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1. Introdução 12
1.1 Impactos da Ilegalidade no Setor Madeireiro Tropical Brasileiro 14
4. Metodologia da Bvrio 38
4.1 Abordagem 40
4.2. Fontes de Dados e Análises dos Unidades de Produção 42
4.3 Análise de Risco e Interpretação de Resultados 47
4.4 Avaliação de Risco ao Longo da Cadeia de Custódia 49
4.5 Relatórios e Declarações 52
4.6 Sistema de Registro de Guias de Transporte e Cadeias de Custódia 53
4.7 Plataforma de Negociação 53
4.8 Registro de Dados com Tecnologia Blockchain 54
6. Conclusões e Recomendações 57
/InfoBVRio goo.gl/bhVEVi
Autores
Este estudo foi escrito por Pedro Moura Costa, Mauricio Moura Costa
/BVRio /canalbvrio
e Marcio Barros, do Instituto BVRio.
Agradecimentos
O Instituto BVRio agradece a Toby Gardner (Stockholm Environmental
Institute), Mauricio Voivodic (Imaflora), Marcio Lentini (WWF-Brasil),
Miguel Calmon (IUCN), Daniela Lerda (CLUA), Sophie Higman (West
Street Communications), Ruth Nogueron e Tobias Stauble (WRI – Forest
Legality Alliance), e Thomas Sembres (European Forestry Institute) pelas
suas revisões e comentários. O documento original foi traduzido para o
português por Vania Cabuz Toledo e formatado por MG Studio.
Forest Law Enforcement, Governance and Trade initiative of the EU, Plano de
FLEGT Ação da UE para Aplicação da Legislação, Governança e Comércio do Setor
FSC Florestal
A produção e comercialização ilegal de madeira ma Sisflora adotadas pelos estados do Pará e Mato
tropical é um dos principais fatores de degradação Grosso. Comparados a outros países tropicais, os
ambiental no mundo, levando à perda de habitats sistemas de controle de madeira no Brasil estão en-
e biodiversidade, emissão de gases de efeito estufa, tre os mais abrangentes e sofisticados no mundo.
violação de direitos humanos e corrupção. Nos últi- Apesar dos méritos destes sistemas, corrupção e
mos 15 anos intensificaram-se os esforços interna- fraude generalizadas tornaram esses sistemas inú-
cionais no combate à ilegalidade no setor madeirei- teis e colocaram o Brasil no topo da lista de países
ro. Em termos de disposições legais, por exemplo, a de risco mundialmente.
EU Timber Regulation tornou o comércio de madeira
ilegal em uma infração passível de severas penalida- Os principais tipos de fraudes cometidos no Brasil se
des na Europa e a US Lacey Act de 2008 e a lei aus- dividem em três grupos principais:
traliana de combate à exploração ilegal de madeira o
consideram uma infração penal.
11
O Sistema de Due Diligence e Avaliação de Risco da Nenhuma indicação de infrações,
BVRio, baseado em análise de big data, tem o objetivo irregularidades ou não-adequação à legislação
de auxiliar o processo de due diligence e avaliação de
risco de ilegalidade de madeira tropical amazônica. O Associadas com fatores diretos, e risco negligenciável
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Os riscos associados a cada lote de madeira são es- sos departamentos de compras de órgãos públicos
timados através da análise de cada unidade de pro- e privados nos mercados doméstico e internacional.
dução ao longo de sua cadeia de custódia, traçada
usando as autorizações de transporte (GFs ou DOFs) Baseado na experiência da BVRio, o uso de big data
associadas a estes produtos. Relatórios são emitidos para a avaliação de risco é promissor, por combinar
para cada lote de madeira, incluindo a descrição do os resultados de uma ampla gama de abordagens
lote de madeira e sua cadeia de custódia (e quais- ao invés de depender de qualquer uma isoladamen-
quer inconsistências identificadas); informação de- te. Qualquer iniciativa desenvolvida para aumentar
talhada sobre cada unidade de produção, incluindo a legalidade no setor, porém, depende da transpa-
imagens de satélite; e uma avaliação de risco destas rência de informações relevantes. É essencial que os
unidades de produção. governos federais e estaduais ofereçam maior trans-
parência para permitir melhor monitoramento, con-
Há uma necessidade urgente de se promover o setor trole e redução da ilegalidade no setor de madeira
florestal tropical brasileiro para assegurar a preserva- tropical brasileiro. •
ção de florestas em pé e a redução de emissões GHG
pelo setor de uso da terra. Um pré-requisito desse
objetivo é assegurar que o setor opere legalmente.
Em paralelo, é necessário conduzir ações para pro-
mover o uso de madeira legal, tanto através da cria-
ção de incentivos ao uso da madeira legal quanto por
meio de sua promoção entre associações, produtores
e distribuidores de produtos madeireiros, e os diver-
Alexander Lees
13
1. Introdução
2 Ver, por exemplo, Hoare, A., 2015. Tackling Illegal Logging and the Re- 6 O Plano de Ação do FLEGT visa reduzir a exploração madeireira ilegal
lated Trade. Chatham House, London (http://indicators.chathamhouse.org). através do fortalecimento da sustentabilidade e legalidade no manejo flo-
Valores semelhantes, ou até superiores, foram citados pelo Ministério do restal, melhoria da governança florestal e promoção do comércio de madei-
Meio Ambiente, Interpol, Imazon, ITTO, Traffic, NepCon, etc. ra produzida legalmente (www.flegt.org).
11 A Global Forest & Trade Network (GFTN) é uma parceria liderada pela 16 Uma iniciativa promovida por 23 atores dos setores público e privado
WWF, ligando empresas, comunidades, ONGs e empresários, com o objetivo em São Paulo, incluindo WWF e FSC Brasil.
de criar mercado para produtos florestais ambientalmente responsáveis.
15
1.1 Impactos da ilegalidade no setor de sofisticação até os desafios criados pela economia
madeireiro tropical brasileiro informal, ilegalidade e insustentabilidade.
O setor madeireiro atualmente é responsável pela extra- Nos rankings internacionais, o Brasil é considerado um
ção de cerca de 13 milhões de metros cúbicos de toras dos países de maior risco no que se refere à ilegalida-
de madeira nobre de florestas amazônicas no Brasil17. de no setor madeireiro20. Constantes denúncias, feitas
Estas toras, por sua vez, alimentam a indústria de proces- pela imprensa e por ONGs aumentam a percepção de
samento de madeira. O setor gera mais de R$ 8 bilhões riscos associados ao setor21. Esta percepção de risco
de receita anual e emprega mais de 200.000 pessoas18. é ainda mais ampliada pelas repetidas operações da
Dada a disponibilidade de recursos naturais na região, o Polícia Federal nos estados amazônicos, resultando na
tamanho deste setor é relativamente pequeno19 e a sua prisão de funcionários de governos estaduais e de co-
importância vem diminuindo. merciantes de madeira22.
O declínio da indústria madeireira amazônica é resul- De acordo com diversos levantamentos, estima-se que
tado de uma série de fatores, desde seu baixo nível mais de 70% dos produtos madeireiros da Amazônia
17 Serviço Florestal Brasileiro, 2015: www.florestal.gov.br/snif/producao- The Response in Brazil. A Chatham House Assessment (. http://indicators.
-florestal/cadeia-produtiva chathamhouse.org).
23 Ver, por exemplo, Greenpeace: 2014. A crise silenciosa da Amazônia. 26 Por exemplo: http://noticias.pgr.mpf.mp.br/noticias/noticias-do-site/
Controle do setor madeireiro e 5 formas de fraudar o sistema. (http://che- copy_of_criminal/madeira-limpa-21-sao-presos-em-3-estados-em-opera-
gademadeirailegal.org.br/doc/BR/controle_madeireiro_5_formas_fraudar. cao-para-combater-desmatamento-ilegal.
pdf); e Imazon, 2013: Boletim Transparência Manejo Florestal Estado do Pará
(2011-2012). Além disso, A.C. Hummel, ex-diretor do Serviço Florestal Bra- 27 Serviço Florestal Brasileiro, 2015 (www.florestal.gov.br/snif/producao-
sileiro afirmou que “a extração de madeira ilegal nunca foi inferior a 60% -florestal/cadeia-produtiva).
do total explorado na Amazônia” (em: www.painelflorestal.com.br/noticias/
artigos/madeira-da-amazonia-um-novo-foco-no-combate-a-ilegalidade).
17
custos de produção (devido à sonegação de impos- país pretende adotar medidas para “ampliar a escala
tos, custos trabalhistas, etc.), madeireiros ilegais tem de sistemas de manejo sustentável de florestas nativas,
uma vantagem comparativa no mercado, resultando por meio de sistemas de georeferenciamento e ras-
em competição desleal com empresas com produção treabilidade aplicáveis ao manejo de florestas nativas,
sustentável legal e/ou certificada28. com vistas a desestimular práticas ilegais e insusten-
táveis”29. O combate ao comércio ilegal de madeira
A combinação destes fatores resulta em um panorama é também um dos objetivos da Coalizão Brasil Clima,
muito negativo para o setor e para as florestas tropicais: Florestas e Agricultura30.
na ausência de mecanismos que valorizem as florestas
em pé, essas se tornam mais vulneráveis ao desmata- Há uma necessidade urgente de se promover o se-
mento e à conversão a outros usos da terra, com o au- tor florestal tropical brasileiro e uma mudança radical
mento das emissões de gases de efeito estufa (GHG), no modo como as florestas são manejadas no Brasil,
destruição de habitats e perda de biodiversidade. para assegurar a preservação de florestas em pé e
a redução de emissões GHG pelo setor de uso da
Reconhecendo a importância desta tendência, a Con- terra31. Um pré-requisito desse objetivo é assegurar
tribuição Nacionalmente Determinada do Brasil (Na- que o setor opere legalmente, em adequação às leis,
tionally Determined Contribution – NDC) afirma que o regras e regulamentos. •
28 Ver, por exemplo: 29 iNDC brasileira visando atingir os objetivos do UN Framework Conven-
• Sindimasp (Sindicato do Comércio Atacadista de Madeiras do Estado de tion on Climate Change, submetido para a UNFCCC em 2015.
São Paulo) e WWF Brasil, 2012: Comércio de madeira. Caminhos para o
uso responsável. Sindimasp (www.sindimasp.org.br). 30 A Coalizão BrasilClima, Florestas e Agricultura (www.coalizaobr.com.
• O relatório da GVces (2015, ibid) estima que os custos de madeira ilegal br) foi formada em 2016 por associações empresariais, empresas, a socieda-
são 50% mais baixos que aqueles relacionados à produção legal. de civil, organizações e indivíduos interessados em contribuir para o avanço
• Mckinsey & Company, 2016: Promovendo a legalidade e aderência às e cooperação na agenda climática brasileira.
práticas sustentáveis na exploração e comércio de madeira nativa tropical
no Brasil. Relatório para o Ministério do Meio Ambiente do Brasil (MMA), 31 GVces 2015. (ibid).
18 Fev de 2016.
Quadro 1: Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) brasileira e uso do solo
A NDC brasileira vai resultar numa redução de 37% das emissões GHG em relação a 2005, até 2025.
As medidas relacionadas ao uso do solo e florestas incluem:
• Fortalecer políticas e medidas com vistas a alcançar desmatamento ilegal zero na Ama-
zônia brasileira até 2030 e a compensação das emissões de gases de efeito estufa prove-
nientes da supressão legal de vegetação até 2030;
• Restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas até 2030, para múltiplos usos;
Fonte: iNDC brasileira visando atingir os objetivos do UN Framework Conventionon Climate Change, submetido para a UNFCCC em 2015.
19
Sistemas de controle da
2. produção de madeira no Brasil e
principais tipos de fraude
A produção de madeira no Brasil é monitorada por responsáveis pela produção de mais de 70% da ma-
diversos sistemas oficiais de controle. Atualmente, deira tropical no país.
três sistemas oficiais estão em operação no país. O
principal, desenvolvido pelo Governo Federal, é o Em geral, os três sistemas são semelhantese controlam
Sistema DOF (Documento de Origem Florestal), im- todas as atividades relacionadas à produção de madei-
plementado pelo Ministério do Meio Ambiente do ra: licenciamento, extração (exploração), transporte,
Brasil em 2007 e adotado pela maioria dos estados processamento e comercialização de produtos da ma-
brasileiros. Dois estados (Pará e Mato Grosso), po- deira. O principal objetivo destes sistemas é assegurar
rém, desenvolveram e operam sistemas próprios (Sis- que cada atividade seja documentada, permitindo o
flora – Sistema de Comercialização de Transporte de controle e cumprimento das leis e regulamentos rela-
Produtos Florestais – ver Tabela 1). Esses estados são cionados ao manejo florestal.
Oisin Conolly
20
2.1 Processo de Controle de Madeira
Em linhas gerais, o processo regulatório relativo à extração da madeira segue as etapas apresentadas abaixo e
resumidas na Tabela 1:
Notas explicativas sobre como ler e interpretar esses documentos encontram-se no Anexo 2
(*) Em caso de ciclos menores, são autorizados volumes menores (por exemplo: para ciclos de 25 ou 30 anos são autorizados cortes de 20m³ ou 25m³,
respectivamente, assumindo um incremento de 0,83m³/ha/ano). 21
Tabela 1: Documentação necessária para a extração, processamento, transporte e venda de madeira
exigida pelos três Sistemas de Controle de Madeira oficiais no Brasil.
Sistem Documento de Origem Florestal (DOF) Sisflora Mato Grosso Sisflora Pará
abrangida
Região
Todos estados no Brasil, exceto Mato Grosso Estado do Mato Grosso. Estado do Pará.
e Pará. Administrado pelo IBAMA Administrado pela SEMA Mato Grosso Administrado pela SEMA Pará
POA (Plano Operacional Anual) POA (Plano Operacional Anual) POA (Plano Operacional Anual)
Floresta
Incluindo inventário florestal detalhado da Incluindo inventário florestal detalhado da incluindo inventário florestal detalhado
área a ser explorada, especificando árvores a área a ser explora da, especificando árvores da área a ser explorada, especificando
serem retiradas, estradas florestais e pátios a serem retiradas, estradas florestais e árvores a serem retiradas, estradas
de toras. pátios de toras. florestais e pátios de toras.
AUTEX (Autorização para Exploração Florestal) AUTEX (Autorização para Exploração AUTEF (Autorização para Exploração Florestal)
Licença de exploração emitida pela SEMA/ Florestal) Licença de exploração emitida pela licença de exploração emitida pela SEMA pelo
OEMA pelo período de 1 ano, estipulando as SEMA pelo período de 1 ano, estipulando as período de 1 ano, estipulando as espécies e
espécies e volumes autorizados para extração espécies e volumes autorizados para extração volumes autorizados para extração durante
durante esse período32. durante esse período. esse período.
de madeira são transportados entre estados. produtos de madeira são transportados entre estados.
LO (Licença Operacional) LF (Licença Florestal) e LA (Licença Ambiental) LAU (Licença Ambiental Única)System
Sistema de controle de estoque e taxas de Sistema de controle de estoque e taxas de Sistema de controle de estoque e
Serraria
conversão relativo ao sistema DOF. Serrarias conversão relativo a Sisflora. Serrarias devem taxas de conversão relativo a Sisflora.
devem registrar entrada e saída, e taxas de registrar entrada e saída, e taxas de conversão Serrarias devem registrar entrada e
conversão associadas a diferentes produtos. associadas a diferentes produtos. saída, e taxas de conversão associadas
a diferentes produtos.
Nota Fiscal Eletrônica da Receita Federal, Nota Fiscal Eletrônica da Receita Federal, Nota Fiscal Eletrônica da Receita
Vendas
para registrar todas as vendas no país e o para registrar todas as vendas no país e o Federal, para registrar todas as vendas
valor de impostos devido. valor de impostos devido. no país e o valor de impostos devido.
32 Existem algumas exceções e variações regionais. Por exemplo, a SEMA do Estado do Amazonas não emite AUTEX e a licença de exploração faz parte da
22 Licença Operacional da floresta.
2.2 Tipologia de fraudes Muitas organizações no Brasil vêm desenvolvendo
sistemas e atividades de detecção, monitoramento e
Comparados a outros países tropicais, os sistemas denúncia da extração ilegal de madeira amazônica.
de controle de madeira no Brasil estão entre os mais Um exemplo importante é o sistema SIMEX desenvol-
abrangentes e sofisticados no mundo. Por exemplo, vido pelo Imazon35 e utilizado nos Estados do Pará e
têm padrão similar e contém todos os elementos exi- Mato Grosso36. Outras organizações operando na re-
gidos pelos Sistemas de Controle de Legalidade da gião amazônica (ex. ISA, IDESAM,Greenpeace) con-
Madeira adotados pelos países que celebraram os duzem investigações de campo e se concentram em
Acordos Voluntários de Parceria com a União Euro- identificar e expor ocorrências de extração e vendas
peia, no âmbito do programa FLEGT33. ilegais de madeira37.
Apesar dos méritos destes sistemas, a maioria da ma- Em 2015, o Greenpeace publicou um relatório listan-
deira produzida na Amazônia ainda é ilegal. De acor- do os cinco tipos de fraude mais usados por comer-
do com o Greenpeace34, entre 2007 e 2012 a explo- ciantes de madeira ilegal atuando na Amazônia bra-
ração de madeira ilegal somente no Estado do Pará sileira38. Em 2016, um estudo diagnóstico conduzido
atingiu mais de 700.000 ha de florestas, representan- pela Mckinsey & Company para o Ministério do Meio
do cerca de 80% da área total explorada no período Ambiente destacou as principais deficiências dos siste-
(905.000 ha). Corrupção e fraude generalizadas tor- mas de controle, os principais tipos de fraudes e suas
naram esses sistemas inúteis e colocaram o Brasil no recomendações para a melhoria destes sistemas39.
topo da lista de países de risco mundialmente.
40 Ver também relatório preparado pelo Sindimasp (Sindicato do Comércio Atacadista de Madeiras do Estado de São Paulo) e WWF Brasil, 2012: Comércio
24 de madeira. Caminhos para o uso responsável. Sindimasp (www.sindimasp.org.br).
Os dois primeiros tipos de fraudes (1e2) se comple- 2.3 Meios de Detecção de Fraudes
mentam: a madeira roubada deve ser acompanha-
dade fraudes para criação da documentação exigida Cada um desses tipos de fraude exige diferentes meios
para o seu processamento, transporte e comerciali- de detecção, tais como análise documental, inspeções
zação subsequentes. Com este objetivo, existe um de campo, controles em estradas, imagens de satélite
mercado negro de créditos, vendidos a madeireiras e sensoriamento remoto, e auditorias de empresas e
que não podem justificar certos lotes de madeira. sistemas. (ver Seção 3).
41 Sistemas de consulta estão disponíveis nos sites das Secretarias de Meio Ambiente estaduals (SEMAs e OEMAs) e do Ibama (https://servicos.ibama.gov.
br/ctf/publico/areasembargadas/ConsultaPublicaAreasEmbargadas.php)
25
alguns sistemas estão aumentando a transparência e
gama de informações disponibilizadas publicamente
(por exemplo, a nova versão Sisflora 2, do Pará, oferece
mais informação sobre as cadeias de custódia). Por outro
lado, o sistema DOF ainda precisa prover muito mais
transparência, já que muito pouca informação capturada
pelo sistema está disponível ao público.
42 O US Lacey Act exige que compradores de madeira tomem os devidos cuidados (due care) na escolha de fornecedores de produtos de madeira a
serem importados para os EUA (https://www.fws.gov/international/laws-treaties-agreements/us-conservation-laws/lacey-act.html). Da mesma forma, a
Pedro Guinle
EU Timber Regulation exige que operadores (importadores de madeira) conduzam avaliações de risco e due diligence da origem de sua madeira (http://
26 www.euflegt.efi.int/home).
“ A falta de transparência e o
acesso limitado a informações
contidas em bancos de dados
oficiais restringe a possibilidade
de análise de risco e aumenta o
”
potencial para fraude.
Pedro Guinle
27
Tabela 2: Resumo dos principais tipos de fraude cometidos por produtores de madeira na
Amazônia brasileira, seus níveis de impacto e meios de detecção.
Nível de impacto
Tipos de fraude Nível de dificuldade e meio de detecção
nas florestas
A exploração ilegal é de detecção relativamente
fácil, através, por exemplo, de análise de imagens de
Roubo de madeira (exploração florestal ilegal satélite. Uma vez que a madeira ilegal ingressa no
em áreas não autorizadas) sistema oficial, sua detecção é muito mais difícil. Sua
Exploração em áreas sem autorização de identificação exige:
Alto
exploração (sem AUTEX ou AUTEF), exploração • Verificação de campo
dentro de Unidades de Conservação, Reservas • Inspeção durante transporte (controles em estradas)
Exploração
Indígenas, Áreas Quilombolas • Monitoramento do processo degeração e
florestal ilegal e
comercialização de créditos ilegais para lavagem de
roubo de madeira.
madeira ilegal.
Requer a aquisição
de créditos ilegais
Exploração florestal ilegal em áreas autorizadas Mais difícil de detectar remotamente.
para entrar no
Execução irregular do Plano de Manejo Florestal, Identificação exige:
mercado.
resultando em: • Verificação de campo
• Extração de volumes superiores aos aprovados, Médio • Inspeção durante transporte
geralmente favorecendo espécies valiosas a Alto
(controles em estradas)
• Substituição de espécies de baixo valor por • Monitoramento do processo de geração e
espécies valiosas, dentro dos limites aprovados comercialização de créditos ilegais para lavagem
de madeira ilegal.
28
Nível de impacto
Tipos de fraude Nível de dificuldade e meio de detecção
nas florestas
Inflação das taxas de conversão durante
processamento na serraria
Taxa de conversão exagerada, permitindo que as serrarias utilizem
menor quantidade de créditos para produzir a mesma quantidade Auditoria in situde serrarias
Fraudes de madeira processada. Os créditos“poupados” podem então ser • Verificação de balanço de massa de GFs
documentais usados para acompanhar madeira ilegal. Esse é um dos tipos de Alto relativo a estoques adquiridos e vendidos
relacionadas ao fraude mais comuns, porque é facilitado pelo sistema de controle. • Maior transparência do sistema de controle
Embora o impacto absoluto dessa fraude seja médio (ex., uma oficial aumentaria a possibilidade de detecção
processamento
inflação de 30% na taxa de conversão), sua frequente ocorrência cria
e revenda. Gera
um alto impacto cumulativo.
créditos ilegais
para ‘lavagem’ de Fraude associada a comercialização (vendas não declaradas) Auditoria de contas de serrarias e de
madeira ilegal A serraria não emite GFou DOF em uma venda de madeira e
compradores
guarda os créditos para justificar madeira obtida de origens Limitado
• Controles em estradas para inspeção de
ilegais ou para vendê-los a terceiros. Isso também resulta em
documentos de transporte de madeira
evasão fiscal.
Idealmente, a melhor forma de garantir que a produ- sistemas podem se tornar eficazes para o controle
ção comercial da madeira se adeque às leis e regula- e administração da produção comercial de madeira.
mentosde um país seria através da adoção e aplica- Em paralelo, os governos devem se empenhar para
ção de sistemas oficiais de controle, monitoramento que as leis sejam efetivamente cumpridas e que as
e garantia de legalidade de madeira. Esses deveriam penalidades decorrentes de seu não cumprimento
ser utilizados por todas as empresas e atores envol- sejam devidamente aplicadas.
vidas no setor e monitorado por agencias governa-
mentais. O acesso a recursos florestais é regulamen- Em muitos países tropicais, porém, esses sistemas são
tado por legislação e regras especificas na maior inexistentes ou ineficientes (Ver Seção 2 para discus-
parte dos países do mundo, e seu controle e monito- são sobre o Brasil). Operadores que compram madei-
ramento geralmente envolve uma extensa e diversa ras de países com controles deficientes ou aplicação
gama de documentos relacionados a cada etapa do insatisfatória da lei precisam adotar meios alternati-
processo de obtenção de licenças, extração, trans- vospara garantir que seus fornecedores obedeçam a
porte, processamento e comercialização de produtos padrões mínimos, cumpram com leis locais e interna-
madeireiros. Quando toda essa documentação é reu- cionais, e que sua produção não resulte em impactos
nida em bancos de dados integrados e digitais, esses socio ambientais indesejáveis.
Diferentes abordagens têm sido utilizadas para rastrear as origens de produtos de madeira e examinar a
legalidade dos mesmos, incluindo:
• Baixa tecnologia
• Custo médio
• Custos superiores a algumas alternativas
Verificações de legalidade • Flexibilidade e abrangência (auditorias
Auditorias e • Não permitem economias de escala
baseadas em auditorias podem ser conduzidas em qualquer lugar,
verificações
de campo em operações sob demanda) • Não permitem monitoramento contínuo
de campo
florestais e serrarias. • Restritas a produtores específicos
• Permite a verificação da qualidade do
manejo, o que é uma exigência legal em • Demandam recursos humanos e tempo
alguns países
31
3.1 Auditorias e verificações de campo pico ou setor, independentemente da parte sujeita à
auditoria ter adotado previamente qualquer padrão,
Auditoria de campo é a prática mais tradicional de sistema de controle ou tecnologia. As partes interes-
verificação de operações de exploração e processa- sadas podem conduzir ou indicar auditores indepen-
mento de madeira. Auditores independentes visita- dentes para verificar quaisquer tipos de operações a
mos diversos componentes e etapas de operações qualquer momento. Dependendo de sua finalidade,
florestais para verificar se essas estão em conformi- no entanto, auditores precisam possuir as qualifica-
dade com as regras, regulamentos e padrões espera- ções e credenciamentos necessários. As observações
dos, incluindo práticas de campo, atividades nas fá- e conclusões de auditorias, por sua vez, podem se
bricas, assim como seus cadastros e documentação. destinar a usos meramente internos, adequação à le-
gislação (ex., EU Timber Regulation, US Lacey Act), ou
O escopo de uma auditoria varia de acordo com as declarações para o mercado (ex., Certificação FSC).
necessidades da parte contratante, desde verificação
de cadeia de custódia e legalidade até a adequação- Embora auditorias de campo ofereçam um alto nível
aos padrões de sustentabilidade socioambientais43 de confiança em relação à sua capacidade de verifi-
ou diretrizes para compras responsáveis44. Uma sé- cação de legalidade de operações florestais, existem
rie de organizações oferece esses serviços, incluindo críticas quanto ao excesso de credibilidade atribuído
empresas de verificação independente do setor pri- a essa abordagem. Auditorias de campo são condu-
vado ou sociedade civil45. zidas em um intervalo de tempo determinado (i.e.,
inspeções pontuais, não contínuas) e portanto são
A verificação de campo tem a vantagem de ser potencialmente limitadas na sua capacidade de de-
“prontamente disponível”e adequável a qualquer tó- tectar não-conformidades que possam ocorrerem
43 Ex., FSC (www.fsc.org) ou PEFC (www.pefc.org). pdf). Ver também relatório da Proforest, 2016: Madeira licenciadas da FLEGT e
políticas de aquisição de estados membros da UE, (www.proforest.net/en/pu-
44 Ex., diretrizes de compra responsável do setor privado (ex., Nestlé), o blications/flegt-licensed-timber-and-eu-member-state-procurement-policies).
antigo CPET - Central Point of Expertise on Timber - do governo do Reino
Unido (https://www.gov.uk/government/groups/central-point-of-expertise-on- 45 Ex., Rainforest Alliance (www.rainforest-alliance.org), Proforest Initiati-
-timber), ou diretrizes para aquisição de madeira legal da Caixa Econômica ve (www.proforest.net), NepCon (www.nepcon.net), ou Imaflora
32 Federal (http://www.caixa.gov.br/Downloads/sustentabilidade/guia_caixa. (www.imaflora.org).
outros períodos. Pelo mesmo motivo, podem haver
grandes intervalos entre a ocorrência de uma infra-
ção e sua posterior detecção em uma auditoria. Seus
custos são também relevantes–visitas de campo re-
querem pessoal, logística e tempo para serem ade-
quadamente conduzidas. Além disso, a economia de
escala é pequena ou inexistente (ou seja, os custos
de auditoria de um grande conjunto de fornecedo-
res não são significativamente mais baixos do que
os custos de auditoria de um produtor individual),
sendo de difícil escalabilidade econômica.
Diversas tecnologias tem sido utilizadas ou testadas para rastrear ou identificar as origens de madeira, podendo
fazer parte da verificação de adequação à legalidade. Suas aplicações, eficiências e custos variam:
• Códigos de Barra ou QR Codes – baseados em eti- • GPS (geographical positioning systems – sistema
quetas afixadas a árvores individuais. As etiquetas acom- de posicionamento geográfico) – quando fixado em
panham as toras e, em alguns casos, a madeira serrada, carretas, possibilita o rastreamento preciso de rotas usa-
ao longo da cadeia de custódia. Os códigos contêm in- das para o transporte da madeira;
formação que pode ser lida por partes autorizadas, possi-
bilitando avaliação rápida do produto e comparação com • Stardust (www.stardustus.com) – um talco de alta
informações existentes em registros oficiais. Um sistema durabilidade, que é pulverizado sobre produtos e pode
de QR Code foi recentemente adotado pelo Serviço Flo- ser detectado por um leitor eletrônico. Está sendo tes-
restal Brasileiro para o controle de madeira proveniente tado para o controle de fluxo de madeira48;
de concessões florestais47;
• Análise de DNA, isótopos estáveis, anatomia da
• Chips de computador e Identificadores de Frequ- madeira e de fibras – podem ser utilizados para iden-
ência de Rádio (RFID) – semelhantes aos códigos de tificar com precisão espécies, populações específicas ou
barras, mas com maior capacidade de armazenar infor- plantas individuais, desde que uma amostragem gené-
mações. RFIDs podem ser lidas a distância; tica seja realizada preliminarmente49.
47 O sistema, desenvolvido pelo Serviço Florestal Brasileiro, rastreia a 48 Ver WRI, 2016: www.wri.org/blog/2016/05/5-technologies-help-
madeira extraída de concessões federais no Brasil, e os QR Codes podem thwart-illegal-logging-tracing-woods-origin
ser lidos por aplicativos Android (www.florestal.gov.br/snif/noticias-do-sfb/
servico-florestal-brasileiro-lanca-aplicativo-para-consulta-da-rastreabili- 49 WRI, 2014:http://www.wri.org/blog/2014/03/4-actions-companies-
dade-da-madeira-das-concessoes). can-take-source-legal-wood
34
A maior parte destas tecnologias requer procedimentos 3.3 Sensoriamento remoto
prévios (por exemplo, rotulando troncos e toras com có-
digos de barras) que geralmente envolvem altos custos O sensoriamento remoto de florestas, através de análise
de implementação (ex., desenvolvimento do sistema, de imagens de satélite ou fotografias aéreas tiradas de
implementação inicial, manutenção e treinamento). Por aviões ou veículos autônomos programáveis (drones),
outro lado, estas tecnologias geralmente podem apre- reduz a necessidade de visitas de campo e pode ser
sentar ganhos escaláveis, com menores custos unitários usado no monitoramento de atividades florestais. Seu
após o investimento inicial em sua instalação. uso é particularmente útil para o monitoramento da
adequação das atividades de exploração florestal e na
Em alguns casos, a utilidade de certas tecnologias pode identificação de focos de desmatamento e degradação
ficar restrita ao universo de usuários que adotaram a florestal (incluindo exploração madeireira ilegal).
tecnologia (ex.,códigos de barra ou chips). A menos
que a utilização de tais tecnologias seja imposta ao uni- Embora a informação obtida através da análise de ima-
verso total de produtores de um país ou região, elas gens de satélite tenha limitações, o uso de drones está
só serão capazes de rastrear madeira de fontes que se tornando mais acessível e pode oferecer informação
as adotaram, enquanto que a madeira de fonte ilegal mais detalhadas a custos competitivos. Quando asso-
se diluirá no universo de produtores que não teve que ciado a novos sensores, tais como o LIDAR (Light De-
adotar a tecnologia. tection and Ranging), é possível capturar muito mais
informações que possibilitem realizar análises tais como
Outra limitação refere-se a abrangência da capacidade volume de biomassa, composição de espécies, etc.
de detecção da própria tecnologia, que pode ser res-
trita a aspectos específicos de alguma das etapas do Apesar do alto custo inicial para o desenvolvimento de
processo de extração, conversão e comercialização de um sistema de informações geográficas (GIS) e sen-
produtos de madeira (por exemplo, o GPS se concen- soriamento remoto, essa tecnologia está se tornando
tra no transporte, a análise de DNA na identificação de cada vez mais acessível e é altamente escalável, com
espécies). Seu uso, portanto, precisa ser complementa- redução considerável de seus custos de operação.
do com outras medidas para oferecer um quadro mais Embora o desenvolvimento desta tecnologia exija co-
completo da legalidade dos produtos. nhecimento especializado, a informação adquirida por
52 Ver sistema DETER, do Siscom do IBAMA (http://siscom.ibama.gov.br/ facilitando a tomada de decisões relativas a políticas de uso da terra.
painelflex/)
56 Essas incluem, por exemplo, Global Traceability Solutions (www.global-
53 www.globalforestwatch.org/map -traceability.com), Food Reg (www.foodreg.com), TFT Sure (www.tft-earth.
org), Track Record (www.trackrecordglobal.com), Ata Marie (www.ata-marie.
54 www.imazongeo.org.br/imazongeo.php com), e Blue Numbers (www.bluenumber.org).
55 MapBiomas (http://mapbiomas.org) é uma iniciativa que objetiva produzir 57 Por exemplo, GCP’s Forest 500 (http://forest500.org), Forest Trends’ Supply
mapas do uso da terra no Brasil, de alta qualidade, atualizados anualmente, Change (www.supply-change.org). 35
sensoriamento remoto hoje é fornecida por muitas or- 3.4. Supply Chain Information Platforms
ganizações de forma acessível e geralmente gratuita
(ex., Google Maps, INPE e IBAMA para imagens e ma- Plataformas de informação de cadeias de custódia
pas relativos ao Brasil). A plataforma do Global Forest foram criadas por organizações da sociedade civil e
Watch, que reúne imagens de múltiplas origens e ofe- empresas privadas para auxiliar os compradores de
rece alertas tais como perda de cobertura florestal, foi commodities na identificação da cadeia de custódia
desenvolvida especificamente para o monitoramento e das origens dos produtos por eles adquiridos56.
de florestas em todo o mundo. Para a região amazô- Algumas plataformas também objetivam oferecer
nica, o Imazon desenvolveu e mantém o Sistema de transparência no desempenho socioambiental das
Alerta de Desmatamento – SAD, que monitora men- empresas envolvidas57, ou disseminar informação e
salmente a degradação florestal na Amazônia brasi- orientação para mitigar riscos de ilegalidade nas ope-
leira54 e a iniciativa MapBiomas55 foi desenvolvida por rações envolvidas na cadeia de custódia58.
uma rede colaborativa de organizações.
Muitas dessas plataformas são preenchidas colaborati-
Embora o uso de sensoriamento remoto seja muito útil vamente com dados oriundos dos próprios participan-
para identificação e/ou monitoramento de operações tes do mercado, objetivando ligar produtores a com-
florestais, esta tecnologia precisa ser usada em combi- pradores numa cadeia59. Quanto maior a quantidade
nação com outras fontes de informação para permitir a de dados colocados no sistema, maior a possibilidade
rastreabilidade e controle de madeira legal. de cruzamentos de dados e verificações, tornando mais
robusta a informação gerada. Se usadas em combina-
37
3.5. Análise de Big Data dências nos setores agrícola e florestal. Por exemplo, um
sistema de informação baseado no universo completo de
A analise de big data basea-se na utilização de grandes Guias Florestais (GFs) está sendo desenvolvido pelo Ima-
volumes de dados que são cruzados para obtenção de flora para permitir a visualização de tendências e estatís-
padrões e informação60. Seu uso pode ser estendido ticas relacionadas ao fluxo de madeira no Estado do Pará.
para o rastreamentode cadeias de custódia e detectar A Plataforma de Transparência Transformativa (Transfor-
ilegalidades e/ou irregularidades potenciais. mative Transparency Platform)61, por sua vez, utiliza da-
dos de produção e declarações de embarque portuário
A análise de big data pode ser usada para detectar ten- (bills of lading), associados a sofisticados algorítmos62,
dências e informações ocultas derivadas de amplas ba- para mapear as cadeias de custódia de commodities do
ses de dados. Por exemplo, uma série de fraudes pode ponto de produção ao país de consumo (Ver Figura 1).
ser detectada através do cruzamento de dados para
identificar inconsistências e correlações ocultas. Gran- Os custos iniciais de implementação destes sistemas po-
des bases de dados alfanuméricos podem ser combina- dem ser altos, mas a tecnologia é de grande escalabilidade.
das com informações obtidas através dos outros meios Desde de que os dados requeridos se encontrem disponí-
citados anteriormente (sensoriamento remoto, tecnolo- veis em formato digital (preferencialmente online), é possí-
gias e plataformas), para criar ferramentas importantes vel obter grandes quantidades de dados a custos relativa-
para rastreabilidade e detecção de ilegalidade. mente baixos. Dada a redução da necessidade de visitas de
campo ou de tecnologias mais onerosas, tais como análise
Sistemas de análise de grandes bases de dados vem sen- de DNA ou chips, o custo do uso de análise de big data
do desenvolvidos para obter informações e visualizar ten- pode se provar mais econômico que outras alternativas.
60 https://en.wikipedia.org/wiki/Big_data. 62 Ver:
• Godar, J., Martin Persson, U., Jorge Tizado, E. and P. Meyfroidt, 2015: Towards
61 A Transformative Transparency Platform (http://ttp.sei-international. more accurate and policy relevant footprint analyses: Tracing fine-scale socio-
org) foi desenvolvida pelo Stockholm Environmental Institute (www.sei- environmental impacts of production to consumption. Ecological Economics
international.org), Global Canopy Programme (http://globalcanopy.org) e o 112 (2015) 25–35.
European Forestry Institute (www.efi.int/portal) e já conta com dados para
a análise de cadeias de custódia de soja brasileira e café colombiano. A • Godar, J., Suavet, C., Gardner, T.A., Dawkins, E., and P. Meyfroidt, 2016: Bal-
plataforma está sendo adaptada para incluir fluxos de madeira amazônica, ancing detail and scale in assessing transparency to improve the governance of
agricultural commodity supply chains. Environmental Research Letters (2016).
38 em colaboração com a BVRio.
Outra vantagem é que estes sistemas podem ser desen- É importante considerar que, muitas vezes,os dados co-
volvidos para incluir 100% do universo de participan- letados são de qualidade ou veracidade questionáveis,
tesdo mercado, fornecendo cobertura total e se benefi- incluindo dados forjados ou fraudulentos. Sistemas de
ciando da capacidade de conduzir um vasto número de triagem são necessárias para fazer a curadoria dos da-
cruzamentos de informações. Dependendo da frequên- dos antes de sua utilização. Por outro lado, quando se
cia de coleta de dados, a informação pode ser atualiza- identifica a ocorrência de dados falsos, essa informação,
da continuamente para oferecer alertas em tempo real. por si só, já é útil para a caracterização de irregularida-
des, que podem ser confirmadas com testes adicionais.
Uma restrição ao uso Informações duvidosas aumentam o risco do produtor
desta abordagem é o em questão que, por sua vez, tem o ônus de demonstrar
sua legitimidade. Essa é a abordagem usada pela BVRio,
acesso aos dados. descrita em maiores detalhes na próxima seção. •
39
Figura 1: TransformativeTransparency Platform mostrando a cadeia de suprimento de madeira do Estado do Pará.
Módulo desenvolvido com a BVRio.
40
Table 4. Advantages and disadvantages of different approaches used to detect or prevent timber illegality
(See Section 2 for discussion of types of fraud)
Capacidade de Detecção
Auditorias e 3 3
verificações
de campo Baixo1 Médio a Alto Alto2
Tecnologias de Rastreabilidade:
8 9 9 9 10
Etiquetas4
Médio e Alto5 Baixo2 Medio7
9 9 9 9 10
Marcadores
genéticos11 Alto12 Alto12 Medio13
GPS
Medio Medio Medio13
Sensoriamento
Remoto14 Alto15 Baixo16 Muito Alto 17
Plataformas 20 20
de informação
de cadeias de Medio18 Baixo Medio19 Medio20 Medio20
custódia
24 24 24 24 24
Análise de
Big Data Medio21 Baixo22 Muito Alto23
Notes:
1: Não requer adoção de sistema por parte da parte monitorada. 13: Restrito ao grupo que adota a tecnologia.
2: Restrita aos indivíduos monitorados. 14: Inclui imagens de satélite, fotografias aéreas com drones ou aviões.
3: Dependendo do escopo da auditoria, alguns desses aspectos podem não 15: Dependendo das especificações do sistema, pode ser muito onerosa.
ser detectados.
16: Uma vez implementado, o custo de utilização é muito baixo.
4: Inclui código de barras, QR codes, chips, TreeTag, Stardust.
17: Uma vez implementado, pode abranger amplas áreas geográficas a
5: Requer esforço e custos significativos para implementação. custos relativamente baixos.
6: Após implantação, o custo unitário tende a ser baixo. 18: Para atingir nível satisfatório de cobertura e completude, essas platafor-
mas requerem esforços consideráveis.
7: Restrito ao grupo que adota a tecnologia (ex, aqueles que usam códigos
de barras). 19: Abrangência de difícil obtenção, geralmente permanece incompleta.
8: As tecnologias de etiquetagem não permitem a detecção de corte ilegal 20: Por serem geralmente auto-declaratórias, têm pouca capacidade de
detecção. Alguns tipos de fraudes não estão cobertos.
fora das florestas controladas.
21: Implantação do sistema requer alto esforço de captura de dados, elabo-
9: Essas tecnologias permitem o rastreamento da madeira, mas não possibili- ração de algorítimos, programação e automação.
tam detectar fraudes que acontecem na própria operação.
22: Uma vez implementada, custos de uso bem reduzidos.
10: Não previne nem identifica contravenções operacionais.
23: Até 100% do universo de atores monitorados.
11: Inclui marcadores de DNA, isótopos estáveis, anatomia da madeira e de fibras.
24: Dependendo da disponibilidade de dados, esses sistemas podem abran-
12: Elevados custos de implantação e custos unitários. ger todos os aspectos analisados. 41
4. Metodologia da BVRio
63 A expansão já começou no Oeste da África, com auxílio do programa org. Os aplicativos podem ser baixados no Google Play (https://play.
Forest Governance, Markets and Climate (FGMC) do governo do Reino Uni- google.com/store/apps/details?id=br.com.bvrio.bvriomobile&hl=en) e
do (http://flegt.org/map-of- projects/#search/filtered/donor_countries:GBR). na Mac App Store (https://itunes.apple.com/br/app/responsible-timber/
64 A versão desktop pode ser acessada em http://timber.bvrio. id1059374511?l=en&mt=8).
42
43
4.1 Abordagem O processo de due diligence e avaliação de risco é con-
duzido em dois estágios:
O Sistema de Due Diligence e Avaliação de Risco da BVRio
(o “sistema”) tem o objetivo de auxiliar compradores e co-
merciantes a conduzir a due diligencee avaliação de risco
1. Diariamente, o sistema avalia o status de
de ilegalidade de produtos madeireiros que pretendem
conformidade legal de todas as unidades de
comprar. O sistema examina a origemde madeira e pos-
produção na Amazônia: unidades de manejo
síveis irregularidades, ilegalidades ou não-conformidades
florestal, serrarias, epátios de toras usados para
com exigências legais, ambientais e sociais durante os pro-
estoque e comercialização de madeira. Com
cessos de extração, processamento e transporte.
base nestas análises, as unidades de produção
são classificadas de acordo com o seu nível de
O sistema é baseado na análise de um extenso e cres-
adequação, indo desde aqueles sem qualquer
cente banco de dados, que permite tanto a identifica-
evidência de irregularidades, passando poro-
ção de irregularidades diretas quanto de inconsistências
perações que demonstrem riscos de possíveis
que podem estar associadas a irregularidades ainda não
infrações ou ilegalidades, até aquelas com ile-
manifestadas. Quanto maior o numero de participantes,
galidades comprovadas.
maior será o banco de dados e maior a sua robustez.
O sistema foi projetado para ter cobertura completa de
todos o universo de ‘unidades de produção de madeira’
2. A cada consulta, entra-se a numeração
(manejos e serrarias) na região analisada
das Guias Florestais relacionadas a um lote de
madeira e o sistema de due diligence rastreia
O Sistema de Due Diligence e Avaliação de Risco da
o produto de madeira ao longo das unidades
BVRio analisa:
de produção relacionadas à sua cadeia de cus-
• Legalidade – evidência de riscos de tódia e avalia o status de legalidade ou risco
não adequação a leis, regras e exigências associado com o produto analisado.
legais e socioambientais;
45
4.2. Fontes de dados e análises das de 3000 instalações). Dado que aproximadamente 75-
unidades de produção 80% de toda a madeira tropical brasileira é produzida
nesses estados, este banco de dados inicial abrange
O Sistema de Due Diligence e Avaliação de Risco da uma proporção significativa das unidades de extração
BVRio é baseado inicialmente nos dados extraídos dos e processamento da madeira. Menos informação está
documentos legais emitidos pelas autoridades governa- disponível para outros estados, restringindo a extensão
mentais brasileiras relacionados às unidades de produ- de análises que podem ser conduzidas. À medida que
ção, comercialização e transporte de produtos madeirei- mais dados se tornem disponíveis para esses estados,
ros (Ver Seção 2). Isso inclui: estes serão acrescentados ao sistema aprimorando a ca-
pacidade de análise (ver discussão sobre transparência
na Seção 2). A partir destes documentos, uma série
de dados são extraídos:
• Autorizações de Exploração Florestal – AUTEF
e AUTEX;
Autorizações de Exploração Florestal (AUTEF e AUTEX):
• Guias Florestais – GF1 e GF3, usadas nos Es-
tados do Pará e Mato Grosso. Documentos de • Data de emissão
Origem Florestal – DOF, para o restante do país;
• Validade da autorização
Licenças Ambientais das unidades de manejo florestal: Cadastro Ambiental Rural (CAR):
0 2 4 6 8 10 12
espData$volhec
49
Análises espaciais são conduzidas com base nas se- Imagens de satélite são processadas com o uso da me-
guintes fontes de imagens: todologia NDFI (Normalized Difference Fraction Index)68
e compiladas num Sistema de Informação Geográfica
• Landsat 8 – série histórica desde 1999, forne- (SIG) ligado ao banco de dados alfanumérico e modelo
cida pela WRI Global Forest Watch; analítico da BVRio.
• Localização de serrarias;
Benjamin Child
65 Schulze, M., Grogan, J., Uhl, C., Lentini, M. and Vidal, E., 2008. Grosso, disponível no site do ICV (www.icv.org.br/2014/09/18/iniciativa-transpar-
Evaluating ipê (Tabebuia, Bignoniaceae) logging in Amazonia: sustainable encia-florestal/).
management or catalyst for forest degradation? Biological Conservation
141, pp 2071–85. In Greenpeace, 2015 (www.greenpeace.org/brasil/Glob- 67 www.globalforestwatch.org/map
al/brasil/documentos/2015/greenpeace_amazon_license_to_launder.pdf)
68 Normalized Difference Fraction Index (NDFI), in Souza, C.M.; Roberts, D.A.; Co-
66 A série Transparência Manejo Florestal está disponível no site da Imazon chrane, M.A. Combining spectral and spatial information to map canopy damage
50 (www.imazongeo.org.br/imazongeo.php); e a série Transparência Florestal Mato from selective logging and forest fires. Remote Sens. Environ2005, 98, 329–343.
4.3. Análise de risco e interpretação transporte improváveis), ou indícios de riscos indiretos
de resultados (ex., baseados no histórico dosgestores florestais no pas-
sado, ou em outras unidades de produção).
Utilizando os dados coletados (Seção 4.2), para cada uni-
dade de produção o sistema da BVRio realiza análises de Os resultados dessas análises são classificados de acor-
dois tipos de evidência: do com um sistema elaborado para refletir a relevância
de cada fator de risco, e/ou a severidade de sua mani-
festação, a seguir:
• Diretas – relacionadas à unidade de produção
analisada. Ex., verificação documental, imagens
Nenhuma indicação de infrações,
de satélite, bancos de dados oficiais de autua-
irregularidades ou não-adequação
ções ou infrações (ex. Ibama, SEMAs, trabalho
à legislação
escravo), e análise de inventários florestais.
associadas com fatores diretos analisados, e ris-
O sistema realiza até 150 análises individuais para cada ploração madeireira com infrações comprovadas).
Sawmills - Environmental
l
l
rio
ve
rio
ve
sp
op
embargoes, direct and indirect
al
l
sá
ta
sá
tá
tá
Re
Pr
du
on
es
on
ie
rie
os
o
ta
r
or
sp
sp
op
op
rg
rg
rg
Es
Fl
Re
Re
ba
ba
ba
Pr
Pr
t.
t.
Em
Em
Em
Au
Au
AE
AE
AF
AF
ID Município Estado Status
632 Juara MT N N N 0 0 0 0 0 0 Autorizado
643 Colniza MT N N N 0 0 0 0 0 0 Autorizado
1699 Alta Floresta MT N N N 0 0 0 0 0 0 Autorizado
1702 Apiacás MT N N S 0 0 1 1 0 0 Suspenso
1698 Sinop MT N N N 0 0 0 0 0 0 Autorizado
1703 Feliz Natal MT N N N 0 0 4 4 0 0 Investigar
1704 Colniza MT N S N 0 0 0 0 0 0 Suspenso
1705 Sorriso MT N N N 0 0 0 0 0 0 Autorizado
1706 São José dos Quatro Marcos MT S N N 0 0 0 0 0 0 Não Autorizado
1419 Aripuanã MT N N N 0 0 0 0 0 0 Autorizado
1653 Cotrigaçu MT N N N 0 0 0 0 0 0 Autorizado
1707 União do Sul MT N S N 0 1 0 0 1 0 Suspenso
1708 Cotrigaçu MT S S S 0 1 0 1 1 0 Não Autorizado
1709 Vila Bella de Sant. Trindade MT N N N 0 0 0 0 0 0 Autorizado
1630 Sinop MT N S N 0 1 0 0 1 0 Suspenso
1710 Brasnorte MT N N N 0 0 1 1 0 0 Investigar
1711 Rondolândia MT N N N 0 0 0 0 0 0 Autorizado
1714 Aripuanã MT N N N 0 0 0 0 0 0 Autorizado
É importante mencionar que o Sistema de Due Dili- madeira não significa que o lote seja ilegal. Inversa-
gence e Avaliação de Risco da BVRio visa identificar mente, uma avaliação indicando baixo risco para um
possíveis ilegalidades ou irregularidades relativas a lo- determinado lote de madeira não é garantia de que
tesespecíficos de madeira. Os resultados apresentados o lote seja legal. Além disso, o Sistema de Due Dili-
no Sistema de Due Diligence e Avaliação de Risco e os gence e Avaliação de Risco da BVRio e os relatórios
Relatórios correspondentes são derivados de análises correspondentes podem relatar avaliações errôneas ou
e cruzamentos de diversos bancos de dados públicos, imprecisas, resultantes de erros ou problemas técni-
assim como de análises internas realizadas pela BVRio. cos na coleta e interpretação de dados oficiais. Toda a
As avaliações simplesmente refletem os resultados informação e documentação utilizada e gerada é ar-
obtidos dessas verificações e análises. Portanto, uma mazenada no sistema e disponibilizada para auditorias
52 avaliação de alto risco para um determinado lote de independentes, se necessário.
4.4. Avaliação de risco ao longo da
cadeia de custódia
Figura 4: Resultado de análise preliminar de operações florestais no Pará e Mato Grosso. Antes da análise, todas as áreas
foram assinaladas em verde (mapa à esquerda). Após a análise, pontos vermelhos representam irregularidades graves, e
pontos laranja representam irregularidades indiretas ou de menor severidade (mapa à direita).
A abordagem adotada pela BVRio para a reconstru- As unidades de produção são analisadas para confir-
ção da cadeia de custódia de cada lote de madeira é mar seus níveis de legalidade e adequação, como des-
baseada em verificação documental complementada crito na Seção 4.3. Essa análise resulta em um mapa
pelas análises descritas na Seção 4.2. O sistema obje- das unidades de produção, classificadas de acordo
tiva relacionar os lotes de madeira com suas unidades com seus níveis de legalidade: aquelas sem qualquer
de produção e processamento (unidades de manejo indício de ilegalidade ou não-conformidade, aquelas
florestal, serrarias, e depósitos de madeiras) utilizan- com possível envolvimento com irregularidades, e
do as Guias Florestais ou Documentos de Origem Flo- aquelas com ilegalidades comprovadas (ver Figura 4).
restal (GFs ou DOFs) emitidos para cada lote analisa-
do. Os volumes são calculados através do balanço de Através da superposição com as Guias Florestais (GFs), a
massade volumesde entrada e saída de cada serraria. rota de lotes de madeira específicos é traçada ao longo 53
das várias unidades de produção a elas associados. essas não estão relacionadas com o mesmo lote de ma-
deira. Dado que uma mesma espécie frequentemente
Para uma análise completa, os usuários precisam entrar pode ser chamada por vários nomes, isso permite ao
todas as GFs relacionadas ao lote de madeira, desde a sistema conduzir uma triagem deconsistência inicial.
florestade origem (GF1) até o destino final (GF3). Por exemplo, o atual banco de dados de AUTEFs no
sistema mostra pelo menos 8 variações de nome susa-
O processo de atribuir uma série de GFs a um lote de
dos para se referir a uma das 17 espécies de Ipê:
madeira apresenta desafios, uma vez que as GFs não
referenciam as GFs anteriores da mesma cadeia69. Adi-
• Tabebuia • Tabebuia chrysantha
cionalmente, dado que a responsabilidade de entrar
os dados das GFs é do usuário, este é um processo au- • Tabebuia sp • Tabebuia chrysantha
to-declaratório que precisa ser analisado pelo sistema (Jacq.) Nichols.
• Tabebuia sp.
para detecção de possíveis inconsistências.
• Tabebuia spp • Tabebuia chrysantha
(Jacq.) Nichols.
Testes são conduzidos para analisar se as GFs entradas subsp. chrysantha
• Tabebuia spp.
tem relação provável entre si, com o lote de madeira em
questão, e com a Autorização de Exploração Florestal
Essa variação é potencializada se combinada à
(AUTEF) da floresta de origem.
grande variedade de nomes vulgares usados para a
mesma espécie. Através da comparação de nomes
apresentados em diferentes GFs, é possível descartar
Nomes de Espécies
aqueles que não se referem à mesma floresta de ori-
gem como especificado na AUTEF.
Primeiramente, deve ser verificado o nome científicos
da espécies das diferentes GFs, para assegurar que
este seja idêntico em ambos os documentos. Nomes
Taxas de conversão em serrarias
científicos para uma mesma espécie são entrados em
AUTEFs de modo diferente. No entanto, uma vez que Outro teste a ser feito refere-se ao processamento
o nome é colocado em uma AUTEF, o mesmo nome em serrarias. Dada a dificuldade de obtenção de
segue a madeira no sistema por todo a cadeia até a dados diretamente das serrarias, o sistema estima a
venda final. Se existem pequenas diferenças entre o quantidade de madeira serrada produzida através do
nome na AUTEF e o nome nas GFs, isso significa que cálculo do balanço de massa, multiplicando o volu-
69 Sistemas como o Simlam e Sisflora, adotados nos Estados do Pará e Mato informações sobre a cadeia de custódia relativa à cada GF. Por outro lado, o
Grosso, já disponibilizam muitos dados coletados em seus sistemas de monito- sistema DOF (Documento de Origem Florestal) do Governo Federal ainda neces-
54 ramento. O sistema Sisflora 2 do Estado do Pará, em particular, oferece mais sita de muito mais transparência.
me que entrou na serraria pela taxa de conversão
máxima de um dado produto (de acordo com o re-
gulamento oficial IN 21 do Ibama, Anexo 1). Se o
volume do produto final for superior ao volume cal-
Categoria A: Documentação
culado, isso gera um alerta de risco. completa sobre a cadeia de
suprimento. Análise de risco
Uma outra precaução relaciona-se ao fato de que uma completa, desde a floresta de
grande parcela dos comerciantes de madeira provavel- origem até o ponto de venda.
57
4.8 Registro de Dados com Tecnologia propriedade de um registro é tão fácil como enviar um
Blockchain e-mail. Não há um ponto central onde falhas possam
ocorrer, já que toda a infraestrutura é descentralizada.
Blockchain é uma tecnologia registro de banco de da- Terceiro, a segurança é alta: tecnologia blockchain uti-
dos em formato descentralizado, através de uma lista liza algoritmos criptográficos que conferem um altíssi-
crescente de registros de dados protegidos contra adul- mo grau de segurança a todas as operações.
teração e modificação70. É a tecnologia originalmente
usada para a criação e comercialização debitcoins, mas O Sistema de Due Diligence e Avaliação de Risco e
sua aplicação tem sido expandida para usos muito mais a Plataforma de Negociação da BVRio adotaram a
diversos, incluindo serviços de compensação, custódia e tecnologia blockchain para a criação de um cadastro
liquidação de transações financeiras71. descentralizado de seus registros e índices. A infor-
mação é assegurada contra alterações, dada a imu-
Em 2015, a revista The Economist descreveu blo- tabilidade de blockchains, e é disponível para audito-
ckchains como “uma linguagem de programação rias independentes73. •
que permite aos usuários elaborar contratos mais in-
teligentes e sofisticados, criando faturas que se exe-
cutam automaticamente na entrega de carregamen-
tos, ou certificados de ações que automaticamente
distribuem dividendos para seus proprietários se os
lucros atingem patamares pré-determinados”72.
70 www.economist.com/news/briefing/21677228-technology-behind-bi- (www.bloomberg.com/news/articles/2016-01-21/blythe-masters-firm-raises-
tcoin-lets-people-who-do-not-know-or-trust-each-other-build-dependable -cash-wins-australian-exchange-deal).
Resultados preliminares foram extraídos das análi- Mato Grosso desde 2007, de acordo com os resulta-
ses descritas na Seção 4, conduzidas para todas as dos de avaliações de riscos conduzidos pelo Sistema
unidades de produção dos estados do Pará e Mato da BVRio baseadas somente em análises diretas (ver
Grosso. Foram realizados também testes para ava- Seção 4.3). Aproximadamente 32% não mostraram
liar a acurácia do sistema. nenhuma indicação de irregularidades, enquanto
mais de 33% destes manejos tinham envolvimento
A Figura 5 mostra a distribuição de 100% de todas as comprovado ou alto risco de envolvimento com ir-
operações de manejo florestal nos Estados do Pará e regularidades severas (barras laranjas ou vermelhas).
60%
Ilegalidade ou irregularidade
severa identificada
30%
20%
10%
Figura 5. Distribuição de manejos florestais nos Estados do Pará e Mato Grosso de acordo com seu risco de ilegalidade, de
2007-2015, de acordo com o Sistema de Due Diligence e Avaliação de Risco da BVRio. Os resultados se baseiam em análises de
fatores diretamente associados a esses manejos florestais, e excluem análises de fatores de riscos indiretamente relacionados
a esses manejos (ex., desempenho da equipe de manejo em outros manejos ou empreendimentos florestais). 59
Os resultados mostrados na Figura 5, porém, não restal). Se esse fator é incorporado, o perfil de risco
refletem os riscos indiretos identificados através da dessas operações se torna ainda pior, com menos de
análise do histórico das partes envolvidas no manejo 10% mostrando risco negligenciável e acima de 40%
florestal (ex., proprietário da floresta, engenheiro flo- consideradas de médio a alto risco (Figura 6).
60%
Ilegalidade ou irregularidade
severa identificada
30%
20%
10%
Figura 6. Distribuição de manejos florestais nos Estados do Pará e Mato Grosso de acordo com seu risco de ilegalidade, de 2007-
2015, de acordo com o Sistema de Due Diligence e Avaliação de Risco da BVRio, incluindo análises de riscos indiretos associados
com as partes envolvidas no manejo florestal. A parte pontilhada das barras são provenientes de irregularidades previamente não
detectadas sem a analise das partes.
A BVRio também conduziu uma avaliação da capacida- A análise mostrou que o Sistema da BVRio foi capaz
de de detecção do sistema. Todas as operações de ma- de identificar riscos de irregularidades em 99% dos ca-
nejo nos Estados do Pará e Mato Grosso com infrações sos, mesmo antes que estes fossem identificados pelas
comprovadas nos últimos 5 anos foram analisadas. O agências ambientais, demonstrando que o sistema é
sistema foi testado para determinar se teria evidenciado uma ferramenta potente na identificação de riscos de
riscos de irregularidades antes que tais infrações fossem ilegalidade no setor madeireiro do Brasil.
60 identificadas pelas autoridades ambientais.
Conclusõese
6. Recomendações
O uso de big data como instrumento de avaliação de controle e redução da ilegalidade no setor madeireiro.
risco é promissor, por combinar os resultados de uma
O desenvolvimento e adoção de sistemas de monitora-
ampla gama de abordagens ao invés de depender de
mento, controle e rastreabilidade da produção, proces-
qualquer uma isoladamente. Além do mais, depen-
samento e transporte de produtos de madeira tropical
dendo de sua concepção, tais sistemas podem trazer-
brasileiros é um componente essencial para qualquer
resultados úteis independentemente da qualidade e
estratégia de promoção de legalidade. Se esses siste-
confiabilidade inicial dos dados inseridos, uma vez que
mas forem combinados com o aumento da transparên-
os mesmos são cruzados com outras fontes de informa-
cia dos dados oficiais, será possível reduzir os níveis de
ção. Esta é a abordagem utilizada pelo Sistema de Due
ilegalidade do setor da madeira tropical brasileira.
Diligence e Avaliação de Risco da BVRio descrito acima.
61
Anexos
Pedro Guinle
Anexo 1: Taxas Máximas de Conversão em Serrarias
Toras 100%
Serrados brutos:
Pranchão 45%
Prancha 45%
Dormentes 45%
Serrados:
Tábua 45%
Viga 45%
Vigota 45%
Sarrafo 90%
Caibro 45%
Ripa 45%
Aplainados:
Deck 37%
Assoalho 37%
Rodapé 37%
Batente 37%
Guarnição 37%
Forro (lambril) 37%
Quadrado 37%
Resíduos:
Pellets 100%
Cavacos 100%
64
Fonte: Ibama IN21
Anexo 2: Guia de como interpretar GFs, DOFs e AUTEFs
Os principais documentos necessários para demonstrar As GF3s são também emitidas para a exportação de
a legalidade no setor de madeira tropical brasileira são: produtos madeireiros e, nesse caso, ela indica ainda
o nome do importador e o país de destino.
• Autorização para Exploração Florestal
Esses documentos contém diversas informações e é
(AUTEX e AUTEF);
importante entender o que elas significam. O fato
desses documentos serem emitidos pelo sistema ofi-
• Guia Florestal ou Documento de Origem
cial de controle de madeira dos governos estaduais
Florestal (GFs ou DOFs). (os documentos são raramente falsificados) não sig-
nifica que as informações neles contidas correspon-
dem realidade. Por essa razão, negociantes de ma-
deira devem tentar conduzir uma due diligence para
No caso das Guias Florestais, essas são divididas entre:
evitar o envolvimento com possíveis ilegalidades
existentes por detrás da documentação apresentada.
• GF1 – para transporte de toras, da flores-
ta de origem para uma serraria; Alguns exemplos são mostrados abaixo, com expli-
cações sobre a informação existente e as principais
• GF2 – para transporte de produtos não verificações necessárias para confirmar a veracidade
65
Figura A1: Como ler uma
AUTEF. Acima uma autori-
zação para exploração flo-
66
Figura A2: Como ler uma
AUTEF. Na página 2 a
AUTEF mostra o mapa e a
imagem de satélite da área
de manejo.
1. Algumas vezes uma AUTEF é obtida unicamente áreas que não contém madeira, ou pode haver so-
para criar uma conta e permitir a venda de madeira breposição com outras unidades de conservação
ilegal de outras origens. Monitoramento por ima- ou áreas indígenas.
gens de satélite permite verificar, após o início do
3. Nesses casos, a imagem fornecida na AUTEF pode
período de validade da AUTEF, se houve ou não ext-
não ser correta, ou ter sido manipulada para uma
ração de madeira na área do manejo.
outra data (antes da exploração).
2. Em outros casos, AUTEFs são autorizadas em
67
Figura A3: Como ler uma
AUTEF. Na página 3, a AUTEF
fornece uma lista detalhada
das espécies e volumes que
podem ser extraídos.
9
68
Figura A.4:Como ler uma
Guia Florestal – GF (utilizadas
1
nos estados do Pará e Mato
2
3 Grosso). Esse documento
contém uma série de infor-
5
mações: 1: Tipo de GF. Nesse
caso, trata-se de uma GF1,
6 que autoriza o transporte
de toras da floresta para a
serraria; 2,3 e 4: número da
7
GF e da nota fiscal eletrônica
correspondente; 5: nome e
8 endereço do remetente (ven-
10 dedor); 6: nome e endereço
9
do destinatário (comprador);
7: espécies, volume e preço
11
dos produtos transportados;
8, 9 e 10: detalhes da rota e
12
data do transporte; 11 e 12:
validade do documento e có-
digo de barras (o código de
barras pode ser escanceado
com o aplicativo de Due Dili-
gence da BVRio para receber
um relatório de legalidade).
1. Nomes dos compradores e vendedores nem sem- documentação. Em alguns casos, essa fraude pode
pre correspondem às partes realmente envolvidas. ser detectada pela própria GF (rotas de transporte
incoerentes, por exemplo).
2. Uma fraude comum é o detentor do manejo
emitir uma GF para uma serraria, sem o envio das 3. Há ainda fraudes relacionadas às espécies ou a
toras, mas cobrando um preço. Com isso a serra- preços incompatíveis.
ria pode “esquentar” madeira ilegal que não tem
69
Figura A.5:Como ler um
DOF (documento de trans-
porte utilizado na maior
parte do Brasil, exceto nos
estados do Mato Grosso e
Pará). Esse documento con-
tém as seguintes informa-
ções: 1 e 2: nome e número
do Cadastro Técnico Federal
(CTF) do vendedor; 3 a 11:
endereço do vendedor; 12:
número de autorização;
13: tipo de operação (e.g.
Manejo Florestal); 14 a 17:
tipo, quantidade e preço do
produto transportado; 18
a 28: nome e endereço do
comprador; 29 a 32: deta-
lhes do meio de transporte;
33: número do documento
fiscal; 34: validade do docu-
mento; 35: rota planejada.
Ver GFs.
70
Anexo 3: Modelo de relatório
71
72
73
74
75
76
77
78
79
80
Anexo 4: Classificação de resultados de análises individuais
Demais
1. Verificação Documental PA MT
Estados
(1)
1.1 Autorização de Exploração Florestal (Autef/Autex)
(1)
1.2 Licenças Ambientais do Manejo ou Licença de Operação da Serraria
(1)
1.3 Cadastro Ambiental Rural (CAR/Simlam)
Demais
2. Infrações e Embargos PA MT
Estados
Demais
3. Análises Aprofundadas PA MT
Estados
ou Áreas Quilombolas
(1)
3.2 Coerência de volumes de espécies valiosas
(1)
3.3 Coerência da exploração na área de manejo
(1)
3.4 Histórico das Partes Envolvidas
Nota: (1) Análises disponíveis na versão Premium. Condicionado à disponibilização dos documentos de base pelas partes
envolvidas e às informações disponíveis nos órgãos estaduais competentes. 81
Metodologia e Avaliações
1. Verificação Documental
Confirmado
1.1.1 Verificação da existência e autenticidade do documento
Não Confirmado
Confirmado
1.2.1 Verificação da existência e autenticidade do documento
Não Confirmado
82
2. Infrações e Embargos
Nada Consta
Consta (leve)
2.1 Infrações Federais (Ibama) (1)
Consta (grave)
Nada Consta
Nada Consta
2.3 Lista de Trabalho Escravo (MTE)
Consta
Nada Consta
Nada Consta
83
3. Análises Aprofundadas
Nada Consta
Superposição ilegal em Unidades de Conservação,
3.1
Terra Indígena ou Áreas Quilombolas.
Consta
Coerente
Inconclusivo
3.2 Coerência de volumes de espécies valiosas (3).
Questionável
Incompatível
Coerente
Inconclusivo
3.3 Coerência da exploração na área de manejo (4).
Questionável
Incompatível
Sem incidentes
Incidentes leves
3.4 Histórico das Partes Envolvidas (5).
Incidentes médios
Incidentes graves
No caso de explorações florestais (manejos), também não são são então ranqueados em quatro categorias (verde, amarela,
incluídos nesta análise embargos: (i) anteriores à emissão da laranja e vermelha), que indicam, respectivamente, atores cujo
Autex/Autef; ou (ii) ocorridos mais de 3 anos após o período histórico não apresenta eventos negativos relevantes, ou cujos
de validade da Autex/Autef; ou (iii) relativos a um outro esta- eventos negativos são de baixa, média ou alta relevância. A
belecimento da mesma empresa (outra filial). Entende-se que avaliação apresentada indica o risco potencial e teórico esta-
em tais casos os embargos não dizem respeito à Autex/Autef belecido a partir da correlação probabilística existente entre
em questão. No entanto, tais embargos serão considerados o perfil de histórico observado e as estatísticas de ilegalidade
para compor o histórico das partes. comprovadas em outros casos. Uma classificação na categoria
vermelha não significa necessariamente que a parte em ques-
(3) A avaliação de coerência de volumes de espécies valiosas é tão cometeu alguma ilegalidade, nem que existe efetivamente
feita com base nas médias observadas no conjunto de autori- um alto risco que essa Parte venha a cometer uma ilegalidade.
zações florestais e análises estatísticas e probabilísticas desen- E, inversamente, uma classificação na categoria verde não é
volvidas pela BVRio. Uma avaliação de incompatibilidade não uma garantia de que a Parte não tenha cometido, nem virá
significa que o lote seja ilegal. E, inversamente, uma avaliação a cometer, uma ilegalidade. Essa classificação traduz simples-
de coerência não é uma garantia de legalidade do lote. Esta mente uma análise de estatística feita pela BVRio a partir das
avaliação traduz simplesmente o resultado de análises estatís- informações analisadas e da metodologia adotada. 85
ticas feitas pela BVRio a partir de informações públicas.
Fontes das Informações
Dados Fonte
Superposição com Unidades de Conservação, Análises BVRio, imagens de satélite, dados do Ibama e
Terras indígenas e Áreas Quilombolas do SImlam.
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89
Pär Pärsson
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