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Introdução
O mundo é acessado e experimentado através de mediações simbólicas, científicas ou
não, com destaque para as produções literárias e suas narrativas. Criações poéticas. Ficcionais.
Dramáticas. Míticas. Românticas. Folclóricas. Críticas. Pela literatura, o ser humano forma a
si mesmo em direção ao Outro. Pela narrativa se confirma e nega, propõe e denuncia, apoia e
combate, a partir da multiplicidade humana em sua relação com seu tempo e espaço. Explora-
se as experiências, por meio das emoções do Eu, do Outro e do Nós. O mundo por ser
permeado de pessoas, é simbólico, e estudar suas formas de acesso sem subjetividade é
insuficiente.
Enquanto historicamente permeado por pessoas, territórios e fronteiras, o mundo
globalizado se vê imerso em uma realidade que se volta a produção expansiva e predatória de
capital, evidenciando uma sociedade atomizada e sem fronteiras. Tudo é possível, aberto e
ilimitado. Nesse processo, o tempo, antes em comunidade, passa a ser do Eu e voltado apenas
para o trabalho, momento em que o indivíduo, passa, inconscientemente, distrair-se do
processo de dominação, havendo a necessidade latente de uma alternativa dessa crise do
(r)existir.
Nesse contexto, o presente trabalho pretende, por meio de revisão bibliográfica, refletir
de que maneira a literatura permite uma (re)leitura de conceitos da Geografia Tradicional –
“sem pessoas”, a partir de suas narrativas, como uma alternativa possível de resistência ao
capital, pela (re)definição de lugares e espaços de luta.
1. Fundamentação teórica
A presente pesquisa com objetivo de traçar uma análise crítica acerca das
possibilidades da literatura como resistência no atual cenário que se volta a distração dos
mecanismos de dominação, voltar-se-á, em primeiro lugar, para os escritos de Pierre Dardot,
Cristian Laval e Byung Chul Han, para compreender a atual estruturação da sociedade,
marcada pelo neoliberalismo e a modificação no âmago no mundo do trabalho.
Na sequência, ao identificar que se de um lado são tempos de desempenho, por outro,
verifica-se uma mutação no mundo do trabalho, antes coletivo e organizado. O fenômeno
trabalho passa a assumir uma face narcisista, egoísta, solitária e invisível. O indivíduo passa,
pela união paradoxal da liberdade e coação, à modificação de registro da exploração estranha
para “exploração própria”. Sentimentos e narrativas são vitimados em favor do desempenho.
Sujeitos felizes produzem e produzem incessantemente. A diferença e o Outro, não tem
espaço, por representarem uma potencial negatividade – negatividade ao sistema de
dominação liberal. Por esse motivo, propaga-se a ideia de uma sociedade formada por
indivíduos iguais.
Nesse sentido, em um mundo globalizado de iguais e sem fronteias, buscar-se-á
identificar os estudos da Geografia que clarificam as formas de acessar e compreender o
mundo. A partir de uma análise histórica, breve, da Geografia enquanto ciência, tendo por base
as pesquisas de Márcia Alves Soares da Silva, que, em suas abordagens busca elucidar a
passagem da Geografia Tradicional “sem pessoas” à subárea da Geografia Humana, múltipla,
complexa e heterogênea. Na mesma esteira, após identificar a materialidade humanista
presente em conceitos, antes, sem pessoas, no interior da Geografia Humana, passa-se
enfatizar a perspectiva subjetiva das experiências espaciais, por meio das emoções, afetos,
percepções, evidenciando a chamada Geografia das Emoções. Por essa perspectiva, busca-se
“entender as emoções como parte da subjetividade humana que permite objetivar a vida, sendo
o substrato do espaço vivenciado e que possibilita conformação de espacialidades” (SILVA,
2019, p. 83). No contexto, analisar-se-á a partir da Geografia das Emoções – ciência que estuda
o acesso ao mundo pelo ser humano através de suas subjetividades, o caráter problemático de
viver em uma sociedade que se oculta por uma máscara da positividade a qualquer custo,
impossibilitando a experiência humana sustentada por sentimentos e dotada de narrativas.
Por fim, a partir de uma sociedade atomizada, egoísta e narcisista, falaciosamente
"igual”, e partindo da premissa da Geografia das Emoções que o mundo é experimentado por
mediações simbólicas, explorar a potencialidade – ilimitada – da literatura como instrumento
capaz de conduzir o indivíduo, sem sair do “lugar”, a diferentes espaços e temporalidades,
vivências e subjetividades, criando-se espaços de resistência, com base nos escritos de Jacques
Derrida.
2. Resultados alcançados
Referências
DA SILVA, Marcia Alves Soares. Por uma geografia das emoções. GEOgraphia, v. 18, n.
38, p. 99-119, 2016.
DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade
neoliberal. São Paulo: Editora Boitempo, 402 p, 2013.
DERRIDA, Jacques. Essa estranha instituição chamada literatura: uma entrevista com
Jacques Derrida. Tradução de Marileide Dias Esqueda, revisão técnica e introdução de Evando
Nascimento. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014.
HAN, Byung-Chul. Favor fechar os olhos: em busca de um outro tempo. RJ, ed. Vozes, 2021.
HAN, Byung-Chul. Sociedade Paliativa: a dor hoje. Petrópolis, 1 ed. Vozes, 2021.