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Vanessa de Oliveira
as mulheres Do munDo.
INTRODUÇÃO
PsicoPatas do coração 9
lado oculto das experiências comuns e incomuns da vida das
pessoas, mais especificamente a respeito dos relacionamentos
humanos. Não, Deus (você vive rindo de mim, não?), eu não
vou mais lutar contra isso, porque de verdade me entreguei à
causa, aliás, à nossa causa (está bom assim para o Senhor?).
Eu juro que já tentei ter uma vida tradicional, fundamentada
na normalidade do dia a dia da maioria das pessoas deste
planeta, e o Senhor só me apronta. Ok, ok, ok, eu topo, pode
mandar, Deus, eu vou viver tudo o que eu tiver de viver nesta
vida, manda logo, que eu estou aqui, e vou escrever sobre o
que eu aprender com os acertos e, principalmente, com meus
erros. Não vou mais planejar ter uma vida normal, porque
não foi isso que combinamos antes de eu nascer, certo? Além
disso, a vida é assim mesmo, a gente planeja e Deus ri.
Depois de ter vivenciado tantas coisas incomuns em
minha vida, como a profissão do sexo, e de ter tido tantos
relacionamentos com homens estranhos, eis que me surge a
pior situação da minha vida: um relacionamento profundo
com o canalha-mor deste planeta, aquele psicopata do coração
que é fantasiado de príncipe encantado.
Baseada na experiência desse relacionamento, eu resolvi
escrever este livro. E não, não é uma tentativa de vingança
(embora eu não negue que isso em algum momento tenha
me passado pela cabeça); este livro é, no fundo, uma forma
de cumprir mais um pouco a minha missão, é uma maneira
de contar às pessoas o que pode estar acontecendo para que
elas possam identificar e reagir, é uma forma de esclarecer
as pessoas, em particular as mulheres, sobre as verdades dos
homens que elas não sabem e que precisam saber, não só do
homem que é um psicopata do coração, mas dos homens em
geral. E não somente os aspectos ruins a respeito dos homens,
mas os aspectos bons também.
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PsicoPatas do coração 11
I
Ano de 2006
Entrei.
A última vez não deixava de ser a repetição das últimas
5 mil vezes. Beijei o cliente no rosto, troquei com ele algumas
palavras, larguei o livro de capa para baixo na cabeceira, pedi
o pagamento adiantado, ele pagou, conferi o valor e o guardei
no bolso falso da calça, tirei a minha roupa, apanhei uma
toalha e disse que iria tomar um banho.
Ele se deitou na cama, alegou que já havia tomado banho e
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que estava pronto me esperando. Eu agradeci em pensamento
o fato de ter mais alguns minutos de privacidade.
Enquanto eu lavava o corpo já limpo, mas acostumado
a tomar banho para matar o tempo no quarto, ia pensando
naquele que seria o meu último cliente. Não pensando nele
nem em sua vida, mas na principal característica que tinha
para mim: ser o último.
Ele era moreno, bonito, tinha em torno de 38 anos, Paulo
era seu nome. Parecia educado, mas era mais um, igual aos
5 mil que eu já havia atendido.
E não haveria nenhuma diferença para mim se ele fosse
baixo, loiro ou acima do peso. Porque, em todos esses anos,
todo cliente foi um cliente igual ao anterior e igual ao posterior.
Tirando o Mafioso, meu melhor cliente, todos os outros
pertenceram apenas à classe de clientes. Desumana, eu? Não.
Digamos que não é nada pessoal, são apenas negócios.
Saí do banho e ele estava me esperando embaixo dos
lençóis. Ele pegou o quarto do motel decorado com o tema
“África”, que, fora o tapete de zebrinha artificial, de africano
não tinha nada. As paredes eram pintadas de azul-claro, a
cama era de madeira marfim (eu penso que na África a cama
é rústica, vai ver era África moderna) e as cortinas eram de
cor bege-claro. Desliguei as luzes, para que ficássemos na
penumbra, e apenas a do banheiro permaneceu acesa. Dessa
forma eu teria uma ideia de onde as coisas estariam e o que
ele estaria se preparando para fazer.
Senti-me triste, de certa forma, porque para a última vez se
imagina uma despedida e toda despedida tem comemoração.
Sem comemorações...
“Vanessa, você não tem que pensar nem que ficar triste,
você tem seu último trabalho a fazer, faça e caia fora daí.” Era
a Severa ordenando de dentro de mim.
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especial?
Por algum motivo, não era assim que eu o via...
Peguei a caneta do motel, abri o livro na primeira página
e falei:
– É de presente para você, gostaria que lesse com atenção.
Pode ser que para você não, mas para mim ele é um livro
muito especial, é a história da minha vida.
– Foi você que o escreveu, Marise?
PsicoPatas do coração 17
– Não. Foi a Vanessa de Oliveira.
– E quem é ela?
– É a mulher que vai sair por essa porta afora em alguns
minutos.
Ele não entendeu muito bem, mas eu também não tive
muita vontade de explicar. Comecei a autografar.
sem acenos e sem lágrimas. Era uma partida para nunca mais
voltar e não havia ninguém me pedindo para ficar.
Adeus, África, adeus, último.
Abri a porta, um novo mundo me esperava: “Adeus, Marise...
Adeus, Marise... Adeus, Marise... Adeus, Mariseeeeeee...”.
Fechei a porta.
Ela ficou.
Eu estou aqui.
18 Vanessa de OliVeira
II
A ESCRITORA
para seu rosto, a sua boca chamava atenção, talvez fosse o que
ele tivesse de mais bonito.
Ele falava educadamente e com voz mansa com a Marisa,
explicando como gostaria que fosse o apartamento quanto à
posição solar e ao tamanho das peças. Ele sorria e olhava para mim
enquanto falava. Eu olhei sua mão gesticulando discretamente
no ar, não havia nenhuma aliança. Sorri-lhe também, não só por
educação, mas porque tive vontade de sorrir.
22 Vanessa de OliVeira
Então, ele me perguntou o que eu achava da cidade.
– Eu? Ah, gosto bastante de morar aqui, eu já devia estar
no Rio de Janeiro ou em São Paulo, mas não consigo sair de
Balneário Camboriú e deixar toda essa natureza para trás.
Morar aqui é maravilhoso.
– Muito bem, o prefeito devia contratá-la para o
marketing da cidade. E por que você já deveria estar no Rio
ou em São Paulo?
– Por motivos profissionais.
– Com que você trabalha?
– Com livros – eu preferi não especificar de que forma eu
trabalhava com os livros.
– Que tipo de livros? Será que me interessariam?
– São livros sobre comportamento, direcionados a mulheres.
– E será que um homem comum como eu poderia lê-los?
– Se você quisesse conquistar um homem e saber mais
sobre eles, acredito que você deveria ler, sim, esses livros.
Todos nós rimos e conversamos um pouco mais sobre o
mercado imobiliário de Balneário Camboriú. Até que eu olhei
no meu relógio de pulso e vi que precisava ir. Aquele homem
era bem interessante, mas já estava na minha hora, e se não
fosse por aqueles 30 segundos em que entrei novamente na
imobiliária para pegar o folder do meu novo apartamento eu
nunca o teria conhecido.
Levantei-me, a Marisa reclamou de novo:
– Vanessa, fica mais!
– Meu Deus, Marisa, já faz quase duas horas que eu estou
aqui, agora preciso ir mesmo – eu sorria.
Então me despedi dela pela terceira vez com um longo
abraço e acenei para ele, dizendo “tchau!”. Ele acenou de
volta, mesmo estando a uma curta distância de mim, então
subitamente me estendeu sua mão:
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PsicoPatas do coração 23
Quando ele soltou a mão, virei-me e fui em direção à
porta. Então o ouvi chamando:
– Vanessa, se você aceitar, gostaria de acompanhá-la até
o carro, eu também já estou de saída e pretendo voltar aqui
amanhã com mais calma.
Eu consenti, gostaria de ser levada até o carro por aquele
homem interessante. Ele pegou um cartão da Marisa e nós
dois saímos juntos. Eu havia deixado o carro a duas quadras
da imobiliária e íamos a passos bem lentos, conversando
sobre a ótima temperatura. Apesar de aquele ter sido um dia
quente de verão, o fim do pôr do sol nos dizia que a noite
chegara e era agradável a brisa. Chegamos até meu carro,
peguei a chave em minha bolsa e, antes de abrir a porta, ele
segurou minha mão. Eu fiquei imóvel, me perguntando o
que ele faria; ele pegou a chave e destravou o alarme, então
abriu a porta para mim, como um cavalheiro. Enquanto eu
agradecia, sentei no banco do motorista e lhe disse:
– Até outro dia, John. Obrigada.
Ele parou segurando a porta do carro para mim:
– Vanessa, se não fosse muito atrevimento meu, eu gostaria
de convidá-la para jantar, adoraria conversar um pouco mais
contigo, sabe, você é uma princesa encantadora.
Nesse momento eu senti um choque percorrer a minha
espinha. Chamar-me de princesa era tão... tão... tão delicado,
e ele nesse momento me parecia tão... tão... tão sensível.
Perguntei-me: “Quem é esse homem que já sabe que eu sou
uma princesa?”.
Eu não respondia, então ele franziu a testa graciosamente
duas vezes, como quem espera pela resposta de maneira
ansiosa:
– Tudo bem, príncipe, podemos jantar, sim, qualquer dia
desses.
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PsicoPatas do coração 25
III
O PRÍNCIPE