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Uso de Big Data Uma análise

para detecção de do Sistema de


Due Diligence
Ilegalidade no Setor e Análise de
Risco da BVRio
de Madeira Tropical
Contents
Sumário Executivo 08

1. Introdução 12
1.1 Impactos da Ilegalidade no Setor Madeireiro Tropical Brasileiro 14

2. Sistemas de Controle da Produção de Madeira no Brasil e Principais Tipos de Fraude 18


2.1 Processo de Controle de Madeira 19
2.2 Tipologia de Fraudes 21
2.3 Meios de Detecção de Fraudes 23

3. Meios de Detecção e Prevenção de Ilegalidade 28


3.1 Auditorias e Verificações de Campo 30
3.2 Sistemas de Rastreabilidade Baseados em Novas Tecnologias 32
3.3 Sensoriamento Remoto 33
3.4 Plataformas de Informação de Cadeias de Custódia 34
3.5 Análise de Big Data 35

4. Metodologia da Bvrio 38
4.1 Abordagem 40
4.2. Fontes de Dados e Análises dos Unidades de Produção 42
4.3 Análise de Risco e Interpretação de Resultados 47
4.4 Avaliação de Risco ao Longo da Cadeia de Custódia 49
4.5 Relatórios e Declarações 52
4.6 Sistema de Registro de Guias de Transporte e Cadeias de Custódia 53
4.7 Plataforma de Negociação 53
4.8 Registro de Dados com Tecnologia Blockchain 54

5. Avaliação de Legalidade e Precisão das Análises 55

6. Conclusões e Recomendações 57

Anexo 1: Taxas Máximas de Converso em Serrarias 60


Anexo 2: Guia de como Interpretar Gfs, Dofs e Autefs 61
Anexo 3: Modelo de Relatório 67
Anexo 4: Classificação de Resultados de Análises Individuais 77
Anexo 5: Sobre a Bolsa de Madeira da Bvrio 83
Anexo 6: Sobre a Bvrio 84
Pedro Guinle
O Instituto BVRio (www.bvrio.org) é uma organização sem fins
lucrativos cuja missão é promover mecanismos de mercado que
facilitem o cumprimento de leis ambientais brasileiras, e a Bolsa
de Valores Ambientais BVRio (www.bvrio.com), uma empresa de
impacto que tem como objetivo alavancar capital do setor privado
para implementar e dar escala às atividades pré-operacionais
desenvolvidas pelo Instituto BVRio. A organização foi vencedora do
Katerva Awards 2013 (categoria Economia), nomeada Líder em Ação
Climática pela R20 - Regions of Climate Action, é membro da Coalizao
Clima Floresta e Agricultura, e integra a Forest Legality Alliance. SIGA-NOS:

/InfoBVRio goo.gl/bhVEVi
Autores
Este estudo foi escrito por Pedro Moura Costa, Mauricio Moura Costa
/BVRio /canalbvrio
e Marcio Barros, do Instituto BVRio.

Agradecimentos
O Instituto BVRio agradece a Toby Gardner (Stockholm Environmental
Institute), Mauricio Voivodic (Imaflora), Marcio Lentini (WWF-Brasil),
Miguel Calmon (IUCN), Daniela Lerda (CLUA), Sophie Higman (West
Street Communications), Ruth Nogueron e Tobias Stauble (WRI – Forest
Legality Alliance), e Thomas Sembres (European Forestry Institute) pelas
suas revisões e comentários. O documento original foi traduzido para o
português por Vania Cabuz Toledo e formatado por MG Studio.

Agradecemos também a Alexander Lees (Cornell University), Jos


Barlow (Lancaster University) e Toby Gardner (SEI) por ceder as
fotografias usadas no relatório.

Este estudo foi desenvolvido com apoio financeiro do UK Department for


International Development DFID (Forest Governance Markets and Climate
Programme - FGMC), Good Energies Foundation e E2 Sócio Ambiental.

Esta iniciativa tem o objetivo de contribuir para os objetivos da


Coalizão Clima, Florestas e Agricultura, em particular seu eixo Florestal
e Agrícola e propostas relacionadas à melhoria da Economia Florestal.

As conclusões e recomendações aqui contidas representam as


opiniões dos autores, e não representam a visão dos revisores,
apoiadores ou da Colizão Brasil.
Siglas

AUTEX or AUTEF Autorização de Extração Florestal

CEPROF Cadastro de Exploradores e Consumidores de Produtos Florestais

DOF Documento de Origem Florestal

Forest Law Enforcement, Governance and Trade initiative of the EU, Plano de
FLEGT Ação da UE para Aplicação da Legislação, Governança e Comércio do Setor

FSC Florestal

GF Forest Stewardship Council

GFTN Guia Florestal

GHG Global Forests & Trade Network

IBAMA Greenhouse Gases, Gases de Efeito Estufa

MMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

OEMA Ministério do Meio Ambiente

POA Plano Operacional Anual

SAD Sistema de Alerta de Desmatamento

SEMA Secretaria Estadual de Meio Ambiente

SIMEX Sistema de Monitoramento da Exploracao Florestal

Sisflora Sistema de Comercialização de Transporte de Produtos Florestais


Pär Pärsson
Sumário Executivo

A produção e comercialização ilegal de madeira ma Sisflora adotadas pelos estados do Pará e Mato
tropical é um dos principais fatores de degradação Grosso. Comparados a outros países tropicais, os
ambiental no mundo, levando à perda de habitats sistemas de controle de madeira no Brasil estão en-
e biodiversidade, emissão de gases de efeito estufa, tre os mais abrangentes e sofisticados no mundo.
violação de direitos humanos e corrupção. Nos últi- Apesar dos méritos destes sistemas, corrupção e
mos 15 anos intensificaram-se os esforços interna- fraude generalizadas tornaram esses sistemas inú-
cionais no combate à ilegalidade no setor madeirei- teis e colocaram o Brasil no topo da lista de países
ro. Em termos de disposições legais, por exemplo, a de risco mundialmente.
EU Timber Regulation tornou o comércio de madeira
ilegal em uma infração passível de severas penalida- Os principais tipos de fraudes cometidos no Brasil se
des na Europa e a US Lacey Act de 2008 e a lei aus- dividem em três grupos principais:
traliana de combate à exploração ilegal de madeira o
consideram uma infração penal.

O setor madeireiro amazônico atualmente é respon- Exploração florestal ilegal e


sável pela extração de cerca de 13 milhões de metros
cúbicos de toras de madeira nobre de florestas ama-
1 roubo de madeira, incluindo
exploração de áreas não
zônicas no Brasil. O setor gera mais de R$ 8 bilhões autorizadas, e extração excessiva
de receita anual e emprega mais de 200.000 pessoas. de espécies valiosas;
Nos rankings internacionais, o Brasil é considerado um
dos países de maior risco no que se refere à ilegalidade
Fraudes documentais associadas
no setor madeireiro. Estima-se que mais de 70% dos
produtos madeireiros da Amazônia provém de opera- 2 com o sistema de controle de
madeira do governo para criar a
ções ilegais, que envolvem roubo de madeira de uni-
documentação necessária para que
dades de conservação e reservas indígenas, uso de tra-
a madeira ilegal pareça “oficial”;
balho escravo e outros tipos de irregularidades. Além
da ilegalidade, o setor também se encontra aquém em
termos de padrões de sustentabilidade. A combinação Ilegalidades e/ou não-conformidades
destes fatores resulta em um panorama muito negati-
vo para o setor e para as florestas tropicais brasileiras.
3 operacionais nas florestas,
serrarias ou revendedores, incluindo
contravenções da legislação trabalhista
A produção de madeira no Brasil é monitorada por (uso de trabalho escravo), operações
três diversos sistemas oficiais de controle: o Sistema sem licenças válidas e sonegação
DOF do governo federal, e duas versões do siste- de impostos.
10
A falta de transparência e o acesso limitado a infor-
mações contidas em bancos de dados oficiais, au-
mentam o potencial de ocorrência de fraudes.

Diferentes abordagens têm sido utilizadas para ras-


trear as origens de produtos de madeira e examinar
sua legalidade. Essas abordagens tem vantagens e
desvantagens, e podem em alguns casos ser usadas
conjuntamente.

As abordagens analisadas são:

• auditorias de campo e inspeções pontuais fei-


tas por auditores independentes;

• sistemas e tecnologias para rastreabilidade e


detecção de riscos, incluindo códigos de barra,
QR codes, chips de computador, identificadores
de frequência de rádio (RFID), TreeTAG, Star-
dust, GPS, e análise de DNA, isótopos estáveis,
anatomia da madeira e de fibras;

• sensoriamento remoto através de imagens de


satélite, obtidas com drones, e/ou uso de sen-
sores como o LIDAR;

• plataformas de informação da cadeia de custódia;

• análise de grandes bases de dados (big data).


Adam Ronan

11
O Sistema de Due Diligence e Avaliação de Risco da Nenhuma indicação de infrações,
BVRio, baseado em análise de big data, tem o objetivo irregularidades ou não-adequação à legislação
de auxiliar o processo de due diligence e avaliação de
risco de ilegalidade de madeira tropical amazônica. O Associadas com fatores diretos, e risco negligenciável

sistema é um módulo da Bolsa de Madeira BVRio, que de análises indiretas.

inclui também uma Plataforma de Negociações para


a aquisição de produtos madeireiros de origem legal.
Baixo a Médio Risco
O sistema examina a origem de madeira e possíveis
irregularidades, ilegalidades ou não-conformidades Inconsistências ou incertezas associadas à unidade
com exigências legais, ambientais e sociais durante os de produção analisada ou infrações e irregularida-
processos de extração, processamento e transporte, des indiretas.
incluindo análises da cadeia de custódia, e é baseado
em dados emitidos pelas autoridades governamentais
Médio a alto risco
brasileiras assim como bases de dados externas.

Evidência de infrações ou não-conformidades de me-


O sistema faz até 150 análises por lote de madeira, e
nor severidade, ou alto risco de ilegalidade identifica-
é capaz de identificar irregularidades e inconsistências
do através de análises indiretas.
diretas e indiretas, assim como risco de irregularidades
ainda não manifestadas. Os resultados dessas análises
são classificados de acordo com um sistema elaborado Alto risco
para refletir a relevância de cada fator de risco, e/ou a
severidade de sua manifestação, a seguir: Comprovadas infrações e ilegalidades graves.

12
Os riscos associados a cada lote de madeira são es- sos departamentos de compras de órgãos públicos
timados através da análise de cada unidade de pro- e privados nos mercados doméstico e internacional.
dução ao longo de sua cadeia de custódia, traçada
usando as autorizações de transporte (GFs ou DOFs) Baseado na experiência da BVRio, o uso de big data
associadas a estes produtos. Relatórios são emitidos para a avaliação de risco é promissor, por combinar
para cada lote de madeira, incluindo a descrição do os resultados de uma ampla gama de abordagens
lote de madeira e sua cadeia de custódia (e quais- ao invés de depender de qualquer uma isoladamen-
quer inconsistências identificadas); informação de- te. Qualquer iniciativa desenvolvida para aumentar
talhada sobre cada unidade de produção, incluindo a legalidade no setor, porém, depende da transpa-
imagens de satélite; e uma avaliação de risco destas rência de informações relevantes. É essencial que os
unidades de produção. governos federais e estaduais ofereçam maior trans-
parência para permitir melhor monitoramento, con-
Há uma necessidade urgente de se promover o setor trole e redução da ilegalidade no setor de madeira
florestal tropical brasileiro para assegurar a preserva- tropical brasileiro. •
ção de florestas em pé e a redução de emissões GHG
pelo setor de uso da terra. Um pré-requisito desse
objetivo é assegurar que o setor opere legalmente.
Em paralelo, é necessário conduzir ações para pro-
mover o uso de madeira legal, tanto através da cria-
ção de incentivos ao uso da madeira legal quanto por
meio de sua promoção entre associações, produtores
e distribuidores de produtos madeireiros, e os diver-
Alexander Lees

13
1. Introdução

A produção e comercialização ilegal de madeira


tropical é um dos principais fatores de degradação
ambiental no mundo, levando à perda de habitats
e biodiversidade, emissão de gases de efeito estufa
(GHG), violação de direitos humanos e corrupção.
Embora o manejo florestal sustentável possa agregar
valor para florestas em pé, subsistência a povos in-
dígenase atividade econômica em áreas rurais, esses
benefícios são anulados quando o setor madeireiro é
dominado pela produção ilegal. Infelizmente, estima-
-se que mais de 50% da madeira tropical ainda vem
de origem ilegal2.

Nos últimos 15 anos intensificaram-se os esforços


internacionais no combate à ilegalidade no setor
madeireiro. Em termos de disposições legais a
EU Timber Regulation3 tornou o comércio de
madeira ilegal em uma infração passível de severas
Adam Ronan

penalidades na Europae a US Lacey Act de 20084


e a lei australiana de combate à exploração ilegal

1 Ver estudo recente de Barlow et al. (2016) demonstrando o dramático usda.gov/aphis/ourfocus/planthealth/import-information/SA_Lacey_Act).


efeito de degradação florestal em perda de biodiversidade. (Barlow, J. et
al.,(2016): Anthropogenic disturbance in tropical forests can double biodi- 5 O Australia Illegal Logging Prohibition Act foi criado para apoiar o
versity loss from deforestation. Nature 535, 144–147, 07 July 2016 - http:// comércio de madeira legal no mercado australiano (http://www.agriculture.
dx.doi.org/10.1038/nature18326) gov.au/forestry/policies/illegal-logging).

2 Ver, por exemplo, Hoare, A., 2015. Tackling Illegal Logging and the Re- 6 O Plano de Ação do FLEGT visa reduzir a exploração madeireira ilegal
lated Trade. Chatham House, London (http://indicators.chathamhouse.org). através do fortalecimento da sustentabilidade e legalidade no manejo flo-
Valores semelhantes, ou até superiores, foram citados pelo Ministério do restal, melhoria da governança florestal e promoção do comércio de madei-
Meio Ambiente, Interpol, Imazon, ITTO, Traffic, NepCon, etc. ra produzida legalmente (www.flegt.org).

3 ec.europa.eu/environment/forests/timber_regulation.htm 7 O Timber Regulation Enforcement Exchange (TREE) consiste numa série


de eventos objetivando integração e troca de informações entre um crescente
4 A Lacey Act de 1900 é uma legislação americana que proíbe o comércio número de agentes governamentais, que se reúnem a cada seis meses (www.
ilegal de fauna. Em 2008, uma Emenda desta lei estendeu essa proibição à flegt.org/web/timber-regulation-enforcement-exchange/).

14 flora e produtos derivados de plantas como a madeira e o papel (www.aphis.


de madeira5 o consideram uma infração penal. da BVRio14, o Programa CAD Madeira15 e a iniciativa
Em paralelo, iniciativas como a EU Forest Law Protocolo Madeira É Legal16.
Enforcement, Governance and Trade (FLEGT)6 e TREE7
contribuem para a efetiva implementação dessas leis. Ao mesmo tempo, ferramentas, sistemas, tecnolo-
gias e serviços têm sido desenvolvidos por governos,
Com o objetivo de prover visibilidade e transparên- ONGs e o setor privado para facilitar a rastreabilidade
cia, organizações da sociedade civil têm investigado da madeira e a detecção de legalidade de produtos
e divulgado informações sobre a exploração madei- madeireiros. Essas iniciativas diferem em suas abor-
reira ilegal8. Por sua vez, esforços para a aplicação dagens, vantagens, limitações, eficácia e custos.
da leitêm sido conduzidos por agências ambientais
governamentais na maioria dos países, pela Interpol Este relatório descreve um sistema baseado no uso de
(ex., projeto LEAF9) e por iniciativas como a Forest Le- big data (grandes bases de dados) e seus resultados
gality Alliance10. Para promover a madeira de origem preliminares na detecção de riscos de ilegalidadeda ma-
legal, iniciativas de comércio legal foram criadas, tais deira tropical brasileira. Os resultado iniciais mostraram-
como a Global Forests & Trade Network (GFTN)11, o -se promissores e o sistema está sendo adaptado para
FSC Marketplace12, a European Sustainable Tropical uso em outros países, começando com Gana e outros
Timber Coalition13 e, no Brasil,a Bolsa de Madeira países do Oeste da África e do Sudeste Asiático.

8 Por exemplo, Greenpeace, FERN, Friends of the Earth, Environmental 12 marketplace.fsc.org


Investigation Agency, Chatham House (ex., Illegal Logging Portal, www.
illegal-logging.info), etc. 13 The European Sustainable Tropical Timber Coalition tem o objetivo de
aumentar a demanda de madeira provinda de florestas tropicais exploradas
9 Law Enforcement Assistance for Forests (www.interpol.int/Crime-areas/ legalmente e com manejo sustentável (www.europeansttc.com).
Environmental-crime/Projects/Project-Leaf).
14 timber.bvrio.org
10 A Forest Legality Alliance é uma iniciativa multi-stakeholder com o
objetivo de reduzir a exploração madeireira ilegal através de apoio ao for- 15 Uma iniciativa criada pelo governo do Estado de São Paulo para pro-
necimento de produtos florestais legais (www.forestlegality.org). mover contratos públicos de aquisição de madeira de origens legais.

11 A Global Forest & Trade Network (GFTN) é uma parceria liderada pela 16 Uma iniciativa promovida por 23 atores dos setores público e privado
WWF, ligando empresas, comunidades, ONGs e empresários, com o objetivo em São Paulo, incluindo WWF e FSC Brasil.
de criar mercado para produtos florestais ambientalmente responsáveis.

15
1.1 Impactos da ilegalidade no setor de sofisticação até os desafios criados pela economia
madeireiro tropical brasileiro informal, ilegalidade e insustentabilidade.

O setor madeireiro atualmente é responsável pela extra- Nos rankings internacionais, o Brasil é considerado um
ção de cerca de 13 milhões de metros cúbicos de toras dos países de maior risco no que se refere à ilegalida-
de madeira nobre de florestas amazônicas no Brasil17. de no setor madeireiro20. Constantes denúncias, feitas
Estas toras, por sua vez, alimentam a indústria de proces- pela imprensa e por ONGs aumentam a percepção de
samento de madeira. O setor gera mais de R$ 8 bilhões riscos associados ao setor21. Esta percepção de risco
de receita anual e emprega mais de 200.000 pessoas18. é ainda mais ampliada pelas repetidas operações da
Dada a disponibilidade de recursos naturais na região, o Polícia Federal nos estados amazônicos, resultando na
tamanho deste setor é relativamente pequeno19 e a sua prisão de funcionários de governos estaduais e de co-
importância vem diminuindo. merciantes de madeira22.

O declínio da indústria madeireira amazônica é resul- De acordo com diversos levantamentos, estima-se que
tado de uma série de fatores, desde seu baixo nível mais de 70% dos produtos madeireiros da Amazônia

17 Serviço Florestal Brasileiro, 2015: www.florestal.gov.br/snif/producao- The Response in Brazil. A Chatham House Assessment (. http://indicators.
-florestal/cadeia-produtiva chathamhouse.org).

18 Serviço Florestal Brasileiro, 2015 (Ibid). 21 Ver, por exemplo:


• http://m.greenpeace.org/brasil/pt/high/Noticias/Madeira-ilegal-da-Ama-
19 GVces, 2015: Contribuições para a análise de viabilidade econômica das zonia-chega-impunemente-a-Europa-/
propostas referentes à decuplicação da área de manejo florestal sustentável. • http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/ambiente/extracao-ilegal-
Centro de Estudos em Sustentabilidade da Escola de Administração de Empre- -madeira-e-crime-organizado-tem-hackers-envolvidos-704266.shtml
sas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas. São Paulo, p. 57. 2015. See also • http://imazon.org.br/imprensa/exploracao-ilegal-de-madeira-cresce-63-
McKinsey & Company 2016. Promovendo a legalidade e aderência às práticas -em-mato-grosso/
sustentáveis na exploração e comércio de madeira nativa tropical no Brasil.
Report for the Ministério do Meio Ambiente do Brasil (MMA), Feb 2016, which 22 Ver, por exemplo:
states that the sector could increase revenues by ca. R$2.7 billion/yr. • http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2015/08/operacao-desmantela-
-esquema-de-exploracao-ilegal-de-madeira-no-para.html
20 Por exemplo, o Brasil é o país de maior risco no ranking do Ministério • http://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/reda-
da Agricultura e do Meio Ambiente Espanhol (www.maderalegal.info/). Ver cao/2015/08/11/governo-investiga-rondonia-por-oficializar-madeira-ilegal-
também o Perfil de Risco Florestal do Brasil da NepCon (www.nepcon.net/ -de-outros-estados.htm
countryprofiles), e Wellesley, L. 2014: Illegal Logging and Related Trade • www.midiamax.com.br/policia/carreta-apreendida-cerca-50m3-madeira-
16
provém de operações ilegais23, que envolvem roubo de construção civil25. Nos mercados internacionais, a
de madeira de unidades de conservação e reservas legislação ambiental com foco em legalidade (i.e. US
indígenas, uso de trabalho escravo e outros tipos de Lacey Act nos EUA e EU Timber Regulation na Euro-
irregularidades (ver Seção 2). pa)e padrões de sustentabilidade (ex. certificação FSC)
criam entraves à importação de produtos madeireiros
Além da ilegalidade, o setor também se encontra provenientes da Amazônia. Gradativamente, empresas
aquém em termos de padrões de sustentabilidade. O americanas e europeias tem evitado comprar madeira
manejo florestal certificado com os padrões FSC é res- da Amazônia brasileira, uma tendência que se acelerou
ponsável por menos de 3% da produção total de toras desde as operações da Polícia Federal em 201526.
na Amazônia brasileira24.
No lado da oferta, observou-se uma redução em torno
A combinação desses fatores vem resultando na re- de 40% na produção de madeira ao longo dos últimos
dução de demanda pela madeira amazônica. No mer- 10 anos27. Um desafio significativo para a produção
cado nacional, há um crescente tendência de substi- de madeira legal, sustentável e/ou certificada é acom-
tuição da madeira por outros materiais na indústria petição desleal com operações ilegais. Com menores

-ilegal-costa-rica-279107 25 Há uma tendência de substituição de madeiras nobres tropicais por


• www.ebc.com.br/noticias/2015/08/policia-federal-desmonta-quadrilha- outros materiais, desde madeira cultivada até concreto, alumínio ou plásti-
-de-comercio-ilegal-de-madeira cos. Ver WWF Brasil e Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção Civil
• http://g1.globo.com/mato-grosso/noticia/2015/09/empresario-e-preso- de São Paulo), 2011: Aquisição responsável de madeira na construção civil.
-e-12-mil-m-de-madeira-ilegal-e-apreendida-em-mt.html Um guia prático para as construtoras.

23 Ver, por exemplo, Greenpeace: 2014. A crise silenciosa da Amazônia. 26 Por exemplo: http://noticias.pgr.mpf.mp.br/noticias/noticias-do-site/
Controle do setor madeireiro e 5 formas de fraudar o sistema. (http://che- copy_of_criminal/madeira-limpa-21-sao-presos-em-3-estados-em-opera-
gademadeirailegal.org.br/doc/BR/controle_madeireiro_5_formas_fraudar. cao-para-combater-desmatamento-ilegal.
pdf); e Imazon, 2013: Boletim Transparência Manejo Florestal Estado do Pará
(2011-2012). Além disso, A.C. Hummel, ex-diretor do Serviço Florestal Bra- 27 Serviço Florestal Brasileiro, 2015 (www.florestal.gov.br/snif/producao-
sileiro afirmou que “a extração de madeira ilegal nunca foi inferior a 60% -florestal/cadeia-produtiva).
do total explorado na Amazônia” (em: www.painelflorestal.com.br/noticias/
artigos/madeira-da-amazonia-um-novo-foco-no-combate-a-ilegalidade).

24 Imaflora, 2012: Acertando o alvo. Desvendando o mercado brasileiro


de madeira amazônica certificada FSC (www.imaflora.org).

17
custos de produção (devido à sonegação de impos- país pretende adotar medidas para “ampliar a escala
tos, custos trabalhistas, etc.), madeireiros ilegais tem de sistemas de manejo sustentável de florestas nativas,
uma vantagem comparativa no mercado, resultando por meio de sistemas de georeferenciamento e ras-
em competição desleal com empresas com produção treabilidade aplicáveis ao manejo de florestas nativas,
sustentável legal e/ou certificada28. com vistas a desestimular práticas ilegais e insusten-
táveis”29. O combate ao comércio ilegal de madeira
A combinação destes fatores resulta em um panorama é também um dos objetivos da Coalizão Brasil Clima,
muito negativo para o setor e para as florestas tropicais: Florestas e Agricultura30.
na ausência de mecanismos que valorizem as florestas
em pé, essas se tornam mais vulneráveis ao desmata- Há uma necessidade urgente de se promover o se-
mento e à conversão a outros usos da terra, com o au- tor florestal tropical brasileiro e uma mudança radical
mento das emissões de gases de efeito estufa (GHG), no modo como as florestas são manejadas no Brasil,
destruição de habitats e perda de biodiversidade. para assegurar a preservação de florestas em pé e
a redução de emissões GHG pelo setor de uso da
Reconhecendo a importância desta tendência, a Con- terra31. Um pré-requisito desse objetivo é assegurar
tribuição Nacionalmente Determinada do Brasil (Na- que o setor opere legalmente, em adequação às leis,
tionally Determined Contribution – NDC) afirma que o regras e regulamentos. •

28 Ver, por exemplo: 29 iNDC brasileira visando atingir os objetivos do UN Framework Conven-
• Sindimasp (Sindicato do Comércio Atacadista de Madeiras do Estado de tion on Climate Change, submetido para a UNFCCC em 2015.
São Paulo) e WWF Brasil, 2012: Comércio de madeira. Caminhos para o
uso responsável. Sindimasp (www.sindimasp.org.br). 30 A Coalizão BrasilClima, Florestas e Agricultura (www.coalizaobr.com.
• O relatório da GVces (2015, ibid) estima que os custos de madeira ilegal br) foi formada em 2016 por associações empresariais, empresas, a socieda-
são 50% mais baixos que aqueles relacionados à produção legal. de civil, organizações e indivíduos interessados em contribuir para o avanço
• Mckinsey & Company, 2016: Promovendo a legalidade e aderência às e cooperação na agenda climática brasileira.
práticas sustentáveis na exploração e comércio de madeira nativa tropical
no Brasil. Relatório para o Ministério do Meio Ambiente do Brasil (MMA), 31 GVces 2015. (ibid).
18 Fev de 2016.
Quadro 1: Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) brasileira e uso do solo

A NDC brasileira vai resultar numa redução de 37% das emissões GHG em relação a 2005, até 2025.
As medidas relacionadas ao uso do solo e florestas incluem:

• Fortalecer o cumprimento do Código Florestal em âmbito federal, estadual e municipal;

• Fortalecer políticas e medidas com vistas a alcançar desmatamento ilegal zero na Ama-
zônia brasileira até 2030 e a compensação das emissões de gases de efeito estufa prove-
nientes da supressão legal de vegetação até 2030;

• Restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas até 2030, para múltiplos usos;

• Ampliar a escala de sistemas de manejo sustentável de florestas nativas, por meio de


sistemas de georeferenciamento e rastreabilidade aplicáveis ao manejo de florestas nativas,
com vistas a desestimular práticas ilegais e insustentáveis.

Fonte: iNDC brasileira visando atingir os objetivos do UN Framework Conventionon Climate Change, submetido para a UNFCCC em 2015.
19
Sistemas de controle da
2. produção de madeira no Brasil e
principais tipos de fraude

A produção de madeira no Brasil é monitorada por responsáveis pela produção de mais de 70% da ma-
diversos sistemas oficiais de controle. Atualmente, deira tropical no país.
três sistemas oficiais estão em operação no país. O
principal, desenvolvido pelo Governo Federal, é o Em geral, os três sistemas são semelhantese controlam
Sistema DOF (Documento de Origem Florestal), im- todas as atividades relacionadas à produção de madei-
plementado pelo Ministério do Meio Ambiente do ra: licenciamento, extração (exploração), transporte,
Brasil em 2007 e adotado pela maioria dos estados processamento e comercialização de produtos da ma-
brasileiros. Dois estados (Pará e Mato Grosso), po- deira. O principal objetivo destes sistemas é assegurar
rém, desenvolveram e operam sistemas próprios (Sis- que cada atividade seja documentada, permitindo o
flora – Sistema de Comercialização de Transporte de controle e cumprimento das leis e regulamentos rela-
Produtos Florestais – ver Tabela 1). Esses estados são cionados ao manejo florestal.

Oisin Conolly

20
2.1 Processo de Controle de Madeira

Em linhas gerais, o processo regulatório relativo à extração da madeira segue as etapas apresentadas abaixo e
resumidas na Tabela 1:

1. Elaboração de um Plano de Manejo Flo- 4. O volume autorizado para extração e co-


restal, que deve ser submetido para apro- mercialização é registrado em um sistema de
vação pela agência ambiental (SEMA ou conta corrente ligado ao Cadastro de Explora-
OEMA – Secretaria ou Órgão Estadual de dores e Consumidores de Produtos Florestais
Meio Ambiente) do estado onde a floresta (CEPROF). Esse volume é creditado na conta
está localizada; da empresa de manejo florestal eserá debita-
do da conta cada vez que um volume de ma-
deira é vendido;
2. Elaboração de um Plano Operacional Anual
(POA) incluindo inventário florestal detalhado
identificando as árvores, espécies e volumes a 5. O sistema controla o transporte de madeira
serem extraídos. Na região amazônica, o volu- através de licenças de transporte (Guia Flores-
me máximo autorizado para exploração é 30 tal – GF, ou Documento de Origem Florestal
m³/ha, a cada 35 anos*; -DOF). Cada vez que uma GF ou DOF é emi-
tido, o volume de madeira estipulado é debi-
tado da conta do remetente e creditado na
3. Uma vez que o POA seja aprovado, a conta do destinatário;
SEMA/OEMA emite uma licença de explo-
ração detalhando as espécies e volumes
6. As serrarias devem registrar a quantidade
autorizados para extração na próxima tem-
de madeira adquirida, os produtos madeirei-
porada de exploração (Autorização de Ex-
ros produzidos e as taxas de conversão obti-
tração Florestal– AUTEX em todo o país, ou
das no processamento. Taxas de conversão
AUTEF no Pará);
máximas são definidas para cada tipo de pro-
duto, estabelecidas por lei (ver Anexo 1).

Notas explicativas sobre como ler e interpretar esses documentos encontram-se no Anexo 2

(*) Em caso de ciclos menores, são autorizados volumes menores (por exemplo: para ciclos de 25 ou 30 anos são autorizados cortes de 20m³ ou 25m³,
respectivamente, assumindo um incremento de 0,83m³/ha/ano). 21
Tabela 1: Documentação necessária para a extração, processamento, transporte e venda de madeira
exigida pelos três Sistemas de Controle de Madeira oficiais no Brasil.

Sistem Documento de Origem Florestal (DOF) Sisflora Mato Grosso Sisflora Pará
abrangida
Região

Todos estados no Brasil, exceto Mato Grosso Estado do Mato Grosso. Estado do Pará.
e Pará. Administrado pelo IBAMA Administrado pela SEMA Mato Grosso Administrado pela SEMA Pará

Plano de Manejo Florestal Plano de Manejo Florestal Plano de Manejo Florestal


Pluri anual para toda a área de exploração. Plurianual para toda a área de exploração. Plurianual para toda a área de exploração.
Deve ser elaborado por engenheiro florestal Deve ser elaborado por engenheiro florestal Deve ser elaborado por engenheiro
e autorizado pela Secretaria de Meio e autorizado pela Secretaria de Meio florestal e autorizado pela Secretaria de
Ambiente do estado (SEMA/OEMA). Ambiente do estado (SEMA). Meio Ambiente do estado (SEMA).

POA (Plano Operacional Anual) POA (Plano Operacional Anual) POA (Plano Operacional Anual)
Floresta

Incluindo inventário florestal detalhado da Incluindo inventário florestal detalhado da incluindo inventário florestal detalhado
área a ser explorada, especificando árvores a área a ser explora da, especificando árvores da área a ser explorada, especificando
serem retiradas, estradas florestais e pátios a serem retiradas, estradas florestais e árvores a serem retiradas, estradas
de toras. pátios de toras. florestais e pátios de toras.

AUTEX (Autorização para Exploração Florestal) AUTEX (Autorização para Exploração AUTEF (Autorização para Exploração Florestal)
Licença de exploração emitida pela SEMA/ Florestal) Licença de exploração emitida pela licença de exploração emitida pela SEMA pelo
OEMA pelo período de 1 ano, estipulando as SEMA pelo período de 1 ano, estipulando as período de 1 ano, estipulando as espécies e
espécies e volumes autorizados para extração espécies e volumes autorizados para extração volumes autorizados para extração durante
durante esse período32. durante esse período. esse período.

Guia Florestal (GF) Guia Florestal (GF)


DOF (Documento de Origem Florestal) licença para transporte de madeira, diferenciada licença para transporte de madeira,
por tipo de produto: diferenciada por tipo de produto:
Transporte

licença para transporte de produtos de


madeira emitida online pela empresa • GF1 – para o transporte de toras • GF1 – para o transporte de toras
madeireira através do sistema oficial. • GF3 – para outros produtos de madeira • GF3 – para outros produtos de madeira
Além disso, DOFs também são necessários se os produtos Além disso, DOFs também são necessários se os

de madeira são transportados entre estados. produtos de madeira são transportados entre estados.

LO (Licença Operacional) LF (Licença Florestal) e LA (Licença Ambiental) LAU (Licença Ambiental Única)System
Sistema de controle de estoque e taxas de Sistema de controle de estoque e taxas de Sistema de controle de estoque e
Serraria

conversão relativo ao sistema DOF. Serrarias conversão relativo a Sisflora. Serrarias devem taxas de conversão relativo a Sisflora.
devem registrar entrada e saída, e taxas de registrar entrada e saída, e taxas de conversão Serrarias devem registrar entrada e
conversão associadas a diferentes produtos. associadas a diferentes produtos. saída, e taxas de conversão associadas
a diferentes produtos.

Nota Fiscal Eletrônica da Receita Federal, Nota Fiscal Eletrônica da Receita Federal, Nota Fiscal Eletrônica da Receita
Vendas

para registrar todas as vendas no país e o para registrar todas as vendas no país e o Federal, para registrar todas as vendas
valor de impostos devido. valor de impostos devido. no país e o valor de impostos devido.

32 Existem algumas exceções e variações regionais. Por exemplo, a SEMA do Estado do Amazonas não emite AUTEX e a licença de exploração faz parte da
22 Licença Operacional da floresta.
2.2 Tipologia de fraudes Muitas organizações no Brasil vêm desenvolvendo
sistemas e atividades de detecção, monitoramento e
Comparados a outros países tropicais, os sistemas denúncia da extração ilegal de madeira amazônica.
de controle de madeira no Brasil estão entre os mais Um exemplo importante é o sistema SIMEX desenvol-
abrangentes e sofisticados no mundo. Por exemplo, vido pelo Imazon35 e utilizado nos Estados do Pará e
têm padrão similar e contém todos os elementos exi- Mato Grosso36. Outras organizações operando na re-
gidos pelos Sistemas de Controle de Legalidade da gião amazônica (ex. ISA, IDESAM,Greenpeace) con-
Madeira adotados pelos países que celebraram os duzem investigações de campo e se concentram em
Acordos Voluntários de Parceria com a União Euro- identificar e expor ocorrências de extração e vendas
peia, no âmbito do programa FLEGT33. ilegais de madeira37.

Apesar dos méritos destes sistemas, a maioria da ma- Em 2015, o Greenpeace publicou um relatório listan-
deira produzida na Amazônia ainda é ilegal. De acor- do os cinco tipos de fraude mais usados por comer-
do com o Greenpeace34, entre 2007 e 2012 a explo- ciantes de madeira ilegal atuando na Amazônia bra-
ração de madeira ilegal somente no Estado do Pará sileira38. Em 2016, um estudo diagnóstico conduzido
atingiu mais de 700.000 ha de florestas, representan- pela Mckinsey & Company para o Ministério do Meio
do cerca de 80% da área total explorada no período Ambiente destacou as principais deficiências dos siste-
(905.000 ha). Corrupção e fraude generalizadas tor- mas de controle, os principais tipos de fraudes e suas
naram esses sistemas inúteis e colocaram o Brasil no recomendações para a melhoria destes sistemas39.
topo da lista de países de risco mundialmente.

33 Componente essencial do EU Timber Regulation e do programa Forest 37 Ver:


Law Enforcement and Governance (FLEGT) (www.euflegt.efi.int/home). • Greenpeace, 2015: A crise silenciosa da Amazonia. Licença para lavar
madeira: garantida (http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Documentos/
34 Greenpeace, 2014: A crise silenciosa da Amazônia. Controle do setor licensa-para-lavar/). E outros relatórios da mesma série.
madeireiro e 5 formas de fraudar o sistema. (http://chegademadeirailegal. • ISA, 2015: A rota do saque. Violações e ameaças à integridade da Terra
org.br/doc/BR/controle_madeireiro_5_formas_fraudar.pdf) do Meio (PA).
• IDESAM, 2014: Diagnóstico da cadeia produtiva da madeira no
35 SIMEX (Sistema de Monitoramento da Exploração Florestal) é uma município de Lábrea.
metodologia desenvolvida pelo Imazon (www.imazon.org) baseada no
Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD). 38 Greenpeace, 2014: A crise silenciosa da Amazônia. Controle do setor
madeireiro e 5 formas de fraudar o sistema.
36 Ver série Transparência Manejo Florestal,disponível no site do Ima-
zon; e a sérieTransparência Florestal Mato Grosso, disponível no site do 39 Mckinsey & Company, 2016: Promovendo a legalidade e aderência às práticas
ICV (www.icv.org.br/2014/09/18/iniciativa-transparencia-florestal/). sustentáveis na exploração e comércio de madeira nativa tropical no Brasil. Relató-
rio para o Ministério do Meio Ambiente do Brasil (MMA), fevereiro de 2016. 23
Baseado nesses relatórios40 e em análises internas da BVRio (ver Seção5), os principais tipos de fraudes cometi-
dos no Brasil se dividem em três grupos principais (resumidos na Tabela 2):

1. Exploração florestal ilegal e roubo de madeira incluindo exploração


de áreas não autorizadas (ex., em unidades de conservação, reservas indíge-
nas, áreas quilombolas, etc.), extração de volumes superiores aos autoriza-
dosnas licenças de exploração, extração de espécies diferentes das especifi-
cadas nas licenças (favorecendo as espécies mais valiosas).

2. Fraudes documentais associadas com o sistema de controle de ma-


deira do governo para criar a documentação necessária para que a madeira
ilegal pareça “oficial”. Isso inclui obtenção de licenças para áreas onde não
haverá exploração (visando unicamente obter créditos usados na lavagem
de madeira roubada); adulterações de inventários florestais para inflacionar
o volume de espécies valiosas autorizadas no sistema; inflação das taxas de
conversão nas serrarias (gerando créditos para permitir a lavagem de madei-
ra ilegal) e adulteração direta do sistema oficial para gerar créditos fictícios
(possível apenas com a assistência de funcionários do governo).

3. Ilegalidades e/ou não-conformidades operacionais nas florestas,


serrarias ou revendedores. Isso inclui contravenções da legislação traba-
lhista (incluindo uso de trabalho escravo), operações sem licenças válidas
esonegação de impostos.

40 Ver também relatório preparado pelo Sindimasp (Sindicato do Comércio Atacadista de Madeiras do Estado de São Paulo) e WWF Brasil, 2012: Comércio
24 de madeira. Caminhos para o uso responsável. Sindimasp (www.sindimasp.org.br).
Os dois primeiros tipos de fraudes (1e2) se comple- 2.3 Meios de Detecção de Fraudes
mentam: a madeira roubada deve ser acompanha-
dade fraudes para criação da documentação exigida Cada um desses tipos de fraude exige diferentes meios
para o seu processamento, transporte e comerciali- de detecção, tais como análise documental, inspeções
zação subsequentes. Com este objetivo, existe um de campo, controles em estradas, imagens de satélite
mercado negro de créditos, vendidos a madeireiras e sensoriamento remoto, e auditorias de empresas e

que não podem justificar certos lotes de madeira. sistemas. (ver Seção 3).

Uma vez que a madeira ilegal entra no sistema ela


Um primeiro passo envolve a consulta direta às listas de
adquire um falso verniz de legalidade de difícil detec-
infrações e embargos impostos pelas agências ambien-
ção, mesmo por órgãos fiscalizadores, funcionários
tais estaduais e federais41. No entanto, por definição,
aduaneiros e do governo.
essas listas restringem-se a infrações já detectadas, en-
quanto que grande número de ilegalidades passa des-
O terceiro tipo de fraude – relacionado a irregulari-
percebido por agências ambientais ou só vêm a ser de-
dades operacionais, não é necessariamente associado
tectada sem um estágio posterior. É necessário conduzir
ao roubo de madeira. Mas, frequentemente, aqueles
análises de risco das operações florestais que ainda não
que comercializam madeira ilegal também não se ade-
foram autuadas pelo governo para assegurar que este-
quam a outros aspectos legais. Além disso, indivíduos
jam em conformidade com as leis ambientais.
e empresas envolvidos em operações ilegais com fre-
quência também estão envolvidos em outras ativida- A falta de transparência e o acesso limitado a informações
des irregulares. Essa correlação permite a detecção de contidas em bancos de dados oficiais, no entanto, restringe
exploração ilegal de madeira através da investigação a possibilidade de análise de risco e aumenta o potencial
do histórico das partes envolvidas e de sua atuação no para fraude. Apesar de nenhum dos sistemas oficiais
passado ou em outras operações florestais. permitirem acesso irrestrito à informação capturada,

41 Sistemas de consulta estão disponíveis nos sites das Secretarias de Meio Ambiente estaduals (SEMAs e OEMAs) e do Ibama (https://servicos.ibama.gov.
br/ctf/publico/areasembargadas/ConsultaPublicaAreasEmbargadas.php)
25
alguns sistemas estão aumentando a transparência e
gama de informações disponibilizadas publicamente
(por exemplo, a nova versão Sisflora 2, do Pará, oferece
mais informação sobre as cadeias de custódia). Por outro
lado, o sistema DOF ainda precisa prover muito mais
transparência, já que muito pouca informação capturada
pelo sistema está disponível ao público.

A aplicação das leis de forma cada vez mais rigorosa por


certos países (ex., EU Timber Regulation e US Lacey Act
2008) exige que comerciantes e operadores conduzam
suas próprias auditorias (due diligence) da madeira que
importam para esses mercados42. No entanto, a capaci-
dade de conduzir estas avaliações é dificultada por uma
série de entraves. Em primeiro lugar, nem todos os dados
reunidos nesses sistemas estão disponíveis ao público,
dificultando processos individuais de verificação. Talvez
mais preocupante é o fato de que, mesmo quando os
dados e documentos estejam acessíveis, estes muitas ve-
zes estão contaminados pelos tipos de fraudes mencio-
nados acima. Essas fraudes são de difícil identificação e
tornam inúteis os resultados de verificações (due diligen-
ce) realizadas de forma individualizada. •

42 O US Lacey Act exige que compradores de madeira tomem os devidos cuidados (due care) na escolha de fornecedores de produtos de madeira a
serem importados para os EUA (https://www.fws.gov/international/laws-treaties-agreements/us-conservation-laws/lacey-act.html). Da mesma forma, a
Pedro Guinle

EU Timber Regulation exige que operadores (importadores de madeira) conduzam avaliações de risco e due diligence da origem de sua madeira (http://
26 www.euflegt.efi.int/home).
“ A falta de transparência e o
acesso limitado a informações
contidas em bancos de dados
oficiais restringe a possibilidade
de análise de risco e aumenta o


potencial para fraude.
Pedro Guinle

27
Tabela 2: Resumo dos principais tipos de fraude cometidos por produtores de madeira na
Amazônia brasileira, seus níveis de impacto e meios de detecção.

Nível de impacto
Tipos de fraude Nível de dificuldade e meio de detecção
nas florestas
A exploração ilegal é de detecção relativamente
fácil, através, por exemplo, de análise de imagens de
Roubo de madeira (exploração florestal ilegal satélite. Uma vez que a madeira ilegal ingressa no
em áreas não autorizadas) sistema oficial, sua detecção é muito mais difícil. Sua
Exploração em áreas sem autorização de identificação exige:
Alto
exploração (sem AUTEX ou AUTEF), exploração • Verificação de campo
dentro de Unidades de Conservação, Reservas • Inspeção durante transporte (controles em estradas)
Exploração
Indígenas, Áreas Quilombolas • Monitoramento do processo degeração e
florestal ilegal e
comercialização de créditos ilegais para lavagem de
roubo de madeira.
madeira ilegal.
Requer a aquisição
de créditos ilegais
Exploração florestal ilegal em áreas autorizadas Mais difícil de detectar remotamente.
para entrar no
Execução irregular do Plano de Manejo Florestal, Identificação exige:
mercado.
resultando em: • Verificação de campo
• Extração de volumes superiores aos aprovados, Médio • Inspeção durante transporte
geralmente favorecendo espécies valiosas a Alto
(controles em estradas)
• Substituição de espécies de baixo valor por • Monitoramento do processo de geração e
espécies valiosas, dentro dos limites aprovados comercialização de créditos ilegais para lavagem
de madeira ilegal.

Plano de Manejo Florestal (PMF) aprovado


somente para geração de créditos
PMF aprovado mas nunca implementado
(usados apenas para gerar créditos). Requer o • Análise de imagens de satélite
envolvimento ou negligência de funcionários de
• Verificação de campo de PMFs aprovados
órgãos governamentais. Dois tipos são comuns: Alto
• Verificação de rotas de transporte (i.e.,
Fraudes • PMFs em áreas com florestas já exploradas
rotas incoerentes)
documentais • PMFs para florestas que nunca serão exploradas
relacionadas ao (geralmente em áreas de difícil acesso e/ou
manejo florestal. distantes de unidades de processamento)
Gera créditos ilegais
para ‘lavagem’ de
madeira ilegal

Inventários florestais fraudulentos


Médio • Análise de inventários comparando os volumes
Inventários com volume exagerado de espécies
a Alto de madeiras valiosas com médias regionais
valiosas, usados para ‘lavagem’ de madeira
• Verificação de campo
adquirida de outras fontes

28
Nível de impacto
Tipos de fraude Nível de dificuldade e meio de detecção
nas florestas
Inflação das taxas de conversão durante
processamento na serraria
Taxa de conversão exagerada, permitindo que as serrarias utilizem
menor quantidade de créditos para produzir a mesma quantidade Auditoria in situde serrarias
Fraudes de madeira processada. Os créditos“poupados” podem então ser • Verificação de balanço de massa de GFs
documentais usados para acompanhar madeira ilegal. Esse é um dos tipos de Alto relativo a estoques adquiridos e vendidos
relacionadas ao fraude mais comuns, porque é facilitado pelo sistema de controle. • Maior transparência do sistema de controle
Embora o impacto absoluto dessa fraude seja médio (ex., uma oficial aumentaria a possibilidade de detecção
processamento
inflação de 30% na taxa de conversão), sua frequente ocorrência cria
e revenda. Gera
um alto impacto cumulativo.
créditos ilegais
para ‘lavagem’ de Fraude associada a comercialização (vendas não declaradas) Auditoria de contas de serrarias e de
madeira ilegal A serraria não emite GFou DOF em uma venda de madeira e
compradores
guarda os créditos para justificar madeira obtida de origens Limitado
• Controles em estradas para inspeção de
ilegais ou para vendê-los a terceiros. Isso também resulta em
documentos de transporte de madeira
evasão fiscal.

Fraude direta/adulteração do sistema oficial de controle


de madeira (DOF ou Sisflora)
Informação inserida ilegalmente no sistema para: • Auditoria de sistemas de controle governamentais
Fraudes
• gerar créditos fictícios nas contas de empresas e das empresas, comparando dados digitados no
documentais Limitado
madeireiras ou serrarias sistema com a documentação correspondente
relacionadas a Alto
• criar florestas ou serrarias fictícias • Melhor transparência do sistema de controle
ao sistema de
Requer o envolvimento de funcionários de órgãos oficial para aumentar as oportunidades de detecção
controle ou ao
governamentais. Embora esse tipo de fraude não seja
transporte. Gera
frequente, o impacto de casos individuais é muito alto.
créditos ilegais
para ‘lavagem’ de
Duplicação de créditos em vendas interestaduais
madeira ilegal Créditos são cancelados depois da entrega, como se a • Conciliação entre diferentes sistemas de
Limitado
venda não tivesse ocorrido. Os créditos são poupados controle oficiais
para uso posterior.

Contravenções da legislação trabalhista Auditoria in situde operações florestais e serrarias


Violações de legislação trabalhista, incluindo uso de • Violações constatadas estão relacionadas na
trabalho escravo. Reduz os custos operacionais, criando Sem impacto
lista de trabalho escravo do Ministério do Trabalho,
desvantagem desleal para operadores que se adequam à em florestas
disponível em :
legislação trabalhista. No caso de trabalho escravo, consiste
www.reporterbrasil.org.br/listasuja/resultado.php
Contravenções em violação grave e intolerável de direitos humanos.
e irregularidades
operacionais. Contravenções da legislação florestal e ambiental • Auditoria in situde operações florestais e
Não
Não envolvem Ex., operações (florestas ou serrarias) com autorizações serrarias
necessariamente
exploração ilegal ou licenças operacionais vencidas, florestas não • Irregularidades confirmadas são listadas por
impacta as
ou geração de inscritas no Cadastro Ambiental Rural (CAR)e órgãos federais (Ibama, www.ibama.gov.br) ou
florestas
créditos ilegais irregularidadesrelacionadas à regras operacionais. secretarias estaduais de meio ambiente (SEMAs)

Evasão fiscal • Auditoria de contas de serrarias e de compradores


Sem impacto
A serraria não emite GF ou DOFcorrespondente às vendas
em florestas • Controles em estradas para inspeção de
ou declara preços inferiores para reduzir a carga tributária.
documentos de transporte de madeira
29
Meios de detecção e
3. prevenção de ilegalidade

Idealmente, a melhor forma de garantir que a produ- sistemas podem se tornar eficazes para o controle
ção comercial da madeira se adeque às leis e regula- e administração da produção comercial de madeira.
mentosde um país seria através da adoção e aplica- Em paralelo, os governos devem se empenhar para
ção de sistemas oficiais de controle, monitoramento que as leis sejam efetivamente cumpridas e que as
e garantia de legalidade de madeira. Esses deveriam penalidades decorrentes de seu não cumprimento
ser utilizados por todas as empresas e atores envol- sejam devidamente aplicadas.
vidas no setor e monitorado por agencias governa-
mentais. O acesso a recursos florestais é regulamen- Em muitos países tropicais, porém, esses sistemas são
tado por legislação e regras especificas na maior inexistentes ou ineficientes (Ver Seção 2 para discus-
parte dos países do mundo, e seu controle e monito- são sobre o Brasil). Operadores que compram madei-
ramento geralmente envolve uma extensa e diversa ras de países com controles deficientes ou aplicação
gama de documentos relacionados a cada etapa do insatisfatória da lei precisam adotar meios alternati-
processo de obtenção de licenças, extração, trans- vospara garantir que seus fornecedores obedeçam a
porte, processamento e comercialização de produtos padrões mínimos, cumpram com leis locais e interna-
madeireiros. Quando toda essa documentação é reu- cionais, e que sua produção não resulte em impactos
nida em bancos de dados integrados e digitais, esses socio ambientais indesejáveis.

Diferentes abordagens têm sido utilizadas para rastrear as origens de produtos de madeira e examinar a
legalidade dos mesmos, incluindo:

Auditorias de Campo Sistemas e Tecnologias


Sensoriamento Remoto
e Inspeções Pontuais de Rastreabilidade

Esses são abordados em maiores


detalhes nas próximas seções e uma
síntese é apresentada na Tabela 3.
A Tabela 4 compara as vantagens e
Plataformas de Informação Análise de grande base
30 da Cadeia de Custódia de dados (big data) desvantagens de cada abordagem.
Tabela 3: Síntese de abordagens usadas na rastreabilidade da madeira e/ou detecção de ilegalidade

Tipos Descrição Vantagens Limitações

• Baixa tecnologia
• Custo médio
• Custos superiores a algumas alternativas
Verificações de legalidade • Flexibilidade e abrangência (auditorias
Auditorias e • Não permitem economias de escala
baseadas em auditorias podem ser conduzidas em qualquer lugar,
verificações
de campo em operações sob demanda) • Não permitem monitoramento contínuo
de campo
florestais e serrarias. • Restritas a produtores específicos
• Permite a verificação da qualidade do
manejo, o que é uma exigência legal em • Demandam recursos humanos e tempo
alguns países

Uso de identificadores para


• Geralmente restritas a um subconjunto
acompanhar ou identificar a origem
de agentes de mercado que adotam essa
de produtos de madeira: ex., códigos • Potencialmente tem grande precisão tecnologia
Tecnologias para de barra ou QR codes; chips de
• Potencialmente utilizável em larga escala • Podem ser onerosas ou requerer custos
rastreabilidade computador e RFDI; rastreamento de
(algumas oferecem economias de escala) de implantação elevados
caminhões com GPS; análise de DNA,
isótopos ou anatomia da madeira; uso (com potencial para economias de escala)
de marcadores Stardust

Uso de identificadores para


acompanhar ou identificar a origem • Geralmente restritas a um
• Potencialmente tem grande precisão
de produtos de madeira: ex., códigos subconjunto de agentes de mercado que
• Potencialmente utilizável em larga adotam essa tecnologia
Sensoriamento de barra ou QR codes; chips de
escala (algumas oferecem economias
remoto computador e RFDI; rastreamento de • Podem ser onerosas ou requerer custos
de escala)
caminhões com GPS; análise de DNA, de implantação elevados
isótopos ou anatomia da madeira; uso (com potencial para economias de escala)
de marcadores Stardust

• Útil para monitoramento de áreas extensas


• Pode ser feito à distância, sem necessidade • Geralmente restritas a universos
de visitas de campo restritos de agentes do mercado que
Plataformas Uso de imagens de satélites, adotam esta tecnologia
• Útil na detecção de degradação florestal
de informação drones, sensores LIDAR, etc., para • Muitas vezes dependentes de dados
associada à exploração madeireira,
de cadeias de monitoramento de florestas e autodeclarados pelos próprios produtores
desmatamento e/ou incêndios
custódia explorações florestais. (confiabilidade reduzida)
• Pode oferecer cobertura contínua e alertas
• Dados de melhor qualidade podem
em tempo real
resultar em maiores custos
• Permite economia de escala

Análise de múltiplos e extensos bancos


Dependendo dos dados disponíveis, pode
de dados com informações relativas
ser abrangente em termos de: • Uso intensivo de dados, e dependente
a exploração florestal, transporte,
• Universo de atores monitorados de transparência de informações
Análise de processamento e venda de madeira (ex.,
• atividades incluídas (exploração • Implementação inicial é sofisticada e
Big Data documentos, imagens de satélite, dados
madeireira, transporte, processamento) custosa, mas a tecnologia é altamente
geográficos), para identificar tendências
• período de verificações (i.e., pode ser escalável
e padrões baseados em grandes números
contínua e fornecer alertas em tempo real)
de cruzamentos de dados

31
3.1 Auditorias e verificações de campo pico ou setor, independentemente da parte sujeita à
auditoria ter adotado previamente qualquer padrão,
Auditoria de campo é a prática mais tradicional de sistema de controle ou tecnologia. As partes interes-
verificação de operações de exploração e processa- sadas podem conduzir ou indicar auditores indepen-
mento de madeira. Auditores independentes visita- dentes para verificar quaisquer tipos de operações a
mos diversos componentes e etapas de operações qualquer momento. Dependendo de sua finalidade,
florestais para verificar se essas estão em conformi- no entanto, auditores precisam possuir as qualifica-
dade com as regras, regulamentos e padrões espera- ções e credenciamentos necessários. As observações
dos, incluindo práticas de campo, atividades nas fá- e conclusões de auditorias, por sua vez, podem se
bricas, assim como seus cadastros e documentação. destinar a usos meramente internos, adequação à le-
gislação (ex., EU Timber Regulation, US Lacey Act), ou
O escopo de uma auditoria varia de acordo com as declarações para o mercado (ex., Certificação FSC).
necessidades da parte contratante, desde verificação
de cadeia de custódia e legalidade até a adequação- Embora auditorias de campo ofereçam um alto nível
aos padrões de sustentabilidade socioambientais43 de confiança em relação à sua capacidade de verifi-
ou diretrizes para compras responsáveis44. Uma sé- cação de legalidade de operações florestais, existem
rie de organizações oferece esses serviços, incluindo críticas quanto ao excesso de credibilidade atribuído
empresas de verificação independente do setor pri- a essa abordagem. Auditorias de campo são condu-
vado ou sociedade civil45. zidas em um intervalo de tempo determinado (i.e.,
inspeções pontuais, não contínuas) e portanto são
A verificação de campo tem a vantagem de ser potencialmente limitadas na sua capacidade de de-
“prontamente disponível”e adequável a qualquer tó- tectar não-conformidades que possam ocorrerem

43 Ex., FSC (www.fsc.org) ou PEFC (www.pefc.org). pdf). Ver também relatório da Proforest, 2016: Madeira licenciadas da FLEGT e
políticas de aquisição de estados membros da UE, (www.proforest.net/en/pu-
44 Ex., diretrizes de compra responsável do setor privado (ex., Nestlé), o blications/flegt-licensed-timber-and-eu-member-state-procurement-policies).
antigo CPET - Central Point of Expertise on Timber - do governo do Reino
Unido (https://www.gov.uk/government/groups/central-point-of-expertise-on- 45 Ex., Rainforest Alliance (www.rainforest-alliance.org), Proforest Initiati-
-timber), ou diretrizes para aquisição de madeira legal da Caixa Econômica ve (www.proforest.net), NepCon (www.nepcon.net), ou Imaflora
32 Federal (http://www.caixa.gov.br/Downloads/sustentabilidade/guia_caixa. (www.imaflora.org).
outros períodos. Pelo mesmo motivo, podem haver
grandes intervalos entre a ocorrência de uma infra-
ção e sua posterior detecção em uma auditoria. Seus
custos são também relevantes–visitas de campo re-
querem pessoal, logística e tempo para serem ade-
quadamente conduzidas. Além disso, a economia de
escala é pequena ou inexistente (ou seja, os custos
de auditoria de um grande conjunto de fornecedo-
res não são significativamente mais baixos do que
os custos de auditoria de um produtor individual),
sendo de difícil escalabilidade econômica.

Uma forma de aumentar o número e frequência de


inspeções de campo a custos acessíveis é envolver
agentes locais na execução de auditorias, reduzindo
os custos de logística e transporte. Essa é a abordagem
utilizada pela FLEGT para seus Monitores Independen-
tes (IMs) – ONGs locais que realizam monitoramento
e geram alertas46. Embora essa abordagem aumente
o alcance e detalhamento do monitoramento com
menores custos, é difícil assegurar a consistência dos
resultados entre grupos diversificados de monitores.

46 O Programa FLEGT da UE adota a abordagem de utilização de Moni-


Theodoros Douloumpekis

toramento Independente de Governança e Aplicação de Lei Florestal (Inde-


pendent Monitoring of Forest Law Enforcement and Governance, IM-FLEG),
através de redes de auditores independentes, geralmente ONGs locais ou
regionais (ver, por exemplo, REM, 2010: Monitoramento independente: um
manual prático. Em: www.fao.org/sustainable-forest-management/toolbox/
tools/tool-detail/en/c/218011/) 33
3.2 Sistemas de rastreabilidade
baseados em novas tecnologias

Diversas tecnologias tem sido utilizadas ou testadas para rastrear ou identificar as origens de madeira, podendo
fazer parte da verificação de adequação à legalidade. Suas aplicações, eficiências e custos variam:

• Códigos de Barra ou QR Codes – baseados em eti- • GPS (geographical positioning systems – sistema
quetas afixadas a árvores individuais. As etiquetas acom- de posicionamento geográfico) – quando fixado em
panham as toras e, em alguns casos, a madeira serrada, carretas, possibilita o rastreamento preciso de rotas usa-
ao longo da cadeia de custódia. Os códigos contêm in- das para o transporte da madeira;
formação que pode ser lida por partes autorizadas, possi-
bilitando avaliação rápida do produto e comparação com • Stardust (www.stardustus.com) – um talco de alta
informações existentes em registros oficiais. Um sistema durabilidade, que é pulverizado sobre produtos e pode
de QR Code foi recentemente adotado pelo Serviço Flo- ser detectado por um leitor eletrônico. Está sendo tes-
restal Brasileiro para o controle de madeira proveniente tado para o controle de fluxo de madeira48;
de concessões florestais47;
• Análise de DNA, isótopos estáveis, anatomia da
• Chips de computador e Identificadores de Frequ- madeira e de fibras – podem ser utilizados para iden-
ência de Rádio (RFID) – semelhantes aos códigos de tificar com precisão espécies, populações específicas ou
barras, mas com maior capacidade de armazenar infor- plantas individuais, desde que uma amostragem gené-
mações. RFIDs podem ser lidas a distância; tica seja realizada preliminarmente49.

• TreeTAG (www.earthobservation.com) – um novo


sistema de rastreabilidade de produtos, utilizando
smartphones, que segue a localização de toras trans-
portadas da floresta à serraria;

47 O sistema, desenvolvido pelo Serviço Florestal Brasileiro, rastreia a 48 Ver WRI, 2016: www.wri.org/blog/2016/05/5-technologies-help-
madeira extraída de concessões federais no Brasil, e os QR Codes podem thwart-illegal-logging-tracing-woods-origin
ser lidos por aplicativos Android (www.florestal.gov.br/snif/noticias-do-sfb/
servico-florestal-brasileiro-lanca-aplicativo-para-consulta-da-rastreabili- 49 WRI, 2014:http://www.wri.org/blog/2014/03/4-actions-companies-
dade-da-madeira-das-concessoes). can-take-source-legal-wood

34
A maior parte destas tecnologias requer procedimentos 3.3 Sensoriamento remoto
prévios (por exemplo, rotulando troncos e toras com có-
digos de barras) que geralmente envolvem altos custos O sensoriamento remoto de florestas, através de análise
de implementação (ex., desenvolvimento do sistema, de imagens de satélite ou fotografias aéreas tiradas de
implementação inicial, manutenção e treinamento). Por aviões ou veículos autônomos programáveis (drones),
outro lado, estas tecnologias geralmente podem apre- reduz a necessidade de visitas de campo e pode ser
sentar ganhos escaláveis, com menores custos unitários usado no monitoramento de atividades florestais. Seu
após o investimento inicial em sua instalação. uso é particularmente útil para o monitoramento da
adequação das atividades de exploração florestal e na
Em alguns casos, a utilidade de certas tecnologias pode identificação de focos de desmatamento e degradação
ficar restrita ao universo de usuários que adotaram a florestal (incluindo exploração madeireira ilegal).
tecnologia (ex.,códigos de barra ou chips). A menos
que a utilização de tais tecnologias seja imposta ao uni- Embora a informação obtida através da análise de ima-
verso total de produtores de um país ou região, elas gens de satélite tenha limitações, o uso de drones está
só serão capazes de rastrear madeira de fontes que se tornando mais acessível e pode oferecer informação
as adotaram, enquanto que a madeira de fonte ilegal mais detalhadas a custos competitivos. Quando asso-
se diluirá no universo de produtores que não teve que ciado a novos sensores, tais como o LIDAR (Light De-
adotar a tecnologia. tection and Ranging), é possível capturar muito mais
informações que possibilitem realizar análises tais como
Outra limitação refere-se a abrangência da capacidade volume de biomassa, composição de espécies, etc.
de detecção da própria tecnologia, que pode ser res-
trita a aspectos específicos de alguma das etapas do Apesar do alto custo inicial para o desenvolvimento de
processo de extração, conversão e comercialização de um sistema de informações geográficas (GIS) e sen-
produtos de madeira (por exemplo, o GPS se concen- soriamento remoto, essa tecnologia está se tornando
tra no transporte, a análise de DNA na identificação de cada vez mais acessível e é altamente escalável, com
espécies). Seu uso, portanto, precisa ser complementa- redução considerável de seus custos de operação.
do com outras medidas para oferecer um quadro mais Embora o desenvolvimento desta tecnologia exija co-
completo da legalidade dos produtos. nhecimento especializado, a informação adquirida por

52 Ver sistema DETER, do Siscom do IBAMA (http://siscom.ibama.gov.br/ facilitando a tomada de decisões relativas a políticas de uso da terra.
painelflex/)
56 Essas incluem, por exemplo, Global Traceability Solutions (www.global-
53 www.globalforestwatch.org/map -traceability.com), Food Reg (www.foodreg.com), TFT Sure (www.tft-earth.
org), Track Record (www.trackrecordglobal.com), Ata Marie (www.ata-marie.
54 www.imazongeo.org.br/imazongeo.php com), e Blue Numbers (www.bluenumber.org).

55 MapBiomas (http://mapbiomas.org) é uma iniciativa que objetiva produzir 57 Por exemplo, GCP’s Forest 500 (http://forest500.org), Forest Trends’ Supply
mapas do uso da terra no Brasil, de alta qualidade, atualizados anualmente, Change (www.supply-change.org). 35
sensoriamento remoto hoje é fornecida por muitas or- 3.4. Supply Chain Information Platforms
ganizações de forma acessível e geralmente gratuita
(ex., Google Maps, INPE e IBAMA para imagens e ma- Plataformas de informação de cadeias de custódia
pas relativos ao Brasil). A plataforma do Global Forest foram criadas por organizações da sociedade civil e
Watch, que reúne imagens de múltiplas origens e ofe- empresas privadas para auxiliar os compradores de
rece alertas tais como perda de cobertura florestal, foi commodities na identificação da cadeia de custódia
desenvolvida especificamente para o monitoramento e das origens dos produtos por eles adquiridos56.
de florestas em todo o mundo. Para a região amazô- Algumas plataformas também objetivam oferecer
nica, o Imazon desenvolveu e mantém o Sistema de transparência no desempenho socioambiental das
Alerta de Desmatamento – SAD, que monitora men- empresas envolvidas57, ou disseminar informação e
salmente a degradação florestal na Amazônia brasi- orientação para mitigar riscos de ilegalidade nas ope-
leira54 e a iniciativa MapBiomas55 foi desenvolvida por rações envolvidas na cadeia de custódia58.
uma rede colaborativa de organizações.
Muitas dessas plataformas são preenchidas colaborati-
Embora o uso de sensoriamento remoto seja muito útil vamente com dados oriundos dos próprios participan-
para identificação e/ou monitoramento de operações tes do mercado, objetivando ligar produtores a com-
florestais, esta tecnologia precisa ser usada em combi- pradores numa cadeia59. Quanto maior a quantidade
nação com outras fontes de informação para permitir a de dados colocados no sistema, maior a possibilidade
rastreabilidade e controle de madeira legal. de cruzamentos de dados e verificações, tornando mais
robusta a informação gerada. Se usadas em combina-

54 www.imazongeo.org.br/imazongeo.php Sustainable Forest Products (www.sustainableForestProducts.org), WWF’s


Global Forest & Trade Network (GFTN - http://gftn.panda.org), FSC’s Global
55 MapBiomas (http://mapbiomas.org) é uma iniciativa que objetiva produ- Forest Registry (www.globalforestregistry.org), Earthsight’s Timber Investi-
zir mapas do uso da terra no Brasil, de alta qualidade, atualizados anualmen- gator (www.timberinvestigator.info). Para o Brasil, ver os guias “Comércio
te, facilitando a tomada de decisões relativas a políticas de uso da terra. de madeira: Caminhos para o uso sustentável” preparado pelo WWF Brasil
e Sindimasp (Sindicato do Comércio Atacadista de Madeiras do Estado de
56 Essas incluem, por exemplo, Global Traceability Solutions (www. São Paulo), e “Aquisição responsável de madeira na construção civil. Guia
global-traceability.com), Food Reg (www.foodreg.com), TFT Sure (www. prático para as construtoras”, elaborado pela Sinduscon (Sindicato da
tft-earth.org), Track Record (www.trackrecordglobal.com), Ata Marie (www. Indústria da Construção Civil no Estado de São Paulo).
ata-marie.com), e Blue Numbers (www.bluenumber.org).
59 Ex., a ferramenta da Farm Sustainability Assessment - FSA (www.
57 Por exemplo, GCP’s Forest 500 (http://forest500.org), Forest Trends’ youtube.com/watch?v=dt_NssuOIko, www.fsatool.com) desenvolvida pelo
Supply Change (www.supply-change.org). International Trade Centre ITC (www.intracen.org) e a Sustainable Agricul-
ture Initiative (www.saiplatform.org).
36 58 Ex., Forest Legality Alliance (www.forestlegality.org), WRI e WBCSD’s
ção com outras abordagens, essas plataformas podem Garantir a participação nessas plataformas podeser pro-
ser muito eficazes. blemático: a menos que haja incentivos para tanto, a
informação fornecida pode ser parcial e não atualizada.
Embora o uso de plataformas de informação possa Por outro lado, se os dados precisam ser inseridos nas
ser útil, existem certas limitações. Em primeiro lugar, a plataformas por consultores ou auditores, os custos ini-
maioria delas não inclui o universo total de produtores, ciais de implementaçãodo sistema acabam sendo muito
mas apenas um subgrupo daqueles que tem alguma altos e a atualização desses dados se torna inviável.
relação comercial com os atores que promovem a plata-
forma (ex., grandes compradores ou seus consultores). Por fim, plataformas de informação de cadeias de cus-
Isso restringe a capacidade de análise da legalidade de tódia tendem a se focar nos fornecedores de certos
produtos de outras origens ou, no caso da madeira, de mercados, ao invés do rastreamento de produtos ao
serrarias que recebem madeira de origens diversas. Em longo da cadeia de custódia. No caso da madeira, há
segundo lugar, como essas plataformas se baseiam em o risco de materiais de origens ilegais ‘contaminarem’
dados auto declarados, estão sujeitas a manipulação e a madeira legal nas serrarias. Uma única serraria, por
as informações relacionadas à legalidade e padrões de exemplo, pode fornecer lotes legais e ilegais de produ-
sustentabilidade podem não ser confiáveis. Por esses tos, dependendo da fonte de madeira que utilizou. Isso
motivos, essas plataformas são geralmente utilizadas exige que se dê atenção aos lotes individuais de madei-
em conjunto com auditorias de campo, focando-se em ra ao invés do foco em produtores e fornecedores.
participantes de maior risco.

37
3.5. Análise de Big Data dências nos setores agrícola e florestal. Por exemplo, um
sistema de informação baseado no universo completo de
A analise de big data basea-se na utilização de grandes Guias Florestais (GFs) está sendo desenvolvido pelo Ima-
volumes de dados que são cruzados para obtenção de flora para permitir a visualização de tendências e estatís-
padrões e informação60. Seu uso pode ser estendido ticas relacionadas ao fluxo de madeira no Estado do Pará.
para o rastreamentode cadeias de custódia e detectar A Plataforma de Transparência Transformativa (Transfor-
ilegalidades e/ou irregularidades potenciais. mative Transparency Platform)61, por sua vez, utiliza da-
dos de produção e declarações de embarque portuário
A análise de big data pode ser usada para detectar ten- (bills of lading), associados a sofisticados algorítmos62,
dências e informações ocultas derivadas de amplas ba- para mapear as cadeias de custódia de commodities do
ses de dados. Por exemplo, uma série de fraudes pode ponto de produção ao país de consumo (Ver Figura 1).
ser detectada através do cruzamento de dados para
identificar inconsistências e correlações ocultas. Gran- Os custos iniciais de implementação destes sistemas po-
des bases de dados alfanuméricos podem ser combina- dem ser altos, mas a tecnologia é de grande escalabilidade.
das com informações obtidas através dos outros meios Desde de que os dados requeridos se encontrem disponí-
citados anteriormente (sensoriamento remoto, tecnolo- veis em formato digital (preferencialmente online), é possí-
gias e plataformas), para criar ferramentas importantes vel obter grandes quantidades de dados a custos relativa-
para rastreabilidade e detecção de ilegalidade. mente baixos. Dada a redução da necessidade de visitas de
campo ou de tecnologias mais onerosas, tais como análise
Sistemas de análise de grandes bases de dados vem sen- de DNA ou chips, o custo do uso de análise de big data
do desenvolvidos para obter informações e visualizar ten- pode se provar mais econômico que outras alternativas.

60 https://en.wikipedia.org/wiki/Big_data. 62 Ver:
• Godar, J., Martin Persson, U., Jorge Tizado, E. and P. Meyfroidt, 2015: Towards
61 A Transformative Transparency Platform (http://ttp.sei-international. more accurate and policy relevant footprint analyses: Tracing fine-scale socio-
org) foi desenvolvida pelo Stockholm Environmental Institute (www.sei- environmental impacts of production to consumption. Ecological Economics
international.org), Global Canopy Programme (http://globalcanopy.org) e o 112 (2015) 25–35.
European Forestry Institute (www.efi.int/portal) e já conta com dados para
a análise de cadeias de custódia de soja brasileira e café colombiano. A • Godar, J., Suavet, C., Gardner, T.A., Dawkins, E., and P. Meyfroidt, 2016: Bal-
plataforma está sendo adaptada para incluir fluxos de madeira amazônica, ancing detail and scale in assessing transparency to improve the governance of
agricultural commodity supply chains. Environmental Research Letters (2016).
38 em colaboração com a BVRio.
Outra vantagem é que estes sistemas podem ser desen- É importante considerar que, muitas vezes,os dados co-
volvidos para incluir 100% do universo de participan- letados são de qualidade ou veracidade questionáveis,
tesdo mercado, fornecendo cobertura total e se benefi- incluindo dados forjados ou fraudulentos. Sistemas de
ciando da capacidade de conduzir um vasto número de triagem são necessárias para fazer a curadoria dos da-
cruzamentos de informações. Dependendo da frequên- dos antes de sua utilização. Por outro lado, quando se
cia de coleta de dados, a informação pode ser atualiza- identifica a ocorrência de dados falsos, essa informação,
da continuamente para oferecer alertas em tempo real. por si só, já é útil para a caracterização de irregularida-
des, que podem ser confirmadas com testes adicionais.
Uma restrição ao uso Informações duvidosas aumentam o risco do produtor

desta abordagem é o em questão que, por sua vez, tem o ônus de demonstrar
sua legitimidade. Essa é a abordagem usada pela BVRio,
acesso aos dados. descrita em maiores detalhes na próxima seção. •

Em muitos países, incluindo, em certa medida, o Brasil,


há falta de transparência nos sistemas oficiais, o que
restringe a capacidade de obtenção de informações pu-
blicas e a análise de dados. Em outros países, a infor-
mação pode simplesmente não existir, não ser coletada
sistematicamente ou não estar disponível em formato
digital. Todos esses fatores aumentam os custos e redu-
zem a eficiência destes sistemas.

39
Figura 1: TransformativeTransparency Platform mostrando a cadeia de suprimento de madeira do Estado do Pará.
Módulo desenvolvido com a BVRio.

40
Table 4. Advantages and disadvantages of different approaches used to detect or prevent timber illegality
(See Section 2 for discussion of types of fraud)

Capacidade de Detecção

Custo de Abrangência Exploração Fraude no Fraude no Fraude no Contravenções e


Custo unitário transporte
Tipos implementação (universo de atores ilegal e roubo manejo da processamento irregularidades
por uso e sistema
do sistema monitorados) de madeira floresta e revenda operacionais
informático

Auditorias e 3 3

verificações
de campo Baixo1 Médio a Alto Alto2

Tecnologias de Rastreabilidade:
8 9 9 9 10

Etiquetas4
Médio e Alto5 Baixo2 Medio7

9 9 9 9 10
Marcadores
genéticos11 Alto12 Alto12 Medio13

GPS
Medio Medio Medio13

Sensoriamento
Remoto14 Alto15 Baixo16 Muito Alto 17

Plataformas 20 20
de informação
de cadeias de Medio18 Baixo Medio19 Medio20 Medio20
custódia
24 24 24 24 24
Análise de
Big Data Medio21 Baixo22 Muito Alto23

Notes:
1: Não requer adoção de sistema por parte da parte monitorada. 13: Restrito ao grupo que adota a tecnologia.
2: Restrita aos indivíduos monitorados. 14: Inclui imagens de satélite, fotografias aéreas com drones ou aviões.
3: Dependendo do escopo da auditoria, alguns desses aspectos podem não 15: Dependendo das especificações do sistema, pode ser muito onerosa.
ser detectados.
16: Uma vez implementado, o custo de utilização é muito baixo.
4: Inclui código de barras, QR codes, chips, TreeTag, Stardust.
17: Uma vez implementado, pode abranger amplas áreas geográficas a
5: Requer esforço e custos significativos para implementação. custos relativamente baixos.

6: Após implantação, o custo unitário tende a ser baixo. 18: Para atingir nível satisfatório de cobertura e completude, essas platafor-
mas requerem esforços consideráveis.
7: Restrito ao grupo que adota a tecnologia (ex, aqueles que usam códigos
de barras). 19: Abrangência de difícil obtenção, geralmente permanece incompleta.

8: As tecnologias de etiquetagem não permitem a detecção de corte ilegal 20: Por serem geralmente auto-declaratórias, têm pouca capacidade de
detecção. Alguns tipos de fraudes não estão cobertos.
fora das florestas controladas.
21: Implantação do sistema requer alto esforço de captura de dados, elabo-
9: Essas tecnologias permitem o rastreamento da madeira, mas não possibili- ração de algorítimos, programação e automação.
tam detectar fraudes que acontecem na própria operação.
22: Uma vez implementada, custos de uso bem reduzidos.
10: Não previne nem identifica contravenções operacionais.
23: Até 100% do universo de atores monitorados.
11: Inclui marcadores de DNA, isótopos estáveis, anatomia da madeira e de fibras.
24: Dependendo da disponibilidade de dados, esses sistemas podem abran-
12: Elevados custos de implantação e custos unitários. ger todos os aspectos analisados. 41
4. Metodologia da BVRio

O Sistema de Due Diligence e Avaliação de Risco da


BVRio tem o objetivo de ajudar produtores e comercia-
lizadores de produtos florestais a demonstrar a legali-
dade da madeira comercializada. Por enquanto restrito
à Amazônia brasileira, o sistema está sendo adaptado
para outros países e continentes63.

O Sistema de Due Diligence e Avaliação de Risco da


BVRio é um módulo da Bolsa de Madeira BVRio, que
inclui também uma Plataforma de Negociações para a
aquisição de produtos madeireiros de origem legal (ver
Seção 4.7). O objetivo da Bolsa é permitir que comer-
ciantes de madeira possam eliminar a madeira ilegal de
sua base de fornecimento e, através de pressão de de-
manda, ajudar a combater a ilegalidade no setor.

Desde seu lançamento, porém, o sistema de due dili-


gencetem atraído interesse de um leque de usuários
mais amplo do que aqueles que utilizam a plataforma
de negociações (por exemplo, agencias regulatórias
governamentais). Por esse motivo, aplicativos indepen-
dentes foram desenvolvidos para facilitar outros usos
(ex. monitoramento e execução de cumprimento da lei-
por agências ambientais, autoridades aduaneiras eON-
Gs; e análise de risco de ilegalidade de lotes de madeira
por comerciantes de madeira). Os aplicativos de Due Di-
ligence e Avaliação de Risco de Madeira da BVRio estão
disponíveis em versão desktop ou em aplicativos para
os sistemas Android ou iOS 64.

63 A expansão já começou no Oeste da África, com auxílio do programa org. Os aplicativos podem ser baixados no Google Play (https://play.
Forest Governance, Markets and Climate (FGMC) do governo do Reino Uni- google.com/store/apps/details?id=br.com.bvrio.bvriomobile&hl=en) e
do (http://flegt.org/map-of- projects/#search/filtered/donor_countries:GBR). na Mac App Store (https://itunes.apple.com/br/app/responsible-timber/
64 A versão desktop pode ser acessada em http://timber.bvrio. id1059374511?l=en&mt=8).
42
43
4.1 Abordagem O processo de due diligence e avaliação de risco é con-
duzido em dois estágios:
O Sistema de Due Diligence e Avaliação de Risco da BVRio
(o “sistema”) tem o objetivo de auxiliar compradores e co-
merciantes a conduzir a due diligencee avaliação de risco
1. Diariamente, o sistema avalia o status de
de ilegalidade de produtos madeireiros que pretendem
conformidade legal de todas as unidades de
comprar. O sistema examina a origemde madeira e pos-
produção na Amazônia: unidades de manejo
síveis irregularidades, ilegalidades ou não-conformidades
florestal, serrarias, epátios de toras usados para
com exigências legais, ambientais e sociais durante os pro-
estoque e comercialização de madeira. Com
cessos de extração, processamento e transporte.
base nestas análises, as unidades de produção
são classificadas de acordo com o seu nível de
O sistema é baseado na análise de um extenso e cres-
adequação, indo desde aqueles sem qualquer
cente banco de dados, que permite tanto a identifica-
evidência de irregularidades, passando poro-
ção de irregularidades diretas quanto de inconsistências
perações que demonstrem riscos de possíveis
que podem estar associadas a irregularidades ainda não
infrações ou ilegalidades, até aquelas com ile-
manifestadas. Quanto maior o numero de participantes,
galidades comprovadas.
maior será o banco de dados e maior a sua robustez.
O sistema foi projetado para ter cobertura completa de
todos o universo de ‘unidades de produção de madeira’
2. A cada consulta, entra-se a numeração
(manejos e serrarias) na região analisada
das Guias Florestais relacionadas a um lote de
madeira e o sistema de due diligence rastreia
O Sistema de Due Diligence e Avaliação de Risco da
o produto de madeira ao longo das unidades
BVRio analisa:
de produção relacionadas à sua cadeia de cus-
• Legalidade – evidência de riscos de tódia e avalia o status de legalidade ou risco
não adequação a leis, regras e exigências associado com o produto analisado.
legais e socioambientais;

• Inconsistências da cadeia de custódia


Análises são conduzidas para cada lote individual de
– se a cadeia de custódia declarada é consis-
madeira, e não para seus produtores ou fornecedores.
tente com a documentação fornecida;
Muitas cadeias de custódia são complexas, envolvendo
• Aspectos sociais – riscos de não- múltiplos fornecedores e negociantes de madeira com-
-conformidade, ou infração, da legislação prando de múltiplas serrarias, que, por sua vez, adqui-
trabalhista. rem toras de diversas unidades de manejo florestal (com
44
níveis de conformidade variados). Isso significa que um até a irregularidade comprovada (ver Seção 4.3). Re-
resultado positivo para um lote de madeira vendido por latórios são gerados indicando a pontuação desses
uma determinada serraria não garante que o próximo fatores, e permitindo que os usuários possam tomar
lote vendido pela mesma serraria vá atender aos mes- decisões baseadas nas exigências de suas jurisdições.
mos níveis de legalidade e adequação ambiental.
Atualmente, o sistema não conduz análises da quali-
O processo de gestão de risco analisa também o regis- dade das operações de manejo florestal, porque isso
tro histórico de empresas e indivíduos envolvidos na iria requerer auditorias de campo ou análises de sen-
cadeia de custódia. Isso inclui o proprietário da flo- soriamento remoto mais sofisticadas (e ainda incon-
resta, o individuo ou empresa que detém os direitos clusivas). No Brasil, as operações de manejo florestal
de manejo florestal, o engenheiro florestal responsável legais são baseadas em exploração madeireira seletiva
pelo plano de manejo florestal e atividades de manejo, com volumes de extração relativamente baixos (máxi-
assim como os envolvidos com serrarias e depósitos mo de 30 m³/ha a cada 35 anos) se comparados com
de madeiras. Isto permite que o sistema faça avalia- florestas do Sudeste Asiático. Assume-se também que
ções de irregularidades indiretamente relacionadas às os gestores florestais que se adequam às exigências
unidades de produção em questão, que possam criar legais tendem a seguir os principais requerimentos le-
riscos ainda não detectados por agências ambientais. gais de manejo florestal. No futuro, pretende-se con-
duzir auditorias de campo da qualidade das operações
Cada um desses fatores é classificado de acordo com de manejo florestal e confirmar essa hipótese.
seu status de legalidade, indo desde a conformidade
Alexander Lees

45
4.2. Fontes de dados e análises das de 3000 instalações). Dado que aproximadamente 75-
unidades de produção 80% de toda a madeira tropical brasileira é produzida
nesses estados, este banco de dados inicial abrange
O Sistema de Due Diligence e Avaliação de Risco da uma proporção significativa das unidades de extração
BVRio é baseado inicialmente nos dados extraídos dos e processamento da madeira. Menos informação está
documentos legais emitidos pelas autoridades governa- disponível para outros estados, restringindo a extensão
mentais brasileiras relacionados às unidades de produ- de análises que podem ser conduzidas. À medida que
ção, comercialização e transporte de produtos madeirei- mais dados se tornem disponíveis para esses estados,
ros (Ver Seção 2). Isso inclui: estes serão acrescentados ao sistema aprimorando a ca-
pacidade de análise (ver discussão sobre transparência
na Seção 2). A partir destes documentos, uma série
de dados são extraídos:
• Autorizações de Exploração Florestal – AUTEF
e AUTEX;
Autorizações de Exploração Florestal (AUTEF e AUTEX):
• Guias Florestais – GF1 e GF3, usadas nos Es-
tados do Pará e Mato Grosso. Documentos de • Data de emissão
Origem Florestal – DOF, para o restante do país;
• Validade da autorização

• Licenças Ambientais das unidades de manejo


• Localização e coordenadas geográficas da
florestal;
unidade de manejo florestal

• Licenças de Operação - LO de serrarias e depósi- • Proprietário da floresta


tos de madeiras;
• Indivíduo/empresa que detém os direitos de
• Cadastro Ambiental Rural – CAR das unida- manejo florestal
des de manejo florestal.
• Engenheiro florestal responsável pela ope-
ração de manejo

• Lista de espécies e volumes autorizados


Até o presente, o sistemada BVRio já inclui todas as Au-
para extração
torizações de Exploração Florestal emitidas nos Estados
do Pará e Mato Grosso desde 2007 (um total de 3500), • Tamanho da área destinada à exploração
assim como informação de todas as serrarias e depó- anual
sitos de madeiras em operação nestes estados (cerca
46
Guias Florestais ou Documentos de Origem Licenças de Operação de serrarias (LO):
Florestal (GFs, DOFs):

• Nome e endereço do remetente de produ- • Data de emissão;


tos de madeira;

• Validade e data de vencimento;


• Nome e endereço do destinatário de pro-
dutos de madeira;
• Nome do proprietário;
• Lista de produtos, espécies e volumes
transportados;
• Endereço;
• Nota Fiscal Eletrônica emitida para a comer-
cialização da madeira transportada; • Atividades autorizadas.

• Rota de transporte declarada;

• Data de emissão e validade.

Licenças Ambientais das unidades de manejo florestal: Cadastro Ambiental Rural (CAR):

• Data de emissão; • Status do CAR;

• Validade e data de vencimento; • Nome do proprietário;

• Proprietário da floresta; • Outras informações, variando de estado


para estado.
• Pessoa/empresa que detém os direitos de
manejo florestal;

• Gerente florestal responsável pela operação


de exploração florestal;

• Tamanho da unidade de manejo ;

• Localização e coordenadas geográficas da


unidade de manejo florestal. 47
Inicialmente, é feita uma verificação da autenticidade Por exemplo:
e validade dos dados extraídos destes documentos
e essa informação é cruzada entre si para identificar
possíveis inconsistências ou inadequações. Subse- • Volume médio de espécies, baseado nas Au-
quentemente, estes dados são cruzados com bases torizações de Exploração Florestal. Estas médias
de dados externas, incluindo: são utilizadas na detecção de valores atípicos que
necessitam de maior investigação;

• Histórico do histórico de conformidade legal


• Listas de suspensões ou embargos de licen-
dos proprietários de terras, gestores florestais,
ças emitidos por agências ambientais federais
operadores de serrarias, comerciantes e compra-
(Ibama) ou estaduais;
dores de madeira, incluindo atividades conduzi-
das em outros locais.
• Listas de autuações e multas emitidas por
agências ambientais federais ou estaduais;
Vol Hec - Tabebuia
• Lista de trabalho escravo emitida pelo Minis-
tério do Trabalho;
60

• Cadastro Técnico Federal;


50

• Lista de espécies protegidas pela CITES;


40

• Tabela de taxas máximas de conversão de ser-


rarias, emitidapelo IBAMA (IN21, ver Anexo 1).
Frequency
30
20

Estes mesmos dados permitem também à BVRio


10

compilar estatísticas internas que, por sua vez, são


utilizadas para cruzamento com os dados acima.
0

0 2 4 6 8 10 12

espData$volhec

Figura 2: Distribuição de volumes extraídos autorizados por


48 AUTEFs individuais, mostrando valores atípicos
Através do cruzamento dessas informações entre si e Por fim, Autorizações de Exploração Florestal, Guias
com bancos de dados externos, é possível detectar ir- Florestais ou Documentos de Origem Florestal são
regularidades, fraudes ou não adequação à legislação, sobrepostos com imagens de satélites, para conduzir
tais como: análises espaciais e detectar irregularidades como:

• Embargos e autuações de operações de • Superposição com Unidades de


manejo florestal e serrarias; Conservação federais, estaduais e municipais;

• Histórico de não adequação à legislação • Superposição com Áreas e Terras Indígenas;


dos responsáveis por operações de manejo
florestal e serrarias; • Superposição com Comunidades
Quilombolas;
• Evidência de super-estimativa de
espécies valiosas; • Indícios de irregularidades na
implementação do plano de manejo
• Evidência de super-estimativa das taxas florestal, relacionadas com datas de
de conversão em serrarias, feita por exploração madeireira irregulares,
balanço de massa entre GF de entrada e o localização, exploração excessiva, ou
GF de saída associado; ausência de indícios de exploração na
área de manejo;
• Evidência de envolvimento de planos
de manejo ou serrarias com praticas • Desmatamentos ou incêndios florestais;
trabalhistas abusivas;
• Incoerências nas rotas de transporte
• Indícios de desvios de caminhões via declaradas.
checagem de rotas de transporte.

49
Análises espaciais são conduzidas com base nas se- Imagens de satélite são processadas com o uso da me-
guintes fontes de imagens: todologia NDFI (Normalized Difference Fraction Index)68
e compiladas num Sistema de Informação Geográfica
• Landsat 8 – série histórica desde 1999, forne- (SIG) ligado ao banco de dados alfanumérico e modelo
cida pela WRI Global Forest Watch; analítico da BVRio.

• Mapas de Unidades de Conservação e Terras/


Ao fim de cada dia, osistema é atualizado automati-
Áreas Indígenas, fornecidos pelo Ministério do
camente com os dados de todas fontes externas. E, a
Meio Ambiente do Brasil (MMA);
cada vez que o sistema é utilizado, mais informações
são coletadas, tornando o sistema mais robusto. As
• Mapas de terras quilombolas;
Guias Florestais (GFs), em particular, acrescentam uma
• Polígonos de planos de manejo obtidos da- importante camada de informação.
sAUTEFs;

• Localização de serrarias;

• Mapa de distribuição e incidência do ipê na


Amazônia (Greenpeace)65;

• Mapas de áreas de exploração florestal ile-


gal, compilados pelo Imazon e o ICV de acordo
com a metodologia do Sistema de Monitora-
mento de Exploração Florestal – SIMEX66;

• Mapas de perda e ganho de cobertura flo-


restal, compilados pela Global Forest Watch67.

Benjamin Child

65 Schulze, M., Grogan, J., Uhl, C., Lentini, M. and Vidal, E., 2008. Grosso, disponível no site do ICV (www.icv.org.br/2014/09/18/iniciativa-transpar-
Evaluating ipê (Tabebuia, Bignoniaceae) logging in Amazonia: sustainable encia-florestal/).
management or catalyst for forest degradation? Biological Conservation
141, pp 2071–85. In Greenpeace, 2015 (www.greenpeace.org/brasil/Glob- 67 www.globalforestwatch.org/map
al/brasil/documentos/2015/greenpeace_amazon_license_to_launder.pdf)
68 Normalized Difference Fraction Index (NDFI), in Souza, C.M.; Roberts, D.A.; Co-
66 A série Transparência Manejo Florestal está disponível no site da Imazon chrane, M.A. Combining spectral and spatial information to map canopy damage
50 (www.imazongeo.org.br/imazongeo.php); e a série Transparência Florestal Mato from selective logging and forest fires. Remote Sens. Environ2005, 98, 329–343.
4.3. Análise de risco e interpretação transporte improváveis), ou indícios de riscos indiretos
de resultados (ex., baseados no histórico dosgestores florestais no pas-
sado, ou em outras unidades de produção).
Utilizando os dados coletados (Seção 4.2), para cada uni-
dade de produção o sistema da BVRio realiza análises de Os resultados dessas análises são classificados de acor-
dois tipos de evidência: do com um sistema elaborado para refletir a relevância
de cada fator de risco, e/ou a severidade de sua mani-
festação, a seguir:
• Diretas – relacionadas à unidade de produção
analisada. Ex., verificação documental, imagens
Nenhuma indicação de infrações,
de satélite, bancos de dados oficiais de autua-
irregularidades ou não-adequação
ções ou infrações (ex. Ibama, SEMAs, trabalho
à legislação
escravo), e análise de inventários florestais.
associadas com fatores diretos analisados, e ris-

• Indiretas – relacionadas a fatores que impac- co negligenciável derivado de análises indiretas.

tam indiretamente as unidades de produção Baixo a médio risco


analisadas. Ex., histórico de conformidade legal
Inconsistências ou incertezas associadas à unida-
dos responsáveis técnicos em outras áreas de
de de produção analisada ou infrações e irregu-
manejo não relacionadas com o lote de ma-
laridades indiretamente relacionadas ao lote de
deira em questão, criando riscos à unidade de
madeira analisado (por exemplo, envolvimento do
produção em questão.
engenheiro florestal com outras operações de ex-

O sistema realiza até 150 análises individuais para cada ploração madeireira com infrações comprovadas).

lote de madeira, desde que haja informação relaciona-


Médio a alto risco
da a toda a cadeia de custódia. Essas análises levam em
Quando são confirmadas infrações ou não-con-
consideração se existem indícios de irregularidades, não-
formidades de menor severidade, ou quando há
-adequação ou ilegalidade comprovadas (ex., registros
um alto risco de ilegalidade baseado em evidências
de autuações ou embargos emitidos por agências go-
circunstanciais obtidas através de análises indiretas.
vernamentais, superposição de áreas de exploração com
terras públicas) ou se existem riscos ou probabilidades de Alto risco
ocorrência de irregularidades, não-adequação ou ilegali- Quando são comprovadas infrações e ilegalidades
dades no futuro. A análise de risco leva em consideração graves. Por exemplo, superposição da área de explo-
níveis de incerteza (ex., falta de informação em segmen- ração com Terras/Áreas Indígenas, super-estimativa
tos da cadeia de custódia), evidências circunstanciais (ex., acentuada dos volumes de espécies valiosas, embar-
volumes exagerados de espécies valiosas, ou rotas de gos, ou uso de trabalho escravo. 51
Uma descrição do sistema de classificações usado para cada um dos diferentes
fatores analisados encontra-se no Anexo 4.

Timber Exchange Dashboard

Sawmills - Environmental

l
l
rio

ve
rio

ve
sp
op
embargoes, direct and indirect

al
l


ta



Re
Pr
du

on
es

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ie
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os

o
ta

r
or

sp
sp
op
op
rg

rg

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Es
Fl

Re
Re
ba

ba

ba
Pr
Pr
t.

t.
Em

Em

Em
Au

Au

AE

AE
AF

AF
ID Município Estado Status
632 Juara MT N N N 0 0 0 0 0 0 Autorizado
643 Colniza MT N N N 0 0 0 0 0 0 Autorizado
1699 Alta Floresta MT N N N 0 0 0 0 0 0 Autorizado
1702 Apiacás MT N N S 0 0 1 1 0 0 Suspenso
1698 Sinop MT N N N 0 0 0 0 0 0 Autorizado
1703 Feliz Natal MT N N N 0 0 4 4 0 0 Investigar
1704 Colniza MT N S N 0 0 0 0 0 0 Suspenso
1705 Sorriso MT N N N 0 0 0 0 0 0 Autorizado
1706 São José dos Quatro Marcos MT S N N 0 0 0 0 0 0 Não Autorizado
1419 Aripuanã MT N N N 0 0 0 0 0 0 Autorizado
1653 Cotrigaçu MT N N N 0 0 0 0 0 0 Autorizado
1707 União do Sul MT N S N 0 1 0 0 1 0 Suspenso
1708 Cotrigaçu MT S S S 0 1 0 1 1 0 Não Autorizado
1709 Vila Bella de Sant. Trindade MT N N N 0 0 0 0 0 0 Autorizado
1630 Sinop MT N S N 0 1 0 0 1 0 Suspenso
1710 Brasnorte MT N N N 0 0 1 1 0 0 Investigar
1711 Rondolândia MT N N N 0 0 0 0 0 0 Autorizado
1714 Aripuanã MT N N N 0 0 0 0 0 0 Autorizado

Figura 3: Dashboard de análise de risco da BVRio.

É importante mencionar que o Sistema de Due Dili- madeira não significa que o lote seja ilegal. Inversa-
gence e Avaliação de Risco da BVRio visa identificar mente, uma avaliação indicando baixo risco para um
possíveis ilegalidades ou irregularidades relativas a lo- determinado lote de madeira não é garantia de que
tesespecíficos de madeira. Os resultados apresentados o lote seja legal. Além disso, o Sistema de Due Dili-
no Sistema de Due Diligence e Avaliação de Risco e os gence e Avaliação de Risco da BVRio e os relatórios
Relatórios correspondentes são derivados de análises correspondentes podem relatar avaliações errôneas ou
e cruzamentos de diversos bancos de dados públicos, imprecisas, resultantes de erros ou problemas técni-
assim como de análises internas realizadas pela BVRio. cos na coleta e interpretação de dados oficiais. Toda a
As avaliações simplesmente refletem os resultados informação e documentação utilizada e gerada é ar-
obtidos dessas verificações e análises. Portanto, uma mazenada no sistema e disponibilizada para auditorias
52 avaliação de alto risco para um determinado lote de independentes, se necessário.
4.4. Avaliação de risco ao longo da
cadeia de custódia

Figura 4: Resultado de análise preliminar de operações florestais no Pará e Mato Grosso. Antes da análise, todas as áreas
foram assinaladas em verde (mapa à esquerda). Após a análise, pontos vermelhos representam irregularidades graves, e
pontos laranja representam irregularidades indiretas ou de menor severidade (mapa à direita).

A abordagem adotada pela BVRio para a reconstru- As unidades de produção são analisadas para confir-
ção da cadeia de custódia de cada lote de madeira é mar seus níveis de legalidade e adequação, como des-
baseada em verificação documental complementada crito na Seção 4.3. Essa análise resulta em um mapa
pelas análises descritas na Seção 4.2. O sistema obje- das unidades de produção, classificadas de acordo
tiva relacionar os lotes de madeira com suas unidades com seus níveis de legalidade: aquelas sem qualquer
de produção e processamento (unidades de manejo indício de ilegalidade ou não-conformidade, aquelas
florestal, serrarias, e depósitos de madeiras) utilizan- com possível envolvimento com irregularidades, e
do as Guias Florestais ou Documentos de Origem Flo- aquelas com ilegalidades comprovadas (ver Figura 4).
restal (GFs ou DOFs) emitidos para cada lote analisa-
do. Os volumes são calculados através do balanço de Através da superposição com as Guias Florestais (GFs), a
massade volumesde entrada e saída de cada serraria. rota de lotes de madeira específicos é traçada ao longo 53
das várias unidades de produção a elas associados. essas não estão relacionadas com o mesmo lote de ma-
deira. Dado que uma mesma espécie frequentemente
Para uma análise completa, os usuários precisam entrar pode ser chamada por vários nomes, isso permite ao
todas as GFs relacionadas ao lote de madeira, desde a sistema conduzir uma triagem deconsistência inicial.
florestade origem (GF1) até o destino final (GF3). Por exemplo, o atual banco de dados de AUTEFs no
sistema mostra pelo menos 8 variações de nome susa-
O processo de atribuir uma série de GFs a um lote de
dos para se referir a uma das 17 espécies de Ipê:
madeira apresenta desafios, uma vez que as GFs não
referenciam as GFs anteriores da mesma cadeia69. Adi-
• Tabebuia • Tabebuia chrysantha
cionalmente, dado que a responsabilidade de entrar
os dados das GFs é do usuário, este é um processo au- • Tabebuia sp • Tabebuia chrysantha
to-declaratório que precisa ser analisado pelo sistema (Jacq.) Nichols.
• Tabebuia sp.
para detecção de possíveis inconsistências.
• Tabebuia spp • Tabebuia chrysantha
(Jacq.) Nichols.
Testes são conduzidos para analisar se as GFs entradas subsp. chrysantha
• Tabebuia spp.
tem relação provável entre si, com o lote de madeira em
questão, e com a Autorização de Exploração Florestal
Essa variação é potencializada se combinada à
(AUTEF) da floresta de origem.
grande variedade de nomes vulgares usados para a
mesma espécie. Através da comparação de nomes
apresentados em diferentes GFs, é possível descartar
Nomes de Espécies
aqueles que não se referem à mesma floresta de ori-
gem como especificado na AUTEF.
Primeiramente, deve ser verificado o nome científicos
da espécies das diferentes GFs, para assegurar que
este seja idêntico em ambos os documentos. Nomes
Taxas de conversão em serrarias
científicos para uma mesma espécie são entrados em
AUTEFs de modo diferente. No entanto, uma vez que Outro teste a ser feito refere-se ao processamento
o nome é colocado em uma AUTEF, o mesmo nome em serrarias. Dada a dificuldade de obtenção de
segue a madeira no sistema por todo a cadeia até a dados diretamente das serrarias, o sistema estima a
venda final. Se existem pequenas diferenças entre o quantidade de madeira serrada produzida através do
nome na AUTEF e o nome nas GFs, isso significa que cálculo do balanço de massa, multiplicando o volu-

69 Sistemas como o Simlam e Sisflora, adotados nos Estados do Pará e Mato informações sobre a cadeia de custódia relativa à cada GF. Por outro lado, o
Grosso, já disponibilizam muitos dados coletados em seus sistemas de monito- sistema DOF (Documento de Origem Florestal) do Governo Federal ainda neces-
54 ramento. O sistema Sisflora 2 do Estado do Pará, em particular, oferece mais sita de muito mais transparência.
me que entrou na serraria pela taxa de conversão
máxima de um dado produto (de acordo com o re-
gulamento oficial IN 21 do Ibama, Anexo 1). Se o
volume do produto final for superior ao volume cal-
Categoria A: Documentação
culado, isso gera um alerta de risco. completa sobre a cadeia de
suprimento. Análise de risco
Uma outra precaução relaciona-se ao fato de que uma completa, desde a floresta de
grande parcela dos comerciantes de madeira provavel- origem até o ponto de venda.

mente comercializam tanto madeira de fontes legais


como de fontes questionáveis. E que se para carac-
terizar a legalidade de um lote, este deve apresentar
as Guias de Transporte associadas à sua origem, há
o risco de que as mesmas Guias sejam utilizadas re-
petidamente. Para ajudar a contornar esse risco, a
BVRio criou um Sistema de Registro e Cancelamento
de Guias de Transporte (GFs e DOFs) (ver Seção 4.5).

Categorização do nível de informação sobre a


cadeia de custódia

Cada lote de madeira é classificado de acordo com a


extensão da informação disponível sobre sua cadeia
de custódia, a seguir:

• Categoria A: Documentação completa da cadeia


de custódia – lote de madeira rastreado pelo Siste- Categoria B: Documentação
incompleta sobre a cadeia
ma de Due Diligence e Avaliação de Risco da BVRio
de suprimento. Análise de
desde a floresta de origem até o ponto de venda. risco incompleta, excluindo
floresta de origem.
• Categoria B: Documentação e análise incomple-
ta da cadeia de custódia – conhecimento limitado
da cadeia de custódia associada ao lote de madeira,
não sendo possível rastreá-lo até a floresta de origem
mas apenas até uma unidade de processamento. 55
Essas categorias não têm relação com o risco de ile- Os relatórios e a informação contida foi formatada de
galidade do lote de madeira, apenas com a extensão modo a permitir fácil integração com a informação
de informação sobre a cadeia de custódia. Em última exigida por organizações e programas, incluindo o EU
instância, o nível de risco de um dado lote de madei- Timber Regulations, US Lacey Act e o UK Government
ra é determinado com base na avaliação de unidades Timber Procurement Policy (CPET).
de produção individuais, como visto nas Seções 4.2
e 4.3. Porém, um lote com informação incompleta
sobre sua cadeia de custódia cria um risco adicional
e gravede ilegalidade associado com as unidades de
produção não analisadas (devido à incerteza ligada
aos dados ausentes sobre a cadeia de custódia). Ao
mesmo tempo, lotes de madeira que possuem infor-
mação completa sobre sua cadeia de custódia não
necessariamente apresentam menor risco.

4.5. Relatórios e declarações

Relatórios do Sistema de Due Diligence e Avaliação


de Risco são emitidos para o usuário, contendo as se-
guintes informações (ver modelo de relatório, Anexo 3):

• Descrição do lote de madeira;

• Descrição geral da cadeia de custódia e


quaisquer inconsistências;

• Informação detalhada sobre cada unidade


de produção na cadeia de custódia, incluindo
imagens de satélite;

• Avaliação de risco de cada unidade de


produção na cadeia;

• Resultados de análises específicas;

56 • Declaração e aviso legal (claims e disclaimers).


4.6. Sistema de Registro de Guias de 4.7. Plataforma de Negociação
Transporte e Cadeias de Custódia
A Bolsa de Madeira da BVRio é uma plataforma de
Uma grande parcela dos comerciantes de madeira negociaçãoque promove o uso de madeira legal e/
provavelmente comercializam tanto madeira de fon- ou certificada em mercados nacionais e internacio-
tes legais como de fontes questionáveis. A partir do nais. A plataforma é integrada ao Sistema de Due
momento em que a caracterização de legalidade de Diligence e Avaliação de Risco descrito nas seções
um lote de madeira estiver atrelado à apresentação anteriores. O objetivo da plataforma é oferecer trans-
das Guias de Transporte associadas à sua origem, há parência, eficiência e liquidez ao mercado e facilitar
o risco de que as mesmas Guias sejam utilizadas re- a adequação às exigências da EU Timber Regulation
petidamente (substituindo Guias associadas a madei- e do US Lacey Act.
ra de origem questionável).
Por meio da plataforma de negociação compradores
Para reduzir esse risco, a BVRio criou um Sistema de e vendedores podem fazer seus pedidos de compra
Registro e Cancelamento de Guias de Transporte (GFs e receber cotações e ofertas de compradores ou for-
e DOFs). Toda vez que um lote de madeira associado a necedores cadastrados, aumentando a visibilidade,
uma dada Guia for vendido na Bolsa de Madeira, este demanda e oferta de madeira de origem legal.
lote será registrado e a Guia (ou o volume transaciona-
do) será ‘cancelada’ para aquele uso especifico.

A BVRio pretende abrir o Sistema de Registro para


consulta pública. Deste modo, qualquer individuo
poderá verificar se a Guia relacionada a um dado lote
de madeira está disponível ou não. O Sistema tam-
bém provê uma análise básica do nível de legalidade
associado à cada Guia consultada.

57
4.8 Registro de Dados com Tecnologia propriedade de um registro é tão fácil como enviar um
Blockchain e-mail. Não há um ponto central onde falhas possam
ocorrer, já que toda a infraestrutura é descentralizada.
Blockchain é uma tecnologia registro de banco de da- Terceiro, a segurança é alta: tecnologia blockchain uti-
dos em formato descentralizado, através de uma lista liza algoritmos criptográficos que conferem um altíssi-
crescente de registros de dados protegidos contra adul- mo grau de segurança a todas as operações.
teração e modificação70. É a tecnologia originalmente
usada para a criação e comercialização debitcoins, mas O Sistema de Due Diligence e Avaliação de Risco e
sua aplicação tem sido expandida para usos muito mais a Plataforma de Negociação da BVRio adotaram a
diversos, incluindo serviços de compensação, custódia e tecnologia blockchain para a criação de um cadastro
liquidação de transações financeiras71. descentralizado de seus registros e índices. A infor-
mação é assegurada contra alterações, dada a imu-
Em 2015, a revista The Economist descreveu blo- tabilidade de blockchains, e é disponível para audito-
ckchains como “uma linguagem de programação rias independentes73. •
que permite aos usuários elaborar contratos mais in-
teligentes e sofisticados, criando faturas que se exe-
cutam automaticamente na entrega de carregamen-
tos, ou certificados de ações que automaticamente
distribuem dividendos para seus proprietários se os
lucros atingem patamares pré-determinados”72.

As vantagens do uso de blockchains para registros de


dados são inúmeras. Primeiro, os registros são imutá-
veis: uma vez que um registro é publicado, não pode
ser removido. Segundo, é totalmente digital: papéis
e assinaturas não são necessários. A transferência de

70 www.economist.com/news/briefing/21677228-technology-behind-bi- (www.bloomberg.com/news/articles/2016-01-21/blythe-masters-firm-raises-
tcoin-lets-people-who-do-not-know-or-trust-each-other-build-dependable -cash-wins-australian-exchange-deal).

71 Por exemplo, um grupo de instituições financeiras internacionais (in- 72 www.economist.com/news/leaders/21677198-technology-behind-bitcoin-


cluindo JPMorgan, Accenture, Deutsche Boerse, Citigroup, BNP Paribas, e ABN -could-transform-how-economy-works-trust-machine?fsrc=email_to_a_friend
AMRO Group) investiu recentemente no desenvolvimento de serviços de com-
pensação baseados em tecnologia blockchain e, no momento, a Nasdaq e a 73 Ver www.bvrio.org/wp-content/uploads/2016/06/Regis-The-Decentrali-
58 Bolsa de Valores Australiana, estão liderando o uso dessa nova tecnologia zed-Registry-—-Medium.pdf
Avaliação de Legalidade e
5. Precisão das Análises

Resultados preliminares foram extraídos das análi- Mato Grosso desde 2007, de acordo com os resulta-
ses descritas na Seção 4, conduzidas para todas as dos de avaliações de riscos conduzidos pelo Sistema
unidades de produção dos estados do Pará e Mato da BVRio baseadas somente em análises diretas (ver
Grosso. Foram realizados também testes para ava- Seção 4.3). Aproximadamente 32% não mostraram
liar a acurácia do sistema. nenhuma indicação de irregularidades, enquanto
mais de 33% destes manejos tinham envolvimento
A Figura 5 mostra a distribuição de 100% de todas as comprovado ou alto risco de envolvimento com ir-
operações de manejo florestal nos Estados do Pará e regularidades severas (barras laranjas ou vermelhas).

60%

Ausência de indícios de legalidade


50% ou irregularidade

Irregularidade Branda identificada

Irregularidade de Média gravidade


40% identificada

Ilegalidade ou irregularidade
severa identificada

30%

20%

10%

Figura 5. Distribuição de manejos florestais nos Estados do Pará e Mato Grosso de acordo com seu risco de ilegalidade, de
2007-2015, de acordo com o Sistema de Due Diligence e Avaliação de Risco da BVRio. Os resultados se baseiam em análises de
fatores diretamente associados a esses manejos florestais, e excluem análises de fatores de riscos indiretamente relacionados
a esses manejos (ex., desempenho da equipe de manejo em outros manejos ou empreendimentos florestais). 59
Os resultados mostrados na Figura 5, porém, não restal). Se esse fator é incorporado, o perfil de risco
refletem os riscos indiretos identificados através da dessas operações se torna ainda pior, com menos de
análise do histórico das partes envolvidas no manejo 10% mostrando risco negligenciável e acima de 40%
florestal (ex., proprietário da floresta, engenheiro flo- consideradas de médio a alto risco (Figura 6).

60%

Ausência de indícios de legalidade


50% ou irregularidade

Irregularidade Branda identificada

Irregularidade de Média gravidade


40% identificada

Ilegalidade ou irregularidade
severa identificada

30%

20%

10%

Figura 6. Distribuição de manejos florestais nos Estados do Pará e Mato Grosso de acordo com seu risco de ilegalidade, de 2007-
2015, de acordo com o Sistema de Due Diligence e Avaliação de Risco da BVRio, incluindo análises de riscos indiretos associados
com as partes envolvidas no manejo florestal. A parte pontilhada das barras são provenientes de irregularidades previamente não
detectadas sem a analise das partes.

A BVRio também conduziu uma avaliação da capacida- A análise mostrou que o Sistema da BVRio foi capaz
de de detecção do sistema. Todas as operações de ma- de identificar riscos de irregularidades em 99% dos ca-
nejo nos Estados do Pará e Mato Grosso com infrações sos, mesmo antes que estes fossem identificados pelas
comprovadas nos últimos 5 anos foram analisadas. O agências ambientais, demonstrando que o sistema é
sistema foi testado para determinar se teria evidenciado uma ferramenta potente na identificação de riscos de
riscos de irregularidades antes que tais infrações fossem ilegalidade no setor madeireiro do Brasil.
60 identificadas pelas autoridades ambientais.
Conclusõese
6. Recomendações

O uso de big data como instrumento de avaliação de controle e redução da ilegalidade no setor madeireiro.
risco é promissor, por combinar os resultados de uma
O desenvolvimento e adoção de sistemas de monitora-
ampla gama de abordagens ao invés de depender de
mento, controle e rastreabilidade da produção, proces-
qualquer uma isoladamente. Além do mais, depen-
samento e transporte de produtos de madeira tropical
dendo de sua concepção, tais sistemas podem trazer-
brasileiros é um componente essencial para qualquer
resultados úteis independentemente da qualidade e
estratégia de promoção de legalidade. Se esses siste-
confiabilidade inicial dos dados inseridos, uma vez que
mas forem combinados com o aumento da transparên-
os mesmos são cruzados com outras fontes de informa-
cia dos dados oficiais, será possível reduzir os níveis de
ção. Esta é a abordagem utilizada pelo Sistema de Due
ilegalidade do setor da madeira tropical brasileira.
Diligence e Avaliação de Risco da BVRio descrito acima.

Os resultados obtidos através do uso do sistema da


BVRio têm confirmado o mérito dessa abordagem.
Desde seu lançamento, comerciantes e agências go-
vernamentais têm usado amplamente as ferramentas
de due diligence, tanto nacional como internacional-
mente (particularmentenos mercados dos EUA e da
Europa), confirmando-se como uma ferramenta útil
para avaliações e mitigações de risco.

Qualquer iniciativa desenvolvida para aumentar a le-


galidade no setor, porém, depende da transparência
de informações relevantes. Sistemas como Simlam e
Sisflora, adotados nos Estados do Pará e Mato Gros-
so, já disponibilizam alguns dados coletados em seus
sistemas de monitoramento. Aperfeiçoamentos ainda
são necessários e o sistema Sisflora 2 do Estado do
Pará é um passo na direção certa. Por outro lado, os
estados que utilizam o sistema DOF do Governo Fe-
deral oferecem transparência limitada, o que, por sua
vez, cria condições favoráveis para fraudes. É essencial
que os governos federais e estaduais ofereçam maior
transparência para permitir melhor monitoramento,
Pedro Guinle

61
Anexos

Pedro Guinle
Anexo 1: Taxas Máximas de Conversão em Serrarias

Produto Final % Máxima de Conversão de Toras para o Produto Final

Toras 100%
Serrados brutos:

Bloco, Quadrado ou Filé 45%

Pranchão 45%
Prancha 45%

Dormentes 45%

Postes e Moirões 50%

Serrados:

Tábua 45%
Viga 45%

Vigota 45%

Sarrafo 90%
Caibro 45%

Ripa 45%

Aplainados:

Deck 37%

Assoalho 37%

Rodapé 37%

Batente 37%
Guarnição 37%
Forro (lambril) 37%
Quadrado 37%

Porta lisa maciça 37%

Resíduos:

Resíduo bruto 100%

Pellets 100%

Cavacos 100%

64
Fonte: Ibama IN21
Anexo 2: Guia de como interpretar GFs, DOFs e AUTEFs

Os principais documentos necessários para demonstrar As GF3s são também emitidas para a exportação de
a legalidade no setor de madeira tropical brasileira são: produtos madeireiros e, nesse caso, ela indica ainda
o nome do importador e o país de destino.
• Autorização para Exploração Florestal
Esses documentos contém diversas informações e é
(AUTEX e AUTEF);
importante entender o que elas significam. O fato
desses documentos serem emitidos pelo sistema ofi-
• Guia Florestal ou Documento de Origem
cial de controle de madeira dos governos estaduais
Florestal (GFs ou DOFs). (os documentos são raramente falsificados) não sig-
nifica que as informações neles contidas correspon-
dem realidade. Por essa razão, negociantes de ma-
deira devem tentar conduzir uma due diligence para
No caso das Guias Florestais, essas são divididas entre:
evitar o envolvimento com possíveis ilegalidades
existentes por detrás da documentação apresentada.
• GF1 – para transporte de toras, da flores-

ta de origem para uma serraria; Alguns exemplos são mostrados abaixo, com expli-
cações sobre a informação existente e as principais
• GF2 – para transporte de produtos não verificações necessárias para confirmar a veracidade

madeireiros; dos dados contidos.

• GF3 – para transporte de produtos madeireiros.

65
Figura A1: Como ler uma
AUTEF. Acima uma autori-
zação para exploração flo-

1 restal do Pará (AUTEF), com


as seguintes informações: 1:
2 número da AUTEF e valida-

3 de; 2: nome do engenheiro

4 florestal e número de CREA;


3: nome do proprietário
5
do imóvel; 4: nome do
6
detentor do manejo; 5, 6 e
7: localização e detalhes da
área onde ocorrerá o mane-
7 jo; 8: resumo dos volumes

8 autorizados para extração.

Cuidados a serem tomados quando ler uma AUTEF:

1. É importante checar o histórico das partes envol-


vidas, para se certificar que não estão envolvidos
com operações ilegais em outros locais, criando
riscos para a operação em análise.

66
Figura A2: Como ler uma
AUTEF. Na página 2 a
AUTEF mostra o mapa e a
imagem de satélite da área
de manejo.

Cuidados a serem tomados quando ler uma AUTEF:

1. Algumas vezes uma AUTEF é obtida unicamente áreas que não contém madeira, ou pode haver so-
para criar uma conta e permitir a venda de madeira breposição com outras unidades de conservação
ilegal de outras origens. Monitoramento por ima- ou áreas indígenas.
gens de satélite permite verificar, após o início do
3. Nesses casos, a imagem fornecida na AUTEF pode
período de validade da AUTEF, se houve ou não ext-
não ser correta, ou ter sido manipulada para uma
ração de madeira na área do manejo.
outra data (antes da exploração).
2. Em outros casos, AUTEFs são autorizadas em
67
Figura A3: Como ler uma
AUTEF. Na página 3, a AUTEF
fornece uma lista detalhada
das espécies e volumes que
podem ser extraídos.
9

Cuidados a serem tomados quando ler uma AUTEF:

1. Volumes de espécies valiosas são frequent-


emente exagerados, algumas vezes a níveis muito
acima dos observados na natureza. Isso é feito para
“esquentar” madeiras extraídas de outras fontes.

68
Figura A.4:Como ler uma
Guia Florestal – GF (utilizadas
1
nos estados do Pará e Mato
2
3 Grosso). Esse documento
contém uma série de infor-
5
mações: 1: Tipo de GF. Nesse
caso, trata-se de uma GF1,
6 que autoriza o transporte
de toras da floresta para a
serraria; 2,3 e 4: número da
7
GF e da nota fiscal eletrônica
correspondente; 5: nome e
8 endereço do remetente (ven-
10 dedor); 6: nome e endereço
9
do destinatário (comprador);
7: espécies, volume e preço
11
dos produtos transportados;
8, 9 e 10: detalhes da rota e
12
data do transporte; 11 e 12:
validade do documento e có-
digo de barras (o código de
barras pode ser escanceado
com o aplicativo de Due Dili-
gence da BVRio para receber
um relatório de legalidade).

Cuidados a serem tomados quando ler uma GF:

1. Nomes dos compradores e vendedores nem sem- documentação. Em alguns casos, essa fraude pode
pre correspondem às partes realmente envolvidas. ser detectada pela própria GF (rotas de transporte
incoerentes, por exemplo).
2. Uma fraude comum é o detentor do manejo
emitir uma GF para uma serraria, sem o envio das 3. Há ainda fraudes relacionadas às espécies ou a
toras, mas cobrando um preço. Com isso a serra- preços incompatíveis.
ria pode “esquentar” madeira ilegal que não tem
69
Figura A.5:Como ler um
DOF (documento de trans-
porte utilizado na maior
parte do Brasil, exceto nos
estados do Mato Grosso e
Pará). Esse documento con-
tém as seguintes informa-
ções: 1 e 2: nome e número
do Cadastro Técnico Federal
(CTF) do vendedor; 3 a 11:
endereço do vendedor; 12:
número de autorização;
13: tipo de operação (e.g.
Manejo Florestal); 14 a 17:
tipo, quantidade e preço do
produto transportado; 18
a 28: nome e endereço do
comprador; 29 a 32: deta-
lhes do meio de transporte;
33: número do documento
fiscal; 34: validade do docu-
mento; 35: rota planejada.

Cuidados a tomar quando ler um DOF:

Ver GFs.

70
Anexo 3: Modelo de relatório

71
72
73
74
75
76
77
78
79
80
Anexo 4: Classificação de resultados de análises individuais

Verificações disponíveis, por estado.

Demais
1. Verificação Documental PA MT
Estados

(1)
1.1 Autorização de Exploração Florestal (Autef/Autex)

(1)
1.2 Licenças Ambientais do Manejo ou Licença de Operação da Serraria

(1)
1.3 Cadastro Ambiental Rural (CAR/Simlam)

Demais
2. Infrações e Embargos PA MT
Estados

2.1 Infrações Federais (Ibama)

2.2 Embargos Federais (Ibama)

2.3 Lista de Trabalho Escravo (MTE)

2.4 Infrações Estaduais

2.5 Embargos Estaduais

Demais
3. Análises Aprofundadas PA MT
Estados

3.1 Superposição ilegal em Unidades de Conservação, Terra Indígena (1)

ou Áreas Quilombolas

(1)
3.2 Coerência de volumes de espécies valiosas

(1)
3.3 Coerência da exploração na área de manejo

(1)
3.4 Histórico das Partes Envolvidas

Nota: (1) Análises disponíveis na versão Premium. Condicionado à disponibilização dos documentos de base pelas partes
envolvidas e às informações disponíveis nos órgãos estaduais competentes. 81
Metodologia e Avaliações

1. Verificação Documental

1.1 Autorização de Exploração Florestal (Autef/Autex)

Item Analisado Avaliação Legenda

Confirmado
1.1.1 Verificação da existência e autenticidade do documento
Não Confirmado

1.1.2 Verificação da validade (status) do documento (os status “Vá-


Válido
lido” e “Vencido” são relativos à data da emissão da Guia Flo-
restal; uma GF poderá ser emitida em até 90 dias após o ven-
cimento da Autef/Autex; o status “Suspenso” é relativo à data
da consulta). Vencido / Suspenso

1.2 Licenças Ambientais do Manejo ou Licença de Operação da Serraria.

Item Analisado Avaliação Legenda

Confirmado
1.2.1 Verificação da existência e autenticidade do documento
Não Confirmado

1.2.2 Verificação da validade (status) do documento (os status “Vá- Válido


lido” e “Vencido” são relativos à data da emissão da Guia Flo-
restal; o status “Suspenso” é relativo à data da consulta).
Vencido/Suspenso

82
2. Infrações e Embargos

Item Analisado Avaliação Legenda

Nada Consta

Consta (leve)
2.1 Infrações Federais (Ibama) (1)
Consta (grave)

Consta (muito grave)

Nada Consta

2.2 Embargos Federais (Ibama) (2)


Consta

Nada Consta
2.3 Lista de Trabalho Escravo (MTE)
Consta

Nada Consta

2.4 Infrações Estaduais.


Consta

Nada Consta

2.5 Embargos Estaduais.


Consta

83
3. Análises Aprofundadas

Item Analisado Avaliação Legenda

Nada Consta
Superposição ilegal em Unidades de Conservação,
3.1
Terra Indígena ou Áreas Quilombolas.
Consta

Coerente

Inconclusivo
3.2 Coerência de volumes de espécies valiosas (3).
Questionável

Incompatível

Coerente

Inconclusivo
3.3 Coerência da exploração na área de manejo (4).
Questionável

Incompatível

Sem incidentes

Incidentes leves
3.4 Histórico das Partes Envolvidas (5).
Incidentes médios

Incidentes graves

Legendas e Código de Cores

ausência de indícios de ilegalidade ou irregularidade

irregularidade branda identificada

irregularidade de média gravidade identificada

ilegalidade ou irregularidade severa identificada

n.a. informação não disponível

consulta não disponível nesta versão.


84
Observações

(1) As infrações são qualificadas de acordo com a sua gravidade


(4) A avaliação de coerência da exploração na área de mane-
e relevância, considerando-se a tipologia da infração, o valor
jo é resultante de análises realizadas a partir de imagens de
das sanções impostas e o fator temporal. Não são reportadas
satélite, comparando-se os termos da autorização de explo-
neste item as autuações não relacionadas ao setor madeireiro.
ração florestal e a situação da floresta antes e depois do perí-
No caso de explorações florestais (manejos), também não são
odo autorizado. São utilizadas diversas fontes de informação
incluídos nesta análise as autuações: (i) anteriores à emissão
e metodologias de análise. Os resultados dessas análises são
da Autex/Autef; ou (ii) autuadas mais de 3 anos após o perí-
dependentes da disponibilidade de imagens e análises na área
odo de validade da Autex/Autef; ou (iii) relativas a um outro
e no período relevante. Uma avaliação de incompatibilidade
estabelecimento da mesma empresa (outra filial). Entende-se
não significa que tenha ocorrido efetivamente uma exploração
que em tais casos as autuações não afetam a Autex/Autef em
ilegal. E, inversamente, uma avaliação de coerência não é uma
questão. No entanto, tais autuações serão consideradas para
garantia que não tenha ocorrido, ou não venha a ocorrer, uma
compor o histórico das partes.
exploração ilegal. Esta avaliação traduz simplesmente uma
Para efeitos da avaliação da severidade das infrações, o va- análise baseada nas melhores informações disponíveis para a
lor da multa é ponderado de acordo com a sua antiguidade. área e períodos relevantes.
Quanto mais antiga a infração, menor será o peso que ela terá
(5) A avaliação do histórico das partes envolvidas inclui, quando
na consolidação dos valores das multas.
disponível, o proprietário da floresta, o detentor do manejo, os
Valores consolidados inferiores a R$ 12.000,00 são conside- responsáveis técnicos pelo manejo, o proprietário da serraria/
rados negligenciáveis e classificados como “Nada Consta”. depósito, fornecedores da serraria/depósito e eventualmente
Valores consolidados superiores a R$ 12.000,00 mas inferiores dirigentes, sócios dessas entidades. A partir de fontes públicas
a R$ 45.000,00 são classificados como de baixa relevância. de informação é feita uma verificação do envolvimento das
Valores consolidados superiores a R$45.000,00 mas inferiores partes envolvidas em outras atividades que tenham sido objeto
a R$ 100.000,00 são classificados como de média relevância. de autuações, embargos ou que tenham apresentado indícios
Valores consolidados superiores a R$ 100.000,00 são classifi- de possíveis infrações ou irregularidades. A verificação é feita
cados como de alta relevância. a partir de bases de dados governamentais e outras análises
internas da BVRio. Os eventuais incidentes identificados para
(2) Não são reportados neste item os embargos não relaciona- um ator são avaliados e ponderados considerando-se critérios
dos ao setor madeireiro. como gravidade, pertinência, frequência e tempo. Os atores

No caso de explorações florestais (manejos), também não são são então ranqueados em quatro categorias (verde, amarela,

incluídos nesta análise embargos: (i) anteriores à emissão da laranja e vermelha), que indicam, respectivamente, atores cujo

Autex/Autef; ou (ii) ocorridos mais de 3 anos após o período histórico não apresenta eventos negativos relevantes, ou cujos

de validade da Autex/Autef; ou (iii) relativos a um outro esta- eventos negativos são de baixa, média ou alta relevância. A

belecimento da mesma empresa (outra filial). Entende-se que avaliação apresentada indica o risco potencial e teórico esta-

em tais casos os embargos não dizem respeito à Autex/Autef belecido a partir da correlação probabilística existente entre

em questão. No entanto, tais embargos serão considerados o perfil de histórico observado e as estatísticas de ilegalidade

para compor o histórico das partes. comprovadas em outros casos. Uma classificação na categoria
vermelha não significa necessariamente que a parte em ques-
(3) A avaliação de coerência de volumes de espécies valiosas é tão cometeu alguma ilegalidade, nem que existe efetivamente
feita com base nas médias observadas no conjunto de autori- um alto risco que essa Parte venha a cometer uma ilegalidade.
zações florestais e análises estatísticas e probabilísticas desen- E, inversamente, uma classificação na categoria verde não é
volvidas pela BVRio. Uma avaliação de incompatibilidade não uma garantia de que a Parte não tenha cometido, nem virá
significa que o lote seja ilegal. E, inversamente, uma avaliação a cometer, uma ilegalidade. Essa classificação traduz simples-
de coerência não é uma garantia de legalidade do lote. Esta mente uma análise de estatística feita pela BVRio a partir das
avaliação traduz simplesmente o resultado de análises estatís- informações analisadas e da metodologia adotada. 85
ticas feitas pela BVRio a partir de informações públicas.
Fontes das Informações

Os resultados apresentados no Sistema de Due


Diligence e Avaliação de Risco são gerados a partir
da compilação e cruzamento de dados públicos e
análises internas realizadas pela BVRio.

Dados Fonte

Autef/Autex Simlam (PA/MT);

Licenças Ambientais (LAU, LAR, LA, LF) Simlam (PA/MT)

CAR (Simlam) Simlam (PA/MT)

Licença Operacional Simlam (PA/MT)

Infrações Federais Ibama

Embargos Federais Ibama

Lista de Trabalho Escravo MTE

Infrações Estaduais Simlam (PA/MT)

Embargos Estaduais Sema (PA/MT)

Histórico das Partes envolvidas Análises BVRio, dados públicos diversos.

Superposição com Unidades de Conservação, Análises BVRio, imagens de satélite, dados do Ibama e
Terras indígenas e Áreas Quilombolas do SImlam.

Volumes de espécies valiosas Análises BVRio, dados do SImlam (PA e MT).

Análises BVRio, dados e imagens de satélite: Tree Cover


Exploração na área de manejo Loss (GFW/WRI), SAD Desmatamento (Imazon) SAD
Degradação (Imazon), Simex (Imazon e ICV).

86 Atualizado Fevereiro 2016 (v 3.1)


Anexo 5: Sobre a Bolsa de Madeira da BVRio

A Bolsa de Madeira da BVRio é uma plataforma


de negociação de produtos florestais de origem
legal ou madeira certificada (ex., FSC) criando
transparência, eficiência e liquidez a esse mercado. O
sistema foi concebido para facilitar a adequação aos
mercados exportadores da Europa (EU TR) e Estados
Unidos (Lacey Act), além do mercado nacional.

Plataforma de negociação integrada a um


sistema de analise de risco e due diligence

A Bolsa de Madeira da BVRio é uma plataforma de


negociação com possibilidade de gestão de risco e
due diligence. A plataforma inclui um sistema de
analise de risco da origem dos produtos negociados.
O sistema permite a analise da madeira ao longo de
toda a cadeia de custódia, desde a floresta até a sua
negociação na plataforma. Toda a informação e do-
cumentação coletada é mantida no sistema e dispo-
nível para auditorias independentes. Desenvolvida em consulta com atores do
mercado florestal brasileiro e internacional

A Bolsa de Madeira da BVRio foi desenvolvida em


Sistema baseado na documentação requerida consulta a produtores florestais, compradores, comer-
pelo sistema DOF e Sisflora do governo. ciantes, empresas de auditoria, especialistas em cadeia
de custódia, ONGs e agências governamentais. O sis-
A informação inicialmente coletada é cruzada com tema também leva em consideração as necessidades
outras fontes de dados, análises de imagens de sa- de compradores de madeira de mercados externos,
télite e auditorias de campo. Os procedimentos de incluindo Europa, Estados Unidos e China. O objetivo
análise incluem a legalidade documental, a veracida- é que a plataforma seja útil para permitir a negociação
de da informação e a consistência dos dados, identi- de produtos madeireiros para compradores de várias
ficando indícios de irregularidades ou fraudes. jurisdições e com diferentes necessidades regulatórias.
87
Anexo 6: Sobre a BVRio

A Bolsa de Madeira é uma iniciativa conjunta do Instituto BVRio (www.bvrio.


org), uma organização sem fins lucrativos cuja missão é promover mecanismos de
mercado que facilitem o cumprimento de leis ambientais brasileiras, e a Bolsa de
Valores Ambientais BVRio (www.bvrio.com), uma empresa de impacto que tem
como objetivo alavancar capital do setor privado para implementar e dar escala às
atividades pré-operacionais desenvolvidas pelo Instituto BVRio.

A organização foi vencedora do Katerva Awards 2013 (categoria Economia),


nomeada Líder em Ação Climática pela R20 - Regions of Climate Action, e integra a
Forest Legality Alliance.

Siga-nos:

/InfoBVRio

/BVRio

goo.gl/bhVEVi

88 youtube.com/canalbvrio
89
Pär Pärsson
www.bvrio.org

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