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Traduzido para o Português por

Anton Stark

anton.stark.esq@gmail.com · 27 de Janeiro, 2015


Esta letrinha pequena não serve para nada, a não ser para fazer com que este livro pareça verdadeiro. Em livros impressos vê-se normalmente um grande bloco de
letra pequena na primeira ou segunda página, seguido de termos como © 2013, Todos os direitos reservados. Tal e tal. Impresso nos Estados Unidos da
América. O editor pode também incluir alguma prosa para deter potenciais piratas. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida em qualquer
forma sem permissão por escrito. A isto seguem-se tipicamente uma ou duas linhas sobre a editora, seguidas por uma sequência de números.

Para mais informações, por favor contacte JasperCollins Publishers, 99 St Marks Pl New York, NY 94105.
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Agora a sério: tudo que precisa de saber é que este trabalho é partilhado através de uma licença Creative Commons BY-NC, o que significa que pode
compartilhá-lo e adaptá-lo livremente para fins não-comerciais, dando o devido reconhecimento aos autores.

Criação e Direcção Artística: Ali Almossawi. Ilustração: Alejandro Giraldo. Tradução: Anton Stark Revisão da Tradução: Mário Coelho

“Adoro este livro ilustrado de maus argumentos. Um infalível compêndio de falhas.”

—Prof.ª Alice Roberts, apresentadora do programa da


BBC “The Incredible Human Journey”

“Um resumo de digestão maravilhosamente fácil dos perigos e técnicas de argumentação. Não consigo pensar numa
maneira melhor de se ser ensinado ou reapresentado a estas noções fundamentais do discurso lógico. Um
pequeno livro delicioso.”

—Aaron Koblin, Director Criativo da equipa Data Arts da Google


3

Este livro destina-se aos recém-chegados ao campo do pensamento lógico, particularmente aqueles
que, roubando uma frase a Pascal, melhor compreendem através de referências visuais. Escolhi um
pequeno conjunto de erros comuns de raciocínio e concebi-os visualmente usando ilustrações fáceis
de recordar, que são complementadas por vários exemplos. A minha esperança é a de que a partir
destas páginas o leitor aprenda alguns dos perigos mais comuns na argumentação e seja capaz de os
identificar e evitar na prática.
5

A literatura existente sobre lógica e falácias lógicas é vasta e exaustiva. A novidade deste trabalho reside
no seu uso de ilustrações para descrever um pequeno conjunto de erros comuns de raciocínio que
afligem muito do nosso actual discurso.

As ilustrações são inspiradas em parte por alegorias como o livro A Quinta dos Animais de Orwell e em
parte pelo nonsense caricato de obras como as histórias e poemas de Lewis Carroll. Ao contrário de
tais obras, não há uma narrativa que as ligue de forma coesa: são cenas discretas, unidas entre si
apenas através do estilo e do tema, o que melhor permite a sua adaptabilidade e reutilização. Cada
falácia tem direito a apenas uma página de exposição e, portanto, a concisão da prosa é intencional.

Ler acerca de coisas que não se devem fazer é, na realidade, uma experiência de aprendizagem útil. No
seu livro On Writing, Stephen King escreve: “Aprende-se de forma clara sobre o que não fazer lendo
má prosa”. O autor descreve a sua experiência de leitura de um romance particularmente terrível
como o “equivalente literário a uma vacina contra a varíola” (King). O matemático George Pólya é
citado como tendo afirmado, numa palestra sobre o ensino da disciplina de Matemática, que para
além de a compreendermos bem temos também de saber como a entender mal. Este trabalho fala
essencialmente sobre coisas que não devem ser feitas ao argumentar.1

****

1 Para um olhar sobre a questão inversa, veja-se o livro de T. Edward Damer sobre o raciocínio falacioso.

Há muitos anos, ocupei parte do meu tempo a escrever especificações de software usando lógica de
predicados de primeira ordem. Foi uma forma intrigante de raciocinar acerca de invariantes usando
matemática finita em vez da notação habitual: o Inglês. Isto trouxe-me precisão onde havia
potenciais ambiguidades e rigor onde havia alguma inexactidão.

Durante o mesmo período, examinei alguns livros sobre lógica proposicional, quer moderna quer
medieval; um dos quais o A Handbook of Logical Fallacies de Robert Gula. O livro de Gula
relembrou-me uma lista de regras heurísticas sobre como argumentar que eu rabiscara num caderno
havia uma década; elas eram o resultado de vários anos a debater com desconhecidos em
fóruns online e incluíam coisas como: “tenta não tecer generalizações acerca das coisas”. Isto agora
é-me óbvio, mas para um estudante foi algo excitante de se descobrir.

Tornou-se rapidamente evidente que formalizar o nosso processo de raciocínio poderia conduzir-nos a
benefícios úteis, tais como a clareza de pensamento e expressão, objectividade e uma maior
confiança. A capacidade de analisar argumentos ajudou também a fornecer uma bitola através da
qual se pode saber quando é que nos devemos retirar de discussões que se tornariam quase
certamente vãs.

Questões e eventos, tais como as liberdades civis ou as eleições presidenciais, que afectam as nossas
vidas e as sociedades em que vivemos, têm por hábito levar à discussão de medidas políticas e
crenças. Observando alguns desses discursos, fica-se com a sensação de que uma

quantidade notória deles padece da falta de bom raciocínio. O objectivo de muita da escrita existente
sobre Lógica é ajudar a apercebermo-nos de algumas das ferramentas e paradigmas que permitem
construir um bom raciocínio e conduzir desse modo a debates mais construtivos.

Dado que a persuasão é uma função não apenas da lógica mas de outras coisas também, é útil estar
ciente de que coisas são essas. A retórica estará provavelmente no topo da lista: vêm-me à mente
preceitos como o princípio da parcimónia, assim como conceitos como o “ónus da prova” e onde é
que ele recai. O leitor interessado pode consultar a vasta literatura sobre o tema.

Para concluir: as regras de lógica não são leis do mundo natural nem constituem a extensão total do
raciocínio humano. Como afirma Marvin Minsky, o corriqueiro raciocínio de senso comum é difícil
de explicar em termos de princípios lógicos, assim como analogias, acrescentando: “A lógica não
mais explica a forma como pensamos do que a gramática explica a forma como falamos” (Minsky).
A Lógica não gera novas verdades, mas permite verificar a consistência e coerência das cadeias de
raciocínio existentes. É precisamente por essa razão que se revela uma ferramenta eficaz para a
análise e transmissão de ideias e argumentos.
– A.A., San Francisco, Julho de 2013

O primeiro princípio a seguir é o de que você não se deve enganar a si mesmo, e você é a pessoa mais
fácil de enganar.

—Richard P. Feynman

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Falácia Informal › Manobra de Diversão › Argumento por Consequência
Argumento por Consequência
(Argumentum ad Consequentiam)

Argumentar por consequência é defender ou atacar a veracidade de uma declaração apelando às


consequências da sua aceitação ou da sua rejeição. Só porque uma proposição conduz a um resultado
desfavorável não quer dizer que seja falsa. Do mesmo modo, só porque uma proposição traz boas
consequências, isso não faz com que seja automaticamente verdadeira. Como disse David Hackett
Fischer: “Não se verifica que uma característica atribuída a um efeito seja transferível para a sua
causa.”

No caso das consequências positivas, um argumento pode apelar às esperanças da audiência, o que
toma por vezes a forma de um optimismo exagerado. No caso das consequências negativas, tal
argumento pode por seu turno apelar aos medos de uma audiência. Veja-se por exemplo a frase de
Dostoevsky: “Se Deus não existe, então tudo é permitido.” Discussões sobre moralidade objectiva à
parte, o apelo às aparentes consequências sombrias de um mundo puramente materialista nada nos
diz sobre a veracidade, ou falta dela, da proposição que o antecede.

Há que manter em mente que tais argumentos são falaciosos apenas quando lidam com proposições
com um valor de verdade objectivo, e não quando lidam com decisões ou estratégias políticas
(Curtis), tais como um político opor-se a um aumento de impostos com receio de que este tenha um
impacto adverso nas vidas dos seus eleitores, por exemplo.
12
Falácia Informal › Manobra de Diversão › Falácia do Espantalho
Falácia do Espantalho

Caricaturar de forma intencional o argumento de outrem com vista a atacar a caricatura em vez do
argumento real é o que se entende por “construir um espantalho”. Deturpar, citar de forma errada,
interpretar erroneamente ou simplificar em exagero os argumentos do adversário são todos meios
através dos quais esta falácia é cometida. Um argumento do espantalho é normalmente mais absurdo
que o argumento real, tornando-o um alvo mais fácil de atacar e podendo possivelmente levar a que
uma pessoa defenda o argumento mais ridículo em vez do argumento original.

Por exemplo: O meu oponente está a tentar convencer-vos de que evoluímos todos de macacos
pendurados nas árvores; uma afirmação absolutamente disparatada. Isto é claramente uma
distorção daquilo que a biologia evolutiva afirma, que é a ideia de que humanos e chimpanzés
partilharam um antepassado comum há vários milhões de anos. Deturpar esta ideia é muito mais
fácil do que refutar as provas que a sustentam.
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Falácia Informal › Manobra de Diversão › Falácia Genética › Apelo Irrelevante À Autoridade
Apelo Irrelevante À Autoridade
(Argumentum ad Verecundiam)

Um apelo à autoridade é um apelo ao sentido de modéstia de cada um (Engel), ou seja, um apelo ao


sentimento de que outros estejam mais bem informados que nós mesmos. A esmagadora maioria
das coisas em que acreditamos, tais como os átomos ou o sistema solar, assim como todas as
declarações históricas, provêm de uma autoridade fiável, para parafrasear C. S. Lewis. É plausível
recorrer-se a uma autoridade pertinente, como cientistas e académicos tipicamente fazem. Um
argumento torna-se falacioso quando o apelo é feito a uma autoridade que não é especialista no
assunto em questão. Um apelo semelhante que merece atenção é o apelo à autoridade anónima, no
qual uma ideia é atribuída a um colectivo vago. Por exemplo: Professores na Alemanha
demonstraram tal e tal serem verdade.

Um tipo de apelo irrelevante à autoridade é o apelo à sabedoria antiga, no qual algo é considerado como
verdadeiro só porque se acreditava ser verdade há algum tempo. Por exemplo: a Astrologia era
praticada por civilizações tecnologicamente avançadas, como a da antiga China. Portanto, deve
ser verdade. Pode-se também recorrer a sabedoria antiga para suportar as coisas que são
idiossincráticas, ou passíveis de mudar com o tempo. Por exemplo: as pessoas costumavam dormir
nove horas por noite, há muitos séculos, por isso temos de dormir o mesmo hoje em dia também.
Há todo o tipo de razões que podem ter feito com que as pessoas dormissem por períodos de tempo
mais longos no passado. O facto de o terem feito não fornece quaisquer provas factuais para o
argumento em causa.

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Falácia Informal › Ambiguidade › Equívoco2
Equívoco

O equívoco explora as ambiguidades da linguagem, mudando o significado de uma palavra no decurso


de uma discussão e usando os diferentes significados para suportar determinada conclusão. Uma
palavra cujo significado é mantido ao longo de uma discussão é descrita como sendo empregue
univocamente. Considere-se o seguinte argumento: Como podes tu ser contra a fé quando
depositamos fé a todo o momento, seja nos nossos amigos, potenciais cônjuges, ou em
investimentos? Aqui o significado da palavra “fé” é alterado, passando de uma crença espiritual
numa entidade criadora para a confiança num qualquer empreendimento arriscado.

Uma invocação comum desta falácia ocorre em discussões sobre Ciência e Religião, nas quais a palavra
“porquê” pode ser usada de maneiras equivocadas. Num contexto, pode ser usada como uma palavra
que busca uma causa, o que calha ser o principal motor da Ciência; noutro, pode ser usada como
uma palavra que procura um propósito e lida com a moral e falhas do ser humano, perguntas para
as quais a Ciência pode muito bem não ter respostas. Por exemplo, pode-se argumentar: A Ciência
não nos pode dizer o porquê das coisas acontecerem. Porque existimos? Porquê ser moral? Assim,
precisamos de alguma outra fonte para nos dizer porque é que as coisas acontecem.

2 A ilustração é baseada numa conversa entre Alice e a Rainha Branca em Alice do Outro Lado do
Espelho, de Lewis Carroll.

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Falácia Informal › Pressuposto Injustificado › Falso Dilema3
Falso Dilema

Um falso dilema é um argumento que apresenta um conjunto de duas categorias possíveis e assume
que tudo no âmbito daquilo que está a ser discutido tem de ser um elemento desse conjunto. Se uma
dessas categorias é rejeitada, então a outra terá obrigatoriamente de ser aceite. Por exemplo: na
guerra contra o fanatismo, não há meios-termos; ou se está connosco ou se está com os fanáticos.
Na realidade existe uma terceira opção, podendo-se muito bem ser neutro; e uma quarta opção,
podendo-se ser contra ambas as posições; e até mesmo uma quinta opção, podendo-se identificar
com elementos de ambas as partes.

No livro The Strangest Man menciona-se que o físico Ernest Rutherford contou certa vez ao seu colega
Niels Bohr uma parábola sobre um homem que comprou um papagaio de uma loja para acabar por
o devolver porque não falava. Após várias visitas semelhantes, o gerente da loja acaba por lhe dizer:
“Oh, pois é! O senhor queria um papagaio que fala. Por favor desculpe-me. Eu dei-lhe um papagaio
que pensa.” Ora, Rutherford estava claramente a empregar a parábola para ilustrar o génio do
silencioso Dirac,4 embora se consiga imaginar como é que alguém poderia usar uma tal dialéctica
para sugerir que uma pessoa é ou silenciosa e uma pensadora, ou faladora e uma imbecil.

3 Esta falácia é também conhecida como a falácia do meio excluído, falácia do preto-e-branco, ou a falsa
dicotomia.
4 O brilhante físico teórico britânico Paul Dirac (8 de Agosto de 1902 – 20 de Outubro de 1984), de

cujo livro The Strangest Man: The Hidden Life of Paul Dirac, Quantum Genius de Graham Farmelo
é uma biografia (N.T.).

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Falácia Informal › Falácia Casual › Falsa Causa
Falsa Causa

Esta falácia assume uma causa para determinado evento quando não existe qualquer prova de que tal
causa exista. Dois eventos podem ocorrer um após o outro, ou até em simultâneo, por estarem
correlacionados, seja por acidente ou devido a qualquer outro factor desconhecido; não se pode
concluir estarem causalmente ligados sem provas. O terramoto recente deveu-se às pessoas
desobedecerem ao rei não é um bom argumento.

A falácia tem dois tipos específicos: “depois disto, portanto, por causa disto”5 e “com isto, portanto por
causa disto”.6 Em relação ao primeiro: porque um evento aconteceu antes de outro, diz-se tê-lo
causado. Em relação ao segundo: porque um evento acontece ao mesmo tempo que um outro, diz-
se tê-lo causado. Em várias disciplinas, isto diz-se ser o confundir correlação com causalidade.7

Aqui está um exemplo parafraseado do comediante Stewart Lee: Eu não posso dizer que, por ter feito
um desenho de um robot em 1976 e depois ter estreado o filme Star Wars, eles me tenham copiado
a ideia. Aqui está outro que vi recentemente num fórum online: O atacante mandou abaixo o site
da empresa ferroviária e quando verifiquei os horários de chegada dos comboios, acreditam que
estavam todos atrasados?! O que o autor deste post não percebeu é que aqueles comboios
raramente chegam a tempo e horas, e assim, sem qualquer tipo de controlo científico, a inferência é
infundada.

5e6 Comumente referidas em Português pela expressão latina Post hoc, ergo propter hoc e Cum hoc,
ergo propter hoc, respectivamente. (N. do T.)
7 Ao que consta, demonstrou-se que comer chocolate e ganhar um Prémio Nobel estão altamente

correlacionados, o que talvez aumente as esperanças de muito consumidor de chocolate.

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Falácia Informal › Manobra de Diversão › Apelo à Emoção › Apelo ao Medo
Apelo ao Medo

Esta falácia joga com os temores de uma audiência, imaginando um futuro assustador que seria da sua
lavra caso determinada proposição fosse aceite. Ao invés de apresentar provas que demonstrem que
uma conclusão decorre de um conjunto de premissas, o que pode fornecer um motivo legítimo para
o medo, tais argumentos dependem de retórica, ameaças ou mentiras. Por exemplo: peço a todos os
funcionários para votarem no candidato que escolhi nas próximas eleições. Se o outro candidato
ganhar, vai aumentar os impostos e muitos de vós irão perder os empregos.

Aqui está outro exemplo, derivado do romance O Processo: Devia dar-me todos os seus bens antes de
a polícia aqui chegar. Eles vão acabar por colocá-los em armazenagem e as coisas em
armazenagem perdem-se. Aqui, embora o argumento seja mais provavelmente uma ameaça, ainda
que subtil, existe uma tentativa de argumentação. Ameaças flagrantes ou ordens que não tentam
fornecer provas que as sustentem não devem ser confundidas com esta falácia, mesmo que explorem
a capacidade para o medo de cada um (Engel).

Um apelo ao medo pode partir para a descrição de um conjunto de acontecimentos terríveis que
ocorreriam como resultado da aceitação de uma proposição sem que haja relações causais claras
entre ambas as coisas, tornando-se assim reminiscente de uma “bola de neve”. Pode também
fornecer uma e apenas uma alternativa para a proposição sob ataque: a defendida pelo atacante; em
cujo caso seria reminiscente de um falso dilema.

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Falácia Informal › Analogia Fraca › Amostra Não-Representativa › Generalização Inadequada
Generalização Inadequada
(Dicto Simpliciter)

Esta falácia é cometida quando se generaliza a partir de uma amostra demasiado pequena ou
demasiado especial para ser representativa de uma população.

Embora convenientes, as generalizações apressadas podem conduzir a resultados custosos e


catastróficos. Por exemplo, pode argumentar-se que os pressupostos de engenharia que levaram à
explosão do Ariane 5 durante o seu primeiro voo foram o resultado de uma generalização apressada:
o conjunto de casos de teste que foram usados para o controlador8 do Ariane 4 não foi amplo o
suficiente para abranger o conjunto necessário de casos de uso no controlador do Ariane 5.
Descartar decisões como a de não efectuar novos casos de teste resume-se habitualmente à
habilidade de argumentação dos engenheiros e gestores, daí a relevância deste e outros exemplos
similares para a nossa discussão sobre falácias lógicas.

Aqui está outro exemplo a partir d’As Aventuras de Alice no País das Maravilhas, no qual Alice infere
que, dado estar a flutuar numa massa de água, terá de estar por perto uma estação de comboios e,
por conseguinte, auxílio: “Alice só tinha ido uma vez à praia e chegara à conclusão de que a qualquer
praia onde uma pessoa vá há-de encontrar sempre uma série de barracas, crianças a cavar na areia
com pazinhas, uma fila de pensões e hotéis e, por trás deles, uma estação de caminho-de-ferro.”
(Carroll).

8 Ou seja, o software responsável pelo controlo de trajectória dos foguetes europeus Ariane de uso
espacial (N. do T.)
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Falácia Informal › Falácia de Informação em Falta › Apelo à Ignorância9
Apelo à Ignorância
(Argumentum ad Ignorantiam)

Um tal argumento assume que uma proposição é verdadeira apenas porque não existem provas em
contrário. Assim, a ausência de provas é tomada como significando a prova de uma ausência. Um
exemplo de Carl Sagan: “Não existem provas convincentes de que os OVNIs não estejam a visitar a
Terra; portanto os OVNIs existem”. De modo semelhante, quando ainda não se sabia como tinham
sido as pirâmides construídas, algumas pessoas concluíram que, salvo prova em contrário, elas
tinham de ter sido construídas por poderes sobrenaturais. O ónus da prova recai sempre sobre quem
faz uma afirmação.

Para além disto, há que perguntar o que é mais provável ou o que é menos provável com base em
informação recolhida a partir de observações anteriores. É mais provável que um objecto ao voar
através do espaço seja um artefacto feito pela Humanidade ou um fenómeno natural, ou é mais
provável que seja extraterrestres que nos visitam de outro planeta? Uma vez que temos
frequentemente observado o primeiro caso e nunca o último, é, portanto, mais razoável concluir-se
que os OVNIs provavelmente não serão extraterrestres a visitar-nos.
Uma forma específica de apelo à ignorância é o argumento à incredulidade pessoal, no qual a
incapacidade de uma pessoa de imaginar algo conduz a uma crença de que o argumento apresentado
é falso. Por exemplo: É impossível imaginar termos mesmo metido um homem na Lua, portanto,
isso nunca aconteceu. Respostas deste tipo recebem por vezes a réplica espirituosa:É por essas e por
outras que não és um físico.

9 A ilustração é inspirada pela resposta do físico Neil deGrasse Tyson à pergunta de um membro da
audiência sobre OVNIs: youtu.be/NSJElZwEI8o.

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Falácia Informal › Ambiguidade › Equivoco › Redefinição › Falácia do Escocês
Falácia do Escocês

Uma afirmação geral pode por vezes ser feita acerca de uma categoria de coisas. Quando confrontados
com provas que contestam a veracidade dessa afirmação, um tal argumento, ao invés de as aceitar
ou rejeitar, escapa-se ao desafio através de uma redefinição arbitrária dos critérios de adesão à
categoria.10

Por exemplo, pode pressupor-se que os programadores são criaturas sem competências sociais. Se
alguém aparece e repudia essa afirmação, dizendo: “Mas o João é um programador, e ele não é
nada estranho socialmente”, pode receber a resposta: “Sim, mas o João não é um programador “a
sério” ”. Não se tornam aqui claros quais os atributos de um programador, nem é a categoria de
programadores tão claramente definida como a categoria de, digamos, pessoas com olhos azuis. A
ambiguidade permite a uma mente obstinada redefinir as coisas à sua vontade.

O nome desta falácia foi cunhado por Antony Flew no seu livro Thinking about Thinking. Nele, Flew
dá o seguinte exemplo: Hamish está a ler o jornal e depara-se com uma história sobre um inglês
que cometeu um crime hediondo, ao que ele reage dizendo: “Nenhum escocês faria tal coisa.” No
dia seguinte, depara-se com uma peça sobre um escocês que cometeu um crime ainda pior. Em vez
de alterar a sua afirmação sobre os escoceses, Hamish reage com: “Nenhum verdadeiro escocês
faria tal coisa”.

10 Quando um oponente redefine maliciosamente uma categoria sabendo muito bem que, ao fazê-lo,
ele ou ela estarão a representá-la de forma propositadamente errada, o ataque torna-se reminiscente
de uma falácia do espantalho.

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Falácia Informal › Manobra de Diversão › Falácia Genética
Falácia Genética

A proveniência de um argumento ou a proveniência da pessoa que dele faz uso não têm qualquer efeito
na sua validade. Comete-se uma falácia genética quando um argumento é desvalorizado ou
defendido puramente por causa da sua história de origem. Como T. Edward Damer aponta: quando
se está emocionalmente ligado às origens de uma ideia, nem sempre é fácil ignorar estes sentimentos
ao avaliá-la.

Considere-se o seguinte argumento: É claro que ele apoia os sindicalistas em greve; apesar de tudo,
vem da mesma aldeia que eles. Aqui, em vez de se avaliar o argumento com base nos seus méritos
próprios, o argumento é descartado porque a pessoa calha vir da mesma aldeia que os manifestantes.
Essa informação é então usado para inferir que o argumento da pessoa é portanto inválido. Aqui está
outro exemplo: Como homens e mulheres do século XXI, não podemos continuar apegados a estas
crenças da Idade do Bronze. Porque não?, poder-se-ia perguntar. Devemos descartar todas as ideias
originárias da Idade do Bronze simplesmente por terem sido concebidas nesse período?

Inversamente, pode-se também invocar a falácia genética num sentido positivo, dizendo, por
exemplo: as opiniões do João sobre arte não podem ser contestadas; ele vem de uma longa
linhagem de importantes artistas. Aqui, as provas usadas para suportar a inferência estão tão em
falta quanto o estiveram nos exemplos anteriores.

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Falácia Informal › Manobra de Diversão › Culpa por Associação
Culpa por Associação
Culpar por associação consiste em desacreditar um argumento que proponha uma ideia compartilhada
por um indivíduo ou um grupo socialmente demonizados. Por exemplo: O meu oponente está a
propor a criação de um sistema de saúde que seria semelhante ao dos países socialistas. Isto seria
claramente inaceitável. O sistema de saúde proposto assemelhar-se ou não ao de países socialistas
é um factor que não tem influência alguma sobre se ele é bom ou mau. O argumento é um portanto
um completo non sequitur.

Um outro tipo de argumento, que tem sido repetido ad nauseam nalgumas sociedades, é o
seguinte: Não podemos deixar as mulheres conduzir, porque nos países infiéis deixa-se as mulheres
conduzir. Essencialmente, o que este e os exemplos anteriores tentam argumentar é que um
determinado grupo de pessoas é absoluta e categoricamente mau. Por isso a partilha, mesmo que de
um único atributo, com o referido grupo, faria de nós um membro dele, o que nos concederia todos
os males associados a esse grupo.

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Falácia Formal › Falácia Proposicional › Afirmação do Consequente
Afirmação do Consequente

Uma das muitas formas de argumentação válida é o modus ponens (o modo de afirmar afirmando) e
toma a seguinte forma: Se A então C. A; então C. Mais formalmente:
A ⇒ C, A ⊢ C.

Temos aqui três proposições: duas premissas e uma conclusão. A é o chamado antecedente e C o
consequente. Por exemplo: Se água colocada ao nível do mar estiver a ferver, então a sua
temperatura é de pelo menos 100 ° C. Este copo de água está a ferver enquanto colocado ao nível
do mar; portanto, a sua temperatura é de pelo menos 100 ° C. Tal argumento é não só válido como
também sólido.

Afirmar o consequente é uma falácia formal que toma a seguinte forma: Se A então C. C; então A.

O erro que se faz é presumir que, se o consequente for verdadeiro, então o antecedente deve ser também
verdadeiro, o que, na realidade, não necessita de ser o caso. Por exemplo: Quem vai para a
universidade é mais bem-sucedido na vida. O João é bem-sucedido. Portanto, ele deve ter ido para
a universidade. Claramente, o sucesso do João pode ser resultante da sua formação académica, mas
pode também ser um resultado da maneira como foi criado, ou talvez do seu empenho em superar
situações difíceis. De modo mais geral, não se pode dizer que, por causa da formação académica
implicar sucesso, que se alguém for bem-sucedido, então é necessário ter recebido uma boa
formação.

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Falácia Informal › Manobra de Diversão › Falácia Genética › Ad Hominem › Apelo à Hipocrisia
Apelo à Hipocrisia

Também conhecida pelo seu nome latino “tu quoque”, ou seja, “também tu”, esta falácia envolve
contrapor uma acusação a outra acusação em vez de se abordar a questão a ser levantada; com a
intenção de se desviar a atenção do argumento original. Por exemplo, o João diz: "Este homem está
errado, porque não tem integridade; basta perguntar-lhe porque foi ele demitido do seu último
emprego”, ao que o Pedro responde: “Que tal falarmos sobre o bónus chorudo que levaste para casa
o ano passado, apesar de metade da tua empresa ter sido despedida?”. O apelo à hipocrisia também
pode ser invocado quando uma pessoa ataca outra porque o que aquilo que ela defende entra
directamente em conflito com as suas acções passadas (Engel).

Aqui está outro exemplo, do filme Obrigado por Fumar (título original: Thank You For Smoking. Fox
Searchlight Pictures, 2005) de Jason Reitman, onde uma troca de galhardetes pejada de tu quoque é
assim rematada pelo bem-falante lobista do tabaco, Nick Naylor: “Só acho engraçada a ideia de que
o cavalheiro de Vermont me acuse de ser hipócrita quando este mesmo homem, num único dia, deu
uma conferência de imprensa na qual clamou para que os campos de tabaco americano fossem
queimados e depois saltou para dentro de um jacto privado e voou para a Farm Aid,11 onde conduziu
um tractor em palco enquanto lamentava a ruína do agricultor norte-americano.”

11 Concerto anual de beneficência em apoio aos agricultores norte-americanos, organizado pela


associação com o mesmo nome. N. do T.
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Falácia Informal › Manobra de Diversão › Bola de Neve
Bola de Neve

Uma falácia “bola de neve”12 procura desacreditar uma proposição argumentando que a sua aceitação
iria certamente levar a uma série de eventos, um ou mais dos quais são indesejáveis. Embora se
possa dar o caso da sequência de eventos vir a suceder-se, com cada uma das transições a ocorrer
segundo determinada probabilidade, este tipo de argumento assume que elas acontecerão de forma
absolutamente inevitável sem, no entanto, fornecer provas para tal. Esta falácia joga com os temores
de um público e está relacionada com várias outras falácias, tais como o apelo ao medo, o falso dilema
e o argumento por consequência.

Por exemplo: Não devíamos autorizar o acesso não-controlado à Internet. A seguir vai-se a ver e
estará toda a gente a frequentar sites pornográficos e, não tarda, toda a estrutura moral da nossa
sociedade se desintegrará e ficaremos reduzidos a animais. É flagrantemente claro que nenhuma
prova é dada para além de certas pressuposições sobre conduta e a conjectura infundada de que o
acesso à Internet implica a desintegração do tecido moral de uma sociedade.

12 A “bola de neve” aqui descrita é de tipo causal.


40
Falácia Informal › Manobra de Diversão › Apelo à popularidade
Apelo à popularidade

Também conhecido como apelo ao povo ou argumento ad populum, este argumento parte do facto de,
se um número considerável de pessoas, ou talvez mesmo a maioria, acredita em algo, então esse algo
será verdade. Alguns dos argumentos que têm impedido a aceitação generalizada de ideias pioneiras
são deste tipo. Galileu, por exemplo, enfrentou o ridículo dos seus contemporâneos por causa do seu
apoio ao modelo heliocêntrico de Copérnico. Mais recentemente, Barry Marshall teve que tomar a
medida extrema de se inocular a si próprio a fim de convencer a comunidade científica de que as
úlceras pépticas podem ser causadas pela bactériaH. pylori; uma teoria que foi, inicialmente,
amplamente descartada.

Levar as pessoas a aceitar o que é popular é um método frequentemente utilizado na publicidade e na


política. Por exemplo: todos os miúdos fixes usam este gel para o cabelo; torna-te um deles. Apesar
de ser uma oferta aliciante tornarmo-nos um “miúdo fixe”, isso nada faz para apoiar o imperativo de
que se deve comprar o produto anunciado. Os políticos usam frequentemente retórica semelhante
para impulsionar as suas campanhas e para influenciar os eleitores.
42
Falácia Informal › Falsa Causa › Falácia Genética › Ad Hominem13
Ad Hominem

Um argumento ad hominem é todo aquele que ataca o carácter de outrem em vez daquilo que ele ou
ela possam estar a dizer, com a intenção de desviar a discussão e desacreditar o argumento
adversário. Por exemplo: Tu não és um historiador. Limita-te à tua área académica. Aqui, a pessoa
ser ou não ser uma historiadora não tem qualquer impacto no mérito do seu argumento e não reforça
de maneira nenhuma a posição argumentativa do atacante.

Este tipo de ataque pessoal é o chamado ad hominem ofensivo. Um segundo tipo, conhecido como ad
hominem circunstancial, inclui qualquer argumento que ataca outrem por razões cínicas, julgando-
o pelas suas intenções. Por exemplo: Tu não queres mesmo saber da diminuição do crime na cidade,
só queres é que as pessoas votem em ti. Há, no entanto, situações em que será legítimo pôr em causa
o carácter e integridade de uma pessoa, tais como durante a prestação de um depoimento.

13 A ilustração foi inspirada numa discussão na plataforma Usenet há vários anos, da qual participou
um programador teimoso e com excesso de zelo.
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Falácia Informal › Falácia da Petição de Princípio › Círculo Vicioso
Círculo Vicioso

A falácia de círculo vicioso é um dos quatro tipos de argumentos conhecidos como falácias da petição
de princípio ou argumento circular (Damer), nos quais a conclusão surge implícita ou explicitamente
numa ou mais premissas. Num círculo vicioso, a conclusão é ou usada de forma descarada como
uma premissa ou, mais frequentemente, parafraseada de modo a parecer-se com uma proposição
diferente, quando na realidade não o é. Por exemplo: Estás completamente errado porque não estás
a fazer sentido nenhum. Aqui, as duas proposições são uma e a mesma coisa, dado que estar errado
e não fazer sentido querem, neste contexto, dizer a mesma coisa. O argumento limita-se a declarar
que “por causa de X, então X”, o que não tem sentido algum.

Um argumento circular pode assentar, às vezes, em premissas subentendidas, o que pode torná-lo mais
difícil de detectar. Aqui está um exemplo da série de TV australiana Please Like Me, em que uma das
personagens condena outra, um não-crente, ao inferno, ao que ela responde: “[Isso] não faz qualquer
sentido. É como ter um hippie a ameaçar dar-nos um soco na aura.” Neste exemplo, a premissa
subentendida é a de que existe um Deus que envia um subconjunto de pessoas para o inferno. Assim,
a premissa “Existe um Deus que envia os não-crentes para o inferno” é usada para sustentar a
conclusão “Existe um Deus que envia os não-crentes para o inferno”.
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Falácia Informal › Pressuposto Injustificado › Composição e Divisão
Composição e Divisão

A falácia de composição consiste em inferir que um todo deve possuir um determinado atributo porque
as suas partes constituintes calham ter esse atributo. Para parafrasear Peter Millican: cada animal
de um rebanho ter uma mãe não implica que o rebanho como um todo tenha uma mãe. Aqui vai
outro exemplo: Cada módulo neste sistema de software foi submetido a um conjunto de testes de
unidade e foi aprovado em todos eles. Portanto, quando os módulos são integrados, o sistema de
software não viola qualquer uma das invariantes verificadas pelos testes de unidade. A realidade
é que a integração de peças individuais introduz novos factores de complexidade num sistema devido
às suas várias dependências, que podem, por seu turno, abrir vias adicionais para uma potencial
falha sistémica.

A falácia da divisão consiste, inversamente, em inferir que uma parte deve ter um dado atributo porque
o todo a que pertence calha possuir esse atributo. Por exemplo: A nossa equipa é imbatível.
Qualquer um dos nossos jogadores seria capaz de se bater com um jogador de qualquer outra
equipa e eclipsá-lo. Embora possa ser verdade que a equipa como um todo é imbatível, não se pode
usar isso como prova para concluir que cada um dos seus jogadores é também ele imbatível. O
sucesso de uma equipa claramente nem sempre se traduz numa soma das capacidades individuais
dos seus jogadores.
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Ouvi, há muitos anos, um professor apresentar os argumentos dedutivos através de uma metáfora
fantástica, que os descrevia como canos estanques nos quais a verdade entra por um lado e a verdade
sai pelo outro. Acontece que foi essa a inspiração para a capa deste livro. Tendo chegado ao fim deste
volume, espero que parta não só com uma melhor apreciação dos benefícios dos argumentos
estanques em validar e ampliar o conhecimento próprio, mas também das complexidades dos
argumentos indutivos, onde as probabilidades entram em jogo. Com esses argumentos em
particular, o pensamento crítico revela-se uma ferramenta indispensável. Espero que parta também
com uma percepção dos perigos de argumentos frágeis e do quão comuns eles são no nosso dia-a-
dia.

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Proposição: Uma afirmação que é ou verdadeira ou falsa, mas não ambos. Por exemplo: Lisboa é a
maior cidade de Portugal.

Premissa: Uma proposição que fornece apoio para a conclusão de um argumento. Um argumento
pode ter uma ou mais premissas.
Argumento: Um conjunto de proposições que visa persuadir através do raciocínio. Num argumento,
um subconjunto de proposições, chamadas premissas, fornece apoio a uma outra proposição
denominada conclusão.

Argumento Dedutivo: Um argumento no qual caso as premissas sejam verdadeiras, então a


conclusão terá de ser verdadeira também. A conclusão diz-se ser uma consequência lógica das
premissas. Por exemplo: Todos os homens são mortais. Sócrates é um homem. Logo, Sócrates é
mortal.

Argumento Indutivo: Num argumento em que as premissas são verdadeiras, então é provável que
a conclusão também o seja.14 A conclusão não deriva, portanto, com necessidade lógica das
premissas, mas sim por probabilidade. Por exemplo: De todas as vezes que medimos a velocidade
da luz no vácuo, esta é de 3 × 108 m / s. Portanto, a velocidade da luz no vácuo é uma constante

14 Em Ciência, procede-se regra geral de forma indutiva a partir de dados para leis e de leis para teorias,
sendo portanto a indução a base de grande parte do processo científico. A indução é normalmente
entendida como o testar de uma proposição a partir de uma amostra, por ser impraticável ou
impossível fazê-lo de outro modo.

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universal. Argumentos indutivos partem geralmente de instâncias específicas para um princípio geral.

Falácia Lógica: Um erro de raciocínio que resulta num argumento inválido. Estes erros têm
estritamente a ver com o raciocínio usado para transitar de uma proposição para a outra, e não com
os factos usados. Por outras palavras: um argumento inválido usado ao debater-se uma questão não
significa, necessariamente, que essa questão careça de validade. Falácias lógicas são violações de um
ou mais dos princípios que constituem um bom argumento, tais como uma boa estrutura,
consistência, clareza, ordem, relevância e completude.

Falácia Formal: Uma falácia lógica cuja forma não se adequa às regras gramaticais e às regras de
inferência de cálculo lógico. A validade do argumento pode ser determinada por meio da mera
análise da sua estrutura abstracta, sem necessidade de se avaliar o seu conteúdo.

Falácia Informal: Uma falácia lógica que se deve ao seu conteúdo e contexto mais do propriamente
a sua forma. Se o erro de raciocínio for comumente invocado, então o argumento considera-se uma
falácia informal.

Validade: Um argumento dedutivo é válido se a sua conclusão deriva logicamente das suas premissas.
Caso contrário, diz-se ser inválido. Os descritores válido e inválido aplicam-se apenas a argumentos
e não a proposições.

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Solidez: Um argumento dedutivo é sólido se for válido e as suas premissas forem verdadeiras. Se
qualquer uma destas condições não se verificar, então o argumento não é sólido. A verdade do
argumento é determinada a partir da conformidade entre as premissas e conclusões do argumento
e os factos do mundo real.

Força: Um argumento indutivo diz-se ser forte se, caso as suas premissas sejam verdadeiras, seja
altamente provável que a sua conclusão seja verdadeira também. Caso contrário, se é improvável
que a sua conclusão seja verdadeira, então diz-se ser um argumento fraco. Argumentos indutivos
não preservam a verdade, ou seja, nunca se dá o caso de que uma conclusão verdadeira tenha de
derivar de premissas verdadeiras.

Cogência: Um argumento indutivo é cogente se é forte e as premissas são verdadeiras, ou seja, de


acordo com os factos. Caso contrário, diz-se que o argumento não é cogente.

Falseabilidade: Um atributo de uma proposição ou argumento que lhe permite ser refutado ou
desmentido através da observação ou da experiência. Por exemplo, a proposição “todas as folhas são
verdes” pode ser refutada apontando para uma folha que não é verde. A falseabilidade é um sinal da
força de um argumento, e não da sua fraqueza.

55
[Aristotle] Aristotle, On Sophistical Refutations, translated by W. A. Pickard,
http://classics.mit.edu/Aristotle/sophist_refut.html

[Avicenna] Avicenna, Treatise on Logic, translated by Farhang Zabeeh, 1971.

[Carroll] Lewis Carroll, Alice's Adventures in Wonderland, 2008,


http://www.gutenberg.org/files/11/11-h/11-h.htm

[Curtis] Gary N. Curtis, Fallacy Files, http://fallacyfiles.org

[Damer] T. Edward Damer, Attacking Faulty Reasoning: A Practical Guide to Fallacy-Free Arguments
(6th ed), 2005.

[Engel] S. Morris Engel, With Good Reason: An Introduction to Informal Fallacies, 1999.

[Farmelo] Graham Farmelo, The Strangest Man: The Hidden Life of Paul Dirac, Mystic of the Atom,
2011.

[Fieser] James Fieser, Internet Encyclopedia of Philosophy, http://www.iep.utm.edu

[Firestein] Stuart Firestein, Ignorance: How it Drives Science, 2012.

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[Fischer] David Hackett Fischer, Historians' Fallacies: Toward a Logic of Historical Thought, 1970.

[Gula] Robert J. Gula, Nonsense: A Handbook of Logical Fallacies, 2002.

[Hamblin] C. L. Hamblin, Fallacies, 1970.

[King] Stephen King, On Writing, 2000.

[Minsky] Marvin Minsky, The Society of Mind, 1988.

[Pólya] George Pólya, How to Solve It: A New Aspect of Mathematical Method, 2004.

[Russell] Bertrand Russell, The Problems of Philosophy, 1912,


http://ditext.com/russell/russell.html

[Sagan] Carl Sagan, The Demon-Haunted World: Science as a Candle in the Dark, 1995.

[Simanek] Donald E. Simanek, Uses and Misuses of Logic, 2002,


http://www.lhup.edu/~dsimanek/philosop/logic.htm

[Smith] Peter Smith, An Introduction to Formal Logic, 2003.

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