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Muralha

Vivia para sua empresa de tal maneira que decidiu não mais retornar ao seu lar.
No trabalho havia muito que fazer. Cercou seu empreendimento com uma imensa
muralha feita de chumbo e concreto e lá se enclausurou. Pôs uma pequena abertura na
barreira por onde recebia cartas de sua família e por onde também despachava produtos.
Seus subordinados tinham permissão de sair duas vezes por semana. Eram retirados por
aeronaves destinadas a esse propósito. Mas o patrão nunca saia, pois o serviço para ele
nunca se dava por encerrado. Seus filhos cresceram, casaram, recebeu fotos dos netos
pela abertura... Envelheceu ali... Estranhou um dia a ausência de correspondências.
Eram depositadas na abertura semanalmente e já fazia dois meses sem notícias. Mandou
cartas, mas sem sucesso. Não houve retorno. Sabia bem o que tinha de fazer... Por um
momento hesitou, pensou em quanto serviço largaria... Quando trabalho acumularia,
mas encheu-se de coragem e tomou uma aeronave. Descobriu, fora da muralha, um
mundo diferente de outrora, caótico, sem vida... Um mundo cuja desgraça deflagrada
empesteava enxofre e fuligem. Pensou no apocalipse bíblico e, mesmo não tendo a
certeza dos fatos, de uma coisa não duvidou: estava diante do fim da humanidade.

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