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entendendo as mulheres

Algo que intriga a todos os homens: “Como deixar uma mulher feliz? Elas
reclamam de tudo!”. Caros leitores, tenho uma ótima notícia: a resposta de
como lidar com sua mulher está a sua frente, ela tenta te dizer e mostrar, talvez
você não esteja conseguindo enxergar tão bem! Cada mulher que conheço se
comporta de maneira distinta nos relacionamentos, mas, generalizando,
existem três tipos de mulheres: as grudadas, as fáceis de lidar, e as que tentam
se relacionar de maneira saudável. Normalmente, essa última é a mais
tranqüila para um relacionamento e com certeza já teve experiências para
saber dosar a liberdade com o grude.
Mas vamos lá: vou tentar descrever nossa mente com relação a alguns tópicos.

Sexo:
Adoramos! Aquela que disser que não é porque não conheceu um parceiro
que a levasse para as nuvens. O sexo para nós está muito mais relacionado ao
físico, o tato, as carícias, beijos, romance, por isso as preliminares são tão
importantes para deixar uma mulher pronta! Hoje em dia as mulheres querem
encontrar homens que satisfaçam seus desejos mais íntimos, que dividam
fantasias e que mostrem a importância do nosso prazer. Isso acabou gerando
um peso maior para os homens. A maioria acaba tendo mais de um parceiro o
que gera comparação. Permita que as mulheres mostrem e digam o que
gostam. Nem todas são iguais. O que excita uma, pode desestimular outra.
Mas e o sexo casual? Está cada vez mais normal, mas não são todas que se
sentem bem com essa situação. Infelizmente, ainda não conseguimos não
esperar o telefonema do dia seguinte. O sexo ainda possui uma conotação de
grande intimidade para a maioria. Portanto, tentem perceber com que tipo de
mulher estão indo para a cama.

Amor:
Mulheres não sofrem; se desesperam. Porém, acredito que sejam mais fortes
para agüentar traições, ser deixada e ouvir um tchau. Na realidade, o amor
ainda é muito importante e todas querem encontrar sua cara-metade, viver uma
grande história de amor. Mas quer um amor recíproco, quer dar e receber, se
sentir amada. Mulher adora perceber que seu parceiro só tem olhos para ela.
Romantismo:
Por mais que uma mulher diga que odeia romantismo, é mentira! Não tem uma
mulher que não fica empolgada e feliz com flores surpresas, um pedido de
casamento ou presentes inesperados. Já ouvi de muitas amigas anti-
romantismo, histórias lindas que me contavam os olhos brilhando. Logo,
rapazes não deixem o romantismo morrer. Isso sustenta a relação, empolga e
traz um diferencial para a rotina.
Relacionamento:
Historicamente, as mulheres sempre viveram juntas e ficavam na caverna
enquanto os homens saiam para caçar. A principal atividade era conversar com
as comadres e cuidardas crianças e do lar. O mundo está mudando, mas
algumas características não mudam tão rápido. As mulheres estão ganhando
cada vez mais espaço no mercado de trabalho e, com isso, mais liberdade e
independência financeira, o que significa: podem ser donas da sua vida!
Porém, a vontade de cuidar, gerenciar uma casa, ter filhos continua existindo
na mente da maioria. Talvez o que tenha mudado são as prioridades. Antes se
uma mulher não casasse até os 25 anos podia ser considerada uma
encalhada. Hoje, a maioria das mulheres só pensa nisso depois de terem um
emprego sólido e condições de manter uma casa com o parceiro. Mas todas
esperam ouvir o pedido! Prestem atenção, não estou dizendo casar da maneira
tradicional, pode ser construir um lar sem casar no civil e igreja. A solidão é
triste, chega a hora de sair da casa dos pais, ganhar o mundo e um dia chega o
momento de construir seu próprio mundo!

Traição:
Pois é meus caros, vocês não são mais os únicos. As mulheres estão traindo
muito e logo vão se igualar aos homens. Elas estão mais expostas a situações
de “risco”: dias sem fim no escritório, viagens a negócio, suas viagens deixando
ela sozinha, o personal trainner, enfim, cuidem e tenham receio. Infelizmente,
existem mulheres apaixonadas, loucas pelo parceiro, mas que ao surgir uma
oportunidade traem.
Porém, as mulheres ainda possuem um peso na consciência maior que os
homens, o arrependimento acaba prejudicando e ela pode se distanciar. Mas
dependendo de como está o relacionamento, passando por algum momento
difícil, nem culpa sentem e acham muito justo repensar e saber o real
significado dos seus sentimentos. Portanto rapazes, não pensem que se sua
mulher o ama demais, você não corre o risco. Acho que a base de tudo é a
confiança, e o respeito. Em relacionamentos baseados no respeito, sinceridade
e afinidade é bem mais difícil acontecer uma pulada de cerca.

Homens:
Diferentemente dos homens, as mulheres não buscam os homens apenas
pela estética. Claro que ajuda! Estar com alguém especial, e acima de tudo
lindo é incrível. Em uma balada é a beleza que vai chamar primeiro a atenção
das mulheres. Mas se o homem tiver um papo inteligente e for divertido, os
olhos verdes e braços fortes não importarão. É comum vermos casais
formados por uma mulher linda e um homem “nada demais”, justamente
porque as mulheres buscam alguém que as entenda, respeite, cuide e acima
de tudo as ame do jeitinho que são.
Não há um estereótipo padrão de beleza masculina: com pelos, sem pelos,
careca, cabeludo, alto, baixo, com uma barriga saliente porque adora beber,
bombados ou magrelos, todos fazem sucesso!

Trabalho:
As mulheres querem conquistar seu espaço, ganhar bem. Isso não pode ser
um problema. Um homem que tenha inveja ou que prejudique o crescimento
profissional da parceira com medo que ela seja mais bem sucedida, deveria ser
cortado da lista. As mulheres que querem independência, não estão
preocupadas se ganham mais ou se terão que rachar as contas do lar. Para
elas o importante é um companheiro que as ajude a chegar lá!
Falar:
Nossa, como adoram falar. Uma pesquisa recente mostrou que as mulheres
falam em média 7 mil palavras a mais que os homens por dia. Por isso, muitas
vezes o silencio do homem gera conflito, elas querem contar o dia, discutir
relacionamento, falar e falar. E eles querem o silêncio. Já falaram tudo que
precisava durante o dia.
Enfim, esses são alguns pontos que geram confusão. Mas saibam que para ter
um relacionamento saudável com a mulher que escolheu, você tem que
entender não só a sociedade, as mudanças do mundo, mas também a criação
dela: se foi mimada, vai esperar ser mimada, se foi criada solta, vai querer
liberdade. Isso só você poderá saber e aprender como lidar!

Como conquistar uma mulher


Nota-se que uma grande parte dos homens não sabem conquistar uma mulher.
Uma parte culpa da timidez que os atinge, o romantismo soa longe, a mulher
gosta de ser amada de se sentir protegida.
A maioria dos caras não têm a menor idéia por que as mulheres não querem
sair com eles, perguntam-se porque da rejeição elas querem “apenas como
amigos”.
Eles assumem que é porque eles não são de boa aparência, charmoso ou
ricos. É porque eles fazem e dizem todas as coisas erradas.
Independente de status ou sua aparência, é fato que as mulheres pensam
diferentes dos homens, elas agem mais com a emoção. Você pode saber
exatamente tudo que você precisa dizer e fazer – e eliminar a sua frustração
sexual para sempre pode conquistar as mais belas mulheres que você sempre
sonhou!
Não basta “ser você mesmo”, como todas as outras técnicas dizer que você
quer fazer! Ser você mesmo já não é suficiente, você tem que trazer para fora
as qualidades melhores e mais atraentes para uma mulher notá-los!
Você tem apenas uma chance de fazer a primeira impressão, é verdade. Fazer
uma garota ter desejo a partir da primeira conversa! Evite desconfortável,
“nada-a-dizer” use técnicas que irão mostrar-lhe que são os melhores! Ela vai
aproveitar o tempo com você!

Tenha mais auto confiança, supere a timidez fique atualizado com assuntos do
dia dia isto vai lhe dar assunto para conversar com elas.

O segredo é expressar
Postado em dezembro 4, 2009 em Dizendo "Eu te amo" por annalemos
“Como é difíçil expressar em um computador ou em um pedaço de folha,
os sentimentosmais prematuros que uma pessoa tem. É difíçil também
desabafar assim, pois eu gostaria de ter coragem suficiente de falar tudo o que
falo aqui para a pessoa que sinto tudo isso, gostaria de falar isso na cara, falar
pra quem eu estiver apaixonada, o quanto esse sentimento pode ser novo e
burro, mas que ele vale muito.
Se eu tivesse pelo menos a chance de olhar para você, e com uma só
mirada poder te dizer tudo tudo o que eu penso e o que eu sinto. Gostaria que
todos os meus sonhos se tornassem realidade com você. E que tudo isso não
seja rápido nem passajeiro, que eu possa te fazer mudar de ideia e que você
possa gostar de mim como eu de você, não tenho pressa, tenho desejo de
estar contigo cada minuto da minha vida, porque só quem está apaixonado de
verdade sente a dor mais profunda que existe no coração…”

Mulheres de Hoje
Se você está afim de alguma garota ou mulher, e está com medo de se
declarar e tomar um NÃO, você não está lendo o livro certa.
Antes de tudo esqueça todas aquelas formas de conquista através de
presentes buquê de flores, caixas de bombons etc…
Você deve ter em mente que as mulheres jamais gostam de coisas fáceis,
assim como nós homens não gostamos de mulheres oferecidas demais.
Jamais mande cartas apaixonadas com declarações de amor etc, antes de ficar
ou até mesmo conhecer a pessoa, pois esse tipo de agrado já é uma etapa
para depois.
Os tempos mudaram, agora não podemos dar mole de mais para as mulheres
que certamente elas irão aproveitar e sair fora, o segredo é esconder ao
máximo o seu sentimento, não se denuncie, antes de se declarar para ela você
deve fazer com que ela goste de você, missão um pouquinho difícil, mas não é
impossível.

Tente ser o mais agradável possível, quando você a ver cumprimente sempre
pelo nome, sorria, sempre seja um “boa praça” o segredo é esse, pois você
tendo uma conduta diferente dos outros caras quem é que ela vai pensar mais?
No que é comum ou no que é incomum? Tendo você sempre em mente fica
tudo bem mais fácil.
Mas não se esqueça, você nunca deve dar atenção demais à ela, sempre trate
ela igual às outras pessoas que estiverem juntas, tente sempre ser o mesmo,
crie sua própria personalidade, conte sempre com a simpatia e seja o mais
agradável possível.

Uma coisa bem eficiente que você pode fazer é tentar descobrir o máximo
sobre o gosto dela, ou seja, descubra sua banda favorita, o tipo de filme que
ela mais gosta, o que ela gosta de fazer, etc… Mas atenção não pergunte a
ela, procure alguém bem chegado a ela que possa lhe dizer e que você confie,
e sempre que vocês estiverem conversando (você e ela…) tente falar sempre
sobre as “coisas” que ela gosta entendeu? Pois assim ela vai se amarrar em
está conversando com quem fala das coisas do interesse dela.
Quando uma pessoa começa a pensar muito em outra o que acontece? Ela
impõe isso a seu subconsciente, em outras palavras ela vai começar a ter você
nos pensamentos involuntariamente, vai acabar sonhando com você, e aí
pronto, ela vai descobrir que está apaixonada por você, não se precipite antes
se certifique que é real o sentimento, lembre-se a 1º vez é sempre a última
chance, não desperdice, e quando for à hora jamais peça a alguém para ir
perguntar a ela se ela ta afim ou não, isso iria acabar com tudo, nunca dependa
de ninguém, vá à luta sozinho, espere o momento certo e caia para o abraço!
Mulheres: hoje estão quentes, amanhã, frias. Se ontem queriam sexo animal,
hoje dizem estar com dor de cabeça. Quando parecem estar a fim de você, só
querem amizade… quem entende?

Não é fácil entender as mulheres. Tanto que criou-se um subconsciente


coletivo de que as mulheres não podem ser compreendidas. Muitas vezes, nem
elas mesmas se entendem.

A verdade é que existem “duas mulheres” dentro de cada mulher. Uma é


instintiva; a outra é racional.

Para melhor entendimento, fica estabelecido que a mulher 1 é o instinto


feminino e a mulher 2 é a razão. Então: mulher 1 = instintiva e mulher 2 =
racional. Ok?

Antes de mais nada, algumas definições básicas sobre as “duas mulheres”:

 A mulher 2 é a “mulher externa”. Ela sonha em se casar com um homem


bonito, educado, gentil, sensível, carinhoso, fiel e assim por diante. É isto que
elas pensam querer, e defenderão esta ideia a todo custo.
 A mulher 1 é a “mulher interna”. É o instinto animal procurando pelo melhor
macho (mais forte, mais imponente, mais bonito, mais ousado, que se
sobressai sobre os outros) para procriar. Esta é que está no comando.

É por isto que elas dizem querer um cara sensível e gentil, mas acabam
ficando com cafajestes. Por isto aquele teu colega do colégio pegava todas,
mesmo elas dizendo que ele não prestava, que não valia nada, que era o maior
galinha da escola, e bla-bla-bla. Por isto também que aquela namoradinha do
mané carinhoso e todo apaixonadinho mete chifres nele com um cara mais
safado. Por isto que elas dizem coisas como “nem sei como aconteceu” ou
“nem sei como pude ficar com aquele galinha na festa de ontem”.

Elas realmente não sabem. Falam uma coisa, mas querem outra. O instinto
manda e elas obedecem, mesmo sem saber.

São duas mulheres em uma só, e cada uma quer algo diferente. Na hora do
xaveco, é muito importante você saber com qual das duas você está lidando,
se está conversando com a mulher1 ou se já está tentando conquistar a mulher
2. A mulher racional (2), geralmente, leva mais tempo para ser conquistada, dá
mais trabalho. Você vai saber mais daqui a pouco.

Mulher 1

Como já foi dito, a mulher 1 está no controle. É o instinto feminino. São as


vontades secretas da mulher, que nem ela mesma sabe que tem. Ela procura
os mais safados, mais ousados, mais sensuais, mais poderosos, mais
disputados…

Conquistar a mulher 1 pode ser mais fácil, mas você deve agir rápido, pois que
este lado instintivo só fica “disponível” até a segunda ou terceira conversa entre
vocês. Depois disto, a razão toma conta e você vai estar conversando com a
mulher 2.

Mulher 2

A mulher 2 é a mulher consciente, racional. Aquela que pensa. Ela procura um


homem romântico, sensível, carinhoso, gentil, educado, cavalheiro, etc.

É mais difícil de ser conquistada, mas, claro, não é impossível. Geralmente dá


mais trabalho e demora mais tempo. Se você não pegou a mulher 1 nas
primeiras conversas que teve com ela, você agora está conversando com a
mulher 2. Agora ela já teve tempo de pensar se quer você ou não, já te
conhece melhor. Ela já teve tempo de consultar as amigas sobre você, pedir
opiniões, rastrear teu passado, comparar com o ex… Talvez até já te veja só
como um amigo. É mais difícil prever o comportamento da mulher 2.

É por isto você deve agir rápido e tentar a mulher 1.

Conclusão e Exemplos

Agora que você já sabe um pouco mais sobre as mulheres, temos algumas
respostas para as seguintes perguntas:

Por que as mulheres dizem querer um cara romântico, mas acabam ficando
com cafajestes?

Os cafas atacam o instinto da mulher. Eles não perdem muito tempo


conversando, ou seja, pegam elas já nas primeiras conversas. O instinto toma
conta da mulher e, muitas vezes, ela nem percebe que ficou com o cara. No
outro dia ela pode até se arrepender, pois já teve tempo pra pensar no que fez,
mas se encontrar o cafa novamente, vai pro saco.

Por que os cafajestes “pisam” nas mulheres, e elas ainda estão com eles?

O instinto tira a mulher racional do controle. O instinto manda, agora você já


sabe disso. E o instinto se apaixona mais fácil. Por isto todos dizem que se
você tirar o cabaço da mulher, ela vai se apaixonar por você. E é verdade, na
maioria das vezes, ao menos. Elas acabam se apaixonando pelo cafa, pelo
cara ousado, que sabe provocar. Eles traem elas, xingam, fazem de tudo com
elas. E elas perdoam, imploram pra voltar Exemplo: Mau Mau, Maria e Wesley
do BBB 11. Mau Mau é o cafa e Wesley o bonzinho. Mau Mau “pisava”,
xingava Maria. Wesley era o carinhoso, educado, gentil. Maria provocava tanto
que praticamente implorava pra voltar com Mau Mau, mesmo ficando com
Wesley, só faltou ficar pelada na casa. Se Mau Mau quisesse, ela não pensaria
duas vezes em trocar o Wesley. Mera coincidência com o que está escrito
neste post? Claro que não.

Por que a maioria das mulheres com quem você ficou, foram logo que vocês se
conheceram?

Provavelmente, a maioria das mulheres com quem você ficou, foi logo nas
primeiras conversas que vocês tiveram. Seja em uma balada, festa,
acampamento, ou qualquer outro lugar. Normal. Nas primeiras conversas, a
mulher ainda está agindo por instinto, e praticamente todos os homens tem
pelo menos uma chance com a mulher 1. Isto também explica por que aquela
gata da casa ao lado namora “aquele piá de bosta”. Provavelmente, ele só
aproveitou a chance que teve com o instinto dela.

Por que é mais difícil tentar as mulheres com quem convivo mais?

Amigas, colegas de aula, colegas de trabalho… elas já fecharam o lado


instintivo. São mulheres 2 agora. As vezes, é complicado reabrir o lado da
atração física. Elas estão racionais, já conhecem você, já conversaram contigo.
Se você tentar algo a mais com elas, corre o risco de ouvir coisas como
“somos apenas amigos”, “não quero estragar nossa amizade”, “gosto muito de
você, mas não desse jeito”… Você mesmo sabe disso quando diz coisas como:
“não vou tentar nada, pois ela vai dizer que é só amizade”.

Por que as mulheres são super quentes no começo do namoro, e depois vão
esfriando?

No começo, elas querem “segurar” este homem. Com o passar do tempo, há


uma convivência maior e, consequentemente, uma ligação emocional mais
forte. Esta ligação emocional mantém o homem por perto. Depois que o
“ambiente está seguro”, depois que já está tudo em ordem e ela já manteve
seu homem, o sexo, por exemplo, já não é tão necessário e pode se tornar
menos frequente. Por isto que, na maioria dos casais, quanto mais tempo
juntos, menos sexo fazem. Já em casais recém-formados, o sexo é muito mais
frequente. Por isto também que o tiozão nunca faz sexo com sua esposa, mas
trai ela direto com outra, independentemente da hipótese de a amante ser uma
menina nova ou panela velha. O inverso também acontece.

Reflexão sobre o Feminino (Entendendo a Mulher)


28 de agosto de 2012 por Flávio Gikovate | 7 Comments
1. Introdução
Talvez agora sejamos capazes de pensar de forma mais livre sobre a mulher e
a condição feminina. O tema sempre esteve envolto em brutais preconceitos:
no passado vigia a tese machista da inferioridade da mulher, já nos últimos
anos temos sido governados pela idéia da igualdade entre os sexos. O bom
entendimento da questão perde nos dois casos, uma vez que a mulher não é
inferior e nem igual ao homem, mas sim diferente, não havendo razão para que
seja estudada tomando-se como referência a condição masculina. Não deixa
de ser surpreendente o fato de que nos deixamos governar muito mais por
idéias, concepções e ideologias do que pelos fatos. As diferenças entre os
sexos são óbvias e só mesmo a interferência de poderosos ingredientes
emocionais pode levar homens e mulheres a defender idéias que não têm
respaldo no mundo real. Quando tais idéias foram elaboradas por homens, ao
longo dos séculos, a conclusão foi a inferioridade da mulher. Talvez tenham
sido movidos mais do que tudo pela enorme inveja que eles sempre sentiram
delas.
Quando, nas últimas décadas, as idéias sobre o tema foram elaboradas por
mulheres, concluíram pela igualdade entre os sexos. Elas buscavam condições
objetivas iguais às dos homens, o que é inegável direito, mas acabaram por
generalizar suas concepções relativas a importantes aspectos da vida social,
tentando, por exemplo, entender a sexualidade feminina tomando por base a
fisiologia dos homens. Sem perceber, elas os usavam como referência, como
paradigma; não podemos deixar de reconhecer aí importante ingrediente
invejoso da condição masculina, agora presente também nas mulheres.
Infelizmente, tudo leva a crer que falar sobre as condições masculina e
feminina é tratar, muito de perto, da questão da inveja. Homens e mulheres são
fascinados uns pelos outros – isso como regra geral, é claro –, mas dificilmente
conseguem se entender bem. Percebemos a facilidade com que desenvolvem
uma irritação desproporcional aos fatos quando convivem intimamente. Até
mesmo a vida sexual dos que vivem juntos está muito aquém do que
poderíamos supor a partir da intensidade da atração sexual que o homem tem
pela mulher e que faz tão bem a ela. Assim, o esperado convívio amoroso e
sexual, rico e pleno de prazeres, é, como regra, parte do imaginário da maioria
das pessoas. Todo o objetivo daqueles que pensam sobre esses aspectos
essenciais da vida íntima consiste exatamente em buscar os caminhos que
permitam o entendimento entre os sexos, o qual, de fato, nunca existiu. A
tarefa deve ser muito difícil, se assim não o fosse nossos antecessores já a
teriam cumprido há muito tempo.
Meu objetivo principal ao longo desse texto é discutir alguns aspectos da
fisiologia sexual feminina e sua repercussão na interação entre os sexos e na
maneira de ser das mulheres. Não poderei deixar de fazer algumas
observações sobre o masculino, uma vez que, ao menos até agora, o modo de
ser de um sexo tem sido definido a partir do outro. Não creio que seja uma boa
postura intelectual essa de, por exemplo, atribuirmos emotividade e maior
sensibilidade ao feminino, e considerarmos racionalidade e maior
agressividade peculiaridades do masculino. Fica muito difícil saber o quanto
isso é verdadeiro e o quanto os homens escondem sua emotividade e as
mulheres sua racionalidade, sempre com o propósito de “caberem” no modelo
social preestabelecido. Temos que distinguir com a maior clareza possível
entre aquilo que é um atributo do feminino e o que é parte do seu papel social;
isto é, entre o que seja genuinamente produto da natureza feminina e o que é
proposição cultural que busca definir e impor uma certa postura para as
mulheres de uma determinada época e cultura.
O ideal seria o feminino ser estudado à parte, sem qualquer tipo de
comparação com o masculino e vice-versa. Talvez consigamos, aos poucos,
atingir esse objetivo, condição na qual poderíamos, finalmente, saber como é
constituído cada um dos sexos. Na realidade, porém, os homens se comportam
com a finalidade única de impressionar, agradar ou agredir as mulheres, e o
mesmo acontece com elas. É possível que uma parte importante do que
entendemos por feminino esteja sendo definida em função do masculino e que
o contrário também seja verdadeiro. Compõe-se um tipo de círculo vicioso
derivado da interação entre os sexos que, por vezes, torna muito difícil o
entendimento dos ingredientes aí envolvidos. Farei algumas considerações
sobre o que sou capaz de observar e que considero imprescindível no círculo
vicioso em que vivemos há milênios e do qual ainda não conseguimos nos
libertar. As pesquisas, até agora muito escassas, que deverão ser feitas nessa
área da subjetividade humana não são filigranas. Elas tratam de algumas das
particularidades essenciais da nossa espécie e que influíram – e muito – em
todos os processos que culminaram com a elaboração das regras que norteiam
nossa vida social.
Assim sendo, a questão sexual em geral e a das diferenças entre os sexos em
particular são de capital importância para o entendimento da psicologia
humana – e de alguns aspectos da própria fisiologia sexual – e para o estudo e
compreensão dos aspectos socioeconômicos da nossa vida em grupo. Essa
abordagem mais abrangente da questão sexual tem assumido uma importância
crescente, uma vez que tem se revelado muito mais frutífera do que aquela que
apenas levava em consideração os aspectos práticos e técnicos capazes de
aprimorar a intimidade entre um homem e uma mulher.
Deixarei registrado, de modo veemente, que o objetivo de todas as
observações que pretendo fazer é contribuir para ajudar no entendimento e
libertação de complexos ingredientes que consideramos parte da relação entre
os sexos; como são procedimentos que se repetem há muitas gerações, fazem
parte da nossa cultura de modo tão arraigado que os vemos como naturais;
são tratados com a naturalidade de um fenômeno que é parte da nossa
biologia, apesar de que é forte minha convicção de não ser essa a verdade.
Hoje, indiscutivelmente, eles fazem parte do cotidiano, das normas da vida
social com as quais nos deparamos à medida que vamos nos tornando adultos.
Cada nova geração se contamina muito rapidamente com o círculo vicioso
negativo e percebe, com maior ou menor clareza, que as relações entre os
sexos são tensas, de disputa e implicam num tipo de rivalidade no qual
humilhar o sexo oposto parece ter se constituído num prazer. Adolescentes de
ambos os sexos, mas principalmente os rapazes, dão claros sinais de sentirem
os golpes iniciais dessa guerra entre os sexos, cujos primeiros movimentos
parecem mais favoráveis às mulheres – ou, ao menos, a algumas delas.
2. Considerações acerca da origem da guerra entre os sexos
O tema é excitante e fundamental e sobre ele venho publicando desde 1979.
Confesso que foi só com o passar dos anos que me dei conta da importância
de algumas das considerações que fiz na época. E a título de autocrítica, devo
dizer que fui um tanto ingênuo por não ter percebido a relevância das minhas
observações. O que diminui um pouco a sensação desagradável que essa
constatação me provoca é o fato de que não fui o único a ter dificuldade em
lidar com a questão das diferenças entre os sexos e principalmente extrair
delas todas as suas conseqüências. O próprio Freud apontou o aspecto mais
importante relativo às diferenças entre o masculino e o feminino – qual seja, o
da existência de um desejo visual masculino que inexiste na mulher – em uma
nota de rodapé de sua obra O mal estar na civilização, escrita em 1930. Jamais
voltou ao assunto! Uma importante diferença entre os sexos consiste na
ausência de período refratário após o orgasmo nas mulheres, diferentemente
do que acontece com os homens, e quem primeiro a registrou foi Masters e
Johnson; esses autores também não conseguiram extrair todos os
desdobramentos que tão importante diferença impõe. É indiscutível a
dificuldade que temos de estudar a nós mesmos!
Tentarei penetrar no círculo vicioso que determina a hostilidade recíproca entre
homens e mulheres pelo ponto que considero o inicial: aquele que define as
primeiras sensações dos homens diante da diferença entre os sexos que
surgem junto com a sexualidade adulta. Registrei, há quase 20 anos, que a
chegada dos primeiros impulsos eróticos mais intensos que, nos rapazes,
acontece ao redor dos 13 anos – junto com o surgimento dos caracteres
sexuais típicos da virilidade –, vem acompanhada de algumas sensações
íntimas negativas e totalmente inesperadas. Os meninos crescem com a idéia
de que são os privilegiados, uma vez que lhes ensinaram que o mundo é dos
homens. O contrário acontece com as meninas, de sorte que muitas delas
crescem revoltadas e invejosas da condição privilegiada que os meninos
costumam ter em sociedades como a nossa. Com a chegada da puberdade, os
rapazes passam a sentir enorme desejo sexual por um sem-número de moças,
desejo este que pede a aproximação e o roçar no corpo delas. A grande e
inesperada surpresa é que tal desejo não é correspondido. Por essa eles não
esperavam! A partir daí, desenvolvem uma sensação de inferioridade,
frustrando-se pela ausência de reciprocidade. Desejar sem ser desejado da
mesma forma gera uma enorme frustração em praticamente todos os moços.
Tal sentimento muito comumente acompanha os homens ao longo de toda a
vida.
Em geral, os rapazes atribuem, até hoje, o fato de não serem objeto de desejo
visual à sua “precária” aparência física. Portanto, o que é baixo, gordo,
narigudo, entre tantos defeitos que os adolescentes vêem em si mesmos,
sente-se não-atraente devido a essas desvantagens relacionadas com sua
imagem. Entendem a questão como um fato particular, condição na qual ficam
muito deprimidos e ressentidos. Para eles, outros rapazes provocam o desejo
que na verdade eles mesmos gostariam de causar, podendo desenvolver
grande hostilidade invejosa em relação aos mais bonitos e charmosos.
Seguramente, a beleza masculina é um elemento capaz de despertar o
interesse das mulheres, mas é fato também que existe uma grande diferença
entre despertar o interesse e o desejo. Não sabemos como reagirão os moços
quando puderem crescer e chegar à adolescência já de posse dos dados
relativos à nossa sexualidade que só agora estão começando a nos ficar mais
claros.
A diferença, certamente, é de natureza biológica e independe da aparência
física dos rapazes. Corresponde, como já apontado por Freud, à transferência
para a zona da visão daquilo que, nas outras espécies de mamíferos, é próprio
da olfação. O desejo é propriedade masculina, define um papel ativo para o
macho no tocante à abordagem sexual. Nos mamíferos, em geral, tal
característica não define qualquer diferença hierárquica: é apenas uma
diferença. Na nossa espécie, existe a diferença e o que as mentes dos homens
e, é claro, das mulheres pensam sobre ela. Não há, para nós, fatos
desacompanhados das reflexões e ponderações que fazemos a respeito deles.
Em geral, os homens sentem-se prejudicados pela constatação; registram a
diferença na natureza do desejo como grande desvantagem, o que determina o
surgimento de uma enorme hostilidade de natureza invejosa. Em 1979, apontei
e enfatizei que a primeira manifestação invejosa adulta era do homem em
relação à mulher e não o contrário, que é voz corrente em psicologia.
A constatação de que o desejo visual é unilateral desperta no homem a
consciência de que há uma vantagem feminina nesse ponto de vista, uma vez
que ela terá que concordar com a aproximação física dele – ao menos no
mundo civilizado, onde não é aceita a violência física para impor a intimidade
sexual; entende-se também por esta via a origem do estupro: uma revolta,
levada às últimas conseqüências, contra a diferença sexual. A concordância da
mulher dar-se-á em decorrência de outros fatores que não o desejo visual, pois
ele não existe da mesma forma como nos homens. O fato de um homem já
desejar uma mulher e ter que esperar pelo veredicto dela para saber se poderá
ou não se aproximar dela lhe determina, como disse, um forte sentimento de
inferioridade acompanhado de uma profunda inveja, ou seja, de enorme
hostilidade sutil e que tentará se exercer de forma um tanto dissimulada.
O que fizeram os homens? Beneficiaram-se de sua superioridade muscular e,
quando tal propriedade era básica para o exercício das atividades fora de casa
– o que se costuma chamar de “espaço público” –, trataram de se apropriar dos
poderes que derivam de serem os detentores dos frutos do trabalho, o que,
mais ou menos rapidamente, passou a corresponder a alguma forma de
dinheiro. Como não poderia deixar de ser, levando-se em conta a inveja
masculina e a necessidade de melhorar sua posição perante as mulheres,
fecharam as portas do mundo do trabalho, de modo que a elas ficava
reservado apenas o “espaço privado”. Estavam fadadas a reproduzir e a cuidar
da casa, dos filhos e do seus esposos, de quem se tornavam totalmente
dependentes para os fins de sobrevivência material.
A descrição que faço é superficial e um tanto esquemática, mas serve para
demonstrar que os homens trataram de reverter sua sensação de inferioridade
e de impor sua força sobre as mulheres. A força efetiva era a física, mas eles
foram se tornando, aos poucos, muito competentes até mesmo naquelas
atividades que não dependiam da supremacia física. Acredito firmemente que
têm sido mais eficientes do que as mulheres nas atividades intelectuais apenas
porque atribuíram a si tais tarefas – das quais elas foram ativamente alijadas –
e não por força de alguma inferioridade feminina. No entanto, não foi
exatamente assim que o assunto foi colocado: passaram a considerar as
mulheres como intelectualmente inferiores; esse tornou-se o discurso oficial de
sucessivas gerações de homens. Gostavam de afirmar a suposta inferioridade
feminina e se deleitavam na busca de argumentos a favor dessa tese; por
conseguinte, o machismo se caracterizava essencialmente pela explícita
atuação na direção de afirmar a supremacia masculina em todos os campos –
com exceção do mais importante, que, para os homens, continuou sendo o
sexual.
Gostaria de enfatizar que a inveja dos homens em relação às mulheres sempre
esteve associada à frustração que eles sentem pelo fato de não se sentirem
desejados sexualmente. Não são todas as diferenças entre os sexos que
provocam a inveja, só aquelas que são percebidas como vantagem para o
outro, como superioridade. Não creio, pois, que seja motivo de inveja o fato de
a mulher poder engravidar e ter filhos; para os homens, isso é desvantagem e
não privilégio; aliás, muitas são aquelas que também sentem como
desvantagem o fato de ter que engravidar e ver seu corpo deformado por
tantos meses. Igualmente, os homens não invejam a menstruação e nem as
mulheres os invejam pelo fato de eles terem que se barbear diariamente. Inveja
não subentende diferença e sim diferença interpretada como favorável ao
outro.
As mulheres, ao se virem alijadas do espaço público e perceberem os enormes
avanços que os homens eram capazes de fazer ao se dedicar às atividades
relacionadas com o trabalho fora de casa passaram a sentir forte inveja do
sucesso que tantos deles obtiveram em decorrência da competência que
demonstraram nesse setor da vida. Na prática, surgia uma condição favorável
à inversão de poderes, uma vez que agora eram as mulheres que passavam a
querer se aproximar daqueles homens mais bem-sucedidos, do mesmo modo
que estes sempre desejaram a intimidade com as mulheres mais atraentes. O
que acabou acontecendo foi um equilíbrio entre os poderes masculinos –
adquiridos, fruto da boa utilização da sua superioridade física e do afastamento
intencional das mulheres de suas áreas de atuação privilegiada – e femininos –
inatos, principalmente relacionados com a aparência física e a capacidade de
despertar o desejo sexual.
Eis aí o ingrediente essencial para o estabelecimento e perpetuação da guerra
entre os sexos: a inveja recíproca. Ela contém um elemento agressivo que
deve se manifestar de forma sutil e disfarçada; os homens que ressentem
muito as mulheres poderão se posicionar como se fossem encantados por elas
– o que, de resto, é verdade. A inveja corresponde ao surgimento de reações
agressivas em relação a alguém que admiramos muito justamente por ser
portadora de características que também gostaríamos de ter. Assim, nosso
sentimento por essa pessoa será sempre ambivalente. Na prática, tal mistura
pode determinar uma conduta masculina muito típica do conquistador: o
homem se mostra, sem muita dificuldade, encantado por uma dada mulher; faz
de tudo para seduzi-la dando-lhe demonstrações de enorme interesse humano,
quando, na verdade, o real interesse é essencialmente sexual; consegue
induzi-la à intimidade física e depois desaparece de sua vida, fazendo-a sofrer
muito; este último procedimento decorre do ingrediente agressivo, vingativo
mesmo. É como se aquela mulher estivesse pagando por todas as outras que
lhe despertaram o desejo. Desaparecer depois de seduzi-la é humilhá-la, fazer
com que ela sinta dores similares às que ele sentiu quando as mulheres em
geral o rejeitaram, especialmente durante os anos da puberdade. Muitos são
aqueles que gastam boa parte de sua energia, ao longo de toda a vida adulta,
nesse tipo de atividade, na qual não estão buscando apenas prazeres eróticos
intensos, mas também tentando resgatar a auto-estima que perderam durante
os anos da adolescência.
É muito peculiar à nossa inteligência a busca de comportamentos capazes de
conciliar emoções antagônicas, como mostrado no exemplo acima. Não
devemos nos apressar ao interpretar condutas humanas, pois elas podem estar
a serviço de vários propósitos simultaneamente. É o caso da reação das
mulheres em relação aos comportamentos masculinos que caracterizam o
machismo. Ao perceberem que os homens se sentem diminuídos por
desejarem e não serem correspondidos da mesma maneira, elas se
empenham ainda mais em se tornar atraentíssimas. Fazem isso com o intuito
de chamar-lhes a atenção e agradá-los? Esse ingrediente também está
presente, parte do erotismo típico da vaidade; quando imaginam o desejo que
irão despertar, poderão se deleitar antecipadamente e até se excitar
sexualmente com isso. Tais ingredientes não excluem aquele de natureza
agressiva derivado da inveja que elas também sentem dos homens – tanto a
inveja derivada do período infantil, onde, de fato muitas meninas gostariam de
ter nascido meninos, como aquela derivada do maior sucesso social e
profissional que usualmente obtêm aqueles homens que são tidos como os
mais interessantes; despertar-lhes o desejo sem permitir qualquer aproximação
é o mesmo que levar uma criança pobre para olhar, através da janela, uma
sorveteria. Há clara maldade na postura das mulheres que se empenham em
se tornar enormemente atraentes, sobretudo quando o objetivo delas é apenas
o de provocar o desejo masculino para que eles se sintam humilhados por uma
eventual rejeição.
As moças percebem que dispõem de um importante poder de atração sobre os
homens já nos primeiros anos da puberdade e adolescência. Com o crescer
dos seios e o arredondar dos quadris elas passam a chamar a atenção e a
atrair um determinado tipo de olhar diferente daquele que estavam
acostumadas a receber durante os anos da infância. Trata-se de uma
descoberta complexa, que pode ser entendida como a que determina a perda
da ingenuidade. A ingenuidade não é perdida, segundo creio, quando um
menino ou menina descobrem como nos reproduzimos e sim quando percebem
– e as meninas parece que saem na frente nesse aspecto – que existe um
complexo jogo de poder entre os sexos e que a vida sexual não pode ser
praticada com a simplicidade com que as crianças “brincam de médico”. A
descoberta do poder sensual por parte das moças leva muitas delas a um
estado de timidez, de retraimento, sendo que algumas entram mesmo em
pânico. Elas percebem que atraem os homens e isso as excita muito. Aquelas
que sentirem medo da própria excitação, muito intensa e um tanto inesperada,
ficarão totalmente inibidas naquelas situações propícias para provocá-los. O
que farão? Tentarão minimizar seus poderes através do uso de roupas
extremamente recatadas, ganhando peso, se tornando particularmente
retraídas, etc. Na realidade, não aprenderam nem a “domesticar” seus
impulsos sexuais e tampouco a instrumentalizá-los. Passam a sentir-se à
mercê deles, ficam reféns de sua própria excitação, o que determina um estado
de confusão psíquica capaz de gerar sintomas como os acima descritos, entre
outros.
Um certo grupo de moças aprende a lidar com sua própria sexualidade; elas
passam a ter controle sobre esse instinto e perdem o medo de serem
“desencaminhadas” por causa dele. Tal temor era mais intenso no passado,
quando eram muito intimidadas por seus pais quanto às peculiaridades do
sexo. Hoje, ao contrário, as de 13 anos “ficam” com os rapazes da mesma faixa
etária nas festas e, através dessa sadia experiência, vão aprendendo a sentir a
excitação sexual sem medos e sem receio de perder o controle sobre si
mesmas. Aprendem isso por meio das sensações tácteis que as trocas de
carícias determinam; notam que a excitação determinada por olhares de desejo
não são de natureza diferente, de modo que perdem a ingenuidade e parte do
medo que eventualmente experimentaram pelo fato de terem crescido e se
tornado atraentes, e com isso aprendem a lidar com sua sexualidade.
Percebem que muitas moças podem usá-la como arma de sedução e de
humilhação em relação aos rapazes, mas nem sempre seguem por esse
caminho.
Um outro grupo de moças, nada pequeno, percebe o poder que elas têm aos
olhos dos homens, o qual será tanto maior quanto mais forem capazes de se
vestir e de se comportar de determinados modos que eles sintam como
particularmente excitantes. A excitação que isso lhes causa pode provocar uma
certa perturbação íntima, mas aprendem a sentir mais prazer em provocar o
desejo do que em sentir qualquer tipo de excitação sexual que não seja aquela
derivada do exercício da vaidade. Para elas, despertar o desejo dos homens,
tê-los rendidos aos seus pés torna-se o mais importante. Nesse caso, existe o
benefício simultâneo de dois componentes do processo: a vaidade e o desejo
agressivo; o ingrediente vingativo e invejoso passa a participar ativamente do
fenômeno sexual. Aliás, é por razões dessa ordem que ainda temos muito que
pensar sobre a dramática associação, presente, em doses variadas, em quase
todos nós, entre sexualidade e agressividade. Para tais moças, como regra as
mais atraentes, o poder sensual se torna um instrumento de dominação,
humilhação e uma arma muito poderosa. Sim, porque sabemos o quanto os
homens são sensíveis a esse tipo de encanto.
Não posso deixar de registrar um importante subproduto derivado desses
processos psíquicos tipicamente femininos e que têm a ver com o poder que,
sem muito esforço, passam a ter a seu dispor. Surge uma importante e grave
tendência, na maioria das moças mais atraentes, a se acomodarem na
condição privilegiada que a natureza lhes criou. São muito bem-sucedidas
socialmente, assediadas, convidadas para muitas festas e sempre muito bem
recebidas pelos rapazes; tudo em virtude de suas propriedades inatas, de sua
aparência física. Elas sabem que o mundo se curva aos seus pés, e que isso
acontece mesmo que não façam nenhum esforço. Têm acesso ao que é tido
como o que há de melhor sem ter que fazer outra coisa senão existir e se
manter atraentes. Poucas são as que compreendem, na mocidade, que tais
propriedades não durarão mais que umas poucas décadas e que seria
importante que cultivassem outras prendas, tanto morais como intelectuais,
capazes de gerar competências práticas que pudessem torná-las criaturas
verdadeiramente independentes e produtivas. Julgam-se muito espertas
porque têm tudo “de mão beijada” e não percebem que estão construindo um
futuro muito sombrio para si mesmas.
A instrumentalização do poder sensual, executada justamente por um bom
número das mulheres mais bonitas, atraentes e que são cobiçadas por muitos
homens, acaba por ser percebida pelos mais inteligentes e perspicazes. O que
eles fazem? Tratam de sofisticar ainda mais seus poderes e de instrumentalizá-
los na mesma medida. Assim, muitos homens vão se apercebendo que só
terão acesso a essas mulheres se tiverem boa posição econômica, social e
profissional. Esforçam-se por conseguir tais distinções e, aparentemente, as
oferecem às belas mulheres que tanto os encantam. Na realidade, apenas
usam seus sucessos como uma espécie de “chamariz”, da mesma forma que
elas se utilizam da beleza. Mostram o que têm, mas não dão nada. Levam as
belas moças para passear nos seus lindos carros, lhes dão “presentinhos” de
valor duvidoso e tratam de, através de seus poderes, seduzi-las a partir da
hipótese de que não é impossível que consigam conquistar um homem assim,
um “vencedor”. Eles, na verdade, buscam o sucesso essencialmente com o
intuito de melhorar sua posição nesse jogo de poder que se estabelece em
relação às mulheres mais belas; depois, querem mesmo é envolvê-las, ter a
intimidade física desejada para, logo em seguida, rejeitá-las e humilhá-las. Elas
aperfeiçoam suas armas por um lado e eles fazem o mesmo por outro.
Um número nada desprezível de homens pode reagir de forma diferente diante
da instrumentalização da sexualidade feminina: inibem o desejo em relação a
elas. Tal inibição poderá determinar uma variedade de sintomas que
chamamos de impotência sexual, sobre os quais temos que refletir mais
profundamente, uma vez que podem muito bem ser explicados por razões
lógicas e até mesmo plausíveis e não sempre como uma patologia. Outros
homens, especialmente quando outros fatores, que não cabe aqui discutir,
também estão em jogo, não só inibem o desejo em relação às mulheres como
o liberam na direção de outros homens. Não tenho dúvida que essa dramática
condição de guerra entre os sexos é um importante fator causador do
encaminhamento homossexual, principalmente em homens de índole delicada,
pouco agressivos e de boa aparência física – talvez por isso mais tentados por
olhares de desejo vindos de outros homens que já transferiram o desejo do
sexo oposto para os do mesmo sexo.
A inveja recíproca só cresce, assim como as hostilidades. Tudo fica camuflado
por uma aparente disposição de natureza romântica entre homens e mulheres,
sendo que o que realmente está em vigor é uma terrível luta pelo poder. Não
creio que se possa sequer pensar em ingredientes amorosos em tais condições
– e que, na prática, corresponde apenas a um dos ingredientes que envolvem
essa complexa condição de relacionamento entre os sexos. Nem mesmo se
pode pensar em importantes ingredientes eróticos, uma vez que o elemento
fundamental envolvido é mesmo o de natureza agressiva.
Minha intenção principal foi mostrar, a partir dessa sumaríssima descrição,
como todos nós, homens e mulheres, nos perdemos de nós mesmos e, em
virtude da forma como internalizamos e sentimos essa diferença na natureza
da nossa sexualidade, nos tornamos escravos uns dos outros. Na realidade,
nessa guerra, como em tantas outras, não existem vencedores e vencidos.
Todos perdemos. Nos afastamos de nós mesmos, passamos a nos preocupar
mais do que deveríamos com o que os outros pensam sobre nós e, em
especial, os do sexo oposto. Homens e mulheres não buscam suas
identidades, não podem se encontrar consigo mesmos e com suas verdadeiras
pretensões. Se tornam escravos dessa diferença sexual mal equacionada e
mal aceita; além disso, perdem o contato com o sexo como fonte de puro
prazer. A grande verdade é que, em nossa espécie, o sexo está associado à
agressividade de uma forma muito mais categórica do que ao amor – é claro
que muitas são as exceções.
Não estou defendendo a tese de que o sexo deve se associar ao amor. Acho
que isso foi estimulado nas mulheres segundo os interesses dos homens. Não
que não seja uma boa associação, mas esteve a serviço de intuitos
repressores. Os homens poderiam ter sua sexualidade livre do amor, ao passo
que aquelas mulheres que fossem competentes para o sexo fora do contexto
romântico eram vistas como levianas ou prostitutas. Certamente, essa é mais
uma manifestação da insegurança sexual masculina, que não poderia deixar de
ser muito forte se levarmos a sério toda a descrição que acabei de fazer; eles
fazem de tudo para tentar reprimir sexualmente as mulheres, sobretudo
aquelas que lhes são relevantes – esposas, filhas, mães. Assim, mulheres “de
bem” só podem ter interesse sexual no contexto da família ou, para ser mais
moderno, num contexto amoroso. Faço parte daqueles que gostariam de ver a
sexualidade podendo se exercer de forma livre, isolada e não como um impulso
que está sempre acoplado a outros. Com isso, não estou deixando de
considerar que pode haver associações e muito menos que a associação do
sexo e do amor não seja uma coisa ótima. Não gostaria que associações
fossem usadas com o intuito repressivo ou estivessem a serviço de
empobrecer nosso principal instinto.
3. Mais uma diferença sexual: ausência de período refratário
Não aprendemos a lidar com nossas diferenças e nem temos sido treinados
para isso, apesar de todo o discurso oficial que nos diz para respeitarmos os
que não pensam como nós. A verdade é que tendemos a não dar crédito
àquelas pessoas que concluíram de modo diverso do nosso a respeito de
qualquer tema. Naqueles mais polêmicos e sérios, como política e religião por
exemplo, o fato é que nos irritamos muito quando nos deparamos com alguém
que tem opinião divergente. A diferença de ponto de vista é vivenciada como
ofensa pessoal, mormente quando acontece com pessoas que nos são caras
do ponto de vista sentimental. É como se nos sentíssemos abandonados,
traídos. Gostamos que pensem do mesmo modo que pensamos porque nos
sentimos aconchegados, menos solitários nesse mundo. Detestamos tudo o
que nos lembra da nossa condição de desamparados, sozinhos e
insignificantes.
Pensando um pouco mais profundamente, é evidente que as diferenças de
opinião têm que existir. Não há dois cérebros idênticos, a não ser nos casos de
gêmeos univitelinos, além do que cada um esteve submetido a experiências
peculiares, sobre as quais refletiu e ponderou de modo próprio. A unicidade e a
solidão que daí derivam são partes essenciais de nossa condição, quer
suportemos bem esse fato, quer não – nossa condição é de “solidão radical”,
como disse Ortega y Gasset. O contrário é que é verdadeiro: deveríamos nos
surpreender agradavelmente quando nos deparamos com alguém que pensa
de modo parecido ao nosso. Tais pessoas, que são as que servem para ser
nossos amigos e que deveriam ser também nossos parceiros sentimentais, são
tanto mais raras quanto mais sofisticado for nosso aparelho psíquico; assim,
pessoas mais simples costumam ter maior facilidade para encontrar outras com
quem gostem de conversar. O que está por trás da nossa intolerância para as
diferenças de opinião é, insisto mais uma vez, a incapacidade que temos de
nos aceitarmos como seres únicos e solitários. Queremos nos realçar, pois isso
faz bem à nossa vaidade – importante ingrediente de nosso erotismo
relacionado com forte prazer exibicionista. Gostamos, portanto, de ser únicos,
mas não suportamos nos sentir solitários, de modo que desejamos nos
sobressair dentro de contextos nos quais os outros estão presentes e
compartilham de interesses muito próximos. É mais fácil, sob o aspecto
psicológico, se destacar por possuir um relógio que todos querem ter do que ter
pontos de vista discrepantes. O relógio nos faz ídolo dos que sonham com ele,
ao passo que a idéia original nos faz sentir solidão, tende a afastar as pessoas
de nós.
Vejamos como isso se torna muito complicado e de solução difícil quando
estamos estudando o relacionamento íntimo. Como não podemos suportar bem
a solidão tendemos a nos acoplar, formando pares. O amor existe, como
sentimento gratificante derivado de uma união estável, justamente porque
suportamos mal o estar só em decorrência de nos sentirmos incompletos em
nós mesmos; é como se algo estivesse nos faltando e que só será preenchido
pela presença constante de uma outra pessoa muito especial. Assim, mesmo
na fase adulta da vida, continuamos a ter interesse em estabelecer um elo
similar ao que tínhamos com nossa mãe. Precisamos do aconchego que deriva
de uma aliança forte, rica em ingredientes infantis. Quase todos nós
precisamos desse “colinho” qualquer que seja nossa idade. E os que podem
prescindir dele ainda assim gostam muito dessa situação; buscam-na com
menos desespero porque podem ficar só; contudo, buscam-na; não o
precisam, mas o desejam.
Vimos, no segmento anterior, que homens e mulheres rivalizam e estão em
permanente luta pelo poder em virtude da mal elaborada diferença da
importância da visão no despertar do desejo sexual. E são esses mesmos
indivíduos, quase sempre em pé de guerra, os que terão que se aconchegar e
assim atenuar a dolorosa sensação de desamparo presente neles. Terão que
ser, ao mesmo tempo, rivais e protetores um do outro. Não é à-toa que são tão
grandes as desconfianças que costumam se manifestar a todo instante nos
relacionamentos íntimos. Como confiar no nosso maior rival?
E mais: como suportar que aquele que é o nosso objeto de aconchego tenha
pontos de vista diferentes dos nossos se isto justamente é o que mais nos faz
sentir abandonado e sozinho? Não é sem motivo, pois os casais brigam tão
dramaticamente por qualquer mínima diferença de opinião. São sérias as
razões que levam aqueles que se amam a quererem homogeneizar todos os
seus gostos e interesses, suas convicções e seus projetos de vida. Por outro
lado, tal empenho não pode deixar de desembocar em atitudes totalitárias, nas
quais um dos dois acaba por dominar, ao menos em aparência, o outro.
Estabelecem-se, assim, as freqüentes relações que E. Fromm chamava de
sadomazoquistas. Ao mesmo tempo, e se levarmos em conta que não existem
dois cérebros iguais e que as experiências de vida são únicas, como
poderemos sustentar a hipótese de homens e mulheres serem e pensarem da
mesma forma?
Nos perdemos nos meandros das nossas próprias contradições, sendo que
muitas das precárias reflexões que comumente fazemos derivam justamente
de algum ingrediente emocional mal elaborado. Como não suportamos nossa
condição de solitários, gostamos de supor que o outro sente e pensa de modo
similar ao nosso. Não podemos deixar de pensar assim porque nossa emoção
o pede. Ao mesmo tempo, os fatos nos irritam a todo instante porque nos
provam o contrário (“Minha mulher, ao menos ela, terá que pensar como eu,
sentir a vida como eu, ter sensações psicológicas similares às minhas, viver
sua sensualidade de modo idêntico ao meu”. “Se o meu marido dá sinais de
interesse pelo “traseiro” daquela outra, já fico irritada, pois não fico olhando o
corpo dos outros homens”. Estes são alguns exemplos do que acontece no
cotidiano de quase todos os casais, sempre em virtude da tentativa de
homogeneizar pensamentos).
Na realidade, não podem existir dois cérebros pensando do mesmo modo o
tempo todo; isso não acontece nem mesmo entre gêmeos idênticos, pois cada
um acaba por concluir de forma peculiar sobre os acontecimentos que
assolaram a ambos; ou então esteve submetido a condições únicas, não
idênticas às do irmão – por exemplo, um dos dois contrai uma doença do tipo
hepatite, que exige longa recuperação, e pronto, já aconteceu de terem tido
uma vivência importante que os diferencia. Ora, o que dizer de um homem e
uma mulher que, no mínimo, têm no seu instinto sexual algumas diferenças
que fazem com que suas histórias de vida sejam não só diferentes como
percorram territórios antagônicos? Como supor que um homem, que tem o
desejo ativo visual e que se sente frustrado pela não- correspondência, possa
ter uma subjetividade idêntica à de uma mulher, que é objeto do desejo
masculino e que se sente gratificada e enlevada por isso? Apenas por força
dessa diferença, penso que já seria impossível qualquer conjectura a respeito
da igualdade entre os sexos. Igualdade de direitos e de responsabilidades é
claro que deve existir, mas não é sob essa ótica que estão sendo formuladas
essas reflexões. Além do mais, nossa ânsia pela igualdade se origina mesmo é
na nossa incapacidade de suportar a solidão e não em uma ideologia que
tenha se mostrado convincente à nossa razão.
Nos irritamos brutalmente com as diferenças entre as pessoas, tentamos
equalizar nossa subjetividade com a da nossa mulher e vice-versa, mas nada
disso adianta: lá estão novamente as irritantes diferenças na maneira de ser e
de sentir que acabam por se refletir na forma com que cada um fala. Não
podemos sequer saber se as palavras, usadas por pessoas diferentes,
correspondem, no íntimo delas, a sentimentos similares. De fato, a mente
alheia é, e sempre será, um mistério para cada um de nós. A psicologia é a
ciência que estuda, entre outras coisas, os modos de tentarmos construir
pontes entre essas ilhas solitárias! Seus conceitos sempre terão que ser
usados com enormes reservas, justamente em virtude das dificuldades que
encontramos ao queremos entender o que se passa dentro do outro. Gostamos
de qualquer concepção ou ideologia que nos diga que somos todos iguais – e
contra elas nossa vaidade imediatamente irá se insurgir, pois ao mesmo tempo
odiamos ser iguais aos outros –, mas somos todos diferentes; e mais, esta
diferença se exalta quando falamos de um homem e de uma mulher.
Se os sexos já se distinguem pela diferença, já descrita, relacionada com a
importância da visão no desencadear dos processos eróticos, mais complicada
ainda fica a questão quando levamos em conta o fato de que existe uma outra
diferença essencial na nossa fisiologia sexual: o homem experimenta um
período refratário após a ejaculação, o qual inexiste na mulher; tanto é assim
que ela pode continuar trocando carícias eróticas indefinidamente, sem que
isso se torne repulsivo, doloroso ou desagradável. Tal diferença é, como regra,
acatada na vida prática e no cotidiano dos casais. Assim sendo, sempre que o
prazer não é alcançado simultaneamente – o que é o mais comum, aliás a idéia
de que as descargas teriam que acontecer ao mesmo tempo já deve ter se
originado no anseio de atenuar a solidão e de uma tentativa de impor a
igualdade –, a preferência é dada à mulher, não por cavalheirismo, mas porque
o homem não costuma ter condições “técnicas” para continuar o ato sexual
depois da ejaculação.
Em outros momentos, porém, a diferença volta a ser vivenciada como grave
ofensa pessoal. A questão do orgasmo feminino, à qual voltaremos mais
adiante, tem tendido a se transformar em ponto de honra para os homens, que
insistem em imaginá-lo como algo equivalente à sua própria ejaculação. Será
que é assim mesmo? Na realidade, não temos como saber exatamente o que
sentem as pessoas do sexo oposto no momento preciso da descarga
fisiológica que lhe é tão característica. A virilidade e a auto-estima sexual dos
homens têm estado associadas à competência, que eles têm sido estimulados
a desenvolver, para conduzirem suas parceiras ao nível de excitação e
descarga adequado. Como saber se a mulher está mesmo tendo um orgasmo
ou se está fingindo? Como saber se é verdade ou mentira algo que diz respeito
a um fenômeno que não temos meios de conhecer “por dentro”? Como confiar
no sexo oposto, nosso rival tradicional? Como saber se a mulher está mesmo
“se entregando” a um homem ou apenas fingindo fazê-lo para, com isso, ter
mais poderes sobre ele?
A resposta a tais perguntas é muito simples: não temos meios para saber
exatamente o que se passa na mente de outra pessoa, e muito menos se for
do sexo oposto. Nós, homens, não sabemos como funciona o psiquismo de
uma criatura que não vivencia um período de desinteresse sexual depois de
atingir o orgasmo, do mesmo modo que uma mulher não saberá, jamais, o que
significa um período refratário. Os sinais derivados da diferença são
relativamente evidentes e tendem a ser motivo de brigas: o homem, relaxado e
completamente saciado, quer dormir um pouco; a mulher, estimulada pelo
clima erótico que nela não se extingue completamente, quer conversar e
namorar. Ambos se decepcionam, acusam o parceiro de grosseria ou de
incompreensão. As diferenças, sempre que aparecem, nos deixam
incomodados, desconcertados e perplexos.
Não é impossível que a percepção, ainda que não muito clara e consciente por
parte dos homens, de que a inexistência do período refratário determina uma
possibilidade sexual ilimitada para as mulheres seja mais um fator de inveja e
de insegurança masculina. Inveja porque a cultura machista sugere que serão
tanto mais viris aqueles que forem mais competentes – qualitativa e
quantitativamente – e interessados em práticas sexuais. A disputa entre os
homens é no sentido de terem mais sucesso com muitas mulheres e de serem
capazes de múltiplas experiências sexuais em curto prazo. Ora, isso é coisa
muito fácil para as mulheres, uma vez que a ausência do período refratário faz
com que não exista limite biológico para a prática sexual feminina – a
prostituição feminina, por exemplo, é muito mais fácil de ser exercida do que a
masculina.
A insegurança masculina está relacionada com o fato de as mulheres poderem,
caso quisessem, ter experiências sexuais com grande facilidade. Não
costumam ter dificuldades para encontrar parceiros para esse fim, assim como
não lhes falta disponibilidade fisiológica. Aliás, a fantasia masculina é
exatamente essa: a de que as mulheres são criaturas que, quando bem
envolvidas e seduzidas, certamente acabarão cedendo aos apelos eróticos de
um homem interessante e sutil. Eles pensam sobre o assunto tomando por
base a eles mesmos e como agiriam se estivessem no lugar delas, o que não
tem nada a ver com o que, de fato, acontece com elas. Os homens sentem-se
inseguros porque temem que as mulheres façam aquilo que eles fariam se
possuíssem as facilidades que reconhecem existir na vida delas. Só que elas
não são iguais a eles e, sendo como são, agem como os seus anseios
determinam. Esse é mais um fator importantíssimo de desconfiança, inveja e
desentendimento entre os sexos.
Não podemos saber o quanto das diferenças no modo de experimentar a vida,
o trabalho, as relações afetivas e familiares derivam das nossas diferenças
fisiológicas. Não é a mesma coisa ser o que deseja e o que é o desejado, nem
ter ou não período refratário depois de um encontro sexual, tampouco ser mãe
e ser pai, e assim por diante. Se pudermos aceitar melhor nossa condição de
criaturas solitárias, talvez possamos ser mais condescendentes com as
diferenças que existem entre as pessoas em geral e entre o homem e a mulher
em particular. Possivelmente isso nos ajude muito a entender um pouco mais
um do outro ao invés de apenas nos hostilizarmos.
Podemos entender perfeitamente por que as mulheres – quando, com toda a
justiça, se insurgiram contra a idéia tradicional da inferioridade de sua condição
– aderiram à hipótese da igualdade entre os sexos; elas não podiam se
reconhecer como diferentes, pois a solidão lhes incomoda tanto quanto aos
homens! Assim, enveredaram por uma rota de pensamento extremamente
perigosa e de alto risco: passaram a ter os homens como padrão de referência
para o entendimento de sua subjetividade. O equívoco é, a meu ver, muito
grave; o denunciei já em 1980 e isso me rendeu péssimos dividendos: fui
acusado de “machista”, uma vez que “não aceitava” a tese da igualdade entre
os sexos. Do meu ponto de vista e das pesquisas que então desenvolvia, eram
cada vez mais relevantes os desdobramentos da diferença na intensidade do
desejo visual entre os sexos. O curioso é que, na época, a supremacia
feminina me parecia indiscutível, o que hoje já não me parece ser tão
verdadeiro, de modo que eu era tachado de “machista” justamente quando
defendia a tese da superioridade feminina e de que o sexo frágil era o
masculino. Hoje compreendo bem o que aconteceu, pois já entendi que as
pessoas querem ver a igualdade reinando a qualquer preço. A idéia é
necessária, até mesmo se não for verdadeira. Ela interessa mais até mesmo do
que a da superioridade feminina, pois essa última não dá um bom destino para
a questão da solidão.
Nessa época igualitária, o orgasmo começou a ser visto como tendo
características iguais à ejaculação masculina – aliás, passou-se a utilizar o
termo “orgasmo” também para os homens, com o que jamais concordei, porque
sempre defendi a idéia de que o feminino e o masculino teriam que tentar se
definir por si e não usarmos um como referência para o outro. O clitóris passou
a ser entendido como uma versão atrofiada do pênis, o que, do ponto de vista
embriológico, pode ser verdadeiro, mas não implica que tenhamos que refletir
sobre ele tomando por base o que acontece com o pênis. O orgasmo vaginal,
entendido por Freud como indício de maturidade feminina, passou a ser
malvisto e aquele que se desenvolve no clitóris começou a ser tratado como
tendo prioridade e maior importância. Foi a época em que surgiram as revistas
femininas recheadas de fotos de homens nus para que as mulheres tivessem
deleites visuais iguais aos dos homens; tais revistas foram, de fato, deleite dos
homossexuais masculinos, fascinados pelo corpo de homens e portadores do
desejo visual típico do gênero.
Assim, o feminismo, apesar de toda a hostilidade e ressentimento que o
acompanhavam, tinha em seu contexto, como ingrediente principal, a ideologia
igualitária, na qual as mulheres deveriam se espelhar nos homens para melhor
se conhecer. O “inimigo” e rival eram também aqueles que deveriam servir de
modelo! É difícil imaginar equívoco maior e que só poderia levar a resultados
duvidosos e de vida curta. Dele resultou, como importante contribuição, o
aspecto relacionado com a igualdade de direitos sociais das mulheres.
Contribuiu, junto com os avanços tecnológicos – e mesmo psicológicos que,
com todas as dificuldades, andamos fazendo – para a emancipação econômica
das mulheres e para uma crescente ocupação, por parte delas, do espaço
público. Agora, quanto à compreensão do que acontece no relacionamento
entre os sexos e no que se refere ao entendimento que as mulheres gostariam
de ter de si mesmas e de sua sexualidade, ainda temos muito a caminhar.
4. Outras peculiaridades do “feminino”
Serão abordados, ainda, dois elementos próprios da biologia feminina e que
interferem muito no modo como as mulheres se comportam. O primeiro deles
tem a ver com o ciclo menstrual e com as variações hormonais que ocorrem,
aproximadamente, a cada 28 dias. Antes, porém, gostaria de lembrar que
pertenço a uma geração de médicos que foi formada dentro de uma visão
ainda predominantemente masculina, até mesmo no que dizia respeito às
questões femininas. Isto é, até há poucas décadas, eram poucas as
profissionais da área médica que fossem mulheres. Elas eram franca minoria e
suas opiniões valiam pouco até mesmo quando falavam da sua própria
condição subjetiva. Por exemplo, algumas das pioneiras da psicanálise eram
do sexo feminino e, enquanto pacientes de Freud, travaram feroz polêmica com
o mestre que insistia em ensiná-las a se colocar num papel feminino que ele
considerava que era próprio e indicador adequado do que ele entendia como
maturidade emocional da mulher. O modelo de maturidade feminina era, pois,
produzido no interior de um cérebro masculino.
Minha geração se formou envolvida por concepções tipicamente “machistas”,
nas quais as cólicas menstruais eram tidas como “manha” – ao menos em boa
parte – e a tensão pré-menstrual uma invenção das mulheres com o objetivo de
encontrarem justificativa para seus maus gênios e irritações indevidas. As
“coisas de mulher” eram tidas como “frescura”, como sintomas histéricos. Elas
eram tratadas, sob o aspecto da fisiologia hormonal, da mesma forma que os
homens e tudo aquilo que nelas fosse diferente do que eles vivenciavam era
desconsiderado e tratado como problema psicológico, imaturidade emocional,
falta de firmeza e caráter.
O que estava por trás dessas concepções era a dificuldade humana de
entender o outro, e principalmente um outro que é essencialmente diferente de
si mesmo. Como os homens não vivenciam alterações hormonais tão
substanciais ao longo de cada mês de vida, não foram – e ainda hoje não o
são, a não ser com muito esforço – capazes de entender e de dar genuíno
peso ao que se passa no íntimo das mulheres. Até os que são portadores de
enorme boa vontade e desejo de entender têm dificuldade em penetrar na alma
feminina e tentar entender como é que elas sentem as variações do estado
físico e como isso interfere sobre o emocional. Como fica sexualmente uma
mulher no período da ovulação? Em que isso altera seu estado emocional, sua
disposição afetiva? Como é que um homem poderá pensar sobre isso com
algum rigor?
É claro que existem obstáculos intransponíveis na comunicação que tentamos
estabelecer com outros humanos, especialmente de sexos opostos. As
mulheres tentam nos explicar o que sentem, mas nem sempre conseguimos
acompanhar a sua descrição. Ao menos já somos capazes de acreditar que
existem efetivas mudanças físicas capazes de determinar alterações
emocionais derivadas das constantes alternâncias hormonais femininas. Já
conseguimos imaginar que os problemas psíquicos usuais no climatério podem
estar sendo complicados por fatores orgânicos sobre os quais tentamos
interferir através da reposição de hormônios.
Assim, as diferenças entre os sexos não residem apenas na presença da
menstruação das mulheres. Ela é a manifestação mais visível de uma série de
processos hormonais que não existem nos homens e que fazem a vida das
mulheres – ou pelo menos de um grande número delas – mais difícil de ser
dirigida de modo firme e consistente para um norte. Sim, porque a presença de
tantas variações ao longo das semanas cria dúvidas e instabilidades psíquicas
que podem determinar alterações na motivação e no modo como elas pensam
sobre seus próprios projetos de vida. Penso que é muito mais difícil para uma
mulher se determinar e perseguir com afinco um dado objetivo. Isso torna mais
meritório o feito daquelas que conseguem ter sucesso nesse tipo de
empreitada. O inverso também é verdadeiro: a falta de consistência e firmeza
na perseguição de objetivos não deve ser motivo de tanta perplexidade, uma
vez que a alma feminina é, nesse particular, muito prejudicada por sua
natureza biológica. Tarefas que exigem estabilidade psíquica e um estado
emocional constante e mais racional podem ser muito mais difíceis de serem
realizadas por mulheres.
Muito pouco a mais nós, homens, podemos dizer sobre o que acontece dentro
das mulheres por força do ciclo hormonal no qual gravitam. Em decorrência de
uma postura menos arrogante, é possível saber que existem diferenças
substanciais entre os sexos e tentar entender o outro tomando por base o que
podemos perceber nele e não a nós mesmos. Portanto, alterações do humor,
modificações da disposição sexual, irritabilidade e descontrole agressivo
podem ser facilitados, senão totalmente determinados, pelas alterações
hormonais. Tais oscilações determinam efeitos variados em cada mulher, de
modo que a inexistência de “sintomas” em umas tantas não é indício de falta de
consistência na queixa de outras. Somos todos diferentes e as mulheres
também o são entre si.
Outra peculiaridade feminina à qual deveremos dedicar nossa atenção diz
respeito à maternidade. Nesse caso, nós, homens, sentimos, mais uma vez,
uma enorme dificuldade para entender exatamente o que se passa com o
corpo e principalmente com a mente de uma criatura que sente crescer dentro
de si outro ser. O que significa exatamente a percepção de que uma criatura se
move dentro do próprio ventre? Jamais poderemos apreender tudo o que se
passa com uma mulher que vive esse estado. Podemos observar, de fora, que
as reações psicológicas são muito variadas e que vão desde um certo
desconforto pelo fato de ela perceber que está se deformando e ganhando
estrias, até o deslumbramento total pela experiência da maternidade, com total
descaso por todos esses aspectos pessoais – e mesmo descaso em relação a
eventuais reivindicações do marido. Muitas são as mulheres que, ao longo da
gestação, perdem totalmente o interesse sexual – será isso determinado por
razões hormonais? –, enquanto que outras mantêm aceso o desejo. Elas se
tornam distantes dos seus parceiros, uma vez que se sentem mesmo é em
simbiose com seus fetos. Outras não se apegam tão intensamente e nem se
sentem tão completas pelo fato de terem uma criatura se desenvolvendo dentro
de si.
De todo o modo, a partir do parto, cujas dores também são variáveis e não
deveriam ser subestimadas pelos homens, surgem muito intensamente as
manifestações daquilo que, entre os mamíferos, chamamos de instinto
materno, ou seja, um forte impulso na direção de proteger e cuidar do recém-
nascido. Surgem o leite e o desejo de alimentar o bebê. Em umas tantas
mulheres, não observamos tão claramente esses fenômenos, uma vez que
parecem mais preocupadas consigo mesmas do que com seus filhos. Pode ser
que em muitos casos esteja acontecendo um quadro depressivo – nada
incomum nessa fase da vida e derivada de causas múltiplas e ainda não muito
bem conhecidas –, mas em outros, a mulher não parece ser portadora de
nenhum instinto de proteção da prole. A questão dos instintos em nossa
espécie é sempre muito complexa, uma vez que a razão pode determinar
nossas ações de uma forma muito mais definitiva do que os fenômenos inatos
que nos fazem parecidos com nossos ancestrais mamíferos. Assim, mulheres
muito egoístas têm menos gosto pela amamentação e por todo o tipo de
atividade que envolva dedicação, abnegação e sacrifício. Tais criaturas, até
mesmo quando estão na condição de mães, vendo que seus bebês são
totalmente dependentes, são acomodadas e sempre encontram um jeito para
que outras pessoas executem seus afazeres e cuidem de seus filhos.
A maior parte delas, porém, tende a ser muito apegada aos seus filhos,
condição que muitas vezes determina irritação e ciúmes nos seus
companheiros. É importante que se compreenda que ser mãe é uma
empreitada que se inicia em algum ponto de quarto mês de gestação, momento
em que a criança dá sinais de existência autônoma ao se mover dentro do
ventre. Ser pai é uma condição psicológica que, como regra, se inicia lá pelo
quarto mês de vida da criança quando ela sorri para ele, ou seja, quando o
reconhece. A idéia de envolver o pai já durante os meses da gravidez parece
interessante, mas não acredito que possa deixar de, na prática, redundar em
procedimentos um tanto superficiais. Não sabemos se existe algum tipo de
comunicação efetiva entre a mente da mãe e a do feto e menos ainda sobre a
possibilidade de o pai se comunicar com ele, de modo que conversar com o
feto me soa um tanto patético. Não creio que exista nada de instintivo na
paternidade, trata-se de um papel aprendido e uma afeição que se estabelece
a partir do convívio e das trocas de carinho e de sinais de afeição que
costumam crescer com o passar dos meses e dos anos.
É muito importante refletirmos um pouco sobre a questão do instinto materno e
da maternidade em geral. Costumamos pensar, já que a isso fomos induzidos
pela tradição cultural na qual estamos mergulhados, que a pulsão que faz as
mulheres desejarem tanto procriar seja a manifestação do dito instinto.
Gostaria de colocar minha opinião contrária a essa idéia: acredito que o instinto
materno só se manifesta quando do nascimento da criança e, portanto, não
tem relação nenhuma com o desejo de ter um filho. No passado, o instinto
responsável pela gestação era o sexual. Ele não pede a gravidez, mas sim
intimidade entre um homem e uma mulher da qual sempre resultou, como um
“efeito colateral”, a gestação. O forte instinto sexual que possuímos esteve
sempre a serviço do prazer e da reprodução. A separação entre sexo e
reprodução só se deu muito recentemente, a partir do surgimento dos recursos
anticoncepcionais, notadamente daqueles de uso e controle feminino – o
surgimento da pílula foi, sem dúvida, um dos fatos marcantes do século XX.
O desejo de ser mãe não é, a meu ver, expressão de natureza instintiva. Trata-
se de um prazer pessoal, hoje totalmente desvinculado inclusive de qualquer
tipo de necessidade social. Se, no passado, a reprodução era necessária para
fins da perpetuação de uma espécie que padecia de muitas adversidades que
poderiam facilmente levá-la à extinção, hoje a natureza agradeceria aos casais
que decidissem não ter filhos, uma vez que o planeta está superpopulado e
com graves problemas ecológicos. Se, no passado, a reprodução estava
também muito vinculada aos interesses dos pais, já que os filhos trabalhariam
para eles, sobretudo nas áreas rurais, e cuidariam deles nos anos da velhice,
nos dias de hoje os jovens casais deveriam perguntar com muita determinação
e coragem se querem ou não ter filhos, se estão dispostos a pagar o preço de
criá-los para que depois partam convictos de que não devem nada àqueles que
os geraram e que cuidaram deles com carinho por tantos anos.
Se formos capazes de pensar para além da tradição, cabem perfeitamente as
perguntas: vale a pena ter filhos nos dias de hoje? O que podemos esperar
deles no futuro? Qual o sentido, para os humanos, de esforços sem
recompensas? Seremos capazes de nos dedicar desinteressadamente a eles
sem, de fato, esperar nada em troca? Saberemos deixá-los crescer e ir
embora, na busca do seu próprio destino? Como nos comportaremos se eles
“saírem” muito diferentes daquilo que sonhamos? Meu intuito, com essa salva
de questões de difícil resposta, é mostrar como temos sido levianos em relação
a aspectos fundamentais da vida. Inventamos a pílula anticoncepcional – entre
outros recursos que nos permitem decidir se e quando teremos filhos –,
invertemos, através de aspectos educacionais, os tradicionais elos entre pais e
filhos – agora os filhos sentem-se credores vitalícios dos seus pais; portanto,
desapareceram as conveniências que nossos ancestrais tinham com a
reprodução e nem por isso pensamos seriamente se queremos ou não ter
filhos. Apenas cumprimos o ritual de tê-los sem saber ao certo o que estamos
fazendo. Os temos porque todo o mundo os tem e, portanto, deve ser bom tê-
los. Isso não é modo de pensar. Não é à-toa que tantas pessoas se
arrependem de ter filhos mas, como dizia o poeta, só depois de tê-los tido.
Temos que pensar mais profundamente sobre nosso destino se quisermos nos
dar bem nessa vida e parar de catalogar as pessoas, mormente aquelas que se
comportam de modo diferente do nosso. Quando uma mulher declara que não
quer ter filhos porque prefere se dedicar aos seus afazeres profissionais, é
rotulada de egoísta. Ora, o que leva a maior parte das mulheres e dos casais a
ter filhos senão o egoísmo deles? Como o planeta não necessita da
reprodução, as crianças nascem porque os pais querem se ver perpetuados
neles, querem um “brinquedo” que os entretenha e que fortaleça o vínculo
conjugal, isso quando interesses ainda menos nobres não estão envolvidos no
processo reprodutor. As pessoas dizem que a vida é dura e difícil, que é rica
em sofrimentos, que a consciência da própria morte é uma dor insuportável e
ainda assim concebem um novo sofredor. Geram por deleite próprio e, nos dias
de hoje, sem nenhum grande interesse posterior, uma vez que os filhos já
entenderam que, ao não terem “pedido para nascer”, em princípio não devem
nada aos seus pais.
É preciso aprender a respeitar as pessoas que pensam de modo diferente de
nós. Decidir não ter filhos é uma opção digna e não está relacionada com o
egoísmo. Não há nenhuma razão para que tantas mulheres se envergonhem
de não os terem, como se fossem desprovidas de algum ingrediente instintivo
muito nobre. O único motivo que leva uma mulher ou um casal a ter filhos é o
que deriva do desejo que sentem de terem crianças por perto para que com
elas possam brincar e desfrutar dos prazeres e agruras de acompanhar o seu
crescimento. Não se trata de uma função nobre e sim de um prazer pessoal
que só deveria ser exercido por pessoas que, de fato, gostam muito de
conviver com crianças. Os que decidirem dar outro rumo a suas vidas não têm
nada do que se envergonhar e nem podem ser vistos como menos dignos ou
privados da nobreza de alma que leva as pessoas à reprodução. O mundo do
futuro é o da multiplicidade de opções de modos de vida, sendo desnecessário
e inconveniente hierarquizarmos as diversas fórmulas, ou seja, não existem
formas melhores ou piores de viver, mas sim diferentes.
5. Em busca do que realmente é o feminino
A essa altura, saímos do domínio do que é mais ou menos conhecido para o
que nos é completamente desconhecido. Já somos capazes de descrever
algumas das propriedades que caracterizam o feminino, as quais são
diferentes das masculinas e que jamais deveriam ser comparadas com elas,
pois é um grave erro lógico comparar objetos ou seres que são
qualitativamente diferentes. Já pudemos perceber que muitas das
peculiaridades consideradas como parte inerente do feminino foram impostas
às mulheres através de pressões sociais que tinham como base principal a
inveja e a insegurança que os homens sempre sentiram em relação a elas.
Jamais deveríamos nos render e acatar com facilidade afirmações do tipo: “ser
homem é ser assim” e ” ser mulher é ser assado”; ou, então, que “o homem foi
feito para isso” enquanto que “a mulher foi feita para aquilo”.
Temos que nos ater e pensar um pouco sobre o modo como a tradição pesa
sobre nós. Parece evidente que concepções antigas, que estejam muito
afastadas dos sentimentos humanos atuais, tendem a desaparecer mais ou
menos rapidamente. Isso é verdadeiro para a maioria dos casos: não há mais
razões para a manutenção da virgindade feminina até o dia do casamento,
graças ao surgimento dos anticoncepcionais, e o chamado “tabu da virgindade”
deixou de vigorar quase que em seguida. Alguns preceitos tardam muito em se
modificar até porque temos forte tendência a nos apegar a velhas idéias. Não
nos agradam as novas concepções que nos obrigam a abrir mão dos nossos
pontos de vista e rever muitos dos nossos conceitos; não gostamos de mudar
de opinião, como se isso implicasse em um trabalho similar ao que temos
quando mudamos de casa – e quantos também não gostam de mudanças no
plano das coisas concretas? Novas concepções exigem rearranjo em várias
outras idéias e, para as pessoas que buscam a coerência, implicam também
em mudanças de atitudes. A resistência que sentimos diante do dispêndio de
energia que tais mudanças inevitavelmente determinarão, uma espécie de
preguiça mental que nos caracteriza, nos leva a posturas conservadoras, a
repetir o que aprendemos sem exercermos todo o poder de crítica que nossa
inteligência permitiria.
As coisas são mais fáceis quando antevemos vantagens substanciais ao
aderirmos a novas concepções, da mesma forma que é mais fácil mudar para
uma casa nova mais bonita e mais confortável. Alterações nos padrões sexuais
que nos tornaram mais livres e com mais condição para usufruir dos prazeres
aí envolvidos aconteceram de forma mais rápida do que aquelas que têm a ver
com a igualdade de direitos e de salários das mulheres, condição que não
favorece em nada o pensamento masculino tradicional, ao menos à primeira
vista. Somos mais rápidos para fazer as mudanças que nos favorecem e
tendemos a lentificar aquelas que não nos beneficiam. Assim, nem tudo o que
tem durabilidade, que tem persistido ao longo de gerações, constitui sabedoria
digna de ser respeitada. Muitos conceitos apenas sobrevivem porque estão a
serviço da preservação de privilégios das minorias que detêm o poder social.
Além disso, temos que ter cautela com as “meias-verdades”, com as idéias que
podem ter uma certa consistência mas que são usadas para fins escusos.
Assim, a afirmação de que as mulheres só são capazes de se realizar
sexualmente em um contexto romântico, ao passo que os homens separam
perfeitamente o sexo do amor é compatível com o que costumamos observar.
Não significa, porém, que estejamos diante de uma verdade biológica. Talvez
seja mais adequado dizer que à maioria delas não tem interessado o sexo sem
envolvimento amoroso. Aliás, mais preciso ainda seria dizer que elas não
desenvolveram o gosto pelo sexo sem seu acoplamento a alguma outra
finalidade. Possivelmente, a inexistência de período refratário dificulte que as
trocas de carícias ganhem interesse por si só. As mulheres preferem o sexo
acoplado ao envolvimento amoroso ou, em certos casos, a interesses práticos
bem definidos – como é o caso do dinheiro para aquelas que são prostitutas.
As coisas poderão se alterar a qualquer momento e elas poderão perfeitamente
passar a vivenciar o sexo como fonte de prazer e não como instrumento para o
atingimento de outros objetivos. Creio mesmo que mulheres mais livres e
emancipadas, tanto emocional como economicamente, em breve passarão a
ter uma outra idéia a respeito das trocas eróticas.
Não estou querendo, em hipótese alguma, entrar pelo caminho feminista de
que as mulheres emancipadas gostarão de ser e de fazer tudo aquilo que os
homens fazem, até porque não acredito que os homens sejam criaturas mais
livres do que elas. O que estou querendo é reafirmar minha idéia de que o que
hoje se entende como constituinte do feminino corresponde a um conjunto de
conceitos que muitas vezes foram impostos às mulheres em virtude dos
interesses masculinos e dentro de um contexto, já descrito, belicoso e hostil.
Assim, as mulheres terão que ir atrás de encontrar-se consigo mesmas,
usando a si como referenciais e não os masculinos – tradicionais ou atuais.
Cabe um outro exemplo: não sei se as que são emancipadas terão em relação
ao trabalho a postura que é usual nos homens, nem se irão forçosamente
transferir para esse setor da vida toda a vaidade e todo o vigor competitivo que
os homens costumam imprimir a ele, nem se isso é obrigatório e parte
inexorável do sucesso – isto é, se os que mais competem e se desgastam são
sempre os que vão melhor e mais longe – e nem também se as mulheres não
irão estabelecer uma relação mais saudável com o trabalho, onde o estresse
não seja tão intenso e destrutivo.
Como a vaidade feminina se dirige, em grande parte, para o físico –, o que
acredito ser mais saudável, uma vez que a vaidade intelectual só gera
malefícios até mesmo à saúde, pois é fato que os homens vivem, em média,
sete anos a menos que as mulheres – é possível que o trabalho feminino seja
caracterizado essencialmente pela busca de prazer intrínseco e corresponda a
uma atividade que redunde em bons resultados para o meio social. Pode ser
que isso lhes pareça mais importante do que as ações onde o destaque e o
sucesso estejam acima desses valores intrínsecos. Não estou querendo ser
retrógrado, mas o prazer que podemos retirar de uma atividade pode, muitas
vezes, ser mais importante do que a remuneração e o prestígio nela contidos.
As enfermeiras e outras prestadoras de serviço nem sempre muito bem
remuneradas, inclusive as professoras, sempre foram, e continuam a ser,
criaturas que possuem uma alegria interior e um sentido de realização que
muitos profissionais destacados, em áreas onde não existe a clara ação de
beneficiar terceiros, não sentem e se ressentem por não senti-lo. É possível
que, nessa área, sejam os homens que tenham muito a aprender com as
mulheres, sempre encantadas com atividades úteis ainda que repetitivas e
monótonas. A riqueza da atividade, para a mulher, sempre esteve relacionada
com o prazer em servir, com a dedicação a terceiros, e não com o destaque
que o trabalho pudesse determinar. O destaque feminino já acontece por
razões sexuais, pelo fato de elas serem atraentes aos olhos dos homens. O
trabalho esteve, pois, a serviço de se sentirem úteis e de prestarem serviços de
efetivo interesse social.
Na questão do trabalho, como em todas as outras que dizem respeito ao que
seja efetivamente o feminino, estamos engatinhando. Já somos capazes de
fazer perguntas mais claras, mas ainda não estamos em condições de
respondê-las com firmeza. Gostaria de tentar me fazer entender no que penso
ser o essencial: acredito que as mulheres buscam, no trabalho, prazeres
intrínsecos a ele, ao passo que os homens o vêem como um veículo para o
destaque, o sucesso econômico e a melhora de sua posição erótica perante as
mulheres. Nada impede que uma mulher, no exercício de sua atividade, se
destaque. Digo apenas que a busca do destaque como primeira intenção não é
da natureza da maior parte das mulheres, pois buscam isso por caminhos que
não passam pelo trabalho. O maior perigo feminino é, a meu ver, o de se
tornarem escravas do prazer de servir e perderem a capacidade de pensar e
agir em causa própria. O prazer de dar pode se hipertrofiar de modo a se
transformar num vício, em algo que determina grande dependência. Quantas
mães não se deprimem – e muitas delas se tornam até alcoólatras – quando
seus filhos crescem e não precisam mais delas? Aliás, é bem provável que a
maternidade seja importante reforçador dessa tendência feminina para servir.
Não é à-toa que muitas das que buscam um modo de vida mais voltado para si
mesmas, indo ou não atrás do sucesso social típico dos homens, tenham
optado por não ter filhos. Conforme já afirmei, não vejo razão para censurá-las
e nem chamá-las de egoístas. Talvez tenham tido uma visão mais clara dessa
contradição feminina, através da qual parece ser mais fácil agir por si e para si
quando a mulher está só, desvencilhada de elos afetivos mais intensos. Digo
que se trata de uma contradição porque o desejo de aproximação amorosa, de
constituir família e ter filhos também é muito forte na grande maioria delas.
Os homens têm muita dificuldade de entender certos desdobramentos dessa
peculiaridade do feminino, através da qual mulheres inteligentes,
independentes, auto-suficientes profissionalmente e mesmo competentes para
viver sozinhas se tornam, repentinamente, em virtude do envolvimento
amoroso, submissas, dóceis, dependentes e dispostas, aparentemente sem
nenhuma dor, a abandonar suas carreiras. Não entendem porque jamais
agiriam dessa forma, uma vez que, para eles, o trabalho é o meio pelo qual se
sentem interessantes aos olhos femininos e perderem a posição social é o
mesmo que perder a admiração e o amor das mulheres. Estas, por sua vez,
sentem de forma completamente diferente: não acham que são amadas pelos
seus méritos profissionais, muitas sentem exatamente o contrário: que o
sucesso profissional afasta os homens delas. Acreditam que possam ser
amadas por seus dotes físicos, pelas virtudes de caráter e pela capacidade de
servir aos homens e aos filhos. Sabem que o trabalho não lhes será tão vital
porque não interfere na questão da vaidade, que podem voltar a trabalhar em
outro momento e não pensam que deixarão de ser amadas por terem optado
pela vida em família.
Muitas ainda sentem que fazem isso em virtude das pressões masculinas, o
que pode apenas ser uma coincidência: a pouca capacidade para conciliar o
trabalho pessoal com a vida amorosa é uma peculiaridade do feminino.
Podemos comprovar isso, de um modo cada vez mais fácil, nos dias de hoje,
uma vez que cresce o número de homens que não mais se aborrecem pelo
fato de suas mulheres se dedicarem a uma atividade profissional própria. Ao
contrário, muitos ficam perplexos e até mesmo um tanto entristecidos por
causa da atitude de suas mulheres de abandonar seus afazeres. Eles sentem
sua vaidade exaltada pelo fato de estarem unidos a mulheres bem-sucedidas
profissionalmente, de modo que, desse ponto de vista, passaram a gostar de
exibi-las não só como atraentes, mas também como criaturas que vão bem no
mundo do trabalho. Não creio que esse seja um bom motivo para que elas se
dediquem mais ao trabalho fora de casa, nem que elas devam abandonar suas
atividades de forma tão rápida e leviana, uma vez que muitas irão se
arrepender ao longo dos anos seguintes. Voltar ao mercado de trabalho
sempre será uma tarefa difícil, além de esbarrar, aí sim, com obstáculos
familiares, uma vez que maridos e filhos se acostumaram a ser servidos e a tê-
las à sua disposição. Subtrair privilégios é uma tarefa muito difícil.
Quando sozinhas, costumam se dar muito melhor do que os homens; são
muito mais independentes e conseguem gerir suas questões concretas sem
nenhuma dificuldade. Um fato curioso é que, ao se envolverem
sentimentalmente, tendem a desenvolver imediata dependência prática em
relação aos seus amados. Insisto em afirmar que não é essa a expectativa
masculina; isso causa uma certa decepção na maioria dos homens que
optaram por se unir com mulheres independentes. É intensa a tendência delas
no sentido da descaracterização e despersonalização de si mesmas no curso
do fenômeno amoroso. Mulheres independentes passam a preferir que seus
companheiros ditem as regras, que assumam todas as responsabilidades.
Abrem mão até mesmo do gerenciamento de questões que lhes são
essenciais, como é o caso da reprodução. Como podemos entender que uma
mulher inteligente seja a favor de uma “pílula do homem”, condição na qual a
responsabilidade por uma futura gestação sai de suas mãos? Penso que tais
peculiaridades terão que ser melhor entendidas; para elas, não encontro nem
mesmo hipóteses que possam iniciar a tarefa de reflexão.
Faremos um grande avanço no entendimento do que seja o feminino se
pudermos compreender melhor a relação das mulheres com a maternidade,
cujas observações iniciais tentei esboçar no capítulo anterior. Por que a grande
maioria delas continua a desejar tanto ter filhos? É preciso pensar sobre esse
assunto e não simplesmente dar a ele respostas óbvias. Ter ou não filhos
define dois caminhos muito distintos para as mulheres, uma vez que a
maternidade implica, para aquelas moralmente mais bem formadas, em
pesados sacrifícios no que diz respeito aos projetos pessoais. Como já têm,
segundo penso, uma dificuldade maior para dar um sentido, definir uma meta
para suas vidas, acabam por ter que renunciar aos seus já frouxos projetos em
virtude de se tornarem mães. Isso não seria triste se não se arrependessem
mais tarde, se não se sentissem prejudicadas nos objetivos pessoais que
tantas defendem com tão pouca ênfase. Ter um filho implica em uma série de
gratificações, satisfações e também em muitas limitações, que sempre serão
maiores para as mulheres do que para os homens. Assim, jamais deveriam ter
um filho com a intenção de agradar – e muito menos de prender – o homem. O
ônus acabará sendo dela e o compromisso derivado de ter gerado uma vida é
sério, de modo que não pode ser abandonado em caso de arrependimento.
Como elas têm, certamente por várias razões além das que registrei acima,
maior dificuldade de dar um rumo firme à sua vida individual, acabam por se
“diluir” e por “aderir” ao projeto dos homens com quem estão vivendo. A idéia é
interessante e pode fazer com que o par se una mais intensamente, agora
também em busca de objetivos em comum. Só que muitas são as vezes em
que a aliança amorosa se rompe, condição na qual as mulheres se ressentem
duplamente: perdem o parceiro e também o projeto de vida! Além do mais, não
é impossível que os homens façam, de repente, alterações nos seus projetos e
que tais mudanças não estejam de acordo com os pontos de vista das suas
mulheres. O que fazer? Como continuar a apoiar um projeto com o qual não
concordam? Situações difíceis desse tipo poderiam muito bem não existir se
elas tivessem construído projetos individuais.
É claro que a existência de tais projetos limitam suas possibilidades afetivas,
uma vez que a falta de rumo permite o acoplamento, ao menos teoricamente, a
um sem-número de parceiros. É como se a mulher se mantivesse
indiferenciada, esperando para saber quem será o seu companheiro; a partir
daí, irá se definir em função dele. A razão disso seria a ênfase dada ao amor,
prioridade sobre o projeto e a realização individual. Talvez exista também um
medo relacionado com a postura inversa: mulheres muito determinadas
profissionalmente seriam menos interessantes para os homens, de modo que o
medo da solidão seria importante fator da indefinição pessoal feminina. Não
existe situação similar na psicologia masculina. Ao contrário, os homens temem
não serem interessantes para as mulheres exatamente quando não são muito
definidos e bem-sucedidos no mundo do trabalho, que aqui está sendo tratado
como sinônimo de projeto pessoal.
Na prática, as possibilidades afetivas já são limitadas para todos nós. Isso se
considerarmos que os pares que pretendam viver em concórdia deverão ter
afinidades cotidianas de todos os tipos, além de postura ética e projetos
convergentes. Assim, de nada serve essa indiferenciação que as mulheres se
impõem com o propósito de ampliar o “mercado matrimonial”. Poderão se casar
com maior facilidade, mas o mesmo acontecerá com o divórcio. Sim, porque os
verdadeiros pontos de vista e os anseios das mulheres irão querer se externar,
de modo que, mais dia, menos dia, surgirá o conflito entre o desejo amoroso de
fusão com o amado e o desejo de ser um indivíduo com projeto pessoal
definido. Seria interessante que as mulheres pensassem nisso desde o início
de suas vidas adultas, de modo a não imaginarem que o amor realmente
suporta tamanha renúncia; e mesmo que isso seja verdadeiro em alguns
casos, é provável que acabem por se revoltar contra o que elas mesmas
aceitaram. É evidente que seria mais interessante que uma mulher que tenha
escolhido uma determinada rota para sua vida venha a se vincular com um
homem que tenha optado por um rumo compatível e vice-versa. Ou seja, é
possível que, no futuro, não venhamos a nos vincular apenas porque nos
amamos, mas também por pretendermos viver o mesmo tipo de vida e atingir
os mesmos objetivos.
Acredito firmemente que todo o ser humano tem que se empenhar com mais
vigor exatamente naqueles setores de sua subjetividade onde residem suas
maiores dificuldades. A questão do trabalho e do encontro de um rumo definido
e pessoal costuma estar associada, para a maior parte das mulheres, a
grandes tensões e a terríveis contradições internas. Assim, é justamente nessa
direção que a atenção feminina deveria se dirigir com grande firmeza, sempre
visando superar as limitações que não creio serem definitivas. Entre amor e
individualidade deveremos encontrar um modo de ficarmos com os dois. Não
há escolha estável entre duas condições que ansiamos muito. É urgente, pois,
que as mulheres deixem de ver o amor como prioridade sobre o fato de
poderem ser elas mesmas e existirem como indivíduos além de serem
membros de um par. E mais: a forma de ela exercer sua individualidade não
deverá ser idêntico ao do homem e tampouco terá que ser igual a relação dos
dois sexos com o trabalho. A busca do que seja o modo de ser – e de participar
da vida – genuinamente feminino é tarefa que somente elas poderão cumprir.
Quando soubermos melhor o que é que efetivamente desejam para si, tanto
elas serão mais felizes como estará bem encaminhada a melhoria das relações
entre os sexos. Estar bem consigo mesmo é requisito indispensável para o
estabelecimento de relacionamentos menos agressivos e mais consistentes.
Ao tratar da questão da identidade, no caso, a feminina, insisto sempre em ser
prolixo a respeito do trabalho, porque ele compõe, junto com o amor e as
complexas peculiaridades de nossa sexualidade, o tripé básico da nossa vida
íntima. Existem inúmeros outros aspectos que poderiam ser abordados e que
são também de grande importância, mas que não cabem no contexto desse
ensaio. O mais comum é que as pessoas dêem um rumo para suas vidas
através do trabalho, entendido como atividade produtiva e útil para a
comunidade. Na verdade, não é exatamente só a isso que estou tentando me
referir. Penso em qualquer tipo de atividade que ajude a pessoa a evoluir, a
conhecer melhor a si mesmo e à vida, a se posicionar com mais sabedoria,
constância e serenidade diante dos novos desafios, a ter uma postura e ser
uma criatura coerente, com começo, meio e fim que combinem entre si. Penso
em criaturas que, movidas por qualquer tipo de atividade que as satisfaça e
engrandeça, tenham uma relação com o dinheiro, com a aparência física, com
as relações sociais, com a sexualidade e com o amor que se encadeiem entre
si de modo a que um aspecto não se choque com o outro. Penso em criaturas
cuja maneira de se postar perante os outros indivíduos indique o que elas
realmente são e como pensam. Penso em mulheres livres.
Aquelas que conseguirem avançar mais na direção do autoconhecimento serão
as que poderão alterar o modo como lidam com sua sexualidade. Não posso
deixar de registrar a importância que atribuo ao fim da instrumentalização do
poder sensual feminino para que as mulheres possam se encontrar consigo
mesmas e o quanto acredito que isso seja necessário para a melhora das
relações entre os sexos, para o surgimento de relações de efetiva amizade
entre homens e mulheres e para o avanço global da humanidade. Não consigo
vislumbrar nenhum caminho evolutivo que não passe pelo fim da guerra entre
os sexos, que não passe pela redução da ambição masculina de se destacar
socialmente a qualquer custo para impressionar as mulheres e que não passe
pela redução do exibicionismo erótico feminino que objetiva apenas provocar o
desejo masculino. Não acredito que a situação que estamos vivendo esteja
fazendo alguém feliz, nem os homens e nem as mulheres, posto que essa
guerra, além de acirrar ódios, aumenta a dependência recíproca em todos os
sentidos.
Um bom indício de independência seria dado por uma postura que nos leve a
tratar tanto o feminino como o masculino com autonomia e sem comparações
inúteis. Quanto à sexualidade, isso é fundamental até mesmo porque as
diferenças biológicas são marcantes e muito importantes. Não tem sentido que
as mulheres comecem a se preocupar, de modo exagerado, com sua
performance sexual apenas porque é essa a tendência masculina. Na
realidade, o interessante seria conseguirmos limitar tal preocupação em todos,
uma vez que o sexo terá que ser entendido em sua essência: uma simples e
agradável troca de carícias capaz de desencadear um tipo peculiar de
desequilíbrio homeostático, qual seja, a excitação. A preocupação com o
desempenho cresceu nos homens em virtude de vários fatores, principalmente
relacionados com a noção de que a competência sexual seria um dos
importantes ingredientes da honra masculina. Nada disso é parte integrante do
feminino, de modo que não cabe mais esse peso sobre as costas das mulheres
justamente quando é tempo de tirá-lo das dos homens.
Não cabe igualmente a preocupação obsessiva com o orgasmo feminino, que
nasceu no interior da mente masculina sempre preocupada em se mostrar
competente nessa área. Saber conduzir a mulher ao orgasmo passou a ser
mais um elemento da eficiência sexual masculina, de sorte que passaram a se
preocupar com o prazer feminino apenas por causa da sua vaidade. É possível
que tal preocupação tenha tirado a espontaneidade e a naturalidade de muitas
mulheres, para quem o orgasmo chegava ou não de modo natural. Em virtude
da inexistência de período refratário, acredito que a preocupação com o
orgasmo era menor nas mulheres do que os homens imaginavam; isso porque
não vem acompanhado da sensação de saciedade que os homens sentem
quando ejaculam e que imaginam acontecer igual com as mulheres. Assim, é
possível que elas jamais tenham se sentido incompetentes, frias ou
inadequadas por terem orgasmo em algumas relações e não em outras. À
medida que isso foi se tornando inadmissível para os homens, passou a ser
tema de preocupação também para elas. Começaram a se sentir
incompetentes, doentes mesmo, por não terem orgasmo, especialmente
durante a penetração vaginal. Sabemos que a inervação vaginal não é muito
farta e que o órgão talvez tenha uma função reprodutora maior do que aquela
relacionada com o prazer erótico. Ainda assim, por vários anos as mulheres,
agora preocupadas com o orgasmo, se sentiram incompetentes por não atingi-
lo com a facilidade esperada pelos homens – e depois por elas mesmas.
Mais recentemente, um relatório pouco relevante do ponto de vista científico –
o da Sra. Hite – conseguiu alterar o panorama, uma vez que teve sucesso em
dar dignidade ao orgasmo atingido através da estimulação do clitóris, que
sempre foi o foco dos estímulos tácteis das mulheres que se masturbam. O
número das que se queixam sobre a frigidez diminuiu sensivelmente, posto que
os homens aceitaram o orgasmo clitoridiano como suficiente para a sua
vaidade, apesar de eles sempre preferirem o que se atinge na penetração
vaginal. Insisto na urgência de alterarmos tais procedimentos e que o orgasmo
volte a ser problema feminino e não um requisito da vaidade masculina. O
orgasmo é propriedade da mulher e não objeto de deleite do homem. É sempre
bom lembrar que elas dispõem de meios para fingir e atuar de acordo com o
que não estão sentindo; assim, homens inteligentes não deveriam se atrever a
pensar que sempre serão capazes de distinguir entre o que é um verdadeiro e
um falso orgasmo; o melhor mesmo é deixarem de se preocupar tanto com o
assunto.
Muitas das dificuldades sexuais femininas estiveram relacionadas com os
desdobramentos da confusão descrita acima. Muitas mulheres se achavam
frígidas porque não tinham orgasmo na penetração vaginal e passaram a se
desinteressar do sexo por se reconhecerem pouco competentes para o tema.
Outras fingiam com seus parceiros e se masturbavam estimulando o clitóris;
outras, ainda, usaram a dificuldade que sentiam para rejeitar e humilhar com
mais firmeza seus parceiros grosseiros. Preferiram, assim, se dedicar mais aos
prazeres exibicionistas capazes de lhes despertar tão intensamente a excitação
erótica típica da vaidade, além do prazer de sentirem os homens em suas
mãos. Perceberam que isso lhes agradava mais do que as trocas de carícias,
de modo que se transformaram em criaturas muito atraentes mas que não
estão disponíveis à aproximação masculina; são as que mais dramaticamente
instrumentalizaram o poder sensual, de modo a obter vantagens de todo o tipo
em virtude de conseguirem ativar o sonho de muitos homens de que, um dia,
irão poder se aproximar delas.
Ninguém está ganhando essa guerra. Caem mortos combatentes de ambos os
lados. Os homens, agredidos por provocações eróticas femininas, se tornam
grosseiros e violentos, o que atiça ainda mais as mulheres contra eles – e que
é, sem dúvida, uma importante causa de bloqueio erótico feminino, o qual
aumenta ainda mais a tendência exibicionista. Ninguém se entende, ninguém
vai atrás dos seus próprios ideais. Todos estão mais voltados para o sexo
oposto do que para si mesmo. Não será em um contexto desse tipo que
poderemos nos deparar com o que é verdadeiramente o feminino. É preciso
desativar a guerra entre os sexos para que os homens e as mulheres possam
olhar para dentro de suas almas e perguntar: “Quem sou eu”? “O que quero
para mim”? “Quais são os meus verdadeiros anseios e minhas efetivas
necessidades”? “Como posso me posicionar para me aproximar do ideal de
felicidade que eu mesmo criei para mim”?
Essas e tantas outras questões só poderão começar a ser respondidas de
modo consistente e de uma forma individual, respeitadora das peculidaridades
de cada criatura, quando formos capazes de desatar os nós e de desfazer as
confusões e tumultos que hoje unem – se é que se pode usar essa palavra –
os homens e as mulheres. O caminho é longo e os obstáculos não devem ser
subestimados, como tantas vezes costumamos fazer quando criamos
proposições simplistas e demagógicas. Mas já não é sem um bom atraso que
estamos iniciando esse percurso; e ele começa pela tentativa de conhecer
melhor o emaranhado que tanto tem nos prejudicado.

Talvez agora sejamos capazes de pensar de forma mais livre sobre a mulher e
a condição feminina. O tema sempre esteve envolto em brutais preconceitos:
no passado vigia a tese machista da inferioridade da mulher, já nos últimos
anos temos sido governados pela idéia da igualdade entre os sexos. O bom
entendimento da questão perde nos dois casos, uma vez que a mulher não é
inferior e nem igual ao homem, mas sim diferente, não havendo razão para que
seja estudada tomando-se como referência a condição masculina. Não deixa
de ser surpreendente o fato de que nos deixamos governar muito mais por
idéias, concepções e ideologias do que pelos fatos. As diferenças entre os
sexos são óbvias e só mesmo a interferência de poderosos ingredientes
emocionais pode levar homens e mulheres a defender idéias que não têm
respaldo no mundo real. Quando tais idéias foram elaboradas por homens, ao
longo dos séculos, a conclusão foi a inferioridade da mulher. Talvez tenham
sido movidos mais do que tudo pela enorme inveja que eles sempre sentiram
delas.

Quando, nas últimas décadas, as idéias sobre o tema foram elaboradas por
mulheres, concluíram pela igualdade entre os sexos. Elas buscavam condições
objetivas iguais às dos homens, o que é inegável direito, mas acabaram por
generalizar suas concepções relativas a importantes aspectos da vida social,
tentando, por exemplo, entender a sexualidade feminina tomando por base a
fisiologia dos homens. Sem perceber, elas os usavam como referência, como
paradigma; não podemos deixar de reconhecer aí importante ingrediente
invejoso da condição masculina, agora presente também nas mulheres.

Infelizmente, tudo leva a crer que falar sobre as condições masculina e


feminina é tratar, muito de perto, da questão da inveja. Homens e mulheres são
fascinados uns pelos outros – isso como regra geral, é claro –, mas dificilmente
conseguem se entender bem. Percebemos a facilidade com que desenvolvem
uma irritação desproporcional aos fatos quando convivem intimamente. Até
mesmo a vida sexual dos que vivem juntos está muito aquém do que
poderíamos supor a partir da intensidade da atração sexual que o homem tem
pela mulher e que faz tão bem a ela. Assim, o esperado convívio amoroso e
sexual, rico e pleno de prazeres, é, como regra, parte do imaginário da maioria
das pessoas. Todo o objetivo daqueles que pensam sobre esses aspectos
essenciais da vida íntima consiste exatamente em buscar os caminhos que
permitam o entendimento entre os sexos, o qual, de fato, nunca existiu. A
tarefa deve ser muito difícil, se assim não o fosse nossos antecessores já a
teriam cumprido há muito tempo.

Meu objetivo principal ao longo desse texto é discutir alguns aspectos da


fisiologia sexual feminina e sua repercussão na interação entre os sexos e na
maneira de ser das mulheres. Não poderei deixar de fazer algumas
observações sobre o masculino, uma vez que, ao menos até agora, o modo de
ser de um sexo tem sido definido a partir do outro. Não creio que seja uma boa
postura intelectual essa de, por exemplo, atribuirmos emotividade e maior
sensibilidade ao feminino, e considerarmos racionalidade e maior
agressividade peculiaridades do masculino. Fica muito difícil saber o quanto
isso é verdadeiro e o quanto os homens escondem sua emotividade e as
mulheres sua racionalidade, sempre com o propósito de “caberem” no modelo
social preestabelecido. Temos que distinguir com a maior clareza possível
entre aquilo que é um atributo do feminino e o que é parte do seu papel social;
isto é, entre o que seja genuinamente produto da natureza feminina e o que é
proposição cultural que busca definir e impor uma certa postura para as
mulheres de uma determinada época e cultura.

O ideal seria o feminino ser estudado à parte, sem qualquer tipo de


comparação com o masculino e vice-versa. Talvez consigamos, aos poucos,
atingir esse objetivo, condição na qual poderíamos, finalmente, saber como é
constituído cada um dos sexos. Na realidade, porém, os homens se comportam
com a finalidade única de impressionar, agradar ou agredir as mulheres, e o
mesmo acontece com elas. É possível que uma parte importante do que
entendemos por feminino esteja sendo definida em função do masculino e que
o contrário também seja verdadeiro. Compõe-se um tipo de círculo vicioso
derivado da interação entre os sexos que, por vezes, torna muito difícil o
entendimento dos ingredientes aí envolvidos. Farei algumas considerações
sobre o que sou capaz de observar e que considero imprescindível no círculo
vicioso em que vivemos há milênios e do qual ainda não conseguimos nos
libertar. As pesquisas, até agora muito escassas, que deverão ser feitas nessa
área da subjetividade humana não são filigranas. Elas tratam de algumas das
particularidades essenciais da nossa espécie e que influíram – e muito – em
todos os processos que culminaram com a elaboração das regras que norteiam
nossa vida social.

Assim sendo, a questão sexual em geral e a das diferenças entre os sexos em


particular são de capital importância para o entendimento da psicologia
humana – e de alguns aspectos da própria fisiologia sexual – e para o estudo e
compreensão dos aspectos socioeconômicos da nossa vida em grupo. Essa
abordagem mais abrangente da questão sexual tem assumido uma importância
crescente, uma vez que tem se revelado muito mais frutífera do que aquela que
apenas levava em consideração os aspectos práticos e técnicos capazes de
aprimorar a intimidade entre um homem e uma mulher.

Deixarei registrado, de modo veemente, que o objetivo de todas as


observações que pretendo fazer é contribuir para ajudar no entendimento e
libertação de complexos ingredientes que consideramos parte da relação entre
os sexos; como são procedimentos que se repetem há muitas gerações, fazem
parte da nossa cultura de modo tão arraigado que os vemos como naturais;
são tratados com a naturalidade de um fenômeno que é parte da nossa
biologia, apesar de que é forte minha convicção de não ser essa a verdade.
Hoje, indiscutivelmente, eles fazem parte do cotidiano, das normas da vida
social com as quais nos deparamos à medida que vamos nos tornando adultos.
Cada nova geração se contamina muito rapidamente com o círculo vicioso
negativo e percebe, com maior ou menor clareza, que as relações entre os
sexos são tensas, de disputa e implicam num tipo de rivalidade no qual
humilhar o sexo oposto parece ter se constituído num prazer. Adolescentes de
ambos os sexos, mas principalmente os rapazes, dão claros sinais de sentirem
os golpes iniciais dessa guerra entre os sexos, cujos primeiros movimentos
parecem mais favoráveis às mulheres – ou, ao menos, a algumas delas.

2. Considerações acerca da origem da guerra entre os sexos

O tema é excitante e fundamental e sobre ele venho publicando desde 1979.


Confesso que foi só com o passar dos anos que me dei conta da importância
de algumas das considerações que fiz na época. E a título de autocrítica, devo
dizer que fui um tanto ingênuo por não ter percebido a relevância das minhas
observações. O que diminui um pouco a sensação desagradável que essa
constatação me provoca é o fato de que não fui o único a ter dificuldade em
lidar com a questão das diferenças entre os sexos e principalmente extrair
delas todas as suas conseqüências. O próprio Freud apontou o aspecto mais
importante relativo às diferenças entre o masculino e o feminino – qual seja, o
da existência de um desejo visual masculino que inexiste na mulher – em uma
nota de rodapé de sua obra O mal estar na civilização, escrita em 1930. Jamais
voltou ao assunto! Uma importante diferença entre os sexos consiste na
ausência de período refratário após o orgasmo nas mulheres, diferentemente
do que acontece com os homens, e quem primeiro a registrou foi Masters e
Johnson; esses autores também não conseguiram extrair todos os
desdobramentos que tão importante diferença impõe. É indiscutível a
dificuldade que temos de estudar a nós mesmos!

Tentarei penetrar no círculo vicioso que determina a hostilidade recíproca entre


homens e mulheres pelo ponto que considero o inicial: aquele que define as
primeiras sensações dos homens diante da diferença entre os sexos que
surgem junto com a sexualidade adulta. Registrei, há quase 20 anos, que a
chegada dos primeiros impulsos eróticos mais intensos que, nos rapazes,
acontece ao redor dos 13 anos – junto com o surgimento dos caracteres
sexuais típicos da virilidade –, vem acompanhada de algumas sensações
íntimas negativas e totalmente inesperadas. Os meninos crescem com a idéia
de que são os privilegiados, uma vez que lhes ensinaram que o mundo é dos
homens. O contrário acontece com as meninas, de sorte que muitas delas
crescem revoltadas e invejosas da condição privilegiada que os meninos
costumam ter em sociedades como a nossa. Com a chegada da puberdade, os
rapazes passam a sentir enorme desejo sexual por um sem-número de moças,
desejo este que pede a aproximação e o roçar no corpo delas. A grande e
inesperada surpresa é que tal desejo não é correspondido. Por essa eles não
esperavam! A partir daí, desenvolvem uma sensação de inferioridade,
frustrando-se pela ausência de reciprocidade. Desejar sem ser desejado da
mesma forma gera uma enorme frustração em praticamente todos os moços.
Tal sentimento muito comumente acompanha os homens ao longo de toda a
vida.

Em geral, os rapazes atribuem, até hoje, o fato de não serem objeto de desejo
visual à sua “precária” aparência física. Portanto, o que é baixo, gordo,
narigudo, entre tantos defeitos que os adolescentes vêem em si mesmos,
sente-se não-atraente devido a essas desvantagens relacionadas com sua
imagem. Entendem a questão como um fato particular, condição na qual ficam
muito deprimidos e ressentidos. Para eles, outros rapazes provocam o desejo
que na verdade eles mesmos gostariam de causar, podendo desenvolver
grande hostilidade invejosa em relação aos mais bonitos e charmosos.
Seguramente, a beleza masculina é um elemento capaz de despertar o
interesse das mulheres, mas é fato também que existe uma grande diferença
entre despertar o interesse e o desejo. Não sabemos como reagirão os moços
quando puderem crescer e chegar à adolescência já de posse dos dados
relativos à nossa sexualidade que só agora estão começando a nos ficar mais
claros.

A diferença, certamente, é de natureza biológica e independe da aparência


física dos rapazes. Corresponde, como já apontado por Freud, à transferência
para a zona da visão daquilo que, nas outras espécies de mamíferos, é próprio
da olfação. O desejo é propriedade masculina, define um papel ativo para o
macho no tocante à abordagem sexual. Nos mamíferos, em geral, tal
característica não define qualquer diferença hierárquica: é apenas uma
diferença. Na nossa espécie, existe a diferença e o que as mentes dos homens
e, é claro, das mulheres pensam sobre ela. Não há, para nós, fatos
desacompanhados das reflexões e ponderações que fazemos a respeito deles.
Em geral, os homens sentem-se prejudicados pela constatação; registram a
diferença na natureza do desejo como grande desvantagem, o que determina o
surgimento de uma enorme hostilidade de natureza invejosa. Em 1979, apontei
e enfatizei que a primeira manifestação invejosa adulta era do homem em
relação à mulher e não o contrário, que é voz corrente em psicologia.

A constatação de que o desejo visual é unilateral desperta no homem a


consciência de que há uma vantagem feminina nesse ponto de vista, uma vez
que ela terá que concordar com a aproximação física dele – ao menos no
mundo civilizado, onde não é aceita a violência física para impor a intimidade
sexual; entende-se também por esta via a origem do estupro: uma revolta,
levada às últimas conseqüências, contra a diferença sexual. A concordância da
mulher dar-se-á em decorrência de outros fatores que não o desejo visual, pois
ele não existe da mesma forma como nos homens. O fato de um homem já
desejar uma mulher e ter que esperar pelo veredicto dela para saber se poderá
ou não se aproximar dela lhe determina, como disse, um forte sentimento de
inferioridade acompanhado de uma profunda inveja, ou seja, de enorme
hostilidade sutil e que tentará se exercer de forma um tanto dissimulada.
O que fizeram os homens? Beneficiaram-se de sua superioridade muscular e,
quando tal propriedade era básica para o exercício das atividades fora de casa
– o que se costuma chamar de “espaço público” –, trataram de se apropriar dos
poderes que derivam de serem os detentores dos frutos do trabalho, o que,
mais ou menos rapidamente, passou a corresponder a alguma forma de
dinheiro. Como não poderia deixar de ser, levando-se em conta a inveja
masculina e a necessidade de melhorar sua posição perante as mulheres,
fecharam as portas do mundo do trabalho, de modo que a elas ficava
reservado apenas o “espaço privado”. Estavam fadadas a reproduzir e a cuidar
da casa, dos filhos e do seus esposos, de quem se tornavam totalmente
dependentes para os fins de sobrevivência material.

A descrição que faço é superficial e um tanto esquemática, mas serve para


demonstrar que os homens trataram de reverter sua sensação de inferioridade
e de impor sua força sobre as mulheres. A força efetiva era a física, mas eles
foram se tornando, aos poucos, muito competentes até mesmo naquelas
atividades que não dependiam da supremacia física. Acredito firmemente que
têm sido mais eficientes do que as mulheres nas atividades intelectuais apenas
porque atribuíram a si tais tarefas – das quais elas foram ativamente alijadas –
e não por força de alguma inferioridade feminina. No entanto, não foi
exatamente assim que o assunto foi colocado: passaram a considerar as
mulheres como intelectualmente inferiores; esse tornou-se o discurso oficial de
sucessivas gerações de homens. Gostavam de afirmar a suposta inferioridade
feminina e se deleitavam na busca de argumentos a favor dessa tese; por
conseguinte, o machismo se caracterizava essencialmente pela explícita
atuação na direção de afirmar a supremacia masculina em todos os campos –
com exceção do mais importante, que, para os homens, continuou sendo o
sexual.

Gostaria de enfatizar que a inveja dos homens em relação às mulheres sempre


esteve associada à frustração que eles sentem pelo fato de não se sentirem
desejados sexualmente. Não são todas as diferenças entre os sexos que
provocam a inveja, só aquelas que são percebidas como vantagem para o
outro, como superioridade. Não creio, pois, que seja motivo de inveja o fato de
a mulher poder engravidar e ter filhos; para os homens, isso é desvantagem e
não privilégio; aliás, muitas são aquelas que também sentem como
desvantagem o fato de ter que engravidar e ver seu corpo deformado por
tantos meses. Igualmente, os homens não invejam a menstruação e nem as
mulheres os invejam pelo fato de eles terem que se barbear diariamente. Inveja
não subentende diferença e sim diferença interpretada como favorável ao
outro.

As mulheres, ao se virem alijadas do espaço público e perceberem os enormes


avanços que os homens eram capazes de fazer ao se dedicar às atividades
relacionadas com o trabalho fora de casa passaram a sentir forte inveja do
sucesso que tantos deles obtiveram em decorrência da competência que
demonstraram nesse setor da vida. Na prática, surgia uma condição favorável
à inversão de poderes, uma vez que agora eram as mulheres que passavam a
querer se aproximar daqueles homens mais bem-sucedidos, do mesmo modo
que estes sempre desejaram a intimidade com as mulheres mais atraentes. O
que acabou acontecendo foi um equilíbrio entre os poderes masculinos –
adquiridos, fruto da boa utilização da sua superioridade física e do afastamento
intencional das mulheres de suas áreas de atuação privilegiada – e femininos –
inatos, principalmente relacionados com a aparência física e a capacidade de
despertar o desejo sexual.

Eis aí o ingrediente essencial para o estabelecimento e perpetuação da guerra


entre os sexos: a inveja recíproca. Ela contém um elemento agressivo que
deve se manifestar de forma sutil e disfarçada; os homens que ressentem
muito as mulheres poderão se posicionar como se fossem encantados por elas
– o que, de resto, é verdade. A inveja corresponde ao surgimento de reações
agressivas em relação a alguém que admiramos muito justamente por ser
portadora de características que também gostaríamos de ter. Assim, nosso
sentimento por essa pessoa será sempre ambivalente. Na prática, tal mistura
pode determinar uma conduta masculina muito típica do conquistador: o
homem se mostra, sem muita dificuldade, encantado por uma dada mulher; faz
de tudo para seduzi-la dando-lhe demonstrações de enorme interesse humano,
quando, na verdade, o real interesse é essencialmente sexual; consegue
induzi-la à intimidade física e depois desaparece de sua vida, fazendo-a sofrer
muito; este último procedimento decorre do ingrediente agressivo, vingativo
mesmo. É como se aquela mulher estivesse pagando por todas as outras que
lhe despertaram o desejo. Desaparecer depois de seduzi-la é humilhá-la, fazer
com que ela sinta dores similares às que ele sentiu quando as mulheres em
geral o rejeitaram, especialmente durante os anos da puberdade. Muitos são
aqueles que gastam boa parte de sua energia, ao longo de toda a vida adulta,
nesse tipo de atividade, na qual não estão buscando apenas prazeres eróticos
intensos, mas também tentando resgatar a auto-estima que perderam durante
os anos da adolescência.

É muito peculiar à nossa inteligência a busca de comportamentos capazes de


conciliar emoções antagônicas, como mostrado no exemplo acima. Não
devemos nos apressar ao interpretar condutas humanas, pois elas podem estar
a serviço de vários propósitos simultaneamente. É o caso da reação das
mulheres em relação aos comportamentos masculinos que caracterizam o
machismo. Ao perceberem que os homens se sentem diminuídos por
desejarem e não serem correspondidos da mesma maneira, elas se
empenham ainda mais em se tornar atraentíssimas. Fazem isso com o intuito
de chamar-lhes a atenção e agradá-los? Esse ingrediente também está
presente, parte do erotismo típico da vaidade; quando imaginam o desejo que
irão despertar, poderão se deleitar antecipadamente e até se excitar
sexualmente com isso. Tais ingredientes não excluem aquele de natureza
agressiva derivado da inveja que elas também sentem dos homens – tanto a
inveja derivada do período infantil, onde, de fato muitas meninas gostariam de
ter nascido meninos, como aquela derivada do maior sucesso social e
profissional que usualmente obtêm aqueles homens que são tidos como os
mais interessantes; despertar-lhes o desejo sem permitir qualquer aproximação
é o mesmo que levar uma criança pobre para olhar, através da janela, uma
sorveteria. Há clara maldade na postura das mulheres que se empenham em
se tornar enormemente atraentes, sobretudo quando o objetivo delas é apenas
o de provocar o desejo masculino para que eles se sintam humilhados por uma
eventual rejeição.

As moças percebem que dispõem de um importante poder de atração sobre os


homens já nos primeiros anos da puberdade e adolescência. Com o crescer
dos seios e o arredondar dos quadris elas passam a chamar a atenção e a
atrair um determinado tipo de olhar diferente daquele que estavam
acostumadas a receber durante os anos da infância. Trata-se de uma
descoberta complexa, que pode ser entendida como a que determina a perda
da ingenuidade. A ingenuidade não é perdida, segundo creio, quando um
menino ou menina descobrem como nos reproduzimos e sim quando percebem
– e as meninas parece que saem na frente nesse aspecto – que existe um
complexo jogo de poder entre os sexos e que a vida sexual não pode ser
praticada com a simplicidade com que as crianças “brincam de médico”. A
descoberta do poder sensual por parte das moças leva muitas delas a um
estado de timidez, de retraimento, sendo que algumas entram mesmo em
pânico. Elas percebem que atraem os homens e isso as excita muito. Aquelas
que sentirem medo da própria excitação, muito intensa e um tanto inesperada,
ficarão totalmente inibidas naquelas situações propícias para provocá-los. O
que farão? Tentarão minimizar seus poderes através do uso de roupas
extremamente recatadas, ganhando peso, se tornando particularmente
retraídas, etc. Na realidade, não aprenderam nem a “domesticar” seus
impulsos sexuais e tampouco a instrumentalizá-los. Passam a sentir-se à
mercê deles, ficam reféns de sua própria excitação, o que determina um estado
de confusão psíquica capaz de gerar sintomas como os acima descritos, entre
outros.

Um certo grupo de moças aprende a lidar com sua própria sexualidade; elas
passam a ter controle sobre esse instinto e perdem o medo de serem
“desencaminhadas” por causa dele. Tal temor era mais intenso no passado,
quando eram muito intimidadas por seus pais quanto às peculiaridades do
sexo. Hoje, ao contrário, as de 13 anos “ficam” com os rapazes da mesma faixa
etária nas festas e, através dessa sadia experiência, vão aprendendo a sentir a
excitação sexual sem medos e sem receio de perder o controle sobre si
mesmas. Aprendem isso por meio das sensações tácteis que as trocas de
carícias determinam; notam que a excitação determinada por olhares de desejo
não são de natureza diferente, de modo que perdem a ingenuidade e parte do
medo que eventualmente experimentaram pelo fato de terem crescido e se
tornado atraentes, e com isso aprendem a lidar com sua sexualidade.
Percebem que muitas moças podem usá-la como arma de sedução e de
humilhação em relação aos rapazes, mas nem sempre seguem por esse
caminho.

Um outro grupo de moças, nada pequeno, percebe o poder que elas têm aos
olhos dos homens, o qual será tanto maior quanto mais forem capazes de se
vestir e de se comportar de determinados modos que eles sintam como
particularmente excitantes. A excitação que isso lhes causa pode provocar uma
certa perturbação íntima, mas aprendem a sentir mais prazer em provocar o
desejo do que em sentir qualquer tipo de excitação sexual que não seja aquela
derivada do exercício da vaidade. Para elas, despertar o desejo dos homens,
tê-los rendidos aos seus pés torna-se o mais importante. Nesse caso, existe o
benefício simultâneo de dois componentes do processo: a vaidade e o desejo
agressivo; o ingrediente vingativo e invejoso passa a participar ativamente do
fenômeno sexual. Aliás, é por razões dessa ordem que ainda temos muito que
pensar sobre a dramática associação, presente, em doses variadas, em quase
todos nós, entre sexualidade e agressividade. Para tais moças, como regra as
mais atraentes, o poder sensual se torna um instrumento de dominação,
humilhação e uma arma muito poderosa. Sim, porque sabemos o quanto os
homens são sensíveis a esse tipo de encanto.

Não posso deixar de registrar um importante subproduto derivado desses


processos psíquicos tipicamente femininos e que têm a ver com o poder que,
sem muito esforço, passam a ter a seu dispor. Surge uma importante e grave
tendência, na maioria das moças mais atraentes, a se acomodarem na
condição privilegiada que a natureza lhes criou. São muito bem-sucedidas
socialmente, assediadas, convidadas para muitas festas e sempre muito bem
recebidas pelos rapazes; tudo em virtude de suas propriedades inatas, de sua
aparência física. Elas sabem que o mundo se curva aos seus pés, e que isso
acontece mesmo que não façam nenhum esforço. Têm acesso ao que é tido
como o que há de melhor sem ter que fazer outra coisa senão existir e se
manter atraentes. Poucas são as que compreendem, na mocidade, que tais
propriedades não durarão mais que umas poucas décadas e que seria
importante que cultivassem outras prendas, tanto morais como intelectuais,
capazes de gerar competências práticas que pudessem torná-las criaturas
verdadeiramente independentes e produtivas. Julgam-se muito espertas
porque têm tudo “de mão beijada” e não percebem que estão construindo um
futuro muito sombrio para si mesmas.

A instrumentalização do poder sensual, executada justamente por um bom


número das mulheres mais bonitas, atraentes e que são cobiçadas por muitos
homens, acaba por ser percebida pelos mais inteligentes e perspicazes. O que
eles fazem? Tratam de sofisticar ainda mais seus poderes e de instrumentalizá-
los na mesma medida. Assim, muitos homens vão se apercebendo que só
terão acesso a essas mulheres se tiverem boa posição econômica, social e
profissional. Esforçam-se por conseguir tais distinções e, aparentemente, as
oferecem às belas mulheres que tanto os encantam. Na realidade, apenas
usam seus sucessos como uma espécie de “chamariz”, da mesma forma que
elas se utilizam da beleza. Mostram o que têm, mas não dão nada. Levam as
belas moças para passear nos seus lindos carros, lhes dão “presentinhos” de
valor duvidoso e tratam de, através de seus poderes, seduzi-las a partir da
hipótese de que não é impossível que consigam conquistar um homem assim,
um “vencedor”. Eles, na verdade, buscam o sucesso essencialmente com o
intuito de melhorar sua posição nesse jogo de poder que se estabelece em
relação às mulheres mais belas; depois, querem mesmo é envolvê-las, ter a
intimidade física desejada para, logo em seguida, rejeitá-las e humilhá-las. Elas
aperfeiçoam suas armas por um lado e eles fazem o mesmo por outro.
Um número nada desprezível de homens pode reagir de forma diferente diante
da instrumentalização da sexualidade feminina: inibem o desejo em relação a
elas. Tal inibição poderá determinar uma variedade de sintomas que
chamamos de impotência sexual, sobre os quais temos que refletir mais
profundamente, uma vez que podem muito bem ser explicados por razões
lógicas e até mesmo plausíveis e não sempre como uma patologia. Outros
homens, especialmente quando outros fatores, que não cabe aqui discutir,
também estão em jogo, não só inibem o desejo em relação às mulheres como
o liberam na direção de outros homens. Não tenho dúvida que essa dramática
condição de guerra entre os sexos é um importante fator causador do
encaminhamento homossexual, principalmente em homens de índole delicada,
pouco agressivos e de boa aparência física – talvez por isso mais tentados por
olhares de desejo vindos de outros homens que já transferiram o desejo do
sexo oposto para os do mesmo sexo.

A inveja recíproca só cresce, assim como as hostilidades. Tudo fica camuflado


por uma aparente disposição de natureza romântica entre homens e mulheres,
sendo que o que realmente está em vigor é uma terrível luta pelo poder. Não
creio que se possa sequer pensar em ingredientes amorosos em tais condições
– e que, na prática, corresponde apenas a um dos ingredientes que envolvem
essa complexa condição de relacionamento entre os sexos. Nem mesmo se
pode pensar em importantes ingredientes eróticos, uma vez que o elemento
fundamental envolvido é mesmo o de natureza agressiva.

Minha intenção principal foi mostrar, a partir dessa sumaríssima descrição,


como todos nós, homens e mulheres, nos perdemos de nós mesmos e, em
virtude da forma como internalizamos e sentimos essa diferença na natureza
da nossa sexualidade, nos tornamos escravos uns dos outros. Na realidade,
nessa guerra, como em tantas outras, não existem vencedores e vencidos.
Todos perdemos. Nos afastamos de nós mesmos, passamos a nos preocupar
mais do que deveríamos com o que os outros pensam sobre nós e, em
especial, os do sexo oposto. Homens e mulheres não buscam suas
identidades, não podem se encontrar consigo mesmos e com suas verdadeiras
pretensões. Se tornam escravos dessa diferença sexual mal equacionada e
mal aceita; além disso, perdem o contato com o sexo como fonte de puro
prazer. A grande verdade é que, em nossa espécie, o sexo está associado à
agressividade de uma forma muito mais categórica do que ao amor – é claro
que muitas são as exceções.

Não estou defendendo a tese de que o sexo deve se associar ao amor. Acho
que isso foi estimulado nas mulheres segundo os interesses dos homens. Não
que não seja uma boa associação, mas esteve a serviço de intuitos
repressores. Os homens poderiam ter sua sexualidade livre do amor, ao passo
que aquelas mulheres que fossem competentes para o sexo fora do contexto
romântico eram vistas como levianas ou prostitutas. Certamente, essa é mais
uma manifestação da insegurança sexual masculina, que não poderia deixar de
ser muito forte se levarmos a sério toda a descrição que acabei de fazer; eles
fazem de tudo para tentar reprimir sexualmente as mulheres, sobretudo
aquelas que lhes são relevantes – esposas, filhas, mães. Assim, mulheres “de
bem” só podem ter interesse sexual no contexto da família ou, para ser mais
moderno, num contexto amoroso. Faço parte daqueles que gostariam de ver a
sexualidade podendo se exercer de forma livre, isolada e não como um impulso
que está sempre acoplado a outros. Com isso, não estou deixando de
considerar que pode haver associações e muito menos que a associação do
sexo e do amor não seja uma coisa ótima. Não gostaria que associações
fossem usadas com o intuito repressivo ou estivessem a serviço de
empobrecer nosso principal instinto.

3. Mais uma diferença sexual: ausência de período refratário

Não aprendemos a lidar com nossas diferenças e nem temos sido treinados
para isso, apesar de todo o discurso oficial que nos diz para respeitarmos os
que não pensam como nós. A verdade é que tendemos a não dar crédito
àquelas pessoas que concluíram de modo diverso do nosso a respeito de
qualquer tema. Naqueles mais polêmicos e sérios, como política e religião por
exemplo, o fato é que nos irritamos muito quando nos deparamos com alguém
que tem opinião divergente. A diferença de ponto de vista é vivenciada como
ofensa pessoal, mormente quando acontece com pessoas que nos são caras
do ponto de vista sentimental. É como se nos sentíssemos abandonados,
traídos. Gostamos que pensem do mesmo modo que pensamos porque nos
sentimos aconchegados, menos solitários nesse mundo. Detestamos tudo o
que nos lembra da nossa condição de desamparados, sozinhos e
insignificantes.

Pensando um pouco mais profundamente, é evidente que as diferenças de


opinião têm que existir. Não há dois cérebros idênticos, a não ser nos casos de
gêmeos univitelinos, além do que cada um esteve submetido a experiências
peculiares, sobre as quais refletiu e ponderou de modo próprio. A unicidade e a
solidão que daí derivam são partes essenciais de nossa condição, quer
suportemos bem esse fato, quer não – nossa condição é de “solidão radical”,
como disse Ortega y Gasset. O contrário é que é verdadeiro: deveríamos nos
surpreender agradavelmente quando nos deparamos com alguém que pensa
de modo parecido ao nosso. Tais pessoas, que são as que servem para ser
nossos amigos e que deveriam ser também nossos parceiros sentimentais, são
tanto mais raras quanto mais sofisticado for nosso aparelho psíquico; assim,
pessoas mais simples costumam ter maior facilidade para encontrar outras com
quem gostem de conversar. O que está por trás da nossa intolerância para as
diferenças de opinião é, insisto mais uma vez, a incapacidade que temos de
nos aceitarmos como seres únicos e solitários. Queremos nos realçar, pois isso
faz bem à nossa vaidade – importante ingrediente de nosso erotismo
relacionado com forte prazer exibicionista. Gostamos, portanto, de ser únicos,
mas não suportamos nos sentir solitários, de modo que desejamos nos
sobressair dentro de contextos nos quais os outros estão presentes e
compartilham de interesses muito próximos. É mais fácil, sob o aspecto
psicológico, se destacar por possuir um relógio que todos querem ter do que ter
pontos de vista discrepantes. O relógio nos faz ídolo dos que sonham com ele,
ao passo que a idéia original nos faz sentir solidão, tende a afastar as pessoas
de nós.
Vejamos como isso se torna muito complicado e de solução difícil quando
estamos estudando o relacionamento íntimo. Como não podemos suportar bem
a solidão tendemos a nos acoplar, formando pares. O amor existe, como
sentimento gratificante derivado de uma união estável, justamente porque
suportamos mal o estar só em decorrência de nos sentirmos incompletos em
nós mesmos; é como se algo estivesse nos faltando e que só será preenchido
pela presença constante de uma outra pessoa muito especial. Assim, mesmo
na fase adulta da vida, continuamos a ter interesse em estabelecer um elo
similar ao que tínhamos com nossa mãe. Precisamos do aconchego que deriva
de uma aliança forte, rica em ingredientes infantis. Quase todos nós
precisamos desse “colinho” qualquer que seja nossa idade. E os que podem
prescindir dele ainda assim gostam muito dessa situação; buscam-na com
menos desespero porque podem ficar só; contudo, buscam-na; não o
precisam, mas o desejam.

Vimos, no segmento anterior, que homens e mulheres rivalizam e estão em


permanente luta pelo poder em virtude da mal elaborada diferença da
importância da visão no despertar do desejo sexual. E são esses mesmos
indivíduos, quase sempre em pé de guerra, os que terão que se aconchegar e
assim atenuar a dolorosa sensação de desamparo presente neles. Terão que
ser, ao mesmo tempo, rivais e protetores um do outro. Não é à-toa que são tão
grandes as desconfianças que costumam se manifestar a todo instante nos
relacionamentos íntimos. Como confiar no nosso maior rival?

E mais: como suportar que aquele que é o nosso objeto de aconchego tenha
pontos de vista diferentes dos nossos se isto justamente é o que mais nos faz
sentir abandonado e sozinho? Não é sem motivo, pois os casais brigam tão
dramaticamente por qualquer mínima diferença de opinião. São sérias as
razões que levam aqueles que se amam a quererem homogeneizar todos os
seus gostos e interesses, suas convicções e seus projetos de vida. Por outro
lado, tal empenho não pode deixar de desembocar em atitudes totalitárias, nas
quais um dos dois acaba por dominar, ao menos em aparência, o outro.
Estabelecem-se, assim, as freqüentes relações que E. Fromm chamava de
sadomazoquistas. Ao mesmo tempo, e se levarmos em conta que não existem
dois cérebros iguais e que as experiências de vida são únicas, como
poderemos sustentar a hipótese de homens e mulheres serem e pensarem da
mesma forma?

Nos perdemos nos meandros das nossas próprias contradições, sendo que
muitas das precárias reflexões que comumente fazemos derivam justamente
de algum ingrediente emocional mal elaborado. Como não suportamos nossa
condição de solitários, gostamos de supor que o outro sente e pensa de modo
similar ao nosso. Não podemos deixar de pensar assim porque nossa emoção
o pede. Ao mesmo tempo, os fatos nos irritam a todo instante porque nos
provam o contrário (“Minha mulher, ao menos ela, terá que pensar como eu,
sentir a vida como eu, ter sensações psicológicas similares às minhas, viver
sua sensualidade de modo idêntico ao meu”. “Se o meu marido dá sinais de
interesse pelo “traseiro” daquela outra, já fico irritada, pois não fico olhando o
corpo dos outros homens”. Estes são alguns exemplos do que acontece no
cotidiano de quase todos os casais, sempre em virtude da tentativa de
homogeneizar pensamentos).

Na realidade, não podem existir dois cérebros pensando do mesmo modo o


tempo todo; isso não acontece nem mesmo entre gêmeos idênticos, pois cada
um acaba por concluir de forma peculiar sobre os acontecimentos que
assolaram a ambos; ou então esteve submetido a condições únicas, não
idênticas às do irmão – por exemplo, um dos dois contrai uma doença do tipo
hepatite, que exige longa recuperação, e pronto, já aconteceu de terem tido
uma vivência importante que os diferencia. Ora, o que dizer de um homem e
uma mulher que, no mínimo, têm no seu instinto sexual algumas diferenças
que fazem com que suas histórias de vida sejam não só diferentes como
percorram territórios antagônicos? Como supor que um homem, que tem o
desejo ativo visual e que se sente frustrado pela não- correspondência, possa
ter uma subjetividade idêntica à de uma mulher, que é objeto do desejo
masculino e que se sente gratificada e enlevada por isso? Apenas por força
dessa diferença, penso que já seria impossível qualquer conjectura a respeito
da igualdade entre os sexos. Igualdade de direitos e de responsabilidades é
claro que deve existir, mas não é sob essa ótica que estão sendo formuladas
essas reflexões. Além do mais, nossa ânsia pela igualdade se origina mesmo é
na nossa incapacidade de suportar a solidão e não em uma ideologia que
tenha se mostrado convincente à nossa razão.

Nos irritamos brutalmente com as diferenças entre as pessoas, tentamos


equalizar nossa subjetividade com a da nossa mulher e vice-versa, mas nada
disso adianta: lá estão novamente as irritantes diferenças na maneira de ser e
de sentir que acabam por se refletir na forma com que cada um fala. Não
podemos sequer saber se as palavras, usadas por pessoas diferentes,
correspondem, no íntimo delas, a sentimentos similares. De fato, a mente
alheia é, e sempre será, um mistério para cada um de nós. A psicologia é a
ciência que estuda, entre outras coisas, os modos de tentarmos construir
pontes entre essas ilhas solitárias! Seus conceitos sempre terão que ser
usados com enormes reservas, justamente em virtude das dificuldades que
encontramos ao queremos entender o que se passa dentro do outro. Gostamos
de qualquer concepção ou ideologia que nos diga que somos todos iguais – e
contra elas nossa vaidade imediatamente irá se insurgir, pois ao mesmo tempo
odiamos ser iguais aos outros –, mas somos todos diferentes; e mais, esta
diferença se exalta quando falamos de um homem e de uma mulher.

Se os sexos já se distinguem pela diferença, já descrita, relacionada com a


importância da visão no desencadear dos processos eróticos, mais complicada
ainda fica a questão quando levamos em conta o fato de que existe uma outra
diferença essencial na nossa fisiologia sexual: o homem experimenta um
período refratário após a ejaculação, o qual inexiste na mulher; tanto é assim
que ela pode continuar trocando carícias eróticas indefinidamente, sem que
isso se torne repulsivo, doloroso ou desagradável. Tal diferença é, como regra,
acatada na vida prática e no cotidiano dos casais. Assim sendo, sempre que o
prazer não é alcançado simultaneamente – o que é o mais comum, aliás a idéia
de que as descargas teriam que acontecer ao mesmo tempo já deve ter se
originado no anseio de atenuar a solidão e de uma tentativa de impor a
igualdade –, a preferência é dada à mulher, não por cavalheirismo, mas porque
o homem não costuma ter condições “técnicas” para continuar o ato sexual
depois da ejaculação.

Em outros momentos, porém, a diferença volta a ser vivenciada como grave


ofensa pessoal. A questão do orgasmo feminino, à qual voltaremos mais
adiante, tem tendido a se transformar em ponto de honra para os homens, que
insistem em imaginá-lo como algo equivalente à sua própria ejaculação. Será
que é assim mesmo? Na realidade, não temos como saber exatamente o que
sentem as pessoas do sexo oposto no momento preciso da descarga
fisiológica que lhe é tão característica. A virilidade e a auto-estima sexual dos
homens têm estado associadas à competência, que eles têm sido estimulados
a desenvolver, para conduzirem suas parceiras ao nível de excitação e
descarga adequado. Como saber se a mulher está mesmo tendo um orgasmo
ou se está fingindo? Como saber se é verdade ou mentira algo que diz respeito
a um fenômeno que não temos meios de conhecer “por dentro”? Como confiar
no sexo oposto, nosso rival tradicional? Como saber se a mulher está mesmo
“se entregando” a um homem ou apenas fingindo fazê-lo para, com isso, ter
mais poderes sobre ele?

A resposta a tais perguntas é muito simples: não temos meios para saber
exatamente o que se passa na mente de outra pessoa, e muito menos se for
do sexo oposto. Nós, homens, não sabemos como funciona o psiquismo de
uma criatura que não vivencia um período de desinteresse sexual depois de
atingir o orgasmo, do mesmo modo que uma mulher não saberá, jamais, o que
significa um período refratário. Os sinais derivados da diferença são
relativamente evidentes e tendem a ser motivo de brigas: o homem, relaxado e
completamente saciado, quer dormir um pouco; a mulher, estimulada pelo
clima erótico que nela não se extingue completamente, quer conversar e
namorar. Ambos se decepcionam, acusam o parceiro de grosseria ou de
incompreensão. As diferenças, sempre que aparecem, nos deixam
incomodados, desconcertados e perplexos.

Não é impossível que a percepção, ainda que não muito clara e consciente por
parte dos homens, de que a inexistência do período refratário determina uma
possibilidade sexual ilimitada para as mulheres seja mais um fator de inveja e
de insegurança masculina. Inveja porque a cultura machista sugere que serão
tanto mais viris aqueles que forem mais competentes – qualitativa e
quantitativamente – e interessados em práticas sexuais. A disputa entre os
homens é no sentido de terem mais sucesso com muitas mulheres e de serem
capazes de múltiplas experiências sexuais em curto prazo. Ora, isso é coisa
muito fácil para as mulheres, uma vez que a ausência do período refratário faz
com que não exista limite biológico para a prática sexual feminina – a
prostituição feminina, por exemplo, é muito mais fácil de ser exercida do que a
masculina.

A insegurança masculina está relacionada com o fato de as mulheres poderem,


caso quisessem, ter experiências sexuais com grande facilidade. Não
costumam ter dificuldades para encontrar parceiros para esse fim, assim como
não lhes falta disponibilidade fisiológica. Aliás, a fantasia masculina é
exatamente essa: a de que as mulheres são criaturas que, quando bem
envolvidas e seduzidas, certamente acabarão cedendo aos apelos eróticos de
um homem interessante e sutil. Eles pensam sobre o assunto tomando por
base a eles mesmos e como agiriam se estivessem no lugar delas, o que não
tem nada a ver com o que, de fato, acontece com elas. Os homens sentem-se
inseguros porque temem que as mulheres façam aquilo que eles fariam se
possuíssem as facilidades que reconhecem existir na vida delas. Só que elas
não são iguais a eles e, sendo como são, agem como os seus anseios
determinam. Esse é mais um fator importantíssimo de desconfiança, inveja e
desentendimento entre os sexos.

Não podemos saber o quanto das diferenças no modo de experimentar a vida,


o trabalho, as relações afetivas e familiares derivam das nossas diferenças
fisiológicas. Não é a mesma coisa ser o que deseja e o que é o desejado, nem
ter ou não período refratário depois de um encontro sexual, tampouco ser mãe
e ser pai, e assim por diante. Se pudermos aceitar melhor nossa condição de
criaturas solitárias, talvez possamos ser mais condescendentes com as
diferenças que existem entre as pessoas em geral e entre o homem e a mulher
em particular. Possivelmente isso nos ajude muito a entender um pouco mais
um do outro ao invés de apenas nos hostilizarmos.

Podemos entender perfeitamente por que as mulheres – quando, com toda a


justiça, se insurgiram contra a idéia tradicional da inferioridade de sua condição
– aderiram à hipótese da igualdade entre os sexos; elas não podiam se
reconhecer como diferentes, pois a solidão lhes incomoda tanto quanto aos
homens! Assim, enveredaram por uma rota de pensamento extremamente
perigosa e de alto risco: passaram a ter os homens como padrão de referência
para o entendimento de sua subjetividade. O equívoco é, a meu ver, muito
grave; o denunciei já em 1980 e isso me rendeu péssimos dividendos: fui
acusado de “machista”, uma vez que “não aceitava” a tese da igualdade entre
os sexos. Do meu ponto de vista e das pesquisas que então desenvolvia, eram
cada vez mais relevantes os desdobramentos da diferença na intensidade do
desejo visual entre os sexos. O curioso é que, na época, a supremacia
feminina me parecia indiscutível, o que hoje já não me parece ser tão
verdadeiro, de modo que eu era tachado de “machista” justamente quando
defendia a tese da superioridade feminina e de que o sexo frágil era o
masculino. Hoje compreendo bem o que aconteceu, pois já entendi que as
pessoas querem ver a igualdade reinando a qualquer preço. A idéia é
necessária, até mesmo se não for verdadeira. Ela interessa mais até mesmo do
que a da superioridade feminina, pois essa última não dá um bom destino para
a questão da solidão.

Nessa época igualitária, o orgasmo começou a ser visto como tendo


características iguais à ejaculação masculina – aliás, passou-se a utilizar o
termo “orgasmo” também para os homens, com o que jamais concordei, porque
sempre defendi a idéia de que o feminino e o masculino teriam que tentar se
definir por si e não usarmos um como referência para o outro. O clitóris passou
a ser entendido como uma versão atrofiada do pênis, o que, do ponto de vista
embriológico, pode ser verdadeiro, mas não implica que tenhamos que refletir
sobre ele tomando por base o que acontece com o pênis. O orgasmo vaginal,
entendido por Freud como indício de maturidade feminina, passou a ser
malvisto e aquele que se desenvolve no clitóris começou a ser tratado como
tendo prioridade e maior importância. Foi a época em que surgiram as revistas
femininas recheadas de fotos de homens nus para que as mulheres tivessem
deleites visuais iguais aos dos homens; tais revistas foram, de fato, deleite dos
homossexuais masculinos, fascinados pelo corpo de homens e portadores do
desejo visual típico do gênero.

Assim, o feminismo, apesar de toda a hostilidade e ressentimento que o


acompanhavam, tinha em seu contexto, como ingrediente principal, a ideologia
igualitária, na qual as mulheres deveriam se espelhar nos homens para melhor
se conhecer. O “inimigo” e rival eram também aqueles que deveriam servir de
modelo! É difícil imaginar equívoco maior e que só poderia levar a resultados
duvidosos e de vida curta. Dele resultou, como importante contribuição, o
aspecto relacionado com a igualdade de direitos sociais das mulheres.
Contribuiu, junto com os avanços tecnológicos – e mesmo psicológicos que,
com todas as dificuldades, andamos fazendo – para a emancipação econômica
das mulheres e para uma crescente ocupação, por parte delas, do espaço
público. Agora, quanto à compreensão do que acontece no relacionamento
entre os sexos e no que se refere ao entendimento que as mulheres gostariam
de ter de si mesmas e de sua sexualidade, ainda temos muito a caminhar.

4. Outras peculiaridades do “feminino”

Serão abordados, ainda, dois elementos próprios da biologia feminina e que


interferem muito no modo como as mulheres se comportam. O primeiro deles
tem a ver com o ciclo menstrual e com as variações hormonais que ocorrem,
aproximadamente, a cada 28 dias. Antes, porém, gostaria de lembrar que
pertenço a uma geração de médicos que foi formada dentro de uma visão
ainda predominantemente masculina, até mesmo no que dizia respeito às
questões femininas. Isto é, até há poucas décadas, eram poucas as
profissionais da área médica que fossem mulheres. Elas eram franca minoria e
suas opiniões valiam pouco até mesmo quando falavam da sua própria
condição subjetiva. Por exemplo, algumas das pioneiras da psicanálise eram
do sexo feminino e, enquanto pacientes de Freud, travaram feroz polêmica com
o mestre que insistia em ensiná-las a se colocar num papel feminino que ele
considerava que era próprio e indicador adequado do que ele entendia como
maturidade emocional da mulher. O modelo de maturidade feminina era, pois,
produzido no interior de um cérebro masculino.

Minha geração se formou envolvida por concepções tipicamente “machistas”,


nas quais as cólicas menstruais eram tidas como “manha” – ao menos em boa
parte – e a tensão pré-menstrual uma invenção das mulheres com o objetivo de
encontrarem justificativa para seus maus gênios e irritações indevidas. As
“coisas de mulher” eram tidas como “frescura”, como sintomas histéricos. Elas
eram tratadas, sob o aspecto da fisiologia hormonal, da mesma forma que os
homens e tudo aquilo que nelas fosse diferente do que eles vivenciavam era
desconsiderado e tratado como problema psicológico, imaturidade emocional,
falta de firmeza e caráter.

O que estava por trás dessas concepções era a dificuldade humana de


entender o outro, e principalmente um outro que é essencialmente diferente de
si mesmo. Como os homens não vivenciam alterações hormonais tão
substanciais ao longo de cada mês de vida, não foram – e ainda hoje não o
são, a não ser com muito esforço – capazes de entender e de dar genuíno
peso ao que se passa no íntimo das mulheres. Até os que são portadores de
enorme boa vontade e desejo de entender têm dificuldade em penetrar na alma
feminina e tentar entender como é que elas sentem as variações do estado
físico e como isso interfere sobre o emocional. Como fica sexualmente uma
mulher no período da ovulação? Em que isso altera seu estado emocional, sua
disposição afetiva? Como é que um homem poderá pensar sobre isso com
algum rigor?

É claro que existem obstáculos intransponíveis na comunicação que tentamos


estabelecer com outros humanos, especialmente de sexos opostos. As
mulheres tentam nos explicar o que sentem, mas nem sempre conseguimos
acompanhar a sua descrição. Ao menos já somos capazes de acreditar que
existem efetivas mudanças físicas capazes de determinar alterações
emocionais derivadas das constantes alternâncias hormonais femininas. Já
conseguimos imaginar que os problemas psíquicos usuais no climatério podem
estar sendo complicados por fatores orgânicos sobre os quais tentamos
interferir através da reposição de hormônios.

Assim, as diferenças entre os sexos não residem apenas na presença da


menstruação das mulheres. Ela é a manifestação mais visível de uma série de
processos hormonais que não existem nos homens e que fazem a vida das
mulheres – ou pelo menos de um grande número delas – mais difícil de ser
dirigida de modo firme e consistente para um norte. Sim, porque a presença de
tantas variações ao longo das semanas cria dúvidas e instabilidades psíquicas
que podem determinar alterações na motivação e no modo como elas pensam
sobre seus próprios projetos de vida. Penso que é muito mais difícil para uma
mulher se determinar e perseguir com afinco um dado objetivo. Isso torna mais
meritório o feito daquelas que conseguem ter sucesso nesse tipo de
empreitada. O inverso também é verdadeiro: a falta de consistência e firmeza
na perseguição de objetivos não deve ser motivo de tanta perplexidade, uma
vez que a alma feminina é, nesse particular, muito prejudicada por sua
natureza biológica. Tarefas que exigem estabilidade psíquica e um estado
emocional constante e mais racional podem ser muito mais difíceis de serem
realizadas por mulheres.

Muito pouco a mais nós, homens, podemos dizer sobre o que acontece dentro
das mulheres por força do ciclo hormonal no qual gravitam. Em decorrência de
uma postura menos arrogante, é possível saber que existem diferenças
substanciais entre os sexos e tentar entender o outro tomando por base o que
podemos perceber nele e não a nós mesmos. Portanto, alterações do humor,
modificações da disposição sexual, irritabilidade e descontrole agressivo
podem ser facilitados, senão totalmente determinados, pelas alterações
hormonais. Tais oscilações determinam efeitos variados em cada mulher, de
modo que a inexistência de “sintomas” em umas tantas não é indício de falta de
consistência na queixa de outras. Somos todos diferentes e as mulheres
também o são entre si.

Outra peculiaridade feminina à qual deveremos dedicar nossa atenção diz


respeito à maternidade. Nesse caso, nós, homens, sentimos, mais uma vez,
uma enorme dificuldade para entender exatamente o que se passa com o
corpo e principalmente com a mente de uma criatura que sente crescer dentro
de si outro ser. O que significa exatamente a percepção de que uma criatura se
move dentro do próprio ventre? Jamais poderemos apreender tudo o que se
passa com uma mulher que vive esse estado. Podemos observar, de fora, que
as reações psicológicas são muito variadas e que vão desde um certo
desconforto pelo fato de ela perceber que está se deformando e ganhando
estrias, até o deslumbramento total pela experiência da maternidade, com total
descaso por todos esses aspectos pessoais – e mesmo descaso em relação a
eventuais reivindicações do marido. Muitas são as mulheres que, ao longo da
gestação, perdem totalmente o interesse sexual – será isso determinado por
razões hormonais? –, enquanto que outras mantêm aceso o desejo. Elas se
tornam distantes dos seus parceiros, uma vez que se sentem mesmo é em
simbiose com seus fetos. Outras não se apegam tão intensamente e nem se
sentem tão completas pelo fato de terem uma criatura se desenvolvendo dentro
de si.

De todo o modo, a partir do parto, cujas dores também são variáveis e não
deveriam ser subestimadas pelos homens, surgem muito intensamente as
manifestações daquilo que, entre os mamíferos, chamamos de instinto
materno, ou seja, um forte impulso na direção de proteger e cuidar do recém-
nascido. Surgem o leite e o desejo de alimentar o bebê. Em umas tantas
mulheres, não observamos tão claramente esses fenômenos, uma vez que
parecem mais preocupadas consigo mesmas do que com seus filhos. Pode ser
que em muitos casos esteja acontecendo um quadro depressivo – nada
incomum nessa fase da vida e derivada de causas múltiplas e ainda não muito
bem conhecidas –, mas em outros, a mulher não parece ser portadora de
nenhum instinto de proteção da prole. A questão dos instintos em nossa
espécie é sempre muito complexa, uma vez que a razão pode determinar
nossas ações de uma forma muito mais definitiva do que os fenômenos inatos
que nos fazem parecidos com nossos ancestrais mamíferos. Assim, mulheres
muito egoístas têm menos gosto pela amamentação e por todo o tipo de
atividade que envolva dedicação, abnegação e sacrifício. Tais criaturas, até
mesmo quando estão na condição de mães, vendo que seus bebês são
totalmente dependentes, são acomodadas e sempre encontram um jeito para
que outras pessoas executem seus afazeres e cuid

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