS
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Ana Paula Vendramini
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BREVES APONTAMENTOS SOBRE A
REFORMA DO SISTEMA DISCIPLINAR
DO ESTADO DE SÃO PAULO
1. INTRODUÇÃO
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2. A ASSESSORIA TÉCNICO-LEGISLATIVA
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9 Di Pietro, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 35. ed. Rio de Janeiro: Gen Forense,
2022. Edição Kindle, p. 1814.
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10 Carvalho Filho, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 32. ed. São Paulo: Atlas,
2018, p. 829-830.
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13 O autor alerta que o rol de penas dependerá da escolha de cada ente da Federação, cabendo
acrescentar a Lei estadual nº 10.261, de 1968, estabelecer as seguintes penas disciplinares:
repreensão, suspensão, multa, demissão, demissão a bem do serviço público; disponibilidade
e cassação de aposentadoria (artigo 251).
14 LOURENÇO, Messias José. Reforma Administrativa Disciplinar no estado de São Paulo,
Lei 1.361, de 21 de outubro de 2021. São Paulo: Amazon, 2022. Edição Kindle, p. 18-19.
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5. CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
98
A SUSPENSÃO CONDICIONAL
DA SINDICÂNCIA (SUSCONSIND)
PREVISTA NA LC 1.381/2021 E SEUS
REFLEXOS NO SISTEMA DISCIPLINAR
DO ESTADO DE SÃO PAULO
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1. INTRODUÇÃO
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2. FUNDAMENTOS
É incontroverso que uma das consequências do poder hierár-
quico da Administração resida na obrigatoriedade de se apurar toda
irregularidade praticada no serviço público; vale dizer, aquela tem o
poder-dever de buscar o esclarecimento do fato ilícito ocorrido em sua
seara, responsabilizando o agente público faltoso. Nesse sentido, explica
Maria Sylvia Zanella Di Pietro:
O poder disciplinar é discricionário, o que deve ser entendido em
seus devidos termos. A Administração não tem liberdade de escolha
entre punir e não punir, pois, tendo conhecimento de falta pratica-
da por servidor, tem necessariamente que instaurar o procedimento
adequado para sua apuração e, se for o caso, aplicar a pena cabível.
Não o fazendo, incide em crime de condescendência criminosa, previsto
no artigo 320 do Código Penal e em improbidade administrativa,
conforme artigo 11, inciso II, da Lei nº 8.429, de 2-6-92.5
O Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado de São
Paulo, e na redação anterior ao advento da Lei Complementar nº 1.381,
de 21 de outubro de 20216, em seu artigo 264, expressamente consignou
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4. PROPOSITURA
Conforme apontado, a proposta da suspensão condicional da
sindicância poderá ser feita ao acusado em momento posterior à
instauração do procedimento disciplinar; esta, a regra contida no artigo
267-N, da Lei nº 10.261/1968:
Artigo 267-N – Após a edição da portaria de instauração da sindicância,
o Procurador do Estado que a presidir poderá propor sua suspensão
pelo prazo de 1 (um) a 2 (dois) anos, desde que o funcionário tenha
10 A susconsind tem sua previsão nos artigos 261, § 4º, III; 267-A; 267-N; 267-O; 267-P;
e 272, § 2º, todos da Lei Estadual nº 10.261/1968.
11 MIRABETE, Julio Fabrini. Juizados especiais criminais, p. 274.
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19 Parecer PA nº 173/2008, parecerista Dra. Patrícia Ester Fryszman. Peça opinativa aprovada
pelas Instâncias Superiores da PGE/SP em 2/10/2008.
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RICARDO KENDY YOSHINAGA
5. REQUISITOS
Na sequência, passa-se à análise dos requisitos que o servidor
processado deverá preencher para que seja possível valer-se da suspen-
são condicional da sindicância.
Eles estão previstos no “caput” do artigo 267-N, e se referem à situ-
ação funcional do sindicado, envolvendo o tempo de serviço no cargo
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[…]
Na verdade, o princípio da legalidade estrita significa que a Administra-
ção não pode inovar na ordem jurídica por simples atos administrativos,
não pode conceder direitos, criar obrigações, impor vedações, compelir
comportamentos: para tudo isso, e em outras hipóteses, é necessário
o respaldo da lei, e mesmo que em certos casos a atividade adminis-
trativa pareça realizar-se sem essa particularidade, só será legítima se
houver lastro em determinação ou autorização legal. Por isso mesmo
não se pode dizer que o princípio da legalidade estrita se refira somente
ao agente público, pois se dirige, na verdade, à Administração em si,
à atividade administrativa como um todo, pois a lei (conformidade com
a lei, conformidade com o Direito) é o fundamento da Administração
em si mesma de sua ação.23
Nesse panorama, verifica-se que o comando normativo trazido pela
reforma administrativa estabeleceu de forma exaustiva os requisitos que
o servidor deverá atender para se valer da suspensão da sindicância,
vedado, portanto, o estabelecimento de outros sem qualquer previsão
normativa, sob pena de afronta ao princípio constitucional em apreço.
Com todas as vênias aos respeitáveis argumentos em sentido con-
trário, esse segundo posicionamento nos pareceu mais convincente.
Note-se que o legislador não deixou margem para que a Administração
considerasse outras circunstâncias24; ainda que se entendesse como
“econômica” a opção legislativa, é esta que deverá ser respeitada pelos
seus intérpretes e aplicadores.
Nunca é demais lembrar que, uma vez praticado o ilícito funcional,
surge para a Administração o poder-dever de realizar a apuração dos
fatos. Na lição de Antonio Carlos Alencar Carvalho,
uma vez conhecida a infração de deveres ou proibições funcionais por
parte de agente público, com a consequente quebra da disciplina inte-
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6. PRAZOS E CONDIÇÕES
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7. REVOGAÇÃO
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27 STJ – REsp 708.658/SP, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, Quinta Turma, DJ de 5/9/05.
28 TJ/SP – RESE nº 0084378-55.2008.8.26.0050, Relator: Des. Willian Campos, 4ª Câmara de
Direito Criminal, DJ de 16/08/2011.
29 STJ – HC 62.401/ES, Rel. Min. Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Quinta Turma, DJ de
23/06/08.
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35 STF – AP 512 AgR, Rel. Min. Ayres Britto, Tribunal Pleno, DJ de 20.4.2012.
36 STF – HC 90.833/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, Primeira Turma, DJ de 11.5.2007.
37 STF – HC 97.527/MG, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJ de 1º.7.2009.
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9. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
10. CONCLUSÃO
A suspensão condicional da sindicância, para além de trazer significativa
mudança na relação da Administração para com o servidor público,
afastando-se de uma relação impositiva para dar margem a uma interação
negociada, abriu a possibilidade de conferir um desfecho mais célere a esse
tipo de procedimento administrativo, inclusive em atenção ao princípio
constitucional que prega a necessidade da duração razoável do processo42.
Essa maior agilidade na solução da sindicância envolve também
a exclusão dos atos instrutórios nos quais, não raro, relações conflitu-
osas são ressuscitadas43, ocasionando dissabores e até mesmo a instiga-
ção a novos conflitos entre pessoas cujo relacionamento interpessoal o
tempo já havia cuidado de pacificar.
41 Artigo 260 – Para aplicação das penalidades previstas no artigo 251, são competentes: (NR)
I – o Governador; (NR)
II – os Secretários de Estado, o Procurador-Geral do Estado e os Superintendentes de
Autarquia; (NR)
III – os Chefes de Gabinete, até a de suspensão; (NR)
IV – os Coordenadores, até a de suspensão limitada a 60 (sessenta) dias; e (NR)
V – os Diretores de Departamento e Divisão, até a de suspensão limitada a 30 (trinta) dias. (NR)
Parágrafo único – Havendo mais de um infrator e diversidade de sanções, a competência
será da autoridade responsável pela imposição da penalidade mais grave. (NR)
42 Artigo 5º, inciso LXXVIII, da Constituição Federal.
43 No âmbito da Procuradoria de Procedimentos Disciplinares, diversas sindicâncias
disciplinares envolvem apuração de infrações relacionadas à violação ao dever de
urbanidade, vale dizer, decorrem de conflitos nas relações interpessoais entre servidores e
entre estes e particulares.
126
R. Proc. Geral Est. São Paulo, São Paulo, n. 95: 99-128, jan./jun. 2022
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
127
RICARDO KENDY YOSHINAGA
128
O ILÍCITO DE INASSIDUIDADE
1. INTRODUÇÃO
129
ERALDO AMERUSO OTTONI
2 SÃO PAULO. Resolução n. 19, de 30 de junho de 2017. Institui Grupo de Trabalho com
a finalidade de aprofundar estudos visando identificar medidas de aperfeiçoamento dos
processos disciplinares. Diário Oficial do Estado de São Paulo: seção 1, p. 54, 4 jul. 2017b.
3 Das disposições de natureza disciplinar, apenas o acréscimo do art. 243-A, na Lei n° 10.261/68,
não se originou de proposta do Grupo de Trabalho.
4 Designada na prática administrativa como inassiduidade.
5 Lei que dispõe sobre o “Estatuto dos Funcionários Civis do Estado”, mencionados neste
trabalho como como efetivos.
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ERALDO AMERUSO OTTONI
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ERALDO AMERUSO OTTONI
14 COSTA, José Armando. Direito administrativo disciplinar. 2. ed. São Paulo: Método,
2009, p. 397.
15 ARAÚJO, Edmir Netto. O ilícito administrativo e seu processo. São Paulo: Saraiva,
1994, p. 154.
16 OLIVEIRA, Regis Fernandes. Servidores públicos. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2015, p. 184.
17 LOURENÇO, Messias José. Reforma administrativa disciplinar no Estado de São Paulo.
São Paulo: [s.n.], 2022, p. 121.
18 SÃO PAULO, 1968, art. 311.
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19 LUZ, Egberto Maia. Direito administrativo disciplinar. 2. ed. São Paulo: Editora RT,
1992, p. 140.
20 A Dra. Cristina Margarete Wagner Mastrobuono, atualmente aposentada.
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ERALDO AMERUSO OTTONI
21 SÃO PAULO. Relatório final do Grupo de Trabalho criado pela Resolução PGE n° 19,
de 30 de junho de 2017. São Paulo: Procuradoria Geral do Estado, p. 02-03.
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22 SÃO PAULO. Relatório final do Grupo de Trabalho criado pela Resolução PGE n° 19,
de 30 de junho de 2017. São Paulo: Procuradoria-Geral do Estado, 2017a, p. 140-141.
23 que tratava do abono de faltas, da seguinte forma: “As faltas ao serviço, até o máximo de
6 (seis) por ano, não excedendo a uma por mês, em razão de moléstia ou outro motivo
relevante, poderão ser abonadas pelo superior imediato, a requerimento do funcionário,
no primeiro dia útil subseqüente ao da falta” (SÃO PAULO, 1968, art. 110).
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ERALDO AMERUSO OTTONI
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25 Ibidem, p. 158.
26 A Unidade Processante especializada é a 1ª. Dado o volume de trabalho, foi instalada com
dois Procuradores do Estado e três Assistentes. No momento de conclusão deste artigo conta
com um Procurador do Estado, um Assistente e dois Apoios Técnicos e um Residente Jurídico.
139
ERALDO AMERUSO OTTONI
27 Parecerista Dra. Patrícia Ester Fryszman. SÃO PAULO. Parecer PA n. 187/09. São Paulo:
Procuradoria-Geral do Estado, 2009, p. 1.
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141
ERALDO AMERUSO OTTONI
desídia vai depender de cada caso concreto e assim terá que ser analisado.
Não há como estabelecer forma matemática para esse fim”28.
28 MARTINS, Sergio Pinto. Manual da justa causa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 82.
29 § 3º – Para configuração do ilícito administrativo de inassiduidade em razão da
ausência ao serviço por mais de 15 (quinze) dias consecutivos, observar-se-á o seguinte:
1 – serão computados os sábados, os domingos, os feriados e os pontos facultativos subsequentes
à primeira falta; 2 – se o funcionário cumprir a jornada de trabalho sob regime de plantão, além
dos sábados, dos domingos, dos feriados e dos pontos facultativos, serão computados os dias de
folga subsequentes aos plantões a que tenha faltado. (SÃO PAULO, 1968, art. 256).
30 Artigo 16 – Para a configuração do ilícito administrativo de abandono de cargo ou função,
são computados os dias de sábados, domingos, feriados e pontos facultativos.
Parágrafo único – Para os servidores pertencentes às atividades-fim das áreas de saúde,
segurança pública e administração penitenciária que trabalham sob o regime de plantão
são computados, para os fins previstos no “caput”, além dos dias de sábado, domingos,
feriados, pontos facultativos, os dias de folgas subsequentes aos plantões aos quais tenham
faltado. (SÃO PAULO. Decreto n. 52.054, de 14 de agosto de 2007. Dispõe sobre o horário
de trabalho e registro de ponto dos servidores públicos estaduais da Administração Direta e
das Autarquias, consolida a legislação relativa às entradas e saídas no serviço. Diário Oficial
do Estado de São Paulo: seção 1, São Paulo, p. 1, 15 ago. 2007, art. 16).
142
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ERALDO AMERUSO OTTONI
36 Em sua redação original, o artigo 40 dispunha que “no caso de abandono de função, a defesa
cingir-se-á aos motivos de força maior ou coação ilegal” (SÃO PAULO, 1974, art. 40).
O motivo legalmente justificável foi introduzido na Lei n° 10.261/68 pela Lei Complementar
n° 942, de 06 de junho de 2003. A redação original do art. 311 era a seguinte: “Artigo 311 –
No caso de abandono do cargo ou função, instaurado o processo e feita a citação, na forma
dos artigos 272 e 284, comparecendo o indiciado e tomadas as suas declarações, terá ele
o prazo de 5 (cinco) dias para oferecer defesa ou requerer a produção da prova que tiver,
que só podem versar sobre força maior ou coação ilegal” (SÃO PAULO, 1968, art. 311).
37 SÃO PAULO, 2017a, p. 155.
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38 SOGAYAR, Paulo (coord.). Perícia médica: normas e orientações. 2. ed. São Paulo: Imprensa
Oficial do Estado, 1990, p .27.
39 ZAINAGHI, Domingos Sávio. A justa causa no direito do trabalho. 2. ed. São Paulo:
Malheiros, 2001, p. 120.
40 As propostas cujos fundamentos serão elencados foram lançadas em diversos
processos administrativos disciplinares que tramitaram pela PPD, dentre os quais o
GDOC n° 1000726-172912/2015.
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7. CONCLUSÃO
Uma leitura apressada das alterações legais analisadas pode levar
à percepção de que estamos diante de novo ilícito, e que não há mais
punição para o abandono.
Pelo que foi exposto no artigo pensamos que essa percepção não é cor-
reta, na medida em que a simples redução dos prazos de configuração cer-
tamente não implica no surgimento de novo ilícito, pois o elemento objetivo
que o estrutura é rigorosamente o mesmo: a falta injustificada ao trabalho.
A redução dos prazos de contagem tutela com mais rigor o dever de
assiduidade, e esse rigor maior não pode ser entendido como expressão
de uma desconsideração com o servidor; pelo contrário, é o explícito reco-
nhecimento de sua importância para as atividades estatais, na medida em
que sua presença é fundamental para a continuidade do serviço público.
No que toca à alteração da nomenclatura, é bem de ver que, quanto
às faltas intercaladas, houve apenas adoção, pela lei, de um termo já
consagrado pela prática administrativa.
Quanto às faltas consecutivas, a exemplo do antigo abandono,
a atual inassiduidade se configura a partir de um determinado número
de faltas injustificadas em sequência ininterrupta. Essa sequência
ininterrupta de faltas faz ingressar na contagem os sábados, domingos,
feriados etc. intercalados aos dias úteis, agora como antes.
A alteração da nomenclatura, somada à nova redação do art. 311,
da Lei n° 10.261/1968 e do art. 40, da Lei n° 500/1974, é verdadeira-
mente uma reação aos excessos da corrente subjetivista, e tem o propó-
sito de ressignificar a tutela da continuidade do serviço público, para
que não mais fique exclusivamente ancorada na análise de um elemento
subjetivo sobre o qual não há definição nem consenso. Nem por isso, é
óbvio, deixarão de ser consideradas as justificativas apresentadas pelo
servidor faltoso; suas justificativas, porém, devem ser analisadas à luz
das excludentes legais, tal qual delineadas pelo legislador.
Há, sempre, um dever de assiduidade a atender, e nunca um direito
de faltar injustificada e impunemente até um dado limite de dias.
As violações ao dever de assiduidade, em qualquer grau, devem ser repri-
midas pela Administração Pública, e a Procuradoria de Procedimentos
Disciplinares está preparada para bem cumprir suas atribuições.
151
ERALDO AMERUSO OTTONI
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
152
R. Proc. Geral Est. São Paulo, São Paulo, n. 95: 129-154, jan./jun. 2022
153
A PROCURADORIA DE
PROCEDIMENTOS DISCIPLINARES,
A PANDEMIA DA COVID-19 E
A AUDIÊNCIA VIRTUAL
Norberto Oya1
155
NORBERTO OYA
1. INTRODUÇÃO
2 Diário Oficial do Estado de São Paulo (DOE), Poder Executivo, seção I, 31 ago. 2012, p. 1.
3 Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941, Código de Processo Penal; e Lei nº 5.869,
de 11 de janeiro de 1973, sucedida pela Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015, art. 15,
Código de Processo Civil.
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NORBERTO OYA
7 Decreto nº 64.881, de 22 de março de 2020. DOE, Poder Executivo, seção I, 23 mar. 2020, p. 1.
8 Localizada na rua Maria Paula, 172, Bela Vista, São Paulo (SP).
9 Newsletter Mensal da Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo, maio de 2020, edição 4,
volume II, e junho de 2020, edição 5, volume II.
10 O programa utilizado é o Microsoft Teams.
158
R. Proc. Geral Est. São Paulo, São Paulo, n. 95: 155-174, jan./jun. 2022
11 NUSDEO, Marcos Fábio de Oliveira. Apresentação. PGE/SP, uma permanente construção, In:
SCHUBSKY, Cássio (coord.). Advocacia Pública: apontamentos sobre a história da Procuradoria-
Geral do Estado de São Paulo. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2008.
159
NORBERTO OYA
12 STF, Habeas Corpus 174.086/SP, relator ministro Celso de Mello. ARRUDA, Samuel
Miranda. Art. 5º, LXXVIII. In: CANOTILHO, J. J. Gomes; MENDES, Gilmar F.; SARLET,
Ingo W.; STRECK, Lênio L. (coord.). Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo:
Almedina, 2013, p. 507-511.
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6. A VIDEOCONFERÊNCIA
o instrumento da tecnologia da informação e comunicação
que auxilia na fase de colheita de depoimentos é a videoconferência
(que corresponde à transmissão e possível gravação de imagem e som
entre interlocutores que estejam em ambientes distintos, por meio da
rede mundial de computadores), a qual torna possível a audiência virtual.
Nesse ato processual, os personagens da audiência – o responsável por
colher o depoimento, advogado e depoente – podem estar no espaço físico que
melhor atender a seus interesses, seja no mesmo ambiente, seja em locais distintos.
Para a conexão entre essas duas pontas, utiliza-se um programa
tecnológico de videoconferência (como Cisco Webex, Google Meet,
Microsoft Teams, Zoom) por todos os participantes, conectado à rede
mundial de computadores (internet). Esse aplicativo pode ser executado
no computador de mesa, computador portátil, tablet ou aparelho celular.
A videoconferência, como ferramenta eletrônica revolucionária,
é marcante na celeridade, eficiência, racionalização e economicidade da
prestação jurisdicional, traz benefícios a todos os partícipes do processo e
não reduz, em absoluto, as garantias processuais das partes e testemunhas.
O uso desse inovador meio de comunicação à distância em tempos pas-
sados nem era cogitado pela futurologia. Por muito menos, Barbosa Moreira13
assinalou – na época em que as comunicações se davam apenas por escrito –
ser puro sonho pensar na gravação em fita magnética dos depoimentos como
forma de evitar a infidelidade da reprodução das declarações prestadas e
13 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Temas de Direito Processual. Quarta Série. São Paulo:
Saraiva, 1999, p. 152-153.
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NORBERTO OYA
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17 BONICIO, Marcelo José Magalhães. Princípios do processo novo Código de Processo Civil,
São Paulo: Saraiva 2016, p. 203.
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NORBERTO OYA
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R. Proc. Geral Est. São Paulo, São Paulo, n. 95: 155-174, jan./jun. 2022
167
NORBERTO OYA
18 MIRANDA, Pontes de. Democracia, liberdade, igualdade: os três caminhos, 1979, p 329.
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169
NORBERTO OYA
20 MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia. Tomo III. São Paulo: Edições Loyola, 2001,
p. 1.733.
170
R. Proc. Geral Est. São Paulo, São Paulo, n. 95: 155-174, jan./jun. 2022
11. CONCLUSÃO
171
NORBERTO OYA
procedimental consagrado no art. 5º, LIV, da CF, que vem a ser a exigên-
cia da observância das garantias processuais (contraditório, ampla defesa
efetiva, duração razoável do processo etc.), além da liberdade de expressão
de acusado e testemunha. Portanto beneficia todos os partícipes do processo.
REFERÊNCIAS BIBLIPGRÁFICAS
172
R. Proc. Geral Est. São Paulo, São Paulo, n. 95: 155-174, jan./jun. 2022
173
PECULIARIDADES DA
DILAÇÃO PROBATÓRIA
NOS PROCEDIMENTOS
ADMINISTRATIVOS DISCIPLINARES
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1. INTRODUÇÃO
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8 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 26. ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 800.
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16 BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça (6. Turma). Habeas Corpus 259930/RJ. Sucedâneo
do Recurso Ordinário. Inadmissibilidade. Homicídio qualificado. Inquérito policial.
Reinquirição de testemunhas. Ausência de intimação da defesa. Nulidade. Inexistência.
Natureza inquisitiva. Contraditório e ampla defesa. Observância. Desnecessidade.
Impetrante: Dominique Sander Leal Guerra. Impetrado: Tribunal de Justiça do Estado do
Rio de Janeiro. Relator: Min. Sebastião Reis Júnior, 14 de maio de 2013. Diário da Justiça
eletrônico, Brasília, DF, 23 maio 2013.
17 DI PIETRO, op. cit., p. 700.
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RENÉ ZAMLUTTI JÚNIOR
18 BACELLAR FILHO, Romeu Felipe. Processo administrativo disciplinar. 3. ed. São Paulo:
Saraiva, 2012, p. 242.
19 SÃO PAULO, op. cit., art. 278.
20 Ibidem, art. 282.
21 Ibidem, art. 282, § 3º.
22 Ibidem, art. 282, § 4º.
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27 Embora pareça pouco provável que uma conduta tipificável como crime possa levar à
instauração de uma sindicância e não de um processo administrativo disciplinar, tal hipótese
não se afigura tão improvável. Um crime de injúria, por exemplo, pode levar a uma ação
penal de natureza privada e a uma sindicância. Do mesmo modo, eventuais contravenções
penais praticadas na esfera da vida privada do servidor podem não se revestir de gravidade
suficiente, do ponto de vista funcional, para fundamentar a instauração de um processo
administrativo disciplinar, ensejando, no entanto, a instauração de uma sindicância.
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em seu artigo 125, que “as sanções civis, penais e administrativas pode-
rão cumular-se, sendo independentes entre si”31.
As normas epigrafadas deixam claro, ainda, que a independência
entre as instâncias é relativa e não absoluta. São esclarecedoras, sobre o
tema, as seguintes considerações de José Armando da Costa:
Conquanto prevaleça, em regra, a noção da autonomia das instâncias,
como aludido acima, vale assinalar que, em hipóteses especiais – como
bem deixam entender as normas legais referias no item anterior – a decisão
penal definitiva faz coisa julgada nas instâncias civil e disciplinar, o que
não ocorre no sentido reverso, isto é, os decisórios dessas vertentes,
em circunstância alguma, poderão constituir prejudicial naquele juízo.
Quais, então, as razões pré-jurídicas ou extrajurídicas que conferem
essa especial posição de supremacia ao juízo penal?
Dentre outros motivos de igual ou superior peso, destacam-se os seguintes:
a) O princípio de ordem pública que, sem sombra de dúvidas, é bem
mais presente e intenso na matéria penal do que nas questões civis ou
administrativas (em que se incluem as de natureza disciplinar);
b) Maior gravidade, pelo menos em princípio, das consequências oriundas
da instância penal;
c) O juízo penal, em matéria de instrução e prova, é bem mais exigente
do que as instâncias aludidas.32
Essa relatividade da independência entre as instâncias é, também,
demonstrada pelo que determina o § 2º do artigo 250 da Lei nº 10.261/68:
§ 2º – Será reintegrado ao serviço público, no cargo que ocupava e com
todos os direitos e vantagens devidas, o servidor absolvido pela Justiça,
mediante simples comprovação do trânsito em julgado de decisão que ne-
gue a existência de sua autoria ou do fato que deu origem à sua demissão.33
31 BRASIL. Lei n. 8.112 de 11 de dezembro de 1990. Dispõe sobre regime jurídico dos
servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais. Diário
Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, p. 1, 19 abr. 1991, art. 125.
32 COSTA, José Armando. Controle judicial do ato disciplinar. 2. ed. São Paulo: Método,
2009, p. 232-233.
33 SÃO PAULO, op. cit., art. 250.
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193
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36 Ibidem.
37 COSTA, op. cit., p. 233.
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38 BRASIL, 2021.
39 SÃO PAULO, op. cit., art. 241, inc. XII e XIV.
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41 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula n. 18. Pela falta residual, não compreendida na
absolvição pelo juízo criminal, é admissível a punição administrativa do servidor público.
In: Súmula da Jurisprudência Predominante do Supremo Tribunal Federal – Anexo ao
Regimento Interno. Brasília, DF: Imprensa Nacional, 1964a, p. 38.
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RENÉ ZAMLUTTI JÚNIOR
3. CONCLUSÃO
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R. Proc. Geral Est. São Paulo, São Paulo, n. 95: 175-202, jan./jun. 2022
199
RENÉ ZAMLUTTI JÚNIOR
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
200
R. Proc. Geral Est. São Paulo, São Paulo, n. 95: 175-202, jan./jun. 2022
201
RENÉ ZAMLUTTI JÚNIOR
202
DA OITIVA DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES NO PROCESSO
ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR.
CONSIDERAÇÕES SOBRE
FALSAS MEMÓRIAS
203
KRISTINA YASSUKO IHA KIAN WANDALSEN
1. INTRODUÇÃO
204
R. Proc. Geral Est. São Paulo, São Paulo, n. 95: 203-224, jan./jun. 2022
205
KRISTINA YASSUKO IHA KIAN WANDALSEN
bem como sua reputação ou fama. […] Ninguém sabe onde e a que
hora o crime vai eclodir. Tanto pode ser nas vias públicas, nos palácios,
nos ministérios, como nas zonas licenciosas da cidade. Por isso nenhuma
restrição quanto à capacidade para depor.5
É natural que quase todos os fatos da vida sejam percebidos por al-
guém, o que faz da prova testemunhal a prova por excelência. Nesse sentido,
a lição de Magalhães Noronha6, ao discorrer sobre a prova testemunhal:
“Como quer que seja, máxime no processo penal, é ela a prova por
excelência. O crime é um fato, é um trecho da vida e, consequentemente,
é, em regra, percebido por outrem”7.
Ocorre que essa percepção do “trecho da vida”, como adiante se
verá, não armazena as imagens sob a forma de fotografias fac-similares
de coisas, de acontecimentos, de palavras ou frases, pois, como aponta
Damásio, “sempre que recordamos um dado objeto, um rosto ou uma
cena, não obtemos uma reprodução exata, mas antes uma interpretação,
uma nova versão reconstruída do original”8. Logo, pressupor que a me-
mória funciona como uma reprodução fiel da realidade é um engano.
Ao tratar da prova testemunhal, Fernandes9 alerta que a premissa
da qual se deve partir é a de que os sujeitos processuais, ao lidarem
com declarações de testemunho, não estão em contato com o evento
fático em si, mas sim, em verdade, com uma memória que o depoente
tem sobre o evento, “pois a testemunha não possui a capacidade de te-
letransportar os atores jurídicos à cena do crime presenciada, que pode
ter ocorrido inclusive há lapso temporal considerável do momento do
resgate da memória vivida”10.
206
R. Proc. Geral Est. São Paulo, São Paulo, n. 95: 203-224, jan./jun. 2022
207
KRISTINA YASSUKO IHA KIAN WANDALSEN
12 Ibidem, p. 2.
13 TOURINHO FILHO, op. cit., p. 687.
208
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16 Art. 4º. Para os efeitos desta Lei, sem prejuízo da tipificação das condutas criminosas,
são formas de violência:
I – violência física, entendida como a ação infligida à criança ou ao adolescente que ofenda
sua integridade ou saúde corporal ou que lhe cause sofrimento físico;
II – violência psicológica:
a) qualquer conduta de discriminação, depreciação ou desrespeito em relação à criança ou
ao adolescente mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento,
agressão verbal e xingamento, ridicularização, indiferença, exploração ou intimidação
sistemática (bullying) que possa comprometer seu desenvolvimento psíquico ou emocional;
b) o ato de alienação parental, assim entendido como a interferência na formação psicológica
da criança ou do adolescente, promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou
por quem os tenha sob sua autoridade, guarda ou vigilância, que leve ao repúdio de genitor
ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculo com este;
c) qualquer conduta que exponha a criança ou o adolescente, direta ou indiretamente,
a crime violento contra membro de sua família ou de sua rede de apoio, independentemente
do ambiente em que cometido, particularmente quando isto a torna testemunha;
III – violência sexual, entendida como qualquer conduta que constranja a criança ou o
adolescente a praticar ou presenciar conjunção carnal ou qualquer outro ato libidinoso,
inclusive exposição do corpo em foto ou vídeo por meio eletrônico ou não, que compreenda:
a) abuso sexual, entendido como toda ação que se utiliza da criança ou do adolescente para
fins sexuais, seja conjunção carnal ou outro ato libidinoso, realizado de modo presencial ou
por meio eletrônico, para estimulação sexual do agente ou de terceiro;
b) exploração sexual comercial, entendida como o uso da criança ou do adolescente em
atividade sexual em troca de remuneração ou qualquer outra forma de compensação,
de forma independente ou sob patrocínio, apoio ou incentivo de terceiro, seja de modo
presencial ou por meio eletrônico;
c) tráfico de pessoas, entendido como o recrutamento, o transporte, a transferência,
o alojamento ou o acolhimento da criança ou do adolescente, dentro do território nacional ou
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para o estrangeiro, com o fim de exploração sexual, mediante ameaça, uso de força ou outra
forma de coação, rapto, fraude, engano, abuso de autoridade, aproveitamento de situação de
vulnerabilidade ou entrega ou aceitação de pagamento, entre os casos previstos na legislação;
IV – violência institucional, entendida como a praticada por instituição pública ou
conveniada, inclusive quando gerar revitimização.
§ 1º. Para os efeitos desta Lei, a criança e o adolescente serão ouvidos sobre a situação de
violência por meio de escuta especializada e depoimento especial.
§ 2º. Os órgãos de saúde, assistência social, educação, segurança pública e justiça adotarão
os procedimentos necessários por ocasião da revelação espontânea da violência.
§ 3º. Na hipótese de revelação espontânea da violência, a criança e o adolescente serão
chamados a confirmar os fatos na forma especificada no § 1º deste artigo, salvo em caso de
intervenções de saúde.
§ 4º. O não cumprimento do disposto nesta Lei implicará a aplicação das sanções
previstas na Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente)
(BRASIL. Lei nº 13.431 de 4 de abril de 2017. Estabelece o sistema de garantia dos direitos
da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência e altera a lei nº 8.069, de 13
de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). Diário Oficial da União: seção 1,
Brasília, DF, p. 1-3, 5 abr. 2017, p. 1.
17 DIGIÁCOMO, Murillo José; DIGIÁCOMO, Eduardo. Comentários à lei n° 13.431/2017.
Curitiba: Ministério Público do Estado do Paraná, 2018.
211
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18 ZAPATER, Maíra. Direito da criança e do adolescente. São Paulo: Saraiva, 2019, p. 301.
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33 ÁVILA, Gustavo Noronha. Falsas memórias e sistema penal: a prova testemunhal em xeque.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013, p. 104.
34 SACKS, Oliver. O rio da consciência. São Paulo: Companhia das Letras, 2017, p. 90-91.
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6. CONCLUSÃO
38 Ibidem, p. 122.
39 LOFTUS, 2005 apud FERNANDES, op. cit., p. 231.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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O ASSÉDIO SEXUAL COMO
INFRAÇÃO DISCIPLINAR
1. INTRODUÇÃO
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3 PAES, Fabiana Dal’mas Rocha. Entenda as discussões sobre o feminismo nos cenários
nacional e internacional. Poder 360, Brasília, DF, 5 fev. 2018. Disponível em: https://www.
poder360.com.br/opiniao/entenda-as-discussoes-sobre-o-feminismo-no-cenario-nacional-e-
internacional/. Acesso em: 30 jun. 2022.
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negra, colocá-la como objeto sexual, como lasciva […]. São tão de-
sumanizadas que até a violência contra elas de alguma forma se quer
justificar. Se eu luto contra o machismo, mas ignoro o racismo, eu estou
alimentando a mesma estrutura […].5
Desse modo, os “excluídos” e que se tornam os “desiguais”, dentro desse
contexto, são todos aqueles que fogem do padrão social relacionado à titu-
laridade do poder, ou seja, todos cujos corpos não têm seus espaços sociais
garantidos para o pleno exercício de seus direitos com liberdade. Conforme já
exposto, ao excluir grupos de pessoas ao acesso de direitos, alimenta-se
a desigualdade e mantém-se um sistema de privilégios. Assim, a mulher,
dentro dessa cadeia de privilégios e submetida aos marcadores de violência
nos espaços públicos e privados, sempre estará submetida a um processo de
desigualdade, por conseguinte, a mulher negra sofrerá mais.
Por isso tudo, para entender a desigualdade de gêneros e seus refle-
xos na violência contra a mulher, se faz necessário entender que houve
uma construção histórica da inferioridade das mulheres.
Na antiguidade clássica, as mulheres não tiveram acesso aos
mecanismos que transformaram a humanidade. No Egito antigo
(4.000 a. c.-476 d. c.), as mulheres não tinham acesso à escrita e ficaram
à margem na produção do conhecimento, tinham a única função de cons-
tituir família e podiam ser vendidas ou trocadas como objetos. Na Grécia
antiga, também não tinham acesso à educação, nem participavam do
debate político, ficando restritas exclusivamente ao ambiente doméstico.
O período medieval foi dominado pelo poder da Igreja Católica e as
mulheres sofreram perseguições e foram exterminadas pela Inquisição.
Silvia Chakian ressalta a crença de que a existência de feitiçaria estava
diretamente ligada à natureza feminina, de modo que as mulheres passaram a
ser vistas como perigosas, perversas e inimigas. A partir daí, deflagrou-se a era
de perseguição às mulheres, ou “caça às bruxas” que durou quatro séculos6.
5 RIBEIRO, Djamila. “É preciso discutir por que a mulher negra é a maior vítima de estupro
no Brasil”. [Entrevista cedida a] Marina Novaes. El País, São Paulo, 23 jul. 2016. Disponível
em: https://brasil.elpais.com/brasil/2016/07/14/politica/1468512046_029192.html. Acesso
em: 30 jun. 2022.
6 CHAKIAN, Silvia. A construção dos direitos das mulheres: histórico, limites e diretrizes
para uma proteção penal eficiente. Rio de Janeiro: Lumen Juris Editora, 2019.
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não previu uma proteção específica para as mulheres, nem fixou diretri-
zes para minimizar a desigualdade entre os gêneros.
Os direitos das mulheres foram, pela primeira vez, expressamente
reconhecidos como direitos humanos na Conferência Mundial de
Direitos Humanos, em 1993. Antes, tivemos dois importantes instrumen-
tos jurídicos: a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra a Mulher (em dezembro de 1979 e ratificada pelo
Brasil em fevereiro de 1984) e a Convenção Interamericana para Prevenir,
Punir e Erradicar a violência contra a mulher – Convenção de Belém do
Pará (em junho de 1994 e ratificada pelo Brasil em novembro de 1995).
Até pouco tempo, os atos de violência contra as mulheres,
em particular a violência doméstica, sequer eram considerados como
violações aos direitos humanos, isso porque os direitos humanos eram
vistos apenas como tendentes a prevenir e coibir a violência exercida
pelo Estado contra os cidadãos.
A evolução histórica dos direitos das mulheres no Brasil chegou a
passos lentos. O direito ao voto feminino só foi conquistado em 1932.
Até 1962, as mulheres eram consideradas incapazes, o que significava,
entre outras coisas, a necessidade de autorização do marido para traba-
lhar, alienar bens e ter a guarda dos filhos. Somente em 1977, a mulher
brasileira pôde ter a opção de adotar ou não o nome do marido ao
contrair casamento. A igualdade de direitos entre homens e mulhe-
res somente foi legalmente reconhecida em 1988, com a promulgação
da atual Constituição Federal. E só tivemos uma lei específica tratando
de violência doméstica em 2006 (Lei Maria da Penha). O assédio sexual
praticado por superior hierárquico somente foi criminalizado em 2001
(Lei nº 10.224/2001) e a Importunação Sexual foi tipificada em 2008.
Fato incontroverso é que o exercício pleno de direitos nunca foi concedido
para todos. Homens, brancos, heterossexuais, cisgêneros, durante séculos foram
os titulares do poder e, portanto, durante toda a história, decidiram quais
corpos valem mais do que outros e quais espaços podem ocupar.
O sistema que sustenta a sociedade e garante o exercício do poder
é formado para garantir a manutenção de privilégios; nesta estrutura
patriarcal, branca e cisgênera, os espaços a serem ocupados não são igua-
litários e a violência sempre foi utilizada como um sistema de controle.
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11 CRELIER, Cristiane. Uma em cada cinco estudantes já sofreu violência sexual. Agência IBGE
Notícias, Brasília, DF, 10 set. 2021. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/
agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/31579-uma-em-cada-cinco-estudantes-
ja-sofreu-violencia-sexual. Acesso em: 30 jun. 2022.
12 CHAKIAN, op. cit., p. 235.
13 A Convenção nº 190 foi adotada na Conferência Internacional da OIT em 21 de junho de
2019 e entrou em vigor em 25 de junho de 2021, já foi ratificada por dez países. O Brasil até
a conclusão deste artigo não a havia ratificado.
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significa que não exista assédio sexual, fora da definição dada pelo Direito
Penal. O assédio, para fins trabalhistas ou administrativos disciplinares,
não está apenas circunscrito às posições de chefia ou comando, é constitu-
ído por constrangimentos, incômodos, ameaças que constrangem a vítima
dentro ou fora (mas decorrente do labor) do seu ambiente de trabalho.
Para além das posições hierárquicas de chefe e subordinado,
a jurisprudência tem se posicionado no sentido de ser possível a confi-
guração do crime de assédio sexual, também na relação entre professor
e aluno, por estarem presentes as duas condições exigidas na norma
penal: hierarquia e ato praticado ser inerente ao exercício de emprego,
no caso o magistério.
Nesse diapasão, destaco a decisão proferida pelo Superior Tribunal
de Justiça:
Recurso especial. Assédio sexual. Art. 216-A, § 2º, do CP. Súmula
n. 7 do STJ. Não aplicação. Palavra da vítima. Harmonia com demais
provas. Relação professor-aluno. Incidência. Recurso especial conheci-
do e não provido.
1. Não se aplica o enunciado sumular n. 7 do STJ nas hipóteses em que
os fatos são devidamente delineados no voto condutor do acórdão recor-
rido e sobre eles não há controvérsia. Na espécie, o debate se resume à
aplicação jurídica do art. 216-A, § 2º, do CP aos casos de assédio sexual
por parte de professor contra aluna. 2. O depoimento de vítima de crime
sexual não se caracteriza como frágil, para comprovação do fato típico,
porquanto, de acordo com a jurisprudência deste Tribunal Superior,
a palavra da ofendida, nos delitos sexuais, comumente praticados às
ocultas, possui especial relevância, desde que esteja em consonância com
as demais provas que instruem o feito, situação que ocorreu nos autos.
3. Insere-se no tipo penal de assédio sexual a conduta de professor que,
em ambiente de sala de aula, aproxima-se de aluna e, com intuito de obter
vantagem ou favorecimento sexual, toca partes de seu corpo (barriga e
seios), por ser propósito do legislador penal punir aquele que se preva-
lece de sua autoridade moral e intelectual – dado que o docente natu-
ralmente suscita reverência e vulnerabilidade e, não raro, alcança auto-
ridade paternal – para auferir a vantagem de natureza sexual, pois o
vínculo de confiança e admiração criado entre aluno e mestre implica
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Para Bitencourt:
A liberdade sexual, entendida como a faculdade individual de escolher li-
vremente não apenas o parceiro ou parceira sexual, como também quando,
onde e como exercitá-la, constitui um bem jurídico autônomo, independente,
distinto da liberdade geral, com idoneidade para receber, autonomamente,
a proteção penal. No entanto, reconhecemos a importância de existir um
contexto valorativo de regras (não jurídicas) que discipline o comportamento
sexual nas relações interpessoais, pois estabelecerá os parâmetros de postura
e de liberdade de hábitos, como uma espécie de cultura comportamental,
que reconhece a autonomia da vontade para deliberar sobre o exercício da
liberdade sexual de cada um e de todos, livremente.
Pois é exatamente esse contexto valorativo de regras (normas não
jurídicas) que disciplina o comportamento sexual nas relações
interpessoais e estabelece os parâmetros de postura e de liberdade de
hábitos, como uma espécie de cultura comportamental, que reconhece
a autonomia da vontade para deliberar sobre o exercício da liberdade
sexual de cada um e de todos, livremente. É esse contexto normativo
cultural que estabelece os limites toleráveis de nosso comportamen-
to social sexual e nos recomenda respeitar a liberdade do outro,
que tem o direito de preservar a sua privacidade, liberdade e dignidade
sexuais, as quais, sendo desrespeitadas, transformam seus violadores
em verdadeiros infratores penais, devendo responder criminalmente
pela violação desses bens jurídicos sagrados e consagrados na própria
Constituição Federal. Por isso, sua violação constitui crime não apenas
contra a liberdade sexual – livre direito de escolha –, como também
contra a própria dignidade sexual, que é maior e mais abrangente, aliás,
tanto que abrange a própria dignidade humana.26
Assim, é o caso do crime de “stalking” ou perseguição, disposto
no artigo 147A do Código Penal (introduzido pela Lei nº 10.132/21),
que pune a conduta de quem perseguir alguém, reiteradamente e por
qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica,
restringindo-lhe a capacidade de locomoção, ou, de qualquer forma,
invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade.
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29 Ibidem, art. 7.
30 SÃO PAULO. Decreto nº 63.251 de 8 de março de 2018. Disciplina a instauração e
o processamento de apuração preliminar na hipótese de assédio sexual praticado por
agente público no âmbito da Administração Pública Estadual. Diário Oficial do Estado de
São Paulo: seção 1, São Paulo, p. 1, 9 mar. 2018, art. 1º.
243
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(Lei nº 10.261/1968) descreve no artigo 241, inc. VI, inc. XII, inc. XIII
e inc. XIV e art. 256, inc. II, condutas que perfeitamente se encaixam
como prática de assédio no serviço público.
O artigo 241 determina quais são os deveres dos servidores estatuais
estatutários, que entre outros, constam: tratar com urbanidade os colegas
de trabalho e as partes (inciso VI), cooperar e manter um ambiente solidário
no trabalho (artigo XII), estar em dia com leis, regulamentos, regimentos,
instruções e ordens de serviço (inciso XIII) e proceder na vida pública e privada
de modo que dignifique a função pública (inciso XIV), bem como preservação
da moralidade administrativa. Também constitui como procedimento irregular
de natureza grave (artigo 256, inc. I), estando sujeito à pena de demissão.
No caso de empregado público, submetido às normas da
Consolidação das Leis do Trabalho, o assédio sexual constitui-se causa
para a justa causa nos termos do artigo 482, inciso b, pois configura
incontinência de conduta.
No que tange à tipificação do ato como causa para a rescisão do
contrato de trabalho por justa causa, destacamos os seguintes julgados:
Assédio sexual. Tipificação como incontinência de conduta. Requisi-
tos. O assédio grosseiro, rude e desrespeitoso, concretizado em pala-
vras ou gestos agressivos, já fere a civilidade mínima que o homem
deve à mulher, principalmente em ambientes sociais de dinâmica ro-
tineira e obrigatória. É que nesses ambientes (trabalho, clube, etc.),
o constrangimento moral provocado é maior, por não poder a vítima
desvencilhar-se definitivamente do agressor.31
Constitui justa causa o assédio entre colegas de trabalho, quando a um
deles causa constrangimento, é repelido, descambando o outro para a
vulgaridade e ameaças, em típica má conduta.32
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33 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 16. ed. São Paulo: LTr, 2017,
p. 1394.
34 BRASIL. Consolidação das leis do trabalho – CLT e normas correlatas. Brasília, DF: Senado
Federal, 2017, p. 35, art. 157, inc. I.
35 SÃO PAULO. Lei nº 10.261 de 28 de outubro de 1968. Dispõe sobre o Estatuto dos
Funcionários Públicos Civis do Estado. Diário Oficial do Estado de São Paulo: seção 1,
São Paulo, p. 2-8, 29 out. 1968, art. 264.
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44 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5. Turma). Agravo Regimental no Agravo em Recurso
Especial 1594445/SP. Agravante: I dos S. Agravado: Ministério Público do Estado de
São Paulo; Agravado: I C F dos S (menor). Relator: Ministro Reynaldo Soares da Fonseca,
6 de fevereiro de 2020. Diário da Justiça eletrônico, 14 fev. 2020.
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45 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5. Turma). Agravo Regimental no Agravo em Recurso
Especial 727704/PR. Relator: Ministro Jorge Mussi 7 de junho de 2016. Diário da Justiça
eletrônico, 13 jun. 2016.
46 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho 2ª Região (10. Turma). Recurso Ordinário
20000383150/SP. Recorrente: MBR comércio de calçados LTDA. Recorrido: Darlene
Barbosa Vieira. Relatora: Juíza Vera Marta Publio Dias, 14 de agosto de 2001. TRT-2,
31 ago. 2001b.
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47 OSÓRIO, Fábio Medina. Direito administrativo sancionador. 7. ed. São Paulo: Thomson
Reuters Brasil, 2020, p. 269.
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9. CONCLUSÃO
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tipificado como crime, conforme explanado neste artigo, mas também como
infração disciplinar, já que se constitui como ofensa aos deveres funcionais.
Por outro lado, entendemos que é necessária a adoção de medidas
não somente para apurar e tornar possível a punição de assediadores,
pois, como vimos, trata-se de um fenômeno estrutural, que não será
modificado apenas por soluções punitivistas, é preciso mais.
Entendemos que o Estado deva atuar, também, no aperfeiçoamento
das políticas públicas que garantam a educação, a informação aos
agentes públicos e a prevenção do assédio sexual no serviço público,
bem como na criação de estruturas de acolhimento que assegurem que as
mulheres/vítimas tenham acesso a canais de denúncia e, posteriormente,
encontrem pontos de apoio em seus locais de trabalho, de estudo ou de
atendimento ao cidadão.
Em suma, a prevenção e o combate ao assédio sexual devem ser um
compromisso da Administração Pública, pois é o modo de atingirmos
a igualdade de direitos entre homens e mulheres e, consequentemente,
construirmos uma sociedade mais justa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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MARGARETE GONÇALVES PEDROSO
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R. Proc. Geral Est. São Paulo, São Paulo, n. 95: 225-258, jan./jun. 2022
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REPERCUSSÕES DA NOVA LEI DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
NOS PROCESSOS ADMINISTRATIVOS
DISCIPLINARES: ANÁLISE DOUTRINÁRIA
E DAS JURISPRUDÊNCIAS
ADMINISTRATIVA E PRETORIANA
259
MELISSA DI LASCIO SAMPAIO E SUZANE RAMOS ROSA ESTEVES
1. INTRODUÇÃO
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R. Proc. Geral Est. São Paulo, São Paulo, n. 95: 259-300, jan./jun. 2022
261
MELISSA DI LASCIO SAMPAIO E SUZANE RAMOS ROSA ESTEVES
262
R. Proc. Geral Est. São Paulo, São Paulo, n. 95: 259-300, jan./jun. 2022
263
MELISSA DI LASCIO SAMPAIO E SUZANE RAMOS ROSA ESTEVES
264
R. Proc. Geral Est. São Paulo, São Paulo, n. 95: 259-300, jan./jun. 2022
5 SÃO PAULO. Parecer PA-3 nº 43/2002. São Paulo: Procuradoria-Geral do Estado, 2002,
grifos do autor.
6 De acordo com a lição de Vivian Maria Pereira Ferreira: “Em uma proposta
de sistematização dogmática do conceito, o autor sugere a existência de duas
‘moralidades’ distintas, protegidas pelo ordenamento jurídico brasileiro. A primeira
delas, prevista no art. 5º da CF/1988, refere-se à legalidade interna do ato praticado
pelo agente público, em relação ao qual seria necessário perquirir eventual desvio
de finalidade. Ou seja, o controle de legalidade do ato pode se dar a partir de sua
legalidade externa – em razão da existência de vícios de incompetência, procedimento
ou forma – ou da sua legalidade interna – diante de vícios de conteúdo, de motivos e de intenção.
E, justamente, ao controlar a legalidade interna do ato é que se investigam os desvios de
finalidade, como forma de proteção da moralidade (GIACOMUZZI, 2002, p. 298-299).
Já a segunda moralidade está prevista no art. 37 da CF/1988 e tem por função veicular ao
Direito Público o princípio da boa-fé, que é tanto objetiva, consubstanciada na proteção
da confiança, quanto subjetiva, materializada na vedação e na repressão da improbidade
administrativa (GIACOMUZZI, 2002, p. 300-301). A distinção é útil, pois fornece uma
base mais sólida para a compreensão da LIA como integrante de um sistema normativo de
proteção da moralidade administrativa, por meio do controle da boa-fé subjetiva daqueles
que integram ou contratam com o Poder Público. […] As sanções associadas às condutas
tidas como ímprobas têm cunho punitivo e revestem-se de especial gravidade, podendo
resultar até mesmo na suspensão dos direitos políticos do cidadão, que fica, portanto,
impedido de votar e ser votado. Em razão disso, parte da doutrina administrativa vem
aproximando esse conjunto de normas do Direito Penal, informada pela necessidade de
se garantir ao acusado o respeito aos seus direitos fundamentais e as garantias da ampla
defesa e contraditório (GARCIA; ALVES, 2014, p. 431; COSTA, 2014, p. 112; NEISSER,
2018, p. 103-104). Um dos princípios norteadores do Direito Penal, que, de maneira
geral, vem se admitindo ter aplicação no campo da improbidade administrativa, por seu
caráter sancionador, é o princípio da culpabilidade, segundo o qual a punição de qualquer
pessoa depende da sua atuação com dolo ou culpa. Assim, a LIA prevê apenas hipóteses
de responsabilidade subjetiva, sendo impossível a responsabilização do agente público
(NEISSER, 2018, p. 71; CARVALHO FILHO, 2018, p. 1.157; JUSTEN FILHO, 2016,
p. 948-949; DI PIETRO, 2017, p. 1023-1024). Assim, não bastaria a existência de nexo
causal entre o ato e o resultado delitivo, sendo fundamental o exame da subjetividade do
agente” (FERREIRA, Vivian Maria Pereira. O dolo da improbidade administrativa: uma
265
MELISSA DI LASCIO SAMPAIO E SUZANE RAMOS ROSA ESTEVES
busca racional pelo elemento subjetivo na violação aos princípios da Administração pública.
Revista Direito GV, São Paulo, v. 15, n. 3, 2019, p. 7-9).
7 “PROCESSUAL CIVIL.ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.AGRAVO
INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. SUPOSTA VIOLAÇÃO AOS ARTS. 128 E 460 DO
CPC/1973. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO CONFIGURADO. SÚMULA 83/STJ.
NÃO OCORRÊNCIA. ART. 515 DO CPC/1973. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA.
SÚMULA 211/STJ.ALEGADA AFRONTA AO ART. 535 DO CPC/1973. NÃO OCORRÊNCIA.
INOVAÇÃO DE TESE RECURSAL. IMPOSSIBILIDADE. CONTRATO BANCÁRIO
CELEBRADO ENTRE O MUNICÍPIO E A INSTITUIÇÃO FINANCEIRA, SEM PRÉVIO
PROCESSO LICITATÓRIO. DANO IN RE IPSA. DOLO. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICA.
IMPOSSIBILIDADE. 1. É firme o entendimento desta Corte no sentido de que ‘não há que se
falar em julgamento extra petita na hipótese de decisão que enquadra o ato de improbidade
em dispositivo diverso do indicado na inicial, pois a defesa atém-se aos fatos, cabendo ao juiz
a sua qualificação jurídica’ (AgInt no REsp 1.618.478/PB, Rel. ministra Regina Helena Costa,
Primeira Turma, DJe 19/6/2017). Incidência da Súmula 83/STJ. […] 6. É pacífica nesta Corte a
orientação no sentido de que ‘o elemento subjetivo, necessário à configuração de improbidade
administrativa censurada nos termos do art. 11 da Lei n° 8.429/1992, é o dolo genérico de
realizar conduta que atente contra os princípios da Administração Pública, não se exigindo
a presença de dolo específico’ (REsp 951.389/SC, Rel. ministro Herman Benjamin, Primeira
Seção, DJe 4/5/2011). 7. Caso concreto em que a revisão do entendimento firmado pelo
Tribunal de origem acerca da existência de conduta dolosa da parte ora agravante demandaria
o reexame de matéria fática, o que esbarra no óbice da Súmula 7/STJ. Nesse sentido: AgInt no
REsp 1.676.613/MG, Rel. ministra Regina Helena Costa, Primeira Turma, DJe 16/11/2017.
8. Agravo interno não provido”. (AgInt no REsp 1580393/RJ, Rel. ministro Sérgio Kukina,
Primeira Turma, julgado em 23/11/2021, DJe 17/12/2021).
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8 Cumpre anotar que parte da doutrina, antes mesmo dos debates da Nova Lei, defendia
que a improbidade administrativa era incompatível com a conduta culposa: “No caso
de improbidade administrativa, tendo em vista que o mesmo é caraterizado pela desonestidade
do agente, é imprescindível para a configuração da ofensa à probidade que haja uma
conduta dolosa, ou seja, que o agente tenha por objetivo uma conduta que é contrária à
moralidade administrativa. Tal raciocínio aplica-se a todas as capitulações da LIA, não se
admitindo a configuração da improbidade administrativa por culpa, mesmo que grave.
A culpa somente caracteriza um ato ilícito quando a conduta prevista pelo agente tem
um objetivo lícito e, no caminho escolhido para alcançar tal objetivo, por imprudência,
negligência ou imperícia do agente, ficar materializado um resultado ilícito perante a ordem
jurídica. No caso de improbidade administrativa, isso não ocorre, haja vista que não existe
desonestidade culposa. O direito comporta várias formas de adequação do comportamento
humano às necessidades da convivência social, de sorte que o fato de a conduta culposa não
configurar improbidade administrativa não implica que o agente não seja obrigado a ressarcir
o dano ou que não possa sofrer outras consequências jurídicas, até mesmo a demissão, devido
à ação culposa que ofende a norma jurídica” (ARÊDES, Sirlene. Responsabilização do agente
público: individualização da sanção por ato de improbidade administrativa. Belo Horizonte:
Fórum, 2012, p. 99-100).
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10 “Embora haja, como aponta Cino Vita, uma plêiade de renomados autores que
sustentam a absoluta afinidade entre o Direito Disciplinar e o penal (tais como: Mittermayer,
Mayer, Von Bar, Seydel, Zorn, Hariou, Jèze, Vaccheli, Presutti e Cammeo), despontam com
exuberante evidência substanciais distinções entre os ilícitos penal e disciplinar. Conquanto
haja certa aproximação conceitual entre o Direito Penal e o Direito Disciplinar, vale destacar
que são bem distintas essas duas categorias de ilicitude – ainda que ambas pertençam
ao gênero jurídico do direito punitivo geral. Este, por constituir matéria de reserva de lei,
se sujeita a certas exigências, a saber: a) observância da garantia constitucional do devido
processo legal; b) somente admite interpretação escrita; c) não comporta analogia,
a não ser para beneficiar o acusado; e d) observância do princípio da proporcionalidade
ou da razoabilidade […]. Destaquem-se, ainda, essas diferenciações: a) o ilícito penal
é rigorosamente típico, devendo estar previamente definido em lei (no sentido formal),
enquanto o ilícito disciplinar, nem sempre, exige anterior definição legal, a não ser nos
casos de punições mais severas; b) requer a infração penal que haja entre a discriminação
da lei (tipo penal) e a conduta do agente quase absoluta correspondência, ao passo que
a transgressão disciplinar necessita apenas de que haja entre a hipótese descrita na norma
e a conduta do servidor faltoso uma certa aproximação; c) a infração penal contraria todo
o corpo social da comunidade em que ocorreu; já a falta disciplinar afeta tão somente
o círculo funcional a que pertence o funcionário transgressor; d) para o comportamento
delituoso a lei, em princípio, comina pena muito mais grave do que para a conduta que
transgride a ordem disciplinar do serviço público; e) o procedimento investigatório do ilícito
penal é bem mais complexo e formal do que o apuramento das infrações disciplinares;
f) finalmente acentue-se que a infração penal é apreciada e decidida pelo órgão judicial
(com as garantias da vitaliciedade, da inamovibilidade e irredutibilidade de vencimento);
g) enquanto a falta disciplinar é apurada e sancionada pela própria administração, cujos
componentes não têm as mesmas garantias dos membros da magistratura, não dispondo,
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regido pelo texto original do artigo 261, parágrafo único, da Lei Estadual
nº 10.261/1968. Nessa hipótese, a aplicação imediata da lei não poderá
alterar a situação jurídica já consolidada com a edição da Portaria,
qual seja, a interrupção do prazo prescricional.
44. Nas situações em que a Portaria da Sindicância ou do Processo
Administrativo Disciplinar é posterior à LCE nº 942/2003, devem ser
consideradas para computo do termo inicial do prazo prescricional as
regras da lei nova, consubstanciadas na redação dada ao artigo 261,
§ 1º,‘1’ e ‘2’, da Lei nº 10.261/68, pela LCE nº 942/2003.
Muitos anos após a edição dos Pareceres PA nº 257 e 306, ambos
de 2003, o tema foi novamente objeto de análise pela Especializada, no
bojo do Parecer PA nº 129/201120, reafirmando-se, a latere, a mesma tese.
E mais recentemente, tivemos o Parecer PA nº 3/2022, da lavra do
ilustre dr. Adalberto Robert Alves, que analisou consulta advinda da
Procuradoria de Procedimentos Disciplinares, em face da nova redação
do artigo 269, parágrafo único, do Estatuto dos Funcionários Públicos
Civis do Estado de São Paulo, introduzida pela Lei Complementar
estadual nº 1.361, de 21 de outubro de 2021.
Segundo a recente previsão estatutária, “não será instaurada sindicân-
cia em face de funcionário já exonerado, aposentado, anteriormente demi-
tido ou que, por qualquer razão, tenha deixado de manter vínculo com
a Administração Pública”. Assim, indagou a unidade especializada em
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Temos por certo que, nos dias atuais, a matéria está sendo debatida
e que a solução da questão, em muito, dependerá do que o Supremo
Tribunal Federal vier a decidir no julgamento da já referida Repercussão
Geral – tema nº 1.199.
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27 Sobre o tema, conferir: GOMES JUNIOR, Luiz Manoel; RODRIGUES, João Paulo
Souza; BORGES, Sabrina Nunes. Caminhos para tratamento adequado aos processos
em curso a partir da nova LIA. Consultório Jurídico, [s. l.], 16 nov. 2021. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2021-nov-16/opiniao-tratamento-aos-processos-curso-partir-
lia. Acesso em: 9 mar. 2022.. “Para um entendimento adequado do estado da arte dessa
discussão, parece correto dividir o tema sob três perspectivas: a dos processos em curso, que
versem sobre condutas ou sanções que tenham sido total ou parcialmente suprimidas pela
nova LIA; a dos processos em curso, cujos contornos da atividade sancionatória do Estado
sofreram modificações, suprimindo determinadas espécies de sanção, restringindo os limites
de condenações, ou definindo modalidades diversas de cômputo da prescrição; e os processos
já decididos, com sentenças transitadas em julgado. Para o primeiro grupo, nota-se que as
mudanças trazidas pela Lei nº 14.230/2021 impactam frontalmente o interesse processual.
Nessas situações, o processo deixa de ser juridicamente útil, sobretudo nas hipóteses em que
as condutas típicas de improbidade assim deixaram de ser consideradas, ou nas hipóteses
em que o legislador passou a exigir a demonstração de um elemento volitivo específico para
a prática do ato ímprobo. Não sendo hipótese de extinção, e estando a ação de improbidade
em termos (isto é, o tipo permanece vigente, a prática imputada operou a título doloso
e a modalidade sancionatória ainda é juridicamente possível), caberá ao Estado-juiz acercar-
se de não ser hipótese de prescrição da pretensão condenatória, na forma definida pelo
artigo 23 da LIA, respeitada a nova ‘prescrição interfases’, em feliz expressão de Luana
Pedrosa de Figueiredo Cruz. Para essa categoria de processos, caberá ao magistrado,
na prolação da sentença, atentar-se não só ao que contém o pedido formulado pelo autor
à época do ajuizamento da ação de improbidade, mas também aos limites fixados pela
nova lei, cujos efeitos retroagirão em benefício do réu”.
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29 FORTINI, Cristina; CAVALCANTI, Caio Mário Lana. Retroatividade benigna da Lei 14.230:
o que dizer de decisões transitadas em julgado. Consultório Jurídico, [s. l.], 17 fev. 2022.
Disponível em: https://conjur.com.br/2022-fev-17/interesse-publico-retroatividade-benigna-
lei-1423021. Acesso em: 8 mar. 2022.
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No caso das sanções impostas com base nas disposições legais mais gra-
vosas, se considerada a legislação superveniente, a permanência dos res-
pectivos efeitos configura a continuidade acima mencionada. Se ela não
reside exatamente na relação jurídica que foi objeto do julgamento
originário, ela está presente no prolongamento da eficácia da sentença,
isto é, da oneração decorrente da vigência da pena aplicada. Portanto,
se e enquanto persistam os efeitos das sanções aplicadas, suposto
sejam elas incompatíveis com as novas e mais benéficas disposições
legais, é precisamente do problema cronológico da eficácia da sentença e da
respectiva imutabilidade que se está a tratar (retroatividade in mellius).
E isso autoriza que o interessado demande a adequação do que se julgou,
de um lado, à regulação jurídica atual, de outro lado.
Aqui se chega, então, à dupla questão posta inicialmente: qual a via
processual adequada e como se determina a competência para tanto.
Quanto ao primeiro dos temas propostos, a hipótese encaixa-se perfeitamente
na previsão do inciso I do artigo 505 do CPC (que substancialmente reeditou
a regra constante do artigo 471, I, do diploma processual precedente): sobre-
vindo modificação no Estado de Direito (repita-se, na premissa de que a lei
mais benéfica retroage), a parte pode pedir “a revisão do que foi estatuído na
sentença”. A causa de pedir da demanda consiste na desconformidade entre
o que se decidiu com base na lei antiga e as disposições mais benéficas, cons-
tantes da lei nova. É ônus do interessado alegar e demonstrar que o objeto do
julgamento original — sua parte dispositiva à luz dos respectivos fundamen-
tos de fato e de direito — não se compadece com as regras vigentes.
Não se trata propriamente de invalidar atos do processo anterior porque
os fundamentos da demanda não residem em erro — de processo ou
de julgamento — que teria sido cometido no processo originário. Trata-se
de rever o que foi decidido e, portanto, considerar de que forma as novas
disposições legais aproveitam à parte condenada e, portanto, são capazes de
levar ao afastamento ou redução da sanção anteriormente aplicada. Disso se
extrai, portanto, que não se afigura cabível a propositura de ação rescisória,
que pressupõe invalidade da decisão originária, conforme hipóteses do ar-
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31 YARSHELL, Flávio Luiz; LUCON, Paulo Henrique dos Santos. A via processual adequada
para a revisão de sanções decorrentes de improbidade. Consultório Jurídico, [s. l.],
17 nov. 2021. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2021-nov-17/yarshell-lucon-
revisao-sancoes-decorrentes-improbidade. Acesso em: 8 mar. 2022.
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32 GOMES JUNIOR, Luiz Manoel; RODRIGUES, João Paulo Souza; BORGES, Sabrina Nunes.
Op. cit., grifo nosso.
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33 FERRAZ, Sérgio; DALLARI, Adilson Abreu. Processo administrativo. 3. ed., São Paulo:
Malheiros, 2012, p. 306-307.
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6. CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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299
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:
EVOLUÇÃO PATRIMONIAL
INCOMPATÍVEL
1 Procurador do Estado de São Paulo desde 1994. Mestre em Direito Processual Penal pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Especialista em Direito Processual
Civil pela Escola Superior da Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo (ESPGE).
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1. INTRODUÇÃO
2. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
2.1. Conceito
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2.1.1. Sujeitos
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2.1.4. Tipicidade
Por se tratar da espécie mais grave de ilícito administrativo, é im-
prescindível que haja previsão legal quanto aos atos de improbidade
administrativa; nesse sentido, o exige a própria Constituição Federal em
seu artigo 37, § 4º.
Via de regra os atos de improbidade administrativa estão previstos
nos artigos 9º, 10 e 11, formando três grupos: a) produção de enrique-
cimento ilícito16; b) lesão patrimonial ao erário público17; infração aos
princípios fundamentais da administração18.
Observa-se, no entanto, que a própria LIA, em seu artigo 1º, § 1º,
admite a possibilidade de eles serem previstos em leis especiais.
14 Ibidem, p. 153.
15 Ibidem, p. 163.
16 BRASIL, 1992, art. 9º.
17 Ibidem, art. 10.
18 Ibidem, art. 11.
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26 OSÓRIO, Fábio Medina. Direito administrativo sancionador. 8. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2022, p. 91.
27 Quanto à possibilidade de a autoridade judiciária eventualmente aplicar uma sanção
administrativa, assim nos ensina Fábio Medina Osório: “Não configura, portanto, elemento
indissociável da sanção administrativa a figura da autoridade administrativa, visto que
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podem as autoridades judiciárias, de igual modo, aplicar essas medidas punitivas, desde que
outorgada, por lei, a respectiva competência repressiva, na tutela de valores protegidos pelo
Direito Administrativo” (Ibidem, p. 99).
28 BRASIL, 1992, art. 1º, § 4º.
29 OSÓRIO, Fábio Medina. A inter-relação das decisões proferidas nas esferas administrativas,
penal e civil no âmbito da improbidade. In: MARQUES, Mauro Campbell (coord.).
Improbidade administrativa: temas atuais e controversos. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 94.
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30 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 520.
31 SÃO PAULO. Lei nº 10.261 de 28 de outubro de 1968. Dispõe sobre o Estatuto dos
Funcionários Públicos Civis do Estado. Diário Oficial do Estado de São Paulo: seção 1,
São Paulo, p. 2, 29 out. 1968, art. 241, inc. I.
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315
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nas proibições dos artigos 242 e 243, como empregar material do serviço
público em serviço particular (art. 242, inc. VIII) e lograr proveito por meio
do exercício do cargo (art. 243, inc. XI e art. 257, inc. VIII); bem como nos
atos intoleráveis descritos no artigo 257, como a prática de crimes contra
a administração e fé pública (inc. II e inc. IX), lesar o patrimônio e cofres
públicos (inc. VI), recebimento de propinas (inc. VII); e pratica de lavagem
ou ocultação de bens, direitos ou valores (inc. XII).
Sendo infração disciplinar, é possível que o servidor público respon-
da cumulativamente, pelo mesmo ato de improbidade, tanto na esfera
civil como na disciplinar, podendo perder o cargo naquela e ser demitido
nesta, o que não representará bis in idem.
Isso ocorre em razão da independência dos poderes previsto no
artigo 2º da Constituição Federal. No caso do estado de São Paulo,
há previsão expressa no artigo 250, § 1º, de que “a responsabilidade
administrativa é independente da civil e da criminal”35.
Evidente que essa independência não pode ser encarada de
forma absoluta, havendo casos em que a decisão judicial repercute na
administrativa, nos exatos termos previstos pelo artigo 935 do Código
Civil, ao afirmar que haverá repercussão desta naquela quando, de forma
absoluta e definitiva, o juízo criminal afastar a autoria ou a existência do
fato, sem prejuízo de, na decisão administrativa, haver algum resíduo da
falta, ou seja, a sanção administrativa não se conter tão somente no crime
analisado pelo Poder Judiciário, nos exatos termos da Súmula 18 do STF.36
A par da independência das instâncias, é imprescindível a existência
de colaboração entre as autoridades que apuram o ato de improbidade
administrativa, auxiliando na produção de provas, a fim de que, dentro do
possível, se harmonizem as decisões, evitando contrariedade entre ambas.
Além da improbidade como infração disciplinar, ela também pode
ser considerada como justa causa para o rompimento do contrato de
trabalho, prevista no artigo 482, alínea “a”, da Consolidação das Leis
do Trabalho, que diz:
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37 BRASIL. Consolidação das leis do trabalho – CLT e normas correlatas. Brasília, DF: Senado
Federal, 2017, p. 80.
38 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Lei de improbidade administrativa comentada: aspectos
constitucionais, administrativos, civis, criminais, processuais e de responsabilidade fiscal.
7. ed. São Paulo: Atlas, 2018, p. 53.
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Por fim, como dito linhas atrás, o artigo 9º, além de definir o que
seria o ato de improbidade administrativa por enriquecimento ilícito,
criou doze espécies dessa modalidade, assim as definindo:
I – receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel,
ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título
de comissão, percentagem, gratificação ou presente de quem tenha
interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido ou amparado por
ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público;
II – perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a
aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou a contrata-
ção de serviços pelas entidades referidas no art. 1° por preço superior
ao valor de mercado;
III – perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a
alienação, permuta ou locação de bem público ou o fornecimento de
serviço por ente estatal por preço inferior ao valor de mercado;
IV – utilizar, em obra ou serviço particular, qualquer bem móvel,
de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades referidas no
art. 1º desta Lei, bem como o trabalho de servidores, de empregados
ou de terceiros contratados por essas entidades; (Redação dada pela
Lei nº 14.230, de 2021)
V – receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indi-
reta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, de leno-
cínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qualquer outra
atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem;
VI – receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou in-
direta, para fazer declaração falsa sobre qualquer dado técnico que en-
volva obras públicas ou qualquer outro serviço ou sobre quantidade,
peso, medida, qualidade ou característica de mercadorias ou bens for-
necidos a qualquer das entidades referidas no art. 1º desta Lei;
VII – adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, de
cargo, de emprego ou de função pública, e em razão deles, bens de
qualquer natureza, decorrentes dos atos descritos no caput deste artigo,
cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimônio ou à renda
do agente público, assegurada a demonstração pelo agente da licitude
da origem dessa evolução; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
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O artigo 9º, inciso VII, da LIA criou uma hipótese específica de ato
de improbidade administrativa, conhecida como evolução patrimonial
incompatível ou, nos dizeres de Fábio Medina Osório, enriquecimento
desproporcional sem causa aparente.
Trata-se aqui de apenar o agente público que ostenta nível de vida
completamente destoante dos vencimentos recebidos, enriquecendo
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54 Ibidem, p. 68.
55 Marino Pazzaglini Filho escreveu sobre a previsão de inversão do ônus da prova:
“Além disso, o legislador, efetivamente, não pretendeu a inversão do ônus da prova, posto
que o projeto continha originalmente, no que era seu art. 26, a estipulação da inversão do
ônus da prova no caso de enriquecimento sem causa (antigo inciso VII do art. 12, atual
inciso VII do art. 9º), o qual dizia: ‘quando a ação civil tiver por fundamento o inciso VII
do art. 12, cabe ao agente público ou beneficiário demonstrar a origem lícita dos recursos
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4. CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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NOTAS SOBRE RECURSOS, REVISÃO
ADMINISTRATIVA E EXERCÍCIO DE
DIREITO DE PETIÇÃO NOS PROCESSOS
DISCIPLINARES DA LEI N. 10.261/68
1. INTRODUÇÃO
1 Procuradora do Estado de São Paulo. Mestre em Direito Público pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP).
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2 SÃO PAULO. Lei nº 10.261, de 28 de outubro de 1968. Dispõe sobre o Estatuto dos
Funcionários Públicos Civis do Estado. Diário Oficial do Estado de São Paulo: seção 1, São
Paulo, p. 2, 29 out. 1968, art. 268.
3 Art. 5º, LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral
são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
(BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 6 jul. 2022, art. 5º).
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4 “Art. 312. Caberá recurso, por uma única vez, da decisão que aplicar penalidade. […]”
(SÃO PAULO, op. cit, art. 312).
5 Art. 312 […] § 1º – O prazo para recorrer é de 30 (trinta) dias, contados da publicação
da decisão impugnada no Diário Oficial do Estado ou da intimação pessoal do servidor,
quando for o caso. (Ibidem, art. 312).
6 Art. 312 […] §3º – O recurso será apresentado à autoridade que aplicou a pena, que terá
o prazo de 10 (dez) dias para, motivadamente, manter sua decisão ou reformá-la. (Ibidem,
art. 312).
7 Art. 312 […] §4º – Mantida a decisão, ou reformada parcialmente, será imediatamente
encaminhada a reexame pelo superior hierárquico. (SÃO PAULO, Lei nº 10.261, de 28 de
outubro de 1968, art. 312).
8 Art. 312 […] § 5º – O recurso será apreciado pela autoridade competente ainda que
incorretamente denominado ou endereçado (Ibidem, art. 312).
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12 Art. 313 – Caberá pedido de reconsideração, que não poderá ser renovado, de decisão
tomada pelo Governador do Estado em única instância, no prazo de 30 (trinta) dias
(SÃO PAULO, Lei nº 10.261, de 28 de outubro de 1968, art. 313).
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3. REVISÃO ADMINISTRATIVA
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22 SÃO PAULO, Lei nº 10.261, de 28 de outubro de 1968, art. 315, grifos nossos.
23 Ibidem, art. 315.
24 CARVALHO, Antonio Carlos Alencar. Manual de processo administrativo disciplinar e
sindicância: à luz da jurisprudência dos tribunais e da casuística da administração pública.
2. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2011, p. 1111, grifo nosso.
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Cremos que o fato novo, demonstrado pela prova e eficaz para a re-
visão, deve ter força bastante para produzir alteração no panorama
probatório dentro do qual deu sustentação ao ato punitivo.
A título de exemplo, a sentença judicial (absolutória) identificada com
as hipóteses do art. 126 da Lei n. 8.112/90, e, em linha de princípio,
nas demais situações elencadas no art. 386, incisos I, II, IV e V, do CPP,
pode ser considerada como fato novo capaz de provocar o processo
revisional (Cf.: AGU, Pareceres n. GQ-28 e AGU/LS-07/94, DOU de
1.9.94).26
Ainda em relação à caracterização de fato novo como pressuposto
para a revisão administrativa, a jurisprudência exarada pelo Superior
Tribunal de Justiça tem entendido que “meras alegações de que existe
fato novo não têm o condão de abrir a via da revisão do processo admi-
nistrativo disciplinar, sendo indispensável a comprovação da existência
de fatos novos, desconhecidos ao tempo do PAD”27. Sobre o tema, a
Corte já decidiu:
MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDOR PÚBLICO. PAD. FATO
APURADO: UTILIZAÇÃO INDEVIDA DE ARMA QUE LHE FORA
ACAUTELADA PARA O SERVIÇO POLICIAL. PENA APLICADA:
SUSPENSÃO PELO PERÍODO DE 8 DIAS DO CARGO DE PO-
LICIAL FEDERAL. PRETENSÃO DE REVISÃO DO PROCESSO
ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR, EM RAZÃO DA PRESCRIÇÃO
PARA A APLICAÇÃO DA PENALIDADE. INOCORRÊNCIA DE
FATO NOVO. ORDEM DENEGADA, EM CONSONÂNCIA COM O
PARECER DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. 1. O impetrante
pretende obter a revisão do Processo Administrativo Disciplinar, de-
fendendo a ocorrência de fato novo capaz de extinguir a punibilidade,
qual seja, consumação do prazo prescricional para a aplicação da pena
de suspensão. 2. Meras alegações de que existe fato novo não têm o
condão de abrir a via da revisão do processo disciplinar, sendo indis-
pensável a comprovação da existência de fatos novos, desconhecidos ao
26 LESSA, Sebastião José. Temas práticos de direito administrativo disciplinar. Brasília, DF:
Brasília Jurídica, 2005, p. 100-101, grifo nosso.
27 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Compilado: processo administrativo disciplinar.
Brasília, DF: STJ, 2020. Jurisprudência em teses, nº 154, p. 18.
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29 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (1. Seção). Mandado de Segurança 17666/DF. Impetrante:
Marcorélio da Costa Ribeiro. Impetrado: Ministro de Estado do Desenvolvimento Agrário.
Relatora: Min. Assusete Magalhães, 10 de dezembro de 2014, Diário da Justiça eletrônico,
16 dez. 2014, grifo nosso.
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4. DIREITO DE PETIÇÃO
34 “Artigo 319. Deferido o processamento da revisão, será este realizado por Procurador de
Estado que não tenha funcionado no procedimento disciplinar de que resultou a punição do
requerente” (Ibidem, art. 319).
35 “Artigo 320. Recebido o pedido, o presidente providenciará o apensamento dos autos
originais e notificará o requerente para, no prazo de 8 (oito) dias, oferecer rol de testemunhas,
ou requerer outras provas que pretenda produzir. Parágrafo único – No processamento
da revisão serão observadas as normas previstas nesta lei complementar para o processo
administrativo” (Ibidem, art. 320).
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38 RAMOS, Elival da Silva. Despacho que analisou o Parecer AJG n. 1157/99. São Paulo:
Procuradoria-Geral do Estado, 1999, p. 8, grifo nosso e do autor.
39 “Artigo 239 – É assegurado a qualquer pessoa, física ou jurídica, independentemente de
pagamento, o direito de petição contra ilegalidade ou abuso de poder e para defesa de
direitos. §1º […]” (SÃO PAULO, Lei nº 10.261, de 28 de outubro de 1968, art. 239).
40 “Artigo 240 – Ao servidor é assegurado o direito de requerer ou representar, bem como,
nos termos desta lei complementar, pedir reconsideração e recorrer de decisões, no prazo de
30 (trinta) dias, salvo previsão legal específica” (Ibidem, art. 240).
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5. CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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