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do SUS. Fundação Oswaldo Cruz & Universidade de Brasília Rute Nogueira de Morais Bicalho
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Enrique Huelva Conteudista Luís Carlos Galvão Lobo
Vice reitor Kátia Crestine Poças
Apoio administrativo
Faculdade de Medicina Revisor Técnico-científico Suzana Melo Franco
Gustavo Adolfo Sierra Romero Celeste Aida Nogueira Silveira
Diretor Luiza Hiroko Yamada Kuwae

Gilvânia Feijó
Vice diretora
Sumário

Atividade 1
Medicamentos na prática clínica: o que precisamos saber sobre eles?.................................. 7

Atividade 2
Técnica da prescrição de fármacos: regulamento,
tipos de prescrição e técnicas de preenchimento.....................................................................14

Atividade 3
O Uso Racional de Medicamentos e a adesão ao medicamento ...........................................36

Atividade 4
Prescrevendo na Atenção Básica................................................................................................46

Atividade 5
Rename e Farmácia Popular........................................................................................................ 54

Chegamos ao final do módulo:....................................................................................................63

Referências Bibliográficas............................................................................................................65

Glossário.........................................................................................................................................68
Apresentação da Unidade Didática

4
A Unidade é composta por cinco atividades
que abordam os seguintes temas:

5
Objetivos Introdução

Convidar os participantes a refletirem sobre seu papel na prescrição de Um dos maiores desafios da prática médica atual é a decisão da melhor
fármacos e a desenvolverem uma postura mais ativa para o uso racional prescrição terapêutica com a gama de possibilidades ofertadas pela
de medicamentos. indústria farmacêutica nos mercados nacional e internacional.

São fundamentais o estudo continuado, por meio do acesso a cursos


de atualização e especializações, e o estudo autodidata no consultório
sempre que necessário. Para tanto, é sempre importante ter às mãos
textos confiáveis e atualizados de Farmacologia Clínica e manuais que
contribuem para técnicas que possibilitem uma melhor prescrição na
decisão terapêutica.

Nesse sentido, o convite por meio desta Unidade é para compartilharmos


saberes que possam contribuir para uma prescrição médica racional e de
qualidade.
O efeito do medicamento deve-se a uma ou Primeiramente, pensamos no fármaco como
Atividade 1 mais substâncias ativas com propriedades qualquer substância que altera a função
terapêuticas reconhecidas cientificamente, biológica por meio de suas ações químicas.
que fazem parte da composição do A Farmacologia é a ciência que estuda o
Medicamentos na prática produto, denominadas fármacos, drogas resultado da interação de um composto
clínica: o que precisamos ou princípios ativos. Os medicamentos
seguem normas rígidas para poderem ser
químico com os sistemas biológicos
(BARROS, 2010). As substâncias químicas
saber sobre eles? utilizados, desde a sua pesquisa e o seu podem ser denominadas medicamentos,
desenvolvimento, até a sua produção e sua fármacos e drogas. Vamos entender melhor!
Os medicamentos são produtos especiais elaborados comercialização (BRASIL, 2010a).
com as finalidades de diagnosticar, prevenir, curar
doenças ou aliviar seus sintomas, sendo produzidos com
rigoroso controle técnico para atender às especificações
determinadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa).

7
Segundo a Farmacopeia Brasileira (BRASIL, 2010b)
Fármaco Droga Medicamento
é sinônimo de droga. É o princípio é qualquer substância química capaz de é a droga ou a preparação com drogas
ativo que será preparado pela farmácia produzir efeito farmacológico, isto é, de ação farmacológica benéfica quando
de manipulação ou pela indústria capaz de provocar alterações somáticas ou utilizada de acordo com as suas indicações e
farmacêutica. Mais especificadamente, de funcionais, benéficas (medicamentos) ou propriedades. Medicamentos são produtos
estrutura química bem definida. maléficas (tóxico). químicos utilizados com fim terapêutico.

Medicamento de Referência Medicamento Medicamento Genérico


é o prouto inovador registrado em órgão é o produto farmacêutico, tecnicamente, é o medicamento similar a um produto
federal brasileiro, responsável pela obtido, ou elaborado, que contém um ou de referência ou inovador, que pretende
vigilância sanitária, e comercializado no mais fármacos e outras substâncias, com ser como esse intercambiável, geralmente
País, cujas eficácia, segurança e qualidade finalidades profilática, curativa, paliativa produzido após a expiração ou a renúncia da
foram comprovadas, cientificamente, no ou para fins de diagnóstico. proteção patentária ou de outros direitos de
órgão federal competente por ocasião do exclusividade, comprovadas a sua eficácia,
registro. a segurança e a qualidade, e designado pela
DCB ou, na sua ausência, pela DCI.
Como os genéricos não têm marca, o que
você lê na embalagem é o princípio ativo
Na embalagem dos genéricos tem que
do medicamento. Fique de olho!
estar escrito “Medicamento genérico” e o
número da lei (Lei nº 9.787/99).

Todos os medicamentos genéricos deverão


ter a tarja amarela que visa facilitar a Pergunte ao seu médico se existe um
identificação dos mesmos. medicamento genérico equivalente ao seu.
Caso exista, peça sua inclusão na receita.
Mais conceitos Quer saber mais?

é o medicamento equivalente
terapêutico de um medicamento
Medicamento
de referência, comprovados, O próximo passo para saber mais sobre tantos conceitos
intercambiável
essencialmente, os mesmos efeitos envolvidos com os medicamentos é conhecer e explorar
de eficácia e segurança. uma publicação da Anvisa que aborda essa temática:
O que devemos saber sobre medicamentos. Ela está
disponível em sua biblioteca.
é o medicamento equivalente
terapêutico de um medicamento
Medicamento magistral de referência, comprovados,
essencialmente, os mesmos efeitos
de eficácia e segurança.
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é aquele que contém o mesmo ou os


mesmos princípios ativos; apresenta
mesma concentração, forma
farmacêutica, via de administração,
posologia e indicação terapêutica;
e é equivalente ao medicamento
registrado no órgão federal,
Medicamento similar responsável pela vigilância sanitária,
podendo diferir somente em
características relativas ao tamanho
e à forma do produto, ao prazo de
validade, à embalagem, à rotulagem,
aos excipientes e veículo, devendo
sempre ser identificado por nome
comercial ou pela marca.
mas se acredita que os fatores genéticos possam Soluções
ser responsáveis em algumas situações. Misturas homogêneas do soluto, que é a base
Preparações farmacológica, com o solvente, que é o veículo.
Forma Farmacêutica: Forma farmacêutica é
farmacêuticas: a maneira como os medicamentos são pre­pa­
Pode-se destinar ao uso sob a forma de gotas;

formas farmacêuticas, rados, apresentados e, consequentemente, co­ Suspensões


mercializados e utilizados, ou seja, comprimido,
vias de administração, xarope, suspensão e outros. Na forma farmacêutica,
Misturas heterogêneas, sendo que o soluto
deposita-se no fundo do recipiente, necessitando
veículos, excipientes, além do medicamento principal ou princípio ativo, de homogeneização no momento do uso;
entram outras substâncias na composição, como
doses, cálculos... veículo ou excipiente, coadjuvante, edulcorante,
Emulsões
ligante, preservativo etc.
Substâncias oleosas dispersas em meio aquoso,
apresentando separação de fases;
Posologia (do grego poso = quanto, mais logos = As formas farmacêuticas podem ser classificadas
estudo): É o estudo da dosagem do medicamento conforme se exemplifica a seguir:
Xaropes
com fins terapêuticos. Soluções aquosas nas quais o açúcar em altas
concentrações é utilizado como corretivo. Pode 11
Dose: É a quantidade capaz de provocar uma conter cerca de dois terços do seu peso em
res­posta terapêutica desejada no paciente, sacarose;
preferivelmente sem outras ações no organismo.
Elixires
Dosagem: A dosagem inclui, além da dose,
Soluções hidroalcoólicas para uso oral, açu­ca­
fre­­quência de administração e duração do
radas ou glicerinadas, contendo substâncias
tratamento.
aromáticas e as bases medicamentosas;
Idiossincrasia: O termo idiossincrasia refere-
se às reações particulares ou especiais do Loções
organismo às drogas, comumente chamadas Soluções alcoólicas ou aquosas para uso tópico;
reações idiossincrásicas.
Linimentos
Essas são nocivas, às vezes, fatais, e ocorrem em Similares aos anteriores, mas com veículo oleoso.
uma pequena minoria dos indivíduos. Na maioria
dos casos, a causa não é bem compreendida,
Preparações sólidas Preparações pastosas

Comprimidos - Forma farmacêutica de formato São preparações semi-sólidas normalmente


variável, em geral discóide, obtida por compressão. destinadas ao uso tópico. Como exemplos,
Na maioria dos casos, contém uma ou mais drogas, temos as seguintes: geleias, cremes, pomadas,
aglutinante e excipiente adequados, prensados unguentos e pastas, ordem crescente de vis­
mecanicamente; cosidade. Diferem também pelos veículos, que
são gelatinosos nas geleias, oleosos nas pomadas
Drágeas - Similares aos anteriores, mas com re­ e aquosos nos demais.
vestimento gelatinoso que impede a desin­tegração
nas porções superiores do trato digestivo. O
revestimento protetor apresenta várias camadas
com substâncias ativas ou inertes. Costumam ser
coloridas e polidas, utilizando-se cera carnaúba no
12
polimento;

Cápsulas - Uma ou mais drogas mais excipiente


não prensados e colocados em um invólucro
gelatinoso ou amiláceo;

Pílulas - Associação do princípio ativo com um


aglutinante viscoso;

Supositórios - Apresentações semi-sólidas para


uso retal, que se fundem à temperatura corporal
pela presença de manteiga de cacau, glicerina
ou polietilenoglicol;

Óvulos e Velas - Apresentações semi-sólidas


para uso ginecológico, cuja diferença entre si é
a forma.
Neste momento, vamos recordar alguns A intensidade do efeito de um fármaco está Enquanto outros podem produzir efeitos tóxicos
aspectos da Farmacologia que dizem respeito relacionada com sua concentração acima de uma significativos com níveis muito mais baixos (p.ex.,
aos conceitos e à compreensão sobre: Dose concentração eficaz mínima, enquanto a duração digoxina). Para um número limitado de fármacos,
Efetiva Mediana (DE50), Dose Letal (DL50) e do efeito do fármaco reflete o tempo durante o alguns dos seus efeitos são facilmente mensurados
Índice Terapêutico (IT). qual seu nível permanece acima desse valor. (a exemplos da pressão arterial e da glicemia)
e podem ser usados para ajustar a posologia,
Em geral, essas considerações aplicam-se aos usando-se a abordagem de ensaio e de erro.
efeitos desejados e indesejáveis (adversos)
dos fármacos e, por essa razão, existe uma Mesmo em uma situação ideal, surgem algumas
janela terapêutica que reflete a variação das questões quantitativas, entre elas, a de se
concentrações capazes de assegurar a eficácia estabelecer com que frequência a dose deve ser
do produto sem os efeitos tóxicos inaceitáveis. alterada e qual a amplitude dessa alteração.
Considerações semelhantes também se aplicam Em geral, isso pode ser determinado por regras
após administração de várias doses durante mnemônicas simples baseadas nos princípios de
um tratamento prolongado e determinam a
Farmacocinética (p.ex., não alterar a dose em mais
quantidade e a frequência do uso do fármaco
de 50% e não mais do que a cada 3-4 meias-vidas). 13
para obter o efeito terapêutico ideal.
Por outro lado, alguns fármacos causam pou-
Em geral, o limite inferior da faixa terapêutica
quíssima toxicidade dose-dependente e, em ge-
do fármaco parece ser praticamente igual à
concentração do fármaco que produz cerca da ral, a eficácia máxima é desejável. Nesses casos,
metade do maior efeito terapêutico possível, doses muito acima da média necessária assegu-
enquanto o limite superior é aquele no qual não ram eficácia (se isso for possível) e prolongam a
mais do que 5 a 10% dos pacientes desenvolvem ação do fármaco. A estratégia de “dose máxima”
efeito tóxico. é usada normalmente para as penicilinas. Entre-
tanto, como, para muitos fármacos. Entretanto,
No caso de alguns fármacos, isso pode significar para muitos fármacos, é difícil avaliar seus efei-
Vamos falar um pouco que o limite superior da variação não é mais do tos tóxicos (ou os fármacos são administrados
que duas vezes maior do que o limite inferior. Evi- profilaticamente), a toxicidade e a falta de eficá-
sobre otimização dos dentemente, esses valores podem sofrer variações cia são riscos potenciais, ou o índice terapêutico
é pequeno. Assim, as doses precisam ser titula-
esquemas posológicos para significativas e alguns pacientes podem ser muito
beneficiados por concentrações do fármaco acima das com cuidado e a posologia é limitada pela
fecharmos nosso raciocínio. da variação terapêutica enquanto outros. toxicidade, mais do que pela eficácia.
A
gora que revisamos conceitos básicos
relacionados aos medicamentos, estamos
melhor preparados para abordar as
Atividade 2 técnicas de prescrição e todos os aspectos
que estão envolvidos com a regulamentação
brasileira de como compor uma receita para o
paciente com ética e técnica adequadas.
Técnica da prescrição
14
de fármacos: O conteúdo desta atividade foi trabalhado
baseado nas legislações vigentes e nas discussões
regulamento, tipos de e orientações constantes:
prescrição e técnicas No livro “Medicamentos na prática clínica”
de preenchimento (BARROS, 2010), em especial o capítulo sobre
“Técnica de prescrição”, de autoria de Helena
M.T. Barros, Maristela Ferigolo e Luciana Signor.

“A prescrição é uma das orientações terapêuticas do médico para seu paciente”


Barros; Ferigolo; Signor, 2010
Prescrição é uma recomendação Na magistral, o médico seleciona A Lei nº 5.991/73 e o Decreto nֻº
escrita dada por um médico (ou fármacos, dose, veículos ou exci- 74.170/74 estabelecem que so-
outros profissionais habilitados) ao pientes de acordo com a forma mente seja aviada prescrição que
paciente e ao farmacêutico. farmacêutica para que o medica- contiver de modo legível:
mento seja preparado.
A redação da prescrição é uma arte ● a descrição do medicamento
negligenciada tanto no currículo O produto farmacêutico pré-com- nomenclatura oficial [DCB/
das escolas de Medicina, como na posto, ou especialidade farma- DCI] ou nome comercial;
prática médica. Isso se dá princi- cêutica, é aquele que indica o ● forma farmacêutica, apresen-
Prescrição médica palmente porque a prática mais nome genérico do medicamento tação;
antiga de redigir prescrições longas (ou mistura de medicamentos), ● o endereço do paciente;
Segundo a Portaria e complicadas, contendo muitos que é fornecido pela indústria far- ● o modo de usar a medicação
ingredientes, foi abandonada em macêutica, sem qualquer altera- (posologia, via de administra-
GM/MS nº 3.916/98 e ção e duração do tratamento);
favor de medicamentos industriali- ção ou manipulação.
a Portaria SVS/MS nº zados (BARROS, 2010). ● a data;
344/98, a prescrição No Brasil, há regulamentação téc- ● a assinatura do profissional;
● o endereço do consultório ou
é o ato de definir o Vamos nos aprofundar no tema nica de como compor a receita a 15
residencial;
e nos preparar para realizar uma ser entregue para o paciente em
medicamento a ser prescrição adequada que contenha código de ética, decretos e leis fe-
● o número de inscrição no res-
pectivo conselho da profissão
consumido pelo paciente todos os requisitos técnicos espe- derais desde o início do século.
(Medicina, Medicina Veteri-
com a respectiva rados com vistas ao uso racional
nária ou Odontologia).
de medicamentos e a uma melhor Vamos procurar estudar a prescri-
dosagem, a duração do adesão ao tratamento. ção, correlacionando os aspectos Qualquer prescrição tem um pra-
tratamento e a orientação legais, de modo a proporcionar zo de validade de 30 (trinta) dias,
de uso. Segundo Barros (2010), as prescri­ uma leitura mais produtiva, que exceto a notificação da substância
ções podem ser divididas em duas possibilite a você maior compre- talidomida (C3), que tem um prazo
grandes classes: magistrais e pro­ ensão e conhecimento sobre o de 15 (quinze) dias após a data de
dutos farmacêuticos. tema. emissão pelo prescritor.

Em geral, a prescrição é expressa mediante a elaboração de uma receita, quer seja de formulação
magistral, quer seja de produto industrializado, por um profissional legalmente habilitado.
São vedadas as prescrições ou as notificações ilegíveis ou
com rasuras, que possam induzir ao erro ou à troca de
medicação, ou ainda em código (BRASIL, 1973; BRASIL,
1974; BRASIL, 2001a). Quanto às prescrições em código,
somente são permitidos o seu aviamento em farmácias
privativas de instituições (por exemplo, farmácia
hospitalar) e a sua prescrição por profissional vinculado à
unidade hospitalar (BRASIL, 1973; BRASIL, 1974).
É vedado ao médico receitar, atestar ou emitir laudos de E lembre sempre: o médico não pode receitar de maneira
forma segreta ou ilegível sem a devida identificação de secreta ou ilegível, com rasuras, ou emitir receitas em
seu número de registro no Conselho Regional de Medicina branco com assinaturas.
da sua jurisdição, bem como assinar em branco folhas
de receituários, atestados, laudos ou quaisquer outros
16 documentos médicos.

(Código de Ética Médica, Capítulo III - Artigo 11).

Observe ainda que apagar, emendar ou inutilizar a receita


na presença do paciente são processos psicologicamente
prejudiciais e devem ser evitados. Caso o médico perceba
que incorreu em um erro, a melhor forma de corrigi-
lo é separar a folha incorreta e iniciar novamente o
preenchimento. Vamos assistir a duas reportagens exibidas na TV
aberta, que abordam essa questão de receita secreta
ou ilegível.
Clique nos links disponíveis na videoteca
desta unidade.
Agora que já fizemos vários alertas, vamos apresentar a vocês um roteiro sobre
como devemos preencher a prescrição. Esse check-list pode ser muito útil como
consulta em qualquer ocasião de prescrição.

Check-list: Na prescrição, devem constar:


● Nome, forma farmacêutica e concentração do fármaco prescrito
(evitando-se abreviações e uso de decimais);
● A quantidade total de medicamento (número de comprimidos,
drágeas, ampolas, envelopes), de acordo com a dose e duração do
tratamento;
● A prescrição deve ser clara, legível e em linguagem compreensível; ● A via de administração, o intervalo entre as doses, a dose máxima 17
● A prescrição deve ser escrita sem rasura, em letra de forma, por por dia e a duração do tratamento;
extenso e legível, utilizando tinta e de acordo com nomenclatura e ● Nome, endereço e telefone do prescritor de forma a possibilitar
sistema de pesos e medidas oficiais; contato em caso de dúvidas ou ocorrência de problemas
● No âmbito do Sistema Único de Saúde, o medicamento deve ser relacionados ao uso de medicamentos prescritos;
prescrito pelo nome genérico, obrigatoriamente, adotando-se ● São obrigatórios a assinatura e o carimbo do prescritor, no qual
a Denominação Comum Brasileira (DCB) e, em sua ausência, a deve constar o número de seu registro no respectivo conselho
Denominação Comum Internacional (DCI); profissional;
● Nos serviços privados de saúde, a prescrição pode ser feita ● Data da prescrição.
utilizando-se o nome genérico ou o comercial; ● Em alguns casos, é necessário constar o método de administração
● O documento não deve trazer abreviaturas, códigos ou símbolos; (ex.: infusão contínua, injeção em uma única dose); os cuidados
● Não é permitido abreviar formas farmacêuticas (“comp.” ou a serem observados na administração (ex.: necessidade de
“cap.” em substituição a “comprimido” ou “cápsula”), vias de injetar lentamente ou de deglutir com líquido); os horários de
administração (“VO” ou “IV”, em substituição a “via oral” ou administração (nos casos de possível interação alimentar ou
“via intravenosa”), quantidades (“1 cx.” em substituição a “01 farmacológica, visando maior comodidade, adesão ou melhora
(uma) caixa”) ou intervalos entre doses (“2/2 h” ou “8/8 h” em do efeito terapêutico) ou os cuidados de conservação (ex.: a
substituição a “a cada 2 horas” ou “a cada 8 horas”). manutenção do frasco em geladeira).
Na prática, o ato da prescrição A receita, sempre que possível, Vamos reforçar algumas informa-
acontece no final da consulta deve ser feita na presença do ções que são essenciais de serem
médica, e esse momento é crucial paciente. Isso é importante para passadas aos pacientes em relação
para adotarmos uma postura que que o paciente fique seguro de que à prescrição:
contribua para a melhor adesão a prescrição está sendo feita para
ao tratamento. Essa postura diz o seu caso em particular, o que ● Efeitos dos medicamentos: o
respeito ao preenchimento do aumenta a confiança no médico. paciente precisa saber quais
documento em si (a receita) e às Deve ser escrita sem hesitação sintomas desaparecerão ou
explicações que sempre devem e com grau de determinação, de não, quando o efeito iniciar-se-
acompanhá-lo: assim temos dois concentração e de velocidade que -á, o que pode acontecer se o
importantes compromissos no indiquem a certeza do que está medicamento não for tomado;
momento da prescrição, o que sendo feito. ● Efeitos indesejados: quais po-
escrevemos (ou digitamos) e o que dem ocorrer, como reconhe-
dizemos (ou explicamos). Lembre-se de que, em geral, na cê-los, qual é a duração e a
“É obrigatória a saída do consultório, o paciente gravidade, o que fazer;
utilização das DCB Perceba que a receita tem mais já não se lembra das orientações ● Instruções: como e quando
18 funções do que aparenta: além de dadas sobre o medicamento; muitas tomar; qual é a duração do
ou DCI em todas orientar o paciente, ou quem fará a vezes, nem sequer lembra-se do tratamento; como guardar;
as prescrições administração dos medicamentos, nome. É muito comum a confiança ● Advertências: quando não
de profissionais e de servir para a lembrança do uso de que todas as informações serão deve ser tomado; qual é a
de tratamento, a receita também fornecidas no ato da dispensação dose máxima; por que respei-
autorizados, nos representa um resumo diagnóstico do do medicamento, com a leitura tar a duração do tratamento;
serviços públicos, médico, do prognóstico e da conduta da receita. Dessa forma, torna-se ● Próxima visita: quando voltar
conveniados ou terapêutica instituída. Serve como evidente que o documento escrito (ou não); em que circunstân-
base de um contrato entre médico é de fundamental importância para cias retornar antes do previs-
contratados, no âmbito e o paciente e pode determinar o evitarem-se os erros e o retorno to;
do SUS”. resultado terapêutico individual. desnecessário ao consultório. ● Compreensão pelo pacien-
Decreto nº 793, de te: perguntar ao paciente se
A forma de preenchimento da receita, o local, a comunicação compreendeu o que foi dito;
5 de abril de 1993 solicitar que ele repita algu-
verbal e não verbal são pontos fundamentais para o
(Art.35, § 2º) mas informações que foram
estabelecimento da confiança na eficácia terapêutica que o dadas; verificar se tem algu-
paciente deve adquirir. ma dúvida ainda.
Agora, convidamos você a mergulhar nas particularidades das
prescrições (tipo de receitas, técnica de preenchimento) e, a cada passo,
apresentaremos as receitas que devem ser utilizadas nas prescrições.
Em alguns pontos, apresentaremos situações para o exercício do
aprendizado e reflexões.

Vamos trabalhar para conhecer cada tipo de receita e suas particularidades.

Preparado(a)? Vamos em frente!


A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), autoridade reguladora
brasileira, permite a venda livre, sem necessidade de prescrição médica, de
alguns grupos de medicamentos para indicações terapêuticas especificadas.

Encontram-se nessas condições, respeitadas as restrições em situações


especificadas, os seguintes grupos:

● antiacneicos tópicos e adstringentes;


● antiácidos e antieméticos;
● antibacterianos tópicos; antidiarreicos;
● antiespasmódicos;
● anti-histamínicos; antisseborreicos;
● antissépticos orais, oculares, nasais,
de pele e mucosas, urinários e vaginais
tópicos;
● aminoácidos, vitaminas e minerais;
20 ● anti-inflamatórios.

Algumas substâncias, por apresentarem possíveis riscos à saúde e/ou


potencial de sobreprescrição ou mal uso, ou por induzirem dependência
física ou psíquica, possuem sua prescrição e sua dispensação sujeitas a
controle especial.

A maioria dos medicamentos é prescrita em ambulatórios, em receituários


comuns do médico ou da instituição onde o paciente está sendo atendido.

Alguns dos exemplos de tipos de receita


disponibilizados a seguir foram retirados de Madruga
(2011). Esse manual encontra-se disponível na sua
biblioteca.
A maioria das substâncias não
precisa de controle rígido de
dispensação, sendo prescritas
em receituários comuns,
confeccionados pelo médico
ou pela instituição de saúde,
nos quais devem constar
necessariamente os dados
do médico, como o nome e o registro
no Conselho Regional de Medicina 21

(CRM), com uso do carimbo.

Seu carimbo é de uso pessoal e intransferível!!!

Evite deixá-lo em gavetas ou em cima da mesa


quando você não estiver por perto.
Leve-o sempre com você!!!
Listagem dos agentes
psicoativos no Brasil:
Outros medicamentos, no entanto, devem ser prescritos em
receituários ou em notificações específicas (tipo A, B, de Controle
Especial etc.).
● Listas A1 e A2 (entorpecentes) – morfina e
derivados, codeína e seus derivados;
O uso de receituários diferentes para grupos de medicamentos
diversos, proposto na nossa legislação, segue os acordos ● Listas A3, B1 e B2 (psicotrópicas) – anfetamina
internacionais e a classificação da Organização Mundial de Saúde e derivados, benzodiazepínicos, anorexígenos;
(OMS), que classifica as substâncias como necessitando de controle
● Lista C1 (outras substâncias sujeitas a controle
rígido na dispensação ou não necessitando desse controle.
especial) – antidepressivos, anticonvulsivantes,
antiparkinsonianos, entre outros;
22 Os medicamentos controlados são aqueles que agem no sistema
nervoso central, com risco de ocasionarem uso abusivo por parte dos ● Lista C2 (retinoicas para o uso sistêmico) –
pacientes, ou alguns outros que podem ocasionar efeitos adversos derivados do ácido retinoico;
importantes e precisam de monitoramento das agências de saúde.
● Lista C3 (imunossupressoras) – talidomida;
A seguir, destacamos, no quadro, as famosas “Listas” que estão na ● Lista C4 (antirretrovirais) – DST/AIDS;
Portaria nº 344/98, que trata dos agentes psicoativos no Brasil.
● Lista C5 (anabolizantes) – nandrolona,
De acordo com a OMS, os agentes psicoativos têm diferentes tipos mesterolona, testosterona, entre outros;
de controle e são classificados segundo essas Listas.
● Lista D1 (precursores) – derivados do ergot,
pseudoefedrina, entre outros.
Tipo de Notificação de Notificação de Notificação de Notificação de
Notificação Receita “A” Receita “B” Receita “B2” Receita Retinoide

Retinoides
No quadro ao lado apresen- Medicamentos Entorpecentes Psitrópicos Anorexígenos
sistêmicos
tamos um resumo muito
didático com os medica-
mentos a serem prescritos Listas A1, A2, e A3 B1 B2 C2
com Notificação de Receita,
segundo sua lista, os tipos
de notificação de receita, a Em todo o
Abrangência Na Unidade da Federação onde for concedida a numeração
quantidade máxima por re- território nacional
ceita, o período máximo de
tratamento e a responsabi-
23
lidade da impressão do ta- Cor da Notificação Amarela (oficial) Azul Azul Branca
lão de notificação.

A seguir, vamos apresentar Quantidade


alguns exemplos dos diver- máxima por 5 ampolas 5 ampolas - -
receita
sos modelos de Notificação
de Receita e de Receituário
de Controle Especial. Quantidade 30 dias; acima
por período de disso, acompanha 60 dias 30 dias 30 dias
tratamento justificativa

Quem imprime O profissional retira a numeração junto à autoridade


Autoridade
o talão da sanitária escolhe a gráfica para imprimir o talão às suas
sanitária
notificação expensas

Fonte: Brasil (1999, 2007)


NOTIFICAÇÃO
DE RECEITA “A” –
ENTORPECENTES - COR
AMARELA

24

NOTIFICAÇÃO
DE RECEITA “B” –
PSICOTRÓPICOS - COR
AZUL
NOTIFICAÇÃO DE
RECEITA “B2” –
ANOREXÍGENOS - COR
AZUL

25

NOTIFICAÇÃO DE
RECEITA “C2” -
RETINÓIDES SISTÊMICOS
- BRANCA
Vamos fazer uma pausa agora...
Que tal exercitarmos o preenchimento de uma notificação de receita?
Veja a situação que virá a seguir.

26

Observe se todos os campos exigidos


estão contemplados e como a
prescrição encontra-se completa,
com todos os itens que destacamos
no check-list discutido anteriormente
nesta atividade.
Medicamentos Controle especial Anabolizantes Antirretrovirais Adendos das listas

Listas C1 C5 C4 A1; A2; B1

No quadro ao lado apresen-


tamos um resumo muito
didático com os medica- Todo o território Todo o território Todo o território Todo o território
Abrangência
nacional nacional nacional nacional
mentos a serem prescritos
com Notificação de Receita,
segundo sua lista, os tipos
de notificação de receita, a
Cor A critério A critério A critério A critério
quantidade máxima por re-
ceita, o período máximo de
tratamento e a responsabi-
27
lidade da impressão do ta-
lão de notificação. Quantidade
5 ampolas 5 substâncias
máxima por 5 ampolas 3 medicamentos
3 medicamentos 5 medicamentos
receita
A seguir, vamos apresentar
alguns exemplos dos diver-
sos modelos de Notificação
de Receita e de Receituário Quantidade
de Controle Especial. por período de 60 dias 60 dias 60 dias 60 dias
tratamento

Quem imprime
o talão da O profissional O profissional O profissional O profissional
notificação

Fonte: Brasil (1999)


MODELO DE
28 RECEITUÁRIO DE
CONTROLE ESPECIAL
A prescrição de medicamentos antimicrobianos deverá ser realizada
em receituário privativo do prescritor ou do estabelecimento de saúde,
não havendo modelo de receita específico. A receita deve ser prescrita
de forma legível, sem rasuras, em 2 (duas) vias, contendo os seguintes
dados obrigatórios:

Prescrição
E agora, exercitamos o pre-
A Resolução RDC MS/ANVISA enchimento de uma receita
nº 441, de 26 de outubro de de controle especial?
2010 estabelece o controle Animad@s? 29
de antimicrobianos, de uso
sob prescrição médica que só Veja a situação a seguir:
podem ser dispensados com
escrituração nas farmácias e
retenção da receita médica.

Observe se todos os campos


exigidos estão contempla-
dos e como a prescrição en-
contra-se completa, com to-
dos os itens que destacamos
1. http://www.anvisa.gov.br/sngpc/ no check-list discutido ante-
Documentos2012/RDC%2020%20
2011.pdf?jornal=%E2%80%A6 riormente nesta atividade.
Excelente! Observe como já conhecemos alguns exemplos e
exercitamos um pouco as receitas.

Você já deve saber que, quando a prescrição for feita em


ambiente de hospitalização, serão utilizados documentos
próprios, internos ao hospital, para a prescrição de todos os
medicamentos.

Mas se acontecer uma emergência e você não estiver em um


ambiente hospitalar, estiver desprovido do seu talonário de
receita especial ou de notificação de receita? O que você deve
fazer? Nesse caso, em um atendimento emergencial, em que
o profissional não está com seu talonário, a receita poderá ser
30 aviada em papel não oficial.

O diagnóstico ou CID (Classificação Inter­


nacional de Doenças);
Porém, fique
A justificativa do caráter emergencial de
atento(a),
atendimento;
ela precisará
conter: A inscrição do Conselho Regional e a
assinatura devidamente identificada com
o carimbo do prescritor.

O estabelecimento que aviar a referida receita deverá anotar


a identificação do comprador e apresentá-la à autoridade
sanitária local em um prazo máximo de 72 horas.
A Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 103/2016 dispõe sobre
a atualização do Anexo I (Listas de Substâncias Entorpecentes,
Psicotrópicas, Precursoras e Outras sob Controle Especial) da Portaria
SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998. Conheça a Resolução e a
Portaria - elas estão disponíveis em nossa Biblioteca virtual.
31

Você - médico prescritor - poderá possuir, sob


sua guarda e responsabilidade, como material
exclusivamente para tratamento de emergência
(maleta): medicamentos das listas A1 e A2
(morfina, codeína, etilmorfina) até três ampolas;
B1 (benzodiazepínicos) até cinco ampolas. Para
efetuar a reposição dessas ampolas, deve ser
feita uma receita amarela ou azul, conforme o
caso, devidamente preenchida com os dados
do paciente ao qual tenha sido administrado o
medicamento.
Independente do tipo de re- Além da forma legível, a Na identificação do paciente, é
ceita, existem algumas ques- quantidade deve sempre importante o preenchimento
tões que são necessárias sem- ser expressa em algarismos do nome completo do
pre e que você precisa estar arábicos (0,1,2,3...) e sem paciente, sem abreviaturas.
atento(a) para respeitar as abreviaturas, sem emendas e
normas e garantir uma boa sem rasuras. A inscrição é a parte mais im-
qualidade para sua prescrição. portante e é o “coração” da
Também já abordamos essa sua prescrição. Nesse momen-
A receita deve sempre ser es- questão, lembram-se da si- to, inserem-se o nome genéri-
crita de forma legível, já abor- tuação-problema gerada por co ou a designação registrada
damos isso anteriormente. rasura? Como a receita é um pela indústria (nome comer-
Você assistiu às reportagens documento médico de va- cial) e as quantidades escritas
sugeridas? Pois é, essa ques- lor oficial, escreva sempre à em algarismos arábicos e por
tão está clara no Código de tinta. É importante colocar extenso, entre parênteses. As
Ética e em outras legislações, nome, endereço, números abreviaturas devem sempre
esse é o primeiro passo para de telefone para contato, ser evitadas!
32 uma prescrição de qualidade. horários de atendimento,
Faça uso de computadores se números de registro no CRM Quando é receitada uma
for possível. A receita pode e do CPF impressos no recei- fórmula (prescrição magistral),
ser manuscrita, datilografada tuário. temos uma sequência padrão
ou informatizada. a seguir. Veja como ela é:
A receita possui uma ordem
No caso de má caligrafia, na sua escrita e deve conter ● Base, ou ingrediente
procure escrever mais lenta- basicamente: principal (princípio ati-
mente, escreva em letra de vo ou fármaco);
imprensa (de forma). 1.Identificação do paciente; ● Adjuvante, que pode
2.Inscrição; contribuir para a ação
Não precisa lançar mão de um 3.Subscrição; da base;
caderno de caligrafia, lembra? 4.Indicação; ● Corretivo, que modifica
Basta fazer letra de imprensa. 5.Assinatura. ou corrige efeitos inde-
sejáveis da base ou do
Brincadeiras à parte, vamos Vamos comentar cada um adjuvante;
continuar... desses itens. ● Veículo, que é o solvente.
A subscrição são indicações Lembre-se do que já discuti- ● Gotas, colírios etc.: de-
Continuando... complementares para auxi-
liar o aviamento da receita.
mos anteriormente, o pacien-
te ou seu acompanhante pode
vem começar com a pa-
lavra coloque.
ter dificuldades de lembrar as
A indicação consiste nas orientações que foram dadas Como as instruções devem ser
instruções para o paciente, no momento da consulta. empregadas para lembrar o pro-
que dizem respeito à quan- pósito da prescrição, para isso,
tidade, à hora, à frequência Veja, a seguir, algumas dicas utilize palavras ou certas frases,
da dose e a fatores como a de termos (palavras) que po- a exemplo de: “para alívio da
diluição e a via de adminis- demos utilizar em instruções dor”; “para alívio da coceira”;
tração. Se o medicamento para o uso de preparações: “para alívio da febre” etc. 33
deve ser usado somente
para uso externo, se deve ● Uso interno: devem co- E, finalmente, a assinatura do
ser agitado antes de usar, se meçar com a palavra médico, que deve ser sempre
deve ser tomado antes ou tome; acompanhada do número do
depois das refeições, em je- ● Pomada, creme ou lo- seu registro no Conselho Regio-
jum etc. ção: devem começar nal de Medicina (CRM) e do seu
Evite erros e melhore a adesão ao com a palavra aplique; Cadastro de Pessoa Física (CPF).
A expressão “tome conforme ● Supositório: devem co-
tratamento realizando uma indicação a indicação” nunca é satisfató- meçar com a palavra in- Não esqueça do uso
detalhada e clara em sua prescrição! ria, deve sempre ser evitada. troduza; do seu carimbo!
Vamos realizar um check-list para
autoavaliação da qualidade técnica da
34 prescrição ao paciente.
- Ler a receita junto com o paciente;
Veja o quadro a seguir: - Informar o paciente sobre o propósito de cada medicamento e
como deveria ser usado;
- Informar o paciente sobre como deverá ser usado cada medicamento;
- Informar o paciente sobre os principais efeitos adversos,
interações do fármaco e procedimentos, caso ocorram;
- Verificar se o paciente compreendeu a receita que o médico
acabou de lhe entregar;
- Verificar se a caligrafia é legível; se consta na receita nome do
paciente, uso interno/externo, nome genérico do fármaco,
forma farmacêutica (comprimido/capsula, etc.) dosagem,
modo de usar (duas vezes ao dia, nas refeições, etc.), via de
administração (ingerir, aplicar, etc.), tempo de tratamento,
assinatura do médico e carimbo do médico.
● Esperamos que, com esta atividade, os principais aspectos sobre a prescrição
de fármacos tenham sido úteis e ficado mais claros e contribuam para uma
melhor performance no seu trabalho cotidiano.
● É importante estar atento(a) e sempre ciente de que todos os profissionais
envolvidos na prescrição de medicamentos, e não apenas quem prescreve,
estão obrigados a respeitar a prescrição, desde que essa siga os preceitos
legais e esteja adequadamente fundamentada em evidências.
● Outro aspecto importante é lembrar que, em nosso País, é permitido que
comerciantes trabalhem com dispensação de medicamentos. Muitas vezes,
em uma drogaria, quem vai realizar a venda do medicamento é um balconista,
e esse profissional não é regido por um código de ética e, na maioria das
vezes, não realizou treinamentos que o habilite a realizar a dispensação de
medicamentos.
● Ao farmacêutico (profissional habilitado), cabem analisar e dispensar os 35
medicamentos, etapas que incluem aviamento dos medicamentos e orientação
ao paciente. Fica vedado a este profissional dispensar medicamento danoso à
saúde do paciente ou seguir prescrição que coloca em risco o seu bem-estar.
● Aos profissionais que administram os medicamentos e a todos que
acompanham o tratamento medicamentoso até seu final, cabe zelar pelo
sucesso da terapêutica, colocando, sempre e em primeiro plano, a saúde e a
qualidade de vida do paciente.
● É a prescrição que liga os processos de trabalho desses profissionais e
possibilita um patamar comum de intercâmbio de conhecimentos, de modo a
trazer ganhos reais à saúde do paciente.
● Assim, uma prescrição completa, clara e adequada às normas será uma
garantia para a segurança do paciente e ao uso adequado do medicamento.
Atividade 3

O Uso Racional de
Inicialmente, vamos situar esse
Medicamentos e a tema historicamente, pois algu-
mas datas e alguns documentos
adesão ao medicamento são marcos importantes. Já con-
versamos sobre eles em lições an-
teriores; aqui, vamos recordá-los
e apontar sua relação com a URM.

O conceito de URM surgiu pela


primeira vez como tema de uma
conferência de especialistas que
36 se reuniram em Nairobi, no Quê-
nia, em novembro de 1985.

Na época, pretendiam debater o


uso de medicamentos para o al-
cance da meta “Saúde para Todos
no ano 2000” surgido após a De-
claração de Alma-Ata.

Vocês já devem ter visto essa con-


ferência tão importante, porém
vale ressaltar que esse documen-
to foi construído com o propósito
de analisar temas fundamentais,
entre eles, os critérios de URM.
Avançando um pouco mais no
tempo e já fazendo um recorte
para esse tema específico, verifi-
camos que, em maio de 2004, foi
aprovada a Política Nacional de
Assistência Farmacêutica (PNAF),
que engloba a promoção do uso
racional de medicamentos como
um dos seus eixos estratégicos,
devendo este ser fomentado por Este vídeo apresenta deba-
intermédio de ações que discipli-
te sobre a Política Nacional
nem a prescrição, a dispensação
e o consumo de medicamentos de Assistência Farmacêuti-
(BRASIL, 2004). ca no Brasil e aborda três
aspectos: a pesquisa, a pro-
37
A promoção do uso racional de dução e a distribuição de
medicamentos junto à população, medicamentos, além de ou-
aos prescritores e aos dispensa-
tros assuntos, como o aces-
dores é de responsabilidades dos
gestores federal, estadual e muni- so aos medicamentos pela
cipal, segundo a Política Nacional população de baixa renda, a
de Medicamentos (BRASIL, 1998). farmácia popular, a política
industrial dos medicamen-
Para colaborar com a importân- tos e o fortalecimento da
cia de definição de políticas que
farmoquímica nacional.
estivessem atentas ao URM, em
2005, foi realizada a grande ava-
liação de estrutura, de processo e Clique no link disponível na
de resultados da Assistência Far- videoteca
macêutica no Brasil. desta unidade.
A Secretaria de Ciência, Tecnologia compromissos de avaliar a utiliza- Então, afinal
e Insumos Estratégicos do ção de medicamentos, com a ca-
Ministério da Saúde vem realizando racterização das morbidades ou o que é URM?
anualmente, desde 2009, o Prêmio das condições de saúde para as
Nacional de Incentivo à Promoção quais eles são utilizados, de avaliar O uso racional de medicamentos
do Uso Racional de Medicamentos. indicadores de acesso aos medica- (URM) pressupõe o uso adequa-
mentos e de avaliar indicadores de do à prescrição clínica, observada
Uso Racional de O prêmio tem a premissa de racionalidade do uso, entre outros. a melhor relação de custo efeti-
vidade e, para que ela aconteça,
incentivar, por meio de premiação
Medicamentos e reconhecimento de mérito, a
Pronto, depois de
são necessárias a prescrição apro-
produção técnico-científica voltada priada, a disponibilidade oportu-
A Portaria MS/GM nº à promoção do uso racional de situarmos você sobre na a preços acessíveis, a dispen-
medicamentos com aplicação no sação em condições adequadas;
1.555, de 27 de junho de Sistema Único de Saúde e serviços
alguns caminhos já e o consumo nas doses indicadas,
2007, institui o Comitê de saúde. trilhados nessa busca nos intervalos definidos e no pe-
Nacional para a Promoção ríodo de tempo indicado de me-
Atualmente, temos instituída a
para a PURM, podemos dicamentos seguros, eficazes e de
38 do Uso Racional de PNAUM2 - Pesquisa Nacional sobre considerar que o qualidade. Essa definição expõe a
Medicamentos no Brasil, Acesso, Utilização e Promoção do responsabilidade do governo, de
conceito de URM já está profissionais de saúde, do usuário
que tem, entre suas Uso Racional de Medicamentos
competências, os papéis no Brasil -, visto a necessidade de claro? e da sociedade na promoção do
conhecer aspectos relacionados ao URM (PURM).
de identificar e de propor acesso, à utilização e ao uso racional
estratégias de articulação de medicamentos no Brasil. Ainda em dúvida A OMS advoga 12 intervenções
consideradas estratégicas na pro-
e de apoiar iniciativas Entre os objetivos da PNAUM, es-
em como você pode moção do uso mais racional de me-
para a promoção do URM. tão os compromissos temos os contribuir para a PURM? dicamentos. Veja a seguir:

Quer conhecer mais sobre a


PNAUM? Acesse o site:

http://www.ufrgs.br/pnaum
Estratégias na promoção do uso
mais racional de medicamentos
● Estabelecimento de um corpo nacional multidisciplinar
que coordene as políticas de uso de medicamentos;
● O uso de diretrizes terapêuticas;
● O desenvolvimento de uma lista nacional de medicamentos
essenciais;
● O estabelecimento de comissões de farmácia e terapêutica
(municipais, estaduais e em hospitais);
● A inclusão de treinamento em farmacoterapia baseada
em problemas em currículos de graduação;
● Educação médica em serviço como requerimento para
licenciar profissionais de saúde; 39
● Supervisão, auditorias e retroalimentação do perfil de
URM;
● Uso de informação independente sobre medicamentos;
● Educação sobre medicamentos dirigidos a indivíduos, a
famílias e a comunidades;
● Evitar incentivos financeiros perversos;
● Uso de regulação apropriada e de enforced;
● Gasto governamental suficiente que garanta disponibilidade
de medicamentos e de recursos humanos.

Esse documento da OMS encontra-se disponível


na Biblioteca virtual desta unidade.
A OMS tem promovido o URM por Os papéis da Atenção Básica e dos
meio de estratégias de cunhos edu- prescritores na PURM são funda-
cacional, gerencial, econômico e mentais. Também o potencial das
regulatório e estimula os países a ações de educação em saúde para
segui-lo. A disponibilidade de me- o desenvolvimento de uma cons-
dicamentos essenciais e a adesão ciência coletiva sobre o uso mais
às listas de medicamentos essen- responsável dos medicamentos é
ciais por prescritores e pelos usuá- essencial para a PURM.
rios são realidade, porém apresen-
tam ainda muitos desafios. As ações de educação podem ser
estimuladas e concretizadas na
O uso inadequado de medicamen- equipe e no território, a exemplo
tos é um importante problema de de reuniões de equipe, na educa-
saúde pública no Brasil, o que justi- ção permanente dos profissionais,
40 fica todos os esforços direcionados em atividades de sala de espera,
a minimizá-lo. em ações na comunidade, nas es-
colas e nos espaços comunitários e
URM pressupõe acesso (um dos de participação social.
atributos da Atenção Básica) e uso
adequado de medicamentos. Lem- Sugerimos a leitura dos materiais
bre-se de que a propaganda farma- disponibilizados pelo Ministério da
cêutica e as lacunas na orientação Saúde e pela ANVISA, os quais tra-
profissional colaboram para o uso rão informações sobre a atuação na
inadequado dos medicamentos. Atenção Básica.

Disponível na videoteca desta unidade.


Bem, até aqui Enquanto o alto consumo de medi- ciente sabe o que é aderir ou tem blica, pois ele evita que maiores
camentos é demonstrado e discu- consciência da questão? (LEITE; danos à sua condição de saúde
aprendemos sobre tido por diversos estudos e desper- VASCONCELLOS, 2003). atual possam ocorrer (MOURÃO
o Uso Racional de ta preocupação em profissionais e JÚNIOR; SOUZA, 2010).
Medicamentos. em autoridades de saúde, a ques- Medicamentos podem ser pres-
tão da não-adesão ao tratamento critos para evitarem-se maiores A discussão sobre a adesão a
medicamentoso prescrito também complicações na saúde de uma medicamentos envolve inúme-
Essa conversa nos remete tem tomado importância nas últi- pessoa ou remissão de alguma ros fatores que se relacionam de
a outro tema de extrema mas décadas e está sendo incluída doença, logo, presume-se que maneira ampla e complexa. Não
na lista de preocupações dos pro- o não uso de medicações pode existe uma variável única que faça
importância e que vamos fissionais de saúde, juntamente propiciar uma piora da mesma. um indivíduo aderir às recomen-
trabalhar a partir de com outros fatores que influem dações feitas por um profissional
agora nesta atividade: os sobre o uso racional de recursos Assim, pensando nos medica- em relação a quais remédios uti-
terapêuticos. mentos como forma de preve- lizar; a não adesão está envolvida
aspectos sobre a adesão nirem-se complicações futuras com fatores biológicos, psicológi-
ao tratamento. A relevância da questão na tera- no estado de saúde de um indi- cos, culturais e comportamentais,
pêutica é indiscutível: da adesão ao víduo caso uma pessoa deixe de que se inter-relacionam. 41
tratamento dependem o sucesso utilizar fármacos receitados, ela
Estamo-nos referindo aos da terapia proposta, a cura de uma se torna mais propensa a desen- Esses fatores subsidiam as deci-
aspectos sobre a adesão enfermidade, o controle de uma volver complicações de saúde, e sões de um indivíduo sobre usar ou
ao tratamento. doença crônica, a prevenção de mais caro para o sistema público praticar aquilo que lhe foi indicado
uma patologia. será mantê-la em tratamento – (MOURÃO JÚNIOR; SOUZA 2010).
pois, por exemplo, podem ocor-
Preparados para A adesão dos pacientes rer internações decorrentes de
discutirmos essa é definida como o grau
complicações geradas pelo não
cumprimento de uma terapia
temática? de seguimento das medicamentosa.
recomendações
Vamos em frente! médicas
Não obstante, um paciente aderen-
te ao uso de medicações, que siga
as recomendações de uso correta-
E se o paciente não adere a ele? Por mente, tende a onerar menos o Go-
que isso acontece? Será que o pa- verno nos gastos com a saúde pú-
A não adesão a tratamentos com medicamentos pode Em uma pesquisa realizada por Reitners e colabora-
ser classificada como: dores (2008), identificaram-se e organizaram-se as
publicações com estudos que tratam o tema de ade-
● erro de omissão (um medicamento prescrito não é são ao tratamento (farmacológico ou não), organizan-
utilizado), do-se um quadro muito interessante sobre os fatores
que determinam a não adesão ao tratamento, o qual
● erro de consumo (um medicamento não prescrito é destacamos ao lado:
consumido),
Nesse estudo, os autores evidenciaram que a maior
● erro de posologia (uma dose errada é utilizada) e carga de responsabilidade pela adesão/não-adesão
ao tratamento é conferida ao paciente e que é neces-
● erro no intervalo entre as administrações (por sário que os profissionais e serviços de saúde sejam
exemplo, uma vez em vez de duas vezes ao dia). corresponsáveis nesse processo.

42

Estima-se que entre 30 e 50%


dos medicamentos prescritos O artigo de Reitners e colaboradores
para condições de longo curso (2008) está disponível
não são utilizados conforme as na biblioteca virtual.
recomendações recebidas.
Fatores determinantes de não adesão
Prescrição de esquemas terapêuticos não inadequados (famacológicos e não farmatológicos);
Relacionadosao tratamento(12,16-18) Apresentação dos medicamentos (cor, odor, gosto, tamanho, embalagem;
Custo elevado da medicação.
Gravidade da doença;
Relacionados à doença (15,21)
Ocorrência de outros problemas de saúde.
Localização da unidade (distante do comicílio, em outra região);
Burocracia;
Relacionados aos problemas
Insuficiência de recursos humanos e materiais;
de saúde (21-23)
Deficiência organizacional;
Deficiência nas visitas domiciliares e na busca ativa dos caos.
Preparo profissional deficiente (erros terapêuticos, inabilidade para modificar esquemas de tratamento, avaliação insuficiente da
Relacionados aos situação de saúde do paciente);
serviços de saúde(18,24) Rotatividade de profissionais no atendimento ao paciente;
Não reconhecimento da responsabilidade do profissional na adesão.
Comunicação inadequada e insuficiente do profissional;
Relacionamento ao relacionamento profissional Dificuldade de relacionamento do paciente com o profissional;
de saúde / paciente(17,25,26) Falta de confiança do paciente no profissional;
Abordagem do paciente de forma imprópria (desatenção e indelicadeza).

1. Intolerância aos medicamentos; 11. Descrença no serviço de saúde; 43


2. Ausência de sintomas; 12. Pouco conhecimento sobre a doença e o tratamento;
3. Melhora dos sintomas; 13. Resistência aos medicamentos;
4. Fatores culturais; 14. Retirada precoce do esquema terapêutico;
Relacionados ao 5. Práticas alternativas de cuidado; 15. Dificuldade psicológica para lidar com a doença;
paciente (16,23,25,27,28) 6. Dificuldade financeira; 16. Dificuldade em cumprir as normas do serviço de saúde;
7. Automedicação; 17. Dificuldade em cumprir as normas do serviço de saúde;
8. Esquecimento da dose diária dos medicamentos; 18. Dificuldade de relacionamento do
9. Esquecimento do dia da consulta; 19. Prescrição mal entendidada;
10. dificuldade para se adaptar às exigências do tratamento; 20. Dificuldade para o autocuidado.

Faixa etária que compreende adolescentes e adultos jovens;


Sexo masculino;
Relacionado a dados
Baixo nível de escolaridade e analfabetismo;
demográficos(8, 11, 16, 29)
Morar sozinho ou em instituições, sem resistência fixa;
Baixo nível socioeconômico.
Alcoolismo;
Relacionados
Tabagismo;
ao uso de drogas(22, 31)
Drogas.
Discriminação social (no trabalho, na escola);
Relacionados a problemas sociais(11, 25, 30, 31)
Falta de apoio da sociedade e da família.
Segundo Beria e Beria
(2013), a não adesão Em relação às estratégias para Existem algumas maneiras descri- A combinação entre componentes
não deveria ser vista promover adesão e formas de in- tas por McDonald, Garg e Haynes afetivos, comportamentais e cogni-
como um problema do tervenção, Mourão Júnior e Souza (2002), as quais o profissional pode tivos com intervenções compreen-
(2010) destacam que as pessoas utilizar para promover a adesão. Tais sivas são mais efetivas do que inter-
paciente. tendem a se manterem em uma estratégias podem ser por meio de: venções de foco único.
zona de conforto, e mudanças
que interfiram nelas inclinam-se a ● instrução oral e escrita; Estratégia de tratamento multidis-
serem percebidas como desagra- ● orientação terapêutica ao pa- ciplinar está associada a um au-
dáveis. Seria como se ocorresse ciente e à família; mento na adesão de medicamentos
uma perda de equilíbrio e sua se- ● utilização das respostas do em um período de trinta dias após
gurança estivesse ameaçada. próprio organismo do pacien- alta hospitalar em pacientes idosos
te, como alterações de pres- com problemas cardíacos.
Cabe, então, ao profissional, mé- são arterial, convulsões – que
dico ou não, ajudar cada sujeito alertam para melhoras ou No intuito de promover mais segu-
a sair dessa condição, proporcio- pioras decorrentes do uso ou rança ao paciente, obtendo-se mais
44 Ela representa uma nando a ele a segurança neces- não do medicamento –; conhecimento sobre sua condição,
limitação fundamental sária para tal, o que só se torna ● lembretes; e pode ser utilizada uma técnica co-
da provisão dos possível quando se atenta para o ● recompensas. nhecida como psicoeducação. Ela
próprio sujeito e compreende-se propõe a promoção de conhecimen-
cuidados de saúde, que ele possui particularidades Ao utilizar, por exemplo, alterações to, visando favorecer uma conduta
frequentemente que o levam a agir de determina- de pressão arterial e convulsões que mais aderente do indivíduo à terapia.
da maneira. o paciente pode ter apresentado
devido a uma falha devido ao mau ou não uso de me- Questões relativas à ação do medi-
na concordância com Seguindo essa perspectiva de ten- dicamentos, o profissional permite camento no organismo, aos efei-
a prescrição ou na tar promover a adesão, algumas que o próprio sujeito perceba as tos esperados do mesmo e ao tem-
estratégias podem ser utilizadas na consequências de sua não adesão, o po que ele leva para proporcionar
identificação e na tentativa de ampliar as chances de que possivelmente pode modificar uma melhora do quadro podem
disponibilidade do um indivíduo ser mais aderente a sua atitude, evitando ocorrências de ser discutidos para o aprendizado
uma terapia medicamentosa. condições desagradáveis. do paciente.
suporte de que o
paciente necessita.
Inseguranças e medos dos indivíduos podem
ser diminuídos e, consequentemente, a ade-
são poderá ser promovida, evitando assim,
falsas expectativas sobre o uso da medicação

Na Atenção Básica, temos uma oportunidade


muito singular de tratar a não adesão, devido
às características da atenção ofertada nesse
nível de atenção e seus atributos de qualida-
de, além dos princípios da Humanização que
corroboram para um vínculo maior com o in-
divíduo, a família e a comunidade.

A Política Nacional de Humanização existe Para o tratamento da não adesão, é importan-


desde 2003 para efetivar os princípios do te melhorar a comunicação com os pacientes.
SUS no cotidiano das práticas de atenção e Quer conhecer mais textos que analisam e
Na prática individual, é importante levar em 45
gestão, qualificando a saúde pública no Brasil discutem abordagens teóricas e análise de
e incentivando trocas solidárias entre gesto- consideração, antes de realizar intervenções
experiências concretas, apontando alguns
res, trabalhadores e usuários. para aumentar a adesão, que a terapêutica
acúmulos e desafios para a Atenção Básica
seja racional e baseada em conhecimento
no SUS?
A Política Nacional de Atenção Básica incluiu a médico estabelecido e que os riscos poten-
humanização como uma de suas orientações; ciais do tratamento sejam menores do que
Conheça o Caderno do Humaniza SUS
da mesma forma, a estratégia do NASF tomou a os benefícios esperados.
Atenção Básica disponível em sua Biblioteca
humanização como diretriz e princípio, e vários virtual.
de seus dispositivos, como Projeto Terapêutico Um SUS humanizado é aquele que reconhe-
Singular, Apoio Matricial, Acolhimento com Clas- ce o outro como legítimo cidadão de direi-
sificação de Risco e Vulnerabilidade, entre ou- tos, valorizando os diferentes sujeitos impli-
tros, foram incluídos como ferramentas de ação. cados no processo de produção de saúde.
Mas, sobretudo, a inclusão do conceito-ferra-
menta apoio institucional, principal tecnologia
de ação da humanização, é uma contribuição
indelével da PNH para a Atenção Básica.
Pesquisa

Atividade 4

Prescrevendo na
Atenção Básica
tornado um problema, tanto
do ponto de vista humanístico
quanto o econômico (TEIXEIRA;
LEFÈVRE, 2001).

A prescrição de medicamentos
para essa população envolve
necessariamente o entendimen-
to das mudanças estruturais ou
funcionais dos vários órgãos e
sistemas relacionados à idade,
implicando alterações na farma-
cocinética e farmacodinâmica
A prescrição médica é conside- Temos também o atributo da muito suscetíveis à polimedica-
de vários medicamentos.
rada racional sempre que o tra- competência cultural que vai ção, aos efeitos adversos e à in-
tamento farmacológico seja de contribuir muito para a tomada teração medicamentosa.
O desconhecimento dos pacien-
fato o indicado, o medicamento de decisão – a forma como as 47
tes a respeito de suas doenças
prescrito seja eficaz para tratar o pessoas utilizam suas medica- Os pacientes idosos, com já afir-
e dos tratamentos implica uma
quadro clínico da pessoa e seja ções é muito variável e está for- mamos, são os principais consu-
das três considerações a seguir:
utilizado na dose e período ade- temente influenciada pelas suas midores e os maiores beneficiá-
os pacientes não são totalmen-
quado e a alternativa farmaco- crenças e postura. rios da farmacoterapia moderna.
te informados; a situação não
terapêutica seja a mais segura e Mais de 80% tomam, no mínimo,
é claramente explicada; ou se
de menor custo (OZÓRIO et al., Outro ponto de destaque na um medicamento diariamente.
explicada, os pacientes não en-
2012). Atenção Básica é a oportunida-
tendem a terminologia médica
de de aproximação e de acom- Esse grupo etário, no entanto,
usada pelo prescritor (TEIXEI-
Na Atenção Básica, temos a panhamento das pessoas idosas apresenta maior risco de de-
RA; LEFÈVRE, 2001).
oportunidade de conhecer me- e das crianças, dois grupos po- senvolver reações adversas, e
lhor a pessoa que estamos aten- pulacionais que exigem especial estas são responsáveis por 10%
dendo e o tempo está a nosso cuidado para a tomada de deci- a 20% das admissões hospitala-
favor – podemos rever e “bus- são e a prescrição. res agudas.
car” nosso paciente sempre que
preciso (pois o conhecemos e Os idosos são consumidores em O uso inapropriado de medi-
sabemos onde encontrá-lo). potencial de medicamentos, camentos por idosos tem-se
Já as crianças exigem uma Mesmo entre os entrevistadores
atenção especial, pois as for- que eram universitários, houve
mulações, as dosagens e a ad- incompreensão da letra pres-
ministração são aspectos que crita. Outros fatores estavam
exigem uma adequação na relacionados ao médico, tais
hora da prescrição. Além des- como a utilização de símbolos/
ses aspectos, crianças e alguns abreviaturas, a letra ilegível e as
idosos dependem de um res- orientações fornecidas apenas
ponsável para a administração verbalmente (SANO et al., 2002).
correta da farmacoterapia.
Em outro estudo, observou-se
Como já discutimos anterior- que as principais informações
mente, a prescrição deve ser ausentes nas prescrições ana- Disponibilizamos, em
realizada com letra legível, com lisadas foram a forma farma- sua Biblioteca virtual, o
inscrição, subinscrição e indica- cêutica (84,0%), a concentra- artigo “Acidentes com
ção realizados de forma com- ção (61,5%), as abreviaturas os medicamentos: como
48 pleta e com clareza. Prescrições mais utilizadas na via de admi­ minimizá-los?”.
incompletas, ilegíveis ou com nistração (37,2%) e a posolo-
rasuras impedem a eficiência gia (35,3%). A denominação Essa revisão apresenta
da dispensação, acarretam ris- genérica esteve presente em e discute os problemas
co de troca de medicamentos e 63,4% e a identificação do relacionados aos
de dosagens, levando ao com- pres­critor estava ilegível em acidentes envolvendo
prometimento no tratamento 88,0% das prescrições (GEYSA medicamentos, da
farmacoterapêutico. et al., 2006). prescrição ao uso, as
etapas críticas e as
Em um estudo realizado em Segundo Ozório e colaborado- estratégias para minimizá-
um ambulatório de pediatria, res (2012), a falha de comu- los. Disponível
concluiu-se que os fatores re- nicação durante a prescrição na videoteca
lacionados à não compreensão pode levar ao desconforto e à desta unidade.
da prescrição pediátrica foram desconfiança quanto à medi-
o baixo nível socioeconômi- cação prescrita, ao descrédito
cocultural do acompanhan­te/ no médico, ao sistema e à falta
responsável. de adesão ao tratamento.
Você pode estar se Vamos a essas dicas valiosas para Prescrição Médica (Artmed, 1998). Segundo Arrais e colaboradores
uma prescrição na Atenção Básica Esse manual apresenta ao estudante (2007), o Guia para a Boa Prescrição
perguntando: racional e de qualidade. o seguinte modelo nor­mativo para a Médica da OMS nos indica que,
farmacoterapia racional: após selecionar o tratamento me­
Na anamnese, você deve incluir dicamentoso e escrever a recei­ta, o
O que eu posso fazer informações sobre o uso de fár­ No curso do desenvolvimento de médico deve informar ao paciente:
para realizar uma macos, não apenas às questões seus medicamentos, os estudantes
melhor prescrição na mais formais em si, como história são ensinados a consultar proto­ (a) os objetivos a curto (ou a longo)
de alergias, o uso regular ou even­ colos de tratamento nacionais e prazo do tratamento instituído; (b)
Atenção Básica? tual de algum fármaco, o uso de internacionais, formulários, livros- como, quando e por quanto tempo
algum por conta própria, etc. texto e outras fontes de informação deve tomar o medicamento; (c)
sobre medicamentos. seus benefícios e riscos (interações
Ozório e É preciso muita atenção aos as­ medicamento-medicamento ou me­
colaboradores (2012) pectos inerentes à pessoa: suas Em seguida, eles são ensinados a di­camento-alimento, reações ad­
crenças individuais sobre a doença aplicar o conjunto de medicamen- ver­sas, intoxicações); (d) procedi­
indicam-nos alguns e a medicação, suas ideias e preo­ tos-I a problemas específcos de mentos a seguir se surgirem alguns
passos e conselhos cupações, sua expectativa sobre pacientes, usando um esquema de efeitos adversos; (e) forma de 49
úteis que eles o diagnóstico e o tratamento são resolução de problemas composto guardar os medicamentos; e (f) o
pontos-chave para uma boa co­ por 6 passos: que fazer com as sobras.
desenvolveram. municação, a qual certamente re­
fletir-se-á na prescrição. 1. definir o problema do paciente;
2. especificar o objetivo terapêutico;
Além disso, eles Tenha certeza de que a comunicação 3. verificar a conveniência de seus O medicamento é
destacam alguns inadequada é um fator relevante medicamentos e escolher o tra-
um produto que,
dos erros mais que contribui para erros na me­ tamento para esse paciente indi-
dicação como vários estudos apon­ vidual; acompanhado de
frequentemente taram para essa realidade. 4. escrever a prescrição; informação, facilita o seu
cometidos e sugerem 5. informar e instruir o paciente;
uso correto.
A OMS desenvolveu um manual sobre 6. monitorar e/ou interromper o
algumas atividades os princípios da prescrição racional tratamento. A leitura desse livro
preventivas e de para estudantes de Medicina, o Guide é uma excelente dica para todo
to Good Prescribing, traduzido para prescritor!
educação. o português como Guia para a Boa
PASSOS PARA A TOMADA DE DECISÕES
EIS UMA DICA PRECIOSA!
COMPARTILHADAS COM A PESSOA

● Definir o problema: o profissional deve especificar o problema


que requer uma decisão, levando em consideração as suas
percepções e as da pessoa.
● Transmitir confiança: deixar claro que os profissionais podem
não ter uma mesma opinião sobre qual opção de tratamento é
a melhor.
● Resumir as opções: descrever uma ou mais opções de
50 tratamento e, se relevante, a consequência de não tratar.
● Verificar o entendimento: certificar-se do entendimento da
Esses autores afirmam que, atualmente, verifica-se a necessidade do
pessoa sobre as opções.
resgate das relações médico-paciente e farmacêutico-paciente, como
● Explorar as concepções: evocar as preocupações da pessoa e
um aspecto chave para a melhoria da qualidade do serviço de saúde, no
as expectativas sobre a condição clínica, as possíveis opções de
qual a personalização da assistência, a humanização do atendimento
tratamento e as suas consequências.
e o direito à informação são componentes básicos desse processo
● Investigar a aceitação da pessoa: conferir se ela aceita o
(ARRAIS et al., 2007).
processo de decisão compartilhada e identifica o seu papel na
interação.
A seguir, vamos destacar 2 quadros que foram trabalhados por Ozório
● Envolver a pessoa: comprometê-la no processo de decisão.
e colaboradores (2012). O primeiro quadro (ao lado) apresenta passos
● Protelar, se necessário: rever as necessidades e as preferências
para a tomada de decisão compartilhada com a pessoa e o segundo
da pessoa, incluindo a opinião da família.
quadro demonstra alguns conselhos úteis na hora de prescrever.
● Rever os acordos: examinar cuidadosamente as decisões de
Vamos a eles:
tratamento após um período específico de tempo.
CONSELHOS ÚTEIS NA HORA DE PRESCREVER VEJA MAIS...

● Antes de prescrever uma medicação ou conduta, deve-se ● Levar em consideração o custo-benefício dos medicamentos ao
conhecer e procurar evidências de seu uso. prescrevê-los.

● Descrever, de forma compreensível e detalhada, as medidas não ● Prescrever somente medicamentos que venham ao encontro das
medicamentosas que fizeram parte da prescrição. necessidades da pessoa e nunca para sua própria conveniência
ou simplesmente porque a pessoa os requer.
● Prescrever, na medida do possível, somente uma medicação.
Evitar a polifarmácia. ● Acordar com a pessoa o retorno da consulta para acompanhamento.

● Esclarecer à pessoa e/ou ao acompanhante tudo o que for ● Prescrever medicação não licenciada ou fora dos termos de sua
imprescindível sobre o medicamento prescrito: dose, duração licença (off-label) somente se necessário. 51
do tratamento, interações medicamentosas, reações adversas e
riscos durante e depois de seu uso, forma de armazenamento. ● Renovar receitas, desde que as condições da pessoa estejam
monitoradas.
● Na prescrição de crianças, conhecer a dose recomendada de
acordo com o peso, a idade, a apresentação do medicamento e o ● Estabelecer comunicação com a pessoa, levando em consideração
estado nutricional. suas crenças, preocupações e atitudes.

● Na prescrição de gestantes, conhecer de forma empírica e ● Registrar as prescrições no prontuário da pessoa para que se
procurar sempre uma justificativa clínica consistente. possa conferir, no retorno, se as orientações foram cumpridas.

● Escrever a receita médica de forma legível, completa, sem ● Utilizar, se disponível, prescrição eletrônica. Isso tem sido pro­
abreviaturas, com a inscrição no CRM. Datar e assinar. Utilizar o posto como uma estratégia importante para reduzir erros com
nome genérico ou a denominação comum brasileira (DCB). medicações, melhorar a qualidade do cuidado com a pessoa e
reduzir os custos na área da saúde.
ERROS MAIS FREQUENTES COMETIDOS

● Uso de medicamentos que trazem mais riscos que benefícios, ou de custo elevado,
quando existem alternativas mais seguras e acessíveis.

● Prescrição de medicamentos com interações medicamento-medicamento e me­


Seguindo nossa proposta dicamento-doença clinicamente significativas.

de apresentar facilitadores ● Prescrições inapropriadas (subprescrição – não prescrever medicamentos que são
para sua prescrição na necessários, principalmente no caso de pessoas idosas, ou prescrever por tempo
insuficiente; superprescrição – prescrever um ou mais medicamentos do que é
Atenção Básica, destacamos clinicamente necessário, ou por tempo prolongado; sobreprescrição – prescrever dois
no quadro alguns dos erros ou mais medicamentos para a mesma finalidade).
52 mais frequentes cometidos, ● Prescrições incorretas: ambíguas (medicamentos antagônicos), ilegíveis, incompletas
segundo proposto por (ausência de via de administração, forma farmacêutica, concentração, duração do
tratamento, posologia e data), com uso de abreviações ou, ainda, rasuras, com falta de
Ozório e colaboradores assinatura ou CRM.
(2012).
● Prescrições que não levam em consideração as características individuais das pessoas (função
renal ou hepática reduzida, história de alergia, uso de outros fármacos, gestação, etc).

● Uso de terapias não baseadas em evidências.

● Ausência de informações verbais (o porquê do medicamento; a forma adequada de


fazer uso de cada substância; a existência de interação ou não com a alimentação; a
importância do cumprimento dos horários estabelecidos; formas de armazenamento,
etc.) e não elucidação das dúvidas da pessoa.

● Não monitorar a ação do medicamento.


Para evitar as duplicações e as interações medicamentosas, o médico
da Atenção Básica deve elaborar um esquema terapêutico simplificado,
com dosagens adequadas, e aquelas potencialmente interativas devem
ser substituídas, procurando o máximo efeito terapêutico com o mínimo
de drogas e de efeitos adversos.

Antes de prescrever algum medicamento na Atenção Básica, é


importante que o médico se questione sobre os seguintes pontos:

a) É realmente necessária a utilização de um fármaco para modificar


o curso clínico desse problema?
b) Qual fármaco indicar?
c) Como deve ser administrado esse fármaco? O idoso ou seu
cuidador tem condição de assimilar essas informações?
d) O idoso está usando outro fármaco?
e) Quais os efeitos esperados desse fármaco?
f) O fármaco poderá ser utilizado para outros fins que não os da
prescrição? 53
g) Os medicamento prescritos estão disponíveis no Sistema Único de
Saúde?

Racionalizar o uso de medicamentos e evitar os agravos advindos da


polifarmácia e da iatrogenia serão, sem dúvida, um dos grandes desafios
da saúde pública deste século.

Para facilitar essa prática, a Caderneta de Saúde da Pessoa permitirá o


registro das principais medicações em uso, auxiliando no atendimento
da pessoa idosa em qualquer ambiente em que isso ocorra.

Para fecharmos esta atividade, compartilhamos alguns


preceitos gerais pronunciados pelo professor Jairo Ramos
na primeira edição do livro “Atualização Terapêutica”, há
quase 50 anos, e que sempre merecem ser lembrados:
Atividade 5

Rename
e Farmácia Popular

Escolhemos encerrar nossa discussão sobre


prescrição de fármacos apresentando na
última atividade algumas informações que
serão fundamentais de serem conhecidas
sobre listas de medicamentos na Atenção
54
Básica.

Você sabia que trabalhar com conceito e


lista de medicamentos essenciais faz par-
te das dez recomendações que melho-
ram o uso de medicamentos em países
em desenvolvimento?

Esse conceito foi criado com a visão de


que as pessoas, em qualquer lugar, te-
nham acesso aos medicamentos priori-
tários para a saúde pública quando deles
necessitarem, os quais devem ser efica-
zes, seguros e de qualidade assegurada,
sendo prescritos e usados racionalmente. Como podemos selecionar uma lista com
medicamentos considerados essenciais? Veja a seguir.
Critérios de seleção
Cada país utiliza a lista modelo da A lista de medicamentos Na atualidade, cresce o número de
OMS de modo flexível e adaptável medicamentos colocado para co-
às suas condições. A decisão sobre
essenciais deve orientar e mercialização, sendo que apenas
quais medicamentos essenciais se- racionalizar o suprimento 1% representa reais inovações com
rão selecionados permanece uma de medicamentos no relevância clínica. Há, pois, um ar-
responsabilidade nacional. mamentário excessivo e repetitivo,
setor público, a produção criando-se “famílias” de medica-
Baseados em Nessa perspectiva, a seleção leva local de medicamentos mentos, em que os mais novos são
evidências e em em conta as doenças de relevância e as ações no âmbito da muito semelhantes em eficácia e
para a população, as condições or- em segurança (me-toos) aos já exis-
sequência hierárquica, ganizacionais dos serviços de saú-
assistência farmacêutica tentes. As poucas diferenças en-
de, a capacitação e a experiência contradas dizem respeito a aspec-
englobam: dos profissionais, a qualidade dos
A estratégia de emprego de me-
tos farmacocinéticos, os quais, por
medicamentos registrados e dispo- dicamentos essenciais é impor- vezes, repercutem favoravelmente
níveis no país e os recursos finan- tante vertente para o uso racio- na terapêutica.
ceiros alocados para a saúde. nal de medicamentos. A lista de 55
seleção de medicamentos essen- Em outras, no entanto, aquelas di-
E para a prática clínica, é vantajoso ciais deve ter extensões, como ferenças não são significativas para
trabalhar com listas? um formulário terapêutico e obtenção de respostas terapêuticas.
protocolos clínicos, tudo isso in- Apesar dessa realidade, os órgãos
Há evidências de que trabalhar com fluenciando positivamente a pre- reguladores europeu (EMEA) e nor-
número limitado de medicamentos venção e o tratamento de doen- te-americano (FDA) aprovaram mais
essenciais favorece qualidade de ças prevalentes e relevantes para medicamentos em 2008 do que em
atenção à saúde, melhor gestão de o país. 2007. O cerne da seleção racional é
medicamentos, mais fácil auditoria, o processo comparativo, em que re-
mais fácil treinamento do prescri- Mas, na prática, como são selecio- presentantes de mesma classe tera-
tor e melhor informação ao pacien- nados frente a tantas possibilida- pêutica são cotejados entre si para
te, o que foi verificado inclusive em des que a indústria farmacêutica determinar seu real e relevante be-
países ricos. disponibiliza? nefício clínico para o paciente.
Assim, levando em conta os efeitos Da lista de essenciais, são excluídos Na lista, certos medicamentos têm
de classe, escolhe-se um represen- indicações muito específicas ou
tante com base em fortes evidên- medicamentos de similar eficácia e segurança, requerem alto grau de expertise
cias de eficácia e de segurança, de recente introdução no mercado, com para assegurar uso seguro e eficaz,
comprovadas por amplos ensaios sendo colocados na chamada lista
clínicos randomizados (ECR), com insuficiente experiência de uso e eficácia ou complementar da Lista Modelo da
base metodológica e desfechos segurança não definidamente comprovados. OMS.
de alta relevância clínica, gerado-
res de resultados generalizáveis e Outros induzem rápida resistência
aplicáveis às condições usuais. Me- microbiana, são muito caros ou
ta-análises e revisões sistemáticas podem desenvolver dependência
os resultados das fontes primárias física e psíquica. Quaisquer dessas
e constituem um dos pilares da evi- condições restringem o emprego a
dência, mesmo quando essa ainda determinadas indicações clínicas.
não se construiu.

Mostrar que existe incerteza quan-


56
to ao benefício de determinada de-
Na Rename e
cisão constitui per se um benefício, em outras listas
pois evita uso empírico ou fruto
de propaganda dos produtores e
elaboradas no Brasil,
aponta para a necessidade de pes- esses medicamentos
quisa futura.
são considerados de
Além dos critérios maiores mencio- uso restrito, estando
nados, há outros condicionantes
da seleção de medicamentos es-
assinalados com a
Custo alto não exclui da lista um medicamento, se esse representa a
senciais. Muitas vezes, o represen- melhor escolha para uma condição específica. Ao contrário, se todos letra R seguida de
tante é escolhido por ser usado em
mais de uma doença.
os critérios hierarquicamente mais importantes (eficácia, segurança e um número que
conveniência ao paciente) forem similares, a decisão penderá em favor
do que tiver preço mais justo, para tornar-se mais facilmente disponível corresponde à nota de
aos pacientes que dele necessitarem. rodapé explanatória
A lista de medicamentos essenciais deve ser instrumento
educativo e orientador da prática dos profissionais que a
ela recorrem. Por isso deve ser única, organizada por grupos
farmacológicos utilizados para manejar manifestações gerais
de doença (dor, inflamação, alergia, infecção, neoplasia,
intoxicação, distúrbios carenciais) e para tratar doenças de
diferentes sistemas orgânicos.

A repetição de medicamentos com múltiplas indicações


clínicas em diferentes grupos (Ex.: ácido acetilsalicílico como
analgésico, anti-inflamatório, antiplaquetário etc.) dá melhor
ideia do armamentário terapêutico.

As justificativas de inclusão nas próprias listas favorecem a


explicitação da evidência e reforçam o aspecto educativo.

Em princípio, escolhem-se as menores concentrações, pois é 57


mais fácil administrar múltiplos de uma forma farmacêutica
sólida do que fração.

Para aqueles que atendem crianças, sugere-se a leitura da


2ª Lista Modelo de Medicamentos Essenciais para Crianças
(atualizada em março de 2010) e do Formulário Modelo de
Na lista, devem constar as designações genéricas dos medicamentos incluídos (no
Medicamentos Essenciais para Crianças – 2010, baseado na
Brasil, segundo a Denominação Comum Brasileira), sem usar nomes de marca ou
lista mencionada, ambos da OMS.
fabricantes específicos, o que melhora as práticas de prescrição e de dispensação,
contribuindo para o uso racional e a informação independente, diminuindo o
No Brasil, a RENAME compreende a seleção e a padronização
desperdício e evitando erros de medicação. Para evitar monopólio e preços excessivos,
de medicamentos indicados para atendimento de doenças
escolhem-se, preferencialmente, medicamentos produzidos por múltiplos fabricantes.
ou de agravos no âmbito do SUS.
Preferem-se monofármacos, aceitando as associações em doses fixas somente quando
Ela é acompanhada do Formulário Terapêutico Nacional –
aumentam a eficácia, retardam a resistência microbiana ou melhoram a adesão dos
FTN, que subsidiará a prescrição, a dispensação e o uso dos
pacientes a tratamento. A escolha pode ser influenciada por facilidades de estocagem,
seus medicamentos.
principalmente em locais úmidos e quentes.
O Estado, o Distrito Federal e o Muni-
cípio poderão adotar relações específi-
cas e complementares de medicamen-
tos, em consonância com a RENAME,
respeitadas as responsabilidades dos
entes pelo financiamento de medica-
mentos, de acordo com o pactuado
nas Comissões Intergestores.

58

Disponível
na Biblioteca virtual desta unidade.

O Ministério da Saúde é o órgão competente para dispor sobre a RENAME e os Protocolos


Clínicos e Diretrizes Terapêuticas em âmbito nacional, observadas as diretrizes pactuadas
pela CIT e, a cada dois anos, o Ministério da Saúde consolidará e publicará as atualizações da
RENAME, do respectivo FTN e dos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas.
A RENAME e a relação específica complementar esta-
dual, distrital ou municipal de medicamentos somente
poderão conter produtos com registro na Agência Na-
cional de Vigilância Sanitária - ANVISA

Grande proporção de profissionais da saúde, em todos


os níveis da gestão pública, desconhece as listas de me-
dicamentos essenciais existentes no País. 59

Constitui um desafio a divulgação dessas listas, abran-


gendo o maior número possível de prescritores, de se-
tores acadêmicos, de serviços de saúde e de organis-
mos profissionais.

Outra dificuldade consiste na falta de adesão dos pro-


fissionais em prescrever medicamentos essenciais.
A política de saúde brasileira, O objetivo do Programa é am- Nesse caso, não são considerados
principalmente como instituição pliar o acesso da população a os mesmos critérios usados para a
do Sistema Único de Saúde, tem medicamentos considerados instalação da rede própria no que
adotado medidas governamen- essenciais, garantindo a univer- diz respeito à sua distribuição ge-
tais que garantam que a Política salidade do acesso, com foco ográfica, podendo haver mais de
de Medicamentos e o acesso ra- nos usuários do sistema privado uma farmácia ou drogaria creden-
cional aos medicamentos essen- de saúde que, porventura, não ciada no mesmo Município, sem
ciais não sejam vistas enquanto conseguissem adquirir seus me- distinção de sua localização e nem
ações paralelas às da saúde e, dicamentos. Objetiva também de densidade demográfica.
sim, como preceitos fundamen- diminuir o impacto causado pe-
tais na garantia da população às los gastos com medicamentos A limitação para o credenciamen-
ações de promoção, de proteção no orçamento familiar, os quais to desses estabelecimentos dá-se
e de recuperação da mesma. apareciam em quarto lugar com o alcance das metas previs-
(BRASIL, 2004d;BRASIL, 2005c). tas para o ano, tanto física quan-
Tendo como base a Política Nacio- to orçamentária. Atingido o nú-
nal de Assistência Farmacêutica – A partir de 2006, com a Porta- mero estabelecido, as farmácias
60 PNAF, o Ministério da Saúde tem ria GM nº 491, o Programa foi e drogarias somente poder-se-ão
desenvolvido um conjunto de ati- expandido ao setor privado, por credenciar no ano seguinte.
vidades com vistas à efetivação da meio das parcerias com as far-
Programa do AF enquanto direito social. mácias e drogarias legalmente Em 2011, com o lançamento do
instaladas. “Plano Brasil Sem Miséria”, um
Governo Federal Ações estratégicas, como a am- novo critério foi estabelecido: a
pliação dos recursos para a quali- O credenciamento desses esta- priorização de cadastro dos es-
que disponibiliza à ficação da AF, o aumento do valor belecimentos dá-se pela mani- tabelecimentos que estivessem
população, por meio de repasse aos Municípios, a cen-
tralização da aquisição de medi-
festação do interesse dos empre-
sários do setor, sendo aprovadas
nos Municípios contemplados no
plano de erradicação da extrema
de uma rede própria camentos e o aprimoramento da aquelas empresas que cumpram pobreza, segundo os critérios ado-
gestão, foram algumas das priori- as determinações previstas na tados pelo Ministério do Desenvol-
e da rede privada de dades do Governo federal. Portaria que rege o Programa. vimento Social e Combate à Fome.

farmácias e drogarias,
medicamentos.
A primeira diferença está no No caso do “Aqui Tem Farmácia Essa ação, denominada “Saúde
número de itens disponibilizados Popular”, o Governo federal es­ta­ não tem preço”, ampliou bastante
nas redes próprias do programa e beleceu um valor de referência. o número de atendimentos rea­
Algumas diferenças o elenco subsidiado pelo Governo O MS subsidiará 90% desse valor, lizados no Programa em re­l a­
Federal nas farmácias e drogarias ficando o usuário responsável pelos ção ao ano anterior. Conforme
são encontradas entre credenciadas ao Programa, sendo 10% restantes e pela diferença dados apresentados pelo MS,
os elencos da rede o primeiro maior. Também há di­ que porventura houver entre o o crescimento não se deu
ferença no valor pago pelo usuário valor de referência e o valor de apenas para os medicamentos
própria de farmácias e do serviço. venda efetivamente praticado. indicados para essas doenças,
o “Aqui Tem Farmácia A partir de fevereiro de 2011, os tendo havido também aumento
No caso da rede própria, os valores medicamentos indicados para o no número de dispensações dos
Popular”. dos medicamentos e preservativos tratamento da hipertensão e do outros. Esse crescimento pode
são estabelecidos pela Fiocruz, diabetes constantes do elenco ser observado em todo o país,
já embutidos nestes os custos das duas versões do programa o qual pode ser atribuído tanto
de aquisição e a logística de passaram a ser dispensados sem à ação quanto à capilaridade
distribuição. custos para o usuário. atingida pelo Programa.
61

Os medicamentos de uso contínuo tem desconto de 90%, sendo que


alguns para o tratamento do diabetes e hipertensão (por exemplo,
metformina, insulina, vários betabloqueadores e hidroclorotiazida) são
gratuitos.

Medicamentos para asma, doença de Parkinson, glaucoma,


anticoncepcionais, osteoporose e rinite também estão disponíveis.
Em seus mais de sete anos, Apesar de esta ser uma regra
observa-se que, consideran- válida para todo o comércio de
do-se a lógica com a qual foi medicamentos, sabe-se que a
concebido por meio das pri- dispensação dos medicamen-
meiras legislações que o ins- tos sob prescrição médica, em
tituíram e com base em seus geral, não é realizada. Dessa
números oficiais, o Programa forma, os mecanismos adota-
pode cumprir um papel ino- dos pelo Programa para que a
vador e estratégico dentro do dispensação seja feita apenas
SUS (BRASIL, 2004c; SALA DE com o cumprimento integral da
SITUAÇÃO EM SAÚDE, 2012). legislação permitem-nos avaliar
que ele pode ser considerado
Nesse aspecto, diversos pontos um fato inovador, que contribui
devem ser destacados. Inicial- para o uso racional dos medica-
mente, considera-se que o PFPB mentos e que evita a “empurro-
inseriu no âmbito da política de terapia” e a “automedicação”.
62 saúde o co-pagamento como
estratégia de acesso voltada
para os que não conseguiam
ter acesso a medicamentos Fonte: Prefeitura de São Bernardo do Campo - SP
nos serviços públicos de saúde
ou que porventura tivessem
descontinuidade em seu trata-
mento, fruto da sua não dispo- Para obter o medicamento na Farmácia Popular, o
nibilidade, mas que poderiam paciente precisa ter em mãos seu CPF, um documento
pagar por eles. Por outro lado, Disponível
observa-se que as regras do com fotografia, e a prescrição médica contendo o CRM na Biblioteca virtual desta
programa para a dispensação do médico emitente com o carimbo e assinatura, a data unidade.
dos medicamentos são rígidas
constando, entre elas, a obriga- da expedição da receita (de até 180 dias), o nome e o
toriedade da apresentação da endereço residencial do paciente.
receita médica.
CHEGAMOS AO FINAL DO MÓDULO!

Esperamos que você se sinta mais confiante para abordar os temas aqui discutidos
e que eles sejam úteis na sua prática profissional.

Procuramos estabelecer com você um diálogo franco, propusemos as lições e


trabalhamos os materiais didáticos e as atividades para colaborar com você em
relacionar as teorias e os conceitos apresentados às suas situações de prática clínica,
com o intuito de desenvolver habilidades, atitudes e competências para prescrição
responsável e racional, em especial para sua atuação na Atenção Básica e no SUS.

A prática clínica na Atenção Básica tem uma característica de singularidade que


são próprias das ações desenvolvidas nesse modelo de Atenção à Saúde, pois a 63
perspectiva da integralidade do cuidado aponta para práticas que se constituem
desafios para todos os envolvidos.

Nesta Unidade, apresentamos algumas informações e ferramentas que


consideramos fundamentais para a organização, para o registro e para a qualidade
da prática clínica na APS.

Mais detalhadamente, discutimos os aspectos gerais de uma prescrição médica


racional e de qualidade na Atenção Primária, com situações que facilitaram a reflexão
e o exercício das técnicas orientado por problemas. Pela complexidade do assunto, é
fundamental que o estudo e a busca de outras referências e experiências sejam um
exercício cotidiano em sua prática clínica. Temos um vasto material disponível em
nossa Biblioteca virtual e no ARES: vale muito explorar esses ambientes – aqui fica
nosso convite! Busque também se aproximar das outras diversas ferramentas que
auxiliam na prática clínica cotidiana, que serão abordadas nas outras Unidades do
nosso curso, ou que estão detalhadas nas leituras complementares. Bons estudos!
Para organizar e representar o conhecimento disponibilizado nesta Unidade, relacionamos
os principais conceitos e suas interfaces. Veja como ficou nosso Mapa Conceitual:

64
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDREATINIA, R; BOERNGEN-LACERDA, R; FILHO, DZ. Tratamento farmacológico do transtorno de ansiedade generalizada: perspectivas futuras. Rev
Bras Psiquiatr 2001;23(4):233-42.

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ARRAIS, PSD et al. Aspectos dos processos de prescrição e dispensação de medicamentos na percepção do paciente: estudo de base populacional em
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o medicamento genérico, dispõe sobre a utilização de nomes genéricos em produtos farmacêuticos e dá outras providências. em 27 de novembro de
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______. Decreto nº 7.508, de 28 de junho de 2011. Regulamenta a Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, para dispor sobre a organização do Sistema
Único de Saúde - SUS, o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa, e dá outras providências.

______. Portaria n. º 344, de 12 de maio de 1998. Aprova o Regulamento Técnico sobre substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial.

______. Lei nº 5.991, de 17 de dezembro de 1973. Dispõe sobre o Controle Sanitário do Comércio de Drogas, Medicamentos, Insumos Farmacêuticos e
Correlatos, e dá outras Providências.

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GLOSSÁRIO

Dose Efetiva Mediana (DE50): É a base para produzir determinada intensidade de um efeito em 50% dos indivíduos. Doses outras que produzem a
mesma intensidade do efeito em outras proporções percentuais são designadas DE20, DE80 etc. Quando o efeito observado é a morte dos animais de
experimentação, registra-se a dose letal. DL50 significa que morreram 50% dos animais com a dose empregada; DL20, que morreram 20% dos animais
e assim por diante.

Acredita-se, hoje, que o teste de determinação da DL50, anteriormente considerado como parâmetro fundamental para a definição da toxicidade
química, tenha perdido grande parte de sua credibilidade, especialmente em relação à fármacos destinados aos usos terapêuticos.
Devido aos problemas relacionados abaixo, ele mede apenas a mortalidade e não a toxicidade subletal:

A DL50 varia muito entre as espécies e não pode ser extrapolada com segurança para seres humanos;
Ele mede apenas a toxicidade aguda produzida por uma dose única e não mede a toxicidade a longo prazo;
68 Ele não mede as reações idiossincrásicas (reações que ocorrem a uma dose baixa em uma pequena proporção dos indivíduos), embora essas reações
sejam mais relevantes para a prática do que a toxicidade de doses altas;
Ele requer o uso de muitos animais e acarreta um sofrimento desproporcional em relação ao conhecimento obtido.
________________________________________________________________

O Índice Terapêutico (IT): É definido pela relação DL50/DE50. Vários autores ainda transmitem a ideia de que, quanto maior o Índice Terapêutico de uma
droga, maior é a sua margem de segurança, pois ele indica a distância entre a Dose Letal mediana e a Dose Efetiva Mediana. Erlich definiu inicialmente o
Índice Terapêutico como: IT = Dose máxima não tóxica/Dose mínima eficaz; infelizmente, a variabilidade entre indivíduos não é levada em conta nessa
definição, portanto, esse conceito caiu em desuso. O conceito de IT = DL50/DE50 ainda é amplamente utilizado, apesar de hoje reconhecermos que
este apresenta limitações claras.

O IT é capaz de dar uma ideia da margem de segurança no uso de um fármaco, mas não é efetivamente um guia útil para a segurança de um medicamento
no uso clínico. As razões para isso são as seguintes: O tipo de efeito adverso, que limita, na prática, a utilidade clínica de um fármaco, tende a passar
despercebido no teste de DL50; A DE50 pode não ser definida, dependendo da média da eficácia utilizada. Por exemplo, pode ser necessário administrar
os fármacos analgésicos em doses diferentes de acordo com a natureza da dor; Algumas formas muito importantes de toxicidade são idiossincrásicas.
Em outros casos, a toxicidade depende muito do estado clínico do paciente. Assim, o propranolol, por exemplo, é perigoso para pacientes asmáticos
em doses que são inofensivas para um indivíduo normal.
Janela terapêutica: Significa a área (ou faixa) entre a dose eficaz mínima e a dose máxima permitida. Portanto, corresponde a uma faixa plasmática
aceitável, na qual os resultados terapêuticos são positivos. Por exemplo, para crianças com peso inferior a 20 Kg, a dose diária do fármaco amoxicilina
pode variar de 20 a 40 mg por quilo de peso; portanto, se a criança tiver 10 Kg de peso corporal, a dose diária pode ser, no mínimo, de 200 mg
(dividida em três doses de 8 em 8 horas), e, no máximo, de 400 mg do fármaco (dividida em três doses de 8/8 horas). Assim, a janela terapêutica (dose
recomendada) diária do medicamento amoxicilina para crianças com o peso corporal de 10 Kg varia de 200 mg a 400 mg.].
________________________________________________________________

Mnemônico: É um conjunto de técnicas utilizadas para auxiliar o processo de memorização. Consiste na elaboração de suportes, como os esquemas,
os gráficos, os símbolos, as palavras ou as frases relacionadas ao assunto que se pretende memorizar.
________________________________________________________________

Denominação Comum Brasileira (DCB): É a denominação do fármaco ou princípio farmacologicamente ativo aprovada no órgão federal responsável
pela vigilância sanitária;
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Denominação Comum Internacional (DCI): É a denominação do fármaco ou princípio farmacologicamente ativo recomendada na Organização Mundial
de Saúde. 69

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