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Beto Betânio: O Criador de Caracóis

Não havia uma alma viva naquele povoado que não conhecesse a Beto Betânio,

o criador de caracóis. Tinha uma imensa fazenda de 20 hectares, com cinquenta tipos de

plantações e criações pecuaristas das mais variadas espécies: arroz, cacau, café, milho,

soja, trigo, laranja... Da pecuária: bovinos, bufalinos, caprinos, equinos, ovinos, suínos...

Mas tinha verdadeira predileção pela criação de caracóis. Eram criaturinhas pequenas e

vagarosas, porém dotadas de inigualável inteligência. Facilmente comandáveis e hábeis

na arquitetura e engenharia. Suas edificações espiraladas causavam verdadeiro espanto e

admiração até mesmo nos gênios das exatas que passavam noites a fio com cálculos e

fórmulas na tentativa de provar a fraudulência daquelas construções. Mas não

demoravam a perceber que aquelas criaturinhas tinham o dom divinal de edificar.

Crescera assombrosamente a fama dos moluscos construtores. Mundo afora

vinha ver de perto e em todo canto se falava acerca da imponência de suas edificações.

Já não creditavam a Beto Betânio, a maravilha de seu empreendedorismo; dele nem

mais lembravam. A criação tornara-se maior que o criador.

Inflamado e se sentido vítima de cruel perfídia, pôs todos os caracóis numa

caçamba e os lançou em fornalha ardente. Depois do ato não houve um único lugar

sequer em que não comentassem sua derradeira vilania. Retomara a condição de centro:

e isto o agradou.

Para Roberto Queiroz

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